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Academic year: 2021

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Lazer público: Reflexão e análise sobre o uso das ruas de lazer na

Zona Leste de São Paulo.

Public recreation: reflection and analysis over the use of leisure streets at São Paulo’s East Zone.

Maricel Bento Baia maricel.bento@yahoo.com.br

Orientadora: Camila Collpy Gonzalez Fernandez

RESUMO: O presente estudo tem como objetivo substanciar reflexão de como as transformações no modelo social e moral da atual sociedade e o surgimento de ideologias de consumismo globalizado podem ocasionar possíveis obstáculos na prática do lazer urbano, em específico nas ruas de lazer. Através da análise de opiniões e sugestões dos moradores da Vila Nova Curuçá, Zona Leste de São Paulo, pretende-se identificar tendências e necessidades de mudanças quanto ao uso dos espaços públicos, assim como sugerir atividades para um melhor aproveitamento e adesão à implantação das ruas de lazer na comunidade.

Palavras chaves: Lazer Urbano; Ruas de Lazer; Espaços Públicos; Cidade Contemporânea.

ABSTRACT: The present study aims to substantiate the reflection over how the transformations of the social and moral models of the current society and the uprising of ideologies of globalized consumerism can cause possible obstacles for the practice of urban recreation, specifically the leisure streets. Through the analysis of opinions and suggestions of the residents of Vila Nova Curuçá, East Zone of the city of São Paulo, this study intend to identify tendencies and changing necessities regarding the use of public spaces, as well as propose activities for better exploitation and adherence to the implantation of leisure streets at the community.

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1. Introdução

O esporte, o lazer, e a recreação hoje são os meios mais utilizados para comunicação, integração, desenvolvimento e educação entre povos de diversas raças, costumes e etnias, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida e da saúde.

Há menos de duas décadas a rua era claramente usada como o local de contato social e extensão comunitária entre moradores, baseada na ideia de algo comum e de anseios mútuos entre os mesmos, sentido este que parece estar desaparecendo rapidamente, com o crescente sentimento de insegurança, hostilidade, ameaça e vandalismo que ocorre do lado de fora das casas (HERTZBERGER, 1999).

Um balanço da Prefeitura (2012) registrou um aumento anual de requisições por ruas de lazer, como veículo propiciador de lazer, principalmente em áreas carentes. E que atualmente existem 1.245 vias oficializadas na cidade, sendo a maior concentração delas na Zona Leste de São Paulo, nos bairros do Itaim Paulista, Guaianazes, e São Miguel Paulista.

Diante do exposto, o presente estudo pretende, a partir de pesquisas teóricas, vigorar o uso das ruas de lazer como opção de divertimento, integração entre famílias e complemento às opções de lazer. Busca-se nortear estudos sobre as motivações e obstáculos à prática do lazer urbano na cidade contemporânea. Em específico, serão analisadas as opiniões dos moradores da Vila Nova Curuçá, localizada no distrito da Vila Curuçá, Zona Leste de São Paulo, com a intenção de detectar a ausência ou insuficiência de programas e espaços públicos de lazer na região, assim como a viabilidade do uso das ruas de conveniência como meio de driblar a falta de espaços de lazer gratuitos destinados às comunidades locais e à melhoria da qualidade de vida.

2. O surgimento dos espaços de lazer no meio urbano

Por questões capitalistas, o trabalho passou a ser considerado elemento qualificativo e ato de nobreza, exercendo pressão sistemática sobre as estruturas ideológicas e econômicas da civilização industrial, fundamentado sob falso moralismo contra o

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repouso, com a explícita finalidade de forçar os mais pobres a responderem aos investimentos financeiros, obrigados há aplicar seu tempo e a dedicar sua vida no comprometimento de deveres, e a saldar dívidas (ANDRADE, 2001).

Reivindicações por normas e modelos flexíveis de trabalho nas sociedades industriais avançadas capitalistas e também socialistas originaram valores no tempo livre, estimulando o desenvolvimento individual, a convivência social e o enriquecimento dos fenômenos culturais (MIRANDA, 2008, p.7). Após a Revolução Industrial, movimentos de reação e mobilização das sociedades trabalhadoras buscaram por seus direitos fundamentais, conquistando jornadas regulares de trabalho, folgas semanais, férias anuais, aposentadoria, descobrindo-se nos indivíduos a necessidade interna de repousar; por conseguinte, o lazer passou a ser considerado essencial a vida humana equilibrada, saudável e produtiva, que, por natureza, apresenta-se como isento das pressões e tensões (ANDRADE, 2001). No Brasil, o lazer passou a ser visto como um direito social, a partir de 1988, com a criação do artigo 6° da Constituição Federal Brasileira, quando então o país começou a desenvolver e planejar atividades relacionadas ao lazer com maior intensidade (FLORIO, 2011).

Situado nas faixas de tempo que inter-relacionam o cumprimento das obrigações pessoais e profissionais, contraposto as pressões exercidas pelo trabalho sistemático (DUMAZEDIER, 1976), o lazer passou a ter grande importância na cidade contemporânea. Atualmente, há esforços pela defesa do lazer como meio de proteção e equilíbrio psíquico, contra excessos da cultura e da civilização de massa, e aos diversos abalos aos princípios éticos e morais (ANDRADE, 2001).

O lazer é definido por Andrade (2001) como ocupação pessoal, sem preocupação de tempo, sem obrigatoriedade de compromisso com o trabalho, com finalidade de fazer com que as pessoas se sintam à vontade e sem constrangimentos. Dumazedier (2001, p.34), reagrupou o lazer em cinco conjuntos de interesse: físicos, manuais, estéticos, intelectuais e sociais, correspondentes às categorias de problemas culturais, e define o lazer como:

(...) o conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua

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livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

E mesmo as aceleradas mudanças e o impacto esmagador das formas produtivas e da globalização, não conseguiram mudar a concepção do lazer que, para a maior parte dos trabalhadores, está relacionada ao desenvolvimento e à satisfação pessoal (MIRANDA, 2008).

As ruas são usadas como lugar de lazer desde tempos imemoriais, teatros fechados, cinemas, shoppings e clubes, nem sempre existiram, sendo que, alguns desses lugares nasceram na rua, justamente por ser aberta e pública. As pessoas iam às ruas para assistir peças, ver filmes, fazer caminhada, encontrar com amigos e brincar (MACEDO, 2006). Usada também como espaço para ações, revoluções, celebrações, ao longo de toda a história, e como um todo constitui potencialmente um espaço de possível diálogo entre moradores, servindo como extensão comunitária das moradias (HERTZBERGER, 1999). Portanto, não devemos reduzir a utilização da rua simplesmente como lugar restrito à passagem. Através dos tempos a rua se consolidou em espaço a ser utilizado coletivamente (MACEDO, 2006).

2.1 Incentivos aos meios de lazer público

As ruas de lazer tratam-se de um projeto oferecido pela Prefeitura de São Paulo, juntamente à Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação (SEME), como opção de diversão e entretenimento. Entende-se por Rua do Lazer a via pública municipal interditada ao trânsito regular de veículos em geral, para utilização pela comunidade local como área de prática desportiva, cultural e de lazer1.

Segundo a Prefeitura de São Paulo (2009), a mais antiga Rua de Lazer da capital paulista é a Rua Manoel Faria Inojosa, localizada na região de São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, surgida em 1977, devido à iniciativa de uma moradora que, à procura de maior segurança para seus 15 filhos brincarem nas ruas, por conta própria, colocou pedaços de madeira para impedir a passagem dos carros e abrir espaço para as crianças.

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Em 1996, o fechamento de ruas para atividades de lazer era autorizado individualmente pela Prefeitura. O programa Ruas de Lazer foi oficializado pelo Decreto n.º 38.872, de 21 de dezembro de 1999, que regulamenta a Lei nº 12.264, de 11 de dezembro de 1996, e dispõe sobre a implantação de áreas de lazer no perímetro urbano da Capital, permitindo o fechamento das ruas aos domingos e feriados, das 9h às 17h.

Para dar entrada ao processo de abertura de uma rua de lazer deve-se atentar às normas regulamentares exigidas no Decreto nº. 38.872 (anexo 1). Dentre os requisitos básicos, podemos destacar:

Art. 1º - Os interessados nas áreas de lazer, em vias públicas cujo trânsito de

veículos seja de pequena intensidade, poderão requerer sua implantação à Administração Regional – AR competente apresentando:

I - Croquis2 indicando a via pública, o trecho pretendido e as ruas adjacentes;

II - Abaixo-assinado contendo nome completo legível e assinatura de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos moradores do trecho da via pública escolhida, correspondendo a cada residência somente uma assinatura.

É necessária a entrega de abaixo assinado, com aprovação de pelo menos 70% dos moradores da rua em questão, a providência de croqui do local e a eleição de um(a) coordenador(a) de rua que se responsabilize pela documentação, com intermediação junto a SEME e execução de atividades. Os documentos devem ser entregues a Administração Regional (AR) competente.

Art. 2º - No trecho da via pública pretendido para área de lazer, não pode haver

igreja, hospital, pronto socorro, velório, cemitério, estacionamento coletivo, linha regular de ônibus, ponto de táxi e feiras-livres.

É vedada a criação das ruas de lazer em vias de itinerário de transporte coletivo, ruas de feiras-livres e ruas próximas ou de acesso direto a hospitais e serviços de emergência. A Companhia de Engenharia de Trafego (CET) também deve dar o aval e fornecer quatro cavaletes de madeira, para sinalização da rua.

A Prefeitura também oferece um kit básico para a realização de atividades esportivas, contendo apito, bolas de basquete, futsal, vôlei, bomba para encher bola,

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bolinhas de gude, rede de vôlei, mini trave com rede, peteca, jogos de frescobol, pega-varetas e dominó (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009).

Sobre a prática de atividades nas Ruas de Lazer, podemos destacar atividades esportivas, sociais ou manifestações culturais. As principais atividades praticadas são as recreativas e esportivas, como: basquete, voleibol, futebol, queimada, peteca, girobol, damas gigantes, baralho, damas, dominó, futebol de botão, pingue-pongue, queimada, cama-elástica, perna-de-pau, corrida de saco, dominó, dama, videokê, pula corda, pintura, música, dança, pintura de rosto, artes marciais, além de brincadeiras e apresentações artísticas.

Diversas ruas, vielas, becos e similares, abertos à circulação pública, são utilizados por moradores dos bairros da Zona Leste como espaço para recreação, sem que estejam devidamente regulamentados pela SEME, vias estas, muitas vezes fechadas por cavaletes, faixas, placas ou material improvisado pelos moradores do local. Assim como muitas ruas que são regulamentadas não oferecem nenhum tipo de atividade recreativa e não são utilizadas.

A Rua de Lazer utiliza de espaços adaptados para a vivência de atividades de diferentes conteúdos do Lazer buscando a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento pessoal e social dos sujeitos envolvidos, podem promover o convívio social mais amplo, reunir crianças, adolescentes, adultos, sem qualquer preconceito, e incentivar a adoção de hábitos saudáveis (COSTA, 2008).

Para averiguar a aprovação e adesão ao projeto em diversos bairros de Municípios de todo o país; realizou-se consulta em diversos jornais e veículos de comunicação. Por mais que a imprensa apresente em suas páginas resumo incompletos dos fatos, os jornais são bons indicadores dos temas que circulam na sociedade (LOZZA, 2002).

Em setembro de 2012, o projeto foi implantado em treze bairros da capital baiana, com oferecimento de várias atividades, entre elas, dominó, dama, futebol, futebol de botão, pintura de rostos, pula-pula, aulas de ginástica e Tai chi chuan, entre outras3.

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Na cidade de Campinas - SP, o projeto foi lançado em setembro de 2011, para estimular a prática de atividades físicas, lúdicas e recreativas. Também é oferecida capacitação aos representantes das comunidades para atuarem como monitores4. Na região metropolitana de Belo Horizonte – MG, o projeto, além de oferecer jogos recreativos e desportivos, oficinas diversas e brinquedos pedagógicos de armar e montar, contará com o apoio do Serviço Social do Comércio de Minas (SESC Minas) que, em um caminhão-palco, sediará simultaneamente apresentações de artistas locais e contratados pela entidade, com espetáculos circenses, musicais, teatrais, danças e brincadeiras5.

O projeto Viva o Centro defende a criação de ruas de lazer para as comunidades do Centro de São Paulo, com o ideal de reaver o tempo em que a rua era ponto de encontro de vizinhos, e de crianças e adolescentes brincarem sem preocupações6. A pedagoga Silvia de Mattos Gasparian7 coloca que a “iniciativa é muito importante em cidades como São Paulo, onde o espaço doméstico está cada vez menor” e afirma que:

A vivência na rua tem um impacto não só na perspectiva motora e do desenvolvimento físico da criança, mas também na questão social – no encontro e convivência com os outros é que se aprende a lidar com regras, critérios e a respeitar a vez em um jogo ou brincadeira, por exemplo.

A criação do projeto tem a intenção de recuperar o conceito da vida social organizada e da cidade como espaço integrado, socializado e amparado pelo poder público8.

Outro exemplo a ser citado, é o projeto Haarlemmer Houttuinen na Holanda (figura1), onde as “ruas de conveniência”9

estão se tornando cada vez mais frequentes em conjuntos habitacionais, permitindo o contato imediato com os

4 Conferir em: http://www.vermelho.org.br/sp/noticia.php?id_secao=39&id_noticia=164740 5 Conferir em: http://www.sescmg.com.br/index.php/programacao/rua-de-lazer

6

Conferir em: http://www.vivaocentro.org.br/publicacoes/informe/informe_252.pdf

7 Especialista em Psicologia da Educação e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). Conferir em: http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/ela-inventou-as-ruas-de-lazer/

8

Conferir em: http://www.vermelho.org.br/sp/noticia.php?id_secao=39&id_noticia=164740 9

Conveniência: Interesse, proveito, usos da sociedade. Ruas que não servem exclusivamente como via de tráfego, organizadas de modo que também há espaço para as crianças brincarem.

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transeuntes e com as atividades desenvolvidas no espaço, colaborando para que se readquira a antiga qualidade comunitária, e considerando os interesses dos pedestres. (HERTZBERGER, 1999).

2.2 Mudanças no lazer urbano

Com a evolução do capitalismo e o avanço do neoliberalismo10, Lozza (2002) coloca que a implantação do chamado Estado Mínimo11 vem deixando as instituições públicas em estado de precariedade, com políticas estatais insuficientes para dar conta da forma exclusiva que caracteriza o capitalismo nos dias atuais, estimulando crises sociais e atos de violência. As sociedades tentam encontrar formas de responder as suas próprias carências e necessidades. Silva (2008) reforça que o Estado Liberal e Social não se mostram suficientes na satisfação dos interesses e valores da atual sociedade brasileira, pela limitação de sua política assistencialista, que exige grandes despesas, revelando-se incapaz de solucionar as questões referentes à exclusão e à desigualdade social. E, em ressalva, Salis (2004) coloca que a atual “sociedade do consumo” seria um truque do Estado moderno, criado para aprisionar e educar o homem a viver num círculo vicioso de adquirir bens, sem jamais estar satisfeito.

A cidade contemporânea é muitas vezes estudada como centro econômico, administrativo e militar, tornando-se muitas vezes desconhecido seu papel como centro cultural e até mesmo familiar (DUMAZEDIER, 2008).

Sobre a cidade contemporânea, acrescenta-se a visão de Serpa (2011, p. 21):

No mundo ocidental, o lazer e o consumo das novas classes médias são os “motores” de complexas transformações urbanas, modificando áreas industriais, residenciais e comerciais decadentes, recuperando e “integrando” devolvendo novas atividades de comércio e de lazer “festivo”.

10 Neoliberalismo: doutrina econômica e política vinculada ao sistema capitalista, que tem por objetivo a retomada do crescimento da economia capitalista, através da estabilidade monetária, do crescimento do desemprego, da contenção dos salários e do aumento dos lucros.

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O Estado mínimo é um termo derivado das consequências do pensamento oriundo da Revolução Francesa e Revolução Americana, que prega o liberalismo.

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A cidade de São Paulo já enfrentou e ainda enfrenta uma série de problemas relacionados ao uso do espaço urbano. A prática do skate, por exemplo, que era visto como esporte alternativo, sofreu fortes repressões e chegou a ser proibida na cidade em 1988 pelo ex-prefeito Jânio Quadros. Com o surgimento das primeiras ruas de lazer a prática do esporte começou a ser mais bem aceita socialmente (BRANDÃO, 2007). A recente polêmica em torno da Praça Roosevelt, inaugurada em outubro de 2012, após reforma de revitalização que durou dois anos, pode ser usada como exemplo das disputas pelo uso do espaço urbano na cidade contemporânea. Skatistas e moradores debatem e negociam o uso da praça. O chão liso atrai grupos de skatistas, porém incomoda os moradores da região que reclamam o uso do espaço, rejeitando o barulho causado pelas manobras e a degradação dos bancos usados como obstáculos12.

A privatização dos espaços públicos é um problema que atinge inúmeras cidades, áreas e espaços livres de lazer, pois seu acesso tem sido restringido, com intervenções de passagens e canalizações de percursos, provocando o abandono e a desertificação de muitas áreas públicas nas periferias (SERPA, 2011). Os conjuntos habitacionais populares são exemplos de espaços públicos de uso coletivo, que são restritos aos moradores da região.

Do ponto de vista de Hertzberger (1999), os conceitos de “público e privado”, são inadequados, pois demonstram a desintegração das relações humanas básicas. O espaço público é utilizado pelos indivíduos e grupos através dos próprios interesses, e através do uso. O grau de acesso aos ambientes é uma questão de legislação, e deveria ser respeitado por comum acordo.

Em todo o país, iniciativas à margem do financiamento público e do patrocínio privado tem sua potencialidade reduzida. A insuficiência da oferta de recursos, por exemplo, comprometem o entendimento da cultura como ferramenta de expressão da identidade de uma comunidade.

Em São Paulo, a maior parte do orçamento destinado à programação da prefeitura é consumida em um único evento, a Virada Cultural, não havendo políticas de fomento

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Conferir em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1162464-moradores-querem-limitar-uso-de-skate-na-praca-roosevelt.shtml

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ao teatro, dança, música e outras atividades, esquecendo-se da cultura como área estratégica e vital para os municípios (BRITO, 2012). Com o passar dos tempos a realização dos eventos em prol do lucro e da diversão acabam por transformar a autenticidade em tradição (DUMAZEDIER, 2008).

O coordenador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (GPOPAI, 2012), considera tímidas as políticas municipais para resgatar a diversidade cultural brasileira e coloca que é preciso melhorar a atuação do Estado com ações sistemáticas e amplas. De acordo com Andrade (2001), o Estado tem sob sua responsabilidade propiciar bons ordenamentos sociais aos recursos das ofertas e à satisfação das demandas. Porém, nem todos os encargos sociais devem ser atribuídos ao poder público, podendo entrar em estado de desgaste ou de concordata13, uma vez que no Brasil, as autoridades públicas e outros pretendam usar suas vidas pessoais para firmar plataformas eleitorais.

3. Ameaças às ruas de lazer como espaços públicos

Transformações no modelo social e moral orientam o comportamento individual e tradicional familiar, causando mudanças nas práticas do lazer e do repouso. As famílias, embora permaneçam como símbolo essencial na formação da sociedade, passam por alterações em sua estrutura, e devem ser revistas qualidades e valores que as famílias não cultivam mais (ANDRADE, 2001, p.79).

Segundo Hertzberger (1999, p. 49), a melhoria de condições econômicas faz com que os vizinhos precisem menos dos outros, e a afinidade tende a diminuir à medida que aumenta a independência, em contrapartida coloca que:

A prosperidade crescente parece, por um lado, ter estimulado o individualismo, enquanto, por outro lado, permite que o coletivismo assuma proporções além da nossa compreensão...

Da mesma forma como as famílias tem problemas, o lazer familiar também possui, podendo nele serem ocultados elementos que podem funcionar como obstáculos no desenvolvimento da espontaneidade, da liberdade e criatividade dos indivíduos, os quais são meios necessários para que haja harmonia. Sendo necessário, por parte

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Concordata: tratado internacional celebrado entre a Santa Sé e um Estado, usualmente com a finalidade de assegurar direitos dos Católicos ou da Igreja Católica naquele Estado.

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dos profissionais do lazer, que estejam atentos às mudanças de humor, ideias, e demais fatos que afetam o cotidiano das famílias (ANDRADE, 2001).

Há uma geral falta de conhecimento pessoal a respeito das próprias necessidades e capacidades de repousar e divertir-se. Muitas pessoas demonstram desejo de trabalhar menos e vivenciar formas de lazer mais intensas do que lhes é possível, e por apatia ou pessimismo no convívio social ou individual, não tem programação determinada a executar ou perspectiva de realizar algo produtivo, perdem o tempo num estado de inação, revelando-se dispostos a aderir ao estado de desocupação (ANDRADE, 2001).

E mesmo com toda a tecnologia que possui, o homem moderno encontra-se condicionado ao sentimento de rejeição à sociedade, de insegurança, e com o direito de ir e vir ameaçado, devido aos crescentes casos de assaltos, sequestros, ameaças e diversas situações de violência. Preso às obrigações cotidianas e sempre ocupado, não sabe o que fazer com seu tempo livre, utilizando desse tempo livre para adquirir vícios que vão desde assistir TV, até comer, beber, drogar-se e vandalizar (SALIS, 2004).

Quanto ao fato de cada um reter do lazer, apenas o aspecto que lhe interessa, Dumazedier (2008) anuncia o tempo da mais livre expressão de si ou da pior manipulação e repressão. Pois, quanto mais isoladas as pessoas se tornarem em seu ambiente diário, mais fácil será controlá-las com decisões autoritárias (HERTZBERGER, 1999).

A desvalorização do conceito de rua pode também ser atribuída ao aumento do tráfego motorizado, a organização sem critério de áreas de acesso, a densidade reduzida de moradias (menor número de moradores por unidade), mais moradias num mesmo espaço, melhoria no tamanho e qualidade das ruas, resultando em maior tempo dentro de casa do que na rua.

Devemos manter interação social com o cotidiano, evitando separações rígidas entre habitações. As ruas devem ter qualidade para que nelas possam ser realizadas ocasiões especiais e importantes atividades da comunidade (HERTZBERGER, 1999).

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O projeto ruas de lazer esta propício a sofrer com a falta de participação dos moradores de uma localidade ou até mesmo do próprio coordenador, do conselho ou do supervisor de esportes. Muitas da ruas de lazer se sustentam e continuam vivas com os esforços dos coordenadores e da comunidade. Os coordenadores das ruas muitas vezes investem seu próprio dinheiro para obter materiais desportivos (PONTUAL, 2009).

Em entrevista com o Coordenador do projeto, Pontual (2009) diagnosticou que órgão responsável carece de informações sobre o projeto, o SEME não tem informações sobre o numero exato de ruas em funcionamento, taxa de visitação, acervo ou histórico do projeto.

Vale ressaltar que sob a ótica da arquitetura, as habitações funcionam melhor quando os espaços de conveniência funcionam bem e são receptivos, sendo possível que a atmosfera das casas se integre a atmosfera comunitária da rua, muitas vezes determinada pelo planejamento e detalhamento do layout da vizinhança. Áreas de ruas amplas podem ocasionar demasiados espaços vazios, a planta do local deve levar em conta a densidade demográfica, supondo-se o uso das áreas em diferentes situações (HERTZBERGER, 1999).

4. Lazer na Vila Curuçá

São Paulo passou por rápidas transformações econômicas no final do século XIX, as elites iniciaram ocupação das terras para uso residencial, e a extensão onde passavam as principais vias de transporte, como ferrovias, avenidas e rodovias, consideradas terras baixas pobres, insalubres e distantes foram ocupadas pela população operária, formando a identidade dominante da Zona Leste (FRUGOLI, 1999). Com o grande fluxo de novos moradores de baixa renda na região, construindo suas moradias em lotes apertados e desprovidos de infraestrutura, passaram a viver de forma precária (STELLA, 1997). Em conformidade às tendências de segregação e hierarquização do espaço da cidade, o poder público também colaborou sistematicamente para separação de classes, reforçando as barreiras e as diferenças. (FRUGOLI, 1999).

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Atualmente a Zona Leste sofre com os altos índices de criminalidade, os moradores reclamam que a falta de segurança aumentou na atual gestão do governador Geraldo Alckmin. Até agosto deste ano a Secretaria de Segurança Pública registrou 1420 roubos e 1019 furtos (REDE BRASIL ATUAL, 2012). Além da sensação de insegurança, as principais reclamações estão ligadas ao abandono dos espaços urbanos, às enchentes, à presença de mendigos e usuários de drogas, ao acúmulo de sujeira nas ruas, e ao receio de passar por certas vias depois de anoitecer (Datafolha, 2009. p.12).

A Vila Nova Curuçá, local onde foi aplicada a pesquisa, é um dos bairros do distrito de Vila Curuçá. A Vila Curuçá é um dos 16 distritos do Extremo Leste de São Paulo, com população total de 148.775 habitantes, ocupa uma área total de 9,5 km², e é coordenada pela subprefeitura de Itaim Paulista (IBGE, 2011). Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Datafolha, em 2009, indica que no distrito, a idade média da população é de 35 anos, a renda familiar não chega a dois salários mínimos, 60% da população pertence à classe Social / Econômica C, 51% da população possui nível médio de escolaridade e apenas 7% possui o ensino superior. Os principais problemas enfrentados pelo bairro não fogem muito aos demais do Extremo Leste: falta de sinalização viária, falhas de rede elétrica, lixo nas ruas e enchentes são as principais reclamações dos moradores.

O distrito tem o 8º pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os 96 distritos de São Paulo, sendo o maior motivo desta posição a falta de capacidade em gerar renda. Segundo a Secretaria de Habitação (2011), a região também possui cerca de 3 mil famílias que moram em favelas14.

Levantamentos feitos pela Secretaria Municipal de Cultura (2010)15, registraram que a Vila Curuçá retém apenas 0,85% dos equipamentos culturais públicos de São Paulo, não existindo porcentagem para pessoas beneficiadas por atividades culturais em equipamentos municipais; na região não existem salas de cinemas, museus, pontos de cultura, salas de show e concertos ou teatros.

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Conferir em: http://www.policeneto.com.br/wp-content/uploads/2012/10/CMSP_Cadernos_VILA_CURUCA-2AFweb.pdf

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Conjunto de indicadores culturais da Vila Curuçá. Disponível em: http://www.nossasaopaulo.org.br/ observatorio/regioes.php?regiao=18&distrito=86&tema=2

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Entre as opções de lazer e cultura existentes na região podemos citar o CEU Vila Curuçá, o Parque Linear Córrego Água Vermelha, a Fábrica de Cultura Vila Curuçá e o Parque Chico Mendes, além de grupos de livre iniciativa, associações culturais, e ONG´s. O grupo teatral Buraco d´Oráculo16, por exemplo, desenvolve a prática de democratizar o acesso ao teatro na região, apresentando seus espetáculos nas ruas e nos conjuntos habitacionais (COHAB e CDHU) da Zona Leste, apresentando projetos em editais de incentivo e fomento ao teatro promovidos pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo, para garantir o financiamento das apresentações e a continuidade do projeto.

Nos momentos livres, a prática mais comum de lazer dos moradores da região é passear em parques, jardins e ir a shopping centers. Quando solicitada nota para os atrativos de lazer na região a média foi de 3,4 uma das mais baixas de todos os distritos de São Paulo (IBGE, 2011).

5. Resultados da Pesquisa

O presente estudo usou de fontes secundárias (livros, periódicos, web sites) para entender a prática do lazer urbano e o uso das ruas de lazer, criando assim, alicerce para maior fundamentação e sugestão de medidas. O ponto de vista dos moradores é o melhor meio para avaliar a administração pública e o impacto de suas ações no entorno de suas moradias (DATAFOLHA, 2009), portanto, também realizou-se pesquisa quantitativa e qualitativa, através de entrevistas in loco (anexo 2) com os moradores da Vila Nova Curuçá, tendo em vista identificar hábitos e necessidades quanto a prática do lazer, fazer avaliação geral das ofertas de lazer disponíveis, medir níveis de satisfação e interesse quanto a prática do lazer nas ruas.

No questionário aplicado não se fez uso de informações socioeconômicas, uma vez que foi aplicado de forma aleatória, realizando levantamento de dados e opiniões dos moradores da comunidade em geral, considerando singularmente os grupos familiares, sem a distinção de grau de escolaridade ou classe econômica. Apenas

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dois critérios foram estabelecidos para escolha dos entrevistados, residir na Vila Nova Curuçá e estar dentro da faixa etária do público adulto (de 20 a 59 anos)17. Foram realizadas 86 entrevistas nos dias 14 e 21 do mês de setembro de 2012, datas estas escolhidas por conveniência do pesquisador. Foi elaborado, questionário estruturado com 6 questões de aspecto duplo18, 1 questão aberta, e 4 questões que permitem múltipla escolha, totalizando 12 questões. Para aplicar os questionários foram abordados transeuntes em vias de maior fluxo de pessoas, próximos a pontos de comércio e praças, como a “Pracinha do Ponto Final”, onde desembarcam e transitam vários moradores do bairro. O questionário também foi aplicado em residências (um por residência).

Após o agrupamento dos dados foi constatado que do total de 86 entrevistados, 38 são mulheres e 48 são homens. Em relação à idade dos entrevistados, 52% tem idade entre 20 a 32 anos, 37% tem idade entre 33 a 45 anos, e os demais 9% tem idade entre 46 a 59 anos.

Dentre as principais atividades de lazer praticadas aos finais de semana (gráfico 1), consentiu-se que os entrevistados assinalassem mais de uma alternativa. Do total de respostas, as atividades mais indicadas foram: participar de reuniões familiares e assistir TV (38%), frequentar bares e baladas, cinemas e passeios em parques (11%) e ao shopping (10%), ler livros (8%), praticar esportes e frequentar shows (6%), teatro e caminhadas (4%), e outras (2%). Dos que responderam outros, podemos destacadas, exposições, navegar na internet, ir a restaurantes, viajar, andar de bicicleta, fazer graffiti e jardinagem. Os entrevistados passam o tempo livre com a família (53%), com amigos (34%), sozinho (6%), com grupos (5%) e outros (3%).

Quanto à frequência aos espaços públicos de lazer, 60% afirmaram frequentar espaços públicos no bairro, enquanto 40% responderam não frequentar espaços públicos, por falta de tempo (44%), por falta de segurança (25%), por não conhecerem espaços públicos no bairro (13%), e devido ao trânsito (3%). Também foram expostos outros motivos pela não frequência (15%) como, a ausência de

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Critério utilizado pelo Ministério da Saúde, em acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). 18 Duplo: Inclui uma pergunta fechada e outra aberta sendo que a aberta sempre utilizando o “por quê?”.

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espaços públicos, serem poucos, distantes, a falta de hábito, a falta de informação e a falta de qualidade.

Existe o interesse quanto à implantação do projeto: 73% dos moradores mostraram-se demostraram-sejosos pela implantação do projeto em suas ruas e redigiram algumas palavras para justificar a resposta afirmativa, sendo elas “dar vida às ruas”, “ocupar a garotada”, “garantir atividades”, “desfrutar com segurança o convívio social”, os demais 27% não concordam com o projeto, alguns que não concordam expuseram como motivo, a obrigatoriedade da Administração Regional em promover tais espaços, o barulho, a preferência por parques e residir em avenida.

Percebe-se que o bairro não atende as necessidades dos moradores quanto às opções de lazer existentes, algumas justificativas foram: a falta de atividades, desconhecer opções, a má conservação, a falta de segurança, haver poucas opções gratuitas. A grande maioria (78%) manifestou não estar satisfeito com as opções de lazer disponíveis no bairro, enquanto os restante de 22% estão satisfeitos. É curioso que alguns dos entrevistados que disseram estar satisfeitos com as opções de lazer de seu bairro, também assinalaram o interesse de atividades de lazer em suas ruas; um dos entrevistados redigiu que “existe shopping center no bairro vizinho”, dando a entender que os shopping centers são os únicos equipamentos necessários.

Através do cruzamento de dados verificamos que dos 78% que se demonstram insatisfeitos com as opções de lazer, apenas 37% se propuseram a participar de reuniões e executar atividades de lazer nas ruas onde moram, enquanto 41% não se propuseram a serem monitores de suas ruas, alguns redigiram como motivo: a falta de tempo, o trabalho, a falta de mobilização ou não gostar (gráfico 2).

Através do cruzamento de dados da totalidade de moradores que são a favor do projeto, com os que se dispõem a monitorar suas ruas (39%) e os que não seriam monitores (34%), em suma, obtivemos proximidade entre os resultados, ou seja, nem todos os moradores que são a favor da implantação do projeto estão dispostos a atuar como monitores.

Os moradores identificaram que a comunidade precisa de várias ferramentas, do total de respostas obtivemos os resultados: (11%) parques, teatros, cursos, incentivo

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a leitura, e atividades esportivas; (10%) quadras, apresentações musicais, jogos-educativos; (9%) praças; (6%) jogos lúdicos (gráfico 3).

Quanto ao interesse de atividades nas ruas de lazer foram propostas as além de atividades esportivas, outras atividades atípicas, e os resultados foram: atividades esportivas (22%), jogos lúdicos e sarau (8%), teatro de rua e jogos recreativos (16%), apresentações musicais (17%), leitura, e outros (3%). (gráfico 4).

Considerações Finais

As crianças antes brincavam nas ruas, descalças, com bolas e correndo, em contato com a natureza e com outros moradores da rua, todos na rua se conheciam e frequentavam uns as casas dos outros. Hoje, brincam dentro de seus apartamentos, com jogos eletrônicos, e passam horas na frente do computador e da televisão, mal conhecem seus vizinhos, raramente brincam nas ruas, e quando o fazem, sempre é com a supervisão dos pais ou adultos, devido aos riscos de atropelamentos, roubos, brigas, entre outras ameaças que possam afetar a segurança e a integridade dos moradores.

Vale descrever que durante a aplicação do questionário, muitos dos adultos abordados em suas residências, em primeiro instante, demonstraram-se desconfiados e pavorosos com visitas inesperadas, consequentemente, demorando a atender a campainha, abrindo apenas janelas, ou mantendo-se afastados dos portões até saberem do assunto a ser tratado.

Percebe-se a necessidade de resgate e implantação das ruas de lazer nos bairros, com a proposta de valorizar e reaver o tempo em que a rua era ponto de encontro de pessoas, onde os vizinhos conversavam e as crianças brincavam sem preocupação.

Mesmo com as perceptíveis mudanças na prática do lazer e no comportamento da sociedade nos dias atuais, as ruas ainda simbolizam um espaço de uso comum, a maior expressividade de um bairro e a coletividade.

Uma Rua de Lazer pode servir como espaço de estímulo à prática de atividades físicas, esportivas e de lazer, além de, servir como ferramenta de integração de uma comunidade, de fortalecimento dos laços de amizade e solidariedade, contribuindo

(18)

com a inclusão social e melhor desenvolvimento educacional e familiar, e também como opção socioeconômica à população de todas as idades.

Vale ressaltar que o projeto não é uma oferta do poder público, e sim, o resultado da unificação de uma classe atuante em favor do direito ao lazer, que reivindicou pela criação de leis e políticas de incentivo para os problemas de seus bairros.

No artigo 7º do decreto nº. 38.872 (anexo 1), são eximidas as responsabilidades do Município de São Paulo, por eventuais danos causados a terceiros; as responsabilidades de zelar e preservar os equipamentos e desenvolver atividades é transpassada ao Conselhos de Rua. A viabilidade e continuidade do projeto também dependem da persistência e unificação desta classe atuante representada pelas comunidades, em continuar buscando sua autonomia e reivindicar, de forma crítica e criativa, por ferramentas e programas que ofereçam de melhorias ao bairro.

Como vimos, não existe um acompanhamento efetivo do projeto por parte da SEME à falta de informações a respeito das ruas. Entende-se que o projeto não tem recebido a merecida atenção do órgão responsável, mantendo-se imparcial às suas responsabilidades.

As pesquisas mostram que a Vila Nova Curuçá tem pouquíssimas ferramentas de lazer e cultura, e que não existe margem de moradores beneficiados pelos mesmos. Os entrevistados demonstraram-se insatisfeitos com as opções de lazer no bairro e interessados em diferentes atividades de lazer em suas ruas por serem escassas na região.

Percebe-se que as atividades são mais bem aproveitadas e dirigidas nas localidades onde as atividades são acompanhadas por monitores, profissionais capacitados, ou coordenadores de ruas devidamente capacitados.

A concentração de Ruas de Lazer na Zona Leste, e o crescente aumento de requisições pelo projeto nos leva a refletir sobre uma possível desobrigação do poder público. As ações públicas de Lazer não devem ser resumidas apenas aos domingos e feriados.

Ao mesmo tempo em que carecem espaços de lazer público na região, a população mantem-se desinformada quanto às opções existentes, por falta de interesse ou por falta de divulgação.

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É preciso melhorar a ação do Estado, no sentido de ampliar e descentralizar o acesso aos programas com financiamento público, aumentando a autonomia das Administrações Regionais – AR.

Sugere-se o planejamento e a execução de projetos de orientação comunitária que identifiquem previamente as demandas e os potenciais da comunidade, fazendo com que a comunidade participe da construção e execução das atividades, levando em consideração a necessidade de criação de um novo projeto que atenda as necessidades de reformulação das atividades dirigidas às ruas de lazer, disponibilizando equipe de profissionais de lazer ou fornecendo capacitação dos coordenadores de rua.

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(23)

Apêndice

Figura 1:Moradias Spangen. Rotterdam, 1919 / M. Brinkkman.O mesmo projeto de Haarlemmer Houttuinen na Holanda.

(24)

Anexo 1: Decreto n.º 38.872, de 21 de dezembro de 1999.

Regulamenta a Lei n.º 12.264, de 11 de dezembro de 1996, que dispõe sobre a implantação de áreas de lazer no perímetro urbano da Capital, e dá outras providências.

Celso Pitta, Prefeito do Município de São Paulo, usando das atribuições que lhe são conferidas por lei,

Decreta:

Art. 1º - Os interessados nas áreas de lazer, em vias públicas cujo trânsito de veículos seja de pequena intensidade, poderão requerer sua implantação à Administração Regional – AR competente apresentando:

I - Croquis indicando a via pública, o trecho pretendido e as ruas adjacentes;

II - Abaixo-assinado contendo nome completo legível e assinatura de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos moradores do trecho da via pública escolhida, correspondendo a cada residência somente uma assinatura.

Art. 2º - No trecho da via pública pretendido para área de lazer, não pode haver igreja, hospital, pronto socorro, velório, cemitério, estacionamento coletivo, linha regular de ônibus, ponto de táxi e feiras-livres.

Art. 3º - Recebido o requerimento, a Administração Regional - AR competente vistoriará o local e se manifestará sobre a sua viabilidade.

Parágrafo único. Sendo favorável o parecer, a Administração Regional - AR encaminhará o processo ao Departamento de Operação de Operação do Sistema Viário - DSV, da secretaria Municipal de Transportes - SMT; sendo desfavorável, deve remetê-lo diretamente à Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação - SEME;

Art. 4º - Compete ao DSV:

I - Vistoriar o local e manifestar-se sobre a possibilidade de implantação da área de lazer no tocante às implicações quanto ao trânsito local, e:

II - Elaborar, se for o caso, projeto de sinalização vertical, delimitando a via ou o trecho da via a ser regulamentada como área de lazer, indicando a localização dos cavaletes.

Art. 5º - Compete a SEME:

I - Avaliar se o pedido atende ao disposto nos artigos 1º e 2º deste decreto; II - Verificar se os pareceres da AR e DSV são favoráveis;

III - Não atendidos quaisquer dos incisos anteriores, o pedido será indeferido; IV - Na hipótese de ser atendido o pedido:

(25)

a) expedir portaria implantando a área de lazer, com prazo suficiente à colocação da sinalização necessária;

b) designar representante para acompanhar e orientar a formação do Conselho de Rua e a escolha do seu Coordenador;

c) enviar o processo ao DSV para providenciar a implantação da sinalização vertical (placas);

d) encaminhar o processo à AR, para entrega dos cavaletes ao Coordenador. Art. 6º - As áreas de lazer serão implantadas com obediência das seguintes regras: I - Funcionarão nos domingos e feriados, no horário compreendido entre 9h00min e 17h00min;

II - Durante o horário de funcionamento não será permitido o trânsito de veículos no local, exceto daqueles pertencentes aos moradores dos lotes lindeiros à área delimitada como área de lazer;

III - Será formado um Conselho de Rua, constituído majoritariamente pelos moradores da própria rua;

IV - O Conselho de Rua será responsável pelo gerenciamento das atividades da área de lazer e pela indicação de um coordenador, que o representará junto à AR e à SEME;

V - Na reunião de formação do Conselho deverá estar presente um representante da SEME;

VI - A SEME e a AR fornecerão orientação e apoio para o bom funcionamento da área de lazer;

VII - Será obrigatório o uso de cavaletes para bloqueio da via nos dias de funcionamento.

Art. 7º - Compete aos Conselhos de Rua zelar pela preservação da sinalização e dos equipamentos implantados nas áreas de lazer, bem como pelas atividades nas mesmas desenvolvidas, não sendo de responsabilidade do Município de São Paulo, eventuais danos causados a terceiros.

Art. 8º - Os Conselhos de Ruas de Lazer atualmente em atividade terão o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de publicação desde decreto, para adequar-se às suas disposições.

Art. 9º - As solicitações referentes a praças e largos, bem como a outros tipos de logradouros públicos, serão devidamente analisadas pela AR, pelo DSV e pela SEME, observados os dispositivos deste decreto.

Art. 10 - As áreas de lazer poderão ser desativadas a qualquer tempo, atendendo ao interesse público ou a pedido dos próprios moradores.

(26)

Art. 11 - Os interessados na desativação de área de lazer devem protocolizar o pedido junto à Ar, a que pertence a via de implantação, acompanhado de abaixo-assinado contendo o nome completo legível e a assinatura de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos moradores do trecho em questão.

§ 1º - A AR autuará o pedido e emitirá parecer conclusivo, enviando posteriormente à SEME.

§ 2º - Compete a SEME expedir portaria, quando for desativada a área de lazer, enviando posteriormente o processo ao DSV para retirar a sinalização.

Art. 12 - Quando a necessidade de desativação da área de lazer for detectada por órgão da SEME, SAR ou da SMT, o procedimento deverá ser providenciado pela SEME, através de processo administrativo, ouvidos previamente o DSV e AR, quando necessário.

Art. 13 - As despesas com a execução deste decreto correrão por conta de dotações orçamentárias próprias.

Art. 14 - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

(27)
(28)
(29)

13% 11% 10% 11% 11% 13% 4% 6% 6% 4% 8% 2% 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 40,74% 16,05% 37,04% 6,17% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00%

Não satisfeitos Satisfeitos

não sim Gráfico 1: Atividades de lazer praticada aos finais de semana

Gráfico 2: Satisfeito com as opções de lazer x Participação em reuniões Atividades de lazer praticada aos finais de semana

(30)

9% 11% 10% 11% 10% 11% 10% 11% 6% 11% 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12%

Gráfico 3: Percebe que sua comunidade precisa de:

Gráfico 4: Quais atividades gostaria que fossem desenvolvidas em sua rua?

Percebe que sua comunidade precisa de:

22% 8% 16% 8% 17% 16% 10% 3% 0% 5% 10% 15% 20% 25%

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