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ENTRE POEMA E CANÇÃO: OFICINA DE LEITURA PARA MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE.

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Academic year: 2021

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ENTRE POEMA E CANÇÃO: OFICINA DE LEITURA PARA

MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE.

Francy Izabelly Oliveira Macedo (1) José Hélder Pinheiro Alves - Orientador (2) (1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, UFCG.

francyzabelly@gmail.com)

(2. Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, UFCG.

helderpin@uol.com.br)

Resumo: O termo educação, a partir de uma concepção freiriana, permite pensar o ato de

educar como uma atividade para além das desenvolvidas dentro do contexto da sala de aula tradicional. Tal concepção nos ajuda a pensar a educação enquanto ação que contribui com a formação do sujeito, e não apenas com a transmissão de informações acerca de conteúdo: a prática educativa passa a ser vista como ato que se concretiza em diversos espaços políticos, favorecendo a inclusão de sujeitos na sociedade. Aliada a essa ampliação do conceito de educação encontra-se uma visão interacionista que traz questionamentos sobre o ensino como um todo. Nesse sentido, o ensino de literatura pretende ser uma ferramenta de aproximação entre texto e leitor. Nessa perspectiva, encontramos as contribuições de Jauss (1994), para quem o texto, a fim de que faça sentido ao leitor, deve atender ao horizonte de expectativa deste. Assim, o presente artigo propõe uma experiência com o texto poético no ambiente do cárcere, tendo como objetivo contribuir com a formação leitora de mulheres em situação de exclusão social, por estarem, dentre outros motivos, privadas de liberdade. Pensando na aproximação entre texto/leitor, selecionamos os seguintes textos de autoria feminina: a canção "Vá com Deus", de Roberta Miranda e dois poemas - "Quantas coisas do amor", de Paula Tavares, e "Canção do Amor-Perfeito", de Cecília Meireles -, os quais têm como tema em comum, a separação amorosa. Para a realização das oficinas de leitura literária, nos baseamos nas considerações de Cosson (2014), Girotto e Souza (2010).

Palavras-chave: Poesia. Canção. Oficina de leitura. Mulheres em privação de liberdade.

1. Introdução

Pensando a educação além das salas de aula tradicionais, o presente trabalho constitui-se em uma proposta de oficina de leitura a ser desenvolvida com apenadas do Presídio Feminino de Campina Grande. Essa proposta faz parte das atividades a serem desenvolvidas por meio do Projeto de Pesquisa: Literatura no cárcere: poesia de autoria feminina para mulheres em privação de liberdade, de nossa autoria, em que propomos a apreciação de poemas de autoria feminina por mulheres em reclusão, naquela unidade

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prisional. O referido projeto tem como objetivo contribuir com a formação leitora dessas mulheres em situação de exclusão social.

Tendo em vista o desafio de se trabalhar com um gênero que apresenta uma linguagem que, para muitos, é de difícil compreensão, com um público que, por seu histórico, nos deixa pressupor uma deficiente formação em torno da leitura literária, para a realização de tal oficina, sugerimos o trabalho também com canções da Música Popular Brasileira. A opção de trabalhar com canções, se deu em virtude desse gênero apresentar semelhanças em relação à poesia, podendo assim servir como instrumento de abertura para o trabalho com esta modalidade de texto.

Os temas trabalhados nas canções e nos poemas escolhidos é o da "desilusão amorosa". A canção selecionada foi: "Vá com Deus", de Roberta Miranda e os poemas a serem apreciados são: "Canção do Amor - Perfeito", de Cecília Meireles, e "Quantas coisas do amor", de Paula Tavares.

2. Formação de leitores: breves considerações.

Levando em consideração a sua relação com o homem, a literatura pode ser compreendida como representação das experiências humanas (valor ético). Todavia, no ato de comunicar tais experiências, ela o faz de um modo particular (valor estético), podendo, assim, auxiliar na formação humana, conforme Candido (2002): "A literatura pode formar, mas não segundo a pedagogia oficial, [...] mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver." (CANDIDO, 2002, p .83-85).

Essa função humanizadora da literatura, defendida por Candido, se realiza por meio dos elementos estéticos do texto literário, pois "o conteúdo só atua por causa da forma, e a forma traz em si, virtualmente, uma capacidade de humanizar devido a coerência mental que pressupõe e que sugere" (Candido, 1995, p. 178).

Mas, a interação entre literatura e leitor, a fim de causar uma transformação radical - humanizá-lo - só acontece, quando o leitor vivencia a experiência estética intensamente e, para tanto, é preciso que a seleção dos textos contribuam com a

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apropriação dessas obras pelos leitores. Nessa perspectiva, Jauss, ao fazer referência a função social da leitura, aponta que:

A função social somente se manifesta na plenitude de suas possibilidades quando a experiência literária do leitor adentra o horizonte de expectativa de sua vida prática, pré-formando seu entendimento do mundo e, assim, retroagindo sobre seu comportamento social. (JAUSS, 1994, p. 50).

Tal processo de fruição, do qual resulta a modificação no comportamento social do sujeito, Jauss chama de aisthesis - que corresponde ao terceiro nível de leitura elencado pelo estudioso. Em tal nível de leitura, o leitor modifica-se a si mesmo, porque consegue alterar o caos existente dentro si, por meio do diálogo com a matéria bruta representada na obra literária, o que, para Candido chama-se coerência mental. Assim, "a relação entre literatura e leitor pode atualizar-se tanto na esfera sensorial, como pressão para a percepção estética, quanto também na esfera ética, como desafio à reflexão moral." (JAUSS, 1994, p. 53).

Desse modo, o processo de formação de leitores, através da literatura, em unidade prisional, pode contribuir com a reinserção do apenado na vida da comunidade, visto que ao aproximar o leitor de uma realidade suposta, a literatura ajuda a transformar a sua visão de mundo, na medida em que faz refletir sobre aquela realidade proposta no texto. Nesse sentido, Todorov (2009) afirma que a obra literária nos ajuda a: "[...]encontrar um sentido que lhe permita compreender melhor o homem e o mundo, para nelas descobrir uma beleza que enriqueça sua existência; ao fazê-lo, ele compreende melhor a si mesmo". (TODOROV, 2009, p. 33).

Assim, as contribuições da literatura ao apenado, transcende os liames meramente educacionais e didáticos, visto que ao se aproximar do universo individual do leitor, a literatura lhe comunica, ou melhor, dialoga com ele, contribuindo com a sua formação humana.

3. Leitura sobre as obras a serem trabalhadas na oficina de leitura.

Escolhemos para a apreciação, durante a oficina de leitura, a canção "Vá com Deus", de Roberta Miranda, além dos poemas "Canção do Amor-Perfeito", de Cecília

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Meireles e "Quantas coisas do amor", de Paula Tavares. O tema que permeia a letra da canção e os poemas é o da desilusão amorosa, embora cada compositora ou autora tenha tratado dessa temática a seu modo.

A canção "Vá com Deus" é de composição de Roberta Miranda e foi lançada, pela primeira vez, no álbum Roberta Miranda, Vol. 2, em 1987, que teve 1.500,00 cópias vendidas - um dos maiores sucessos da cantora. A canção, que corresponde ao gênero sertanejo, foi bastante divulgada em rádios e programas de televisão, na década de 80, quando foi lançada, embora permaneça fazendo parte do gosto das camadas populares.

A letra da canção é organizada em duas estrofes de oito versos e um refrão que se repete ao final de cada estrofe. Os versos da canção não apresentam o mesmo número de sílabas poéticas. O ritmo é proveniente da repetição do refrão, além da repetição de alguns sons nos versos da primeira estrofe, como em: indiferença (v.3) e consciência (v. 5). Também há presença de aliteração, por meio da constante presença dos sons consonantais s, t e d ao longo do texto, além de assonâncias por meio da repetição das vogais a, i, u e o. Esses elementos estéticos conferem ritmo a letra da canção, conforme poderemos aferir abaixo:

Vá com Deus

A cada dia que se passa Mais distante

Um rosto tão bonito se perdeu Na indiferença

É pena que esse amor Não teve consciência Dos sonhos que sonhamos Em segredo

Refrão: Vá com Deus Se o amor ainda está aqui Vá com Deus

E tente sorrir por mim

Amor meu

Se o destino está traçado Pra vivermos lado a lado Vá com Deus.

Despi minh'alma Ao deitar

Nos braços de nós dois Pra ser um só

Você nada entendia Que tudo te esperava Nas horas mais sublimes Do meu eu.

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Quanto ao tema, a canção trata da desilusão amorosa e encena a separação de um casal. Como podemos verificar acima, essa separação causa sofrimento ao eu lírico representado na canção, visto que ele declara ainda amar a pessoa que o abandona: "Vá com Deus/ o amor ainda está aqui/ Vá com Deus" [...].

A primeira estrofe chama a atenção pela construção da imagem: "Um rosto tão bonito se perdeu/ Na indiferença" [...], cujo significado pode ser a indiferença do ser amado em relação ao eu lírico (ser amante), causando distanciamento entre eles e, em decorrência disso, a separação que corrobora na desintegração dos sonhos idealizados pelo casal: É pena que esse amor/ Não teve consciência/ Dos sonhos que sonhamos/ Em segredo." .

Já na segunda estrofe a imagem que se destaca é: "Despi minh'alma/ Ao deitar / Nos braços de nós dois / Pra ser um só". Essa imagem alude ao encontro indissolúvel entre um casal, cuja imagem bíblica remete a disposição de dois se tornando um, mimetizada na união entre os corpos e vidas. Todavia, para o eu lírico, essa união parece ultrapassar o encontro entre dois corpos, chegando ao nível mais profundo que é a entrega gratuita ao outro, pelo desprendimento de si, configurada na imagem: "Despi minh'alma".

Há, na canção, um sentimento de resiliência, em relação ao eu lírico, cujo abandono sofrido não é causa de condenação para o ser que o abandona, mas de compreensão de si (do seu sentimento e de sua entrega) e de respeito a decisão do outro ("Vá com Deus"), embora tal decisão lhe traga sofrimento.

A letra da canção acima dialoga com o poema de Paula Tavares, cujo o título é "Quantas coisas do amor". Esse poema foi publicado no livro Como veias finas na terra, lançado em 2010 pela Editora Caminho.

O poema é estruturado em duas estrofes: a primeira, com dez versos; a segunda, com três versos. No que se refere ao ritmo do poema, este surge por meio das aliterações construídas por meio da repetição dos sons s e d e das assonâncias presentes com a repetição das vogais a e i,como podemos verificar abaixo:

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Coisas simples como estar à espera Manter o pão quente

Deixar o vinho abrir-se Em mil sabores

Guardei-me das tentações das sombras do desejo das vozes

dos segredos seria muito pedir-te que me veles o sono só mais uma vez. (Paula Tavares)

Com relação à temática, o poema de Paula Tavares, assim como a canção de Roberta Miranda, trata sobre a desilusão amorosa, e alude para a separação entre o eu lírico, que neste poema assume a voz feminina, e o ser amado. Assim como na canção, há um sentimento de entrega, de doação do eu lírico em relação ao ser amado, como podemos verificar nos versos: "Quantas coisas do amor/ Pr'a ti guardei/ Coisas simples como estar à espera / Manter o pão quente " [...].

A voz feminina está presente nestes versos, representada pela tarefa de manter o pão quente - atividade que remete aos trabalhos domésticos tradicionalmente executados por mulheres -, mas principalmente na imagem presente nos versos: "Deixar o vinho abrir-se/ Em mil sabores". A ambiguidade presente nesses versos nos permite pensar em duas possibilidades interpretativas: a primeira delas, pode fazer menção ao ato de abrir o vinho (bebida alcoólica) para tomá-lo; já a segunda possibilidade, alude a entrega corporal desse eu lírico feminino ao ser amado, aludindo ao ato sexual, visto que esse ato de abrir, referenciado no poema não é ativo, mas passivo ("Deixar o vinho abrir-se / Em mil sabores"), aludindo a reação do corpo feminino durante a preparação para a realização do encontro amoroso.

Essa relação de entrega também está presente nos versos seguintes, em que percebemos um sentimento de renúncia a tudo que pode afastar o eu lírico da sua relação amorosa: "Guardei-me das tentações / das sombras do desejo/ das vozes/ dos segredos". Por meio dessa entrega e renúncia do eu lírico na tentativa de preservar a relação amorosa percebemos a intensidade do sentimento deste em relação ao ser amado, que mesmo assim, pretende partir, como sugerem os versos a seguir, em que o eu lírico faz uma súplica ao ser amado para que permaneça pelo menos mais uma noite: "seria muito pedir-te/ que me veles o sono / só mais uma vez".

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O poema de Cecília Meireles, "Canção do Amor- Perfeito", está presente no livro Retrato Natural, publicado em 1949. Quanto à estrutura, ele apresenta quatro estrofes de cinco versos livres. Com relação à musicalidade, além da presença de assonâncias - por meio da repetição das vogais a e e - e aliteração - com a presença constante, sobretudo, da consoante s, contribuem para o ritmo do poema o paralelismo sintático que está presente no início das três primeiras estrofes e a recorrência dos termos "tempo" e "seca" ao longo do poema, conforme verificamos abaixo:

Canção do Amor - Perfeito

O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve,

desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a saudade,

seca as lembranças e as lágrimas. Deixa algum retrato, apenas, vagando seco e vazio

como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo e suas velhas batalhas. Seca o frágil arabesco, vestígio do musgo humano, na densa turfa mortuária. Esperarei pelo tempo com suas conquistas áridas. Esperarei que te seque, não na terra, Amor - Perfeito, num tempo depois das almas. (Cecília Meireles)

No que se refere à temática presente no poema, nos chama a atenção a experiência apresentada em torno da desilusão amorosa, resultado de uma separação. Porém, o que nos chama a atenção é o modo como essa experiência é colocada no poema, pois difere das experiências apresentadas no poema de Paula Tavares e na canção de Roberta Miranda.

Nesse poema, o tempo é colocado como aquele capaz de restituir o equilíbrio da natureza por meio de sua ação de fazer desintegrar, acabar, (secar) tudo aquilo que parece passageiro ou instável, como: a beleza (v. 1); as areias nas águas (v. 5); a saudade (v. 6); as lembranças (v. 8); o desejo (v. 11); a matéria humana (v. 13, 14 e 15). Todavia, esse equilíbrio - presente nas três primeiras estrofes do poema -, provocado pelo tempo ao dissipar os sentimentos humanos e a matéria, restituindo a natureza das coisas ao que elas propriamente são diante do ciclo imutável da vida, é

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quebrado na última estrofe, diante da afirmação do eu lírico: "Esperarei pelo tempo/ com suas conquistas áridas/ Esperarei que te seque, / não na terra, Amor- Perfeito, / num tempo depois das almas".

Nessa estrofe, o tempo almejado pelo eu lírico ultrapassa o tempo das coisas terrenas que parece incapaz de suplantar esse "Amor - Perfeito", que, por ser perfeito, alcança ares de divino, transcende, assim, o tempo terreno e almeja um "tempo depois das almas"- o que sugere um tempo infinito.

Esse desequilíbrio semântico também é visualizado no ritmo do poema que, até a terceira estrofe apresenta um movimento de equilíbrio, dado ao paralelismo sintático que inicia as três primeiras estrofes (v. 1: "O tempo seca a beleza" [...]; v. 6: "O tempo seca a saudade" [...]; v. 11: "O tempo seca o desejo" [...]) e as comparações e metáfora - figuras de linguagem similares - que constituem os versos dessas estrofes. Esse ritmo, todavia, é quebrado no início da última estrofe com a mudança sintática presente no primeiro verso: "Esperarei pelo tempo", bem como a não manutenção das figuras de linguagem visualizadas nas primeiras estrofes que são substituídas pela hipérbole "Esperarei que te seque/ não na terra, Amor-Perfeito,/ num tempo depois das almas," revelando assim a intensidade desse amor vivenciado pelo eu lírico.

Diferentemente da canção e do poema de Paula Tavares, não é possível falar aqui em abandono do eu lírico pela pessoa amada, outrossim, há uma separação que exige desse eu lírico um sentimento de esquecimento em relação a pessoa amada, todavia, esse esquecimento é impossível dada a proporção do afeto entre eu lírico e o ser amado, como fica comprovado na última estrofe do poema. Desse modo, podemos sugerir que essa separação ocorre de modo involuntário - sem a força da ação de uma das partes.

Além desses elementos destacados no poema, enfatizamos ainda a presença de diversas imagens que estão presentes ao longo do poema e que contribuem para colocar o tempo como um sujeito capaz de realizar ações concretas, como enfatiza o verbo "secar" presente em todas as estrofes do poema, enquanto ação realizada pelo tempo: "O tempo seca o desejo/ e suas velhas batalhas/ Seca o frágil arabesco/ vestígio do musgo humano/ na densa turfa mortuária."

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Essa estrofe em consonância com o sentimento de transcendia desse "Amor-Perfeito", alude a uma separação provocada pela morte do ser amado. Todavia, essa hipótese não pode ser totalmente sustentada a partir de dados do poema, visto que o que o eu lírico espera suplantar, a partir de um tempo depois das almas, é o sentimento nutrido por ele, ao qual ele chama Amor-Perfeito e não a pessoa amada em si.

4. Oficina de leitura "entre canção e poesia".

A oficina de leitura, conforme nos aponta Girotto e Souza (2010, p. 58): "trata-se de uma fonte de desenvolvimento, por meio da qual o sujeito tem vivências que possibilitam seu aprendizado e desenvolvimento." Assim, as atividades desenvolvidas durante a oficina de leitura devem colocar o participante no centro do processo de ensino-aprendizagem - ele será participante e co-autor das estratégias de leitura a serem desenvolvidas.

Nesse sentido, propomos uma série de atividades a serem realizadas durante a oficina. É importante salientar ainda que nossa opção em trabalhar com o gênero canção se deu pela necessidade de um instrumento textual mais próximo possível da realidade das apenadas, bem como capaz de apresentar semelhança com o gênero poesia. Com isso, objetivamos oferecer subsídio para a fruição do texto poético que, na maioria das vezes, se apresenta de maneira mais complexa que os textos em prosa, dada a natureza da linguagem poética.

Para a elaboração das estratégias a serem desenvolvidas em nossa oficina - prevista para ser realizada em 90 minutos - nos baseamos nas propostas de Girotto e Souza (2010), bem como nas sugestões de Cosson (2014). Assim, definimos como estratégias de leitura a serem trabalhadas nesta oficina: a inferência e a conexão. As etapas da oficina compreende as seguintes estratégias metodológicas:

 Modulação do mediador: (Introdução do assinto a ser discutido) A fim de trabalhar a estratégia da inferência, que leva em consideração os conhecimentos prévios dos leitores, sugerimos a seguinte atividade, adaptada a partir das sugestões de Cosson (2014). Em um cartaz se escreve a palavra " amor", a partir da qual os participantes

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deverão inferir o sentido do termo - ou o objetivo do mediador em utilizá-lo - indicando palavras ou expressões similares a palavra transcrita. Todas as sugestões das participantes deverão ser anotadas em pequenos balões que deverão ser colados em torno da palavra "amor", na seguinte proporção: as palavras ou expressões pertencentes ao mesmo campo semântico da palavra geradora, deverão ser colocadas mais próximas a esta. Concluído o primeiro momento da oficina, passamos para a prática guiada.

 Prática guiada: os participantes receberão cópias com a letra da canção de Roberta Miranda e os poemas selecionados. Em seguida, é realizada a audição da música. O professor pede às participantes que afirmem quais as sensações que experimentaram ao ouvir e ler a letra da canção. O mediador deve chamar a atenção para a relação entre o que foi anotado na cartolina, durante a situação inicial, e o que é apresentado pelos alunos, de modo que eles percebam se suas inferências foram ou não comprovadas a partir do texto (todas as informações apresentadas pelos alunos devem ser anotadas no quadro). Em seguida, o professor realiza a leitura em voz alta do poema "Quantas coisas do amor", de Paula Tavares. É importante que os alunos sejam convidados a ler em voz alta também, de modo que outras vozes e entonações sejam experimentadas. Após a leitura do poema, o professor pede que as participantes, em dupla, releiam o texto, anotando ao lado do poema as sensações que sentiram, dúvidas sobre algum termo, grifando expressões não compreendidas ou imagens que lhes chamaram a atenção. As observações anotadas pelas equipes deverão ser compartilhadas e discutidas entre todos os participantes.

 Leitura independente: nesse momento, os alunos deverão realizar a leitura silenciosa do texto de Cecília Meireles, o poema "Canção do Amor- Perfeito". Antes da leitura, porém, o professor orienta para que realizem com o texto a mesma atividade feita em dupla (grife termos desconhecidos; marquem passagens que lhes chamaram a atenção; façam anotações sobre as sensações que tiveram diante do texto, etc..). Após a leitura realizada pelos alunos e com o término das observações anotadas por eles, o professor pede que os alunos também realizem leituras, em voz alta, do texto. Em seguida, o professor realiza a leitura do poema em voz alta, caso seja necessário, a fim de ajustar a leitura a uma entonação mais adequada ao poema. Depois, os alunos são

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convidados a compartilharem suas impressões do texto. Em seguida, o professor entrega um pequeno caderno e explica aos alunos que se trata do "Diário de poesia", em que os alunos poderão realizar anotações pessoais, reflexões, pensamentos, ilustrações que reflitam suas emoções diante das leituras realizadas - as atividades realizadas com os poemas nesse encontro, deverão ser anexadas no Diário de poesia. Nesse Diário de leitura, o professor deve anexar a seguinte tarefa: Quando eu li o poema lembrei de... Os participantes deverão complementar essa informação, estabelecendo assim uma conexão entre o texto e sua experiência pessoal.

 Partilha em grupo e avaliação: o professor deve indagá-las sobre as semelhanças e diferenças entre os textos lidos anteriormente e esclarecer as dúvidas referentes a termos ou expressões não compreendidos pelos alunos. Esse deve ser um momento de partilha sobre os textos, a fim de que se perceba o diálogo entre eles, mas também as diferentes experiências apresentadas em cada um dos textos. É, portanto, o momento de estabelecer as conexões entre os textos lidos - conexão texto-texto - mas também entre texto e leitor - nesse momento, os participantes poderão relatar suas experiências e refletir até que ponto o texto representa algo vivido por eles ou por alguém deles conhecido. O mediador deve, por fim, avaliar a utilidade dessa proposta, recapitulando as atividades de inferência e conexão realizadas pelos alunos, a fim de perceber os níveis de recepção deles em relação aos textos apreciados.

5. Considerações finais

As atividades aqui sugeridas, visão, além da apreciação de poesias e canção popular de autoria feminina, colaborar para a compreensão do texto lido, a fim de contribuir para a apropriação do texto poético pelo aluno-leitor, de modo a favorecer a utilização de estratégias de leitura que poderão ser utilizadas por eles em outros momentos de leitura. Afinal, só tem sentido a leitura de poesia quando ela é compreendida, assim, a compreensão é essencial para se alcançar a conexão entre texto - leitor desejada.

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Além disso, nossa opção em trabalhar com o gênero poesia, apesar das dificuldades em torno de métodos que favoreçam a compreensão e apreciação desses textos, se dá pelo fato da poesia proporcionar a educação dos sentidos, mas também da sensibilidade, conforme indica Pinheiro (2007). Todavia, essa reação que a poesia pode causar no leitor, só acontecerá, a partir do momento em que o leitor conseguir se apropriar do texto em questão. Tal apropriação sugere compreensão da linguagem e dos sentidos do texto literário. Visando a esse fim, propomos atividades que, utilizando as estratégias de leitura: conexão e inferência, buscam oferecer instrumentos de compreensão de texto aos alunos, público-alvo dessa pesquisa.

Por fim, enfatizamos que o direito à literatura de que trata Candido deve ser também e/ou sobretudo direcionado aos públicos que sofrem, de algum modo, exclusão social. Sejam pessoas idosas em asilos, crianças internadas em orfanatos ou casas de recuperação, presidiários, hospitais etc.. Essa forma de humanização precisa, cada vez mais, ser colada a disposição de todos.

6. Referências

CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Textos de intervenção. 34 ed. São Paulo: Duas cidades, 2002.p.77-92.

______. O direito à literatura. In. CANDIDO, A. Vários escritos. São Paulo; Duas Cidades, 1995, p. 169-191.

COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2014. GIROTTO, C. G. G. S.; SOUZA, R. J. Estratégias de leitura: para ensinar alunos a compreender o que leem. In: SOUZA, R. J.... [et al.].Ler e compreender: estratégias de leitura. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p. 45-114.

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. p. 5-78.

MEIRELES, C.. Antologia Poética. São Paulo: Global, 2013.

PINHEIRO, H.. Poesia na sala de aula. Campina Grande: Bagagem, 2007.

TAVARES, P.. Amargos como os frutos: poesia reunida. Rio de Janeiro: Pallas, 2011. TODOROV, T.. A literatura em perigo. (Trad. Caio Meira). Rio de Janeiro: Difel, 2009. Vá com Deus. Disponível em: http://www.vagalume.com.br/robertamiranda/

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