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Jornal de Estudos Espíritas - Resumo - Art. N. 010205

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Jornal de Estudos Espíritas 3, 010205 (2015) - (9pgs.) Volume 3 – 2015

Herculano Pires: A Visão Doutrinária e a Ação no Movimento

Espírita

Leonardo Marmo Moreira

1,a 1

São João del-Rei, MG.

e-mail:aleonardomarmo@gmail.com

(Recebido em 07 de Abril de 2015, publicado em 31 de Maio de 2015).

RESUMO

O Professor José Herculano Pires notabilizou-se por demonstrar grande fidelidade a Kardec e à Doutrina Espírita. Seu elevadíssimo grau de percepção intelecto-moral foi integralmente canalizado em sua ampla ação doutrinária no movimento espírita. Sua atuação múltipla no movimento espírita é muito difícil de ser resumida em um único artigo. Entretanto, divulgar o trabalho ímpar de Herculano Pires se faz necessário em vista de ser ainda pouco conhecido em nosso movimento espírita contemporâneo. Dessa forma, o presente manuscrito reúne alguns tópicos do pensamento doutrinário e da atuação enquanto espírita militante de Herculano (incluindo depoimentos de espí-ritas renomados e alguns episódios marcantes de sua vida), visando acentuar nosso estudo espírita de uma forma geral e o conhecimento sobre o trabalho de Herculano Pires assim como motivar novas iniciativas que elevem o nível de compreensão dos espíritas a respeito do legado daquele que foi considerado, de forma altamente coerente, “O Apóstolo de Kardec”.

Palavras-Chave: Herculano Pires; Allan Kardec; coerência doutrinária; evangelho; Zé Arigó.

I

I

NTRODUÇÃO

José Herculano Pires nasceu em Avaré, estado de São Paulo, em 25 de Setembro de 1914 e desencarnou no dia 9 de março de 1979 na capital paulista (São Paulo -SP) (RIZZINI, 2001). Conhecido no movimento como “Professor Herculano”, fez jus às características ineren-tes aos grandes mestres, uma vez que sua vida de 65 anos incompletos representou uma epopeia de profunda e al-tamente produtiva jornada de dedicação à Educação ( PI-RES,1992).

Herculano Pires foi filósofo formado pela Universi-dade de São Paulo (USP), professor universitário e jor-nalista por atuação desde sua juventude (FUNDAÇÃO HERCULANO PIRES, 2015). Escritor prolífico, Hercu-lano legou à humanidade mais de 80 livros sobre varia-dos temas, abrangendo, em sua grande maioria, direta ou indiretamente a Doutrina Espírita e/ou o Movimento Espírita (PROGRAMA TRANSIÇÃO,2014).

Compreendendo o valor extraordinário do legado de Allan Kardec para a Humanidade, Herculano Pires com-bateu, elegante, porém sistematicamente, a todo movi-mento de desvalorização da obra do “Codificador” do Es-piritismo, seja tal iniciativa originada de não-espíritas ou de espíritas.

Destacando-se como escritor, orador, tradutor, revi-sor, polemista, entre outras atuações, representou, em uma época de grande efervescência dentro do Movimento espírita brasileiro, uma referência de coerência doutri-nária espiritista e fidelidade às bases kardequianas. Na verdade, Herculano, seguindo os critérios de Kardec e Erasto, submetia quaisquer novas propostas a uma ri-gorosa avaliação para definir se as mesmas poderiam

ser ou não veiculadas dentro de um contexto espiritista. Ademais, Herculano foi um precursor da proposta po-pularmente conhecida como “comece pelo começo” onde, em matéria de Espiritismo, o começo, obviamente, é a Codificação.

Herculano Pires converte-se ao Espiritismo aos 22 anos, depois de uma verdadeira saga em busca de uma doutrina que representasse a filosofia de vida/diretriz de comportamento mais elevada que pudesse estar disponí-vel à humanidade. E foi assim que lendo, estudando e meditando, Herculano chega ao Espiritismo já amadu-recido por uma busca prévia bastante rica, por ter sido propiciadora de um desenvolvimento de sua capacidade crítica em relação à avaliação de pontos positivos e nega-tivos das diversas correntes de pensamento vigentes em seu tempo. Legítimo herdeiro da determinação, capaci-dade de trabalho e firmeza de caráter de Cairbar Schutel, Herculano tornou-se um epicentro de qualidade doutriná-ria para o movimento espírita paulista, brasileiro e mun-dial.

II

O P

ENSAMENTO

E

SPÍRITA E A

A

TUA

-ÇÃO NO

M

OVIMENTO

Um dos mais contundentes livros de Herculano Pires, o qual denota seu pensamento enquanto espírita e cris-tão é Revisão do Cristianismo. Na referida obra, logo na apresentação, Herculano Pires é categórico:

“HÁ UM ABISMO entre o Cristo e o Cristianismo,

tão grande quanto o abismo existente entre Jesus de Nazaré, filho de José e Maria, nascido em Nazaré, na Galiléia, e Jesus Cristo, nascido da Constelação da Virgem, na Cidade do Rei Davi em Belém da

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déia, segundo o mito hebraico do Messias. Por isso a Civilização cristã, nascida em sangue e em san-gue alimentada, não possui o Espírito de Jesus, mas o corpo mitológico do Cristo, morto e exangue. . . ”

(Herculano Pires) (PIRES,1996a).

De fato, em Revisão do Cristianismo, Herculano es-clarece que Allan Kardec e o Espiritismo contribuem na revisão do Cristianismo para que o mesmo seja ex-purgado de diversos aspectos da religiosidade espiritu-almente infantil, que ainda é marcante em nossa socie-dade. Tais aspectos incluiriam fatores como o mito, o místico (no sentido pejorativo da palavra), o superstici-oso, o mágico, o maravilhoso e o milagre, os quais sendo eliminados de nosso pensamento religioso, ou pelo menos significativamente atenuados, viabilizariam efetivamente a conquista de uma fé que seja, finalmente, raciocinada de fato, e, portanto, de caráter não somente religioso, mas também filosófico-científico.

Nessa mesma linha de raciocínio, em Agonia das Re-ligiões, Herculano Pires explica de forma bem objetiva a sua opinião sobre o chamado “problema religioso”:

“O ponto crucial do problema religioso chama-se

hi-pocrisia. E a hipocrisia resulta das atitudes egoístas, da falta de compreensão do verdadeiro sentido da Re-ligião, que é o caminho e não o ponto de chegada da espiritualização do homem. Os religiosos que pre-tendem atingir a santidade do dia para a noite, que se revestem de pureza exterior, encobrindo a podridão interior, são os hipócritas condenados veementemente no Evangelho. A solução desse grave problema, que responde pela morte cíclica das civilizações, está na compreensão da verdadeira natureza do homem, do processo natural do seu desenvolvimento espiritual. Os artifícios purificadores só servem para mascarar os indivíduos pretensiosos. As práticas ascéticas não podem ser forçadas. As paixões e os instintos do ho-mem são manifestações de forças vitais que, sob o controle da razão e do sentimento, podem e devem guiar o espírito nos rumos da transcendência”

(Her-culano Pires) (PIRES,2000).

Herculano Pires, além de ser um estudioso da Dou-trina Espírita propriamente dita, não deixava de ser um espiritista totalmente comprometido com o movimento espírita e profundamente atuante, bem como preocupado com os rumos que o movimento espírita trilhava. Pensava no momento presente do movimento, mas vislumbrava seu desenvolvimento, demonstrando um grande amor e um profundo respeito por Jesus e por Allan Kardec, como fica claro em um depoimento que ele deixou registrado com Jorge Rizzini para os espíritas do futuro.

“Bem... Se eu o encontrasse agora (Herculano

referindo-se a Allan Kardec), nesta época, quer

dizer, depois que sou espírita, então para mim seria uma coisa extraordinária porque Allan Kardec repre-senta a figura exponencial dos novos tempos na Terra. Jesus veio para implantar no mundo o Reino de Deus - e realmente ele realizou esse trabalho maravilhoso, pois o implantou no coração e na consciência dos pou-cos homens que foram capazes de compreendê-lo até hoje - e o Reino de Deus vai desenvolvendo-se

lenta-mente através dos séculos, vai realizando-se apesar dos homens. De maneira que Jesus representou essa figura extraordinária, e Kardec é o seu continuador. Kardec foi aquele que veio trabalhar na era decisiva da implantação do Reino de Deus em maior ampli-tude. Kardec é quem trouxe a revelação que o Es-pírito de Verdade transmitiu; ele trouxe essa pos-sibilidade extraordinária de abrir as perspectivas do mundo para uma era inteiramente nova que está nas-cendo aos nossos olhos neste momento, neste século vinte.” (Herculano Pires, 14/07/1972) (RIZZINI,

2001). (Grifos em negrito, meus)

De fato, Herculano Pires considerava Allan Kardec um dos maiores missionários de toda a História da Hu-manidade (e um missionário eminentemente cristão!), o que se pode inferir do comentário abaixo, extraído do primeiro parágrafo do capítulo VII, intitulado “As Revo-luções Conceptuais”, da obra O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte (PIRES,1996b):

“Os grandes revolucionários não pegam em armas.

Sócrates realizou a Revolução Filosófica da Grécia sem disparar uma flecha no mundo do seu tempo e nos mundos do futuro. Buda abandonou o Palácio Imperial e deflagrou sob a árvore da meditação a Re-volução Espiritual do Oriente que atingiu e abalou to-dos os quadrantes da Terra. Jesus de Nazaré, que não era príncipe, mas operário, desencadeou com palavras e exemplos a Revolução Cristã que abateu o Império dos Césares e mudou a órbita do Planeta. Kardec pes-quisou os fenômenos paranormais e com um punhado de livros e uma revista embaixo do braço restabeleceu a verdade cristã estrangulada por rabinos e clérigos inquisidores.” (Herculano Pires) (PIRES,1996b).

Sobre o caráter eminentemente cristão do pensamento kardequiano bem como sobre o aspecto religioso (dentro do chamado “tríplice aspecto”) da Doutrina Espírita, a opinião de Herculano Pires é bem clara e pode ser ilus-trada através da passagem subsequentemente transcrita, que está inserida (quarto parágrafo do primeiro capítulo, o qual é chamado “O Homem no Mundo como Ser na Existência”) em uma de suas obras publicadas postu-mamente (teria sido escrita entre 1976 e 1977, conforme prefácio da própria obra) e denominada A Evolução Es-piritual do Homem (na perspectiva da Doutrina Espí-rita) (PIRES,2005a):

O religiosismo popular na França como em toda parte foi abalado pela resistência e a insistência de Kardec, absorvendo os seus princípios básicos. Foi então que ele se entregou a elaboração secreta de O Evangelho

Segundo o Espiritismo , proporcionando ao povo os

esclarecimentos espíritas. Nesse livro ele amparava e estimulava a religião do povo, mas sustentando essa religiosidade em termos racionais. Apoiava-se

en-tão no princípio doutrinário da lei de adoração - lei universal que só ele descobriu e explicou,

- reativando a religião nos corações abalados. Ainda hoje há espíritas, não raro ocupando posições de dire-ção em instituições doutrinárias, que não compreen-dem a necessidade e o valor desse livro orientador da intuição religiosa popular. Não compreendem que o aspecto religioso do Espiritismo constitui a base ina-balável do movimento espírita no mundo.”

(3)

(Hercula-no Pires) (PIRES,2005a) (grifos em negrito, meus).

Herculano pensava no movimento espírita tanto no que diz respeito à sua principal célula, isto é, o centro espírita, como no que diz respeito ao movimento de uma forma mais global, abrangendo a relação entre centros e as diversas formas de trabalho de divulgação doutrinária, o que, atualmente, é bastante associado aos chamados “órgãos de divulgação”.

No que se refere ao centro espírita propriamente dito, Herculano Pires, em uma de suas principais obra, intitu-lada O Centro Espírita, teceu um comentário que ficou famoso pela sua clareza e perspicácia espiritual e doutri-nária, o qual vale sempre ser lembrado:

“Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita,

quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movi-mento cultural e espiritual da Terra. Temos no Bra-sil - e isso é um consenso universal - o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um esforço imenso de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos, desligados da reali-dade imediata.” (Herculano Pires) (PIRES,2001).

Herculano Pires afirmou enfaticamente em A Pedra e o Joio (PIRES, 2005b, capítulo “A Questão Metodoló-gica”): “Ninguém, entre nós, conhece Kardec em

profundidade. Homens de cultura, considerados como

grandes conhecedores da doutrina, publicaram trabalhos que provam a superficialidade espantosa desse conheci-mento. Se leram e estudaram, não aprenderam, não as-similaram.” (grifos de Herculano Pires). Herculano, por-tanto, fazia uma contundente crítica ao movimento espí-rita e seu nível de domínio doutrinário, incluindo a ele próprio nessa crítica, o que demonstra sua humildade e seu elevado nível de auto-exigência em matéria de Dou-trina Espírita.

III

O P

OLEMISTA

Indiscutivelmente, Herculano Pires foi um extraordi-nário polemista e jamais se isentava de participar de de-bates, nos quais considerava que a compreensão doutri-nária não estava sendo adequada ou que interpretações equivocadas em relação ao Espiritismo estavam sendo empreendidas. Tal postura gerou bastante repercussão à época, como ainda hoje continua gerando, mesmo tan-tos anos depois.

Muitos confrades defendiam, como ainda defendem, que as questões polêmicas devem ser, na grande maioria das vezes, evitadas a fim de que não ocorra cizânia no movimento espírita. Por outro lado, outra corrente de confrades defendia, como ainda defende, que a elucida-ção de todos os assuntos de relevância para a Doutrina Espírita e/ou o Movimento Espírita é prioritária e que todos os erros e desvios do Movimento Espírita preci-sam ser discutidos e explicitados, pois, caso contrário,

o número de adeptos do movimento espírita que estaria sendo enganado seria muito maior. Nesse contexto, o efeito multiplicador da propagação de ideias erradas po-deria ter consequências catastróficas para o Movimento espírita futuramente.

Entre a primeira e a segunda opções, Herculano Pi-res escolheu a segunda. Ou seja, tomar atitudes claras de elucidação doutrinária em todos os pontos que jul-gasse relevantes para o Espiritismo. Essa escolha cora-josa trouxe muitos apoiadores, mas igualmente muitos desafios e dissabores para o Filósofo de Avaré. De fato, tal postura fomentou muitos “adversários” e gerou acu-sações de intolerância contra Herculano.

Ora, Herculano Pires desencarnou em março de 1979. Portanto, há 36 anos. Passado esse tempo, em uma aná-lise retrospectiva e levando em consideração a situação atual do movimento espírita, podemos afirmar que, em nossa opinião, realmente a escolha de Herculano Pires foi acertada. E, mais do que isso, fundamental para a sobrevivência das bases doutrinárias do Espiritismo nos tempos atuais.

De fato, vivemos um momento no movimento espí-rita em que constatamos um grande nível de especulação envolvendo reencarnação de pessoas famosas dentro do movimento espírita e fora dele; percebemos “inovações” precipitadas na área mediúnica, onde várias hipóteses de trabalho têm, rapidamente, se transformado em prática habitual consagrada em várias casas espíritas; e, além disso, autores claramente anti-doutrinários do passado têm voltado a receber grande divulgação em meios dou-trinários, inclusive com ampla propaganda de seus livros em importante periódicos e órgãos espíritas, os quais de-veriam zelar minimamente pelo que veiculam, divulgam e propalam como sugestões de leitura.

As inovações precipitadas e muitas vezes em oposi-ção ao legado kardequiano sempre tiveram em Hercu-lano Pires um convicto opositor. Citamos, com especial destaque, a emblemática obra contra o Roustainguismo O Verbo e a Carne, de autoria de Júlio Abreu Filho e José Herculano Pires (ABREU FILHO & PIRES,1973), a qual se tornou, indiscutivelmente, uma das maiores re-ferências contra o histórico processo cismático gerado no movimento espírita pela obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing.

Além disso, vale mencionar também algumas ou-tras, dentre as principais polêmicas, nas quais Herculano levantou-se para defender a pulcritude doutrinária, tais como a polêmica contra a adulteração da tradução de O Evangelho Segundo o Espiritismo pela Federação Es-pírita do Estado de São Paulo (FEESP) (vide Na Hora do Testemunho (XAVIER & PIRES, 1978)), a partir de uma interpretação equivocada de alguns confrades paulis-tas concernentes a alguns comentários piedosos de Chico Xavier; a polêmica contra o chamado “Espiritismo cor-puscular”, conhecido como “Teoria corpuscular do Espí-rito”, no qual um trabalho pressupostamente revolucio-nário, e certamente bem-intencionado, mas equivocado, científica e doutrinariamente, apresentou uma proposta de “atualização” da Codificação Kardequiana em termos

(4)

de conceitos de “física moderna”, conforme o próprio Her-culano esclarece, visando “... superar o suposto mecani-cismo de Kardec...” (vide A Pedra e o Joio (PIRES,

2005b)); a proposta do “Espiritismo Divinista”, elabo-rada por companheiro, de nome Oswaldo Polidoro, que acreditava ser a reencarnação do próprio Allan Kardec e que, conforme o próprio Herculano elucida, “...entende que Kardec sujeitou-se à Ciência humana e negou a di-vina” (vide A Pedra e o Joio (PIRES,2005b)); e o debate contra a iniciativa ubaldista de reforma do Espiritismo, na qual mui educada e elegantemente, o Professor Her-culano Pires rejeita a iniciativa do filósofo espiritualista italiano, em que pese ter reconhecido que o referido escri-tor tinha seus méritos enquanto livre-pensador (RIZZINI,

2001).

IV

A D

EFESA DE

Z

É

A

RIGÓ

Herculano percebeu a autenticidade mediúnica de José Pedro de Freitas, vulgarmente conhecido como Zé Arigó, o qual era instrumento da atuação espiritual do famoso espírito “Doutor Fritz”, que desenvolvia impac-tantes trabalhos de cura na cidade de Congonhas do Campo, estado de Minas Gerais. Realmente, Zé Arigó estava tendo sérios problemas com a justiça brasileira, os quais culminaram, inclusive, com a sua prisão em duas ocasiões. Os órgãos político-governamentais alegaram prática ilegal da medicina, uma vez que os fenômenos mediúnicos desenvolvidos por Doutor Fritz/Zé Arigó es-tavam associados a uma ação propriamente física, que envolvia a utilização de facas, tesouras e instrumentos usuais das cirurgias da medicina humana convencional. Muitos alegam que ações de membros das religiões tra-dicionais poderiam ter influenciando a opinião pública e principalmente as decisões do estado, o qual, a priori, deveria ser laico.

O admirável autor espírita Wilson Garcia, prefaci-ando a obra de Herculano Pires Arigó - Vida, Mediuni-dade e Martírio, afirma, referindo-se à iniciativa de culano de escrever tal obra que “...o livro de José Her-culano Pires foi uma tentativa de defender o médium e a sua atividade mediúnica, compreendendo-a como poucos. Além disso, Herculano desejou deixar para os estudiosos um material sério de análise e considerações, para favo-recer as pesquisas no campo dos fenômenos mediúnicos.” (Wilson Garcia, 1997) (PIRES,1998).

O próprio Herculano Pires, na apresentação da refe-rida obra (texto intitulado “Arigó: Um Desafio”), explica suas motivações:

“É preciso deixar bem claro para o leitor, seja ele

es-pírita, católico, protestante, livre-pensador, materia-lista ou de qualquer outra posição ideológica, que o caso Arigó não é religioso. Tem, naturalmente, o seu aspecto religioso, mas o seu ponto central, o seu inte-resse fundamental é o desafio que ele lança aos meios científicos. Não se pode resolver o problema Arigó no quadro dos conflitos religiosos, onde, aliás, ele já situou espontaneamente como espírita. Não se pode resolvê-lo também no quadro das disputas filosóficas. Mas no quadro das investigações científicas ele pode

e deve ser resolvido.”(Herculano Pires) (PIRES,

1998).

Herculano, de fato, encarava o fenômeno mediúnico com elevadíssimo senso de responsabilidade dada a seri-edade do assunto. Diz ele em Mediunidade - Conceitu-ação da Mediunidade e Análise Geral Dos Seus Proble-mas Atuais: “A mais refinada conquista da evolução, que marca o homem com o endereço angélico, é a Mediuni-dade.” (Herculano Pires) (PIRES,2002).

O médium José Pedro de Freitas não era, no início de suas atividades mediúnicas, um adepto do Espiritismo. Zé Arigó era um católico apostólico romano que foi sur-preendido por uma eclosão mediúnica intensa que irrom-peu de tal maneira que mudou totalmente sua vida. Em verdade, mudaria a vida da sociedade brasileira, sobre-tudo do Movimento Espiritualista Brasileiro. Espíritas como Chico Xavier e Waldo Vieira, compreendendo a le-gitimidade do fenômeno espírita em questão, passam a apoiar e a orientar Arigó, o que faz com que, lenta e gradualmente, o referido médium vá se aproximando do Espiritismo. Essa realidade aumenta o valor da atuação do Professor Herculano Pires na defesa de Zé Arigó, pois a mediunidade é fenômeno inerente ao ser humano, não tendo exclusiva presença em ambientes espíritas. Por-tanto, o professor Herculano Pires percebe que a auten-ticidade da “explosão mediúnica” de um homem prati-camente iletrado, simples e bem intencionado, seria de grande utilidade para a humanidade no que se refere à percepção dos céticos e dos indiferentes a respeito da exis-tência da alma, sua imortalidade em relação à morte do corpo físico e sua possibilidade de comunicação com os “seres humanos” (neste contexto, os Espíritos encarna-dos).

Além disso, subsequentemente à referida “explosão mediúnica”, os resultados diretos da atuação de Zé Arigó nas chamadas “cirurgias espirituais” eram evidências muito fortes da legitimidade do fenômeno bem como da “medicina superior” de que o fenômeno em questão era dotado. Pesquisadores da NASA chegaram a concluir que os diagnósticos emitidos por Doutor Fritz, via Zé Arigó, tinham em torno de 98% de precisão. Além dos diagnós-ticos, as cirurgias curaram ou pelo menos atenuaram sin-tomas de um grande número de enfermos. Portanto, além das evidências da imortalidade da alma, Doutor Fritz/Zé Arigó era, como ainda é, material para estudo da mediu-nidade, da saúde humana, da medicina (envolvendo a re-lação entre medicina humana e medicina espiritual), além de ter praticado efetivamente a caridade para um número incontável de beneficiários. Assim sendo, o Professor Herculano sensibiliza-se com a situação daquele homem simples do interior que queria apenas fazer o bem, sendo instrumento da atuação dos bons espíritos e que, não so-mente não era compreendido, como era perseguido pela comunidade local, com o endosso de instituições oficiais. Após a morte do médium José Pedro de Freitas, vi-timado em 1971 por um acidente de carro, fica evidente que o legado de Doutor Fritz/Zé Arigó tornou-se extre-mamente associado ao movimento espírita brasileiro, o que é natural, tendo-se em vista a perseguição de

(5)

re-ligiosos de outras denominações e a compreensão e até mesmo a defesa, que ele recebeu dos espiritistas, com especial destaque para a atuação do Professor Herculano Pires, pois a Doutrina Espírita explica com profundidade ímpar, a fenomenologia mediúnica.

V

O

BRAS DE

H

ERCULANO

P

IRES COMO ÚNICO AUTOR

Em pesquisa realizada pela Editora “Candeia” no ano de 1999, visando à eleição dos 10 maiores livros espíritas do século XX, o livro de José Herculano Pires intitu-lado O Espírito e o Tempo - Introdução Antropológica ao Espiritismo (PIRES,2003) foi considerado através de votação, cujos eleitores eram renomados trabalhadores espíritas de diversas áreas de atuação, o sétimo melhor livro espírita do século XX. Tal distinção somente denota a relevância da obra do “Filósofo de Avaré”. Vale regis-trar que, em se tratando de pesquisa que contempla os melhores livros espíritas do século XX, o grupo de obras elegíveis abrange autores do nível de Gabriel Delanne, Léon Denis (o qual tem a obra O Problema do Ser, do Destino e da Dor entre as 10 eleitas), Yvonne Pereira (que possui, enquanto médium, a obra Memórias de Um Suicida dentre as 10 selecionadas), Divaldo P. Franco e tantos outros relevantes autores.

De fato, além de O Espírito e o Tempo, Herculano Pires publicou obras de grande envergadura doutrinária. Poderíamos citar, a título de ilustração as obras Revi-são do Cristianismo; O Centro Espírita, Agonia das Re-ligiões, Visão Espírita da Bíblia, dentre outras.

VI

O

BRAS DA

P

ARCERIA

C

HICO

X

A

-VIER

/H

ERCULANO

P

IRES

Herculano Pires escreveu cinco livros em parceria com Chico Xavier e com os Espíritos mentores de Chico Xa-vier (Chico XaXa-vier Pede Licença - Um Aparte do Além nos Diálogos da Terra (XAVIER & PIRES, 1990); Na Era do Espírito (XAVIER & PIRES, 2012); Dialógo dos Vivos (XAVIER & PIRES, 1984); Astronautas do Além (XAVIER & PIRES,1987) e Na Hora do Testemu-nho (XAVIER & PIRES, 1978)). Os respectivos livros possuem mensagem de apresentação de Chico Xavier, a mensagem psicografada por Chico, de autoria de diferen-tes redatores espirituais, e um artigo de Herculano Pires comentando a mensagem espiritual bem como a apresen-tação de Chico Xavier. Portanto, tais livros são com-pêndios muito ricos doutrinariamente, pois abrangem o estudo em conjunto de Chico Xavier e Herculano Pires em relação a mensagens de autores espirituais do nível de Emmanuel , André Luiz, dentre outros.

Ademais, as obras da parceria entre Chico Xavier e Herculano Pires ensinam-nos a encarar os chamados “li-vros de mensagens” psicográficas de Chico Xavier (e por consequência dos demais médiuns psicógrafos) com muito mais seriedade do que usualmente são considerados. De fato, os chamados “livros de mensagens” são utilizados

costumeiramente como fontes de leituras para “prepara-ção do ambiente psíquico” de reunião de Evangelho no Lar e exposições sobre obras básicas da Doutrina em reuniões públicas dos centros espíritas (principalmente O Livro dos Espíritos (LE) e O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE)). Obviamente, não estamos questio-nando o valor dessas respectivas leituras, de elevada im-portância na preparação das reuniões espíritas em geral. Só estamos enfatizando que, a exemplo da parceria que Chico Xavier, seus mentores e Herculano Pires fizeram, poderíamos buscar um estudo mais profundo dos textos espíritas, incluindo os capítulos dos chamados “livros de mensagens”.

Vale acrescentar que Herculano Pires foi um dos in-telectuais convidados para entrevistar Chico Xavier no histórico programa da extinta TV Tupi “Pinga-Fogo”, em 1971, no qual perguntas sobre assuntos diversos, re-lacionados diretamente ou não a questões religiosas, eram respondidas pelo médium mineiro. Essa participação de-monstra o senso de colaboração que Herculano apresen-tava em relação ao seu ideal espírita. Realmente, para muitos historiadores espíritas, o programa televisivo em questão representou um marco em termos de divulgação doutrinária assim como de diminuição do preconceito re-ligioso contra o Espiritismo na sociedade brasileira.

VII

T

RADUÇÕES

, P

REFÁCIOS E

N

OTAS DE

R

ODAPÉ DA OBRA DE

A

LLAN

K

ARDEC

A credibilidade doutrinária de Herculano Pires ex-plícita através dos seus mais de 80 livros, juntamente com seu amor e respeito em relação a Kardec e a sua obra, fornecem uma chancela de qualidade ao seu traba-lho como tradutor da obra do “Mestre Lionês”. Indepen-dentemente de aspectos técnicos e linguísticos inerentes à tradução do francês para o português, a seriedade doutri-nária e o respeito por parte de Herculano em relação ao trabalho do Codificador fez de Herculano uma escolha, enquanto tradutor, de alta credibilidade doutrinária.

Para a grande maioria dos confrades, que não dis-pondo dos originais em francês e/ou não dominando suficientemente a língua francesa para ler diretamente esses originais, os quais constituem a imensa maioria do movimento espírita brasileiro, a necessidade de uma tra-dução confiável doutrinariamente é fundamental para o estudo do Espiritismo. Além disso, os prefácios e, princi-palmente, as notas explicativas que Herculano elaborou para a obra de Allan Kardec constituem realmente co-mentários enriquecedores e altamente didáticos, favore-cendo a compreensão do texto kardequiano e fornefavore-cendo interessantes corroborações e exemplificações que foram geradas cerca de um século após a publicação das obras básicas da Doutrina Espírita.

VIII

A O

PINIÃO DE

E

MMANUEL SOBRE

H

ERCULANO

P

IRES

Emmanuel considerou Herculano Pires “O metro que melhor mediu Kardec” e também (em uma frase que

(6)

con-sideramos tão ou mais emblemática do que essa primeira) “a maior inteligência espírita contemporânea” (PIRES,

1992;ALEIXO,2009).

É interessante constatar que Emmanuel e toda a equipe espiritual que trabalhava com Chico Xavier elabo-raram textos que constituíram uma parceria com os tex-tos de Herculano. E, podemos inferir da obra Na hora do Testemunho (XAVIER & PIRES, 1978), que Chico Xavier não queria, de forma alguma, que essa parceria acabasse. Além disso, esse tipo de parceria, que envol-veu cinco livros, não se repetiu com outros autores, pelo menos não nos moldes em que foi estabelecida com Her-culano Pires, o que, realmente, denota o respeito que Em-manuel e sua equipe espiritual, além do próprio médium Chico Xavier, tinham por Herculano.

IX

A O

PINIÃO DE

R

ENOMADOS

A

UTORES E

/

OU MÉDIUNS

E

SPÍRITAS SOBRE

H

ER

-CULANO

P

IRES

“O nome de Herculano Pires já está incorporado ao

patrimônio do Espiritismo entre os maiores defenso-res da integridade e da pureza da Codificação de Allan Kardec.” (Deolindo Amorim) (RIZZINI,2001). “. . . porque tú, Herculano, has nascido marcado para

impulsar la grandeza de la Codificación Kardeciana.”

(Humberto Mariotti) (RIZZINI,2001).

“Admiro, cada vez mais, a sua capacidade de

penetra-ção na obra de Allan Kardec para definir-lhe a gran-deza e situar-lhe a colocação em nosso tempo.” (Chico

Xavier) (RIZZINI,2001).

“De fato, ninguém conseguiu, com tanta maestria e

segurança, ser tão profundo no contexto doutrinário, em perfeita sintonia com Jesus e o codificador do Espiritismo, como J. Herculano Pires, “O Apóstolo de Kardec”, assim denominado com máxima justiça por seu amigo e biógrafo Jorge Rizzini. Dotado de incomparável cultura geral e doutrinária, Herculano destaca-se no Jornalismo, na Filosofia e na Parapsi-cologia. Exímio escritor, poeta e romancista. Emé-rito educador e fiel tradutor da codificação kardeciana, dedicou quase toda a sua vida à excelsa doutrina, por ele muito amada, o que o tornou seu grande inter-préte e defensor.” (Américo Domingos Nunes Filho

(prefácio da obra de Sérgio Fernandes Aleixo intitu-lada O Metro que Melhor Mediu Kardec) (ALEIXO,

2009).

“. . . dia nove de março (de 2009) fez trinta anos que

passou ao plano espiritual, também vítima de pro-blema cardíaco, como Kardec, o maior intérprete do pensamento espírita contemporâneo, o jornalista, pro-fessor, escritor e filósofo José Herculano Pires. Gos-taria de dizer-lhe o quanto lhe sou grato. . . ” (Sérgio

Fernandes Aleixo) (ALEIXO,2009).

“Não se precisa, aliás, ser espírita, nem sequer

espi-ritualista (se tal é possível ainda nos tempos atuais) para que se aproveite com o tempo empregado na lei-tura de qualquer dos livros aqui referidos, principal-mente os dois últimos lançados, recenteprincipal-mente, pelo estimado jornalista e escritor.

Um homem de larga cultura e encantadora capaci-dade de expressão, como é Herculano Pires, conquista adeptos sinceros do seu talento de escritor onde e como quer que este se manifeste.” (Corrêa Júnior,

cronista - São Paulo, 1966) (PIRES,1992).

Observação: os livros a que se refere Corrêa Júnior são A Verdade Parapsicológica e O Ser e a Serenidade.

“Não externava sua cultura, sua vasta leitura em

pra-ticamente todos os campos do conhecimento. Cria-tura modesta, cavalheiro de primeira linha, simples por natureza. Apenas quando soltava o verbo, como nas festas da Cidade de Deus, o vulcão vinha ao vivo, mostrava-se fulgurante, brilhante, dono de uma inteli-gência privilegiada.” (Caio Porfírio Carneiro (escritor

sem vínculo com o Espiritismo laureado pela Acade-mia Brasileira de Letras e pela Câmara Brasileira do Livro)) (RIZZINI,2001).

“José Herculano Pires foi o que podemos chamar

ho-mem múltiplo. Em todas as áreas do conhecimento em que desenvolveu atividades - dentro e fora do mo-vimento doutrinário - sua inteligência superior ilumi-nada pela Doutrina Espírita e pela cultura humanís-tica brilhava com grande magnitude fazendo o povo crescer espiritualmente.” (Jorge Rizzini, 2000) ( RIZ-ZINI,2001).

“. . . foi o primeiro que se inscreveu como

parapsicó-logo no Brasil para conciliar a Doutrina de Rhine com as fundamentais dos Kardequianos. - Em seus livros últimos aprecia-se-lhe o esforço em demonstrar estar nessa ciência experimental o acesso mais am-plo para confirmações do paranormal em definições como o princípio: ’Toda manifestação de um efeito inteligente possui uma causa inteligente’. Com Carlos Imbassahy, sustentou uma tese em foros de dialética por memorável estudo em favor do subsídio da His-tória Contemporânea, quando deu à teoria de Freud dimensões muito mais racionais à luz do Espiritismo, responsável mesmo pela sua ampliação em novos ho-rizontes. Sua palavra para nós possuía, sem favor, um pronunciamento oracular, dada sua segurança nos meios culturais e de estudos em nossas concentrações e congressos. Educador por excelência de uma escola liberta das formalísticas, expõe métodos e normativas para melhores rumos à didática aclarada pelos prin-cípios evangélicos à chamada do Espírito de Verdade do Pentatêutico Espiritista.” (Agnelo Morato) ( MA-RIOTTI & RAMOS,1984).

“. . . Por isso, sem graduar-se universitariamente como filósofo, sua brilhante inteligência poderia igual-mente dialogar com Heidegger, Jaspers, Sartre, Mari-tain, etc., pois havia em seu espírito uma raiz profun-damente metafísica que lhe permitia relacionar-se de imediato com os grandes problemas da filosofia mo-derna.

O pensamento espírita teve em J. Herculano Pires um verdadeiro intérprete. Podemos dizer que a cultura espírita achou neste destacado filósofo brasileiro um verdadeiro expositor humanista que colocou o Espi-ritismo ao nível da mais elevada concepção espiritual contemporânea. Ele nos ensinou que o espírita não só se afirma com a produção e observação dos

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fenôme-nos mediúnicos, mas também, e muito especialmente na hora atual, pela visão filosófica e religiosa que possui. Mas seu talento filosófico logrou unir duas vias do conhecimento ao dirigi-lo através do conceito essencial e unitário do saber.” (Humberto Mari-otti) (MARIOTTI & RAMOS,1984).

“. . . Um homem por todos os títulos ilustre. Uma das

vozes mais altas da cultura espírita no Brasil, escritor de mérito, conferencista, polemista e, acima de tudo, um poeta.” (Clóvis Ramos) (MARIOTTI & RAMOS,

1984).

X

A D

ESENCARNAÇÃO DE

H

ERCULANO

P

IRES

Herculano Pires desencarnou com apenas 64 anos, tal como Allan Kardec. Tal informação reforça a dimen-são colossal de sua obra, ainda mais se lembrarmos de que Herculano converteu-se ao Espiritismo com 22 anos. Também pode sugerir que o esforço de toda uma vida em prol da divulgação da Doutrina Espírita e de uma maior valorização do legado de Allan Kardec tenha co-brado seu preço em relação à saúde e à expectativa de vida do “Apóstolo de Kardec”. De fato, Herculano Pires desencarnou relativamente jovem, o que nos faz refletir sobre o nosso próprio aproveitamento das oportunidades evolutivas na presente encarnação.

De qualquer maneira, antes que muitos soubessem que Herculano tinha desencarnado, ele já estava lúcido, tranquilo e trabalhando pelo Espiritismo. De fato, muito antes de vários companheiros terem notícia de sua desen-carnação, ele já estava fornecendo esclarecedora e con-soladora mensagem mediúnica no grupo espírita em que atuava, demonstrando como foi tranquila a sua “viagem” para o mundo espiritual. Também denota sua preocupa-ção em reforçar o estímulo aos confrades, amigos e fami-liares que ficavam para o trabalho na crosta assim como sua atitude de viver continuamente em trabalho para Je-sus e para Kardec. Vejamos o depoimento de sua filha, a excepcional expositora e autora espírita Heloísa Pires:

“No dia do seu desencarne era dia de sessão na

ga-ragem (não havia ainda o centro e os esclarecimen-tos doutrinários eram realizados na garagem de nossa casa). Herculano (ao fechar a porta do banheiro no andar superior) sentiu-se mal e foi levado ao hospi-tal. (. . . ) Quem estava na garagem não sabia, pois, que Herculano estava doente. Apenas os familiares encontravam-se no hospital esperando Herculano na terapia intensiva - pensamos que ele ficaria bom (nin-guém imaginava que ele iria desencarnar tão rapida-mente). Nessa hora, um médium na garagem (um médium até necessitado que nunca mais trouxe uma mensagem tão boa) recebeu duas mensagens e deu para minha tia (Maria de Lourdes Anhaia Ferraz). Uma, de um espírito que se dizia feliz por Herculano ter cumprido a tarefa e chegara a hora da libertação (Heloísa poderia ter citado que se tratava do Espírito de Cairbar Schutel, patrono do grupo). E depois o próprio Herculano numa mensagem linda em forma de poesia (ele gostava muito de escrever poesia para aqueles que amava). Ele se dirigia a mamãe e lhe dizia:

Família querida Vivendo contigo Dias felizes e amenos

Na experiência do lar prossegue a vida Coragem e otimismo

Não quero “pompas nem velas”

Apenas a simplicidade do professor do interior em metrópole de céus e estrelas!. . .

Sustente em apoio vibratório a casa! Ampare o livro da codificação

E eu, em espírito ou memória, ao lado dos amigos espirituais convosco sempre estarei, no apostolado de pregar e servir a Doutrina dos Espíritos com o mestre de Lion.

Virgínia querida mais esposa do que esposo que fui. Já não tem falar nem riso, nem seu poeta, mas que semblante triste o seu. . . volte ao que era, como o tempo na casa velha, tudo é vida, das noites de rima, doutrina e cozinha, lar; amigos, não é confusão é nova sensação de viver, sentir que já não sou corpo, mas alma!

Até que enfim, desculpe, Espírito de Verdade, ampa-rado em novas luzes, a minha, a nossa luzinha, que ajudaste a construir, no momento adeus, menos choro e mais café!!

Se há dificuldade de captar a escrita, imagine a de despertar aqui, para dizer aos daí: Sobrevivência d´alma!

Muita paz em Jesus. (Herculano Pires - Espí-rito) (RIZZINI,2001).

A mensagem supracitada foi reconhecida como sendo realmente de Herculano Pires por toda a família de Her-culano, como a própria Heloísa Pires sugere na apresen-tação do respectivo texto. No entanto, vale mencionar uma informação que o biógrafo de Herculano Pires, Jorge Rizzini, registra, em nota de rodapé, logo após a transcri-ção da mensagem mediúnica de Herculano Pires-Espírito: “Dias após a desencarnação de Herculano Pires surgiram dezenas de ‘mensagens mediúnicas’ atribuídas a ele. Ne-nhuma, porém, com seu estilo literário e todas desprovi-das de conteúdo comprobatório. A esposa de Herculano Pires e os filhos recusaram-se a endossá-las. . . ” ( RIZ-ZINI,2001).

XI

O L

EGADO DE

H

ERCULANO

P

IRES

A valorização da obra de Allan Kardec foi o principal legado de José Herculano Pires, o qual foi logrado através de sua ampla atuação no movimento espírita. A referida atuação atingiu uma vasta gama de nuances com especial destaque para três tópicos principais: a tradução, junta-mente com a apresentação e as notas explicativas por Herculano elaboradas para a obra da Codificação Karde-quiana; sua obra literária espírita, discutindo e aprofun-dando princípios doutrinários e questões relacionadas às contribuições das obras subsidiárias do Espiritismo; e sua atuação como polemista, que sempre ocorreu seguindo a orientação das diretrizes da Codificação, o que minimi-zou um incontável número de possíveis sincretismos entre o Espiritismo e propostas de livres pensadores espiritu-alistas e escritores de outras linhas de pensamento. Se

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alguns modismos ainda sobreviveram e novos foram ge-rados, temos que reconhecer que o cenário relacionado ao movimento espírita estaria em situação de bem maior complexidade e dificuldade se não fosse a atuação cora-josa de Herculano Pires, o qual fez o que pôde (e fez muito!) para evitar, ou, pelo menos, atenuar a intro-dução no movimento espírita, sem maior exame e sem análise crítica pertinente, de pensamentos que não fos-sem coerentes com a obra de Kardec.

O Professor Herculano era um homem que tinha a di-mensão do “tamanho” de Kardec e, principalmente, da obra que, tendo Kardec por Codificador, chegou a nós advinda dos Espíritos Mentores da Terra. Infelizmente, poucos tinham e têm tal percepção.

Portanto, vamos trabalhar para que nós possamos as-similar mais e melhor essa percepção!

XII

C

ONCLUSÕES

A vida, a obra e o legado doutrinário de José Her-culano Pires ainda são pouco conhecidos da maioria dos confrades do movimento espírita, seja no âmbito nacio-nal ou na esfera mundial. Salvo raras e especiais exce-ções, poucos confrades leem, estudam e dominam uma boa parte das mais de 80 obras de Herculano Pires. Mui-tos jovens espíritas talvez nunca tenham ouvido falar de Herculano Pires. Reflitamos na necessidade de maior de-dicação ao estudo doutrinário de forma geral, incluindo, uma maior dedicação na leitura, no estudo e na divul-gação da obra daquele que foi chamado, de forma muito merecida por sinal, “O Apóstolo de Kardec”.

R

EFERÊNCIAS

ABREU FILHO, Júlio e PIRES, José Herculano. 1973. O Verbo e a Carne - 2 Análises dos Roustainguismo. 1aed. Edições Cairbar, São Paulo - SP.

ALEIXO, Sérgio Fernandes. 2009. O Metro que Melhor Mediu Kar-dec - José Herculano Pires, uma profissão de fé espírita em li-nha reta. Associação de Divulgadores de Espiritismo do Rio de Janeiro (ADE-RJ), Rio de Janeiro - RJ.

FUNDAÇÃO HERCULANO PIRES. 2015. www. fundacaoherculanopires.org.br. Acesso em 03/04/2015.

MARIOTTI, Humberto e RAMOS, Clóvis. 1984. Filósofo Hercu-lano Pires e Poeta. 1a ed. Edições Correio Fraterno, São Ber-nardo do Campo - SP.

PIRES, Heloísa. 1992. Herculano Pires, o Homem no Mundo. 1a ed. Edições FEESP, São Paulo - SP.

PIRES, José Herculano. 1991. Visão Espírita da Bíblia. 3aed. Edi-ções Correio Fraterno, São Bernardo do Campo - SP.

PIRES, José Herculano. 1996a. Revisão do Cristianismo. 4a ed. Paideia, São Paulo - SP.

PIRES, José Herculano. 1996b. O Mistério dos Ser ante a Dor e a Morte. 3aed. Paideia, São Paulo - SP.

PIRES, José Herculano. 1998. Arigó - Vida, Mediunidade e Mar-tírio. 4aed. EME Editora, Capivari - SP.

PIRES, J. H. 2000. Agonia das Religiões. 5aed. Paideia, São Paulo. PIRES, José Herculano. 2001. O Centro Espírita. 3aed. Paideia,

São Paulo - SP.

PIRES, José Herculano. 2002. Mediunidade - Conceituação da Me-diunidade e Análise Geral Dos Seus Problemas Atuais. 8a ed. Paideia, São Paulo - SP.

PIRES, José Herculano. 2003. O Espírito e o Tempo - Introdução Antropológica ao Espiritismo. 8aed. Paideia, São Paulo - SP. PIRES, José Herculano. 2005a. A Evolução Espiritual do Homem

(na perspectiva da Doutrina Espírita). 1aed. Paideia, São Paulo. PIRES, José Herculano. 2005b. A Pedra e o Joio. 3a ed. Paideia,

São Paulo - SP.

PROGRAMA TRANSIÇÃO com Milton Felipeli. 2014. “Es-clarecimentos oportunos, 021 - 100 Anos de José Hercu-lano Pires”. http://www.kardec.tv/video/esclarecimentos- oportunos/634/esclarecimentos-oportunos-021-100-anos-de-jose-herculano-pires. Acesso em 04/04/2015.

RIZZINI, Jorge. 2001. J. Herculano Pires - O Apóstolo de Kardec - O Homem A Vida A Obra. 1aed. Paideia, São Paulo - SP. XAVIER, Francisco Cândido e PIRES, José Herculano. 1978. Na

Hora do Testemunho. Paideia, São Paulo - SP.

XAVIER, Francisco Cândido e PIRES, José Herculano. 1984. Diá-logo dos Vivos. 3aed. GEEM Editora, São Bernardo do Campo - SP.

XAVIER, Francisco Cândido e PIRES, José Herculano. 1987. As-tronautas do Além. 5a ed. GEEM Editora, São Bernardo do Campo - SP.

XAVIER, Francisco Cândido e PIRES, José Herculano. 1990. Chico Xavier Pede Licença : um aparte do além nos diálogos da terra. 8aed. GEEM Editora, São Bernardo do Campo - SP.

XAVIER, Francisco Cândico e PIRES, José Herculano. 2012. Na Era do Espírito. 11a ed. GEEM Editora, São Bernardo do Campo - SP.

Title and Abstract in English

Herculano Pires: The Doctrinaire Vision and the Action in the Spiritist Movement

Abstract: The professor José Herculano Pires was notable for his high level of fidelity to the Spiritism. His high degree of intellectual and moral qualities was integrally channeled to a wide set of doctrinaire (spiritist) actions within the spiritist movement. It is very difficult to summarize in a single article, everything that Pires had done for the spiritist movement. Nevertheless, it is very much important to disseminate his singular work which is unfortunately still poorly known and understood within our contemporary spiritist movement. The present manuscript intents to help filling this gap by presenting some of the most important Herculano’s thoughts and attitudes as an active spiritist. It also includes relevant comments on his personality

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from several known spiritists. This and some remarkable cases of Pires’ life are presented in order to stimulate the Reader’s interest for a serious and more deep study of the Spiritism as well as to motivate efforts to increase the level of spiritists’ understanding of the legacy of the person who was considered, in a highly coherent form, “The Apostle of Kardec”.

Referências

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