Lusa Soares
Opitz
Obrigatoriamente
presente numprojecto
de estudo sobre a descrio,
quepretendo prosseguir,
anoo
derepresentao
que, numa certaptica,
tende a confundir-se com a dedescrio,
apareceaqui
como umesboo
quedescries
de uma mesmaimagem
tendemj
apreparar. Certamente
proveitosos
para os estudoslingusticos,
concei tos oriundos de outras reas vm, mais uma vez, mostrar uma interdisciplinaridade
que s ela autoriza uma viso interessante do conhecimento do conhecimento.
A
sensao
de"vertigem"
que, naperspectiva
de Varela e Matu-rana(1994: 11),
apropsito
do "conhecimento doconhecimento",
dada atravs da "circularit
engendre
par 1'utilisation de 1'instrumentd'analyse
pouranalyser
l'instrumentd'analyse",
leva os autores litografia
de M.C. Escher(Tekenen, 1948),
descrita daseguinte
maneira:"(...)
des mains se dessinentmutuellement,
si bien que['origine
duprocessus reste inconnu:
laquelle
est la 'vraie' main?"(cf.
imagem
emanexo).
Colocando "verdadeiro" entre aspas, os autores no
podem
deixar de se
questionar
sobre aprimaridade
doobjecto,
sugerindo
ento oquestionamento
de uma fita de Moebius. Mas nesta "circularidadeconstrutiva"
(p.
X)
aprimaridade
spoderia,
a meu ver, ser ambivalente:
repousaria,
por umlado,
num dualismoanti-transcendental,
que
abrigaria
umobjecto
construdo e umobjecto
contruinte,
e porRevista da Faculdade de Cincias Sociais e Humanas, n." 10, Lisboa, Edies Colibri, 1997,
outro lado no
jogo
que o termo "instrumento de"pressupe:
"instru mento para anlise" e "instrumento que analisa".Aqui,
e atravs precisamente de uma
analogia
representacional
(que
alitografia
deEscher...)
osujeito
ver-se-iapuramente
erradicado, o que parece noacontecer, ao ser enaltecido o "mundo
lingustico"
(cf.
citao
emnota mais
adiante).
A
posio optimista
que D. Hofstadter([1979]
1985: 775 -777)
imaginava
para o tema "sair do sistema" levava-o a dizer que"chaque
fois que vous pensez que vous tes arrivs au
bout,
il y a une nouvellevariation sur le thme 'sortir du
systme'
dont la dcouverte demandede la crativit".
Assim, ao opor um nvel I, que acha intocvel e
"auquel
se trou-vent les conventionsd'interprtation",
a um nvelE,
que o da"hierarquia entrelaada"
("enchevtre")
o autor encontra espao paraa criatividade. E como
variao,
chama eleclssica,
do seu tema(dos
dois
nveis,
de que um seriaintocvel)
que apresenta alitografia
deEscher
(Tekenen):
Dans celle-ci une main
gache
(MG) dessine une main droite (MD)tandis
qu'en
mme temps MD dessine MG. Une fois deplus
des niveauxqui
sontgnralement
consideres commehirarchiques,
celuidu dessinateur et celui de ce
qui
est dessine se retournent l'un vers1'autre et crent une hirarchie enchevtre. Le thme de ce
chapitre
rapparait
bien entendu,puisque
derrire tout cela seprofile
la main non dessine mais dessinant de M.C. Escher, crateur de MG et deMD. Escher est hors de cet espace de deux mains, ainsi que le montre
explicitement
notre schma de la gravure(fig.
135). Dans cettereprsentation
schmatique
de la gravure dEscher, vous voyez laboucle
trange
ou la Hirarchie Enchevtre dans lapartie suprieure,
et en dessous le niveau intouchable
qui
lui permet d'exister. Onpour-rait pousser
plus
loin fschrisation" de la gravure de Escher enpho-tographiant
une main la dessinant et ainsi de suite.Prevendo a
"escherizao"
de umarepresentao,
est o autor a rever-se narepetitividade
sistemtica de um nvel intocvel e issopela
mo de um
sujeito (apesar
detudo).
O
aproveitamento
ilustrativo que, nas duasinterpretaes
citadas, dada da
litografia
deEscher,
ignora
pormenores descritivos queprefiguram,
para comear, umaregularidade
estilstica do artistaholands. Lembremos ento que as mos desenhadas pertencem a dois
espaos do desenhar que no
precisam daquele
efeito deo" sugerido
porHofstadter,
por serem desdej
"escherizantes" eassim,
desdelogo,
proporem umamltipla
eprevisvel espiralidade.
Ao extravasarem de uma folha de
papel
declaradamente "feita"para o desenho
(l
esto as quatro"punaises"
afix-la),
as mos residem
igualmente
num outro espao, diferentemente sombreado, sombreadas as mos diferentemente
daquilo
que mais de imediatopare
cem desenhar (e que so os
punhos
dacamisa).
Por outro
lado,
a circularidade queesforadamente
a mo debaixo (ou a mo de
cima) pretende
expor,corresponderia
mais a umdesejo
decircularidade,
que outrempoderia pretender
ser vista comoespecular.
Por que no tratar-se, ento, darepresentao
da mesmamo
(direita
ouesquerda),
torcida de umngulo
de cento e oitentagraus para suster um ponto central
imaginrio?
Sendo assim, pareceque estariam presentes na
prpria
representao
osingredientes
quecinicamente apresentam a
representao
-como sendo
precisamente
umarepresentao.
Que
efeitos de iluso referencial possam sustentar no s umarepresentao
mas toda ainterpretao
descritiva o que deixariadesarmada
qualquer posio
no srepresentacionista
como construtivista. A no ser que a
prpria
existncia doobjecto
encerre sempre, como certamente encerra, apossibilidade
de um "centroorganizador"
(ou "centre attracteur" na
terminologia
de R.Thom)
que torna vivelou visvel a sua
prpria
construo.
Da tambm que, mesmo namutabilidade de uma
situao
observvel(ou
melhorobservante),
umobjecto
possa sempre falar dosujeito
que oconstri,
justificando
assim tanto um acto de existncia como um acto de
comunicao,
pormais mistificadores que
sejam.
Na evanescncia da
representao
(ou narepresentao
da representao)
rever-se-ia,
pois,
um acto afirmativo daprpria evoluo
doconhecimento. Dos textos que fabricam esse conhecimento dir-se-ia
que, como instncias criadoras de
lngua,
sustentam umamoldagem
e uma abertura sistmica necessariamentecontingentes
e remediavel-mente metadiscursivas.Que
doponto
de vistabiolgico
e construtivista autores comoVarela e Maturana
(op.
cit.:230)
neguemqualquer
"refernciapr--existente" ou "referncia a uma
origem",
ao mesmo tempo que valorizam o "nosso mundo
lingustico",
o quepoderia
curiosamenterevalorizar a
prpria
noo
derepresentao
sendo, neste caso,
representao
compatvel
com anoo
de "emergncia"
de um mundo.1Utilizador tambm da
noo
de"emergncia",
mas sem abando nar um ponto de vistarepresentacionista
dasquestes
cognitivas
emgeral
elingusticas
emparticular,
J. Petitot(1988: 207)
defende umaabordagem
"nonplus symbolique (logico-combinatrice)
maistopolo-gico-dynamique".
Subsidirio da teoria das catstrofes e da morfog-nese de R. Thom, e colocando-se numaperspectiva
conexionistapode
ento afirmar que
"(...)
les entitspossdant
unesmantique
sont, auniveau 'micro' - dit
sub-symbolique,
des patternscomplexes
etglo-baux d'activation dunits locales lmentaires interconnectes entre
elles et fonctionnant en
parallle".
E o autor acrescentalogo
aseguir:
"Les structures
symboliques
discrtes et srielles du niveaucomputa-tionnel 'macro'
(symboles, rgies,
infrences,etc.)
sont alorsinterpr-tes comme des structures
qualitatives,
stables etinvariantes,
mer-geant du
sub-symbolique
travers un processuscoopratif
d'aggr-gation."
Por seu
lado,
J.B. Grize(1995: 247) prope,
de formaesquem
tica,
considerar os "discours[
comme des]
reprsentations
discursi-vesqui
manifestent / desreprsentations
mentales I que lesujet
sefait de la / Ralit I dont il traite".
Ao utilizar o termo de
"representao"
e ao falar de realidadetratada,
pareceria
estar o autor confinado a umaabordagem
tradicionalmente
representacionista
dalinguagem.
Mas adupla representati
vidade que domina o esquema
supra-citado
assim como anoo
importante
deesquematizao,
que lhe estsubjacente,
vmforosa
mente modular
qualquer apreciao
mais sumria da"lgica
natural", por Grize criada.Lembre-se,
arespeito
deesquematizao,
o que dizMJ. Borel
(1988:
42):
"Dans1'optique
des recherchesneuchteloises,
1'ide de schmatisation est une notionplus souple
que celle de'modele' pour rendre compte de la part construite de toute
connaissan-ce
qui
se formule dans unlangage, quel
que soit son niveaud'abs-traction ou
d'organisation
(...)".2
1 "Cest
plutt en 'langageant' que, dans les coordinations comportamentales
que sont le langage, 1'acte de connatre fait merger un monde. Nous nous trouvons
dans ce couplage ontognique, ni comme une rfrence prexistante ni en
rfrence une origine, mais comme une transtbrmation continue dans le devenir
de notrc monde linguistique, celui que nous construisons avec dautres tres
humains."
2 Sublinhados meus.
Se a autora, nesta nota, se refere
particularmente
descrio
emantropologia
no o que retira apertinncia
de umaafirmao
apoder aplicar-se
aqualquer
descrio
como texto.Mas,
por outro
lado,
aopr
aquesto
dareferencialidade
dadescrio
e das suas"funes
discursivas",
a mesma autora (cf.Borel,
1977:87)
remetiapara a
distino geral
entre "coisa(de experincia
e de real)" e"objec
to(de
saber e dediscurso)".
Que
dizer ento dosujeito,
sacrificado entre os dois - coisa eobjecto?
Que
pretenderia
remover,pela
descrio,
aquela
nossa maiscontempornea
demanda referencial?Bibliografia
citadaBOREL, M.J., 1987- "Discours
descriptif
et rfrence", in Travaux du Centre de RecherchesSmiologiques
deNeuchtel, 53, 77 - 89., 1988 -"La
description
enanthropologie 'interprtative'",
in Travauxdu Centre de Recherches
Smiologiques
de Neuchtel, 55, 39 - 70.ESCHER, M.C. [1971] 1974
-Grafik
undZeichnungen,
Munchen, MoodsVerlag.
GRIZE, J.B., 1995-"Tablc ronde sur les
reprsentaions",
inMAHMOU-DIAN, M. (Ed.), Fondements de la recherche
linguistique:
perspectives
pistmologiques,
Cahiers de 1'ILSL, n 6, Universit de Lausanne,247-255.
HOFSTADTER, D. [1979] 1985 -Gdel, Escher, Bach. Les brins d1une
Guirlande
ternelle,
Paris,Interditions
MATURANA, M.R. et VARELA, F.J. [1992] 1994, Uarbre de la
connais-sance. Racines
biologiques
de lacomprhension
humaine, Paris,Editions
Addison-Wesley
France,S.A.PETITOT, J. [1988] 1989- "La modlisation: formalisation ou
mathmatisa-tion?
L'exemple
de1'approche
morphodynamiquc
dulangage",
inREICHLER-BGUELIN,
MJ. (Ed.),Perspectives
mthodologiques
et
pistmologiques
dans les sciences dulangage,
Bern. Frankfurt/M.,New York, Paris, Petcr
Lang,
205 - 220.Resume
Que
dans le debat actuei sur 1'laboration des universsystmiques
unemme
image
(une gravure dEscher, Tekenen, 1948)puisse
appuycr despoints
de vuc
thoriques
diffrents, montre 1'intrt de 1'illusionrprsentationnelle
et la part dusujet quelle
maintientmalgr
tout. D'un autre ct, des perspecBoucle trange
ou Hirarchie Enchevtre
(visible)
Niveau intouchable
invisible)
FIGURE 136. Schma abstrait des
Mains dessinant de M. C. Escher. En
haut, un paradoxe apparent. En bas, sa
Manuel Jos
Lopes
da
SilvaI.
Introduo
At no domnio restrito da Teoria Poltica encontramos a
polise-mia caracterstica do conceito de
representao.
Defacto,
consoanteas
perspectivas
deabordagem,
assim eleadquire
contornos noplano
existencial ou no
plano
simblico,
remetendo sucessivamente de umpara o outro.
Na
perspectiva jurdica,
arepresentao
poltica
entendida como extenso ouanalogia
darepresentao
em Direito.Na
perspectiva
antropolgica adquire
importncia
osimbolismo,
cuja
aquisio
prpria
da actividade intelectual na sua dimensoabstractiva.
Na sistmica h a chamada de
ateno
para aequivalncia
entrevalor e finalidade
(definindo
umquadro
Teleolgico)
e a suarelao
com o exerccio do Poder Poltico.Finalmente,
aperspectiva
critica,
incidindo nos aspectos maisalarmantes da nossa sociedade
pos-industrial
outardo-capitalista,
levanta a
questo
dalegitimidade
nos actuais sistemaspolticos.
Considera-se finalmente a
hiptese
de que o actualcomporta
mento dos sistemas decomunicao
social contribuigrandemente
para essa crise delegitimidade.
Revista daFaculdade de Cincias Sociais eHumanas, n." 10,Lisboa, Edies Colibri, 1997,