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Pequenos produtores rurais: ideologias orgânicas.

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Academic year: 2021

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PEQUENOS PRODUTORES R U R A I S : I D E O L O G I A S ORGÂNICAS

Dissertação a p r e s e n t a d a ao Curso de MESTRADO EM SOCIO-LOGIA da U n i v e r s i d a d e Fede-r a l da PaFede-raíba, em cumpFede-rimen t o às exigências p a r a o b t e n -ção do Grau de MESTRE.

Ãrea de Concentração: SOCIOLOGIA RURAL O r i e n t a d o r : GISÉLIA FRANCO POTENGY

CAMPINA GRANDE - PB 1 9 8 7

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PEQUENOS PRODUTORES RURAIS: IDEOLOGIAS ORGÂNICAS

DIGITALIZAÇÃO:

SISTEMOTECA - UFCG

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MARIA SEDY MARQUES

Dissertação aprovada em: / /19 8

Gisélia Franco Potengy O r i e n t a d o r

Componente da Banca

Componente da Banca

CAMPINA GRANDE-PB 1987

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DEDICATÓRIA

E*&e& tempo do. bonança

S&i que. um dia vão chegai

Vaqul dez ano pia Ciente

Pode Inte. noò alcançai

Se eu moiiei 6em vei elet>

Oò mzuò fai vão de&iiutai

Se acaòo oò oloò dele*

EÒÒCÒ claio num enxeigai

Weuh neto eu 6 e i que a{> mão

Ha ^aituia vão botai

Olhando então paia tiã&

Oò lutadoi vão louvai

C o r d e l : O r i c o e pobre no b a l a i o do r e i - Cícero Ananias e M.S.M. "

Aos l u t a d o r e s , f i r m e s e tantos.' A M a i n a r a , única e doce.1

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A Gisélia - p e l a orientação e r e s g a t e da l i b e r d a d e acadêmica tão ameaçada.'

A Regina - p e l a s advertências, críticas e sugestões, quando de sua participação na discussão do P r o j e t o de P e s q u i -sa e na Comissão Examinadora.

Aos Coordenadores e Corpo d o c e n t e - p e l o s encaminhamentos e orientações.

Aos c o l e g a s do D.F.E. - p e l a s solidárias manifestações.

A G i l - p e l o s j e i t o s de s e r amigo: m o t o r i s t a , " r e i " , críti-co e quase b a r q u e i r o , sem o q u a l . . . eu d u v i d o , p e l o menos lã.'

A você - p o r t o e p o n t e , quando f o i manhã ou a n o i t e c e r .

A Valéria, N i v a l d o , B i o z i n h o , D. Odete, Rosa e Tony - p o r t a s de a c e i r o s que dão no mar.

A Márcia, A d a l b e r t o e D a r c i - p e l o s préstimos e empréstimos, de c a r r o s , de r i s o s e forças.

A Cidoca e Sheva - p e l o s i n c e n t i v o s dos p r i m e i r o s c o c h i c h o s da r o t a .

Ao SEDUP - p e l a impressão dos Cordéis.

Ao Grupo do PEASEP - p a r t i c u l a r m e n t e a Paulo e Jorge - p o r t o d o o a p o i o e a t r a v e s s i a dos lamaçais.

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A Seu Rubens e demais m o t o r i s t a s da UFPb - p e l a g e n t i l e z a com que nos c o n d u z i r a m .

A Solha - p e l o e n c o r a j a m e n t o ao t e a t r o . A Mário e Ribamar - p e l o s e s c l a r e c i m e n t o s .

A L a e r t e - p e l a revisão lingüística e tolerância. A Ramalho - p e l a d a t i l o g r a f i a e camaradagem.

A Galega - p o r t o d o s os desempenhos onde eu f a l h e i , mas p r i n c i p a l m e n -t e , p o r m u i -t o mais... A Mãe p e l o s agrados e h o r a s de e s -p e r a . A P a i - com quem a p r e n d i a q u e r e r . . . e s t e t r a b a l h o .

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R e f l e t i r s o b r e as i d e o l o g i a s dos t r a b a l h a d o r e s em f a s e s d e t e r m i n a d a s da evolução do c a p i t a l i s m o tem-se constituído mot i v o de e s mot u d o s e de conmotrovérsias, ao l o n g o da hismotória da d i -visão campo-cidade. S i t u a r , d e n t r e essas i d e o l o g i a s , a q u e l a s que apresentam o r g a n i c i d a d e , vem, nos últimos tempos, p a r t i c u l a r -mente a p a r t i r das proposições g r a m s c i a n a s , ocupando espaços

cada vez m a i o r e s e n t r e os educadores. Identificãlas no u n i v e r so da cognição e da e m o c i o n a l i d a d e dos pequenos p r o d u t o r e s r u r a i s , parece se impor como d e s a f i o ã educação r u r a l . São i d e o l o g i a s c u j a s e s p e c i f i c i d a d e s exigem de q u a l q u e r e s t u d i o s o — p r i n c i p a l m e n t e dos que se i n i c i a m — um r e p e n s a r sobre a t o t a l i d a de s o c i a l , o que s i g n i f i c a d i z e r b u s c a r na s o c i o l o g i a o i n s t r u -m e n t a l teórico necessário à sua co-mpreensão. AÍ, se s i t u a

p r e s e n t e t r a b a l h o que se d e s e n v o l v e no p r e s s u p o s t o de que as v i

soes camponesas r e l a t i v a s ã t e r r a , ao poder e ao mercado se c a r a c t e r i z a m como orgânicas, i s t o ê, como i d e o l o g i a s v i n c u l a d a s

a uma c l a s s e f u n d a m e n t a l , h i s t o r i c a m e n t e necessárias às e s t r u -t u r a s económicas e com poder o r g a n i z a -t i v o (Conf. GRAMSCI, 1978b : 6 5 ) . Desta forma, são e s t a s i d e o l o g i a s tomadas como c o n s t i t u t i v a s do o b j e t o d e s t e e s t u d o . Do empenho, n e l e c o n t i d o , em e f e -t i v a r - s e a p e s q u i s a como serviço e d u c a c i o n a l r e s u l -t o u o uso do T e a t r o e do C o r d e l ( t r a d i c i o n a l i n s t r u m e n t o de comunicação e n -t r e os -t r a b a l h a d o r e s r u r a i s n o r d e s -t i n o s ) como r e c u r s o s de a p o i o

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ã Pesquisa-Ação. Sobre t a l p r o c e s s o e seus r e s u l t a d o s , desenvo]. ve-se a análise que o b j e t i v a , s o b r e t u d o , d e s t a c a r espaços ou f e nômenos ideológicos que possam s e r v i r , p o s t e r i o r m e n t e , como v e r t e n t e s ou m a t r i z e s na seleção de conteúdos e d u c a c i o n a i s d e n t r o ou f o r a da e s c o l a r u r a l .

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Página

INTRODUÇÃO 1

I a PARTE: CONSIDERAÇÕES TEÕRICO-METODOLÕGICAS 9

Capítulo 1 - CONCEITOS TEMÁTICOS 13 1.1 A i d e o l o g i a : concepções e c r i -térios 14 1.2 0 pequeno p r o d u t o r r u r a l : p a -râmetros e delimitação 2 4 Capítulo 2 - A PESQUISA 33 2.1 O o b j e t o 34 2.2 Caracterização dos s u j e i t o s .. 38 2.3 Da investigação 51 I I - PARTE: 0 INVENTARIO: UMA LEITURA INTERPRETATIVA 71

Capítulo 3 - 0 CALO, O TETO E O PÃO 74 Capítulo 4 - A TERRA NO PATAMAR DO PODER 88

Capítulo 5 - HOMENS E LUBISOMENS 118

CONCLUSÕES 14 3

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INTRODUÇÃO

O padrão de d e s e n v o l v i m e n t o econômico e a f a s e do c a p i t a l i s m o que c a r a c t e r i z a m a a t u a l s o c i e d a d e b r a s i l e i r a , p a r t i -c u l a r m e n t e no -campo, as -contradições i n e r e n t e s a e s t e modo de produção, bem como a q u e l a s que se e s p e c i f i c a m na relação t e r r a

c a p i t a l , as fragmentações e incoerências próprias das i d e o l o -g i a s não s i s t e m a t i z a d a s ou abstraídas da r e a l i d a d e empírica e, a i n d a , p o t e n c i a l i d a d e s e empreendimentos camponeses que se s i -tuam na l u t a de c l a s s e s c o n s t i t u e m f a t o r e s s i g n i f i c a t i v o s no p r e s e n t e t r a b a l h o .

T a i s f a t o r e s , e x p r e s s o s na síntese de uma dada r e a l i d a -de, ao longo de uma p r e t e n s a prática e d u c a c i o n a l , p o r nós

an-t e r i o r m e n an-t e v i v i d a em comunidades r u r a i s , foram c o n f i g u r a n d o problemas e d i f i c u l d a d e s que provocaram a n e c e s s i d a d e de uma

reflexão mais e l a b o r a d a , a q u a l , d e n t r o dos nossos l i m i t e s p e s -s o a i -s , a q u i -se m a t e r i a l i z a em t o r n o do tema " i d e o l o g i a " .

S i t u a r a i d e o l o g i a nas d o u t r i n a s pedagógicas, bem como nas análises ou proposições a p r e s e n t a d a s p o r a q u e l e s que, em nosso meio, têm-se v o l t a d o p a r a a educação r u r a l , esperamos, possa j u s t i f i c a r a atenção, a q u i d i s p e n s a d a , ao tema em a p r e -ço.

Entendemos que, nas d o u t r i n a s pedagógicas, p o d e r - s e - i a m i d e n t i f i c a r três d i f e r e n t e s formas de conceber a educação, quan do a a n a l i s a m o s em relação ã i d e o l o g i a : concepções em que as

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i d e o l o g i a s são c o n s i d e r a d a s como homogêneas ou u n i v e r s a i s nas s o c i e d a d e s em que c i r c u l a m ; concepções em que essas i d e o l o g i a s são i n t e r p r e t a d a s , predominantemente, como p r o d u z i d a s na c l a s s e hegemônica e p o r o u t r a s r e p r o d u z i d a s ; e, f i n a l m e n t e , aquelas concepções em que as i d e o l o g i a s são p e r c e b i d a s em suas d i v e r s i d a -des, compatíveis, p o i s , com as várias c l a s s e s s o c i a i s antagôni-cas de uma formação econômico-social, as q u a i s as produzem e as contrapõem, i n c l u s i v e através da educação.

Assim, e m j o r i m e i r o l u g a r , têm-se a q u e l a s concepções em que os conteúdos ideológicos d i f u n d i d o s como v a l o r e s e normas s o c i a i s confundem-se com os conteúdos e d u c a c i o n a i s , de maneira que a forma como se e x e r c e o poder p a r a r e p r o d u z i r essas i d e o

l o g i a s v a i c o n s t i t u i r o próprio p r o c e s s o e d u c a t i v o . Aí, a i n -ternalização das i d e o l o g i a s p r o d u z i d a s e d i f u n d i d a s p e l a c l a s s e hegemônica ê v i s t a como devendo se p r o c e s s a r o r a c o e r c i t i v a m e n -t e , como sugere DURKHEIM (Conf. 1978:5), o r a democra-ticamen-te como defende DEWEY (Conf. FREITAG, 1980: 18 e 1 9 ) . Assim, esses teóricos, não p a r t i c u l a r i z a n d o as i d e o l o g i a s , t r a t a m - n a como concepção unitária de uma sociedade homogênea.

Já a q u e l e s que percebem que os princípios, v a l o r e s e normas, p r e d o m i n a n t e s em uma formação econômicosocial, t r a d u -zem a i d e o l o g i a dominante e a apresentam como condição p a r a a reprodução d e s t a e s t r u t u r a g l o b a l , dispensam ã i d e o l o g i a a atenção d e v i d a . E n t r e e s t e s , s i t u a m - s e ALTHUSSER e BOURDIEU, c u j a s t e o r i a s f o c a l i z a m o modo como o p o d e r ê usado p a r a s e r -v i r de mediação e n t r e a educação e os i n t e r e s s e s do c a p i t a l .

(Conf. GIROUX, 1983:35).

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l o g i a , que e x t r a p o l a , i n c l u s i v e , os teóricos da reprodução (acima a b o r d a d o s ) , tem-se, f i n a l m e n t e , a educação numa p e r s p e c t i v a eman cipatôria. E n t r e a q u e l e s que assim percebem, d e s t a c a - s e GRAMSCT, o q u a l entende s e r a educação a passagem de um nível mais e l e -mentar p a r a o u t r o s u p e r i o r da i d e o l o g i a (Conf. SNYDERS, 1977:280). Concebendo e s t a de modo a fazê-la e q u i v a l e r a " f i l o s o f i a s " , "con cepções de mundo", "sistemas de pensamento" e "formas de consciência" (Conf. HALL, e t a l l i , 1983:61), u t i l i z a s e e l e do c a -ráter de o r g a n i c i d a d e que d e t e r m i n a d a s i d e o l o g i a s apresentam — p e l a sua capacidade de transformação do modo de produção — co-mo critério p a r a validá-las. Deste co-modo, não se v a l e esse

au-t o r , p a r a au-t a l validação, de oposições como f a l s o x v e r d a d e i r o como o f e z LUKÂCS (Conf. 1974:63) ou de o u t r a s t a n t a s , t a i s c o -mo r e a l x ilusório, c o n s c i e n t e x i n c o n s c i e n t e co-mo procede ALTHUSSER (Conf. 1983:85, 1979a:194214, r e s p e c t i v a m e n t e ) . U t i

-l i z a n d o a c-lassificação de i d e o -l o g i a s arbitrárias e orgânicas, Gramsci nos a p r e s e n t a como características d e s t a s últimas o f a t o de serem e l a s necessárias às e s t r u t u r a s económicas, v i n c u l a das a uma c l a s s e f u n d a m e n t a l e com poder s o c i a l m e n t e o r g a n i z a -t i v o . (Conf. GRAMSCI, 1978b:65)

Em se t r a t a n d o de pequenos p r o d u t o r e s r u r a i s — s u j e i -t o s de nossa p e s q u i s a — , -t a i s concepções nos levam à adoção do p r e s s u p o s t o de que suas i d e o l o g i a s r e l a t i v a s â t e r r a , ao po-der e ao mercado, ao a p r e s e n t a r e m t a i s características, pode-rão s e r c o n s i d e r a d a s como i d e o l o g i a s orgânicas, passando e s t a s a se constituírem como o b j e t o do nosso t r a b a l h o .

Na l i t e r a t u r a r e l a t i v a à educação r u r a l no B r a s i l , des-crições e a n a l i s e s que, embora nos últimos anos tenham

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apresen-t a d o s i g n i f i c a apresen-t i v o avanço, parecem e v i d e n c i a r lacunas que se nos apresentam como d e s a f i o s p r o f i s s i o n a i s . São informações,

c r i t i c a s e proposições, i n d i c a t i v a s de um conhecimento que l i -b e r a a pedagogia de o u t r a s áreas do sa-ber ao mesmo tempo em que e n f a t i z a v a z i o s que l h e são específicos no que tange ao homem

r u r a l .

Percebe-se, e n t r e t e x t o s d i v u l g a d o s , que o t r a t a m e n t o sociológico tem ocupado espaços cada vez m a i o r e s . São e s t u d i o -sos que vêm se empenhando, com b a s t a n t e êxito, em p e s q u i s a s e reflexões r e l a t i v a s ao que c l a s s i f i c a m o s como inserção da edu-cação no d e s e n v o l v i m e n t o r u r a l e g l o b a l de nossa s o c i e d a d e . Destacamos a q u i t r a b a l h o s como os de J u l i e t a Calazans, de José de Sousa M a r t i n s e de João Bosco P i n t o , e n t r e o u t r o s (Conf.

1981: 161162, 1975:83102, 1981:6599 e 1984:85110, r e s p e c t i -vamente). Constatamos, nessa l i t e r a t u r a , c o n q u i s t a s v a l o r o s a s em direção a superação da d i c o t o m i a e n t r e educação e v i d a r u -r a l . A p a -r t i -r dessas cont-ribuições, pode-remos s u p -r i -r algumas n e c e s s i d a d e s f u n d a m e n t a i s específicas da educação r u r a l , p a r

-t i c u l a r m e n -t e , a q u e l a s que dizem r e s p e i -t o ao conhecimen-to da m a t e r i a l i d a d e do p r o c e s s o e d u c a t i v o no campo. Nessas e l a b o r a

-ções, são enfocadas as relações s o c i a i s de produção, s o b r e t u d o em seus a s p e c t o s mais o b j e t i v o s , sem o que as t r a d i c i o n a i s e s peculações a n u l a r i a m q u a l q u e r produção de um conhecimento r e a l -mente pedagógico.

Na p e r s p e c t i v a antropológica, também contamos com a l g u -mas contribuições, d e n t r e as q u a i s , as a p r e s e n t a d a s p o r CARLOS BRANDÃO consideramos como expoente (Conf. 19 83: p a r t i c u l a r m e n t e

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q u i s a e interpretação da c u l t u r a p o p u l a r r u r a l . Sem d e s c o n s i d e -r a -r a q u e l a s bases m a t e -r i a i s da s u p e -r e s t -r u t u -r a em que se s i t u a m , denotam t a i s t r a b a l h o s as r i q u e z a s da herança c u l t u r a l que a memória c o l e t i v a vem acumulando e r e e d i t a n d o ao longo de sua história. Parecem a i n d a t r a z e r ã discussão uma p o s t u r a aliení-gena que t e r i a a f e t a d o a e s c o l a r u r a l .

P a r t i c u l a r i z a n d o s e a região n o r d e s t i n a , com r a r a s e x ceções, um volume b a s t a n t e deficitário de e s t u d o s s i s t e m a t i z a -dores sobre o a s s u n t o nos p a r e c e um t a n t o p a r a d o x a l , p o i s que o volume de p r o j e t o s c e n t r a d o s na educação r u r a l , é b a s t a n t e s i g n i f i c a t i v o (EDURAL, P0LON0RDESTE, FUNDAÇÃO EDUCAR, e n t r e o u -t r o s ) . Den-tro dos l i m i -t e s do nosso conhecimen-to, r e g i s -t r a m o s r e latórios, análises e depoimentos de vários grupos a t u a n t e s , l i gados ao MEC (Conf. 1986) às S e c r e t a r i a s de Educação, à E x t e n -são Universitária, bem como a o u t r a s instituições que atuam pa-r a l e l a m e n t e ao s i s t e m a o f i c i a l . A q u a l i d a d e de t a i s t pa-r a b a l h o s

( s a l v o r a r a s exceções), p a r e c e , não vem atendendo às e x p e c t a t i -vas ou exigências dos próprios técnicos p r o m o t o r e s e/ou execu-t o r e s de execu-t a i s i n i c i a execu-t i v a s .

Em nossas experiências com populações r u r a i s , q u e r a t r a vés da S e c r e t a r i a de Educação da Paraíba, quer através da Exten são Universitária, m u i t a s das concepções que r e f e r e n c i a v a m nos-sa prática foram a b a l a d a s , o que nos p e r m i t e uma melhor compre-ensão das insatisfações a l u d i d a s . Revelaram-se essas concepções como idealizações ou c a r i c a t u r a s a s s i m i l a d a s ao l o n g o do tem-po, mesmo sem o a v a l de nossa consciência.

F a l a - s e da p s i c o l o g i a do camponês, da e s p e c i f i c i d a d e de sua i d e o l o g i a , de sua resistência ã inovação. Invoca-se a

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Conforme a ótica da reflexão, políticas e d u c a c i o n a i s são d e f i n i d a s , conteúdos e d u c a c i o n a i s programados. Propõe-se uma educação r u r a l em que a t e c n o l o g i a agropecuária é v e i c u l a d a em função do l u c r o m u l t i n a c i o n a l , do i n t e r e s s e do latifúndio e da m o n o c u l t u r a . E n s a i a - s e uma educação r u r a l em que concepções políticas, m u i t a s vezes, i n s p i r a m conteúdos tão desconectados das concepções camponesas sobre suas n e c e s s i d a d e s e i n t e r e s s e s , que traduzem apenas uma f i l o s o f i a a b s t r a t a , macrocôsmica, i n a

-cessível à compreensão d a q u e l a s populações, t a n t o q u a n t o as d e s t i l a r i a s e u s i n a s i m p l a n t a d a s em seu chão. Em s e g u i d a , c r i

-t i c a - s e a -transposição de uma educação urbana p a r a o campo. De que p e s q u i s a s dispomos sobre a i d e o l o g i a do campo-nês, h o j e , p a r t i c u l a r m e n t e do pequeno p r o d u t o r r u r a l do Nordes-te?

A c r e d i t a m o s que t a i s i d e o l o g i a s não poderão s e r apenas i n f e r i d a s da m a t e r i a l i d a d e das relações de produção, vez que a história — seus resíduos, interpretações e reedições — , bem como o p s i q u i s m o i n d i v i d u a l , ao m e t a b o l i z a r e m t a i s relações, no-l a s apresentam com novos f e i t i o s .

Para estudálas, a e s t r u t u r a a q u i construída deverá e x -p r e s s a r a necessária interrelação — ou d e n u n c i a r seus d e s v i o s — e n t r e a t e o r i a e a prática, e n t r e a militância e o acadêmico, o p r o f i s s i o n a l e o polítiacadêmico, são duas p a r t e s que se p r e t e n -dem a r t i c u l a d a s . Na i f d e l a s , os c o n c e i t o s temáticos (Cap. 1.1 e 1.2) são d i s c u t i d o s , c o n f l u i n d o p a r a c o n f i g u r a r e m o r e f e r i d o o b j e t o de t r a b a l h o . Com v i s t a s a i n s t r u m e n t a l i z a r - n o s p a r a a i n

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vestigaçao — d e s e j a d a como serviço e d u c a c i o n a l (Cap. 2.3) — evocamos algumas de nossas inquietações a n t e r i o r m e n t e a l u d i d a s , à medida em que j u s t i f i c a m o s nossa adesão à Pesquisa-Ação. A l , comprometendo-nos com as concepções e princípios a p r e s e n t a d o s p o r THIOLLENT e i n t e r p r e t a n d o as suas demais proposições como a didática s u g e r i d a p a r a e s t e t i p o de p e s q u i s a , p e r m i t i m o - n o s de-l a d e s t a c a r a q u e de-l e s p r o c e d i m e n t o s p o r nós i n t e r p r e t a d o s como es s e n c i a i s à observância daquelas concepções e, assim, a s s o c i a r -l h e o " T e a t r o do O p r i m i d o " de BOAL e o C o r d e -l . Esperamos, d e s t a forma, possam e s t e s r e c u r s o s se desempenhar d e n t r o das p e c u l i a -r i d a d e s -r u -r a i s , p a -r t i c u l a -r m e n t e daquelas que dizem -r e s p e i t o a e s t a t r a d i c i o n a l forma de comunicação: o C o r d e l . Como c o n v i t e à p a l a v r a , percebemolo como responsável p e l a q u a l i d a d e da e n t r e -v i s t a . Consideramos, i g u a l m e n t e , que sua l e i t u r a , f e i t a no c a l o r e c o n t e x t o do t e a t r o , possa se a p r o x i m a r d a q u i l o que THIOLLENT

d e s i g n a como "campanha de sensibilização" (Conf. 1982:113), pois que d e v o l v e , s o c i a l i z a e a n a l i s a o dado c o l e t a d o . R e g i s t r e - s e , porém, que, o C o r d e l apesar de p r o d u z i d o no f i r m e propósit o de manpropósiter f i d e l i d a d e â mensagem, linguagem, p s i c o l o g i a e s e -qüência da e n t r e v i s t a , â q u a l c o r r e s p o n d e , não f o i t r a

t a d o como matéria de análise, p o s t o que, e s t a se e f e t i v a a p a r -t i r da f a l a o r i g i n a l do e n -t r e v i s -t a d o .

Na I l f p a r t e , p r e t e n d e s e p r o c e d e r a l e i t u r a do i n v e n -tário a r r o l a d o no e l e n c o de q u e i x a s , de dores e esperanças des-ses p r o d u t o r e s . A visão da t e r r a enquanto v a l o r - d e - u s o parece transformá-la em CALO, TETO e PÃO (Cap. 3 ) . Mas e l a é também p r o p r i e d a d e , i s t o é, relação s o c i a l que, h i e r a r q u i z a d a , v a i c o

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LUBISO-MENS (Cap. 5) temos a t e r r a mediando as t r o c a s econômicas, as q u a i s v i a b i l i z a m a apropriação do t r a b a l h o camponês p o r

aque-l e s que, diaque-luídos e disfarçados em " f a n t a s m a s " , difíceis se tornam de serem a p a l p a d o s . Desvendá-los i p r e c i s o . Mantê-los não é preciso.'

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I * PARTE

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Reconhecendo que q u a l q u e r p o s i c i o n a m e n t o metodológico v e i c u l a concepções c o n s c i e n t e m e n t e e l e i t a s ou i n c o n s c i e n t e m e n t e r e p r o d u z i d a s , o b j e t i v a m o s , a q u i , e x p l i c i t a r a q u e l a s que se c o -locam no h o r i z o n t e de nossas percepções. Traduzir-se-ão e l a s , o r a c o n c e p t u a l m e n t e , o r a como p o s t u l a d o s , p a r a se constituírem o c o n t e x t o teórico dos vários momentos a q u i c o n t i d o s . p a r t i c u

-l a r m e n t e da investigação e da p r e t e n d i d a aná-lise. Embora cada um dos e l e m e n t o s c o n s t i t u t i v o s desse c o n t e x t o mereçam atenção p a r t i c u l a r i z a d a , pretendemos que a relação i n t e l e c t u a l - p o v o se

faça o e i x o c o n d u t o r a p e r p a s s a r t o d o o t r a b a l h o , i n c l u s i v e par a a avaliação cparítica dos d e s v i o s que, i n v o l u n t a par i a m e n t e , v i e -rem a s e r c o m e t i d o s .

Parece não s e r difícil deduzirmos de GRAMSCI que a r e -lação e n t r e i n t e l e c t u a l e povo deva se r e s p a l d a r na interação e n t r e e s t r u t u r a e s u p e r e s t r u t u r a , a q u a l não se dá mecanicament e , como bem resume o seu inmecanicamentérpremecanicamente: "O carámecanicamenter do vínculo e n -t r e e s -t r u -t u r a e s u p e r e s -t r u -t u r a , r e f l e -t e - s e exa-tamen-te nas cama-das de i n t e l e c t u a i s , c u j a função é e x e r c e r esse vínculo; "PORTELLI

(1977:84). Assim, poderíamos d i z e r que os i n t e l e c t u a i s estão pa r a a q u e l e s com os q u a i s se i d e n t i f i c a m , a s s i m como a s u p e r e s t r u -t u r a es-tá p a r a a e s -t r u -t u r a . Ora, como nos demons-tra aquele au-t o r , cabe à s u p e r e s au-t r u au-t u r a o p a p e l de o r g a n i z a r a e s au-t r u au-t u r a , da q u a l não é apenas o s i m p l e s r e f l e x o (Conf. GRAMSCI, 1981:117-118). De i g u a l forma, caberá ao i n t e l e c t u a l o p a p e l de c o n f e r i r ao

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"povo-nação" a homogeneidade de sua prática e de suas visões de l a d e c o r r e n t e s , as q u a i s , como a ação que l h e s f e c u n d a , apresen tam-se desagregadas e contraditórias (Conf. GRAMSCI, 1981:15). E ê a p a r t i r de t a i s p r e s s u p o s t o s que o mesmo a u t o r d e s t a c a que o i n t e l e c t u a l "... d e s f r u t a de uma r e l a t i v a autonomia em r e l a

-ção a e s t r u t u r a sócio-econômica, da q u a l e l e não é o " r e f l e x o " v ——

p a s s i v o ( . . . ) . Na ausência de uma t a l a u t o n o m i a , e l e s C i n t e l e c

t u a i s ] permanecerão como as c l a s s e s que r e p r e s e n t a m , em um e s

tágio econômicocorporativo." PORTELLI (1977:88). Para a s u p e r a

-ção de t a l estágio, o i n t e l e c t u a l , então, "desprende-se" do a g i r e do pensar p r o c e s s a d o s ao nível e s t r u t u r a l . T o d a v i a "... j a m a i s se esquece de permanecer em c o n t a t o com "os s i m p l e s " e, melhor d i z e n d o , e n c o n t r a n e s t e c o n t a t o a f o n t e dos problemas que devem s e r estudados e r e s o l v i d o s . " GRAMSCI (1981:18).

D i a n t e dessas concepções e c o n s i d e r a n d o as práticas i n formadas p e l o p o p u l i s m o , questionamonos: q u a l a função do i n -t e l e c -t u a l na re-tórica e na operacionalização de -t a l f i l o s o f i a p o r p a r t e dos seus adeptos? O b j e t i v a n d o c o m p a t i b i l i z a r e s t a s po

sições com as acima r e s u m i d a s , t e n t e m o s , a i n d a que m u i t o sumar i a m e n t e , c a sumar a c t e sumar i z a sumar o p o p u l i s m o . Tomemos então de PAIVA, a l -gumas reflexões a q u i s i n t e t i z a d a s e c o n s i d e r a d a s como c o n f i g u r a d o r a s d e s t e movimento ou forma de atuação. Em sua análise, o po p u l i s m o é-nos d e s c r i t o como movimento em que seus adeptos e x p l i

c i t a r i a m como p r e s s u p o s t o c e n t r a l a concepção, segundo a q u a l , "... as soluções p a r a os problemas v i v i d o s p e l o "povo" d e v e r i a m p r o v i r , em última instância, do próprio povo." PAIVA (1984:2 3 3 ) . Assim, o i n t e l e c t u a l aprendendo com o povo e conduzindo-o ao pensamento crítico, através de um t r a b a l h o de propaganda, de

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" i d a ao povo" p a r a uma ação e d u c a t i v a , a l o n g o p r a z o ; a ação e d u c a t i v a como t r a b a l h o fundamentalmente de clarificação ideolô g i c a ; uma r a d i c a l a t i t u d e de não-diretividade; a p e r s p e c t i v a das relações i n t e r p e s s o a i s , e não de c l a s s e , no t r a t o do poder, onde a promoção da pessoa humana p o l a r i z a o empenho de t o d o o p r o c e s s o ; o caráter m o r a l i s t a do j u l g a m e n t o d e s t e poder e, ainda a elevação da experiência v i v i d a à condição de fundamento da v e r d a d e , t u d o s e r i a m p o i s , os a s p e c t o s c a r a c t e r i z a d o r e s do po-p u l i s m o . (Conf. PAIVA, 1984: P a s s i m ) .

A c r i t i c a f o r m u l a d a p e l a a u t o r a p a r a o t i p o de relação i n t e l e c t u a l - p o v o acima c a r a c t e r i z a d a , deverá se c o n s t i t u i r como advertência p a r a nossos p r o c e d i m e n t o s , p o i s , e s t a relação "... conduz ou s e r v e como j u s t i f i c a t i v a p a r a uma p o s t u r a i m o b i l i s t a , em relação ao t o d o s o c i a l . ( . . . ) . Por detrás de uma posição po-p u l i s t a po-pode, po-p o i s , o c u l t a r - s e um s i n u o s o a u t o r i t a r i s m o , tão mais p e r i g o s o q u a n t o menos c l a r a e i m e d i a t a m e n t e identificável" PAIVA (1984:237-238).

Dessa forma, concluímos que t a l p r o c e d i m e n t o não poder i a p poder o p o poder c i o n a poder ao i n t e l e c t u a l , nem aos que com e l e se v i n c u -lam, as condições p a r a a r e c i p r o c i d a d e do pensamento dialético, como o c o r r e nas proposições g r a m s c i a n a s , i n i c i a l m e n t e aborda-das.

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1.1 A ideologia: concepçõeò e cuitínioò

F r e n t e ã complexidade da n a t u r e z a da i d e o l o g i a e à d i -v e r s i d a d e mesmo c o n c e i t u a i com que e l a é t r a t a d a p e l o s d i -v e r s o s e s t u d i o s o s , v a l e c o n s i d e r a r a l g u n s a s p e c t o s p r e l i m i n a r e s .

Destacamos, i n i c i a l m e n t e , que do p o n t o de v i s t a de s i s -tematização de t a i s e s t u d o s "Não e x i s t e h o j e em d i a , nenhuma t e o r i a i n t e i r a m e n t e satisfatória da i d e o l o g i a " MCLENNAN (1983: 9-10).

Observa-se, na l i t e r a t u r a r e l a t i v a ao tema, que é a p a r t i r do avanço p r o p o r c i o n a d o p o r Marx, p a r t i c u l a r m e n t e em A Ideo-l o g i a AIdeo-lemã, ao d e s t a c a r a m a t e r i a Ideo-l i d a d e da i d e o Ideo-l o g i a , que se encontram contribuições s i g n i f i c a t i v a s como as de A l t h u s s e r , Lukács e Gramsci. São critérios b a s t a n t e d i f e r e n t e s os u t i l i z a dos p o r e s t e s a u t o r e s em suas elaborações c o n c e i t u a i s , mas, t o dos a a n a l i s a m a p a r t i r de uma bse m a t e r i a l .

Em A l t h u s s e r , a i d e o l o g i a é c o n c e b i d a de d i f e r e n t e s f o r mas.

Como instância do t o d o s o c i a l e l e n o - l a a p r e s e n t a como condição e s t r u t u r a l da s o c i e d a d e : "A i d e o l o g i a f a z , p o i s , o r g a n i c a m e n t e , p a r t e , como t a l , de uma t o t a l i d a d e s o c i a l . Tudo se passa como se as s o c i e d a d e s humanas não pudessem s u b s i s t i r sem essas formações específicas, esses s i s t e m a s de representações

(de d i v e r s o s níveis) que são as ideologias'.' ALTHUSSER (1979a: 2 0 5 ) . Em t a l concepção, nos chama a atenção a a m p l i t u d e atribuí da â i d e o l o g i a , a m p l i t u d e e s t a , p e c u l i a r a t o d o componente e s

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t r u t u r a l e, desse modo, parecendo e l a s e r e n t e n d i d a como a l t a -mente e n v o l v e n t e . Aí, e l a também é a n a l i s a d a como o passado da ciência: "Sem e n t r a r nos problemas das relações de uma ciência com o seu passado (ideológico) ..." (1979a: 2 0 4 ) . P o d e r i a então s e r a ciência i n t e r p r e t a d a como i n d i c a t i v o de uma p o t e n c i a l i d a -de da i d e o l o g i a , ou s e j a , como sendo a ciência e q u i v a l e n t e ao seu v i r e s e r . Mas, t a n t o a q u e l a a m p l i t u d e como e s t a s u p o s t a po t e n c i a l i d a d e , na mesma o b r a , se d e s c o n f i g u r a m , p e l o menos p a r a o educador, ganhando conotação n e g a t i v a , p o i s , A l t h u s s e r nos apre s e n t a a i d e o l o g i a como p r o f u n d a m e n t e i n c o n s c i e n t e (Conf. AL-THUSSER, 1979a:206).

P o s t e r i o r m e n t e , embora nos a f i r m e que a ciência possa n a s c e r da i d e o l o g i a , e l e a a n a l i s a em contraposição ao c o n h e c i -mento científico. R e f e r i n d o - s e à história do d e s e n v o l v i m e n t o do conhecimento, nos d i z : "Começamos a conceber e s t a história como a s s i n a l a d a p o r d e s c o n t i n u i d a d e s r a d i c a i s (por exemplo quando uma ciência nova se d e s t a c a sobre o fundo das formações ideoló-g i c a s a n t e r i o r e s ) , p o r remanejamentos p r o f u n d o s , que, se r e s p e i tam a c o n t i n u i d a d e da existência das regiões do conhecimento (e a i n d a nem sempre é o caso) inauguram em sua r u p t u r a o r e i n o de uma lógica nova, que, longe de s e r o s i m p l e s d e s e n v o l v i m e n t o , a "verdade" ou a "inversão" da a n t i g a , toma l i t e r a l m e n t e o seu

l u g a r " ALTHUSSER (1979b:46). T a l posição p o d e r i a s i g n i f i c a r um c o n v i t e ao agente político, ao e d u c a d o r , no s e n t i d o de que seu t r a b a l h o pudesse caminhar em direção a e s t a passagem, q u a l s e -j a , a da superação da i d e o l o g i a p e l a ciência e a s s i m , o b t e r a promoção humana d e s e j a d a . E n t r e t a n t o , ao eleminarmos a i d e o l o -g i a — p e l a sua r u p t u r a e p e l a inau-guração de uma ló-gica

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no-va" — com e l a se e l i m i n a r i a m u i t o d a q u i l o que se produz e que a l i m e n t a a própria alma do povo, de nossa c u l t u r a , de nossa h i s tõria, de nossas representações, do nosso p o t e n c i a l de l u t a s .

Por último, entendemos que e l e nos a p r e s e n t a a i d e o l o -g i a , não mais no âmbito da e s t r u t u r a s o c i a l nem do conhecimen-t o , e s i m como função da relação que o indivíduo manconhecimen-tém com a

realidade: "A i d e o l o g i a r e p r e s e n t a a relação imaginária dos i n d i ^ víduos com suas condições r e a i s de existência". ALTHUSSER (1983: 8 5 ) . Como se pode o b s e r v a r , não ê, n e s t a definição, o r e a l m a -n i f e s t o que está r e p r e s e -n t a d o -na i d e o l o g i a , -nem ê a relação do homem com e s t a r e a l i d a d e que c o n s t i t u i a concepção ideológica. S e r i a s i m , a i d e o l o g i a , a q u i l o que o indivíduo i m a g i n a sobre sua relação com o r e a l . Além do m a i s , vejamos que é de m a n e i r a deformada que se dá e s t a imaginação: "... t o d a i d e o l o g i a r e p r e -s e n t a , em -sua deformação n e c e -s -s a r i a m e n t e imaginária..." ALTHUS-SER (1983:88). E s t e caráter ilusório, n e g a t i v o da i d e o l o g i a é resumido p e l o mesmo a u t o r quando f o r m u l a : " I d e o l o g i a = ilusão/ alusão" (1983:88). '

Teríamos, p o r t a n t o , a i d e o l o g i a como uma relação do i n -divíduo com a r e a l i d a d e , porém, de m a n e i r a deformada, ilusória, i n c o n s c i e n t e , que se opõe â ciência e que, p o r t a n t o , p a s s a r i a a i n f o r m a r uma prática s o c i a l r e p r o d u t o r a , em que o s u j e i t o não p e r t e n c e n t e àquela c l a s s e s o c i a l que e l a b o r a o c o r p o de idéias, de conhecimentos não ideológicos capazes de e x p l i c a r e d e s v e l a r a r e a l i d a d e , e s t a r i a fadado à dominação. A i d e o l o g i a em t a l p e r s p e c t i v a é t r a t a d a de modo que" ... submerge à t e o r i a de do-minação ..." GIROUX (1983:40).

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Em Lukãcs, p a r a compreendermos a i d e o l o g i a , necessário se f a z que tenhamos mais ou menos c l a r a a relação que e l e e s t a -b e l e c e e n t r e e l a e a l g u n s c o n c e i t o s m a r x i s t a s . Um d e l e s é o de m e r c a d o r i a , c u j a caracterização, não se f a z a p a r t i r do exceden t e das n e c e s s i d a d e s de consumo do p r o d u t o r de alguma c o i s a útil, mas s i m , se fará ã proporção que um p r o d u t o se t o r n a expressão não d e l e próprio, nem daquele com o q u a l será permutado, mas sim,

de um t e r c e i r o termo. Ou s e j a , aquele d e t e r m i n a d o produto que i n i c i a l m e n t e , é apenas d e s t i n a d o ao uso, i s t o é, que tem, que ê um v a l o r - d e - u s o , passa a s e r condição de um meio de t r o c a , o que e q u i v a l e a d i z e r a s e r uma m e r c a d o r i a (Conf. MARX, 1982c:

70) .

Como é s a b i d o , o s i s t e m a de permutação, de t r o c a desses p r o d u t o s - v a l o r e s - d e - u s o -, m e d i a t i z a d o s p o r um t e r c e i r o termo

( v a l o r ) , poderá o c o r r e r em duas m o d a l i d a d e s : de m a n e i r a p a r t i c u l a r , não g e n e r a l i z a d a , e, de forma u n i v e r s a l , i s t o é, de modo a permear, a dominar t o d a a s o c i e d a d e . Neste último caso tem-se o c a p i t a l i s m o , no q u a l , as relações m e r c a n t i s não somente se ge n e r a l i z a m como dominam o corpo s o c i a l (Conf. LUKÃCS, 1974:99).

A l , o f e t i c h i s m o - poder que as c o i s a s exercem sobre as pessoas (Conf. MARX, 1982c:81) - é tomado p o r Lukãcs, de modo p a r t i c u l a r , o f e t i c h i s m o da m e r c a d o r i a , apontando-o como base p a r a o e n t e n d i m e n t o da i d e o l o g i a . Ê o próprio Lukãcs quem e x p l i c i t a t a l d e s t a q u e : "... pressupondo as análises econômicas de Marx - p a r a as questões f u n d a m e n t a i s que decorrem, p o r um l a d o , do caráter f e t i c h i s t a da m e r c a d o r i a como forma de o b j e t i v i d a d e , p o r o u t r o , do comportamento do s u j e i t o que l h e está coordenado, questões c u j a compreensão b a s t a p a r a p e r m i t i r uma visão c l a r a

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dos problemas ideológicos do c a p i t a l i s m o e do seu declínio" LUKÂCS (1974:98). Em t a i s proposições, o comportamento do s u j e i t o se v i n c u l a f o r t e m e n t e ao f e t i c h i s m o da m e r c a d o r i a . Resta-nos v e r de que forma é e x p l i c i t a d a t a l vinculação p e l o a u t o r em apre ço. No c a p i t a l i s m o , a relação m e r c a n t i l ao a s s u m i r a dominação sobre t o d o s os s e t o r e s e a s p e c t o s , o b j e t i v o s q u a n t o s u b j e t i v o s do t o d o s o c i a l , impõe i g u a l m e n t e , a transformação da força de t r a b a l h o ( e n e r g i a humana g a s t a no t r a b a l h o ) ã condição de merca dória e a submissão da consciência ã sua e s t r u t u r a . Assim, é que Lukács v a i se v a l e r da reificação que c o r r e s p o n d e ã p e r c e p -ção de que as c o i s a s , o b j e t o s , m e r c a d o r i a s sejam dotadas de ca-racterísticas s o c i a i s , humanas e a i n d a , capazes de impor e s t e fenômeno como n a t u r a l , e não como, e x t r a o r d i n a r i a m e n t e e s t r a nho. A humana relação daquele que p r o d u z , perde então suas c a racterísticas intrínsecas a p r e s e n t a n d o s e l h e como a l g o e x t e r -no, como uma relação e n t r e o b j e t o s . A descaracterização da sub-j e t i v i d a d e em função de sua obsub-jetivação, c o n s t i t u i r i a p o i s , a reificação (Conf. LUKÃCS, op. c i t . : 1 0 0 ) .

Temos, p o i s , a m e r c a d o r i a como g e n e r a l i d a d e o b j e t i v a e s u b j e t i v a do t o d o s o c i a l , i m p r i m i n d o no homem as marcas que o dispõe p a r a a a t i t u d e de v e r s e a s i próprio e as suas r e l a ções como c o i s a s e x t e r n a s a e l e . Segundo Lukãcs, d e s t a a t i t u -de, i s t o é, da reificação, é que emana a " f a l s a consciência", expressão com que e l e d e s i g n a a i d e o l o g i a . Lukács a concebe, p o i s , no c o n t e x t o da relação m e r c a n t i l , a f i r m a n d o que e s t a "Im-p r i m e a sua e s t r u t u r a a t o d a a consciência do homem" LUKÁCS (O"Im-p. c i t . : 1 1 5 ) .

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p e l a reificação, que p o r sua vez se c o n s t i t u i em r e s p o s t a ao f e t i c h i s m o da m e r c a d o r i a , não p o d e r i a s e r o u t r a , senão " f a l s a " . A i d e o l o g i a , assim c o n c e b i d a , ê apontada p o r e s t e teórico como uma força m o t r i z da história. Para t a n t o e l e r e c o r r e ao que an-t e s j a d i s s e r a E n g e l s : "... as m u i an-t a s vonan-tades i n d i v i d u a i s na história produzem na m a i o r p a r t e das vezes, r e s u l t a d o s m u i t o di^

f e r e n t e s dos r e s u l t a d o s d e s e j a d o s , p e l o que, p o r c o n s e g u i n t e , os seus móveis são apenas de importância s e c u n d a r i a p a r a os r e

-s u l t a d o -s do c o n j u n t o . " ENGELS (apud LUKÃCS, Op . c i t . : 6 0 ) .

Não sendo, p o i s , as v o n t a d e s i n d i v i d u a i s que fazem a história, r e s t a então a t r i b u i r a e s t a " f a l s a consciência" t a l poder. E é exatamente n e s t a p e r s p e c t i v a que Lukãcs d i r i g e o seu a p e l o no s e n t i d o de que s e j a e l a assim estudada (Conf. LUKÃCS Op. c i t . : 63) .

Na p e r s p e c t i v a pedagógica em que pretendemos r e f l e t i r , entendemos que a função s o c i a l da i d e o l o g i a deva se c o n s t i t u i r como c r i v o , como critério teórico p a r a a avaliação das d i f e r e n -t e s proposições r e l a -t i v a s aos c o n c e i -t o s que l h e são a-tribuídos. Contrapondo a ciência à i d e o l o g i a , parece u t i l i z a r , na d e f i n i ção d e s t a última, o critério de oposição entre o que ê tomado c o -mo verdade e f a l s i d a d e .

Ora, a i d e o l o g i a como " f a l s a consciência", como d e r i v a -ção d i r e t a do econômico,_parece não t r a z e r a p o t e n c i a l i d a d e , a esperança de que se n u t r e a educação, p a r t i c u l a r m e n t e quando comprometida, como f a t o r c o n t r i b u i n t e da transformação s o c i a l .

Reconhecemos que, na análise de Lukãcs, as bases econô-micas da gênese ideológica nos são a p r e s e n t a d a s de forma b a s t a n t e e s c l a r e c e d o r a . Ao conhecê-las, mesmo que d e n t r o dos l i m i t e s

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de nossa l e i t u r a , a d v e r t i m o n o s p a r a p e n s a r melhor a m a t e r i a l i -dade da i d e o l o g i a , de forma g l o b a l , s o c i a l . N e l e , a vinculação fisiológica e n t r e a a t i v i d a d e econômica e a i d e o l o g i a parece nos a s s e g u r a r a integração orgânica e n t r e e s t r u t u r a e s u p e r e s -t r u -t u r a , ou s e j a , a i d e o l o g i a f i c a s i -t u a d a sempre na -t o -t a l i d a d e da s o c i e d a d e . E n t r e t a n t o , apesar do r e f e r i d o a u t o r e x p r e s s a r sua _onvicção r e l a t i v a ao p r o l e t a r i a d o como mensageiro único da verdade histórica (Conf. LUKÃCS, 00. c i t . : 1 7 ) , não nos e s c l a r e ce como a i d e o l o g i a p o d e r i a se l i b e r a r das algemas do f e t i c h i s -mo e da reificação em função da construção histórica.

Em oposição a t a l visão, dado que ê exatamente no âmbi-t o da hisâmbi-tória onde é r e c o n h e c i d a a validade da ideologia, Cramsci a f i r m a : "Enquanto h i s t o r i c a m e n t e necessárias, as i d e o l o g i a s têm uma v a l i d a d e que é a v a l i d a d e "psicológica", "organizam" as massas humanas, formam o t e r r e n o em que os homens se movem, a d q u i -rem consciência de sua posição, l u t a m , etc"GRAMSCI (1978b:65).

A p l u r a l i d a d e acima r e f e r i d a - as i d e o l o g i a s - advém da distinção r e l a t i v a ã n a t u r e z a do vínculo histórico e n t r e as d i -v e r s a s formas de conceber o mundo e as e s t r u t u r a s econômicas, do que r e s u l t a a classificação em i d e o l o g i a s orgânicas e " a r b i -trárias". Neste teórico, o c o n c e i t o de orgânico é u t i l i z a d o par a d e s i g n a par o g par a u de significação que c e par t o fenômeno ou m o v i -mento tem na transformação do modo de produção (Conf. HALL e t

a l l i , 1983:62).

Para GRAMSCI, as i d e o l o g i a s orgânicas p o d e r i a m s e r c a -r a c t e -r i z a d a s p o -r se-rem h i s t o -r i c a m e n t e necessá-rias a uma e s t -r u t u r a econômica, enquanto as i d e o l o g i a s arbitrárias que se l h e s contrapõe* seriam r a c i o n a l i s t a s , " q u e r i d a s " (Conf. 1978b:65).

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Neste c o n t e x t o , podemos melhor compreender seu j u l g a m e n t o r e l a t i v o ã v a l i d a d e histórica das i d e o l o g i a s orgânicas, lembrandonos de que o critério que s e r v e de base p a r a e s t a c l a s -sificação ê um critério político, i s t o ê, r e f e r e - s e ao poder o r g a n i z a t i v o da i d e o l o g i a em que a adesão das massas a uma idéia ou movimento se c o n s t i t u i o seu critério de verdade (Conf. HALL e t a l l i . c p . c i t . : 7 1 ) .

C r i v a d a s n e s t e critério, as i d e o l o g i a s a r b i t r a r i a s , que não se v i n c u l a m a nenhuma c l a s s e f u n d a m e n t a l , são então c o n s i d e

radas de pouca ou nenhuma v a l i d a d e histórica.

O u t r a distinção que m u i t o c o n t r i b u i p a r a o e n t e n d i m e n t o do que s e j a i d e o l o g i a ê a r e l a t i v a aos seus g r a u s : "Gramsci dis_ t i n g u e d i v e r s o s graus q u a l i t a t i v o s que correspondem a d e t e r m i n a das camadas s o c i a i s : na cúpula a concepção de mundo mais e l a b o -r a d a : a f i l o s o f i a ; no nível mais b a i x o , o f o l c l o -r e . Hã e n t -r e es ses d o i s níveis e x t r e m o s , o "senso comum" e a religião". PORTEL-L I (1977:24). A diferença q u a l i t a t i v a e n t r e os vários graus é d e v i d a ao f a t o de que a concepção e l a b o r a d a p e l a c l a s s e d i r i g e n t e , ao alcançar as demais c l a s s e s , não é simplesmente c o p i a d a , f i e l m e n t e p r o n u n c i a d a , p o i s que, em t a l movimento, e l a s o f r e uma reelaboração, uma "acomodação" no s e n t i d o do temro como em-pregado p o r P i a g e t .

A f i l o s o f i a éuma direção da v o n t a d e , uma elaboração de r i g o r lógico: "0 filósofo p r o f i s s i o n a l ou técnico não só pensa com m a i o r r i g o r , com maior coerência, com maior espírito de s i s tema do que os o u t r o s homens, mas conhece t o d a a história do pensamento, i s t o é, sabe q u a i s as razões do d e s e n v o l v i m e n t o que o pensamento s o f r e u até e l e . . . " (GRAMSCI (1981:34-35).

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O c o r r e que as f i l o s o f i a s das massas, ou s e j a , o "senso comum", ao contrário das f i l o s o f i a s dos filósofos, c a r a c t e r i z a se p o r s e r uma concepção desagregada, o c a s i o n a l , acrítica e i n -c o e r e n t e (Conf. GRAMSCI, 1981:143).

Assim sendo, o "senso comum" tão n e g a t i v a m e n t e c a r a c t e r i z a d o , d e c o r r e n d o , p a r c i a l m e n t e , da função de dominação, p a r e -ce não t e r v a l i d a d e s o c i a l p a r a os seus p o r t a d o r e s . E n t r e t a n t o , a concepção gramsciana demonstra o contrário. R e t i r a n d o da l i n -guagem p o p u l a r a expressão 'tomar as c o i s a s com f i l o s o f i a ' , Gramsci c o n s i d e r a t a l interpretação como b a s t a n t e i n d i c a t i v a de uma c e r t a s a b e d o r i a p o p u l a r : "... um c o n v i t e implícito ã r e s i g -nação, a tomada de consciência de que a q u i l o que acontece é, no fundo r a c i o n a l e que assim deve s e r e n f r e n t a d o c o n c e n t r a n d o as próprias forças e não se d e i x a n d o l e v a r p e l o s i m p u l s o s i n s t i n -t i v o s e v i o l e n -t o s . . . " GRAMSCI (1981:16 e 3 3 ) .

A função prático-social do senso comum se e x e r c e de mo-do que "... a c l a s s e d i r i g e n t e busca o b t e r o c o n s e n t i m e n t o mo-dos governados através da difusão de uma i d e o l o g i a u n i f i c a d o r a , des t i n a d a a f u n c i o n a r como c i m e n t o da formação s o c i a l " FREITAG

(1980:37) .

E s t e c i m e n t o , e s t a unificação do t o d o s o c i a l c o n s t i t u i a hegemonia ou s e j a , a dominação ideológica da c l a s s e d i r i g e n -t e sobre as demais, no s e i o da s o c i e d a d e c i v i l .

Assim, p o r um l a d o , o c o n s e n t i m e n t o p o p u l a r necessário ã dominação e o "bom senso" (busca da explicação r a c i o n a l da r e a l i d a d e ) vão f a v o r e c e r a u n i d a d e ideológica da s o c i e d a d e e, p o r t a n t o , a dominação. Por o u t r o l a d o , e l e s próprios vão se cons

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c o n s e n t i m e n t o se opera e as c l a s s e s d i r i g i d a s , p o r t a n t o , têm o seu espaço, o seu momento p a r a a formação e difusão de uma c o n -t r a - i d e o l o g i a .

Ora, c o n s i d e r a n d o - s e que "Toda relação de hegemonia é n e c e s s a r i a m e n t e uma relação pedagógica..." GRAMSCI (1981:37), concluímos que, p a r a h a v e r hegemonia, n e c e s s a r i a m e n t e haverá aprendizagem e, conseqüentemente, p a r a que h a j a uma c o n t r a - i d e o l o g i a , i g u a l m e n t e terá que s e r p e l a aprendizagem.

Questionamo-nos então: d e n t r o de que parâmetros serão i d e n t i f i c a d o s os conteúdos de t a l aprendizagem contra-ideolõgi-ca? E v i d e n t e m e n t e os i n t e r e s s e s da c l a s s e t r a b a l h a d o r a irão orien t a r t a i s conteúdos, mas n e l a , p o r razões históricas, sendo a i d e o l o g i a , i n d i g e s t a , i n c o e r e n t e e d i f u s a , como d i s t i n g u i r aque l e s conteúdos contra-ideolõgicos, senão p e l o l e v a n t a m e n t o j u n t o a essa c l a s s e , c u j o s r e s u l t a d o s deverão s e r c o n f r o n t a d o s com a história, É O próprio Gramsci que nos aponta: "0 início da e l a -boração crítica é a consciência d a q u i l o que somos r e a l m e n t e , i s t o é, um "conhece-te a t i mesmo" como p r o d u t o do p r o c e s s o histó r i c o até h o j e d e s e n v o l v i d o , que d e i x o u em t i uma i n f i n i d a d e de traços, r e c e b i d o s sem benefícios no inventário" GRAMSCI (1981: 12) .

Mas i n v e n t a r i a r a história, tomar d e l a consciência, po-derá o c o r r e r d e n t r o de uma e s t r u t u r a econômica c a p i t a l i s t a em que nem sempre a hegemonia predomina e a s o c i e d a d e política se e x e r c e d i t a t o r i a l m e n t e ? Como Gramsci concebe que a e s t r u t u r a econômica e a s u p e r e s t r u t u r a não são e s f e r a s que se c o n f r o n t a m mas que se complementam, de modo que pode a p r i m e i r a p a s s a r , como momento, p a r a s e r a elaboração da segunda, em forma de consciência

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- " c a t a r s e " - (Conf. GRAMSCI, 1978b:57), a c r e d i t a m o s que s i m . Nesta s a l v a g u a r d a teórica, respaldemos nossa esperança, n a s c i d a e a l i m e n t a d a nessa imensa alma doída, mas v e r d e . E é nessa p e r s p e c t i v a que se f a z necessário que nos v o l t e m o s p a r a o pequeno p r o d u t o r r u r a l , em nosso caso, s u j e i t o nessa esperança. No tema a q u i t r a t a d o , a complexidade não é e x c l u s i v a do c o n c e i -t o de i d e o l o g i a , mas -também das concepções r e l a -t i v a s ã pequena produção.

1.2 l ! Pe.que.no pnodutoh. xunal: panãmetnot> e delimitação

No que tange à pequena produção, c o n s t a t a m o s , na l i t e r a t u r a r e l a t i v a ao tema, as mais d i f e r e n t e s posições. Nosso e s f o r ço em delimitá-la e, p o r t a n t o , em d e f i n i - l a p a r a e f e i t o d e s t e t r a b a l h o , se orientará na p e r s p e c t i v a em que tentamos nos man-t e r : a pedagógica, p o r man-t a n man-t o , s u p e r e s man-t r u man-t u r a l .

Ao p r e t e n d e r m o s e s t u d a r a i d e o l o g i a do pequeno p r o d u t o r r u r a l , com v i s t a s a uma prática pedagógica, entendemos que sua delimitação é de f u n d a m e n t a l importância, p o i s , em nossa hipó-t e s e , d e f i n i r a pequena produção s i g n i f i c a p o s i c i o n a r - s e f r e n hipó-t e à questão, tão o b s c u r a em nossas l e i t u r a s , r e l a t i v a â e s p e c i f i -c i d a d e do p r o -c e s s o e d u -c a t i v o r u r a l , d e n t r o ou f o r a da e s -c o l a .

Reconhecendo a complexidade das d i f i c u l d a d e s e x i s t e n t e s na pedagogia e também na s o c i o l o g i a , com relação a e s t a e s -p e c i f i c i d a d e , não nos -pro-pomos s u -p e r a - l a s . Pretendemos, aoenas, nos e x e r c i t a r no r e d i r e c i o n a m e n t o de algumas posições, freqüen-temente assumidas p o r p r o f i s s i o n a i s e instituições que se têm,

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pedagogicamente, v o l t a d o p a r a o campo. A l u d i m o s , p o r exemplo, àqueles que, ao se r e f e r i r e m ã educação r u r a l , o fazem e x p l i c i -t a n d o apenas, o espaço físico em que o c o r r e esse p r o c e s s o * T a l concepção p a r e c e p r e s i d i r os t r a b a l h o s r e s u l t a n t e s da política o f i c i a l da educação b r a s i l e i r a , ao l o n g o de sua história, tão bem e x p r e s s a através das S e c r e t a r i a s da Educação das u n i d a d e s f e d e r a d a s . E s t e critério "geográfico", de f a t o , v e i c u l a a nega-ção do antagonismo de c l a s s e s , em nossa s o c i e d a d e . O v a z i o dest a inconsisdestência c o n c e p dest u a l i m p e l e os seus usuários a r e c o r r e -rem ao f o l c l o r e e ao r e g i o n a l i s m o c a r i c a t u r a d o s , c u j o empenho político p r e t e n d e , no mínimo, e s v a z i a r a l u t a de c l a s s e s .

No exercício, a q u i p r e t e n d i d o , consideramos que b u s c a r nas relações sócio-políticas os elementos c o n c e i t u a i s da peque-na produção é condição necessária à busca d a q u e l a e s p e c i f i c i d a de s u p e r e s t r u t u r a l na pequena produção.

R e g i s t r a m o s , i n i c i a l m e n t e , que "... és i m p o s s i b l e d e f i -n i r l a p a l a b r a compesi-nado com u-na precisió-n a b s o l u t a d e b i d a a que son b o r r o s a s l a s d i s t i n c i o n e s en l a s márgenes de l a p r o p i a

r e a l i d a d . " MOORE (Apud LANDSBERGER, 1978:18).

D e n t r o de nossos l i m i t e s , i n t e r p r e t a m o s a existência de d o i s enfoques no t r a t o da pequena produção, ao nível da l i t e r a -t u r a : o p r i m e i r o , c u j a elaboração se dá d e n -t r o de parâme-tros e s t r u t u r a i s , e o segundo, que se c o n f i g u r a a nível da política.

Na p e r s p e c t i v a e s t r u t u r a l , os critérios d e f i n i d o r e s que predominam são tomados do âmbito da organização m a t e r i a l da p r o

dução. E n g e l s , p o r exemplo, a d e f i n e de forma b a s t a n t e r e s t r i t a : "Por pequeno p r o d u t o r entendemos a q u i o proprietário ou a r -rendatário (...) de um pedaço de t e r r a não m a i o r do que e l e pos

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sa c u l t i v a r , de modo g e r a l , com sua família, nem menor do que o que possa sustentá-lo e aos f a m i l i a r e s . " ENGELS (1981:62). Como se o b s e r v a , a medida da t e r r a é o critério p r i n c i p a l que d e f i n e , aí, a pequena produção. A p a r t i r de t a l definição, c o n s i d e r a d a a situação a t u a l dos s u j e i t o s p e r t e n c e n t e s ãs s u b c a t e g o r i a s aí c i t a d a s , f i c a r i a m excluídas da pequena produção não apenas ou-t r a s ou-t a n ou-t a s s u b c a ou-t e g o r i a s ( p a r c e i r o s , f o r e i r o s , " a l u g a d o s " e ou t r o s ) como a i n d a , p a r t e s i g n i f i c a t i v a dos próprios pequenos p r o prietários e dos pequenos arrendatários, p o i s , m u i t o s desses não mais dispõem de t e r r a s u f i c i e n t e p a r a a sustentação própria e f a m i l i a r .

Parece s e r esse critério que v a i c o n s a g r a r , na l i t e r a -t u r a , a classificação dos p r o d u -t o r e s r u r a i s em p o b r e s , médios e r i c o s , como se pode c o n s t a t a r em LENIN (Conf. 1980b, v o l . 3:128 1 3 0 ) , em MAO TSE TUNG(Conf. 1979, t . 4:383386) e em seus s e -g u i d o r e s .

D e n t r o desses parâmetros e s t r u t u r a i s , em nosso meio, SILVA nos a p r e s e n t a q u a t r o e l e m e n t o s f u n d a m e n t a i s p a r a a d e f i n i ção dessa produção, a saber: a família como unidade de p r o d u -ção, a posse t o t a l ou p a r c i a l dos i n s t r u m e n t o s de t r a b a l h o , a produção d i r e t a da subsistência e, f i n a l m e n t e , o c o n t r o l e da

t e r r a através da p r o p r i e d a d e ou da posse que m e d i a t i z a a p r o d u -ção como m e r c a d o r i a . (Conf. 1980:3). Embora reconheçamos a p e r tinência d e s t a caracterização p a r a o u t r o s f i n s , n e l a deparamo-nos com algumas d i f i c u l d a d e s . Em p r i m e i r o l u g a r , a tendência pa r a o d e s a p a r e c i m e n t o da prática do f o r o pode e x p l i c a r que o t r a b a l h a d o r , no empenho de o b t e r e s t e t i p o de c o n t r a t o , ao conse-g u i - l o , submeta-se a d e s l o c a r - s e do ambiente f a m i l i a r (dado que

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e s t e c o n t r a t o é f e i t o p o r c u r t o p r a z o e freqüentemente em l u g a -r e s d i s t a n t e s ) p a -r a , i n d i v i d u a l m e n t e , a -r -r i s c a -r - s e em seu p -r o c e s so de produção. Assim, o caráter f a m i l i a r da produção se descon f i g u r a , provocando o impasse teórico sobre a inclusão ou não de t a l s u j e i t o na pequena produção, com base nos e l e m e n t o s acima c i t a d o s . Por e s t e s , s e r i a também excluído o c o n t i n g e n t e dos t r a b a l h a d o r e s sem t e r r a que, enquanto a s s a l a r i a d o s temporários ou, enquanto desempregados e "desocupados", p a r e c e se a p r o x i

-mar d a q u i l o que MARX d e s i g n o u como l u m p e m - p r o l e t a r i a d o (Conf. O.E. v o l . 1:209), embora, s o c i a l e i d e o l o g i c a m e n t e , se a p r e s e n

tem como pequenos p r o d u t o r e s r u r a i s . . F i n a l m e n t e , a q u i r e g i s t r a -mos — e com destaque — que o p e r f i l d e s t e p r o d u t o r desenhado, a p a r t i r d a q u e l e s e l e m e n t o s c a r a c t e r i z a d o r e s , não d i r i g e a nos-sa atenção p a r a as suas relações s o c i a i s e políticas, o que pa-r a o e s t u d o da i d e o l o g i a , c e pa-r t a m e n t e s e pa-r i a conseqüente.

Como SILVA, vários o u t r o s a u t o r e s , i n c l u s i v e na sua con dição de p e s q u i s a d o r e s no N o r d e s t e , s i t u a m suas concepções no âmbito i m e d i a t o da produção. Ê o caso de SORJ, que a f i r m a : "A característica p r i n c i p a l desse g r u p o é a combinação permanente e n t r e as a t i v i d a d e s e x e r c i d a s d e n t r o do minifúndio, com a venda de sua força de t r a b a l h o a o u t r o s e s t a b e l e c i m e n t o s r u r a i s ou mesmo a empregadores u r b a n o s . " (1980:130).

Em termos s i m i l a r e s , i d e n t i f i c a m o s HEREDIA, que não só concebe a pequena produção d e n t r o do parâmetro e s t r u t u r a l , mas também n e l e v a i c o n s t i t u i r o seu o b j e t o de t r a b a l h o , d i a n t e do que d e f e n d e : "A l i t e r a t u r a e s p e c i a l i z a d a d e s t a c o u o caráter e s -pecífico que a unidade camponesa p o s s u i . Essa e s p e c i f i c i d a d e pro-vém do f a t o de que e l a é, ao mesmo tempo, u n i d a d e de produção

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e unidade de consumo..." (1979:17).

Por o u t r o l a d o , ao r e f l e t i r m o s sobre as análises e f e t i -vadas no p l a n o eminentemente político, percebemos que, ao invés de parâmetros econômico-estruturais (em que a organização desse p r o c e s s o de produção é que i n s p i r a os critérios d e f i n i d o r e s da pequena produção), as relações s o c i a i s , que se e s t a b e l e c e m a p a r t i r de t a l p r o c e s s o , vão c o n s t i t u i r o e l e m e n t o c e n t r a l de t a l conceituação. Entendemos que, n e s t a p e r s p e c t i v a , se s i t u a ALAVI, o q u a l , ao a n a l i s a r os papéis desempenhados p e l a s d i f e -r e n t e s f-rações dos p -r o d u t o -r e s -r u -r a i s , nos casos da Rússia, da China e da índia, c r i t i c a o clássico uso da classificação a n t e -r i o -r m e n t e abo-rdada ( p o b -r e s , médios e -r i c o s ) , a q u a l , ao invés de v i s a r a relação de c l a s s e s , b a s e i a - s e na medida da r i q u e z a

(Conf. 1969:303). Apresentanos então, a t o t a l i d a d e s o c i a l r u -r a l d i v i d i d a em t-rês s e t o -r e s : "Temos, p o -r c o n s e g u i n t e , um s e t o -r de camponeses i n d e p e n d e n t e s e d o i s o u t r o s s e t o r e s c a r a c t e r i z a -dos p o r uma relação de senhor e s u b o r d i n a d o " ALAVI (1969:304). E s t e critério nos remete, c l a r a m e n t e , p a r a a questão da domina-ção/subordinação, o que consideramos p o r demais s i g n i f i c a t i v o p a r a e s t e t r a b a l h o .

Em nosso meio, PALMEIRA, a p a r t i r de d i v e r s o s a u t o r e s , mas p r i n c i p a l m e n t e de A l a v i , i g u a l m e n t e r e l a t i v i z a a q u e l a c l a s

-sificação, i n d i c a n d o o u t r o s critérios que e x t r a p o l a m a o r g a n i z a ção da produção (Conf. PALMEIRA, s / d ) .

PINTO, c u j o s t r a b a l h o s são comprometidos com a educação r u r a l , a p r e s e n t a - n o s as mais v a r i a d a s características ( d e n t r e e s t a s , a família como unidade de produção e consumo), através das q u a i s v a i conceber o pequeno p r o d u t o r em sua diferenciação

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das demais c l a s s e s s o c i a i s . Segundo sua visão, a p a r t i r de t a i s características, p a s s a r i a m , então, i n t e g r a r a pequena produção — o c a m p e s i n a t o : os pequenos proprietários, os peque-nos arrendatários, os p o s s e i r o s , os o c u p a n t e s , os p a r c e i r o s , os s e m t e r r a , os a s s a l a r i a d o s temporários e mesmo o proletário r u -r a l (embo-ra t e n h a e s t e a u t o -r incluído n a q u e l a s ca-racte-rísticas a família como u n i d a d e de produção e consumo) (Conf. 19 81:75-76) .

Chamanos a atenção o f a t o de a q u e l e s a u t o r e s que a t r i -buem, de forma c o n s i s t e n t e , uma m a i o r a m p l i t u d e ao c a m p e s i n a t o , fazem-no, a p a r t i r de sua confrontação com a c l a s s e que se l h e opõe. Ou s e j a , no p l a n o da política, o campesinato aparece como um t o d o , embora não homogêneo. Neste caso, p o r mais que v a r i e m as posições teóricas dos e s t u d i o s o s , que se d i v e r s i f i q u e m os mo mentos que o c o n t e x t u a l i z a m não o c o n s i d e r a m em t o r n o de suas diferenças i n t e r n a s , mas s i m , a p a r t i r de suas semelhanças. Es-t a n e c e s s i d a d e se impõe, aEs-té mesmo em MARX, que, ao Es-traEs-tá-lo po l i t i c a m e n t e , d e s i g n a - o como "saco de b a t a t a s " ou como "grande-zas homólogas" (Conf. O.E. v o l . 1:277), o u , como em HOBSBAWM, que se v a l e da idéia de um " c o n t i n u u m " p a r a se r e f e r i r a e s t e t o d o (Conf. 1978:43).

Em nosso t r a b a l h o , optamos p e l o critério i n d i c a d o p o r ALAVI, embora, em nossa interpretação da r e a l i d a d e , s i n t a m o s ne

c e s s i d a d e de, em função de sua aplicação, t e c e r a l g u n s comenta r i o s . Consideramos que o critério de subordinação/dominação p o r e l e u t i l i z a d o , embora, s u f i c i e n t e m e n t e útil ao desvelamento do antagonismo e x i s t e n t e e n t r e as c l a s s e s s o c i a i s , nos l e v a r i a , i n i c i a l m e n t e , a i n c l u i r n e l e até os proletários r u r a i s , p o i s , p a r

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t i c u l a r m e n t e e s t e s mantêm e s t e t i p o de relação, c l a r a e p l e n a -mente, em t o d o o seu p r o c e s s o de t r a b a l h o , com o agente dominan t e . A c r e d i t a m o s que e s t e s t r a b a l h a d o r e s , no e n t a n t o , têm seus i n t e r e s s e s e n e c e s s i d a d e s i d e n t i f i c a d o s mais com os dos t r a b a -l h a d o r e s urbanos (da indústria, da construção c i v i -l , a-lém de ou t r o s s e t o r e s ) do que com os pequenos p r o d u t o r e s r u r a i s . Reforça e s t a nossa interpretação a auto-percepção d e s t e s t r a b a l h a d o r e s . No e n t a n t o , r e s p a l d a d o s em t a l critério poderemos e n c o n t r a r co-mo i n d i c a t i v o de uma s u p o s t a e s p e c i f i c i d a d e camponesa, o co- moment o e a forma em que se p r o c e s s a e s moment e moment i p o de relação. Ê que e n -tendemos que, na pequena produção r u r a l , embora as relações so-c i a i s e s t e j a m s u b o r d i n a d a s aos movimentos do so-c a p i t a l , e s t e não e x e r c e seu domínio d i r e t a m e n t e a nível das relações de t r a b a

l h o . Quando i s t o o c o r r e , p r o c e s s a s e de forma p a r c i a l ( a s s a l a -r i a m e n t o tempo-rá-rio). Nossa hipótese é a de que, p a -r a e f e i t o de e s t u d o da i d e o l o g i a camponesa, t a l concepção poderá a p r e s e n t a r

grande s i g n i f i c a d o . A q u i , v a l e d e s t a c a r a l g u n s e s c l a r e c i m e n t o s r e l a t i v o s ao emprego da expressão "relações de t r a b a l h o . " Em-pregamo-la no s e n t i d o em que MARX a u t i l i z o u , ao diferenciá-las das relações de produção. Neste a u t o r , o p r o c e s s o de t r a b a l h o

"... é a t i v i d a d e d i r i g i d a com o f i m de c r i a r v a l o r e s - d e - u s o , de a p r o p r i a r os e l e m e n t o s n a t u r a i s ás n e c e s s i d a d e s humanas; ê con-dição necessária do intercâmbio m a t e r i a l e n t r e o homem e a n a t u r e z a ; é condição n a t u r a l e e t e r n a da v i d a humana ( . . . ) , sendo a n t e s comum a t o d a s as suas formas s o c i a i s . " (1982c:208). A ge-n e r a l i d a d e de t a l c o ge-n c e i t o a u t o r i z a que o coge-nsideremos como e q u i v a l e n t e do próprio t r a b a l h o e, como f o i acima e n u n c i a d o , n e l e não há i m p r e s s a q u a l q u e r forma histórica. E n t r e t a n t o , â medida

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que se p r o c e s s a a evolução da história das s o c i e d a d e s , â medida que o tomamos de forma s i t u a d a n e s t a evolução, se imprimem f o r mas p a r t i c u l a r e s de sua realização. "A a t u a l i d a d e p o i s , do p r o cesso de t r a b a l h o está em e l e e x i s t i r no c o n t e x t o de uma f o r m a -ção econômico-social dada, c u j a s características são c o r p o r i f _ i cadas na forma p e l a q u a l o t r a b a l h o está s u b o r d i n a d o ao agente s o c i a l hegemônico no p r o c e s s o p r o d u t i v o . " LIMA (1983:37). Nas sociedades c a p i t a l i s t a s , e s t a atualização do p r o c e s s o de t r a b a -l h o i m p -l i c a a subordinação d e s t e ao c a p i t a -l , agente s o c i a -l hege mônico, i s t o é, às condições que asseguram não apenas o p r o v i -mento das n e c e s s i d a d e s m a t e r i a i s da existência humana como tam-bém a g a r a n t i a de que e s t a forma de subordinação se r e p r o d u z a .

Assim, a q u e l e s u j e i t o que, em seu p r o c e s s o de t r a b a l h o agrícola ou pecuário, não e s t e j a s u b m e t i d o d i r e t a m e n t e a um do-minador p e r s o n i f i c a d o (no próprio proprietário de t e r r a s , no ca p i t a l i s t a ou no seu a g e n t e ) , mas que t e n h a suas relações so-c i a i s g e r a i s so-coordenadas p e l o so-c a p i t a l e p o r e l e e x p l o r a d o , so-cons t i t u i r i a o s u j e i t o de nosso t r a b a l h o . Ficam excluídos, p o r t a n -t o , os prole-tários r u r a i s , p o r e s -t a r e m , nesse p r o c e s s o , s u b o r d i nados ao agente do c a p i t a l , d i r e t a m e n t e . Incluídos, então, na pequena produção, teremos: o pequeno proprietário, o pequeno a r rendatãrio, o p o s s e i r o , o f o r e i r o , o m e e i r o , os s e m - t e r r a desem pregados ou "desocupados" que experimentam s i g n i f i c a t i v a a u t o -nomia no p r o c e s s o de t r a b a l h o , c u j a s relações sôcio-políticas

l h e s p e r m i t e m , i n c l u s i v e , r e f e r e n c i a r suas relações, quando da complementação de renda ( a s s a l a r i a d o s temporários).

Supomos que algumas implicações advêm desta postura. Uma d e l a s poderá s i t u a r s e já a nível da investigação, c o n v i d a n d o

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-nos a permanecermos a t e n t o s p a r a uma provável diferenciação i d e o lógica que poderemos tomar como l i m i t e e n t r e a lógica de s u b s i s tência e a lógica de acumulação. O u t r a implicação situamos na p e d a g o g i a . Entendemos que deva s e r nesses pequenos p r o d u t o r e s , assim c a r a c t e r i z a d o s , que se deverão i n s p i r a r os f i n s e d u c a c i o n a i s , ou s e j a , no c a m p e s i n a t o como um t o d o , e não nas d i f e r e n -ciações que d i s t i n g u e m as s u b c a t e g o r i a s a l u d i d a s . Em o u t r a s pa-l a v r a s : r e g i s t r a m o s a n e c e s s i d a d e de nos a d v e r t i r m o s , p a r a que os o b j e t i v o s da educação r u r a l sejam e l e i t o s , de modo que a apropriação do t r a b a l h o a nível da circulação dos p r o d u t o s e a expropriação do t r a b a l h a d o r no campo possam s e r d e s v e l a d a s . En-t r e En-t e r - s e com as diferenciações i n En-t e r n a s , ou mesmo com aquelas o r i u n d a s da divisão c i d a d e — campo ê esquecer que t a i s d i v e r s _ i dades r e s u l t a m de uma só n e c e s s i d a d e : a da expansão do c a p i t a

-l i s m o .

Por o u t r o l a d o , reconhecemos que a q u e l a s dessemelhanças e n t r e as várias s u b c a t e g o r i a s do c a m p e s i n a t o são dados de r e a l i ^ dade, impondo-se e devendo s e r c o n s i d e r a d a s , quando da seleção dos conteúdos que instrumentalizarão a consecução d a q u e l e s f i n s ou o b j e t i v o s e d u c a c i o n a i s .

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