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NOTAS SÔBRE A MORFOLOGIA DO NORTE DA BEIRA TRASMONTANA

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Academic year: 2021

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DA BEIRA TRASMONTANA

POR

AMÍLCAR PATRÍCIO PROFESSOR DO LICEU DE BEJA BOLSEIRO DO INSTITUTO PARA A ALTA CULTURA

A maior parte da Beira Trasmontana, que 'Se estende ao Norte da. Cordilheira Central, é caracterizada, na sua morfolo-gia, por um extenso e uniforme planalto com a altitude média de '700 metros. Compreende as regiões à volta da Guarda, Vilar-Formoso, Almeida e Pinhel, e, sem grande- quebra de uniformidade, prolonga-se com o mesmo aspecto de superfície para o Norte, até perto do rio Douro.

Neste conjunto aplanado,o acidente de maior importância . no relêvo é constituído por uma série de montes designados por "Serrada Marota», e que, paralelamente ao Douro, dividem o planalto em duas secções. Foi particularmente na secção Norte que fiz as observações que se seguem.

O traço fundamental desta secção é ainda o de uma plata-forma; mas com a altitude média compreendida entre 550 a 600 metros.

A diferença de nível que se verifica entre esta parte e a restante superfície da Beira Trasmontana resulta de uma incli-nação geral para o Norte, porventura exagerada localmente pela acção erosiva da rêde hidrográfica, que atravessa o pla-nalto de Sul para Norte e concorre perpendicularmente ao rio Douro. De SOO metros no sopé das serràs da Cordilheira Centrar, desce-se insensivelmente para 500 ou mesmo 400 junto daquele rio.

Nada parece interromper êste grande bloco rígido que da Cordilheira Central se inclina suavemente para o Norte.

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Apenas, acima da plataforma, se encontram arelevos residuais"

do tipo Inselberge, constituídos por materiais de maior resis-. tência, como a quartzite, o quartzo e o granito de grão fino, que a erosão nunca conseguiu aplanar totalmente. Assim, na área estudada, encontram-se, além da Serra da Marofa de que trataremos particularmente, uma série de morros situados entre a mesma serra e o rio Douro, com a orientação .E.-O., cujas alturas dominam de 50a 80 metros a superfície de base. Observação mais cuidadosa permite-rios ver que simultâ-neamente esta secção Norte do planalto se inclina também de Leste para Oeste, do rio Águeda para o rio Côa. Asuperfície prolonga-se neste sentido sem quebra de continuidade, e nivela ainda o tracto da margem esquerda do Côa até à ribeira de Massueime, seu afluente. Esta superfície, inclinada ao mesmo tempo para Norte e para Oeste,continua até ao Douro, domi-nado ao Norte pelos relevos quartzíticos da Serra do Reboredo, com altitudes superiores a 750 metros, e a Ocidente por outro nível planáltico que aqui se mantém à altitude de cêrca de 700 'metros.

A inclinação para o Norte, resultante de uma deformação, pode ter sido exagerada por efeito da erosão do conjunto da rêde hidrográfica da margem esquerda do Douro, de que os rios Águeda e Côa com as ribeiras de Tourões e de Aguiar fazem parte. Para a explicação do degrau ocidental não são estranhas causas tectónicas. As fontes termais de Longroíva, na margem esquerda da ribeira dos Areais, ficam localizadas num profundo e rectilíneo vale que é ainda a continuação, ao Sul do Douro, da grande fractura da Vilariça. Um alinhamento estrutural, com vales rectilíneos que seguem faixas de trituração, menos resistentes (ribeira dos Areais, ribeira que desagua a O. do Pocinho

>,

pode apresentar localmente uma rejeição apreciável: assim se originou o degrau ou escarpa de falha que hoje separa dois compartimentos, primitivamente pertencentes à mesma superfície. A escarpa coincide aqui com o contacto do xisto e do granito: mas, o facto de o compartimento de xisto (rocha menos resistente) estar acima do compartimento de granito (rocha mais resistente), mostra que se não pode tratar de um simples degrau de erosão.

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As rochas que dominam por tôda a superfície são o xisto . antecâmbrico e o granito. Materiais de natureza tão diferente, são por essa razão bem visíveis os contrastes da topografia abrangida pelas duas áreas. A superfície granítica é mais regular e aplanada, com vales rectilíneos de vertentes abruptas nalguns pontos, ao contrário das zonas xistosas, onde os terrenos têm aspecto mais movimentado e a rêde hidrográfica o traçado sinuoso tão característico.

A área dos xistos predomina ao Sul da Serra da Marofa, dispondo-se o relêvo em montículos cujos cimos são nivelados a uma altitude inferior à da área granítica. mais plana e elevada que se encontra pará Sueste até à fronteira: vê-se assim a desigual resistência dêstes dois materiais na mesma superfície de aplanação.

Na margem esquerda do Douro, existe outra mancha de terrenos xistosos que é a continuação da região do Alto-Douro; o aspecto morfológico desta área é especialmente característico entre o rio Douro e o curso inferior do CÔa, onde aparecem montesinhos separados por inúmeros cursos de água que cor-rem em vales muito encaixados.· Na constituiçãodêstes xistos entram predominantemente os xistos argilosos e xistos meta-mórficos muito luzentes e rijos, como os que se observam ao Norte de Escalhão entre a ribeira de Aguiar e o rio Águeda, quando estabelecem o contacto com o granito.

A área dos xistos da Serra da Marofa fica individualizada entre afloramentos graníticos que a limitam em tôda a extensão. Os xistos dispõem-se com inclinações muito variadas que che-gam quãsi à vertical, e por vezes, nas encostas desnuda-das, formam verdadeiras livrarias. No contacto com o granito . aparecem corneanas de grande dureza. Em certos sítios de contacto os dois materiais alteram-se muito. O xisto aparece esmigalhado e o granito muito alterado. Nas encostas da Serra, observa-se às vezes um gneiss com vestígios de enrugamento. O xisto, muito micáceo e bem conservado, vai-se alterando à medida que sobe, e mostra côr avermelhada e manchas ferru-ginosas.

Predomina o granito porfiróíde,

dente - de-cavalo,

com grande desenvolvimento de cristais de ortoclase, fàcilmente

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desagregável, que dá origem a um solo de areia grossa, poroso e muito permeável. Aparece. em blocos isolados, muito ata-cados pela erosão, ou em morros que geralmente têm pequena altura acima do planalto.

-ASERRA DA MAROFA - O aspecto morfol6gico do planalto, que caracteriza esta área, é quebrado por uma cadeia de relevos de certa importância, denominados Serra da Marofa; esta é for-mada por uma série de montes que se dispõem com a orientação de ENE.-OSO., desde o rio Águeda até ao rio Côa.

Esta orientação tão característica, em estreito paralelismo com os mais importantes acidentes morfol6gicos do maciço antigo, nomeadamente os do centro do País; não nos deve fazer supor qualquer relação com a chamada IIdirecção béticaII. A Serra da Marofa faz antes parte do mesmo sistema de mon-tanhashercínicas que em Portugal predominam com a orienta-ção de NO.-SE., e se infletem, nas regiões mais orientais, para rumos vizinhos de E.-O.. Uma carta geol6gica da Península claramente mostra a virgação que as cristas silúricas sofrem à medida que se caminha para o interior.

O conjunto orográfico desta serrania é fundamental mente formado de xistos antecâmbricos que constituem a arquitectura dos seus montes. Porém, nas linhas decumeada e ainda a meia encosta, sobressaem cúpulas e picos aguçados de quartzites, reconhecidas hoje como pertencentes ao Silúrico inferior (Ordo-viciano), Tive ocasião de recolher alguns exemplares de bilo-bites (cruzianas}, análogas às descritas por Nery Delgado em Moncorvo.

Estas raízes silúricas, restos de um relêvo desmantelado pela erosão, encimam a série de montes de flancos antecâmbri-cos, desde o Águeda ao Côa, ultrapassando êste rio em frente de Santo-Antõnio-de-Azevo em direcção à ribeira de Massuieme, afluente do último.

Em tôda esta extensão encontrei retalhos das formações silúricasi no entanto, alguns dos montes mais arrasados e des-gastados pela erosão conservam fraca altuta em relação à

superfície de base. A· área destas formações, até onde foi possível vreconhecê-las, fica. demarcada no esbôço que

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acom-panha êste trabalho e é limitada aos montes de maiores

altitudes. .

Do rio Águeda para Ocidente, temos, ao Norte de Almo-fala, uma pequena crista de relevos muito desgastados, que atestam o prolongamento de tôda a Serra, e ainda em Espanha se descortina nova série de elevações tão importantes como as da parte portuguesa; depois os principais montes com as seguintes altitudes - Nave-Redonda (777 m), Castelo-Rodrigo (856 m), o ponto mais elevado da Marofa, com 977 metros, e finalmente, mais para 'Oeste, uma linha de cumeadas com as cotas de 878, 840, 811, 854, 876, 855, 754 e 719 metros, até ao rio Côa, onde o relêve se esbate ao nível do planalto. Entre o Côa e a ribeira de Massueime aparecem pequenos montes que não ultrapassam 600 metros, muito arrasados pela erosão, os quais apenas deixaram vestígios nos depósitos de fragmentos de quartzites que se espalham por esta área.

O conjunto destas elevações têm origem na acção de desgaste: materiais de natureza tão diferente, opuseram-lhe tam-bémdesigual resistência. É o processo clássico da erosão dife-rencial, comum em regiões onde ocorrem as três rochas com tanta Ireqüência associadas no maciço antigo português: xisto, granito e quartzite.

Nos montes que se encontram isolados, podem ver-se nos cimos as quartzites bem estratificadas, com um pendor de cêrca de 45°, de vertentes rectilíneas, assemelhando-se a verda-deiros cones, como acontece com os montes de Nave-Redonda, o da povoação de Castelo-Rodrigo eo cimo mais elevado da

Marofa. . ' .

A série de cumeadas atrás referidas, bem alinhadas até ao Côa, têm junto a êste rio outra breve linha de cristas silúricas paralelas à principal, a Oeste da povoação de Penha.

Nestes alinhamentos há a assinalar a surpreendente disse-metria das vertentes. A do Sul cai em escarpa muito abrupta, ao contrário da do Norte, cujo perfil levemente convexo mer-gulha .suavernente na planície.

DEPÓSITOS DE VERTENTE E DE SOPÉ - A acção erosiva, que teve o principal papel no desmantelar da cadeia montanhosa da

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Marofa, tem-se exercido com grande intensidade a avaliar pelos

detritos que cobrem grande parte do planalto circunvizinho.

O primeiro facto a assinalar é a ausência de materiais

desa-gregados pela erosão na encosta Sul da serra, desde o monte

mais elevado até ao rio Côa. Êles apenas se conservam na

vertente Norte, a maior ou menor distância, mas somente na

área do planalto que tem uma topografia próximo da horizontal.

Formam aí um depósito em que predominam frag mentos de

quartzite, que SÓ podem ter vindo das cristas silúricas da serra e se estendem desde a encosta até distâncias que alcançam

nal-guns pontos cêrca de 10 quilóm etros.

A Serr a da Marota vista do Sul;o relêvo ergue-se bruscamenteacima

doplanaltouniforme, comum ângul o bem marcado nabase.

Na região meridional, que, como se disse, mostra uma topografia xistosa com inúmeros montículos separados pela rêde

de afluentes e sub-afluentes do Côa, não encontrei quaisquer

vestígios de materiais provindos da serra. Os depósitos, nesta

vertente de maior pendor que a do Norte, limitam-se à grande

abundância de fragmentos de quartzite com as arestas muito vivas, situados logo abaixo da linha de cumeada e provenientes

da demolição desta: o aspecto dos blocos mostra que não

sofre-ram grande transport e.

Na região Norte, encontra-se uma extensa área de

depô-5itOS que cobre a planície numa linha paralela à serra, tirada

aproximadamente desde a povoação de Freixeda-do-Torrão até

junto da fronteira.

A área da maior e mais espêssa cobertura encontra-se

pró-ximo de Figueira-de-Castelo-Rodrigo, e o depósito assenta tanto

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que o constituem são a quartzite, predominantemente, o quartzo

e o xisto. Na maior extensão êstes materiais apresentam-se

soltos, de arestas vivas muito angulosas e de dimensões muito

uniformes (cêrca de 10 centímetros de diâmetro).

Num ou noutro lugar.rondea cultura do solo não revolveu

os terrenos, podem ver-se êstes mesmos materiais envolvidos e aglutinados por uma massa argilosa que nuns pontos é clara e noutros, mais geralmente, avermelhada, colorida por minerais ferruginosos, como a hematite, que particularmente abunda na serra.

Êste manto de recobrimento, assente sôbre a superfície do

granito, tem uma espessura de dois a três metros. . O granito

está fortemente alterado e dá origem a um solo saibroso com os

feldspatos bem individualizados. Na área dos xistos também

êstes se apresentam muito alterados, encontrando-sé vulgarmente a argila pura muito vermelha, como na encosta Norte do monte de Castelo-Rodrigo.

À medida que se sobe, o depósito aumenta de espessura,

. os blocos apresentam-se soltos à superfície e as arestas'são

pouco gastas; em cortes de barrancos podem observar-se

espes-s~ras de mais de 5 metros. Na parte mais inferior, os calhaus

são bem consolidados por cimento argiloso e mostram um

cornêço de rolamento.

O mesmo material, fragmentos de quartzite e quartzo, encontra-se também, e a maior distância, para Oriente de Figueira-de-Castelo-Rodrigo, até às pequenas alturas que

domi-nam a povoação de Almofala, e ainda em tôda a área planáltica

oriental da vertente Sul da serra da Marofa. Nesta região, os

calhaus, um pouco lisos, aparecem soltos e nunca os encontrei

estratificados. A cultura do solo, que aqui é intensa,

des-truiu a consolidação dos materiais detríticos, que o homem

utiliza para divisórias nas extremas das propriedades. Têm êste

aspecto todos os terrenos situados ao Sul do monte de Castelo--Rodrigo, a área de Vilar-Torpirn e Vermiosa.

Depósitos de vertente, embora de muito pequena impor-tância, encontram-se no flanco Sul duns pequenos cerros de quartzo e quartzite ao Norte da povoação de Vilar-de-Amargo:

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TERRAÇOS FLUVIAIS DO RIO DOURO - Numa pequena bacia que -se alarga à volta de Barca-de-Alva, existem formas de relêvo muito distintas da topografia das regiões vizinhas.

<' Dum e doutro Lado da estrada que conduz à. estação e

aproveita um pequeno valeiro que vai directamente ao Douro, erguem-se cabeços de cimo plano e horizontal, mas de difícil acesso em alguns pontos, na parte superior, pelo grande reves-timento dum forte matagal.

Em vários sítios, aproveitando o corte da estrada e peque-nos sulcos do terreno, pude observar o material que os cons-titui: calhaus muito bem rolados de calibre variável, alguns de 30 centímetros de diâmetro. de quartzite e quartzo. Em maior abundância havia calhaus de xisto muito lisos, entremeados também com material de origem granitica. Na parte inferior predominavam calhaus de xisto de menor calibre, muito seme-lhantes aos que o do na actualidade arrasta, misturados ainda com grandes massas de areia.

Êstes montes correspondem na carta de 1:50.000 aos pontos cotados com 197 e 177 metros. A altitude em relação ao nível em que corre o rio éde cêrca de 80 e 60 metros. São terraços fluviais do Douro, o que se reconhece quer pelas formas .topográficas dos pequenos acidentes quer pela natureza do material acumulado, o qual SÓpodia ter sido trazido pelo rio. Que não estão relacionados com transporte na vertente prova-se por se não terem encontrado, noutros lugares e a maiores altu-ras, depósitos do mesmo tipo.'

O terraço que se pode observar em melhores condições fica ao lado esquerdo da estrada,próximo dum chafariz: o cimo é perfeitamente plano numa grande extensão e com grande abundância de material, embora a cultura do solo o tenha em parte revolvido. As alturas relativas expressas nas cotas é a observação local mostram que se trata de dois niveis de terraços fluviais. Consignamos esta observação isolada para indicar um ponto onde se podem observar terraços do Douro, que geral-mente não apresenta boas condições de conservação dos mesmos.

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.POR AMíLCAR PATRÍCIO I • • • • • • • • • • • • • e\ ~Yll "'CHI1S ,

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10 Km. ~---'---~ • • VIHMIOl

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:GENDA: 1 - cristas de quartzite; 2-outrosrelevos residuais; 3 -plataforma da Beira Trasmontana; 4-Dep6sitos detríticos ; 5 - alinhamentos estruturais e escarpas de falha.

Referências

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