Alzira Montanha, domiciliada no Município e Comarca de São
Paulo, onde reside na Rua Z, n° 100, casada com Acir da
Mata, está dele separado de fato há mais dois anos, haja
vista que este último, alegando a necessidade de comprar um
maço de cigarros, saiu de casa num sábado à tarde e não
mais retornou. Alzira não tem qualquer ideia da localização de
Alcir e, em conversa com vizinhos, ficou sabendo que poderia
obter o divórcio, bastando reunir a prova documental e oral da
referida separação de fato. O casal não possui quaisquer
bens imóveis ou móveis, além daqueles que guarnecem a
residência. A prole do casal é constituída por dois filhos
incapazes, Geraldo e Barnabé.
Questão:
Na qualidade de advogado de Alzira prepare a petição inicial cabível na espécie.
Conceito
Divórcio é a dissolução de um casamento válido, ou
seja, a extinção do vínculo matrimonial, que se opera
mediante sentença judicial, habilitando as pessoas a
convolar novas núpcias
A Constituição Federal e o Código Civil (artigo 1.580)
trazem a previsões distintas sobre o divórcio. No Código
Civil temos o divórcio indireto ou conversão e o direto.
O divórcio indireto é aquele que se opera após decorrido
um ano do trânsito em julgado da sentença que houver
decretado a separação judicial.
O divórcio direto é aquele que se opera após ter
transcorrido mais de dois anos da separação de fato dos
cônjuges.
Constituição
Promulgada em julho de 2010, a Emenda Constitucional
66 alterou a Constituição Federal para retirar do
dispositivo sobre o tema as menções
“separação” e
“casos expressos em lei” nos seguintes termos:
Art. 226, § 6º antes da EC 66/2010
O casamento civil pode dissolvido pelo divórcio,
após
prévia separação judicial por mais de um ano nos casos
expressos em lei, ou comprovada separação de fato por
mais de dois anos
Art. 226, § 6º após a EC 66/2010
O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio
Questão: a partir da Emenda Constitucional não é
mais necessário promover a separação judicial nem
contar lapso temporal para que o divórcio seja
decretado?
Divórcio Direto
Modalidades
O divórcio direto pode ser consensual ou litigioso.
O divórcio consensual segue o mesmo procedimento da separação consensual (arts. 731 a 734 do CPC):
“Art. 731. A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos.
Parágrafo único. Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658.”
Divórcio Direto Litigioso
O divórcio direto litigioso é aquele requerido por um só dos cônjuges, e dispensa a tentativa de reconciliação do casal.
Deverá ser observado o procedimento comum com as peculiaridades das ações de família, previstas nos arts. 693 e seguintes do CPC, que são as seguintes:
a) serão empreendidos todos os esforços para a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação (art. 694).
b) o juiz pode determinar, a requerimento das partes, a suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar (art. 694, p. único).
c) recebida a petição inicial o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de mediação e conciliação, observado o disposto no art. 694. (art. 695)
d) a citação será feita na pessoa do réu (art. 695, §3º), mas do mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar
desacompanhado de cópia da petição inicial (art. 695, §3º).
e) não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir de então, as normas do procedimento comum, observado o art. 335 (art. 697).
Competência
Estatui o art. 53, inc. I, do CPC, que é competente o foro do para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;
Agora o proclamado no art. 226, § 5.º, da Constituição Federal de 1988, parece ter sido contemplado, muito embora exista posição dos nossos tribunais no sentido de que o foro da residência da mulher é o competente para o pedido de conversão da separação judicial em divórcio (e.g., STJ, REsp 27.483/SP, Rel. Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 07.04.1997, p. 11.112). A conferir.
Exemplo
CLAUDIA EMI BONIFACIO, brasileira, casada, operadora de
maquinas, residente e domiciliada nesta Capital na Rua
Ribeirão Branco, 171, Mooca, contraiu núpcias com JOSÉ
BONIFACIO, brasileiro, casado, pedreiro, 30 de setembro de
1996. Dessa união adveio o nascimento de quatro filhos, a
saber: ANA PAULA BONIFACIO, em 28/11/1997; ALEX
SANDRO BONIFACIO, em 04/03/1999; JOSE BONIFACIO
FILHO, em 28/08/2001, e LUCIANO BONIFACIO, em
25/11/2003. Após o nascimento do último filho o cônjuge
varão passou a ausentar-se injustificadamente do lar, sendo
que, desde outubro de 2004 desapareceu sem dar mais
qualquer notícia.
Sabendo que o casal não possui bens imóveis, promova a
medida adequada para o rompimento definitivo do vínculo
matrimonial.
Modelo – Ação de Divórcio
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA FAMILIA E DAS SUCESSOESDA COMARCADA CAPITAL - FORO CENTRAL.
CLAUDIA EMI BONIFACIO, brasileira, casada, operadora de máquinas, portadora da Cédula de Identidade RG 23.314.299-X e do CPF n. 127.740.948- 01, residente e domiciliada nesta Capital na Rua Ribeirão Branco, 171, Mooca, pelo advogado que a representa, domiciliado nesta Capital na Rua (endereço), vem, respeitosamente, a presença de V. Exa., nos termos do art. 226 , § 6º da Constituição Federal combinado com o art. 693 do CPC, propor a competente AÇÃO DE DIVORCIO DIRETO em face de JOSE BONIFACIO, brasileiro, casado, pedreiro, portadora da Cédula de Identidade RG 13.319.299 e do CPF n. 122.740.966- 01, residente em local desconhecido, consubstanciada nos motivos a seguir expostos.
Modelo – Ação de Divórcio
DOS FATOS
Em 30 de setembro de 1996, a autora e o réu contraíram matrimônio sob o regime da comunhão de bens (doc. 01), lavrando-se o competente aslavrando-sento no 33º. Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca da Capital.
Dessa uniao adveio o nascimento de quatro filhos, a saber:
•ANA PAULA BONIFACIO, em 28 de novembro de 1997 (doc. n. 2); •ALEX SANDRO BONIFACIO, em 04 de marco de 1999 (doc. n. 3); •JOSE BONIFACIO FILHO, em 28 de agosto de 2001 (doc. n. 4), e
•LUCIANO BONIFACIO, em 25 de outubro de 2003 (doc. n. 5).
Ocorre, porém, que o casal nunca se deu muito bem e, em outubro de 2004, o réu saiu de casa, abandonando a autora e seus filhos, nunca mais dando noticia.
Modelo – Ação de Divórcio
DOS FATOS
Nesse sentido, a própria família do réu desconhece o seu paradeiro, motivo pelo qual não tem a autora meios de encontrá-lo para resolver a situação amigavelmente.
Assim, passados mais de 6 (seis) anos de separação de fato, a autora tem direito de ver atendida a sua pretensão de dissolver o seu casamento pelo divórcio, observados os termos abaixo discriminados.
a) bens do casal
O casal não possui bens imóveis.
Os demais bens resultantes da união se consumiram com o tempo nada restando que seja digno de nota.
b) dividas do casal
Modelo – Ação de Divórcio
A responsabilidade pelo pagamento de eventual dívida, será exclusiva de quem a firmou, ressalvados os casos de participação conjunta do casal, ocasião em que cada qual arcara com a metade do montante devido.
c) dos filhos
Os filhos deverão permanecer sob a guarda da mãe, como sempre estiveram.
d) das visitas
Fica estabelecido o seguinte horário de visitas para o cônjuge varão, todos os domingos, exceto no período de férias pertencente ao cônjuge virago, no horário das 8h00 às 20h00, podendo efetuar passeios livres, desde que informe o local e não ultrapasse o limites desta comarca sem prévia autorização da guardiã.
No período de férias escolares os filhos ficarão com o cônjuge virago nos meses de janeiro e fevereiro e com o cônjuge varão no mês de julho.
Modelo – Ação de Divórcio
e) da pensão alimentícia
O cônjuge varão cumprirá com sua responsabilidade, contribuindo, mensalmente, ate o dia 30 de cada mês, a partir da sentença, com a pensão alimentícia fixada em 1 salário mínimo, para a manutenção de seus filhos, efetuando tal pagamento à guardiã.
f) do nome da esposa
Julgado procedente o presente divórcio o cônjuge virago deseja voltar a usa o nome de solteira, a saber, CLAUDIA EMI SANTOS. DO DIREITO
O fundamento da presente ação encontra amparo na Constituição da República, art. 226, § 6º e no Código Civil no art. 1.580, § 2º:
“Art. 226. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.“
"Art. 1580. § 2º O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada separação de fato por mais de dois anos."
Modelo – Ação de Divórcio
DO PEDIDO
Posto isso, esta se apresenta para requerer a procedência da presente ação de divorcio direito, nos termos das alíneas "a" a "f", expedindo-se o competente mandado de averbação ao Cartório de Registro Civil competente, para as competentes alterações.
DOS REQUERIMENTOS
Outrossim, esta também se apresenta para requerer:
a citação do réu por edital, para que querendo, se defenda da presente ação sob as penas da lei;
a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente, oitiva de testemunhas, depoimento pessoal do réu e demais que se fizerem necessárias;
Dá-se a causa o valor de R$1.000,00 (mil reais). Nestes termos, pede deferimento.