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A tirania da mente frustada: como o direito interfirará na relação familiar resguardando o direito da criança/ adolescente na alienação parental

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DANIELA SCHMIDT

A TIRANIA DA MENTE FRUSTRADA: COMO O DIREITO INTERFERIRÁ NA RELAÇÃO FAMILIAR RESGUARDANDO O DIREITO DA

CRIANÇA/ADOLESCENTE NA ALIENAÇÃO PARENTAL

Três Passos (RS) 2013

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DANIELA SCHMIDT

A TIRANIA DA MENTE FRUSTRADA: COMO O DIREITO INTERFERIRÁ NA RELAÇÃO FAMILIAR RESGUARDANDO O DIREITO DA

CRIANÇA/ADOLESCENTE NA ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DECJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Três Passos (RS) 2013

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Dedico este trabalho á Giovana e Álvaro, meu pais, por terem dado tudo que era necessário para que eu chegasse onde estou hoje, nunca poupando afeto e carinho, mostrando diariamente que pessoas de valores e garra sempre serão reconhecidas. Digo com orgulho, que sinto-me lisonjeada por fazer parte desta família. Apenas duas palavras fazem jus a estas pessoas e por mais que sejam palavras pequenas guardam valores imensuráveis, AMO VOCÊS!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pelos caminhos a mim dados, os quais sem medo segui com força e fé.

Ao Mestre, Marcelo, pelo auxílio incomensurável.

Ao namorado, Jean, por me manter focada em meus objetivos, não me deixando frustrar pelas dificuldades, mostrando para mim que no final todo esforço é recompensado. A você amor do fundo de meu coração, meu muito obrigado, com certeza você é umas das melhores pessoas que eu tive prazer em conhecer.

Especialmente aos meus sogros, Natálio e Marlene, que me acolheram como filha nos últimos anos de faculdade, pessoas de coração imenso, que me consolaram e acalmaram quando não havia meus próprios pais por perto.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, o meu muito obrigado!

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“Das coisas,

a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde;

porém, a mais doce é ter o que amamos.” Aristóteles

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RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo estudar a alienação parental, regulada juridicamente pela Lei 12.318/10. O trabalho contempla ainda objetivos mais específicos, tais como a história da entidade familiar, classificando os tipos de família, seus vínculos, o instituto do poder familiar, analisar como se dá a alienação parental, suas características, sujeitos, abordando o que é a síndrome que assola a criança, os pontos relevantes regulamentados pela Lei 12.318/10, traçar meios que podem diagnosticar sua ocorrência, amenizar e evitar a alienação parental, explorando a guarda compartilhada da criança. A presente pesquisa utiliza-se de método de abordagem hipotético-dedutivo.

Palavras-Chave: Poder familiar. Alienação Parental. Síndrome de Alienação Parental. Guarda Compartilhada. Lei 12.318/10.

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ABSTRACT

This research aims to study paternal alienation, legally regulated by Law 12.318/10. This study also includes more specific goals, such as to verify the history of the family unit, classifying the types of family, their ties and the institute of family power analyzing how the paternal alienation occurs, its characteristics and subjects and covering what is the syndrome that plagues the child. The research also discusses the relevant points regulated by Law 12.318/10, drawing means that are able to diagnose, mitigate and prevent parental alienation, exploring the shared custody of the child. The present study uses the method of hypothetical-deductive approach, using a selection of literature and documents related to the subject and also in the media and on the Internet, interdisciplinary, capable and sufficient for the research work; reading, reports, and critical reflection over the selected material and the exposure of the results obtained through a written report.

Keywords: Family power. Paternal alienation. Paternal Alienation Syndrome. Shared Custody. Law 12.318/10

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 PODER DE FAMÍLIA ... 12

1.1 Da família ... 12

1.2 Das mudanças no instituto familiar trazidas pela atualidade ... 16

1.3 Da relação entre pais e filhos ... 20

2 ALIENAÇÃO PARENTAL: “ÓRFÃOS DE PAIS VIVOS” ... 23

2.1 Da síndrome para a alienação parental regulada pelo direito ... 23

2.2 Estágios da alienação parental e suas características... 27

2.3 Os sujeitos da alienação parental ... 29

3 APONTAMENTOS PARA A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS RELATIVOS A ALIENAÇÃO PARENTAL ... 36

3.1 Síndrome de alienação parental: uma visão psicológica ... 36

3.2 Guarda compartilhada ... 41

3.3 Formas de inibir síndrome da alienação parental por meio da Lei n° 12.318/10 ... 48

CONCLUSÃO ... 53

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INTRODUÇÃO

A família é a base de qualquer indivíduo, desde o momento que a criança é apenas um bebê na barriga de sua mãe, ela já faz parte de uma família que a espera, ou seja, a família é a primeira coisa que nos é dada no momento em que viemos ao mundo. Por muitos anos se considerava uma instituição familiar apenas pessoas de mesmo sangue ou que de forma contratual (adoção, casamento) venham a formar e ou integrar uma nova família. Porém, os tempos são outros, e a família também, essa instituição foi em busca de novos horizontes, não se deixando estereotipar apenas com formação por contratos formais, mas sim pelo afeto de seus integrantes, ou seja, a liberdade de unir-se por amor.

Amor este, que é dado à criança que nasce por seus pais, ou por quem os tem a guarda, e é nesse cenário de união, afeto e proteção, sobre a supervisão de seus pais ou tutores, que a criança desenvolve-se formando seu intelecto. Desta feita, para os pais, com a concepção da criança, nasce com ela um poder dever, que pelo Direito é conhecido por poder familiar, que gera a estes diretos e deveres quanto à nova vida colocada em suas mãos.

Ocorre, que uniões nem sempre são eternas, e como dito a cima, famílias são formadas por amor e caracterizadas por liberdade, extinguindo-se este elo, também, extingue-se a união, porém nada pode extinguir o poder familiar. Estas dissoluções são muitas vezes dolorosas, gerando angústias, desolando e assombrando a parte que não corroborava deste interesse, fazendo com que toda essa dor sentida pelo genitor abandonado recaia também sobre os filhos. Este genitor angustiado reveste-se de sentimento de vingança e vê na prole a possibilidade de conseguir isso, afinal nada pior para um pai ou mãe do que a insignificância e desprezo de um filho.

Assim, utilizando-se de sua influência sobre o menor, passa a buscar a alienação do outro genitor da vida dessa, através de diversos meios, caracterizando-se verdadeiro abuso moral da criança, prejudicando seu desenvolvimento saudável e afastando o outro genitor de seu convívio. Sendo que em casos mais graves implanta memórias de abuso sexual do genitor

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alienado na criança, verdadeira lavagem cerebral feita no menor. A grande dificuldade da prole diante deste fenômeno é perceber o que realmente passa na cabeça do seu guardião alienador. Ou seja, o menor pouco entende o que está acontecendo, se os fatos relatados a ele pelo alienador são reais ou se passam apenas na mente desse.

Após longos estudos sobre esses atos praticados por um dos genitores depois da extinção da vida conjugal, no ano de 2010 foi publicada a lei que busca proteger a criança dos próprios pais, chamando esses atos de alienação parental, autorizando tanto o pai alienado que se percebe diante desta situação, como ao Juiz interferir e buscar evitar ou inibir sua formação e ou continuidade. O objetivo é proteger o menor da instauração da síndrome de alienação parental. Pois o alienador psicologicamente abalado usa de diversos artifícios na sua busca pelo desgaste da imagem de seu ex-companheiro, essa revolta cega, às vezes conscientemente e inconscientemente, a percepção dos prejuízos causados ao menor por suas atitudes tirânicas.

A Lei 12.318/10 elenca em seus artigos mecanismos de coerção para inibir a instauração da síndrome. Um destes é a guarda compartilhada que dá a criança a possibilidade de ver seus pais exercendo em conjunto seu poder familiar diante de todos os assuntos cotidianos que a envolvam. Também pode o Juiz estipular multa para que veja suas determinações judiciais cumpridas pelo genitor alienador, ainda em casos mais graves, tem-se a possibilidade do Juiz suspender o poder familiar desse. A presente lei em seu projeto inicial também contava com a possibilidade de técnica extrajudicial de resolução de conflitos, através da mediação, e a possibilidade de sanção penal ao genitor que se pratica a alienação da criança, porém estas duas possibilidades foram vetadas pelo presidente.

O primeiro capítulo deste estudo aborda o instituto da família, trabalhando seu conceito e aptidão, bem como demonstra sua importância para a construção da personalidade dos sujeitos, levantando as mudanças atuais do referido instituto e tratando das questões pertinentes ao poder familiar. Já no segundo capítulo, aprofunda-se o estudo da Alienação Parental, regulada pela Lei 12.318, que consiste de atos narcisistas e egoístas de um alienador, direcionados a crianças alienadas, fazendo com que esta, diante de suas ordens busque a destruição do vínculo afetivo de um terceiro que restará alienado. Partindo desta premissa, analisam-se os estágios e características, tal como, identifica-se os sujeitos desta relação. No terceiro capítulo, é esmiuçada a síndrome causada na criança, que leva o nome de Síndrome de Alienação Parental, explorando o lado psicológico dos sujeitos envolvidos, também

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debatendo a eficácia das soluções fornecidas pela referida Lei, refletindo sobre a guarda compartilhada, guarda física e jurídica do menor, fazendo apontamentos sobre os demais mecanismos de inibição da alienação elencados na Lei 12.318/10.

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1 PODER DE FAMÍLIA

O poder familiar é o conjunto de responsabilidade que recai sobre os pais a partir do momento em que colocam uma nova vida no mundo, ou seja, um filho. Neste contexto, Fábio Ulhoa Coelho (2011, p. 200) discorrre sobre seu conhecimento prático sobre se tornar pai, relatando este sentimento como:

[...] única e essencialmente gratificante. É também uma experiência acompanhada de sérias responsabilidades. Aos pais cabe preparar o filho para a vida. Consiente ou inconsiente, transmitem-lhe seus valores, sua visão do mundo. O comportamento e atitudes deles servem de modelo, que o filho tende a reproduzir.

Este poder que é dado aos pais. Por muito tempo chamou-se de pátrio poder, deslocando a uma única pessoa no âmbito familiar essas responsabilidades: o pai. Porém, diante das várias mudanças ocorridas na sociedade, como a luta constante por um país sem desigualdades e preconceitos, a Constituição Federal de 1988 foi o marco da democracia, readequando suas normas para o seu tempo.

No entanto, antes de adentrar-se ao poder familiar, cabe analisar o institufo da família que antecede a existência daquele, englobando-o em seu instituto.

1.1 Da família

A Constituição Federal e nem o Código Civil Brasileiro, que guardam os direitos deste instituto basilar da sociedade, trazem uma conceituação do que é a família. Nem o direito e a sociologia têm uma conceituação acabada deste instituto.

O direito de família é o ramo legal mais antigo, ele caminha junto com o nascimento da civilização, e sendo ele tão antigo, já passou e ainda passa por mudanças constantemente conforme a época.

Assim, a família hoje não tem a mesma conotação dos tempos antigos ou até mesmo na pré-história. Sabe-se que nela há um conjunto de indivíduos, compartilhando dos mesmos bens, credos, ideologias, ou seja, vislumbra a família uma relação entre pessoas com afinidades entre si.

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Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2011) buscando uma conceituação de família concebem uma comparação com o amor, o qual não se precisa conceituar tendo em vista sua plenitude de significados, assim a família é para cada um vista de um modo. Também salienta que é em seu seio onde se passam alegrias, e com ela compartilha-se tristezas e angústias.

Você pode deixar sua família, mas ela nunca sairá de você, os valores éticos e morais, bem como, a visão do mundo que nos é transmitido por nossos familiares nunca sairá de nossa essência. É no seio da família em que o indivíduo ganha corpo, ela tem o papel de nutrir fisicamente como intelectualmente, bem como a proteção dos seus integrantes.

A família, ou seja, seus membros são unidos por laços capazes de perpetuarem por seus induvíduos, moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida passando para gerações.

Assevera Silvio de Salvo Venosa (2003, p. 16), que a família em um conceito amplo, “é o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar”. Já em um conceito restrito, “compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder.”

Esta entidade tem como núcleo a figura do marido e da mulher, havendo a possibilidade de sua ampliação com o advento da prole. Com o tempo, a família cresce ainda mais, sendo que a prole também constituirá a sua família, sem, contudo romper o vínculo familiar com seus pais e irmãos, esses casam e trazem os seus filhos do mesmo para o seio familiar.

A família é uma sociedade formada por indivíduos, unidos por laço de sangue ou de afinidade. Os laços de sangue resultam da descendência, já a afinidade se dá com a entrada dos cônjuges e seus parentes que se agregam à entidade familiar pelo casamento ou união estável.

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Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção. Compreende-se os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins.

As famílias como agregações sociais, assumem funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às necessidades da sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos integrantes, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e internas de modo a atender as novas circunstâncias, sem, no entanto, perder a continuidade e proporcionando sempre um esquema de referência para esses.

Por muito tempo a concepção de família aceita pela sociedade era a monogâmica, ou seja, relação entre homem e mulher.

Segundo Friedrich Engels ([S.d.], p. 40):

O estudo da história primitiva revela-nos, em contra partida, situações em que os homens praticam a poligamia ou mesmo tempo em que suas mulheres praticam a poliadria e, portanto, os filhos de uns e outros tinham de ser considerados comuns. Essas situações, por sua parte, ao passarem por uma série de transformações, convergem finalmente para a monogamia. Essas transformações são compreendidas dentro de um processo paulitano: o círculo da união conjugal comum, que era muito amplo em sua origem, estreita-se pouco a pouco até que, finalmente, compreende apenas o casal isolado que hoje predomina.

Antigamente se continha uma promiscuidade entre os casais, onde todos mantinham relações sexuais com todos, não havia um impedimento natural ou posto pela sociedade como hoje. Esses casos aconteceram em tempos primitivos, dos quais poucas provas existem, ou seja, quase inexistindo, época esta, mais precisamente na evolução do animal ao ser humano.

A história da formação da família desde seu surgimento é feita pelo estudo de Friedrich Engels, o qual tendo por base o estudo em Morgan, traçou diferentes fazes da evolução desta, desde a antiguidade com o surgimento do homem primitivo.

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Destarte, para Engels ([S.d.]), a formação da família pelo tempo, desde o relacionamento primitivo ao monogâmico se deu da seguinte maneira: no primórdio da existência humana, o homem era extremamente primitivo, todos (homens e mulheres) mantinham relações sexuais com todos, não havia qualquer tipo de censura, desde idade, linhas de parentesco e nem mesmo ciúmes entre casais, sendo todos livres. Vigorava nesta época apenas o instinto animal de reprodução.

Quanto ao segundo momento, Engels ([S.d.]) traz como formou-se a família consanguínea, onde era proibido o incesto, relação entre pais e filhos. Já o terceiro é chamado de família punaluana, houve aqui a extensão da censura ocorrida na segunda fase, caminhando-se assim a um progresso na civilização. Começou pela proibição de relações sexuais entre irmãos, passando a existir a classe de sobrinhos e sobrinhas que antes não existiam. O quarto é a família pré-monogâmica, que possibilitou uniões por pares, ainda o homem podia ter várias mulheres, mas essas tinham que permanecerem fiéis. Entretanto, esta união era frágil ao passo que podia se dissolver a qualquer tempo com facilidade. E por último, a família conhecida em nossos tempos, família monogâmica, a qual se percebeu extremamente marcada pelo domínio do homem com a finalidade de procriar e criar seus futuros herdeiros, observando-se nesta faze o tratamento da mulher como escrava.

O termo família foi trazido pelos romanos, que designavam seus escravos agrícolas. Nesta época, a família monogâmica se constituía pelo pai soberano e líder de sua prole e esposa.

Mas a família com a finalidade de criar laços de sangue e afeto que temos hoje foi constituída, e elevada a este patamar, pela religião, ou melhor, pelo cristianismo, trazendo a moral e a ética para sociedade, sacramentou o casamento, condenando relações fora desta formação perante Deus.

Desta forma, cabe adentrar nas mudanças trazidas pela contemporaniedade, visto que as relações famíliares continuaram em constante mudança, não se estagnando nesta única forma instituída pela igreja.

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1.2 Das mudanças no instituto familiar trazidas pela atualidade

A família vem se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, econômicas e sócio-culturais do contexto em que se encontram inseridas. Esta funciona como um espaço sócio-cultural que deve ser continuamente renovado e reconstruído; o conceito de próximo encontra-se realizado mais que em outro espaço social qualquer, e deve ser visto como um espaço político de natureza criativa e inspiradora.

Quanto à modernidade, Maria Berenice Dias (2009, p. 42, grifo da autora) refere que a família encontra-se diferente:

[...] O seu principal papel é de suporte emocional do indivíduo, em que há flexibilidade e, indubitvelmente, mas intensidade no que diz respeito a laços afetivos. Difícil encontrar uma definição de família de forma a dimensionar o que, no contexto social dos dias de hoje, se insere nesse conteito. É mais ou menos intuitivo identificar família com a noção de casamento, ou seja, pessoas ligadas pelo vínculo do matrimônio. Também vem à mente a imagem da família patriarcal, o pai como figura principal, o pai como a figura central, na companhia da esposa e rodeado de filhos, genros, noras e netos. Essa vizão hierarquizada da família, no entanto, sofreu, com o tempo, enormes transformações. Além de ter havido significativa diminuição do número de seus componentes, também começou a haver um embaralhamento de papéis. A emancipção feminina e o ingresso da mulher no mercado de trabalho levaram-na para fora do lar. Deixou o homem de ser o provedor exclusivo da família, sendo exigida sua participação nas atividades domésticas.

O último século foi palco para verdadeiras mudanças comportamentais da sociedade, foi o marco que rompeu com o rígido formato de família imposto pela religião e estagnado pela sociedade.

Sobre as novas mudanças da pós-modernidade, sustentam Gagliano e Pamplona Filho (2011), que houve a deslocação de pessoas do interior para as cidades fornando grandes centros urbanos. Ocorreu também à difusão do divórcio na sociedade, não havendo mais a repreenção da mulher disquitada, que foi alvo de duras críticas, vista com maus olhos pela comunidade que pertencia. Tendo em vista que a mesma, tempos antes, tinha que ser sustentada pelo marido, sendo este quem tomava decisões e cuidava de todos integrantes dentro do lar.

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A pós-modernadade, trouxe também, segundo Gagliano e Pamplona Filho (2011), a liberdade sexual, tanto na escolha de parceiros do homem e da mulher, que passou a ser aberta, tanto em sua família como para a sociedade. A opção sexual de ter relações não mais heterosexuais, mas também homoxessuais, os homens saíram do “armário”, abandonando sentimentos repremidos e se deixando levar pelos seus instintos. Nesta marcha pelo auto-prazer, a mulher se libertou das sensuras da religião e pensamentos machistas, buscando relações esporádicas sem qualquer compromisso, tendo como objetivo apenas o prazer sexual. Essa quebrou tabus e passou a criar seus filhos sozinhas sem a figura do pai, trabalhando e sustentando seus próprios lares, mostrando que não são frágeis como eram vistas antes e sim muito mais fortes que homens mostrando sua igualdade.

Outra grande mudança foi à proteção aos incapazes e a terceira idade, as leis deram maior atenção e esse grupo, que mostram a necessidade de tratamento diferenciado pelo Estado. Mas a mais importante foi o amor e afeto que tomou os lares, sendo o verdadeiro elo entre os componentes de uma família.

No mesmo sentido, Giselda Maria Fernandes Hironaka (2008, p. 59) quando fala sobre as mudanças ocorridas na família, afirma que:

Novos hábitos, novas aspirações, novos valores, novos costumes e novas permissões passaram assim a florecer, pela emergência da necessidade de novos e respiráveis ares, uma exigência do tempo proclamado pela pós-modernidade, enfim. E assim, se deu, por exemplo, com a liberdade de expressão e a revalorização do sentimento, produzindo, entre outras coisas, o deslocamento do foco de interesse familiar para a criança (e não para a instituição propriamente dita), bem como para a autorização para cada membro buscar a sua própria felicidade e bem estar, valorizando mais a pessoa – cada pessoa [...]

A globalização através dos meios de comunicação, fez com que se extreitem distâncias intelectuais entre as linhas parentais de uma família. Antigamente o mais velho era considerado o mais sábio, tendo em vista que o tempo é que agregava conhecimento a este. Hoje com a expanção da educação em seus diversos níveis, tem-se um nível intelectual entre os componentes de uma família muito menor que antes, e isso rudez mais ainda se os antigos não buscam uma atualização, as mudanças que conteciam antes em décadas, hoje acontecem em anos.

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Os filhos que antes saiam novos de casa, hoje tendem a permaneser por mais tempo, inclusive constituindo sua própria família mais tarde do que seus pais.

Isto posto, discorre Hironaka (2008, p. 62):

[...] Aquela expectativa que ocorria alegremente, há poucas décadas, a favor do momento de se alcançar a maioridade, já não se repete hoje [...] prolongando a coabitação entre gerações por razões que não foram consideradas ou vivenciadas nas sociedades anteriores a esta, como o prolongamento dos estudos, as dificuldades econômicas, e o mercado de trabalho mais fechado, por exemplo.

Tratando das linhas gerais da evolução, Sérgio Gischkow Pereira (2004, p. 48) fala sobre nove mudanças na família moderna, são elas:

[...] A) o amor como valor capaz de dar origem, sentido e sustentação ao casamento ou a uma união estável, assim como as uniões homossexuais e às filiações sócio afetivas; daí decorre a prevalencia da questão afetiva sobre a patrimonial, pelo que se fala na despatrimonização do direito de família; B) a completa pariedade entre os cônjuges; C) igualdade dos filhos de qualquer natureza, incluíndos os adotivos; D) reconhecimento e proteção do concubinato; E) novo conteúdo do pátrio poder (hoje denominado de poder familiar pelo Código Civil brasileiro), quando importa é o interesse de crianças e do adolescentes; F) menor dificuldade na obtenção do divórcio e maior facilidade para a separação judicial; G) adequação do regime de bens aos verdadeiros significados do casamento; H) atuação intença do Estado sobre a família; I) influência dos avanços científicos e tecnológicos e da interdiciplinariedade e da transdiciplinariedade.

As relações famíliares são autênticas, sendo que ninguém deve ser forçado a conviver com alguém que não queira, deve existir aqui uma liberdade de escolha para que a pessoa vá à busca da felicidade e de seu bem estar. Bem como, se há afeto e vontade de constituir família entre pessoas do mesmo sexo deve o direito resguardar o interesse desses regularizando essas uniões, mesmo sendo elas condenadas pela igreja. Já quanto à filiação sócioafetiva, deve ser resguardada pelo direito também, se há amor, há responsabilidade, e não há nada que garanta mais proteção do que isso. Assim, entende-se que a filiação socioafetiva de vezes é melhor que a decorrente da consaguínea, porque nessa há um dever de amor e cuidado obrigado pela lei, naquela há um dever puro e natural de querer prestar esses cuidados sendo o nico elo o verdadeiro amor e não a obrigação.

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Já quanto à completa pariedade entre os cônjuges não há dúvidas que na sociedade moderna de hoje não há lugar para o machismo, devendo imperar em um casamento a igualdade entre parceiros, e garantir pelas leis os mesmos direitos e deveres entre ambos. Deste modo, a família hoje deve ter dialogo entre seus integrantes e acima de tudo, amor.

A igualdade de filiação vem para consolidar os direitos iguais entre os filhos, devendo prevalecer entre eles amor, amizade, assistência e afeição, não havendo diferenças entre filhos legítimos e ilegítimos, bem como os adotados. Em uma sociedade regrada por princípios que garantem direitos humanos não há lugar para distinções deste patamar.

O concubinato sendo amparado pela legislação deve garantir os direitos inerentes da relação bilateral clandestina do cônjuge infiel. Nosso ordenamento jurídico não reconhece o concubinato como uma forma de família, mas essas relações ocorrem todos os dias gerando efeitos de ordem jurídica que devem ser resguardados pelo direito. Deste modo, coube ao Estado regular direitos que advém de tais relações, como filhos ilegitimos, e em alguns casos reconhecendo o direito da concubina de receber pelo trabalho doméstico exercído ao companheiro.

O aumento da atuação do Estado na família deve ser analisado de forma cautelosa, segundo Pereira (2004, p. 57), “O agir do Estado pode produzir benefícios à família, protegendo-a, amparando-a, ajudando em suas funções primárias, mantendo seu equilíbrio, trazendo meios de melhor alimentar e educar os filhos, e assim por diante.”

Quanto à interferência da ciência e tecnologia, podemos perceber o avanço na descoberta da paternidade através do DNA, o qual traz com segurança de 99% o resultado da paternidade. A introdução dos campos da ciência buscando resguardar a dignidade da pessoa humana, como exemplo a possibilidade de laudos técnicos de psicólogos e assistentes sociais em causas jurídicas de direito de família.

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1.3 Da relação entre pais e filhos

O poder familiar é o conjunto de direitos e deveres que se origina da paternidade. Trata-se da relação entre pais e filhos que tem como base amor e proteção.

Conceitua Dias (2009, p. 383, grifo da autora):

De objeto de direito, o filho passou a sujeito de direito. Essa inversão ensejou a modificação do conteúdo do poder familiar, em face do interesse social que envolveu. Não se trata do exercício de uma autoridade, mas de um encargo imposto por lei aos pais. O poder de família é sempre trazido como exemplo da noção de poder-função ou direito-dever, consagradora da

teoria funcional das normas de direito das famílias: poder que é exercido

pelos genitores, mas que serve ao interesse do filho.

A relação entre pais e filhos nasceu junto com a família, e veio acompanhando-a pela história dessa.

De acordo com Venosa (2003, p. 353, grifo do autor):

Visto sob o prisma do menor, o pátrio poder ou poder do menor encerra, sem dúvidas, um conteúdo de honra e respeito, sem traduzir modernamente simples ou franca subordinação. Do ponto de vista dos pais, o poder familiar contém muito mias que singela regra moral trazida ao Direito: o poder parental, termo que também se adapta a ambos os pais, enfeixa um conjunto de deveres com relação aos filhos que muito se acentuam quando a doutrina conceitua o instituto como pátrio dever. A denominação poder familiar do novo Código também não se coaduna perfeitamente com sua extensão e compreensão.

Para Dias (2009), o pátrio poder teve essa denominação no direito romano, este era absolutamente machista, onde quem mandava na casa era a figura paterna, o qual era chefe da família. Mas com o avanço da luta feminista pela igualdade, essa denominação teve que ser adequada, passando a ser chamada de poder familiar.

Nossa Constituição Federal deu lugar ao poder de família em 1988, tendo em vista a valoração dos direitos humanos e da igualdade entre homens e mulheres. A carta magna de 1916 conceituava o instituto como pátrio poder.

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Mas esta denominação ainda não é aceita como a mais correta para os doutrinadores. Para Gonçalves (2011), a denominação de pátrio poder para poder de família é mais apropriada, no entanto ainda não seria a mais correta, a denominação dada pelos norte-americanos e franceses, corresponderia melhor ao significado do instituto, seja ela “autoridade parental”, que não se trata de poder o qual aduz coação para o indivíduo, mas sim o interesse do indivíduo.

Condiz Dias (2009, p. 383, grifo da autora), “O poder familiar, sendo menos um poder e mais um dever, converte-se em um múnus, e talvez se devesse falar em função familiar ou em dever familiar. A modificação não passou de efeito de linguagem [...]”

Critica também Silvio Rodrigues (2004, p. 355), “[...] pecou [...] ao se preocupar mais em retirar da expressão a palavra ‘pátrio’ do que incluir o seu real conteúdo, que, antes de um poder, representa obrigações dos pais e não da família como o nome sugere.”

O poder familiar resulta tanto da paternidade natural quanto da filiação legal. Aos pais cabe a educação, a criação e a proteção dos filhos. O conteúdo do poder familiar para Venosa (2003) é indisponível, imprescritível, indivisível. Para Dias (2009), além das obrigações que personalíssimas que dele fluem, ele é irrenunciável, intrasferível, inalienável e imprescritível.

Não podem os pais transferir seus direitos, pode ocorrer com a adoção, a renúncia, bem como, na ocorrência da perda do poder familiar. Quanto à indivisibilidade, ele é indivisível, mas não seu exercício, que mesmo com pais separados, estes exercem o poder familiar a eles inerente. É imprescritível, pois só extinguem-se com a perda pelas hipóteses legais, e não, pelo simples descaso pelos pais.

O poder familiar exercido pelos pais está diretamente ligado à guarda dos filhos. No momento da averiguação de quem ficará com as crianças, quando ocorre a separação dos pais, deverá ficar com a guarda quem tiver melhor condições do exercício desta.

Existem quatro tipos de guarda, segundo Dias (2009) as quais são: a) guarda unilateral ou exclusiva – é quando apenas um dos pais detém a guarda do menor, restando ao outro o direito de visitas; b) guarda alternativa - quando ocorre um revezamento entre os pais em períodos longos, dado tempo será estipulado pelo juiz. c) nidação ou aninhamento – a criança

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permanece na casa em que o casal morava antes da separação, e estes passam a revezar-se pela companhia do menor, os pais que fazem o revezamento permanecendo com a criança na mesma residência; e d) a guarda compartilhada e conjunta – ambos os pais terão a guarda da criança, sendo os mesmos responsáveis pelo desenvolvimento dessa e ambos se farão constantemente presentes em sua vida.

O ordenamento brasileiro regulariza apenas a guarda unilateral ou exclusiva e a compartilhada em seu artigo 1.583 do Código Civil.

Deste modo o poder familiar não são apenas direitos e deveres, são amor, carinho e proteção exercidos pelos pais aos filhos menores incapazes. Assim, coube ao Estado a manutenção dessa relação através de suas normas, buscando sempre resguardar o direito da criança e adolescente.

Partindo deste contexto do poder familiar regulamentado pelo Estado, abordar-se-á no próximo capítulo um tema novo para o ordenamento jurídico, mas que há muito tempo é conhecido no interior do âmbito familiar e que traz sérias consequências ao poder exercido pelos pais, trata-se a partir de agora da alienação parental.

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2 ALIENAÇÃO PARENTAL: “ÓRFÃOS DE PAIS VIVOS”

O alienador psicologicamente abalado usa de diversos artifícios na sua busca pelo desgaste da imagem de seu ex-companheiro, essa revolta cega, às vezes conscientemente e inconscientemente, a percepção dos prejuízos causados ao menor por suas atitudes tirânicas.

Vê-se assim, uma grande dificuldade da criança em perceber o que realmente passa na cabeça do seu guardião alienador, se uma separação conjugal é difícil para o adulto, imagine-se então para a criança tentar entender o que está acontecendo, distinguir imagine-se os fatos são reais ou se passam apenas na mente do alienador.

Passa-se a análise deste problema que por ser apenas regulamentado recentemente pelo ordenamento, parece-nos novo, mas que na verdade é muito mais antigo do que se possa imaginar.

2.1 Da síndrome para a alienação regulada pelo direito

A alienação parental pioneiramente foi estudada por três peritos judiciais dos EUA. Um deles foi Richard Garder, professor especialista do Departamento de Psiquiatria Infantil da Universidade de Columbia que conforme Douglas Phillips Freitas e Graciela Pellizzaro (2011, p. 17), “[...] interessou-se pelos sintomas que as crianças desenvolviam nos divórcios litigiosos, publicando um artigo sobre as tendências atuais em litígios, de divórcio e guarda.”

Freitas e Pellizzaro (2011) também mencionam que os peritos judiciais, Blush e Rosse, delimitaram as características dos pais divorciados/separados, perceberam tratar-se de alienação as atitudes tomadas, quando estes inventavam falsas verdades quanto a um dos cônjuges, ocasionando, até mesmo, sua ausência perante os filhos. Blush e Rosse definiram tais comportamentos como Síndrome de SAID – Alegações Sexuais no Divórcio.

Dias (2009, p. 418 grifos da autora), acrescenta: “Quem lida com conflitos familiares certamente já se deparou com um fenômeno que não é novo, mas que vem sendo identificado por mais de um nome: alienação parental ou implantação de falsas memórias.”

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Essas condutas sempre existiram, mas foi com a valoração do afeto familiar, que a sociedade passou a olhar com outros olhos as condutas de pais alienadores. Consente Dias ([S.d.], p. 01) quanto à valoração da filiação afetiva:

Graças ao tratamento interdisciplinar que vem recebendo o Direito de Família, passou-se a emprestar maior atenção às questões de ordem psíquica, permitindo o reconhecimento da presença de dano afetivo pela ausência de convívio paterno-filial.

Conceitua-se síndrome de alienação parental os autores Richard A. Gardner (apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 603):

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável.

No Brasil os primeiros casos reconhecidos pelo judiciário, e apenas, por este começou em 2003, mas a Alienação Parental foi regulamentada juridicamente apenas em 2010 pela Lei 12.318/10. A mencionada lei, define a Alienação parental em seu artigo 2°:

Art. 2. Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

O fenômeno da alienação parental pode ser chamado também por implantação de falsas memórias, nesse sentido Dias (2009, p. 418) argumenta:

Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, um dos cônjuges não consegue elaborar adequadamente o luto da separação e o sentimento de rejeição, de traição, faz surgir um desejo de vingança, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. Nada mais que uma “lavagem cerebral” feita pelo genitor alienador no filho, de modo a denegrir a imagem do outro genitor, narrando maliciosamente fatos que não ocorreram ou que não aconteceram conforme

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a descrição pelo alienador. Assim, o infante passa aos poucos a se convencer da versão que lhe foi implantada, gerando a nítida sensação de que essas lembranças de fato aconteceram.

Deste modo, o responsável pela criança não absolvendo bem as informações do término de relacionamento, volta-se para a prole esperando se vingar daquele que o fez sofrer. As técnicas do alienador são com base no uso de sentimentos, criam momentos nunca vividos pelo menor, utilizam-se de chantagem, entre outros, percebendo na criança verdadeira lavagem cerebral, ocasionando o afastamento do pai alienado, ocorrendo muitas vezes afastamento total, ou seja, como este tivesse morrido.

O evento que ocorre no momento do divórcio/separação/dissolução litigiosa de casais que têm filhos, quando um dos genitores, na maioria das vezes o que tem a guarda da criança, normalmente sua genitora, devido aos seus sentimentos frustrados em relação ao ex-companheiro, implanta falsas lembranças na prole para que esta repudie o outro genitor. Esse fenômeno é o que chamamos de alienação parental.

Jussara Schmidt Sandri (2003, p. 94) pontua alienação parental como:

A situação na qual um genitor, normalmente a mãe, coloca o filho contra o outro genitor, ou seja, o pai, quando da separação do casal, sobretudo na disputa de guarda da prole, tem sido chamada de alienação parental, de síndrome de alienação parental, ou ainda, de implantação de falsas memórias.

Ocorre que tal nomenclatura não é utilizada de forma unânime pela doutrina, podendo ser encontrada também por síndrome de alienação parental, implantação de falsas memórias.

Para Fabio Vieira Figueiredo e Georgios Alexandridis (2011, p. 43), alienação parental, define-se nos seguintes termos:

Muitas vezes, um dos genitores implanta na pessoa do filho falsas idéias e memórias com relação ao outro, gerando, assim, uma busca em afastá-lo, ou mesmo com o intuito falso de supostamente proteger o filho menor como se o mal causado ao genitor fosse se repetir ao filho.

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A síndrome de alienação parental conforme Freitas e Pellizzaro (2011) é um transtorno psicológico. Ele é formado por vários sintomas que juntos enquadram-se como síndrome, quando o genitor, que chamamos de alienador utilizando de vários artifícios, como sua influência sobre a criança alienada (podendo se consciente como também inconsciente) e modifica a consciência do filho para que este destrua a relação existente, e até mesmo, sentimentos de afeto que sente pelo outro genitor denominado de cônjuge alienado. Não há, nesses atos do alienador motivo real, apenas seu sentimento ferido, sentimentos de vingança, onde o alienador utiliza-se dos filhos para vingar-se do alienado.

Deste modo, a síndrome recai sobre a criança, principal prejudicada, tendo em vista, esta ser manipulada pela pessoa que se diz ter maior afeto e sentimento de proteção para com ela, assim é o entendimento sobre a síndrome para Gagliano e Pamplona Filho (2011, p. 608):

Trata-se [...], de um distúrbio que assola crianças e adolescentes vítimas da interferência psicológica indevida realizada por um dos pais com o propósito de fazer com que repudie o outro genitor.

Já quanto aos meios para este repúdio disserta Maria Antonieta Pisano Motta (2008, p. 35):

[...] a síndrome de alienação parental é destruidora em todos os sentidos e pode originar-se de falsas denúncias de abusos físico, psicológico ou sexual, para poder tirar o filho da companhia do outro genitor. Muitas vezes crianças chegam a serem levadas para outros países.

Como se percebe a síndrome de alienação parental acomete a criança, sendo seus sintomas verificados nesta. Porém, para Denise Maria Perissina da Silva (2009, p. 44) descreve a síndrome como patologia do genitor, assim disserta a autora:

A SAP é uma patologia psíquica gravíssima que acomete o genitor que deseja destruir o vínculo da criança com o outro, manipulando-a efetivamente para atender motivos escusos. A SAP deriva de um sentimento neurótico de dificuldade de individualização, de ver o filho como um indivíduo diferente de si, e ocorrem mecanismos para manter uma simbiose sufocante entre pai/mãe e filho, como a super proteção, dominação, dependência e opressão sobre a criança. O pai/mãe acometido(a) pela SAP não consegue viver sem a criança, nem admite a possibilidade de que a criança deseje manter contatos com outras pessoas que não com ele/ela. Para isso, utiliza-se de manipulação emocionais, sintomas físicos, isolamento da criança de outras pessoas, com o intuito de incutir-lhe insegurança,

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ansiedade, angústia e culpa. Por fim, e o que é mais grave, pode chegar a influenciar e induzir a criança a reproduzir relatos de eventos de supostas agressões físicas/sexuais atribuídas ao outro genitor, com o objetivo único de afastá-lo do contato com a criança. Na maioria das vezes, tais relatos não têm veracidade, dada certas inconsistências ou contradições nas explanações, ou ambivalência de sentimentos, ou mesmo comprovação (por exemplo, resultado negativo em exame médico); mas tornam-se argumentos fortes o suficiente para requerer das autoridades judiciais a interrupção das visitas e/ou a destituição do poder familiar do “suposto” agressor (o outro genitor).

Visto o que seria alienação parental e síndrome de alienação parental, percebe-se o equívoco de alguns doutrinadores ao conceituarem alienação parental como síndrome. Neste sentido, Sandri (2013), ambas não se confundem, podendo ocorrer apenas à alienação parental, a qual não observado a tempo, pode vir a transformar-se em síndrome, podendo gerar efeitos irreversíveis para toda a família. Desse modo, percebe-se facilmente que a síndrome é consequência da alienação parental.

Nesta mesma linha discorre Pricila Maria Corrêa da Fonseca (apud SANDRI, 2013, p. 96):

A alienação parental é o afastamento do filho de um dos genitores, provocado pelo outro, via de regra, o titular da custódia. A síndrome da alienação parental, por seu turno, diz respeito a seqüelas emocionais e comportamento de quem vem a padecer a criança vítima daquele alijamento. Assim, enquanto a síndrome refere-se à conduta do filho que se recusa terminante e obstinadamente a ter contato com um dos progenitores, que já sofre as mazelas oriundas daquele rompimento, a alienação parental relaciona-se com o processo desencadeado pelo progenitor que intenta arredar o outro genitor da vida do filho.

Conclui-se assim que a alienação parental são os atos praticados pelo alienador contra a criança na busca de aliená-la afastando-a de seu outro genitor, utilizando-se de meios psicológicos e não de força, levando o menor a crer em seus discursos que distorcem a realidade dos fatos. A síndrome por outro lado, são sequelas emocionais sentidas pelo filho alienado, que estreita quando não extingue a relação com o genitor alienado.

2.2 Estágios da alienação parental e suas características

Gardner (apud SANDRI, 2013, p. 97) define três estágios do leve, médio ao grave, assim são eles: a) leve: aparecem problemas, sendo que após isso a criança esquece-se das

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campanhas de desmoralização do genitor alienado, neste ponto se tem uma crescente relação sólida com o genitor alienador, o qual tem a guarda; b) médio: as táticas usadas pelo alienador se expandem para exclusão do alienado da vida da criança, sendo que no momento da troca de genitor, o alienador aumenta sua tática de desmoralização, usando-se de todos os tipos de argumento para denegrir a imagem do genitor alienado, sendo este ruim aos olhos da criança e aquele bom. Ainda sim, a criança aceita a troca de genitores, mas passa a manter um comportamento que coopera com as intenções do alienador; c) grave: os filhos já compartilham das mesmas reflexões do guardião, consentindo com todos os pensamentos ruins e frustrados, que levam ao total repúdio da prole em ver o outro genitor, a criança ou adolescente apresenta quadros de violência e pânico nas visitas ou trocas, sendo que aceitando a troca tornam insuportável a convivência fazendo de tudo pra retornar ao alienador, podendo ocorrer paralisação, medo mórbido, sendo que tais sintomas possam continuar mesmo após afastamento do alienado.

Silva (2009, p. 76, grifos da autora) faz reflexões sobre os três níveis apresentado pela instauração da síndrome na criança:

Na alienação parental em grau leve, a criança começa a receber as mensagens e manobras do alienador para prejudicar a imagem do outro genitor, mas ela ainda gosta do pai, quer ter contato com ele, vai com ele nas visitas. No grau médio, a criança começa a sentir a contradição (ambiguidade) de sentimentos: ama o outro pai (alienado), mas sente que precisa evita-lo para não desagradar o alienador. Existem conflitos, depressão, sensação de não conseguir identificar o que realmente sente. No nível grave, essa ambiguidade de sentimentos desaparece: a criança exclui e rejeita completamente o outro genitor, passando a odiá-lo, já está completamente envolvida no vinculo de dependência exclusiva, que impede a autonomia e a independência (também chamada simbiose) do alienador, repete mecanicamente seus discursos, exprime emoções não autênticas, aprende a manipular as informações, assimila os interesses e objetivos do alienador. É nesse momento que se implantam com mais facilidade as “falsas memórias”: as crenças improcedentes de eventos de agressão física e/ou molestação sexual que a criança passa a imputar ao genitor alienado, repetindo o tal “relato” a tantas pessoas, por vezes despreparadas ou desconhecedoras das circunstancias, a ponto de registrar as informações como se a lembrança fosse verdadeira, chegando até mesmo a manifestar as mesmas reações psicossomáticas que uma criança verdadeiramente abusada.

Para entender a alienação parental e sua síndrome, é necessário tecer como as identifica, passa-se a análise de suas características. A alienação parental tem características perceptíveis, quando detectadas precocemente, podem impedir sintomas graves de síndrome.

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Deste modo, caracteriza a alienação parental Sandri (2013, p. 100):

A Alienação Parental se caracteriza por meio de um processo destrutivo da imagem de um dos progenitores, com o afastamento forçado, físico e psicológico, da criança em relação ao progenitor alienado, com atos específicos, destinados a isolar a criança, que passa a compartilhar o ódio do alienador em face do genitor alienado.

Quanto à conduta do alienador, assevera Freitas e Pellizzaro (2011) que pode ser consciente, mas que muitas vezes o alienador nem percebe o mau que poderá causar utilizando os filhos para desabafar suas frustrações contra o ex-companheiro e vingar-se deste.

O divórcio ou dissolução da união, não é o fator primordial que leva a instalação da síndrome, patologia psicológica que se instaura na criança, aquela tem como origem a discórdia entre os pais, a mudança de rotina gerada pelo termino da vida conjugal, o fator primordial é a existência de tensão sobre esta ruptura.

Simplificadamente, mas não menos exemplificativo, François Podevyn (apud SANDRI, 2013), após vasto acompanhamento de casos de alienação parental, observou critérios que de maneira razoável possa perceber a existência de alienação parental no ambiente familiar, são eles: A obstrução a qualquer contato da criança com o genitor, denúncias falsas de abuso, deterioração da relação após a separação; e, ainda, reação de medo dos filhos.

2.3 Os sujeitos da alienação parental

Como se não bastasse à alienação parental ter vários atos para a sua prática, ela também pode ser exercida em modalidades. Sandri (2013) apresenta três modalidades, que são: a) alienação parental dentro do relacionamento – como já percebeu-se a alienação parental costuma ter como sujeito alienante a figura materna, sendo assim, enquanto o casal ainda compartilha do mesmo lar, percebendo-se uma separação eminente, a qual não há possibilidades de volta, passa a mãe, desde já, a praticar a campanha de desmoralização do companheiro, tendo em vista uma possível guarda da criança; b) alienação parental na separação dos pais – é nesta modalidade que mais se constata a alienação parental no judiciário, sobre tudo na busca pela guarda da criança, a alienadora (mãe) de forma tirânica

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utilizando-se de sua influência sobre a criança busca afastar o filho do outro genitor, por motivos egoístas, pensando em vingar-se, escolhe tirar da vida da criança aquele que dissolveu a família, levando a mesma a crer nesse abandono e em todas as inverdades criadas por sua mente perturbada, vindo a ocorrer assim, o desdém gradual do menor até que em fim seu vínculo afetivo com o alienado destrua-se por completo; c) da alienação parental na família – pode ser praticada por outras pessoas da família além de pai e mãe, como avós, tios, tutores e curadores, podendo alienar a criança de outros entes da família que não seja seus genitores, exemplo disso é quando da morte ou ausência de um dos genitores, ou ambos, a criança passa a ficar sobre a guarda de um de seus familiares, os quais fazem, às vezes daqueles, e por isso ao ter a confiança e respeito do menor, passam a aliená-lo quanto aos demais parentes.

Passa-se agora ao exame das condutas dos personagens da alienação parental, são eles alienador, criança alienada e alienado, bem como os efeitos daquela.

O alienador pode se apresentar tanto na figura da mãe como do pai, ou então de ambos, podendo até em alguns casos mais relapsos na figura de terceiro.

A genitora no momento da dissolução da vida conjugal coloca-se no lugar de vítima dos acontecimentos, abalando profundamente seu psicológico, achando-se fraca, abandonada e em situação de desvantagem frente ao ex-companheiro. Deste modo, não sabendo lidar com a nova situação, passa para o filho seus anseios, insegurança e sofrimento.

Muitas vezes este comportamento psicológico descontrolado e desconectado da realidade já acompanhava o alienador em alguns conflitos conjugais, ou até, passava despercebido durante a união, mas que no momento da separação fazem nascer este sentimento de vítima. No mesmo sentido esclarece Silva (2009, p. 62):

Assim, quando uma situação sai do controle (ex.: queda nos padrões socioeconômicos, a separação), a pessoa supervaloriza o fato, exagera nas emoções, distorce as informações, afasta-se da realidade, e passa a assumir o papel de vitima (na verdade, vitimização), evocando a negatividade associada às mais terríveis e dolorosas experiências: o sofrimento, a injustiça, a impotência e a morte. E como, por definição, a vitima é importante, a emoção primária que sempre acompanha a vitimização é o medo – no caso, medo do aniquilamento da fantasia que construiu, medo de não suportar a dor. A vítima, aqui, é sempre vista como inferior, frágil,

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indefesa, imaculada, inocente e injustiçada, um “cordeiro levado ao sacrifício” ou o “bode expiatório” que recebe a carga dos pecados de terceiros.

Como já visto no início do capítulo, item 2.1, a síndrome corresponde aos sintomas percebidos na criança diante de atitudes tomadas pelo alienador. Ocorre que para Silva (2009, p. 44), tal patologia pode apresentar-se também nesse:

Ocorre que a SAP existe, pode ser evidenciada em inúmeros casos em que a criança passa a rejeitar o pai/a mãe sem motivo plausível, e para isso cria, distorce ou exagera situações cotidianas para tentar “justificar” a necessidade de afastamento do outro genitor, até mesmo reproduzindo falas de outras pessoas. A pessoa que induz a criança a rejeitar imotivadamente o outro pai, inclusive mediante relatos inverídicos de molestação sexual, apresenta um distúrbio psicopático gravíssimo, uma sociopatia crônica, porque não tem nenhum sentimento de respeito e consideração pelo outro, importando-se apenas com seus próprios interesses egoísticos e narcísicos.

A alienadora, que muitas vezes fica com a guarda, conscientemente ou inconscientemente, busca uma verdadeira lavagem cerebral do menor para vingar-se do outro genitor.

Já quando o pai figura como alienador, este pode se aproveitar de sua situação econômica para afastar a criança da mãe, convencendo-o de que com ele está terá tudo que deseja.

Já os terceiros, avós, tios, tutores e curadores, por motivos fúteis e incompatibilidade ou até mesmo por tomar o sentimento de revolta do companheiro abandonado pelo outro, passa a ajudar na campanha, tanto para o genitor de forma indireta incentivando-o em suas condutas de repúdio e desgosto contra o outro genitor; e, de forma direta para a própria criança.

Quanto às condutas do alienador, a Lei 12.318/10 exemplifica as mais clássicas em seu artigo 2°, parágrafo único, são elas:

[...]

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

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I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Silva (2009) explica que o comportamento do alienador pode ocorrer de duas formas principais: a) obstrução de todo contato – argumento do alienador de que as visitas do alienado não favorecem a criança, sendo que este deve aguardar um tempo para adaptação da criança à mudança, não sendo oportunas as visitas do outro genitor; e, b) denúncias falsa de abuso- pode caracterizar pelo “abuso sexual”, quando ocorre implantação de falsas memórias na criança, a qual por ter tenra idade é de fácil manipulação pelo alienador, e o “abuso emocional” quando se caracteriza por condutas reprováveis a saúde e bem estar do menor, como mandar esse dormir demasiadamente tarde.

Quanto ao abuso sexual discorre Dias (2009, p. 418, grifo da autora):

Nesse jogo de manipulação, todas as armas são utilizadas, inclusive a assertiva de ter havido abuso sexual. O filho é convencido da existência de determinados fatos e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. Nem sempre consegue discernir que está sendo manipulado e acaba acreditando naquilo que lhe foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, sem o alienador distingue mais a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa existência, implantando-se, assim, as falas memórias.

Silva (2009, p. 93, grifo da autora) explica como a mentira dita para a criança se torna em fato real na mente desta:

A manipulação emocional que o genitor alienador tenta impo sobre a criança, mediante procedimentos de sedução, ameaças de abandono, “chantagens emocionais”, confidências, entre outros, torna-se um importante recurso para que a criança, movida pelo pacto de lealdade com este, comece a estruturar uma vivência de fatos de abuso sexual/físico que não ocorreram,

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situações e cenários que nunca presenciou nas visitas com o genitor alienado, afirmar que encontrou pessoas prejudiciais (mas que na verdade não conhece). Inicialmente tais relatos podem ser encarados como mentiras, mas a compulsividade em mentir, ou mesmo a obrigatoriedade de mentir para confirmar sua história para evitar que descubram que mentiu, e em repetir a mesma história mentirosa diversas vezes e para pessoas diferentes (avó, a professora, e depois para o conselheiro tutelar, o delegado de polícia, o promotor, o psicólogo, o assistente social, o juiz...) resulta na formação de registros mnemônicos. O fato mais grave de toda acusação de abuso sexual/físico é que, diante da repetição do relato, isso vai além da mera suposição de que a criança acredita no que verbaliza: a criança estrutura memórias, chegando a afirmar que “se lembra” dos fatos que não ocorreram ou de pessoas que desconhece.

Percebe-se assim, que na alienação parental quem sai perdendo é a criança. É ela quem será cruelmente penalizada, não concorre para a separação, mas sairá com sequelas emocionais, os verdadeiros culpados são os pais por serem despreparados, não sabem lidar com a extinção do vínculo conjugal. Nesta perspectiva Dias (2009, p. 419):

É preciso ter presente que está também é uma forma de abuso que põe em risco a saúde emocional e compromete o sadio desenvolvimento de uma criança que enfrenta uma crise de lealdade e gera sentimento de culpa quando, na fase adulta, constatar que foi cúmplice de uma grande injustiça. Evidenciada tal postura por parte do genitor guardião, possível a transferência de guarda e até a destinação do poder familiar.

Pode-se perceber a instauração da alienação parental pelo comportamento da criança, assim Silva (2009) relata cinco comportamentos, são eles: a) a criança passa a denegrir o alienado com linguajar próprio, mas fortemente influenciada pelo alienador; b) declara ser ela a autora de suas atitudes de depreciação do genitor, fenômeno do “pensador independente”, nega qualquer induzimento, agindo desta maneira por vontade própria, sem influências; c) o menor por ser dependente emocional e material do alienador, busca proteger esse, acatando para si todo sentimento de sofrimento, alia-se a este passando a rejeitar o outro genitor, até mesmo como prova de lealdade, tendo em vista ser o alienado o causador de todo sofrimento; d) passa a relatar lugares em que nunca esteve, assim como situações que nunca vivenciou, passa a contar aos profissionais quando depõem as falsas memórias nele implantadas, sendo seus depoimentos sem lógica; e, e) a criança se volta contra a família do alienado através do sentimento emocional passado pelo alienador que coloca a criança contra estes.

Toda esta campanha de desmoralização e incentivo ao ódio e rejeição de um dos genitores abala profundamente o desenvolvimento psíquico da criança, tendo em vista que

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após o seu amadurecimento passará a entender como se passaram realmente os fatos vivenciados por este, sentindo um sentimento de perda quanto a um dos genitores o qual se afastou, e raiva do outro genitor que o colocou nesta situação.

Neste entendimento, Silva (2009, p. 78, grifos da autora) descreve:

Nos momentos iniciais de instauração da SAP, quando o alienador está usando suas manobras para afastar a criança do outro genitor, a criança envolvendo-se com o alienador, por dependência afetiva e material, ou por medo do abandono e rejeição, incorporando em si as atitudes e objetivos do alienador, aliando-se a ele, fazendo desaparecer a ambiguidade de sentimentos em relação ao outro genitor, exprimindo as emoções convenientes ao alienador. Ocorre a completa exclusão do outro genitor, sem consciência, sem remorso, sem noção de realidade – até mesmo, sem hesitação em acusa-lo de molestação sexual.

Quando, por questões de conscientização posterior, ou por alguma situação impactante, a criança/adolescente, tempos mais tarde, descobre ou percebe que tudo o que vivenciou foi uma mentira, uma farsa de convivência do alienador, que foi manipulada e usada como “marionete” pelo alienador, que cometeu uma terrível injustiça com outro genitor por todas as acusações levianas que o alienador a

induziu a relatar (as acusações improcedentes de

abandono/negligencia ou molestação sexual contra o outro genitor, por exemplo), a criança passa a sentir ódio do alienador, pela manipulação, pelas mentiras, pelo engodo... e remorso e um enorme sentimento de culpa por ter odiado o outro genitor sem ter tido motivos plausíveis para isso (tudo o que aconteceu foi por interesse do alienador, e não seu próprio).

Mas como deve portar-se o genitor alienado frente à rejeição e falsas acusações. Este quando perceber os acontecimentos deve manter-se equilibrado emocionalmente, não atrasando a pensão alimentícia e respeitar as medidas impostas judicialmente, tais precauções evitaram dar razão aos fatos distorcidos e alegados pelo alienador.

O alienador deve sempre buscar aproximação e afeto do menor, para que aquele não consiga seu objetivo de destruição do vínculo do genitor e da criança. Assim Sandri (2013, p. 141) argumenta:

Diante das adversidades que o fenômeno da alienação parental produz, é de suma importância que o genitor alienado tenha controle sobre os seus pensamentos e suas ações, pois o equilíbrio emocional é fundamental para que tome decisões acertadas diante da rejeição do filho, demonstrando o seu amor incondicionado, dando atenção, carinho e afeto. Se adotar uma postura

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de vítima, acatar a rejeição e com isso, deixar de prestar o devido suporte financeiro, estará contribuindo ativamente para que a alienação parental tome proporções ainda mais graves.

Ocorre que muitas vezes o genitor alienador é quem passa a mostrar comportamento equilibrado aos olhos de todos e o alienado indignado tende a perder a cabeça diante das infundadas acusações descritas pela criança e por sua rejeição.

O alienado, segundo Sandri (2013), pode vir a sofrer de depressão, perda de autoestima, paranoia, isolamento, estresse, desvio de personalidade, podendo até vir tirar a própria vida.

Mas o alienado não pode perder as esperanças, pois a nova Lei 12.318/10 veio para regular os atos de alienação parental, procurando soluções para seu enfrentamento, é o que será analisado no próximo capítulo.

(36)

3 APONTAMENTOS PARA A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS RELATIVOS A ALIENAÇÃO PARENTAL

Exposta a alienação parental em uma visão voltada para o direito, partir-se-á agora para o ponto de vista psicológico dirigido para a síndrome da alienação parental, sendo que seus conceitos e diferenças foram tratados no capítulo anterior.

Abordam-se, também, as medidas encontradas pelo legislador procurando evitar e amenizar os sintomas da síndrome, utilizando-se assim da guarda compartilhada como principal meio para inibir a alienação, e ao final tecer considerações dos demais mecanismos trazidos pela Lei 12.318/10.

Porém antes, imperioso tecer o que é essa síndrome, para então poder entender como se dará as medidas encontradas para amenizar suas consequências.

3.1 Síndrome de alienação parental: uma visão psicológica

Como visto, muitos autores enganam-se em tratar as duas como o mesmo conceito, visto que a síndrome trata-se da doença na criança e dos efeitos gerados pela alienação parental, que por sua vez, são os fatos praticados pelo alienador.

Neste sentido Silva (2011, p. 206):

A SAP recebe criticas por parte de especialistas de diversas áreas, alegando-se o mau uso que alegando-se faz desalegando-se termo nos casos de violência de gênero, sustentado por uma ideologia “pedófila e sexista” e afirma que termos como a “síndrome de alienação parental” podem ser usados para culpar as mulheres de seus medos ou angustias motivadas das crianças contra seu pai violento, sendo um instrumento de fraude pseudocientífica, gerando situações de risco para as crianças e provocando a regressão dos direitos humanos das crianças e de suas mães.

A síndrome existe, segundo Silva (2011), e é de fato percebível quando em situações de litígio a criança passa a rejeitar o pai sem motivos aparentes. Levando-se em consideração que na maioria dos casos de guarda a criança fica com a mãe, a mesma, tomada de sentimentos narcisista e egoísta, visando vingar-se de seu ex-marido/companheiro, utilizando como meio para atingir este fim a criança, afinal, “nada mais triste para um pai do que o

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