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Sofrimento psíquico no trabalho: um estudo com encarregados de uma organização familiar de Fortaleza (CE)

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE - FEAAC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA – PPAC

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA

ELAINE MARINHO BASTOS

SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHO: UM ESTUDO COM ENCARREGADOS DE UMA ORGANIZAÇÃO FAMILIAR DE FORTALEZA

(CE)

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ELAINE MARINHO BASTOS

O SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHO: UM ESTUDO COM ENCARREGADOS DE UMA ORGANIZAÇÃO FAMILIAR DE FORTALEZA

(CE)

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Administração e Controladoria da Universidade Federal do Ceará - UFC como requisto parcial para obtenção do grau de mestre em Administração e Controladoria.

Orientador: Prof. Dr. Antônio Caubi Ribeiro Tupinambá.

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FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE – FEAAC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA – PPAC

O SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHO: UM ESTUDO COM ENCARREGADOS DE UMA ORGANIZAÇÃO FAMILIAR DE FORTALEZA

(CE)

ELAINE MARINHO BASTOS

Dissertação submetida ao programa de pós-graduação em Administração e Controladoria, curso de Mestrado Profissional em Administração e Controladoria, Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (FEAAC) da Universidade Federal do Ceará (UFC) como requisto parcial para obtenção do título de mestre em administração e controladoria.

Dissertação aprovada em ____|____|_____

Banca examinadora

______________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Antônio Caubi Ribeiro Tupinambá

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A realização desta dissertação marca o fim de uma importante etapa da minha vida. Gostaria de agradecer a todos aqueles que contribuíram de forma decisiva para a sua concretização.

Inicio meus agradecimentos por DEUS, já que Ele colocou pessoas tão especiais à meu lado, sem as quais certamente não teria dado conta de todo o processo de leituras e desenvolvimento da dissertação, assim como sua conclusão.

Ao Prof. Dr. Antônio Caubi Ribeiro Tupinambá, meu orientador, pela disponibilidade, conhecimentos transmitidos e acompanhamento dispensado ao meu estudo e, principalmente, por respeitar as dificuldades surgidas no percurso de sua realização.

Às professoras Dras. Suzete Pitombeira e Tereza Cristina, pela disponibilidade e atenção dispensadas, com sugestões que muito acrescentaram ao meu trabalho e, sobretudo, reforçaram minhas reflexões.

Aos professores Henrique Figueiredo Carneiro e Cássio Braz Aquino pela participação na banca de qualificação, com ricas contribuições que apoiaram o texto e ampliaram minha visão da pesquisa e pelo aceite em participar do momento de defesa da dissertação.

À organização pesquisada, pela presteza, informações oferecidas e oportunidade de realização da pesquisa.

Aos líderes que participaram desta pesquisa, pela confiança depositada, sem a qual não seriam possíveis esta investigação e o crescimento científico da pesquisadora.

À minha mãe, Célida, que esteve comigo sempre e viabilizou inúmeras vezes o meu tempo de estudo. A ela, realmente, seria impossível agradecer apenas com palavras. À minha irmã, Viviane, que mesmo com tantas diferenças, existe amor.

Ao amigo de mestrado, Vladson, que em nossas conversas demonstrou afeto e apoio nos momentos de dúvida e cansaço.

Aos colegas e professores do mestrado que ampliaram minha visão de mundo e apoiaram nos diversos conhecimentos alcançados.

Aos funcionários da secretaria do mestrado pela disponibilidade, simpatia e gentileza. Obrigada pela ajuda!

Às minhas amigas Cibele, Isabela, Lorena e Patrícia que participaram desta minha caminhada de maneira tão especial e cara, sendo amigas, simplesmente. Obrigada pela confiança e amizade.

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O presente estudo trata de questões ligadas ao trabalho e saúde mental relacionando-as ao cotidiano de líderes em organizações familiares. A problematização surgiu diante de relatos e a percepção de uma possível relação entre casos de sofrimento psíquico, diante do cotidiano de trabalho desses profissionais. Para o início da pesquisa foram realizados estudos teóricos dos temas trabalho, sofrimento psíquico, Psicopatologia e Psicodinâmica, Organizações familiares e liderança. Partiu-se de pressupostos que apontavam as características das organizações familiares, com suas práticas de gestão peculiares, como desencadeadoras de sofrimento psíquico e que mesmo diante de estratégias defensivas levariam a afastamentos e somatizações. A pesquisa teve metodologia qualitativa, de natureza descritiva e exploratória, buscando conhecer a realidade da organização familiar e investigar a relação entre as vivências de prazer e sofrimento no trabalho dos líderes diante da gestão de uma organização familiar, dando-lhes oportunidade de expor o conteúdo do trabalho, as percepções que atravessam o cotidiano vivenciado e a relação prazer e sofrimento com o trabalho realizado. Foram realizadas entrevistas e grupos focais, com objetivo de levantar dados que pudessem identificar a existência e o tipo de manifestação de sofrimento psíquico dos líderes; descrever as características da gestão; analisar a relação dessa gestão com a organização familiar e relacionar o trabalho dos líderes com seu sofrimento psíquico, bem como suas estratégias de defesa para lidar com esse sofrimento. Após as análises de conteúdo foram encontradas cinco categorias: Trabalho – vicissitudes e atravessamentos, apontando o trabalho como ocupação do tempo além do espaço da organização e vivências que interferem no ambiente familiar e de lazer; Limiar entre prazer e sofrimento, registrando que existe um limiar entre as situações de prazer e de sofrimento no trabalho dos líderes; Vida de encarregado – facilidade e dificuldade diante da vivência de gestão de pessoas; Contextos da organização familiar, com suas peculiaridades, reforçando a existência de limitação na gestão do líder e estratégias de defesa que são utilizadas para o não adoecimento. O discurso obtido trouxe a experiência simbólica determinada pelo cenário contextualizado, diante do tema central sofrimento e prazer no trabalho, caracterizando vivências de prazer e de sofrimento da liderança no contexto peculiar da organização familiar pesquisada.

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The present study deals with issues related to mental health work and relating them to everyday leaders in family firms. The questioning came because of reports and the perception of a possible relationship between psychological distress cases and the daily work of these professionals. Before starting the research, it was made a study with theoretical topics related to this work, such as psychological distress , Psychopathology and Psychotherapy, Family Organizations and leadership. Starting from assumptions which showed the characteristics of family organizations, with their peculiar management practices, such as triggering of psychological distress and even in the face of defensive strategies, it would lead to absenteeism and somatization. The research methodology was qualitative, descriptive, seeking to know the reality of family organization and investigate the relationship between experiences of pleasure and suffering at work of the leaders on the management in a family organization, giving them the opportunity to exhibit the work perceptions that they lead everyday and pleasure and pain experienced in comparison with the work done . Interviews and focus groups were conducted, in order to collect data that could identify the presence and type of manifestation of psychological distress of the leaders; describe the characteristics of management; analyze the relationship that managed to family organization and relate the work of leaders with their psychological distress, as well as its defense strategies to deal with this suffering. After content analyzes, five categories were found: Work – unpredictable changes and crossings, pointing work, as time employment, beyond the scope of the organization and experiences that affect the family and leisure; Threshold between pleasure and suffering, noting that there is a threshold between the situations of pleasure and suffering in the work of the leaders; Life - charge and easily overwhelmed by the experience of people management; Contexts of family organization, with its peculiarities, reinforcing the existence of limitations on management leadership and advocacy strategies that are used to not getting sick . The speech brought the obtained symbolic experience determined by contextual scenario, before the central theme of suffering and pleasure in work, featuring experiences of pleasure and pain of leadership in the peculiar context of family organization researched

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1 INTRODUÇÃO ...08

2 REFERENCIAL TEÓRICO ...14

2.1 O trabalho comopromotor de saúde e sofrimento ...14

2.2 Prazer e sofrimento no cenário laboral...30

2.3 Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho...40

2.4 Empresa familiar como contexto organizacional diferenciado...55

2.4.1 Organização familiar e cultura organizacional...63

2.5 Encarregados líderes ...68

3 MÉTODO DE PESQUISA...80

3.1 Enquadramento metodológico...80

3.2 População e amostra da pesquisa...81

3.3 Coleta de dados...81

3.4 Procedimento metodológico...84

4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS E GRUPOS...86

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...114

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho é um elemento fundamental na contemporaneidade. Como afirma Albornoz (2002), uma atividade humana que ocupa lugar significativo na vida em comunidade e uma parcela da vida do indivíduo. Apresenta centralidade na identidade pessoal, mas pode estar envolta em práticas que trazem efeitos devastadores para a saúde física e psicológica dos trabalhadores. (MENDES, 2010).

Ninguém duvida que a atividade profissional ocupe um papel fundamental na vida das pessoas, engaja o corpo e o afeto, envolvendo muitas outras cenas vivenciadas pelo sujeito. Além de constituir-se como fonte de sobrevivência, o trabalho é palco de diversas histórias, intrigas, emoções, acidentes, satisfações, prazeres e sofrimentos. Os sofrimentos, estratégias defensivas, prazeres e uma sobrevivência saudável são a prova da existência de um trabalho ainda mais fundamental: o psíquico.

Como afirma Dejours (1994) o trabalho pode engendrar o pior, mas pode gerar o melhor. O sofrimento e adoecimento se intensificam com as transformações que ocorrem na sociedade contemporânea, com o avanço da reestruturação capitalista que vem modificando as formas de atuação organização de trabalho, principalmente quanto às suas formas de organização e controle. Diante das mudanças crescentes no universo das organizações, as consequências indiretas e diretas para os trabalhadores surgem num espaço de tendência em se banir a relação prazer e sofrimento, desconsiderando uma dimensão contingente ao trabalho. A realidade vivenciada é a forma atual das organizações atuarem, influenciando na expressão da relação prazer – sofrimento, não aceito como algo que interfira nos resultados e no cotidiano de trabalho, sendo assim escondido um processo psíquico que advém do mundo do trabalho e seu contexto.

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avaliações constantes, mas em contrapartida não são garantidas segurança, garantia de aumento da produtividade, nem o bem estar social no trabalho, como é prometido no discurso de inserção à cultura da Organização.

Segundo Sennet (2000) a inserção nesse espaço produz significativa corrosão de caráter, desencadeando sofrimentos articulados aos modos de gestão utilizados na organização, bem como, em suas estruturas de poder e relações intersubjetivas. Nesse contexto, o sofrimento ou prazer e sobrevivência são a prova da existência de um outro trabalho ainda mais fundamental: o psíquico que esta envolto em todos os processos desenvolvidos e causam consequências positivas ou negativas, fato que depende de todas as variáveis apresentadas ao longo do texto.

No universo do trabalho, o sofrimento é uma realidade, segundo Dejours (2000) uma vivência subjetiva, com sintomas que tomam a forma de modos de subjetivação, num estado de luta do sujeito contra as forças (ligado à organização do trabalho) que o empurram em direção à doença mental. Trabalhadores devem elaborar psiquicamente os acontecimentos causadores de seu sofrimento. O adoecimento psíquico é então considerado como uma marca do sofrimento dos trabalhadores.

Mas, esta condição não possui uma manifestação única para todos os indivíduos, se constrói na subjetividade e significação que assume na organização em que estão inseridos, bem como o tempo, espaço e corpo que ele toca, somando-se as alternativas utilizadas, como estratégias de defesa, que podem protegê-lo desse processo de adoecimento. Mas, mesmo sendo algo inerente ao trabalho e uma realidade vivenciada, quando esse sofrimento é manifestado na Organização, os trabalhadores e lideranças não sabem como lidar com ele, ficando sem ação e referencial para atuar, também diante do fato do sofrimento não ser reconhecível como algo inerente ao trabalho. A situação de não reconhecimento e negação da condição de sofrimento psíquico leva a dissimulações dos sintomas vivenciados e descrenças das lideranças e pares, diante de relatos e situações de sofrimento. Todo esse contexto apresentado pode ser ampliado diante de culturas mais complexas e de contextos específicos, tais como a realidade das organizações familiares, com suas peculiaridades.

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As queixas e demandas dos líderes referentes ao sofrimento psíquico surgiram e foram percebidos a partir de falas, comportamentos e afastamentos do trabalho, estabelecendo o nexo causal ligado ao cotidiano de trabalho. Diante de tais questões surgiu o interesse pelo estudo da temática, buscando-se conhecer a relação entre sofrimento psíquico no trabalho das lideranças e as características desse trabalho nas Organizações familiares.

Os líderes, definidos como encarregados, relataram dificuldades no âmbito do trabalho e no cotidiano de suas funções, assim como diante de questões relacionadas ao contexto de gestão onde estão inseridos, relatando um cotidiano de normatizações e mudanças constantes, fatos que levam a reações variadas, somáticas e psíquicas. Segundo seus relatos, experimentam somatizações diversas como palpitações, dores, afastamentos ao trabalho, dentre outros, com dificuldades de adaptação à realidade do trabalho que lhes é exigido, apresentando conflitos diante da forma de a Organização solicitar a feitura dos trabalhos e os resultados dos mesmos. Tal situação resulta em recrudescimento das condições de saúde concomitante ao desempenho do trabalho, levando-os a solicitar afastamento, serem dispensados ou remanejados à revelia. No entanto, esses fenômenos e suas possíveis causas ainda não têm, na organização e no grupo considerado, um elo seguro e constatado.

Nas organizações familiares, as lideranças sofrem várias pressões diante de um contexto cultural singular, em uma realidade influenciada pelas emoções, com os familiares inseridos diretamente nas atividades, apontando as melhores formas de trabalho e desenvolvimento da gestão, em uma relação direta com seus funcionários, os quais devem ser guiados em suas atividades, seguindo essas determinações, num contexto de normatizações e constantes mudanças. A questão de serem integrantes e participantes dessa realidade parecem levar a ampliações das condições de sofrimento psíquico. Na pesquisa buscou-se assim identificar possíveis sintomas, relações com a gestão e os tipos de sofrimento relacionados a esse contexto peculiar.

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Assim, a organização familiar, com sua forma particular de gerir os processos internos, influencia o contexto ligado à liderança e suas práticas cotidianas de gestão, o que pode desencadear sofrimento psíquico, por aspectos afetivos e subjetivos envolvidos diretamente nos processos organizacionais, fato que leva a insegurança e instabilidade no contexto de trabalho. O tipo de gestão pode ser comprometido pela natureza dos laços estabelecidos pelos encarregados com o núcleo familiar da empresa.

Para o estudo dessas condições e suas relações escolheu-se uma organização caracterizada como familiar, onde o fundador, filhos e parentes integram a direção e muitas outras funções, indicando normas e políticas de acordo com aspectos desenvolvidos na cultura e contexto familiar. Nesse ambiente empresarial se encontram os encarregados/líderes com suas demandas profissionais específicas atreladas ao contexto familiar, vivenciando uma realidade de contradições e conflitos.

Considerando essa realidade de trabalho e seus atores, define-se como problema a emergência do sofrimento psíquico desses líderes relacionada à sua inserção e prática laboral em um contexto organizacional e modelo de gestão familiar.

O objetivo geral da pesquisa foi investigar a relação entre as vivências de prazer e sofrimento no trabalho dos líderes e sua prática de gestão em uma organização familiar, tendo como objetivos específicos identificar a existência e o tipo de manifestação de sofrimento psíquico dos encarregados/líderes; descrever as características da gestão dos encarregados; analisar a relação dessa gestão com a organização familiar; relacionar o trabalho dos encarregados com seu sofrimento psíquico, bem como suas estratégias de defesa para lidar com esse sofrimento.

Considerou-se nessa pesquisa o trabalho, segundo citado por Dejours (2004), como ação que utiliza gestos, engaja o corpo, mobiliza a inteligência e subjetividade num mundo hierarquizado, ordenado e coercitivo, que não se limita a uma relação salarial ou de emprego em si. O trabalho é, portanto, encarado como um modo de engajamento real do trabalhador para responder a uma tarefa prescrita, mas que é perpassada por pressões e cobranças por resultados imediatos, somado ao contexto de uma organização familiar com suas características próprias. Situações que podem causar consequências variadas, dentre elas o sofrimento psíquico. Diante de tais colocações foram apontados como pressupostos:

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P2 - Encarregados\líderes apresentam sofrimento psíquico em consequência da prática e da gestão organizacional características da empresa familiar pesquisada.

P3 – Os encarregados sofrem psiquicamente de formas variadas, apresentando sintomas, somatizações e motivos de afastamento em consequência de seu trabalho.

P4 – Os encarregados encontram formas e estratégias de defesa que minimizam os sofrimentos psíquicos vivenciados, fato que os fazem suportar as condições de trabalho e continuar suas atividades.

A partir de conhecimentos teóricos e empíricos atuais, bem como a partir de informações obtidas nas entrevistas e grupo focal realizado, buscou- se investigar a organização de trabalho, seus atores, suas reações e relações no contexto organizacional para explicá-las e, posteriormente, indicar mecanismos de mudança para prevenção, controle ou melhoria.

A metodologia apresentou foco qualitativo, com viés descritivo. A proposta teve como objetivo mostrar a realidade de trabalho dos líderes da organização familiar pesquisada e a relação com questões de prazer e sofrimento dos encarregados\líderes inseridos nesse contexto de trabalho. Foram utilizados como instrumentos e método de levantamento de informações o grupo focal e entrevistas individuais, com a técnica de análise de conteúdo dos discursos obtidos, no intuito de analisar a realidade abordada em profundidade. Inicialmente houve o estudo bibliográfico sobre os temas inter-relacionados, buscando proporcionar uma visão teórica generalista, sobre os temas tratados, possibilitando uma posterior interligação entre eles.

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sofrimento, Vida de encarregado: facilidade e dificuldade, Contexto da organização familiar e Estratégias defensivas, finalizando com as considerações finais e referências bibliográficas.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesse tópico serão apresentados estudos relacionados aos temas abordados na pesquisa nomeadamente, questões sobre o sofrimento psíquico de líderes decorrente da organização do trabalho e o contexto organizacional familiar. Será assinalada a categoria trabalho e sua relação com sofrimento psíquico, pontuando-se o trabalho como uma atividade humana vinculada à sobrevivência imediata, mas interligada a um conjunto de símbolos que vão além dessa questão, interferindo, direta e indiretamente, em todo o aspecto pessoal e familiar do trabalhador.

Para a compreensão teórica do sofrimento psíquico e sua relação com o contexto organizacional, optou-se pela abordagem da Psicodinâmica do Trabalho desenvolvida pelo psiquiatra francês Christophe Dejours, voltada à interface entre trabalho e saúde mental. Esta abordagem privilegia a análise do trabalho com base no prazer e sofrimento dele decorrente, que pode resultar em comportamentos patológicos ou criativos, dependendo do contexto em que esteja inserido e das possibilidades oferecidas de expressão e reconhecimento.

Foi desenvolvida também a temática referente à organização familiar: facilidades e dificuldades desse contexto organizacional, com características próprias e formas peculiares de influenciar os sujeitos pesquisados, finalizando com a discussão sobre o tema líder: líderes e/ou liderados.

2.1 O trabalho como promotor de saúde e sofrimento

O fenômeno trabalho é complexo, multifacetado e polissêmico, podendo assumir diferentes conotações, com consequências laborais relacionadas à realidade neoliberal em que se insere na atualidade. Em meio à amplitude de definições e perspectivas epistemológicas de análise do constructo trabalho, adotaram-se definições mais amplas e genérica, capazes de abarcar as especificidades das situações concretas avaliadas posteriormente.

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A experiência do trabalho se tornou mais complexa porque deixou de estar alocada em um espaço conhecido e visível para ser transferida pela propriedade do hipertexto, onde a ambiguidade e incertezas são características. Um dos grandes desafios do trabalhador são as descontinuidades e continuo ajustamento, fatos que fazem parte do cotidiano e lhe são cobrados para adaptação e inserção da organização.

Para Blanch Ribas (2003), o trabalho é uma atividade humana social, experiência do real, complexa e dinâmica, exercida de forma individual ou coletiva que não se reduz a ações instintivas decorrentes das funções biológicas voltadas para a sobrevivência, mas uma prática de natureza reflexiva, consciente, propositiva, estratégica, instrumental e moral. Trabalhar não é apenas produzir, implica necessariamente na transformação do eu e do meio. Dejours (1988) define trabalho como carga física e psíquica, uma modalidade de resolução de conflitos e de regulação da vida psíquica e somática, um modo privilegiado de equilíbrio, com a participação em um contexto coletivo e inserção de novos hábitos. Martins (2011) afirma que o trabalho é formador da subjetividade e na condição atual, tende a provocar a desumanização e mortificação, patologizando e culpabilizando, processos que ocorrem lenta e continuamente. Mas que as formas de defesa estratégicas desenvolvidas amenizam tais condições e fazem com que a realidade seja menos adoecedora.

Através do trabalho se realizam e se desenvolvem diversas dimensões: psicológica, social e econômica. Para Mendes e Araújo (2012) o trabalho é visto como atividade social, realizando-se uma ação para alguém (superiores, colegas ou subordinados), em que existe a necessidade do Outro. Não é constituído somente da atividade realizada, mas constituído de varias outras dimensões, como a individual, social e cultural, sendo assim constituinte do sujeito, permitindo a construção de sua identidade e saúde mental.

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Dejours (1994) afirma que a relação subjetiva com o trabalho leva seus tentáculos para além do espaço da organização e coloniza, profundamente, o espaço fora do trabalho, separação clássica em dentro do trabalho e fora do trabalho não tem mais sentido diante da atual realidade

Trabalhar é também preencher a lacuna entre o prescrito e o real e essa discrepância ocorre em todos os níveis de análise, pois o caminho a ser percorrido entre o prescrito e o real deve ser a cada momento, inventado ou descoberto pelo sujeito que trabalha. O real é definido como aquilo que o sujeito deve acrescentar às prescrições para poder atingir os objetivos que lhe são designados ou ainda algo que deve acrescentar de si mesmo para enfrentar o que não funciona quando está voltado à execução das prescrições, sendo uma realidade constante no fazer cotidiano no trabalho. Existe uma nítida separação que ocorre entre os processos de execução e formulação despojando o trabalhador de seu saber e consequentemente de seu poder de reação (COHEN, 2011).

Deve-se ter claro que existe uma carga psíquica, inerente ao trabalho, difícil de quantificar, diferentemente da carga física que pode ser medida. Há uma relação com o prazer, satisfação, frustração, entre outros sentimentos que perpassam o cotidiano do trabalho, mas que são dificilmente medidos e avaliados por estarem envolvidos com a subjetividade, percepção e história de vida do trabalhador.

Albornoz (2002) define o trabalho como um labor e atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano. O trabalho está relacionado à existência e condição humana, pois somos construídos e construímos através do trabalho, gerando significados. O sujeito transforma e é transformado, produz e é reproduzido enquanto ser social; modifica a realidade e é por ela modificado, influenciando o desenvolvimento do imaginário.

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Segundo Jacques e Codo (2002) o trabalho foi inicialmente uma relação fundamental do homem sobre a natureza, construção e expressão do sujeito, inserido na vida do indivíduo e dos grupos. Atualmente fundamental para o equilíbrio mental, mesmo quando em algumas vezes é reduzido a um meio de subsistência ou funcionando como controle psicológico. O trabalho, atividade especificamente humana, é fruto de uma série de atribuições de sentidos, estando estes sempre ideologicamente vinculados à realidade política, social e econômica vigentes. Trabalho é uma atividade central na organização social e econômica.

Tendo em vista a heterogeneidade e complexidade das relações de trabalho, faz-se necessário compreender essa realidade, considerando a interferência direta de questões sociais e subjetivas, diante das metamorfoses ocorridas em função das reconfigurações geopolíticas, sociais, econômicas, culturais e psicológicas, com criação acirrada de tecnologias, reestruturação da organização do trabalho e novas arquiteturas organizacionais que influenciam esse contexto de transformações, sendo o indivíduo obrigado a se inserir nessa realidade.

Martins (2011) afirma que este fenômeno faz parte da lógica do sistema, fundamentado na noção de competitividade e individualismo, características que moldam algumas formas de gestão atuais. Tornou-se fato comum às organizações pressionaram seus trabalhadores à cumprir metas inalcançáveis e, se não conseguem, são humilhados e ridicularizados no ambiente de trabalho. Realidade com jornadas excessivas e prolongadas, trabalhadores usados ao máximo de suas forças e energias para aumentar a lucratividade, com a diminuição de sua capacidade produtiva também são comuns. Tantas situações que causam reflexos no âmbito da vida privada, causando danos à sua imagem e reputação, atingindo as relações e convívio social. (MARTINS, 2011)

Jacques (2007) pontua que as transformações na gestão da organização e, consequentemente, no trabalho contribuem para o desenvolvimento de um adoecimento físico e psíquico, fato reforçado pela afirmação de De Masi (2000) diante de uma relação desequilibrada entre tempo dedicado ao trabalho e o tempo livre (um desequilíbrio que desfavorece este último) e interfere nas relações pessoais e familiares.

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sofrimento mental e dos distúrbios psicológicos de modo geral (JACQUES, 2007, p. 94).

Segundo Dejours (1994) o trabalho é fonte de equilíbrio para uns e fonte de fadiga para outros, e um confronto do sujeito com o trabalho produz doenças físicas e mentais, fonte assim de dubiedade para o mesmo sujeito. Os mecanismos de defesa, criados diante de condições de trabalho conflituosas oferecidas pela organização, surgem nos trabalhadores como alternativa de não adoecimento e possibilidades de não sofrimento. O trabalho tem um poder estruturante, caso sejam oferecidas condições de expansão da criatividade e desenvolvimento de atividades com participação na sua produção e em sua realização cotidiana, caso contrário leva a condições de sofrimento e adoecimento.

Mendes (2007) define trabalho como ação que dependendo da empresa, impede o indivíduo de pensar a racionalidade e sua relação subjetiva, gerando uma limitação na capacidade de pensar e elaborar, desencadeando um sofrimento psíquico. De Masi (2000) reforça a condição de adoecimento diante da afirmação de que o trabalho oferece a possibilidade de ganhar dinheiro, prestígio e poder, dedicando-se, freneticamente, de corpo e alma, dia e noite, mas com uma amplitude de consequências. Dejours (2005) aponta que somos envolvidos pelo trabalho, bem além do tempo de trabalho. Temos insônia, aborrecimentos com cônjuge e filhos, sonhamos com o trabalho e toda a subjetividade é arrebatada nesse movimento, até o mais íntimo do ser.

O trabalho é considerado elo entre o sujeito e a sociedade, proporcionando possibilidades de desenvolvimento e status social, compondo um lugar importante para as relações interpessoais, constituindo-se em fonte de realização pessoal, com desenvolvimento de competências e habilidades, espaço de socialização e de desenvolvimento pessoal e profissional, fenômeno pertencente à existência humana. Por meio de esforços físicos e psíquicos, mediamos nossas relações com as pessoas com as quais nos relacionamos no cotidiano diante de horas dispensadas ao trabalho nas Organizações.

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No entanto, diante das mudanças e cobranças cada vez maiores, os trabalhadores não conseguem corresponder às demandas, surgindo problemas emocionais e psicológicos que afetam não só o trabalho, mas a vida familiar e pessoal. Mendes (2007) pontua que o novo modelo de organização de trabalho, leva à criação de um jogo de forças contraditórias, que operam no trabalhador, de forma que a necessidade de adaptabilidade se confronta com as crescentes mudanças e cobranças no novo contexto de trabalho, criando-se uma intersubjetividade particular.

Mas, esse fenômeno, no cenário contemporâneo de diversificação, apresenta novos elementos que complexificam a relação homem/trabalho, com implicações cotidianas objetivas e subjetivas. Mendes (2010) indica que as pressões pela produção, as condições e a organização patologizante do trabalho, fazem parte das estratégias de sedução. Como afirma Siqueira (2009) a manipulação psicológica no mundo do trabalho é um dos pontos fortes, o sujeito se torna dependente da organização, em um cenário angustiante, sendo invadido por ansiedades plenamente justificáveis, onde o imaginário e o psiquismo do indivíduo são trabalhados e utilizados para o aumento da produtividade, envolvimento, eficiência e desenvolvimento dos processos para retorno às organizações. Portanto, analisar a categoria trabalho atualmente implica considerar não só as condições socioeconômicas nas quais essa ação humana se desenvolve, mas também o significado, o sentido e o valor socioculturais dessa experiência (BLANCH RIBAS, 2003).

Cohen (2011) define trabalho como a forma na qual o sujeito se inscreve no coletivo do qual recebe um nome próprio, que o nomeia segundo a inscrição de sua tarefa na cultura e história da organização, lhe dá um lugar de pertença, estabelece laços com outros, diante de um discurso de possibilidades e realizações do desejo em ser um sujeito socialmente produtivo.

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Para Dejours (2000) uma questão fundamental no mundo do trabalho deveria ser o respeito à integridade e aos limites da condição humana, observando que qualquer análise da relação humana na situação de trabalho deve integrar três dimensões: biológica, social e subjetiva. Assim, toda ação do trabalhador, por mais racional ou técnica que seja, deve passar por uma avaliação adequada, em função do lugar, tempo e contexto cultural, social e histórico da ação. A visão dejouriana realça, então, que a análise do comportamento humano no trabalho deve voltar-se a sua interação com o mundo subjetivo, físico (objetivo) e social, primando, dessa forma, pelo olhar holístico e interdisciplinar. Avaliar as situações de trabalho, reforçando a importância dos pressupostos teóricos inerentes a todo procedimento científico relativo ao fator humano no mundo do trabalho é base para o entendimento de todo processo a ser analisado. Os conceitos de homem, tecnologia e trabalho devem fundamentar as orientações de pesquisa e apoiar os procedimentos, evitando-se o reducionismo científico (determinismo causa-efeito) e o sincretismo (percepção global e confusa, ecletismo), nas questões humanas no trabalho (DEJOURS, 2000).

O significado do trabalho está associado à centralidade, normas sociais e resultados valorizados do mesmo, intrínseco ao desenvolvimento da sociedade, colocando as pessoas em interelação, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, com relevância na vida das pessoas e em especial, ao que se refere à influência social que exerce e representa na sociedade (MORIN, 2001)

Siqueira (2009) afirma que o trabalho pode assumir um papel exclusivo para o ser humano, solução para o preenchimento de uma carência e angústia, passando a dar sentido à vida, na busca de concretizar sonhos, desenvolvendo afetividade em relação ao trabalho, podendo odiar ou amar a Organização em que está inserido. Também por meio do trabalho, as pessoas podem satisfazer ou frustrar necessidades de sobrevivência, segurança, convivência, estima e autorrealização, segundo Maslow (1970).

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Siqueira (2009) reforça que o trabalho ocupa lugar de destaque no cotidiano, tornando-se o centro da vida dos sujeitos, mas este deve se adaptar as mudanças constantes estabelecidas pela flexibilidade e multifuncionalidade na execução de suas tarefas. O mundo contemporâneo tem passado por mudanças rápidas que impactam no trabalho e, consequentemente, nas organizações e gestão, sendo urgente a busca por novas posturas para garantir e ampliar a competitividade e resultado dos negócios. As transformações aumento do desempenho, com adaptação incluindo avaliação e inserção do fator humano nesse contexto laboral, sem avaliar o impacto de tais condições na subjetividade dos trabalhadores.

Vale ressaltar, que o discurso dominante amplia o sofrimento psíquico nas organizações, com o imaginário de valorização e importância de seu capital humano, terminologia que é utilizada com o intuito de buscar ampliar o desempenho das organizações, essa suposta “valorização” que na verdade o cotidiano demonstra ser exploração na realidade de trabalho oferecida. Siqueira (2009) confirma que tais condições levam ao sofrimento diante da formalização e padronização, com mudanças constantes e conjuntos de regras, princípios e convicções, que conduzem o sujeito aos caminhos apontador pela organização, que vão definir e controlar o comportamento e a realidade do cotidiano do trabalhador e sua vida particular, cada vez menos dissociada da vida profissional e não levar em consideração a subjetividade e envolvimento afetivo nesse contexto.

Siqueira (2009) pontua que as organizações interferem nos sonhos e imaginários de seus empregados, assim como nas relações familiares, permitindo a submissão e o envolvimento com a cultura e objetivos da organização, impregnando ideais, normas, valores, convicções e padrões de conduta que influenciam sua vivência e são levados para o contexto familiar e social. Utiliza-se, para isso, de duas modalidades de controle psíquico: fascinação e sedução, conseguindo impor, de maneira sutil, sua cultura e dominar o inconsciente do trabalhador deixando pouca margem tanto para o pensamento quanto para a postura de ação diferenciada dentro e fora da organização.

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nos psiquismo do trabalhador. As práticas e políticas de sedução atuam como mecanismos de controle e dominação, facilitando a exploração da Organização, adestrando não só o corpo, mas as emoções também.

O trabalhador participa inconscientemente de sua dominação, diante dos mecanismos sofisticados de controle que promovem um engajamento e o sequestro da subjetividade diante de um mecanismo de apropriação da concepção de realidade dos sujeitos, na ordem da identificação, permitindo interpretar o concreto e tomar atitudes de acordo com os programas e projetos da cultura organizacional, privando o sujeito da liberdade de se apropriar da realidade, elaborar e organizar seu próprio saber, de acordo com Faria e Meneguetti (2007).

Gaulejac (2007) reforça que por trás dos instrumentos e procedimentos organizacionais encontra-se a visão e o sistema de crenças racionais que mantém a ilusão de onipotência da organização, com busca do domínio absoluto e delineamento das condutas, buscando um comprometimento pleno, excluindo a percepção individual e impondo um contexto que seja favorável ao trabalho e suas normas. Com uso da dominação e manipulação, promete reconhecimento enquanto ele despender esforço e dedicação, diante de sacrifícios consentidos, numa relação de encantamento e entusiasmo, uma disposição afetiva de entrega, deixando-se seduzir pelos valores e favorecendo a produtividade.

O sujeito se insere na lógica dominante, diante de um sentimento de afiliação onde, ao mesmo tempo em que tem de ser flexível para o ajuste às transformações, deve permanecer atento à uniformidade e formalização do comportamento que lhe é solicitado. Segundo Siqueira (2009) esse comportamento exigirá dedicação sem fim à organização e a sua cultura, devendo para isso ocultar angústias e ansiedades, geradas num ambiente de extrema competitividade e cobranças.

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De acordo com Pagés (1987) o desenvolvimento da dominação psicológica sobre o trabalhador acontece ao nível inconsciente, modelando a estrutura de personalidade vivenciada no local de trabalho. Assume-se a ideologia e regras, as relações de poder e de controle, com a identificação e dominação ideológica, situações que viabilizam o sequestro da subjetividade.

Perilleux (2013) afirma que vem ocorrendo com os trabalhadores no cotidiano de trabalho, antes de qualquer coisa, o aparecimento de sintomas psíquicos inespecíficos em relação ao trabalho e somatizações as mais variadas, pois o primeiro impacto psicológico está ligado a dimensão simbólica

Segundo Enriquez (1997), tais situações facilitam e exploração do homem que acontece de forma sutil, desenvolvendo-se por meio da manipulação psíquica, com consequências que caracterizam essa relação, tais como submissão, deixando de lado coisas que não dizem respeito ao objeto amado, numa relação hipnótica de abandono amoroso de si mesmo. Como afirma Siqueira (2009) as organizações estão presentes na vida dos sujeitos diante possibilidade da realidade e criação de sonhos, projetos, procura de destaque, relacionamento com inúmeras pessoas, vivenciando tristezas e alegrias, sofrimento e prazer e para tais situações é necessária a aceitação do que lhe é proposto.

Para essa realidade as organizações fazem uso de discursos e de sua própria cultura para que seus interesses sejam alcançados, conquistando a adesão, utilizando estratégias de controle e alcançar os resultados pretendidos. Assim, a subjetividade é manipulada e seduzida, para continuação do jogo, onde o discurso manifesto é de que o trabalhador tem a perspectiva de ter seus desejos atendidos e seus sonhos transformados em realidade e caso esse imaginário não se concretize a responsabilidade não é da organização, mas do próprio trabalhador que não se esforçou suficientemente.

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trabalho, introduzindo uma consequente imaterialidade do processo e produto do trabalho.

Todos esses aspectos são envolvidos no intuito de atender ao capital, que diante de mudanças busca, cada vez mais, ampliar seus resultados. Siqueira (2009) aponta que o homem se confronta cada vez mais com a padronização dos processos de trabalho e com a sofisticação dos instrumentos tecnológicos, ampliando a produtividade, mas tornando o seu trabalho desprovido de sentido. A organização desenvolve estratégias que possam levá-la a controlar cada vez mais o sujeito e alcançar os resultados pretendidos, utilizando para isso de situações que levam ao sofrimento, tais como, uso de sedução entre organização, líder e liderado e o discurso de exclusividade que pretende ter na vida de seus empregados.

Assim, o trabalho é definido como um elemento central estruturante, organizador da sociabilidade e fundamental na construção da identidade, com promoção de saúde e equilíbrio mental, mas causador de sofrimento, tanto no contexto de trabalho como na falta dele. E esse sofrimento, segundo Bergamine (2006) pode ser desconhecido pela organização e ser “mal conhecido” pelos que vivenciam essa realidade.

O trabalho e o valor ocupacional de uma pessoa desempenham um papel critico e um sentido de identidade, autoestima e bem-estar psicológico. Assim, para Bergamine (2006) o trabalho tem para a pessoa valor intrínseco que toma por base o valor que o individuo atribui a si mesmo ao desempenhá-lo, tendo um valor instrumental em prover as necessidades de cada um, construção de sentidos, servindo de canalização de talentos, habilidades, e conhecimentos, promovendo o sentido e o objetivo da própria vida.

O trabalho como mediador de integração social, possui papel simbólico e de subsistência, com importância na constituição da identidade e da subjetividade, no modo de vida e, consequentemente, na saúde física e mental das pessoas. A contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental das pessoas ocorre a partir de fatores pontuais até a complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas, a cultura organizacional e a estrutura hierárquica.

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trabalho, o ato de trabalhar é validado como um processo que vai além de uma situação de remuneração, valorizado como um fator de inserção.

Para Dejours (1994) a falta de trabalho tem feito com que as pessoas que estão empregadas se submetam ao sofrimento em nome da manutenção do emprego, o que significa não só a manutenção dos bens materiais, mas, sobretudo, de uma identidade social. Sawaia (1999) afirma que o trabalhador constrói uma identidade social em que os valores relacionados ao trabalho passam a fazer parte da vida, sentindo-se integrante à sociedade.

Segundo Jacques (2007) o ingresso no mundo do trabalho confere valor social, reproduzindo o imaginário coletivo de valorização do trabalhador. Essa inserção é considerada uma sequencia lógica, com atributo de valor, pautada pelo fator produtivo que exalta o ato de trabalhar, considerando valor positivo nessa ação. Quando o sujeito está sem o trabalho apresenta-se uma cobrança da sociedade diante da situação de desemprego, com uma ideação de pouca responsabilidade e pouco interesse pelo trabalho, reforçando a atividade profissional com significância e representação daquilo que o sujeito é. Para Dejours (2000) o medo associado à ameaça permanente de desemprego leva a naturalização da não mobilização coletiva e consequentemente a um maior individualismo, que faz com que cada um procure negar o sofrimento alheio e calar o seu.

Ocupando um lugar de destaque no cotidiano, o trabalho está ligado à necessidade de sobrevivência e de auto-realização, considerado estruturante psíquico do lugar de prazer ou sofrimento, como afirma Mendes (2007). Influenciador na constituição de redes de relações sociais, trocas afetivas e econômicas, auxilia no processo de aprendizado, inovação, interação e forma de consolidação da identidade pessoal e social.

A nova organização do trabalho interfere nas satisfações simbólicas, mudando o sentido e significação do trabalho e sua relação com os desejos e motivações do indivíduo. A organização de trabalho criou uma nova realidade, com um trabalho organizado sem espaço para a adaptação da tarefa à personalidade do trabalhador. “Quanto mais rígida é organização do trabalho, mais a divisão do trabalho é acentuada, menor é o conteúdo significativo do trabalho e menores são as possibilidades de mudá-lo. Correlativamente, o sofrimento aumenta” (DEJOURS, 1994, p. 52).

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intersubjetivas do cotidiano do trabalho, são criadas estratégias de evitação ou negação de condições que levem ao sofrimento. São estratégias adotadas pelo trabalhador com a finalidade de evitar a doença e buscar preservar seu equilíbrio psíquico.

Dejours, Dessors e Desriaux (1993), afirmam que a atividade realizada pelo trabalhador não é apenas seu meio de vida, mas também um fator de status social, ou uma posição na sociedade. A atividade profissional não é só um modo de ganhar a vida, num contexto de valorização do trabalho, mas é também uma forma de inserção social onde os aspectos psíquicos e físicos estão fortemente implicados. O ato de trabalhar perpassa o contexto individual e particular da vida dos trabalhadores, influenciando aspectos significativos da história de vida do indivíduo, assim como os momentos de lazer e descanso, além do contexto familiar que é influenciado pelo tempo dispensado ao trabalho e as interferências ocasionadas pelo mesmo. Através do trabalho se realizam e se desenvolvem as dimensões psicológica, social e econômica e nesse contexto, os trabalhadores investem sua energia na realização de suas atividades.

Assim, o estudo da categoria trabalho tem se tornado cada vez mais pertinente, visto sua importância para a sociedade e para o sujeito em particular. A realidade do trabalho leva a consequências que interferem diretamente na vida do trabalhador, pois cada vez mais os indivíduos são inseridos em contextos diversificados, com crescente individualização das relações, influenciando o contexto familiar e as relações não profissionais.

De uma forma geral, mais que um ato ou venda da força, o trabalho influencia e transcende o seu tempo de jornada propriamente dita, estendendo-se para a vida particular, influenciando a família, interferindo nas relações sociais do não trabalho, direta ou indiretamente. A ação do trabalho deve ser considerada nas relações sociais e trocas afetivas, com o consequente pertencimento a outros grupos sociais, influenciando a função psíquica de constituição do sujeito, com sua rede de significados em seu espaço de inserção.

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As organizações buscam resultados rápidos e efetivos e para isso exigem um profissional competente e competitivo, polivalente e criativo, mas não fornecem um suporte organizacional de condições apropriadas que possibilitem a promoção de tais condições, bem como de promoção de saúde no trabalho. Daí existe o desequilíbrio entre as dimensões apontadas, visto que a cobrança do cognitivo acaba sendo maior, resultando num esforço do físico e do emotivo para conclusão do que se propôs a fazer. Diante dessa situação, cada vez mais, é visível a distância entre o que a empresa espera e prescreve (tarefa) e o que o trabalhador realiza (atividade real). Nessa perspectiva, o trabalhador, inserido nesse contexto, é obrigado a utilizar estratégias de mediação a fim de atender às demandas da empresa, manter o emprego e sua integridade física e psíquica.

As organizações, para alcançar seus resultados, adquirem um controle sobre os participantes de seu cotidiano, aprisionando-os em uma teia simbólica de imagens, idéias, pensamentos e ações, implantando culturas que reproduzem o jeito de ser do trabalhador no contexto de ambiência das organizações, determinando o comportamento dos sujeitos inseridos nesse contexto, interferindo numa história pessoal formada antes da inserção na organização, gerando conflitos de adaptação (MORGAN, 1996).

Para Enriquez (1997) a organização é uma realidade viva onde os sujeitos vivem seus desejos de afiliação, com objetivo de realizar projetos, apegando-se aos trabalhos e ao local de trabalho, como um lugar onde o imaginário, os fantasmas e os desejos exprimem seus poderes. Mas essa relação tende a desigualdade, pois os desejos são divergentes e acabam por não ser realizados da forma que são idealizados.

Siqueira (2009) indica que as modificações constantes de estruturas e processos de trabalho levam à necessidade de que o sujeito se una à organização como uma mãe protetora, uma família pronta a acolher, a quem deve obediência e dedicação, aceitando todos os códigos e valores, com prolongamento de jornadas de trabalho, modificação de tarefas, desenvolvimento de políticas com a reestruturação das relações, somadas à flexibilidade organizacional, levando, consequentemente, a uma manipulação da subjetividade desses trabalhadores coisificados, diante do contexto de controle do intelecto e do subjetivo, somado à gestão do afetivo.

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autor revela que muito da apatia, descuido e falta de orgulho, fatores encontrados nos ambientes de trabalho modernos, são cultivados pelo enfoque da organização que domina a vida de trabalho. As organizações são definidas por Morgan (1996) como prisões psíquicas, com a manutenção e prisão de pessoas diante de imagens, idéias, pensamentos e ações, ou seja, a cultura da organização.

Toda organização é um sistema cultural, simbólico e imaginário, instrumento de dominação com controle sobre uma realidade socialmente construída e os trabalhadores tornam-se prisioneiros dessas imagens, idéias, pensamentos e ações (MORGAN, 1996). Estruturam valores e normas, transmitidas por seus fundadores, diretores e lideranças, multiplicados para os indivíduos inseridos, dando sentido às práticas e à vida daqueles que as compõem. Formando uma condição estruturante que é consolidada como parte do processo de identidade pessoal e social, buscando alinhar a meta da empresa com a vida pessoal, num discurso universalizante que induz como possibilidade de melhorar a produtividade, diante do comprometimento e total disponibilidade, com discurso de melhorias internas nos processos, comunicação e apoio nas decisões.

Portanto, a estrutura organizacional, que define a divisão do trabalho, conteúdo da tarefa, sistema hierárquico, modalidades de gestão, relações de poder e designação de responsabilidades na cultura, com crescente mecanização do trabalho, leva o trabalhador a obedecer a normas e regras, uma heterodeterminação, com execução das tarefas de acordo com o previsto, perdendo a possibilidade de escolher a melhor forma de trabalhar, sem possibilidade de adequação do conteúdo da tarefa e suas características de personalidade.

Toda essa situação tende a uma erosão mental do trabalhador, com a repressão de suas intenções, iniciativas, linguagens e personalidade, condições úteis para a implantação de um comportamento condicionado favorável à produção, o trabalhador é despossuído de seu corpo físico e psíquico, domesticado e forçado a agir conforme a vontade de outro, fato que pode levar ao sofrimento.

Como afirma Dejours (1994) o trabalho e suas contingências aumentam a tensão, o trabalhador tende a conhecer vários macetes, mas acumula áreas de ignorância, confrontando com o risco, crescendo o medo que deve ser escondido, por ser vergonhoso, disfarçando de si e dos outros.

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sua significação em relação ao conjunto da atividade da organização. O trabalhador que não compreende a finalidade do trabalho que realiza pode se sentir inútil, com desapropriação da liberdade, expressão e invenção. No cotidiano a originalidade é proibida, devido o trabalho repetitivo e as normatizações que levam à violência no funcionamento mental do trabalhador.

Tais situações obrigam o trabalhador a desenvolver mecanismos de defesa para manter-se sadios e aptos para o trabalho, indicando uma suposta normalidade (DEJOURS, 2000). A “normalidade” apresentada não advém da ausência de sofrimento, pelo contrário, ela é alcançada através de uma batalha contra a desestabilização psíquica provocada pelas situações impostas no trabalho de conteúdos empobrecidos das tarefas, isolamento e monotonia, com rigidez e interdições. É uma conquista mediante uma luta feroz entre as exigências do trabalho e a ameaça de desestabilização psíquica e somática.

Reforçando os aspectos já elencados, Mendes (2007) aponta o trabalho com possibilidades de ser compreendido e vivenciado como tortura, sofrimento ou esforço doloroso, e visto como fonte de alienação econômica, política e de aflição para aqueles que o realizam. Tal concepção vincula o labor à exploração e deterioração da qualidade vida do ser humano, quando este despende esforço físico e psíquico com significados negativos ou pouco relevantes. Como aponta Dejours (2010) esse sofrimento vivenciado é patogênico e insuportável, estando relacionado às maneiras de organizar e avaliar o trabalho, com relações deterioradas, convivendo com situações constrangedoras sem trégua. Também é importante ressaltar que são vivências de processos dinâmicos que mudam com rapidez e seus efeitos nem sempre são detectados e compreendidos com a mesma velocidade, fato que complexifica, ainda mais, as situações vivenciadas. Diante de tais situações o risco maior ocorre quando as pessoas perdem a capacidade de pensar sobre o trabalho, com desapropriação do desejo de trabalhar, de mudar, recuperar o poder de agir sobre a maneira de como o trabalho é organizado, deixando de buscar a mudança e emancipação.

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não participação de todo o processo produtivo, fato que interfere no reconhecimento de si, como sujeito que participa do processo produtivo e reconhece sua ação no produto final. Ao trabalhador são demandadas tarefas repetitivas e monótonas, onde o lado humano é negado e o trabalhador se torna uma peça, parte de uma engrenagem que engloba máquinas, normas, regras, prescrições, tarefas e trabalhadores. Um modelo de trabalho que sistematicamente violenta e restringe as reais capacidades, separando as tarefas, limitando o acesso, sem vínculo com outras áreas ou processos. Existem modelos de organizações de trabalho que são verdadeiras máquinas de estressar trabalhadores, diante de normas e formas de trabalho neurotizantes.

Das fortes relações de poder e controle de execução, da relação trabalhador e organização, surgem vivências de indignidade, inutilidade, desqualificação e indignação, expressas por sentimentos de frustração, desmotivação, nervosismo, angústia, indignação, desvalorização, mal-estar, vergonha, dentre outros.

Portanto, por meio do trabalho temos oportunidades de: construir a identidade, interagir e ter suporte social, potencializador de prazer, despender tempo de modo relevante, encontrar desafios, adquirir status e obter renda, mas que também desencadeia sofrimentos e angústias diante da realidade de não vivência de sua subjetividade. Entre outros fatores determinantes, um trabalho provido de significado contempla a participação do trabalhador na identificação e solução de problemas, que poderão repercutir na vida pessoal e no trabalho, caso contrário trará consequências de sofrimento e somatizações.

2.2Prazer e sofrimento no cenário laboral

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trabalho, pois era preciso, primeiramente, que fosse assegurada a subsistência financeira da família, a luta pela saúde era luta pela subsistência.

Contextos de adoecimento psíquico interligados ao trabalho devem ser foco de estudo e debate, bem como a importância do reconhecimento dessa relação, como forma de garantir amparo ao trabalhador e, principalmente, trazer subsídios para mudanças nas situações de trabalho, por ser uma categoria fundamental à compreensão da subjetividade. E esse reconhecimento é um ingrediente essencial para a saúde mental, segundo Dejours (2005), podendo possibilitar a transformação de sofrimento em prazer no trabalho. O trabalho ocupa tempo importante da vida humana, constituindo-se dessa forma em um fator psicossocial significativo e caso ele possibilite prazer será mais bem vivenciado.

No entanto, o foco inicial dos estudos sobre o sofrimento no trabalho era o mal-estar físico vivenciado pelos trabalhadores. As condições de trabalho eram tão precárias que “viver” para os empregados era sinônimo de sobreviver a essas condições. (DEJOURS, 2000). Nesse contexto a saúde psíquica não era cogitada e danos à saúde física não passavam despercebidos, pois o corpo doente representava (e ainda representa) um limite à produção. Um trabalhador com a saúde física comprometida pode ficar temporariamente incapacitado para um determinado trabalho. Nessas situações, o empresário percebe com rapidez os impactos do sofrimento na produtividade da organização.

Quando o rearranjo da organização do trabalho não é mais possível, quando a relação do trabalhador com a organização do trabalho é bloqueada, o

sofrimento começa: a energia pulsional que não acha descarga no exercício do trabalho se acumula no aparelho psíquico,

ocasionando um sentimento de desprazer e tensão. (DEJOURS, 1994, p. 29).

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A organização busca um trabalhador que seja ágil, criativo, organizado, motivado e comprometido com seu desempenho na realização do trabalho, mas essa realidade é aplicada num contexto de desregulamentações, mudanças de contrato, aumento da jornada de trabalho, dentre outros que complexificam todo o processo vivenciado, causando sofrimento para alcançar os resultados esperados. Para Mendes e Morrone (2010) a vivência de sofrimento no trabalho é caracterizada pela presença de sentimentos, tais como medo insegurança, estranhamento, desorientação, alienação, frustração, dentre tantos outros, diante da realidade vivenciada.

Para Codo e Jakson (1993) trabalhar é uma necessidade intrínseca do ser humano, diante da importância e cobrança da sociedade, pode ser considerado um fator importante de promoção de saúde assim como de adoecimento. As ações e relações implicadas no ato de trabalhar podem atingir o corpo dos trabalhadores, mas também levará a reações psíquicas, além de poder desencadear processos psicopatológicos relacionados à forma de organização do trabalho, em decorrência do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo considerada fonte de garantia de subsistência e de posição social. Assim a possibilidade de falta de trabalho ou mesmo a ameaça de perda do emprego geram também sofrimento psíquico, pois ameaçam a subsistência e a vida material do trabalhador e de sua família, assim como sua inserção na sociedade. Ao mesmo tempo abala o valor subjetivo que a pessoa se atribui, gerando sentimentos de menos-valia, angústia, insegurança, desânimo e desespero, caracterizando quadros ansiosos e depressivos. Diante dessa realidade surge o presenteísmo, como um novo fenômeno onde mesmo na adversidade e adoecimento de condições oferecidas, o sujeito permanece trabalhando por medo de perder o emprego. Segundo Frigotto et al. (1998), para manterem-se empregados, os trabalhadores se submetem a duras jornadas de trabalho e a condições desfavoráveis, evitando-se a situação do não-trabalho, mesmo às custas da perda de direitos duramente conquistados. Para Dejours (2000), a falta de trabalho tem feito com que as pessoas que estão empregadas se submetam ao sofrimento em nome da manutenção do emprego, o que significa a manutenção não só das necessidades materiais, mas, sobretudo, de uma identidade social.

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sua história, fatos que tendem a ir de encontro às expectativas da empresa, criando conflitos nessa relação. Esse contexto de somatório do sujeito e suas vivências, inserido na Organização e sua cultura, desencadeiam consequências referentes à adaptação ao trabalho.

Dejours (2000) analisa que o prazer ou sofrimento no trabalho podem ser vivenciados quando as expectativas são ou não atendidas, liberando ou bloqueando a realização de seus sonhos e objetivos; assim o trabalho torna-se potencial ou perigoso para o aparelho psíquico de acordo com sua livre atividade ou não. O bem estar psíquico no trabalho advém de uma liberdade de pensamento e ação, articulando dialeticamente com o conteúdo da tarefa. Em termos de economia psíquica, o prazer no trabalho, resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa autoriza o que corresponde a uma diminuição da carga psíquica do trabalho. Para Dejours (1994) as vivências de prazer no trabalho emergem quando as exigências intelectuais, motoras ou psicossensoriais da tarefa, relacionamento entre os pares, coesão e integração da equipe, convergem para satisfação das necessidades do trabalhador, de tal modo que a simples execução da atividade proporcione prazer.Para Mendes e Morrone (2010) o prazer resulta do sentir-se útil, produtivo e aparece insentir-separável dos sentir-sentimentos de valorização e reconhecimento. O prazer no trabalho é vivenciado pelo sujeito quando este percebe que o trabalho que realiza é significativo e importante para a empresa e a sociedade. Ocorre quando se favorece a valorização e reconhecimento, especialmente, pela realização de uma tarefa significativa.

Na atualidade, pelas mudanças estruturais e conjunturais da organização e do trabalho, quem está inserido nesse contexto, está envolto em processos potencialmente geradores de sofrimento, vivenciando condições relacionadas à organização e suas mudanças, tais como: enxugamento do quadro, instabilidade dos vínculos empregatícios, exigências contínuas, busca da qualidade total, supervalorização da ação, desafio permanente, adaptabilidade, competitividade, polivalência e busca de alta produtividade com baixos custos. Tais condições podem ser condicionantes para uma relação negativa com o trabalho, podendo levar ao adoecimento\sofrimento.

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visando transformar este sofrimento e encontrar a via que permita superar a resistência do real. O sofrimento é, ao mesmo tempo, impressão subjetiva do mundo e origem do movimento de conquista do mundo, interferindo e habitando até insônias e sonhos. Trabalhar também implica infringir as recomendações, os regulamentos, os processos, os códigos, as ordens de serviço, a organização prescrita. Ora, em numerosas situações de trabalho, o controle e a vigilância dos gestos, dos movimentos, dos modos operatórios e dos procedimentos, são rigorosos, uma atividade de produção no mundo objetivo, que coloca à prova a subjetividade. Trabalhar constitui, para a subjetividade, uma provação que a transforma, pois constitui uma ação não somente de produzir, mas de transformar a si mesmo e engajar sua subjetividade num mundo hierarquizado, ordenado e coercitivo, perpassado pela dominação, com experiências de tentativas de resistência do mundo social e das relações sociais, num espaço onde se vive compartilhando as ações vivenciadas.

Trabalhar é preencher a lacuna entre o prescrito e o real, aquilo que o sujeito deve acrescentar às prescrições para poder atingir os objetivos que lhe são designados ou ainda aquilo que ele deve acrescentar de si mesmo para enfrentar o que não funciona quando ele se detém à execução e imposição das prescrições. Segundo Ferreira e Mendes (2001), caso a atividade prescrita seja diferente da atividade realmente realizada, é possível haver aumento do custo humano no trabalho diante da necessidade de adaptabilidade do sujeito à situação, fato que exige esforço constante por meio de estratégias de regulação e compensação do sujeito.

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Segundo Mendes (2007) a luta por vivências de prazer no trabalho se justifica no fato de ser o trabalho um estruturante psíquico, levando o trabalhador a um movimento de busca de prazer e evitação ou transformação do sofrimento em algo suportável à vivência, com a busca de um possível equilíbrio psíquico. É importante ser criado uma cultura e espaço que incluam princípios morais e éticos, senso de justiça, com condições propícias de trabalho, focando nos procedimentos organizacionais, com distribuição de recursos e recompensas, pois as vivências subjetivas são influenciadas pela organização, gestão, cultura e desenvolvimento da organização e caso elas favoreçam condições desse tipo, os resultados e inserções seriam mais positivos.

Conforme Mendes (2007), o prazer no trabalho é um dos caminhos para a saúde mental por criar identidade pessoal e social, pela via da valorização e do reconhecimento. A busca por saúde no trabalho configura-se na tentativa de modificação das situações adversas, na busca de prazer e transformação do sofrimento em algo criativo, podendo ser vivenciada quando os sujeitos utilizam, de forma eficiente, estratégias individuais e coletivas para lidar com as adversidades encontradas. Segundo Dejours (2000) esse prazer é decorrente de uma tarefa que autoriza a diminuição da carga psíquica tornando-se relaxante e equilibrante, caso contrário transforma-se em fatigante levando ao sofrimento. Quando a energia psíquica se acumula ela é fonte de sofrimento, diante da tensão, desprazer e fadiga.

Segundo Codo e Jakson (1993) frequentemente o sofrimento e a insatisfação do trabalhador manifestam-se não apenas na doença, mas dentro e fora do trabalho em contextos familiares, relacionamentos interpessoais e vida social. Todos esses contextos são influenciados.

Nesse contexto podem ser vividas situações de violência, definida por Faria (2013) como situações de práticas e ações voltadas para preservar interesses específicos através de instrumentos coercitivos explícitos ou sutis, de qualquer natureza, em contraposição aos interesses e direitos do coletivo.

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relações, perpassadas pelas contradições entre o prescrito e o real das atividades laborais.

Diante desse contexto condições onde falta visualização das atividades com começo, meio e fim, visualização dos resultados, com excesso de flexibilização das decisões e processos de trabalho, sem possibilidade do desenvolvimento de atividades que necessitem de iniciativa têm papel determinante numa perspectiva de vivência do sofrimento.

O trabalho transformado em atividade parcelada, repetitiva e sem sentido, retira do sujeito sua capacidade avaliativa e criativa, impede a conquista da identidade, desapropria o saber, inibe iniciativas de organização e adaptação ao trabalho, pois tal adaptação exige uma atividade intelectual e cognitiva não almejada. (Daniellou, et al, 1989). Alguns modelos atuais de organização de trabalho produzem consequências sobre a saúde psíquica, pois tais modelos demandam um trabalhador mais engajado, apto a realizar diversas operações e mais escolarizado, com mais responsabilidades e disponibilidade, mas com menos tempo e controle sobre esse trabalho.

As “marcas” do trabalho, que aparecem sob a forma de aspectos culturais da organização, com implicações no trabalho e consequentes modificações de conduta no ambiente fora do trabalho, também têm como uma de suas fontes, a rigidez da organização, a fragmentação da tarefa que exige respostas personalizadas ou criação de condições de defesa. Sem negar a importância dos cerceamentos psíquicos ligados ao trabalho na geração do sofrimento, Dejours (1994) chama atenção para o fato de que é principalmente a falta de possibilidades para mudar ou mesmo aliviar esses cerceamentos a origem dos problemas de saúde. Nesse processo é importante ressaltar que o fato de a organização do trabalho não afetar igualmente a saúde de todos os trabalhadores, submetidos a ela, significaria que o privado – a estrutura psíquica – vai prevalecer sobre o social – o trabalho (DEJOURS & ABDOUCHELI, 1994).

Referências

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