• Nenhum resultado encontrado

Perigo de desastre ferroviário

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Perigo de desastre ferroviário"

Copied!
36
0
0

Texto

(1)

CAPÍTULO II

DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE

COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS

Perigo de desastre ferroviário

Art. 260. Impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro:

I - destruindo, danificando ou desarranjando, total ou parcialmente, linha férrea, material rodante ou de tração, obra-de-arte ou instalação;

II - colocando obstáculo na linha;

III - transmitindo falso aviso acerca do movimento dos veículos ou interrompendo ou embaraçando o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia;

IV - praticando outro ato de que possa resultar desastre: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Desastre ferroviário

§ 1º. Se do fato resulta desastre:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, e multa. § 2º. No caso de culpa, ocorrendo desastre:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

§ 3º. Para os efeitos deste artigo, entende-se por estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo.

COMENTÁRIOS

1 BEM JURÍDICO. RESULTADO NORMATIVO.

O bem jurídico protegido é a incolumidade pública, tutelando a segurança e comunicação dos meios de transportes públicos. Neste tipo penal especificamente o transporte ferroviário.

O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência qualquer resultado naturalístico.

(2)

2 MODALIDADES TÍPICAS.

O caput do art. 260 prevê a forma básica dolosa que consiste no impedimento ou perturbação do serviço ferroviário. O § 1º descreve a figura qualificada pelo resultado quando o agente efetivamente causa o desastre ferroviário. O § 2º apresenta o tipo culposo, que somente se configura com o acidente ferroviário. Por fim, o § 3º traz uma norma penal explicativa definindo o que é estrada de ferro e as situações equiparadas para fins penais.

3 SUJEITOS DO DELITO.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, tratando-se de crime comum.

SA  QUALQUER PESSOA – CRIME COMUM

Sujeito passivo é a coletividade ou a sociedade. Também pode ser sujeito passivo a pessoa que teve algum bem jurídico diretamente lesionado pela conduta. Este crime é classificado como crime vago ou de sujeito passivo vago, no qual a vítima principal não possui personalidade jurídica determinada.

SP  COLETIVIDADE

4 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO.

O delito de perigo de desastre ferroviário é um crime misto alternativo ou de conteúdo variado no qual o legislador descreve duas formas de realização. As condutas típicas são impedir (que tem o sentido de obstruir) e perturbar (embaraçar). Após estabelecer as formas gerais, o tipo apresenta quatro incisos que descrevem como os verbos núcleos poderão ser praticados especificamente. Destacamos que o impedimento e a perturbação realizados nas situações dos incisos I a IV podem ocorrer total ou parcialmente.

VERBOS: IMPEDIR (OBSTRUIR) / PERTURBAR (EMBARAÇAR)

CONDUTAS DEVEM CAIR SOBRE SERVIÇOS EM ESTRADA DE FERRO

O perigo de desastre tem que ocorrer em estrada de ferro. O § 3º define para fins penais o que é considerado como estrada de ferro: entende-se por estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo.

O objeto material é a linha férrea, material rodante ou de tração, obra de arte ou instalação, telégrafo, telefone ou radiotelegrafia.

(3)

O impedimento e a perturbação podem ser praticados da seguinte forma:

I - destruindo, danificando ou desarranjando, total ou parcialmente, linha férrea, material rodante ou de tração, obra-de-arte ou instalação.

As condutas são destruir (fazer desaparecer), danificar (estragar) ou desarranjar (desmontar ou embaralhar) de forma parcial ou total. Os objetos materiais descritos são a linha de ferro, que tem o sentido mais restrito do que estrada de ferro, que consiste na via permanente e fixa formada por trilhos. Material rodante são os vagões de carga e passageiros e os rebocadores. Materiais de tração são as locomotivas que puxam as demais composições. Obras de arte são os túneis, pontes, viadutos e outros. Instalação são os equipamentos utilizados no transporte, tais como aparelhos de sinalização, controle de tráfego, etc.

LINHA FÉRREA  TRILHOS, ETC. / MATERIAL RODANTE  VAGÕES MATERIAL TRAÇÃO  LOCOMOTIVAS / OBRAS-DE-ARTES  TÚNEIS, PONTES / INSTALAÇÃO  APARELHOS DE SINALIZAÇÃO

II - colocando obstáculo na linha.

A conduta é colocação (por em determinado lugar) obstáculo (que tem o sentido de barreira ou impedimento). Este obstáculo colocado na linha precisa ter a capacidade de criar o perigo concreto de desastre.

OBSTÁCULO PRECISA CRIAR PERIGO CONCRETO

III - transmitindo falso aviso acerca do movimento dos veículos ou interrompendo ou embaraçando o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia.

Nesta modalidade o agente cria sérios transtornos para a comunicação do serviço de transporte ferroviário. Transmitir falso aviso sobre o movimento dos veículos é enviar informação equivocada sobre o tráfego das composições. Interromper é fazer cessar, e embaraçar tem o sentido de atrapalhar o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia.

INTERFERÊNCIA CONFUNDINDO AS COMUNICAÇÕES ENTRE TRENS E AS ESTAÇÕES

IV - praticando outro ato de que possa resultar desastre.

Neste inciso o legislador utilizou de interpretação analógica ou extensiva, vez nos anteriores ele descreveu fórmulas casuísticas. Enquadrar-se-á neste inciso qualquer conduta que o agente pratique que seja capaz de impedir ou perturbar o serviço ferroviário e que não foi mencionada nas figuras típicas antecedentes. Por exemplo, a conduta do agente que subtrai ou impede a comunicação via fac-símile entre o meio de transporte e a estação ou entre duas estações.

(4)

DESASTRE

Destacamos que apesar do legislador ter mencionado a expressão “de que possa resultar desastre” apenas no inciso IV esta exigência ocorrerá em todas as modalidades típicas previstas nos incisos anteriores (I a III).

O crime do art. 260 é de perigo concreto e coletivo, o que significa que o agente agirá com o escopo de expor a risco o meio de transporte e um número indeterminado de pessoas e coisas. Caso o sujeito coloque em risco a vida de pessoa determinada ou mesmo que venha causar sua morte, mas sem o seu conhecimento, não responderá por este delito nem na forma culposa. Para exemplificar isto, citamos uma situação que era muito comum no Rio de Janeiro, em que jovens subiam no teto das composições por diversão ou por necessidade e acabavam se acidentando sem o conhecimento dos maquinistas (vide o julgado TJRJ – AC – Rel. Antonio Carlos Amorim – RJTJRJ 12:339).

TODAS AS FIGURAS DEVEM CAUSAR PERIGO CONCRETO DE DESASTRE, APESAR DE SÓ O INC. IV FALAR

Desastre ferroviário é o acidente grave e complexo em uma estrada de ferro que produz risco a um número indeterminado de pessoas e coisas.

O crime do art. 266 (Interrupção ou Perturbação de Serviço Telegráfico ou Telefônico) será absorvido pelo deste artigo, quando a conduta for praticada com o fim causar perigo de desastre ferroviário.

5 ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO.

O delito é praticado com o dolo de perigo concreto e coletivo genérico (sem finalidade especial), direto (vontade) ou eventual (assentimento). O tipo penal não prevê nenhuma finalidade específica por parte do agente.

O fato do condutor da composição imprimir velocidade superior a permitida não configura em si o delito de perigo de desastre ferroviário. Se desse excesso de velocidade um acidente ocorre o agente responderá apenas pelos resultados eventualmente causados (morte ou lesões corporais culposas nos passageiros).

6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.

O crime se consuma com a provocação do perigo concreto de desastre, causando risco para um número indeterminado de pessoas e coisas. Entendemos que é admitida tentativa

(5)

apenas na forma perturbar, pois a tentativa de impedir é perturbação e o delito com isto já estaria consumado. Contra o nosso posicionamento, Cezar Roberto Bitencourt (2004, p.202) que admite a tentativa em todas as modalidades.

TENTATIVA SÓ MODALIDADE PERTURBAR, MAS HÁ ENTENDIMENTO CONTRÁRIO

7 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.

O delito do art. 260 não contém elemento normativo.

8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.

O delito de perigo de desastre ferroviário é crime comum (no qual qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo); material para Damásio (1999, p.302) e Bitencourt (2004, p.203) (pois exige resultado naturalístico que é a comprovação do perigo de desastre) ou formal no entendimento de Guilherme Nucci (2003, p.741) (prevê o resultado naturalístico que não precisa ocorrer. Caso haja o dano, este será mero exaurimento do delito); comissivo (delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal); instantâneo (cuja consumação é imediata); de perigo concreto e coletivo (perigo deve ser demonstrado e expor a risco um número indeterminado de pessoas e coisas); unissubjetivo (necessita apenas de um agente para praticá-lo); plurissubsistente (a conduta é fracionável em vários atos). Vinculado porque prevê duas formas genéricas de praticar (caput) e depois o legislador regulamenta como estas modalidades podem ser realizadas especificamente (incisos I a IV); de forma alternativa ou mista, pois independentemente do agente praticar uma ou mais condutas, responderá uma única vez pelo delito; e, não transeunte (é crime que deixa vestígios).

9 MODALIDADES DERIVADAS.

9.1 QUALIFICADORA EM FACE DO RESULTADO AGRAVADOR (§ 1º).

O parágrafo primeiro do art. 260 prevê a forma qualificada pelo resultado quando a conduta do agente resulta no desastre ferroviário. Desastre ferroviário é o acidente grave e complexo em uma estrada de ferro que produz risco a um número indeterminado de pessoas e coisas. Damásio (1999, p.301-302) entende que este resultado agravador pode ocorrer de maneira

(6)

culposa (preterdolo) ou dolosa. Isto significa que o acidente pode ter sido causado pelo agente pela quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia) ou intencionalmente. Bitencourt (2004, p.203) e Rogério Greco (2010, p.716) defendem que o resultado agravador somente pode ser culposo, ou seja, a modalidade do parágrafo 1º é exclusivamente preterdolosa.

§ 1º  CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO DESASTRE. ESTE RESULTADO + GRAVE PODE VIR CULPOSA OU DOLOSAMENTE

Não é admitida a tentativa quando a conduta for preterdolosa. Entretanto, se o resultado agravador também foi querido pelo agente, a tentativa é admissível

9.2 DESASTRE CULPOSO (§ 2º).

Se o agente causa o acidente em virtude da inobservância do dever objetivo de cuidado (art. 18, II do Código Penal), responderá pela figura típica deste parágrafo. Só há responsabilização por culpa se o desastre realmente acontecer.

PARA RESPONDER POR CULPA (INOBSERVÂNCIA DO DEVER OBJ. DE CUIDADO) DEVE HAVER O DESASTRE, CASO CONTRÁRIO, A CONDUTA É ATÍPICA

9.3 NORMA PENAL EXPLICATIVA (§ 3º).

O legislador no parágrafo 3º definiu o que é considerada estrada de ferro para efeitos penais. Diz o dispositivo: Para os efeitos deste artigo, entende-se por estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo. Interpretando o que o artigo diz, não somente o transporte por meio de trem de ferro é protegido, mas também aquele realizado por meio de bonde (filovia), metrô e teleférico.

10 PENA E AÇÃO PENAL.

O crime de perigo de desastre ferroviário é punido, cumulativamente, com pena de reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Na modalidade qualificada pelo resultado culposo ou doloso a pena é cumulativa, reclusão, de quatro a doze anos, e multa. O desastre ferroviário culposo é apenado com pena de detenção, de seis meses a dois anos. A ação penal é pública incondicionada.

(7)

11 QUESTÕES RELEVANTES.

Se o agente causar o acidente ferroviário movido por finalidade política atentando contra a segurança nacional, responde pela conduta do art. 15 da Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional).

Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. § 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b) dano, destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem com a pena deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.

Se da conduta dolosa do agente resultar morte ou lesões corporais graves (preterdolo); ou se da conduta culposa resultar morte ou lesões corporais, aplicar-se-á ao agente o disposto no art. 263 do Código Penal.

O agente que pratica a conduta matando pessoa determinada que se encontre no interior do meio de transporte e que também atua visando causar perigo comum e concreto para um número indeterminado de pessoas responderá pelo concurso de delitos previsto na parte final do art. 70 do Código Penal (concurso formal impróprio).

Rogério Greco (2010, p.717) defende que se o sujeito vier a sabotar os trilhos de uma linha férrea com o escopo de que os passageiros que nele se encontrem venham a morrer em virtude do descarrilamento, deverá responder por homicídio consumado ou tentado, e não pelo crime de perigo de desastre ferroviário, ou pelo de desastre ferroviários. Entendemos de forma diversa, considerando que neste caso ele responderá por homicídio consumado ou tentado (art. 121, caput) em concurso material ou formal (dependendo da forma de execução) com o de desastre ferroviário (art. 260, parágrafo 1º)

12 JURISPRUDÊNCIA.

Surfista ferroviário – “A possibilidade, remota e indireta, de poder o passageiro que viaja sobre o teto da composição, na hipótese de cair, vir a causar acidente, pelo arrastamento e lançamento de componentes na linha, ou desastre ferroviário, não caracteriza o crime de perigo de desastre ferroviário. Atipicidade da ação e ausência do elemento subjetivo ou tipo subjetivo”. (TJRJ – AC – Rel. Antônio Carlos Amorim – TJRJ 12:339).

Indivíduos que colocam o obstáculo na linha de trem, arrancando, outrossim, as tabuletas de avisos – Hipóteses em que não houve perigo de desastre, por ter sido removido o obstáculo – Condenação, entretanto, dos mesmos pela infração prevista no art. 163, parágrafo único, III do CP – “Não é certo que o simples fato de colocar obstáculo na linha configura o delito do art.

(8)

260, IV, do CP. É necessária a real ocorrência de perigo objetivo” (TJSP – AC – Rel. Acácio Rebouças – RT 444/308).

“O maquinista que imprime à locomotiva velocidade superior à permitida pelo regulamento, dando causa ao descarrilamento da mesma e ferimentos nos seus passageiros, responde pela infração do art. 129, § 6º, do CP, e não a do art. 260 do citado estatuto, demonstrando que agiu apenas culposamente e não com o propósito de praticar ato de que pudesse resultar o desastre” (TACRIM-SP – AC – Rel. Adriano Marrey – RT 252/353).

“O dolo, na infração prevista no art. 260 do CP, consiste na vontade consciente e livre e na intenção de praticar o fato que põe em perigo a segurança dos transportes públicos, pouco importando que o agente tenha ou não o escopo de fazer surgir o perigo ou de ocasionar o desastre, porque a ocorrência do perigo é um requisito objetivo” (TJSP – AC 49.978 – Rel. Thrasybulo de Albuquerque – RT 251/170).

Atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou

aéreo

Art. 261. Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo

§ 1º. Se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe de embarcação ou a queda ou destruição de aeronave:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Prática do crime com o fim de lucro

§ 2º. Aplica-se, também, a pena de multa, se o agente pratica o crime com intuito de obter vantagem econômica, para si ou para outrem.

Modalidade culposa

§ 3º. No caso de culpa, se ocorre o sinistro:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

COMENTÁRIOS

(9)

O bem jurídico protegido neste tipo penal é incolumidade pública, vinculada à segurança dos meios de transportes públicos (marítimo, fluvial e aéreo). Indiretamente também se protege a vida, integridade física e patrimônio de um número indeterminado de pessoas.

O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência qualquer resultado naturalístico.

2 MODALIDADES TÍPICAS.

No caput é descrita a modalidade básica dolosa, que consiste na exposição ao perigo ou impedimento ou perturbação dos meios de transportes públicos tutelados.

O parágrafo primeiro define a forma qualificada pelo resultado quando a conduta do agente causar o sinistro marítimo, fluvial ou aéreo.

No parágrafo segundo há uma qualificadora de ordem subjetiva que consiste na conduta realizada com o fim de obtenção de lucro.

Por fim, no parágrafo terceiro pune-se o sinistro causado pelo agente de forma culposa.

3 SUJEITOS DO DELITO.

O crime é comum, no qual qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o proprietário ou funcionário da empresa que presta o serviço de transporte público.

SA  QUALQUER PESSOA / CRIME COMUM

Sujeito passivo é a coletividade. Por ser vítima ente que não possui personalidade jurídica o crime é classificado como de sujeito passivo vago. No caso de sinistro também será sujeito passivo a pessoa atingida pela conduta do agente.

SP  COLETIVIDADE / CRIME VAGO

4 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO.

O objeto material é a embarcação ou aeronave de transporte coletivo, contra a qual é dirigida a conduta do agente.

O art. 261 pode ser realizado de duas formas, tratando-se de crime misto alternativo ou de conteúdo variado.

(10)

O agente pratica a conduta expondo (colocando) a perigo concreto embarcação (é a construção destinada a navegar sobre a água) ou aeronave (é todo aparelho manobrável em vôo, que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas – art. 106 do Código Brasileiro de Aeronáutica1) própria ou alheia que se destine a transporte coletivo de pessoas e/ou coisas; ou, realizando atos com o objetivo de impedir (obstar) ou dificultar (atrapalhar) a navegação ou vôo. Nesta segunda forma, o agente deve agir com a finalidade de gerar o perigo concreto para o meio de transporte marítimo (mar), fluvial (rio) ou aéreo (ar). Não são protegidas as embarcações lacustres (lagos), em face de ausência de previsão do tipo penal. Entendemos que estas embarcações serão protegidas no tipo do art. 262 do Código.

FIGURAS: 1) EXPOR A PERIGO CONCRETO EMBARCAÇÃO OU AERONAVE PROPRIA OU ALHEIA / 2) PRATICAR ATO DE PERIGO CONCRETO PARA IMPEDIR OU DIFULTAR NAVEGAÇÃO OU VÔO

Por ser crime de forma livre admite qualquer forma de execução.

5 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.

Por depender de definição legal, o meio de transporte aeronave pode ser apontado como elemento normativo do tipo. Apresentamos a definição legal de aeronave nos elementos objetivos do tipo (art. 106 do Código Brasileiro de Aeronáutica).

6 ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO.

O agente atua com o dolo de perigo concreto e coletivo genérico, direto ou eventual. No parágrafo segundo há um elemento subjetivo especial contido na expressão “com o intuito de obter vantagem econômica”.

7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.

O delito no caput do art. 261 se consuma com a exposição a perigo concreto de um número indeterminado de pessoas ou coisas; ou com o perigo concreto causado pela interrupção ou com a atrapalhação criada. Entende-se que é irrelevante o veículo estar em movimento no momento da conduta.

(11)

Admite-se tentativa em todas as modalidades conforme a doutrina majoritária. Entretanto, entendemos que na conduta impedir não se admitiria tentativa, por considerarmos que a tentativa de impedimento já configuraria o dificultar, consumando desta forma o delito.

ADMITE TENTATIVA PARA A CORRENTE MAJORITÁRIA

Na forma preterdolosa (§ 1º) ou culposa (§ 3º) não é possível a tentativa.

8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.

O delito de atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo é classificado assim: comum (qualquer pessoa pode praticá-lo); material para Damásio (1999, p.308) e Bitencourt (2004, p.206) (exige o resultado naturalístico que consiste na criação do perigo concreto para um número indeterminado de pessoas) e formal para Guilherme Nucci (2003, p.743) (consumando-se com a realização das condutas, sendo o sinistro exaurimento do delito); de forma livre (admite qualquer meio de execução); comissivo (delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal); instantâneo (a consumação ocorre de forma imediata); de perigo concreto e coletivo (perigo precisa ser comprovado e a conduta deve expor a risco um número indeterminado de pessoas e coisas); unissubjetivo (exige para a realização da conduta apenas um agente); plurissubsistente (conduta praticada por meio de vários atos); conteúdo variado (pode ser praticado por mais de uma forma, mas a realização de mais de uma delas dentro do mesmo fato não caracteriza concurso de crimes); e, não transeunte (é crime que deixa vestígios).

9 MODALIDADES DERIVADAS.

9.1 QUALIFICADORA PELO RESULTADO (§ 1º)

O parágrafo primeiro do art. 261 prevê a forma qualificada pelo resultado quando a conduta do agente resulta no sinistro (desastre) em transporte marítimo, fluvial ou aéreo. Desastre ou sinistro é o acidente grave e complexo que produz risco a um número indeterminado de pessoas e coisas. Damásio (1999, p.306) entende que este resultado agravador pode ocorrer de maneira culposa (preterdolo) ou dolosa. Isto significa que o acidente pode ter sido causado pelo agente pela quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia) ou intencionalmente. Bitencourt (2004, p.206), Nucci (2003, p.744) e Rogério Grecco (2008, p.83-84 e 2010, p.719) defendem que o resultado agravador somente pode ser culposo, ou seja, a

(12)

modalidade do parágrafo primeiro é exclusivamente preterdolosa.

O legislador define as seguintes situações como resultado qualificador no caso de embarcações: naufrágio (perda ou inutilização da embarcação), submersão (afundamento) ou encalhe (ficar presa sem a possibilidade de deslocamento). Em relação às aeronaves o tipo penal fala de queda (descida brusca ou cair) ou destruição (fazer desaparecer).

9.2 QUALIFICADORA DE ORDEM SUBJETIVA (§ 2º).

O parágrafo segundo prevê a cumulação da pena de multa com a privativa de liberdade quando o agente praticar as condutas do caput com o fim de obter vantagem econômica para si ou para outrem. Como o próprio tipo descreve não há a necessidade de obtenção da vantagem, sendo suficiente para a incidência da qualificadora, o agente agir com o fim especial de obtê-la para si ou para outrem. Nesta hipótese o crime é definido como de tendência por exigir uma finalidade especial do sujeito ativo.

DELITO DE TENDÊNCIA – EXIGE UMA FINALIDADE ESPECIAL DO AGENTE

Por fim, se entendermos que a modalidade prevista no parágrafo primeiro também pode ser dolosa (qualificada pelo resultado doloso), a presente qualificadora também pode ser cumulada com a pena privativa de liberdade prevista.

REALIZAR QUALQUER DAS CONDUTAS DO CAPUT E § 1º COM A INTENÇÃO DE LUCRO, INDEPENDENTEMENTE DE OBTÊ-LO

9.3 MODALIDADE CULPOSA.

Se o agente causa o acidente em virtude da inobservância do dever objetivo de cuidado (art. 18, II do Código Penal), responderá pela figura típica deste parágrafo. Só há responsabilização por culpa se o desastre realmente acontecer.

PARA RESPONDER POR CULPA (INOBSERVÂNCIA DO DEVER OBJ. DE CUIDADO) DEVE HAVER O DESASTRE, CASO CONTRÁRIO, A CONDUTA É ATÍPICA

10 PENA E AÇÃO PENAL.

(13)

qualificada pelo resultado (§ 1º) a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Agindo o agente com a finalidade de obtenção de vantagem econômica para si ou para outrem (§ 2º), a pena de multa será aplicada cumulativamente com a privativa de liberdade. No sinistro culposo (§ 3º), a pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Aplica-se a forma culposa as disposições dos artigos 60, 61 e 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.

11 QUESTÕES RELEVANTES.

Quando a conduta do sujeito ativo visar atingir a segurança nacional não responderá por este delito, mas pelo previsto no art. 15 da Lei n.º 7.170/83.

Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. § 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b) dano, destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem com a pena deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.

Se o agente causar o perigo concreto de desastre através do emprego de incêndio ou explosão responderá pelo crime fim (que é o deste artigo 261 do Código Penal), ocorrendo a absorção do delito anterior (incêndio ou explosão) em face da aplicação do princípio da consunção. No sentido contrário ao nosso, vide Bitencourt (2004, p.206).

O art. 35 do Decreto-Lei n.º 3.688/41 (Lei de Contravenções Penais) prevê a contravenção de abuso na prática de aviação. Rogério Greco (2008, p.86) afirma que a presente contravenção não se confunde com o delito do art. 261 do Código Penal, in verbis: “A diferença entre a contravenção penal tipificada no art. 35 do Decreto-lei n.º 3.688/41 e o crime de atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial e aéreo reside no fato de que as manobras acrobáticas envolvem um risco controlado pelo sujeito que as realiza sendo um minus em relação ao comportamento previsto no art. 261 do Código Penal”.

Consideramos que além da ausência de perigo concreto que é exposta pelo autor supracitado, as acrobacias ocorrem em avião particular ou não destinado ao transporte público, o que também afastaria a tipicidade da conduta.

Art. 35. Entregar-se, na prática da aviação, a acrobacias ou a vôos baixos, fora da zona em que a lei o permite, ou fazer descer aeronave fora dos lugares destinados a esse fim: Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa.

O agente que pratica a conduta matando pessoa determinada que se encontre no interior do meio de transporte e que também atua visando causar perigo comum e concreto para

(14)

um número indeterminado de pessoas responderá pelo concurso de delitos previsto na parte final do art. 70 do Código Penal (concurso formal impróprio).

12 JURISPRUDÊNCIA.

“Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios, incluídos os praticados contra a segurança do transporte marítimo. Inteligência do art. 109, IX, da Constituição Federal” (STJ – RHC 1386 – Rel. Fláquer Sacartezzini – JSTJ e TRF-Lex 32/307).

“Atentado contra a segurança de transporte marítimo (caso Bateau Mouche) – Pena – Subjetivismo da decisão judicial – Aplicação de agravantes em crimes culposos – Admissibilidade – “Se a sentença ao acertar, à luz da prova, a versão do fato delituoso, enuncia claramente da pena, não é de exigir-se que a menção dessas circunstâncias seja explicitamente repetida no capítulo dedicado especificamente à dosimetria da sanção aplicada: a base empírica do juízo de valor que induzir à exasperação da pena pode resultar do contexto da motivação global da sentença condenatória: por isso, não pode ser considerada inidônea, quanto à motivação da pena a decisão que, além de aludir, no item específico, às circunstâncias e gravíssimas conseqüências do crime – que são dados objetivos irretorquíveis do caso – ao fundamentar a condenação, já se esmerara em demonstrar a existência e a extrema gravidade da culpa, que, para o acórdão, chega a tangenciar o dolo eventual: são motivos explicitados de exasperação que, em seu conjunto, guardam congruência lógica e jurídica com a severíssima qualificação da pena-base. Não obstante a corrente afirmação apodítica em contrário, além da reincidência, outras circunstâncias agravantes podem incidir na hipótese de crime culposo: assim, as atinentes ao motivo, quando referidas à valorização da conduta, a qual, também nos delitos culposos, é voluntária, independentemente da não voluntariedade do resultado: admissibilidade, no caso, da afirmação do motivo torpe – a obtenção de lucro fácil – que, segundo o acórdão condenatório, teria induzido os agentes ao comportamento imprudente e negligente de que resultou o sinistro” (STF – HC 70.362-3 – Rel. Sepúlveda Pertence – RT 730/407).

“Para se caracterizar o delito do art. 261 do CP, é imprescindível que se trate de aeronave destinada ao transporte coletivo, caso contrário não identifica o ‘perigo comum’” (TACRIM-SP – Rev. – Rel. Jonas Vilhena – RT 287/174 e RF 189/298).

“Compete a justiça federal processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios, incluídos os praticados contra a segurança do transporte marítimo (STJ, RHC 1386/RJ, Rel. Min. Edson Vidigal, 5ª T., RSTJ 28, p.161).

Atentado contra a segurança de outro meio de transporte

Art. 262. Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento:

(15)

§ 1º. Se do fato resulta desastre, a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

§ 2º. No caso de culpa, se ocorre desastre: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

COMENTÁRIOS

1 BEM JURÍDICO. RESULTADO NORMATIVO.

O bem jurídico protegido neste tipo penal é incolumidade pública, vinculada à segurança de outros meios de transportes públicos fornecidos pelo Estado ou por empresa concessionária (lacustre, terrestre ou outros não abrangidos pelos tipos anteriores). Indiretamente também se protege a vida, integridade física e patrimônio de um número indeterminado de pessoas.

O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência qualquer resultado naturalístico.

2 MODALIDADES TÍPICAS.

O artigo 262 do Código Penal em seu caput descreve a modalidade básica da conduta dolosa, quando o agente expõe a perigo meio de transporte público, impede ou dificulta seu funcionamento causando um perigo concreto. No parágrafo primeiro há a previsão da figura qualificada pelo resultado desastre. Por fim, o parágrafo segundo prevê a forma culposa quando da ocorrência do desastre.

3 SUJEITOS DO DELITO.

O crime é comum, no qual qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o proprietário ou funcionário da empresa que presta o serviço de transporte público.

SA  QUALQUER PESSOA / CRIME COMUM

Sujeito passivo é a coletividade. Por ser vítima ente que não possui personalidade jurídica o crime é classificado como de sujeito passivo vago. No caso de sinistro também será sujeito passivo a pessoa atingida pela conduta do agente.

(16)

SP  COLETIVIDADE / CRIME VAGO

4 ELEMENTO OBJETIVO DO TIPO.

O objeto material é o meio de transporte público não abrangido pelos artigos antecedentes.

O art. 262 do Código Penal pode ser realizado de duas formas diferentes, tratando-se de crime misto alternativo ou de conteúdo variado. As condutas previstas pressupõem um comportamento comissivo ou omissivo impróprio.

O legislador descreve as seguintes condutas típicas:

a) Expor (colocar) a perigo concreto e coletivo outro meio de transporte público. São os meios de transportes não tutelados nos artigos 260 e 261 do Código, utilizando-se o critério da exclusão. Por exemplo: os meios de transportes terrestres e o lacustre.

EXPOR A PERIGO CONCRETO E COLETIVO OUTRO MEIO DE TRANSPORTE PÚBLICO (EX.: LACUSTRE E TERRESTRE)

b) Impedir (obstar, fazer cessar) ou dificultar (atrapalhar) o funcionamento de outro meio de transporte criando um perigo concreto e coletivo.

IMPEDIR OU DIFICULTAR O FUNCIONAMENTO DO MEIO DE TRANSPORTE CRIANDO UM PERIGO CONCRETO E COLETIVO

Uma situação prática que exemplifica muito bem o delito é a utilização do GLP (gás combustível) em meio de transporte rodoviário sem o atendimento das normas técnicas, com a intenção ou assumindo o risco de expor os passageiros a um perigo concreto.

5 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.

Não há previsão de elemento normativo neste tipo penal.

6 ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO.

O agente atua com o dolo de perigo concreto e coletivo genérico, direto ou eventual. Não há nenhum elemento subjetivo especial por parte agente em qualquer das modalidades derivadas.

(17)

7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.

O crime se consuma com a criação do perigo concreto ao outro meio de transporte público, ou com o perigo concreto causado pela interrupção ou com a dificuldade criada. Para a consumação é irrelevante o veículo estar em movimento ou não.

IRRELEVÂNCIA DE O VEÍCULO ESTAR EM MOVIMENTO PARA CONSUMAÇÃO

Para doutrina majoritária admite-se tentativa. Entretanto, entendemos que na conduta impedir não se admitiria tentativa, por considerarmos que a tentativa de impedimento já configuraria o dificultar, consumando desta forma o delito.

ADMITE TENTATIVA PARA A CORRENTE MAJORITÁRIA

Na forma preterdolosa (§ 1º) ou culposa (§ 3º) não é possível a tentativa.

8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.

O delito de atentado contra a segurança de outro meio de transporte coletivo é classificado assim: comum (qualquer pessoa pode praticá-lo); material para Damásio (1999, p.311) (exige o resultado naturalístico que consiste na criação do perigo concreto para um número indeterminado de pessoas) e formal para Guilherme Nucci (2003, p.745) (consumando-se com a realização das condutas, (consumando-sendo o sinistro exaurimento do delito); de forma livre (admite qualquer meio de execução); comissivo (delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal); instantâneo (a consumação ocorre de forma imediata); de perigo concreto e coletivo (perigo precisa ser comprovado e a conduta deve expor a risco um número indeterminado de pessoas e coisas); unissubjetivo (exige para a realização da conduta apenas um agente); plurissubsistente (conduta praticada por meio de vários atos); conteúdo variado (pode ser praticado por mais de uma forma, mas a realização delas dentro do mesmo fato não caracteriza concurso de crimes); e, não transeunte (é crime que deixa vestígios).

9 MODALIDADES DERIVADAS.

9.1 QUALIFICADORA PELO RESULTADO (§ 1º)

(18)

conduta do agente resulta no sinistro (desastre) em outro meio de transporte público. Desastre ou sinistro é o acidente grave e complexo que produz risco a um número indeterminado de pessoas e coisas. Damásio (1999, p.310) entende que este resultado agravador pode ocorrer de maneira culposa (preterdolo) ou dolosa. Isto significa que o acidente pode ter sido causado pelo agente pela quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia) ou intencionalmente. Bitencourt (2004, p.210), Nucci (2003, p.745) e Rogério Greco (2008, p.91) defendem que o resultado agravador somente pode ser culposo por ser incompatível nos crimes de periclitação o agente também atuar com dolo de dano, ou seja, a modalidade do parágrafo 1º é exclusivamente preterdolosa.

9.2 MODALIDADE CULPOSA.

Se o agente causa o acidente em virtude da inobservância do dever objetivo de cuidado (art. 18, II do Código Penal), responderá pela figura típica deste parágrafo. Só há responsabilização por culpa se o desastre realmente acontecer.

PARA RESPONDER POR CULPA (INOBSERVÂNCIA DO DEVER OBJ. DE CUIDADO) DEVE HAVER O DESASTRE, CASO CONTRÁRIO, A CONDUTA É ATÍPICA

10 PENA E AÇÃO PENAL.

A pena no caput é de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. Ocorrendo o desastre (§ 1º) a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Na modalidade culposa (§ 2º) a pena é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Aplica-se ao caput e ao § 2º as disposições dos artigos 60, 61 e 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.

11 QUESTÕES RELEVANTES.

Quando a conduta do sujeito ativo visar atingir a segurança nacional não responderá por este delito, mas pelo previsto no art. 15 da Lei n.º 7.170/83.

Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. § 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b) dano, destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o

(19)

dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem com a pena deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.

Se o agente causar o perigo concreto de desastre através do emprego de incêndio ou explosão responderá pelo crime fim (que é o deste artigo 262 do Código Penal), ocorrendo a absorção do delito anterior (incêndio ou explosão) em face da aplicação do princípio da consunção. No sentido contrário ao nosso, comentando sobre esta questão no artigo 261, vide Bitencourt (2004, p.206).

O agente que pratica a conduta matando pessoa determinada que se encontre no interior do meio de transporte e que também atua visando causar perigo comum e concreto para um número indeterminado de pessoas responderá pelo concurso de delitos previsto na parte final do art. 70 do Código Penal (concurso formal impróprio).

12 JURISPRUDÊNCIA.

“Comete o crime de perigo contra transporte coletivo quem se põe a dirigir ônibus ciente de que não sabe fazê-lo, resultando em lesões corporais a passageiros que saltam do coletivo em movimento, atemorizados na superveniência de mal maior” (TACRIM-SP – AC – Rel. Barreto Fonseca – JUTACRIM 96/132).

“O art. 262 do CP tutela a incolumidade pública e especialmente os meios de transporte. Expõe a perigo por meio de transporte quem, de forma rudimentar e caseira, adapta seu veículo a GLP. Havendo na adaptação feita ‘pequenos vazamentos’ de gás no interior do veículo (perigo real), é o que basta para tipificar o crime do art. 262 do CP, pois, porventura ocorrendo explosão, o crime é outro mais grave” (TACRIM-SP – AC – Rel. Brenno Marcondes – JUTACRIM 87/402).

Forma qualificada

Art. 263. Se de qualquer dos crimes previstos nos artigos 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro, resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o disposto no artigo 258.

COMENTÁRIOS

O art. 263 do Código Penal é classificado como um tipo penal remetido, pois apenas indica que aos artigos antecedentes deste capítulo (art. 260 a 262) aplicar-se-á o disposto no artigo 258 do Código Penal que estabelece as causas de aumento de pena nos casos de morte e lesões corporais para os delitos de perigo comum ou coletivo.

(20)

MORTE OU LESÃO, APLICA-SE ART. 258 DO CÓDIGO PENAL

Apenas a título de esclarecimento, o artigo 263 do Código Penal (leia-se art. 258) estabelece causas de aumento de pena, apesar de usar a expressão “formas qualificadas”. Aos delitos previstos no capítulo II (arts. 260 ao 262) qualificados pelo resultado morte ou lesão corporal, seja doloso ou culposo, aplicar-se-á o disposto no art. 258 do CP.

O presente artigo prevê a sanção para o resultado agravador culposo, cuja conduta antecedente pode ser dolosa (dolo + culpa = preterdolo) ou culposa (culpa + culpa = culposo qualificado pelo resultado agravador culposo).

Havendo lesão corporal simples na modalidade dolosa, ocorrerá concurso formal de crimes. Cezar Roberto Bitencourt (2003, p.196) também possui o mesmo entendimento.

LESÃO CORPORAL DOLOSA SIMPLES  CONCURSO FORMAL

A primeira parte do artigo descreve o delito qualificado pelo resultado culposo ou preterdoloso, em que o resultado agravador lesão corporal de natureza grave ou morte é imputada ao agente do crime doloso contra a incolumidade pública a título de culpa. A segunda parte trata de lesão corporal (culposa) ou morte (culposa) provocada pelo atuar culposo do sujeito ativo do delito de perigo comum. A parte inicial do artigo 258 comina pena privativa de liberdade aumentada de metade no caso de lesão corporal de natureza grave e aplicada de dobro se resulta morte. Na parte final do artigo determina que em se tratando de lesão corporal, a pena é aumentada de metade, e, na hipótese de morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.

2 QUESTÕES RELEVANTES.

Havendo várias vítimas, responderá o agente apenas por um delito qualificado pelo resultado, excluindo-se o concurso formal. Se do crime resulta morte e lesão corporal aplica-se a qualificadora morte, por ser mais grave.

VÁRIAS VÍTIMAS – NÃO HÁ O CONCURSO FORMAL / CONCURSO DE MORTE E LESÃO  APLICA-SE A CAUSA DE AUMENTO DE PENA MAIS GRAVE (MORTE)

Arremesso de projétil

Art. 264. Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar:

(21)

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses.

Parágrafo único. Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos; se resulta morte, a pena é a do artigo 121, § 3º, aumentada de um terço.

COMENTÁRIOS

1 BEM JURÍDICO. RESULTADO NORMATIVO.

O bem jurídico protegido neste tipo penal é a incolumidade pública vinculada a proteção dos meios de transportes públicos (terrestres, aquáticos e aéreos). Indiretamente também são tutelados a vida, a integridade física e o patrimônio de um número indeterminado de pessoas.

O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de uma conduta dolosa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência qualquer resultado naturalístico.

2 MODALIDADES TÍPICAS.

O tipo penal estabelece duas disposições. O caput descreve a figura básica dolosa que consiste no arremesso de projétil contra veículo de transporte público em movimento. No parágrafo único estão as modalidades qualificadas pelo resultado culposo (preterdolosas), quando a conduta resultar em lesão corporal ou morte.

3 SUJEITOS DO DELITO.

O crime é comum, no qual qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o proprietário ou funcionário da empresa que presta o serviço de transporte público.

SA  QUALQUER PESSOA / CRIME COMUM

Sujeito passivo é a coletividade. Por ser a vítima ente que não possui personalidade jurídica o crime é classificado como de sujeito passivo vago. No caso de lesões corporais ou morte também será sujeito ativo a pessoa atingida pela conduta do agente.

(22)

4 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO.

O verbo núcleo do tipo é “arremessar” (lançar ou atirar alguma coisa com força de forma manual ou por meio de aparelho), que descreve uma conduta comissiva, mas para Rogério Greco (2010, p.723) também um comportamento omissivo impróprio. O instrumento do crime será “projétil” que é qualquer corpo sólido e pesado, que se move no espaço, depois de receber um impulso. Para Guilherme Nucci (2003, p.746) também se inclui o projétil arremessado por arma de fogo. Discordamos do referido autor, por entendermos que o arremesso, que significa “disparo” de projétil no caso de arma de fogo, configura o tipo penal do art. 15 da Lei n.º 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento).

Art. 15 da Lei n.º 10.826/03: Disparar arma de fogo ou acionar munição em qualquer lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

O tipo exige que o projétil seja arremessado contra veículo em movimento, independentemente da velocidade em que se encontra. Dever-se-á no caso deste artigo compreender que estar o veículo em movimento é ele se encontrar no trânsito ainda que momentaneamente parado (p. ex.: estar o ônibus parado no sinal vermelho aguardando o sinal verde). Se o arremesso do projétil ocorrer contra veículo estacionado, a conduta será atípica. É relevante frisar que o veículo precisa estar a serviço de transporte coletivo (público ou privado), não sendo relevante o modo de tração, ou seja, se mecânico ou animal.

MEIO DE TRANSPORTE PARADO (ESTACIONADO) NÃO É PROTEGIDO, SOMENTE AQUELE QUE SE ENCONTRA EM MOVIMENTO AINDA QUE TEMPORARIAMENTE PARADO (EX.: AGUARDANDO A ABRIR O SINAL VERDE)

Não é qualquer projétil que pode ser lançado, mas somente aquele que tenha a capacidade de expor a risco um número indeterminado de pessoas ou coisas. Para Damásio (1999, p.316) o crime é de perigo presumido. Noutro sentido, Rogério Greco (2008, p.96) entende que o delito é de perigo concreto, vez que o projétil lançado deve ter o condão de criar o perigo para um número indeterminado de pessoas e coisas.

O objeto material do crime é o veículo em movimento, o qual o agente arremessa o projétil.

5 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.

(23)

6 ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO.

O elemento subjetivo do tipo é o dolo de perigo abstrato e coletivo genérico, direto ou eventual. Não se exige dolo específico e não há modalidade culposa.

DOLO DE PERIGO ABSTRATO

7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.

Para os autores que defendem que o crime é de perigo abstrato (Bitencourt 2004, p.213 e Damásio 1999, p.316), a consumação ocorre com o lançamento do projétil ainda que o agente não consiga atingir o veículo (crime de mera conduta). Como não é necessário que o projétil atinja o veículo e que se crie o perigo concreto, não se admite tentativa.

PERIGO ABSTRATO E CRIME DE MERA CONDUTA – NÃO SE ADMITE TENTATIVA

Aos autores que defendem que o crime é de perigo concreto (Rogério Greco 2008:96), a consumação ocorrerá com o arremesso do projétil capaz de gerar perigo para um número indeterminado de pessoas e coisas (crime formal). Admite-se a tentativa.

PERIGO CONCRETO E CRIME FORMAL – ADMITE TENTATIVA

Em virtude do tipo penal não exigir expressamente a ocorrência do perigo concreto, apenas que o projétil seja arremessado, nos filiamos a primeira corrente doutrinária.

8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.

O delito do artigo 264 do Código Penal é classificado como: comum (qualquer pessoa pode praticá-lo); de perigo abstrato (se exige apenas que o agente arremessa o projétil independentemente do perigo causado) ou de perigo concreto (entende-se que o arremesso do projétil tem que criar perigo efetivo que deverá ser comprovado); de perigo coletivo (tipo penal protege a incolumidade pública); mera conduta (prevê apenas a conduta, não exigindo a ocorrência de qualquer resultado naturalístico) ou formal (consuma-se com a prática da conduta, apesar de prever um resultado naturalístico que não precisa ocorrer); de forma livre (admite qualquer meio de execução), para Rogério Greco (2010, p.722), o crime é de forma vinculada (pois o legislador determina que a conduta seja praticada mediante arremesso de projétil); comissivo (delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal, e para aqueles que defendem ser o crime material); instantâneo

(24)

(a consumação ocorre de forma imediata); unissubsistente (para aqueles que defendem não ser possível a tentativa, isto é, o agente arremessa ou não o projétil, não se admitindo o fracionamento da conduta) ou plurissubsistente (para quem defende que é admissível a tentativa, vez que a conduta pode ser fracionada); unissubjetivo (basta uma única pessoa para praticá-lo); e, não transeunte (é crime que deixa vestígios).

9 MODALIDADE DERIVADA.

9.1 QUALIFICADORA PELO RESULTADO (PARÁGRAFO ÚNICO)

O parágrafo único do art. 264 do Código Penal prevê uma qualificadora e uma causa de aumento de pena em face do resultado agravador culposo, isto quer dizer que ambas as modalidades são previstas de forma preterdolosa (dolo na conduta antecedente arremesso, e culpa na conseqüente, resultado lesão corporal ou morte). A pena será de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos se do arremesso do projétil resultar lesão corporal culposa; e, aplicar-se-á a pena do art. 121, § 3º do Código Penal (homicídio culposo) aumentada de um terço se resultar em morte.

RESULTADO AGRAVADOR PRETERDOLOSO

QUALIFICADORA: ARREMESSO (DOLO) + LESÕES CORPORAIS (CULPA) CAUSA DE AUMENTO DE PENA: ARREMESSO (DOLO) + MORTE (CULPA)

Ocorrendo lesões corporais ou morte, em face de caso fortuito ou força maior, o agente responderá apenas pela sanção prevista no caput do artigo.

10 PENA E AÇÃO PENAL.

A pena do caput é detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses. No parágrafo único é de detenção, de 6 (meses) a 2 (dois) se resulta em lesões corporais; e de detenção de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 121, § 3º do Código Penal) aumentada de 1/3 (um terço) se resultar em morte. Aplica-se ao caput e à primeira parte do parágrafo único (resultado lesões corporais) as disposições dos artigos 60, 61 e 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.

(25)

11 QUESTÕES RELEVANTES

Caso o agente queira atingir pessoa determinada deverá ser responsabilizado pelo art. 121 ou art. 129, devendo-se constatar qual foi sua intenção.

Não importa não quantas pessoas sofram lesões corporais ou faleçam na forma do parágrafo único, o agente responderá uma única vez pelo resultado agravador.

No concurso de morte e lesões aplicar-se-á ao sujeito ativo apenas o aumento de pena previsto para a morte, isto é, incide o aumento de pena apenas para o resultado mais grave.

O agente que pratica a conduta matando pessoa determinada que se encontre no interior do meio de transporte e que também atua visando causar perigo comum para um número indeterminado de pessoas responderá pelo concurso de delitos previsto na parte final do art. 70 do Código Penal (concurso formal impróprio).

Quando a conduta for dirigida à veículo particular, o sujeito ativo pratica o delito de dano (art. 163 do Código Penal)

12 JURISPRUDÊNCIA

Agente que arremessa pedra contra coletivo – Alegação de que o mesmo não estava em movimento – “O preceito legal do art. 264 do CP pressupõe trânsito em termos de transporte de passageiros, já que estes, e não a coisa material, são objeto da proteção penal”. (TACRIM-SP – AC 352.191 – Rel. Gomes de Amorim).

“Não exclui o crime do art. 264 do CP a escusativa de legítima defesa sem comprovação, como não o exclui, também, a afirmação do agente de não ter tido a intenção de atingir pessoalmente o motorista do coletivo, alvo de uma pedrada. Crime de perigo que se esgota com arremesso de uma pedra para causar dano a veículo de transporte urbano. Quando o objeto atinge a outrem, no veículo, caracteriza-se a forma qualificada da infração” (TARJ – AC – Rel. Erasmo do Couto – RT 500/389).

Atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública

Art. 265. Atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. Aumentar-se-á a pena de um terço até a metade, se o dano ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao funcionamento dos serviços.

(26)

1 BEM JURÍDICO. RESULTADO NORMATIVO.

O bem jurídico protegido é a incolumidade pública, que neste delito está vinculada aos serviços de utilidade pública (água, luz, força ou calor, ou qualquer outro imprescindível, com exceção do serviço de telefonia que se enquadrará no art. 266 do Código Penal). Tutela-se indiretamente a vida, integridade física e patrimônio de um número indeterminado de pessoas.

O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de uma conduta dolosa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência qualquer resultado naturalístico.

2 MODALIDADES TÍPICAS.

No caput encontramos a figura básica dolosa, que consiste no atentado à segurança ou funcionamento de serviços de utilidade pública. O parágrafo único prevê uma causa de aumento de pena em face da dano causado, pela subtração de material essencial ao funcionamento do serviço público.

3 SUJEITOS DO DELITO.

Por se tratar de crime comum, pode ser sujeito ativo qualquer pessoa, inclusive funcionário ou o responsável pelo fornecimento do serviço de utilidade pública.

SA  CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA

Sujeito passivo é coletividade. Portanto, trata-se de crime de sujeito passivo vago. Também será vítima a pessoa prejudicada na forma prevista no parágrafo único.

SP  COLETIVIDADE – CRIME VAGO

4 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO.

A conduta típica é “atentar” (atacar ou perturbar), que pressupõe uma ação comissiva, mas no entendimento de Rogério Greco (2010, p.724), o crime pode ser omissivo impróprio. O atentado ocorrerá contra a segurança (aquilo que se pode confiar) tornando perigoso; ou em desfavor do funcionamento (regularidade da prestação) do serviço de utilidade pública. O objeto material é o serviço de utilidade pública que o agente dirige sua conduta.

(27)

EXPOR A RISCO A SEGURANÇA E O FORNECIMENTO DE SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA

O tipo penal adota uma fórmula casuística enumerando inicialmente os serviços protegidos (água, luz, força ou calor) e depois amplia, utilizando uma interpretação analógica, dizendo que o atentado pode se voltar contra qualquer outro serviço de natureza pública (p.ex.: fornecimento de gás ou limpeza pública). Destacamos que o serviço de telefonia não se enquadra neste tipo, mas sim no delito de interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou telefônico (art. 266 do Código Penal).

FÓRMULA CASUÍSTICA – ENUMERA INICIALMENTE E DEPOIS ABRE O TIPO PENAL

O tipo penal não exige que o fornecimento do serviço seja completamente paralisado, e admite qualquer forma de execução. Damásio (1999, p.320) alerta que se o atentado tiver como meio de execução qualquer uma das modalidades típicas previstas no capítulo anterior (incêndio, explosão, inundação, desabamento ou desmoronamento), não se configurará o delito do art. 265, mas sim aqueles.

CRIME DE FORMA LIVRE (EXCEÇÃO ÀS CONDUTAS DO CAPÍTULO ANTERIOR – EX.: INCÊNDIO, EXPLOSÃO OU INUNDAÇÃO

Há divergência quanto a espécie de perigo produzido com a prática da conduta típica deste artigo. Bitencourt (2004, p.216), Nucci (2003, p.748) e Damásio (1999, p.321) classificam o crime como de perigo abstrato, bastando a realização da conduta independentemente da demonstração do perigo criado. Por outro lado, Rogério Greco (2008, p.101) define o delito como sendo de perigo concreto, necessitando para a sua configuração, a comprovação de perigo gerado ao bem jurídico protegido. Consideramos mais acertada a primeira corrente, vez que o tipo penal não faz qualquer previsão de resultado naturalístico ou da exigência de ocorrência do perigo concreto.

5 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.

O tipo do artigo 265 do Código Penal não prevê nenhum elemento normativo do tipo.

(28)

O elemento subjetivo do tipo é dolo de perigo abstrato e coletivo genérico, direto ou eventual. Não se exige dolo específico e não há modalidade culposa.

DOLO DE PERIGO ABSTRATO

7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.

O crime do art. 265 do Código Penal se consuma com qualquer ato atentatório contra a segurança e funcionamento dos serviços de utilidade pública tutelados. Por considerarmos ser o delito de perigo abstrato basta ao agente a realização da conduta independentemente do risco efetivamente produzido. Bitencourt (2004, p.215) e Damásio (1999, p.320) admitem a tentativa apesar de considerá-la de difícil ocorrência. Guilherme Nucci (2003, p.749) é contrário a sua possibilidade, por entender que o ato de “tentar atentar” já indica consumação do delito.

CONSUMAÇÃO COM A CONDUTA ATENTATÓRIA (PERIGO ABSTRATO) DIVISÃO NO ENTENDIMENTO EM RELAÇÃO À TENTATIVA

8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.

O crime de atentado contra a segurança dos serviços de utilidade pública é classificado como: comum (qualquer pessoa pode praticá-lo); de perigo abstrato (para aqueles que entendem que basta a realização da conduta, não se exigindo a comprovação do efetivo perigo) ou de perigo concreto (entendimento de quem defende a necessidade da produção de um risco real ao bem jurídico para a consumação); instantâneo (consuma-se no momento da realização do ato atentatório não se prolongando no tempo); de perigo coletivo (tipo penal protege a incolumidade pública); mera conduta (prevê apenas a conduta, não exigindo a ocorrência de qualquer resultado naturalístico) ou formal (consuma-se com a prática da conduta, apesar de prever um resultado naturalístico que não precisa ocorrer); de forma livre (admite qualquer meio de execução); comissivo (delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal, se entender que o delito é material); unissubsistente (para aqueles que defendem não ser possível a tentativa, afirmando que o “tentar atentar” já significa atentar, isto é, o agente realiza a conduta ou não) ou plurissubsistente (para quem defende que é admissível a tentativa, vez que a conduta pode ser fracionada); unissubjetivo (basta uma única pessoa para praticá-lo), de conteúdo variado alternativo (prevê mais de uma forma de ser realizado, mas respondendo uma única vez,

(29)

independentemente da quantidade de condutas que pratique); e, não transeunte (é crime que deixa vestígios).

9 MODALIDADE DERIVADA.

9.1 CAUSA DE AUMENTO DE PENA (PARÁGRAFO ÚNICO).

O parágrafo único deste artigo 265 do Código Penal foi inserido pela Lei n.º 5.346/67, desta forma não constava na redação original do dispositivo.

O texto do parágrafo define uma causa de aumento de natureza jurídica dolosa que eleva a pena do caput de 1/3 (um terço) até a 1/2 (metade) com a ocorrência do dano (é crime de dano) em face da subtração (retirar da posse do proprietário e possuidor sem autorização) de materiais essenciais (fundamentais) ao funcionamento dos serviços protegidos.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA – SUBTRAÇÃO QUE CAUSA DANO EFETIVO

Damásio (1999, p.321) defende a idéia de que a causa de aumento somente se configura se da subtração praticada pelo agente acontecer o dano efetivo, caso contrário, responderá apenas pelo caput do artigo.

Nucci (2003, p.748) afirma que esta causa de aumento de pena é de natureza culposa (dolo antecedente + culpa conseqüente = preterdolo), vez que o agente age com dolo de perigo na conduta antecedente (atentar), não sendo possível também atuar na conduta conseqüente (subtração e dano) com dolo de dano. Discordamos deste posicionamento, pois não conseguimos vislumbrar como a subtração pode ocorrer de forma culposa.

10 PENA E AÇÃO PENAL.

A pena para a conduta prevista no caput é cumulativa, reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Se da subtração de materiais sobrevier o dano, aumentar-se-á a pena de 1/3 (um terço) até 1/2 (metade). Aplica-se a este delito a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.

(30)

A competência para o julgamento do presente delito será definida conforme a natureza jurídica da pessoa jurídica de direito público ou empresa concessionária prestadora do serviço de utilidade pública, isto é, se for pertencente à União e ao Distrito Federal, a competência é da Justiça Federal; se Estadual ou Municipal a competência é da Justiça Estadual.

Bitencourt (2004, p.215) adota o posicionamento de que se o meio empregado pelo agente em sua conduta for explosão ou incêndio, responderá ele apenas por estes delitos (art. 250 e art. 251 do Código Penal). Porém, discordamos do posicionamento deste autor, visto que na aplicação do princípio da consunção dever-se-á observar o dolo final do agente, isto é, aquilo que realmente ele quer atingir, por isso se utilizou os meios explosão ou incêndio com fim de atentar contra os serviços de utilidade pública, responderá pelo delito deste artigo sendo absorvido o crime-meio (incêndio ou explosão).

Quando a conduta do sujeito ativo visar atingir a segurança nacional não responderá por este delito, mas pelo previsto no art. 15 da Lei n.º 7.170/83.

Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. § 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b) dano, destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem com a pena deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.

12 JURISPRUDÊNCIA

“Não se inclui entre os serviços de utilidade pública amparados pelo art. 265 do CP o que diz respeito ao funcionamento de escolas” (TJSP – HC – Rel. Sylvio Barbosa – RT 298/69).

Interrupção de energia elétrica – Réus que a provocam, ao praticarem o furto dos fios – Delito da competência da Justiça Federal – “Não há dúvida de que o fornecimento de energia elétrica é serviço federal. Está dito no art. 8º, XV, b, da Constituição do Brasil, que compromete à União explorar, diretamente ou mediante autorização ou concessão, os serviços e instalações de energia elétrica e qualquer origem ou natureza. Se, ao furtarem os fios elétricos, provocarem os réus a interrupção do fornecimento da eletricidade, incidiram no art. 265 do CP, cuja apreciação e julgamento compete à Justiça Federal (TJSP – CJ – Rel. Acácio Rebouças – RT 400/140).

“Para a configuração do crime do art. 265 do CP, é preciso que tenha como elemento material um agir que se apresente de maneira mais ou menos extensa, vindo a perturbar aqueles serviços mencionados de maneira expressa no texto legal” (TJSP – AC – Rel. Onei Raphael – RJTJSP 9/607).

(31)

“Comete o delito de atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública aquele que frustra o esquema de consultas e atendimento estruturado pelo Posto do INSS, promovendo tumultos em frente ao prédio, furando a fila de distribuição das fichas e arrancando-as das mãos da funcionária que estava distribuindo, impedindo, assim, que as pessoas necessitadas e que já estavam na fila há algum tempo conseguissem obter fichas (TJRS, Ap. Crim. 70011262623, 4ª Câm. Crim., Rel. José Eugênio Tedesco, pub. 21/10/2005).

Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou telefônico

Art. 266. Interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Parágrafo único. Aplicam-se as penas em dobro, se o crime é cometido por ocasião de calamidade pública.

COMENTÁRIOS

1 BEM JURÍDICO. RESULTADO NORMATIVO.

O bem jurídico protegido é a incolumidade pública, especificamente ligada aos serviços telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico. Protege-se secundariamente a vida, a integridade física e o patrimônio de um número indeterminado de pessoas.

O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de uma conduta dolosa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência qualquer resultado naturalístico.

2 MODALIDADES TÍPICAS.

O caput prevê a modalidade básica dolosa que consiste na interrupção ou perturbação dos serviços de comunicação; ou no impedimento ou na criação de dificuldades para o seu restabelecimento quando paralisado. No parágrafo único, o legislador insere uma causa de aumento de pena se a conduta do agente for realizada em situação de calamidade pública.

(32)

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o responsável pela prestação do serviço, tratando-se de crime comum.

SA  CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA

O sujeito passivo é coletividade, por esta razão assim como os delitos anteriores também é classificado como crime de sujeito passivo vago (crime vago). Também será sujeito passivo a pessoa diretamente prejudicada em virtude da conduta do agente (parágrafo único).

SP  COLETIVIDADE – CRIME VAGO

4 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO.

As condutas do art. 266 se dividem em duas modalidades típicas diferentes:

a) Na primeira modalidade o tipo penal fala em interromper (fazer cessar) ou perturbar (atrapalhar) o serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico independentemente de causar o perigo concreto a um número indeterminado de pessoas e/ou coisas (perigo abstrato);

b) Na segunda o agente impede (obstar, fazer cessar) ou dificulta (atrapalhar, perturbar) o restabelecimento (retorno da prestação) do serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico independentemente de criar o perigo concreto a um número indeterminado de pessoas e/ou coisas (perigo abstrato).

INTERROMPER OU PERTUBAR O SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO / IMPEDIR OU DIFICULTAR O RESTABELECIMENTO DO SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO

Os objetos materiais atingidos pela conduta do agente são os serviços telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, sendo um rol taxativo. Rogério Greco (2008, p.105-106) define os serviços da seguinte maneira: Telégrafo é toda instalação que possibilita a comunicação do pensamento ou da palavra mediante transmissão à distância de sinais convencionais. Compreende o telégrafo elétrico (terrestre ou submarino) ou semafórico. Radiotelégrafo é o telégrafo sem fio, funcionando por meio de ondas eletromagnéticas ou ‘ondas dirigidas’. Telefone é a instalação que permite reproduzir à distância a palavra falada ou outro som. É fundamental destacar que o rol do artigo é taxativo, não se compreendendo neste tipo penal, outros meios de comunicação, como, por exemplo, a internet. Entretanto, entendemos que poderia se aplicar à internet o tipo do art. 265 do Código Penal, por ser um serviço de utilidade pública.

ROL TAXATIVO – SERVIÇO TELEGRÁFICO, RADIOTELEGRÁFICO OU TELEFÔNICO

Referências

Documentos relacionados

A disciplina orienta o aluno no processo de investigação para que ele possa tomar decisões, ser agente de seu aprendizado no processo de in- vestigação científica. Isso porque ela

Resultados: A medicina tradicional chinesa (MTC) oferece uma ampla gama de opções terapêuticas para cultivar a saúde e longevidade do ser humano, compreendendo que

Estes valores para ganho de peso de 27,5 kg para os animais alimentados com o feno de maniçoba e 24,63 kg para os que receberam o feno de jureminha são considerados baixo

A partir de uma linha de trabalho do grupo, alguns de seus integrantes visualizaram a possibilidade de criação de um curso sobre o kit de desenvolvimento

Instrumentos de Gestão Plano de Manejo: Sem plano Conselho Consultivo: Inexistente CDRU Federal e Estadual para o ICMBio (ha): Inexistente Glebas arrecadadas pela União e Estados

Portanto, o objetivo deste trabalho foi analisar os elementos: temperatura do ar, umidade relativa do ar e temperatura da superfície do solo, e aplicar o Índice de Calor

Os maiores coeficientes da razão área/perímetro são das edificações Kanimbambo (12,75) e Barão do Rio Branco (10,22) ou seja possuem uma maior área por unidade de

(Ilustr. João Fazenda) (Trad. Maria José Martins). Romeu