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O sofrimento psíquico na área do trabalho

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

SUL - UNIJUÍ

DHE - DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA

RAQUEL APARECIDA FROMMING DIAS

O SOFRIMENTO PSÍQUICO NA ÁREA DO TRABALHO

SANTA ROSA 2018

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RAQUEL APARECIDA FROMMING DIAS

O SOFRIMENTO PSÍQUICO NA ÁREA DO TRABALHO

Trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia apresentado como requisito parcial à obtenção de título de Psicólogo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

Orientadora: Ms Simoni Antunes Fernandes

Santa Rosa 2018

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a meus pais, pois sem vocês esta conquista não seria alcançada, sabemos o quão difícil foi chegar até aqui, porem vocês nunca mediram esforços para a realização desse sonho. Se hoje estou onde estou, é graças á vocês e essa conquista não é apenas minha, mas sim, nossa.

Agradeço a você minha irmã por estar sempre ao meu lado, por inúmeras vezes me acolher nos momentos de angústia e aflição, por me mostrar que no fim do caminho sempre encontramos a felicidade, por mais difícil que esse caminho seja, e por mais curvas que ele possa ter. Saibas que você é minha inspiração.

Agradeço a vocês mestres que durante todo esse percurso, dedicaram-se a nos tornar profissionais íntegros e éticos, agradeço em especial a minha orientadora Simoni Antunes Fernandes por todo o incentivo e auxílio, para a realização desse trabalho.

Agradeço a vocês amigos e amigas por estarem ao meu lado durante esse percurso, por compreenderem meus momentos de angústia e estresse, por me apoiarem em minhas decisões. Em especial agradeço a vocês colegas e amigas Aline Schuh e Jéssica Klug pois chegamos até aqui percorrendo o mesmo caminho e passando pelas mesmas angustias, obrigada por permanecer nos momentos de surtos e quase desistência de tudo, as tardes foram longas e cheias de interrupções porem o trabalho foi concluído.

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“Acho que devia haver uma regra que determinasse que todas as pessoas do

mundo tinham que ser aplaudidas de pé pelo menos uma vez na vida” Filme: Extraordinário (2012).

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RESUMO

O presente trabalho aborda a questão do sofrimento psíquico presente nas relações de trabalho. Discorre-se acerca das questões históricas envolvidas no contexto social que interferem no modo como o trabalho se organiza em determinada época. Denotando aqui as diferentes formas de significados que o trabalho vem trazendo ao longo dos tempos, assim como a diferença entre trabalho e emprego. Pontuando a questão do sofrimento psíquico que na maioria das vezes o trabalho gera, este o qual em muitos casos não é revelado, é um sofrimento tamponado pela angustia de não ter um emprego, não ter um salário. Para auxilio dessa escrita, temos como principal referência um dos maiores pesquisadores do âmbito do trabalho Christophe Dejours.

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ABSTRAC

This paper deals with the question of the psychic problem in work relations. We discuss the historical issues involved in the social context that intervene in the way work is organized at a given time. Denoting here the different forms of work has been bringing over time, as well as the difference between work and employment. Ponder the issue of important students in most of the cases that have been covered the days of the computed in the cases in the cases of the most some job in some cases has not possible. The aid of writing, the main method of reference of the greatest researchers of the scope of work Christophe Dejours.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

1. CONCEPÇÕES HISTÓRICAS A CERCA DO SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHO ... 9

1.1. A ambiguidade da palavra ... 15

2. SOFRIMENTO DO TRABALHOR DENTRO DAS ORGANIZAÇÕES ... 18

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 26

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como proposta desenvolver uma escrita voltada ao sofrimento psíquico no trabalho, sendo este um tema de extrema relevância no tempo atual, o qual vem construindo uma vasta bagagem histórica.

O motivo que moveu o desenvolvimento desse tema se coloca no percurso do estágio voltado a ênfase Organizacional e do Trabalho, onde o estagiário adentra na organização e se depara com inúmeras questões que trazem grandes questionamentos sobre os reais sintomas que algumas empresas tem.

Iniciado o trabalho dentro da organização, percebe-se uma grande demanda de funcionários afastados de seus empregos, e um grande número de queixas relatadas por eles, nesse momento passasse a pesquisar qual a grande queixa colocada ali, de modo maior se caracterizava por uma dor que não era vista. Com relação a isso buscou-se intensificar o estudo da queixa, trazendo um questionamento sobre um sofrimento, que não era físico, ou visto “a olho nu”, mas sim, um sofrimento que vai além do corpo, um sofrimento que se liga á mente.

Para o desenvolvimento desse trabalho, o mesmo foi dividido em dois capítulos trazendo como auxílio dos autores Christophe Dejours, Rodolpho Ruffino, Alfredo Jerusalinsky entre outros. Em um primeiro momento serão abordadas as questões históricas do sofrimento do trabalho, trazendo pontos desde a era escravista até o atual momento.

Como já mencionado, incialmente abordaremos a história do sofrimento no trabalho, trazendo traços desde os primórdios, na era escravista, onde é possível estudar a relação do trabalho com a dor em seus princípios básicos, sendo, na época, o trabalho a base para a sobrevivência. Os escravos viviam para trabalhar, sua renumeração era dada em forma de moradia e alimentação, que eles mesmos fabricavam, dessa maneira, não se era introduzida alí uma recompensa monetária, sua recompensa era a vida.

Indo além no percurso histórico adentramos a revolução industrial, onde o trabalho passa por diversas fases, sendo que, esse século que é reconhecido como o século pela luta da sobrevivência. Neste período, Dejours (1998) destaca as difíceis batalhas enfrentadas pelos operários e as condições precárias que ali existiam.

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Em seus escritos Dejours (1998) relata que além das preocupações com a saúde, haviam as questões voltadas a restauração da ordem moral e da ordem social nas aglomerações operárias. Os principais efeitos de todo esse sistema, eram a miséria e a promiscuidade, que criaram condições favoráveis para o desenvolvimento da delinquência, do banditismo, da violência e da prostituição.

A partir do que foi colocado até aqui, é visível a difícil etapa enfrentada pelo grupo, e o quão penoso se transformava o efeito do trabalho. Os trabalhadores traziam a extrema dificuldade da época, e ainda traziam algumas características da era escravista.

Contudo a revolução industrial traça pontos positivos com o passar do tempo, a partir dela temos a entrada da Psicologia do Trabalho, que percorreu um grande caminho até a atualidade. Com a entrada da Psicologia dentro das organizações, traz pontos positivos para a vida dos operários, e nesse momento são vistas grandes mudanças dentro deste campo.

Em um segundo momento procurou-se adentrar a questão do sofrimento do trabalhador. Quando nos remetemos a escrever sobre esse tema, buscamos inicialmente trazer o significado das palavras “sofrer” e “trabalho”, para inicialmente fazer uma relação entre elas. A partir desse momento é vista uma ligação inicial, pois o sofrer tem uma determinada ligação com a relação corpo-mente-trabalho, caracterizada por algo que é necessariamente a ligação dos dois entre mente e corpo. Müller (2001) traz a relação psique-pele, ressaltando que esses envolvem todos os elementos subjetivos presentes em nossa personalidade, apontando aqui as emoções, fantasias, sentimentos e agressividade. Pontua que conforme a intensidade desses elementos, eles passam a refletir na pele.

Trazendo a relação de sofrimento e trabalho, é possível ver o paralelo em que as palavras se situam. É visto que com o passar dos tempos, vários percursos foram percorridos e vencidos. Hoje o trabalhador passa a conquistar o que é seu por direito, o trabalho não representa mais um sinônimo de “luta pela sobrevivência”, porem os sujeitos ainda sofrem.

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1. CONCEPÇÕES HISTÓRICAS A CERCA DO SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHO

O sofrimento no trabalho traça um percurso histórico, que vem se colocando desde os tempos escravistas, porem, não era conotado como sofrer. A psicologia se coloca no campo trabalhista após a Revolução Industrial. Para trabalharmos a questão do sofrimento psíquico do sujeito dentro do âmbito trabalhista, é essencial trazermos a análise histórica do sofrimento relacionado ao trabalho, buscando acentuar os pontos que referem-se as questões voltadas ao sofrimento do trabalhador. Com bases nessas informações, neste capítulo iremos abordar a questão histórica do sofrimento no trabalho e também sua mudança de significados.

O trabalho se constitui como fonte de subsistência para espécie humana desde os primórdios, apresentando diversas formas de concepção na história, como a forma de prazer, ou ainda como forma de desgaste e sofrimento.

Ao iniciar o percurso histórico no Brasil, pontuamos o trabalho escravista o qual teve um processo de longa duração. Segundo Machado e Cainelli (2014) o mesmo foi implantado pela coroa portuguesa, pela igreja e pelos latifundiários, tendo sua origem por volta do ano de 1559, onde temos os primeiros relatos da chegada dos primeiros barcos negreiros no Brasil, e legalmente deixou de existir a partir da Lei áurea em 1888.

A escravidão é um conceito conhecido no mundo todo como uma forma de trabalho forçado onde ás liberdades individuais não existem. É um sistema de trabalho que não sobrevive apenas da compra e venda da mão de obra, por livre espontânea vontade do trabalhador (MACHADO e CAINELLI, 2014 p.4).

Segundo Machado e Cainelli (2014) os escravos eram trazidos para trabalhar dentro dos canaviais e engenhos de açúcar, e submetidos a 18 horas diárias de um trabalho árduo e desgastante. Os mesmos viviam em condições precárias, onde seu trabalho era seu lar, não havia renumeração financeira, sendo que a sua maior recompensa era se manter vivo.

Seguindo um pouco além na história, chegamos ao momento chamado de Revolução Industrial, onde Pinto (2018) coloca que essa trouxe grandes mudanças, para a forma de produção existente na época, sendo esse, um processo histórico iniciado na Inglaterra no século XVIII, principalmente sendo associado ao início do

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modo de produção capitalista. Essa revolução consistiu primordialmente no desenvolvimento de novas técnicas de produção de mercadorias, com uma nova tecnologia, e em uma nova forma de divisão social do trabalho.

Segundo Pinto (2018) as bases da Revolução Industrial estão na passagem das instituições de ofício da Idade Média para a produção em manufaturas. Nas instituições, os artesãos detinham individualmente suas ferramentas e matérias-primas, trabalhando sob a supervisão de um mestre-artesão. Na manufatura, esses mestres-artesãos passaram a deter a propriedade dos meios de produção, transformando os demais artesãos em trabalhadores assalariados. Nesse momento as lutas sociais deram origem aos direitos do trabalho. Baseado na noção do emprego, com o passar do tempo surge a consciência da dignidade do trabalho, que então passou a ser colocada como um bem econômico, e tambem como fonte de prazer.

Dejours (1998) relata as dificuldades encontradas no século XIX o qual passa a ser reconhecido como “O século pela luta da sobrevivência”, que se caracteriza como o período de crescimento da produção, e também, pelo êxodo rural e pela concentração de novas populações urbanas.

Os elementos marcantes desse período se caracterizam por extensas jornadas de trabalho, salários muito baixos, o trabalho infantil, a falta de higiene, esgotamento físico e acidentes de trabalho. Com todos esses elementos, os efeitos trazidos por esse período foram uma alta taxa de mortalidade e uma longevidade extremamente reduzida. Com a precariedade das condições de vida, no século XIX a luta pela saúde fica conhecida como a luta pela sobrevivência. Como colocado por Dejours (1998, p. 14):

Em vista de tal quadro, não se cabe falar de “saúde” em relação à classe operária do século XIX. Antes, é preciso que seja assegurada a subsistência, independente da doença. A luta pela saúde, nesta época, identifica-se como a luta pela sobrevivência: viver, para o operário, é não morrer.

Dejours (1998) aponta que essas exigências colocadas a eles ameaçavam até mesmo a mão de obra, que acusa riscos de sofrimento específicos, descrito na literatura da época como “Miséria Operária”. Essa miséria, aqui é assimilada a uma doença. A partir deste momento se estabelece o movimento higienista que é uma resposta social ao perigo. Contudo, nesta época, esse movimento coloca para preservar a saúde das classes privilegiadas e não dos operários.

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Dessa maneira os operários permaneciam na mesma posição, seguindo suas horas árduas de trabalho, em péssimas condições, agravando cada vez mais a situação em que se encontravam. Em volta dessa questão, surge a criação de três correntes, que trazem mudanças significativas para a categoria:

(...) o movimento higienista, o movimento das ciências morais e políticas e o movimento dos grandes alienistas, onde os médicos ocupam uma posição de destaque. O médico faz sua entrada triunfal no arsenal do controle social, forjando um utensilio que terá grande destinos, e que reencontraremos, mais tarde, sob a imagem do “Trabalho Social” (DEJOURS, 1998, p. 16).

O século XIX é marcado por várias batalhas do grupo operário, mas também traz consigo várias conquistas ao grupo. Uma das mais significativas foi a redução das jornadas de trabalho, onde os trabalhadores passam a não ter mais um número elevado de horas de trabalho, sem direito de descanso. A partir deste momento o trabalho passa a traçar um novo percurso.

(...) as lutas operárias marcaram todo o século .... Nove anos para a supressão da caderneta operária (1881- 1890); treze anos para o projeto de lei sobre a redução do tempo de trabalho das mulheres e crianças (1879-1892); onze anos para a lei sobre acidentes de trabalho (1883- 1898); quarenta anos para a jornada de 10 horas (1879-1919) vinte e sete anos para o repouso semanal (1879-1906); vinte e cinco anos para a jornada de 8 horas (1894- 1919); vinte e cinco anos para a jornada de 8 horas nas minas (1890- 1913) (DEJOURS, 1998, p. 17).

Através das lutas, etapas importantes vão sendo vencidas, com o objetivo de obter melhorias na relação saúde-trabalho. Contudo, o movimento não tem grande forças, principalmente em empresas com um número maior de operários.

Dejours (1998) ressalta que os pontos mais significativos trazidos a partir da luta por melhorias nas condições de trabalho, foi a aprovação de lei de 1889, que discorre sobre os acidentes de trabalho, a partir dela se tem a criação de ambulatórios de fábricas a cargo dos seguros privados. Em 1915 temos as bases fortalecidas de uma verdadeira medicina do trabalho. Com a entrada da medicina do trabalho, teremos outras conquistas, como a previdência social (1945); e os comitês de higiene e de segurança (1947).

Com todas as conquistas colocadas até aqui, o movimento operário continua a buscar seus direitos agora voltando-se a saúde do corpo. Nesse momento trazem apenas um alvo de exploração, o corpo, situando aqui o corpo lesado, o corpo doente

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e a mortalidade crescente dos operários em relação a população restante. “A palavra

de ordem da redução da jornada de trabalho deu lugar á luta pela melhoria das condições de trabalho, pela segurança, pela higiene e pela prevenção de doenças” (DEJOURS, 1998, p. 22)

A busca pela saúde do corpo, traz como ponto central a saúde mental, que até então era um território quase desconhecido. Como Dejours (1998) situa a desigualdade das forças produtivas, das ciências, das máquinas, das condições de trabalho e no centro desses fenômenos diversificados, é cabível reconhecer um novo material que ampliam a problemática da questão da saúde, se voltando nesse momento a saúde mental.

Se todavia, este tema está efetivamente presente há uma década pode-se perguntas o quê, no trabalho, é acusado como fonte especifica de novidades para a vida mental. A questão é de uma importância crucial. A luta pela sobrevivência condenava a duração excessiva do trabalho. A luta pela saúde do corpo conduzia à denúncia das condições de trabalho quanto ao sofrimento mental, ele resulta da organização do trabalho (DEJOURS, 1998, p. 25).

A partir da Revolução Industrial temos a entrada da Psicologia do Trabalho, voltando-se em três faces históricas, situadas por Sampaio, onde o mesmo ressalta que a primeira face está atrelada aos interesses das indústrias, que ocorre entre os anos de 1924 a 1970. Nesse momento a psicologia se coloca como Psicologia Industrial. Siegel (1969, apud Vieira, 2017) coloca como tese central dessa face o estudo da produtividade.

A prática chama Psicologia Industrial resumia-se, inicialmente, à seleção e colocação profissional, o que gerou o nascimento de uma organização americana denominada “Psychology Corporation” para desenvolver e distribuir testes psicológicos e realizar serviços de consultoria a indústrias e outras organizações (SIEGEL,1969, apud VIEIRA, 2017, p. 13).

Sampaio (1998) pontua a presença do Taylorismo dentro da Psicologia Industrial, onde essa traz a “Lei da Fadiga”. Essa lei procurava determinar cientificamente o limite do esforço, para assim determinar cotas de produção dos empregados. A lei mencionava a necessidade dos intervalos periódicos, sempre visando a recuperação muscular do trabalhador, a mesma ressaltava o direito de repouso semanal e remunerado por semana. A Lei apontava a questão da divisão do

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trabalho, dividindo a tarefa em partes, onde cada trabalhador fazia a parte voltada a sua habilidade.

A segunda face, segundo Sampaio (1998) era a Psicologia Organizacional, situada entre 1970 a 1990. Essa face está voltada a qualidade de vida do trabalhador, voltando-se a estudos referentes a gerência do local do trabalho. Porem aqui ainda há um predomínio das teorias administrativas, e o objetivo é a produção e lucratividade.

O surgimento da Psicologia Organizacional se dá a partir do momento em que os psicólogos avançam seus estudos, e passam a estudar não apenas os postos de trabalhos, mas também as estruturas das organizações

No passado, os psicólogos industriais tornaram muitas coisas como certas. A estrutura toda da indústria, suas tradições e superstições têm sido aceitas quase sem perguntas, e tem-se impressão de que os seres humanos foram feitos para adaptar-se à indústria, em vez de suceder ao contrário (BROWN, 1976, p.23).

Em seus escritos, Sampaio (1998) relata que a Psicologia Organizacional chega com uma ruptura da Psicologia Industrial, aqui os psicólogos trazem uma grande ampliação de seus objetos de estudos, porem os mesmos seguem envolvidos com os problemas da produtividade das empresas. Seguindo os estudos sobre treinamento, não fazendo apenas uma visão de capacitação para o trabalho, mas sim com a de desenvolvimento de recursos humanos. “A Psicologia Organizacional ainda traz em seu bojo a ideia do plano de cargos e salários como elemento motivador, embora já se saiba desde os trabalhos de Herzberg do caráter higiênico do salário como fator de incentivo” (p. 46).

Sampaio ressalta que a Psicologia Organizacional passa a valorizar as teorias comportamentais na psicologia, trazendo ênfase na influência que o ambiente tem no comportamento humano. Porém o autor coloca que as críticas voltadas a Psicologia Organizacional não são poucas, e nem recentes, voltadas principalmente ao desempenho, produtividade e rendimento a curto prazo.

O autor Guerreiro Ramos (1989, apud Sampaio, 1998, p. 108) denuncia em sua obra essa distorção da Psicologia Organizacional,

A Psicologia transforma-se numa tecnologia de persuasão para aumentar a produtividade. Culpar as organizações de natureza econômica por serem

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incapazes de atender as necessidades do indivíduo como um ser singular é tão fútil quanto culpar o leão por ser carnívoro.

Segundo Sampaio (1998), com todas as críticas voltadas a Psicologia Organizacional, constatou-se que era necessário estudar os efeitos do ambiente e da tecnologia no contexto do trabalho. Com isso surge, a partir de 1990, a terceira face, a Psicologia do Trabalho. Essa face é compreendida como Psicologia do Trabalho, e seu interesse se remete a questões de poder e conflito, e o objetivo desta é a promoção da saúde mental e bem-estar do trabalhador.

Trazendo a terceira face, Sampaio relata que, aqui as preocupações se voltam a compreensão do trabalho humano, com ênfase na qualidade de vida no ambiente de trabalho. “Uma Psicologia que tem como ponto central o estudo e a compreensão do trabalho em todos os seus significados e manifestações” (LIMA, 1994, apud SAMPAIO, 1998, p. 53).

A Psicologia do Trabalho, cede a obsessão pelo trabalho e dá lugar a uma compreensão mais próxima do homem que trabalha. O que antes era visto como funções ou sistemas das organizações, agora é concebido como políticas; o que antes era colocado como algo fixo e indispensável, agora é considerado como resultado de ações de grupos nas organizações. Passando a serem consideradas as questões de poder, conflito e seus reguladores.

No entanto ao longo dos anos, a preocupação dominante das organizações tem se centrado na eficácia e eficiência dos trabalhadores, que não condiz com a preocupação dominante desta terceira face da psicologia do trabalho, situando sua investigação dentro do paradigma funcionalista que embasa as teorias dominantes de gestão organizacional (CUNHA et al, 2001, apud SANTOS, TRAUB e TIEZE, 2011, p. 3).

Ao longo da história a exploração do trabalho humano, vem trazendo novas facetas e significados até os dias atuais. As sequelas da vida escravagista estão presentes até os dias de hoje, como forma de exploração dos trabalhos árduos.

Dejours (1994) afirma que todo trabalho demanda produção de uma carga física e de uma carga psíquica ou mental. A carga mental está nas origens do sofrimento psíquico. É ela, produtora de tensões, que necessitam de descarga pelo trabalho, sob o risco de produzir quebra de equilíbrio e sofrimento patológico no trabalhador.

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O trabalho sofreu grandes mudanças com relação ao seu significado no decorrer da história, Ebert (2016) relata em seus escritos, que no início era visto como algo penoso, hoje representa o valor social do indivíduo na sociedade. Se hoje é possível trabalhar em condições mais amenas fisicamente, por outro lado a ciência manipulada pelo homem pretende afastar o sentido de alienação e não a própria alienação.

Cunha (2001, apud Santos, Traub e Tieze, 2011) coloca que nos tempos de hoje, o trabalho passa a estar cada vez mais envolvido com a busca de um sentido, sendo uma expressão pessoal. Todo mundo tem o desejo de fugir do estresse e da frustração profissional, tendo a ideia de conquistar seu trabalho perfeito, bem renumerado e respeitado, profissional e emocionalmente. Se torna comum o pensamento de que para alcançar a realização individual, ou até mesmo a felicidade, é necessário se trabalhar com o que se gosta.

1.1. A ambiguidade da palavra

O sofrimento no trabalho é constituído por uma consequência de insistência do ser humano em viver em um ambiente que é contraditório ao seu meio. A relação do homem com o trabalho nunca foi fácil, até mesmo ao trazer o real significado da palavra trabalho que indica algo penoso, com muito esforço, tarefas, sobrevivência, realizações, reconhecimento, outras vezes sacrifício, fadiga, cansaço intelectual ou até mesmo algo indesejado.

Apesar de sua vasta lista de significações a palavra trabalho na língua portuguesa, segundo o Dicionário Aurélio traz dois principais significados:

1º - Conjunto das atividades realizadas por alguém para alcançar um determinado fim ou propósito; os mecanismos mentais ou intelectuais utilizados na realização de algo; 2º - Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento (FERREIRA, 2004).

Apontando a questão psicanalítica, também não temos apenas um significado para a mesma palavra. Segundo Ruffino (2000, p. 179) Freud apresenta quatro estatutos para a atividade:

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(1) o trabalho social, que pode, em alguns casos, não visar ao sustento, e em outros, tê-lo como sua própria razão de ser;(2) trabalho como atividade não pessoal no interior do aparelho psíquico;(3) trabalho como produção inconsciente das formações do que dele se apresenta a consciência; (4) trabalho como movimento do subjetivo que, partindo do que nele se agita desde a sua estruturação psíquica, ou alterando-a em sua modalidade inercial, anterior, termina por expressar-se ao expressar, por ele a pessoa mesma no circuito social.

Ao longo do tempo é perceptível, as grandes adaptações de significados que a palavra trabalho traz, sendo que a mesma tem sua origem no Latim, tripalium,

(...) termo utilizado para designar instrumento de tortura, ou mais precisamente, instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes ainda munidos de pontas de ferro, nas quais agricultores bateriam o trigo, as espigas de milho, o linho, para rasgá-los e esfiapá-los (ALBORNOZ, 1994, p.10).

Por muito tempo a palavra trabalho tinha seu significado associado como um fardo ou um sacrifício.

Na Grécia Antiga, o trabalho era desprezado pelos cidadãos livres. Platão considerava o exercício das profissões vil e degradante. Nos primeiros tempos do cristianismo, o trabalho era visto como tarefa penosa e humilhante, como punição para o pecado (...) (RIBEIRO e LÉDA, 2004, p. 76).

O homem, quando ainda primitivo, tinha o trabalho como subsistência, realizando as atividades apenas para sua sobrevivência, como produção de alimentos, segurança e necessidades básicas. A partir do momento em que surgem as primeiras civilizações, passa a haver uma diferença entre o trabalho dos escravos, dos artesões e dos senhores.

O trabalho ganha uma nova configuração com a entrada do capitalismo. A partir desse momento, o homem não trabalha apenas para sua subsistência, o trabalho toma outro significante, ele passa a usar sua força de trabalho para conquistar elementos do seu desejo.

Nesse sentido, é importante ressaltar a influência da sociedade industrial em tentar transformar o trabalho em mero instrumento, esvaziando-o de todo o seu elemento expressivo. O trabalho passou a servir para “fabricar” dinheiro, com o qual se pode adquirir objetos promotores de “felicidade” (LANER, 2005, p.94).

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Conforme Laner (2005) a mudança da produção agrária para a industrial, fez com que o maior símbolo de riqueza, a terra, se transferisse para o dinheiro.

Jerusalinsky (2000) afirma que no sistema capitalista houve um deslocamento da posição subjetiva do homem, para se tornar instrumento de produção do objeto. Assim o valor do homem passou a estar no objeto “seja por possuí-los, seja por dominá-los ou usufruí-los” (p. 36).

Quer dizer, o objeto, em lugar de se constituir como o objeto materno recalcado (ou seja, como objeto negativo), fica deslocado numa positivação; esse objeto negativizado na lei de interdição do incesto, passa a estar positivado numa produção (Jerusalinsky, 2000, p. 36).

Norteando as diferentes linhas que a palavra trabalho denomina ao longo do tempo, é vista a diferença de significados e significantes motivadas por um consenso social, que vem colocar o sujeito em uma nova posição frente ao trabalho. Pois no momento o capitalismo surge, fortalecendo o lugar do trabalho na vida do sujeito, traz o duplo entendimento da mesma palavra, dessa maneira se conclui que o mesmo não se encaixa mais a esse posicionamento.

Com o crescimento do capitalismo e a busca por um aumento lucrativo, Vidal e Moura (2014) colocam o quanto é perceptível a atividade alienada em que o profissional atua, pois o mesmo se volta apenas para a questão financeira que isso o resultará, o profissional aqui atua apenas para a necessidade lucrativa. Dessa maneira, o trabalhador traz sua busca voltada apenas a estabilidade financeira e seu posicionamento perante a sociedade, não se tomando de nenhuma apreciação sobre aquilo que desenvolve. Quando essa busca se envolve apenas a essas características, tem a denominação de emprego.

A partir dessas duas divisões, o sujeito se depara com um paralelo, esta alienado a essa condição de busca, mas essa busca não se liga a um resultado, mas sim a uma obtenção.

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2. SOFRIMENTO DO TRABALHOR DENTRO DAS ORGANIZAÇÕES

Para iniciarmos este capítulo, é necessário situarmos a posição do trabalho em meio a atividade humana. Segundo Ruffino (2000) “o trabalho é o nome dado as atividades realizada pelo homem, sobre a materialidade do mundo, imprimindo nesta uma transformação que o humaniza” (p.194).

Ruffino (2000), em suas citações traz a significação dessa ideologia para Freud, onde o mesmo coloca a termologia da palavra trabalho “como inúmeros níveis de atividades realizadas pelo homem, mas também outras, realizadas no homem” (p.194).

Se é perceptível a relação que a palavra traz com a atividade realizada pelo homem, agora nos voltamos a pensar a relação que a palavra sofrimento traz a essa atividade.

Ao falar de sofrimento trazemos várias concepções da palavra, tanto na filosofia, como na Psicologia e no real significado da palavra na língua Portuguesa. Trazendo sua etimologia a palavra deriva do latim, Sufferre, termo esse que se deriva dos velhos romanos que designavam quem estava “sob ferros”, acorrentado, submetido à força (dicionário Etimológico). Ou seja, sofrimento é o que se carrega depois ou durante o sentimento de dor.

Melo (2018) voltas-se ao sofrimento segundo a filosofia onde esta refere-se a palavra que mais se aproxima dessa tristeza é a Akedia. Palavra grega, composta de Kedos, que significa importar-se com, porém, somada do prefixo negativo, temos não importar-se com. Akedia vem com o sentido de descrever um estado de desinteresse que pode se manifestar como estupor e falta de participação na vida. Na antiguidade clássica, encontramos os primeiros esboços sobre o sofrimento melancólico nos escritos de Homero, na Ilíada, onde Bellerofonte, vítima de ódio dos deuses e por eles condenado ao ódio, ao sofrimento e à solidão.

A autora ainda traz em sua escrita a concepção da palavra no Renascimento onde as ideias aristotélicas, reassumem o posto de superioridade hierárquica das experiências humanas como fonte de inspiração e assim se estendeu até o século XVIII. A Idade da Razão, porém, revisitando o conceito, reelabora sua definição colocando as emoções humanas como objeto de estudo científico. A partir de então, o sofrimento passa a ser submetido á critérios de exame do campo da ciência/psicologia que a redundam à aspectos mais analíticos (MELO, 2018).

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Como já pontuado, as diversas colocações da palavra, é visto uma vasta história sobre a mesma, porem todas remetem a uma única ideologia. Contudo, para a concretização desta, é relevante trazermos a significação da palavra na língua portuguesa, onde temos esta como “Ato ou efeito de sofrer, dor física, pena moral paciência” (DICIONÁRIO PRIBERAM, 2018).

Colocadas então as ambíguas relações trazida pela palavra, é visível a relação que a mesma traz entre corpo e mente. Aqui pontuamos a questão que o sofrimento nem sempre se caracteriza por algo que seja visível, este vai muito além do que os olhos possam ver, Oliveira (2106, p. 4) traz em seu artigo, essa relação:

O sofrimento surge sempre associado a eventos, sobretudo externos (outras pessoas, doença, desemprego, perda de ente querido etc.). É importante realçar, no entanto, que o estado de aflição severa é sentido interiormente; daí ser usual a hipótese de haver algum dano em órgão interno, como no coração, no fígado etc. Quando isso acontece, mesmo que exames auxiliares de diagnóstico nada identifiquem, profissionais de saúde devem ter muito cuidado antes de concluir que nada ali lhes diz respeito. Ainda que a causa do sofrimento possa ser considerada exterior, não se pode confundi-la com o efeito produzido (o sofrimento), tampouco reduzi-lo àquela única causa.

Retratando a posição do trabalho para o homem e sua posição perante a ele, buscamos a ideia inicial de sofrimento e a ligação inicial entre sofrer e trabalho. O sofrimento está presente em todos os seres humanos, uma vez que todos sofrem e sua experiência é inevitável. Guimarães (2012, s. p.) em seu artigo O sentido do

sofrimento humano, relata que o sofrimento:

É realidade inevitável e presente. Diante a isso resta ao homem apenas duas atitudes: aceita-la e procurar integrá-la no desenvolvimento de sua história pessoal, ou rejeita-la através da negação da indiferença ou do relativismo existencial.

Quando relacionamos a ideia de sofrimento ao trabalho, se colocam, também, sentidos que vão do medo da perda do emprego ao da designação para um novo cargo; da angústia diante das tarefas, mesmo das mais simples ou daquelas com alta complexidade, compondo uma mesclagem de emoções. Trazendo aqui a relação do trabalho e do medo, Dejours (1998) situa que medo não é um conceito propriamente psicanalítico, e nessa questão não se refere a angustia pois essa é um resultado de um conflito intrapsíquico.

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A investigação da angustia deve ser realizada pela psicanálise. A angustia é uma produção individual, cujas características só podem ser esclarecidas pela referência continua à história individual, à estrutura de personalidade e ao modo especifico de relação objeta (...) Medo é um conceito que responde por um aspecto concreto da realidade e exige sistemas defensivos específicos, essencialmente mal conhecidos até hoje (DEJOURS, 1998, p. 63).

Dejours (1998) situa a importância da psicopatologia do trabalho para ressaltar essa problemática, onde a mesma tenta mostrar que o medo está presente em todos os tipos de ocupações, desde as mais simples até as mais complexas. Situa que algumas categorias podem estar expostas a riscos relacionados a integridade física, onde descreve diversas características relacionadas a esse risco como o exterior, o coletivo, o personalizado, o real, o suposto e o residual. O que caracteriza o risco residual que não é completamente eliminado pela organização do trabalho, é que deve ser assumido individualmente (p. 64).

Quando nos referimos a esse medo, não estamos falando apenas do trabalho que impõem medo, mas sim do trabalhador que não se encontra preparado para devidas situações colocadas dentro do seu campo de atuação. E esse medo só passa a ser visível quando aparece no discurso do trabalhador.

Dejours (1998) relata que o medo traz sinais diretos com grande evidência, destacando as “doenças profissionais”, onde os trabalhadores buscam o afastamento da empresa em que atuam, e passam a receber o auxílio da previdência social, situa a questão da repetição de casos com a mesma doença, e o afastamento em massa de funcionários. A saúde física e as condições de trabalho são pontos que mais afetam esse medo.

Esse discurso trabalhador sobre a saúde física, é muito comum se colocar a ênfase analítica no que esta mais imediatamente expresso, ou seja, de que as condições de trabalho são prejudicais para o corpo. Mesmo sendo incontestável tal realidade, negligenciamos em geral a própria palavra, o momento em que é pronunciada e o tom no qual se expressa. Ora, esta palavra é uma palavra carregada de ansiedade (DEJOURS, 1998, p. 66).

A ansiedade, que citamos aqui, se volta ao ritmo de trabalho, as questões de um número extenso de tarefas, os quais fazem com que o colaborador não consiga manter seu ritmo e trazer resultados positivos para o fim. Dessa maneira o mesmo passa a sofrer, trazendo traços de agressividade e revolta.

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Dejours (1998) refere que essas concepções, podem ser resultantes do trabalho do chefe da equipe e/ou do contramestre, onde os mesmos utilizam frequentemente repreensões e favoritismos para dividir as tarefas, sobrecarregando assim um trabalhador. Dessa maneira, a ansiedade, aqui, se refere as questões relativas a produtividade, onde o funcionário relata que essa ansiedade se refere a “cara feia do chefe”.

A desigualdade na divisão de trabalho é uma arma terrível de que se servem aos chefes de bel-prazer da própria agressividade, hostilidade ou perversidade. Temos o hábito de apresentar estas relações de trabalho em termos políticos ou em termos de poder. Mas a frustração, a revolta e a agressividade relativas muitas vezes não encontram uma saída (DEJOURS, 1998, p.75)

Quando não encontrada a saída para essas emoções, trazemos pontos negativos voltados a saúde mental do trabalhador, pois o mesmo não se permite falar sobre, e passa a não demonstrar as questões que lhe afligem, porem isso trará mudanças no desempenho das tarefas.

Dejours (1998) coloca que dentro das organizações as relações de trabalhos, frequentemente anulam o trabalhador de sua subjetividade, excluindo o sujeito e transformando o homem em uma vítima do seu trabalho.

O maior sofrimento destacado dentro desse campo, é a frustração de suas expectativas iniciais, pois as propagandas do mundo do trabalho, que prometem felicidade, satisfação pessoal e material, na realidade trazem concepções diferentes. Quando o mesmo adentra no campo de trabalho, se depara na maioria das vezes, com um cenário que não era o imaginado, trazendo a insatisfação pessoal e profissional do trabalhador, desencadeando dessa maneira o sofrimento.

Ao se deparar com uma posição onde o mesmo não se coloca, esse passa a sofrer. Dejours (1998) relata que o aparelho psíquico não é a primeira vítima do sistema, mas sim o corpo dócil e disciplinado, aquele entregue sem obstáculos, à injunção da organização do trabalho. “Corpo sem defesa, corpo explorado, corpo fragilizado pela privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental. Corpo doente, portanto, ou que corre o risco de tornar-se doente” (p. 19).

Na era pós-industrial, a manifestação do sofrimento tornou-se um verdadeiro tabu. É vista como ausência de motivação, fraqueza de caráter ou desiquilíbrio emocional. O processo de reestruturação organizacional exige que o sujeito se

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mantenha aberto, sem medo das transformações; que corra riscos de otimismo e sobretudo, expresse satisfação com a vida. Em face desses imperativos, o sofrimento não pode ser reconhecido como tal, pois suas manifestações contrariam a exaltação do eu diante das estratégias de estetização das empresas (BRANT e GOMEZ, 2008, apud NIEVIROSKI e AMORIM, 2011).

Para estabelecer uma relação do sofrimento psíquico com o trabalhador, nos remetemos aos estudos de Freud (1930), nos quais encontramos o sofrimento sendo uma ameaça constante para o homem que a partir de três fontes, o saber do próprio corpo fatalmente condenado a decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode se voltar contra nós mediante forças destrutivas, esmagadoras e impiedosa; dos relacionamentos que se estabelece com os outros.

A atividade profissional constitui fonte de satisfação especial, se for livremente escolhida, isto é, se, por meio de sublimação, tornar possível o uso de inclinações existentes, de impulsos instintivos persistentes ou constitucionalmente reforçados. No entanto, como caminho para a felicidade, o trabalho não é altamente prezado pelos homens. Não se esforçam em relação a ele como o fazem em relação a outras possibilidades de satisfação. A grande maioria das pessoas só trabalha sob a pressão da necessidade, e essa natural aversão humana ao trabalho suscita problemas sociais extremamente difíceis (Freud, 1930, p.174).

Nesse sentido sempre haverá a necessidade de trabalho na luta pela sobrevivência, e portanto, também se colocará uma renúncia na satisfação. Essa posição entre o princípio de prazer e princípio de realidade, aparece novamente como uma necessidade para a continuidade da civilização.

Quando trazemos a questão do sofrimento no trabalho tentamos compreender qual é a relação do trabalhador com esse sofrimento, e em qual circunstância o trabalho se revela uma ameaça à saúde desse trabalhador. A ideia de sofrimento é central para Dejours. Rocha, Mendes e Morrone (1987, apud DEJOURS, 1998) destacam que a vivência de sofrimento psíquico no trabalho se materializa.

Pela indignidade, inutilidade, desqualificação e vivência depressiva. Indignidade diz respeito aos sentimentos de robotização, despersonalização, privação da inteligência. Inutilidade resulta do contato do trabalhador com uma atividade desprovida de sentido, fragmentada; e desqualificação com uma atividade na qual o trabalhador percebe-se subutilizado. Associados, estes sentimentos caracterizam a vivência depressiva, representação máxima do sofrimento no trabalho. Manifestada, geralmente, pela sensação

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de cansaço, alimenta-se da vivência de adormecimento intelectual, de anquilose (rigidez) mental no contexto de trabalho; representa o triunfo do condicionamento do trabalhador à lógica do sistema produtivo (ROCHA, MENDES e MORRONE, 1987, apud DEJOURS, 1998).

Em muitas situações, por manifestar-se com uma sintomatologia, é confundida com desmotivação ou despreparo. Esse sofrimento psíquico pode surgir das elaborações construídas nas relações de trabalho, com base na organização (cultura) e de seus próprios colegas de trabalho (relações), ou seja, para compreendermos o sofrimento psíquico do trabalhador devemos investigar, levando em conta a cultura e seus valores, relacionando este sofrimento aos processos subjetivos envolvidos no campo do trabalho.

Dejours (1993, p. 153) traz uma abordagem ampla sobre o conceito de sofrimento no trabalho, colocando uma ambivalência entre a questão de bem-estar e loucura, querendo dizer que “o sofrimento no trabalho pode ser entendido como o espaço de luta que ocorre no campo situado entre, de um lado, o bem-estar, e, de outro, a doença mental ou a loucura”.

Conforme Codo (1993) a ideia de bem-estar como um ambiente gratificante, quando o mesmo é realizado em tal ambiência, leva os trabalhadores a gostarem do produto realizado. A ideia de sofrimento se relaciona com a subjugação do trabalho, quando isso ocorre, se tem o sentimento de raiva ao produto. Percebe-se, assim, que o trabalho está conformado pelo afeto.

Por mais alienado que seja o trabalho, por mais antipáticas que sejam estas ou aquelas pessoas, sempre a carfa afetiva despejada entre as escrivaninhas ou as bancadas é grande: sedução intriga, afeto ou picardia, fofoca ou solidariedade, carinho ou demagogia, sorriso ou polidez. Não se trata de um medo acidente cultural, estamos falando nem mais nem menos da sobrevivência” (CODO, 1993, p. 125).

O trabalho supõe atividade para uma finalidade, implicando esforço, podendo ser físico e/ou intelectual. No entanto, ainda detectamos pessoas que dividem e classificam o trabalho físico e o trabalho intelectual separadamente. Doenças podem atingir o trabalhador, a partir das exigências impostas pelas organizações.

(...) a exploração do sofrimento pela organização do trabalho não cria doenças mentais específicas. Não existem psicoses de trabalho, nem neuroses do trabalho. Até os maiores e mais ferrenhos críticos da nosologia

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psiquiátrica não conseguiram provar a existência de uma patologia mental decorrente do trabalho” (DEJOURS, 1998, p. 122).

Nessa questão Dejours (1998) destaca que a descompensações, psicótica e neurótica, dependem da estrutura da personalidade, a qual é adquirida muito antes da entrada no trabalho. A aparição da descompesação pode ser explicada pela estrutura da personalidade, porem a mesma não coloca o momento dessa aparição. Ele situa três componentes da relação homem-organização do trabalho:

(...) a fadiga, que faz com que o aparelho mental perca sua versatilidade; o sistema frustração agressividade reativa, que deixa sem saída uma parte importante da energia pulsional; a organização do trabalho, como correria de transmissão de uma vontade extrema, que se opõe aos investimentos das pulsões e às sublimações ” (p.122).

Para Dejours (1994), o objeto de estudo é, preferencialmente o sofrimento, mas isto não significa que tudo fique reduzido à sua constatação. No entanto, doenças podem acometer o trabalhador, a partir das exigências impostas pelas organizações.

Dejours (1994), amplia seu campo de investigação, e passa, da psicopatologia do trabalho à psicodinâmica deste, permitindo que se olhe diferentemente para o sofrimento, afirmando que, no trabalho, também existe prazer. O objetivo é compreender como os trabalhadores alcançam determinado equilíbrio psíquico, mesmo estando submetidos a condições de trabalho desestruturantes.

Segundo Dejours (2000), a organização do trabalho é indubitavelmente a causa de certas descompensações no quadro clínico do trabalhador. O autor ainda aponta que o aumento do ritmo do trabalho gera principalmente, nas mulheres, crises de choro, dos nervos e desmaios, nos homens essas descompensações ocorrem por vias mais agressivas como gritos, quebra de ferramentas, aumento da agressividade contra os chefes e os próprios funcionários, reduzindo assim a produtividade

O sofrimento psíquico do trabalhador pode surgir das elaborações construídas nas relações de trabalho, com base nas organizações e de seus próprios colegas de trabalho, ou seja, para compreendermos o sofrimento psíquico do trabalhador devemos investigar, levando em conta a cultura e seus valores, relacionando este sofrimento aos processos subjetivos envolvidos no campo do trabalho.

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Segundo Ebert (2016) a doença física é admitida, mas o sofrimento mental, a fadiga, razão essa a qual torna o sofrimento só percebido quando chega ao estágio da doença mental. As estratégias elaboradas pelos trabalhadores tem como objetivo, atenuar o estado de medo e de alerta que sentem, no momento em que estão desenvolvendo uma atividade profissional que pode trazer risco, ou mesmo confrontarem grandes máquinas, as quais trazem ameaças a integridade física.

Dejours (2007) pontua que as estratégias de defesa, são utilizadas como meio de controle do sofrimento usando a manutenção da saúde. Ele argumenta que essas estratégias de defesa funcionam como uma proteção à saúde mental contra efeitos negativos, riscos, perigos, deletérios do sofrimento, além de aumentar a resistência, tornando o trabalho mais tolerável.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi apresentado nesse trabalho, conclui-se que no decorrer da história várias conquistas foram alcançadas no âmbito do trabalho, aqui me remeto as questões trabalhistas e o desenvolvimento da psicologia dentro desse campo.

São vistas mudanças ocorridas voltadas ao campo trabalhista, trazendo aqui as antigas indústrias, que trazem em sua história as dificuldades dos setores operários na época. Situamos as dificuldades enfrentadas, como os elevados horários de trabalho, sem intervalos e em condições extremamente inadequadas. No presente momento, é visto que, em quase todos os campos trabalhistas, os colaboradores passaram a conquistar o que é seu por direito, trabalham de maneira regular e em condições adequadas.

Analisando a história, pode-se perceber que as conquistas operárias da época da Revolução Industrial trouxeram grandes resultados até o atual momento. Hoje a busca por seus direitos se torna mais visível, dessa maneira, fazem com que o setor trabalhista continue buscando seus valores e lutando por seus direitos dentro da organização.

Essa gradual mudança é perceptível quando nos referimos ao próprio significado da palavra trabalho, o que antes era algo realizado apenas para sua subsistência, hoje passa a ter outro significante, ou seja, o trabalhador passa a usar sua força de trabalho para conquistar elementos do seu desejo.

Com as inúmeras mudanças relatadas, pontuamos a questão do sofrimento. Com o estudo realizado percebemos, que com o passar dos séculos, o sujeito que antes apenas apresentava um sofrer físico, devido as horas árduas de trabalho, hoje passa a demonstrar outro tipo de sofrimento, que não é representado apenas pelo físico, mas que pode se tornar físico.

A Psicologia adentra as instituições para mostrar que o operário não apenas possui um corpo, mas sim uma mente, e essa mente sofre. Hoje, podemos não estar mais voltados a trabalhos árduos, ou em péssimas condições, porem continuamos a sofrer. Os tempos mudaram, as condições mudaram, e os sujeitos também mudaram. Quando nos remetemos a finalização da escrita deste trabalho, é importante destacar que, ao mesmo passo que inúmeras mudanças aconteceram, muitas mudanças ainda precisam acontecer, pois o sujeito ainda sofre, de maneira diferente, mas sofre, esse sofrimento muitas vezes, não é visto e nem percebido pelo outro. Não

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se remetendo aqui a trazer soluções, pois ainda não encontramos, contudo, ressaltamos que existem prevenções, e estas devem ser feitas.

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