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SUBSÍDIOS PARA PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO RESUMO

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Revista Mineira de Direito Internacional e Negócios Internacionais (RMDINI), v. 1, n. 1, jul./dez. 2014.

SUBSÍDIOS PARA PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO

LUIZA PINHEIRO ALVES DA SILVA1

Recebido em: 27/12/2014 Avaliado em: 20/01/2015

RESUMO

Este artigo busca estudar como a Organização Mundial do Comércio – OMC trata os subsídios para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – P,D&I. É analisada a definição de subsídios do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias e como são descritos os subsídios para P,D&I. Em seguida, é feita uma breve análise sobre os impactos destes subsídios para o comércio internacional. Por último, são descritos dois casos recentes de disputas levadas ao sistema de solução de controvérsias da OMC que questionam subsídios para P,D&I, envolvendo os Estados Unidos e a União Européia.

PALAVRAS-CHAVE: Subsídios para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – P,D&I; Organização Mundial do Comércio - OMC.

ABSTRACT

This paper aims to study how the World Trade Organization - WTO treats subsidies for Research, Development and Innovation - R,D&I. It analyzes the definition of subsidies described in the Agreement on Subsidies and Countervailing Measures, and how the subsidies for R,D&I are defined. Then, a brief analysis of the impacts of these grants for international trade is done. Finally, two recent cases of disputes brought to the WTO dispute settlement questioning subsidies for R, D & I system are described, involving the United States and the European Union.

KEY WORDS: Subsidies for Research, Development and Innovation – R,D&I; World Trade Organization - WTO.

1

Aluna do Mestrado Profissional em Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual pela Universidade Federal de Minas Gerais, orientada pela Professora Doutora Márcia Rapini. Graduada em Farmácia Industrial pela mesma instituição. Especialista em Vigilância Sanitária pela PUC-GO. Analista de Negócios na Biominas Brasil.

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Revista Mineira de Direito Internacional e Negócios Internacionais (RMDINI), v. 1, n. 1, jul./dez. 2014. 1. OS ACORDOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO

A Organização Mundial do Comércio – OMC foi constituída em 1º de janeiro de 1995 com o Acordo de Maraqueche. A organização foi criada em substituição ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio – GATT, assinado em 1947, que tinha como objetivo reduzir as barreiras tarifárias impostas entre os países de modo a estimular o comércio internacional pós-guerra. O objetivo da OMC é garantir o livre comércio internacional e estabelecer normas claras tal. A organização conta também com um fórum para solução de controvérsias entre os países membros.

O funcionamento da OMC é baseado em tratados, assinados na Rodada do Uruguai, concluída em 1994. Eles determinam o princípio da liberalização do comércio e as exceções permitidas. Eles abrangem o comércio de bens e serviços, e a propriedade intelectual2. A Figura 1 representa como estes acordos se organizam. Existem cerca de sessenta acordos, anexos, decisões e entendimentos. A estrutura que organiza estes acordos possui seis partes principais. Um acordo ―guarda-chuva‖, o Acordo Constitutivo da Organização Mundial do Comércio; acordos para cada uma das três grandes áreas de comércio que a OMC cobre: bens, serviços e propriedade intelectual; acordos sobre solução de controvérsias e acordo sobre exame das políticas comerciais3.

Figura 1 - Representação da estrutura dos acordos da OMC

Fonte: Adaptado de Organização Mundial do Comércio, 20144. *Most-favoured nation: Nação mais favorecida.

Os acordos que regem bens e serviços, mesmo que em detalhe possam ser muito diferentes, compartilham uma estrutura organizadora comum de três partes. Eles se iniciam com princípios gerais: o Acordo Geral de Tarifas e Comércio 1994 (GATT 1994) e o Acordo Geral sobre o

2

Organização Mundial do Comércio. Disponível em http://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/tif_e/agrm1_e.htm. Acesso em outubro de 2014.

3

Os acordos da OMC estão disponíveis em português no site do Ministério das Relações Exteriores na página http://www.itamaraty.gov.br/o-ministerio/conheca-o-ministerio/tecnologicos/cgc/solucao-de-controversias/mais-informacoes/texto-dos-acordos-da-omc-portugues

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Comércio de Serviços (GATS). Os acordos gerais são seguidos por acordos extras e anexos que tratam de requisitos especiais de determinados setores ou questões específicas. O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) também é constituído por princípios gerais, mas ao contrário dos dois primeiros, o TRIPS não possui partes adicionais. Finalmente, são definidas listas detalhadas de compromissos feitos por cada país com a permissão de acesso de produtos e prestadores de serviços aos seus mercados. Apoiando estes acordos estão o Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias e o Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais, que se constituem como um exercício de transparência5.

Por ser baseada pelo conjunto de regras determinadas por seus acordos, a OMC é denominada um sistema rule-based. Este sistema vem em oposição ao sistema vigente anteriormente à sua criação, conhecido como power-oriented, em que as negociações eram determinadas pelo peso que os países mais desenvolvidos detinham no comércio internacional e a pressão que exerciam sobre os outros.

Devido a isto, dentre outros fatores, a criação da OMC pode ser considerada um avanço na tentativa de criação de ações para um comércio mundial mais homogêneo entre os países, ou pelo menos com menor disparidade. Além disto, os acordos da OMC não têm caráter imutável, eles são renegociados periodicamente e novos acordos podem ser incluídos. Muitos vêm sendo discutidos na Agenda de Desenvolvimento da Rodada Doha, iniciada em novembro de 2001 e que ainda está em andamento.

2. O ACORDO SOBRE SUBSÍDIOS E MEDIDAS COMPENSATÓRIAS

Devido às divergências políticas entre os Estados Unidos e as Comunidades Europeias (CE), o tratamento de subsídios no GATT foi, historicamente, controverso. Na Rodada de Tóquio, de 1973, foi celebrado um Código de Subsídios, mas este não tratou a questão de forma aprofundada. O Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias - ASMC da Rodada Uruguai é considerado o maior avanço de todos os regimes pré-existentes, porque estabelece, pela primeira vez, uma definição de ―subsídio‖, traça padrões detalhados para o procedimento de investigação de medidas compensatórias e estabelece disciplinas multilaterais funcionais acerca de subsídios6. É importante

5

Outros grupos de acordos importantes não estão incluídos no esquema, dois acordos plurilaterais não assinados por todos os membros: o de aviação civil e compras governamentais. (OMC).

6

Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - UNCTAC. Organização Mundial do Comércio -

3.7 Subsídios e Medidas Compensatórias. Nova York e Genebra, 2003. Disponível em

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ressaltar que subsídios aos produtos agrícolas detêm regras próprias descritas no Acordo sobre Agricultura. O ASMC se divide em 11 partes, descritas na Tabela 1.

Tabela 1 - O Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias

Parte I - Geral Esta parte inclui a definição de subsídio do Artigo I, bem como o conceito de especificidade do Artigo 2.

Parte II – Subsídios Proibidos

O Artigo 3 estabelece que os subsídios à exportação e os subsídios para a substituição de importações estão proibidos. O Artigo 4 estabelece quais são os mecanismos multilaterais contra referidos subsídios proibidos.

Parte III – Subsídios Acionáveis (ou

recorríveis)

O Artigo 5 trata do conceito de efeitos danosos, enquanto que o Artigo 6 trata do grave dano. O Artigo 7 traduz-se no dispositivo espelho do Artigo 4 no que se refere aos mecanismos multilaterais contra os subsídios

acionáveis. Parte IV –

Subsídios Não acionáveis (ou não recorríveis)

O Artigo 8 prevê que os subsídios, quando não específicos, não podem ser acionados. Além disso, determinados subsídios regionais, ambientais ou para pesquisa e desenvolvimento, embora sejam considerados específicos, estão dispensados e, da mesma forma, não podem ser acionados. Todavia, permanecem abertos recursos multilaterais.

Parte V – Direitos Compensatórios

Os Artigos 10 a 23 refletem as disposições procedimentais e relativas a dano material importantes do Acordo Antidumping. O Artigo 14, todavia, contém normas importantes para o cálculo do montante de determinados tipos de subsídio.

Parte VI – Instituições

Estabelece o Comitê sobre Subsídios e Medidas Compensatórias e autoriza o estabelecimento do Grupo Permanente de Técnicos (GPT).

Parte VII – Notificação e

Fiscalização

Contêm importantes procedimentos de notificação e fiscalização. Parte VIII –

Países em Desenvolviment

o

Assegura tratamento especial e diferenciado significativo a Países em Desenvolvimento, Membros da OMC.

Parte IX – Planos de Transição

Trata das acessões à OMC e das economias em transição. Parte X –

Solução de Controvérsias

O Artigo 30 estabelece que as regras do Entendimento sobre Solução de Controvérsias (Dispute Settlement Understanding - DSU) são aplicáveis, salvo disposição em contrário especificada no ASMC.

Parte XI – Disposições

Finais

Inclui dispositivo estabelecendo que o Artigo 6.1 (definição de dano grave) e os Artigos 8 e 9 (subsídios não acionáveis) aplicaram-se por cinco anos apenas. Em razão do fracasso do Encontro Ministerial de Seattle para renová-los, referidas disposições expiraram em 31 de Dezembro de 1999.

Fonte: Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, 20037.

7

Os anexos do acordo são: lista ilustrativa dos subsídios à exportação (Anexo I), diretrizes sobre os insumos consumidos no processo de produção (Anexo II), diretrizes para determinar se os sistemas de drawback constituem subsídios à exportação em casos de substituição (Anexo III), cálculo do total do subsídio ad valorem para fins do Artigo 6.1 (a) (Anexo IV), procedimentos para obtenção de informações relativas à grave dano (Anexo V), procedimentos para verificações in loco do Artigo 12.6 (Anexo VI), e cobertura dos países em desenvolvimento Membros e menos desenvolvidos (Anexo VII).

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Revista Mineira de Direito Internacional e Negócios Internacionais (RMDINI), v. 1, n. 1, jul./dez. 2014. 3. SUBSÍDIOS NA VISÃO DA OMC

De acordo com o Artigo 1 do ASMC subsídios são definidos como8:

Artigo 1. Para os fins deste Acordo, considerar-se-á a ocorrência de subsídio quando:

(a) (1) haja contribuição financeira por um governo ou órgão público no interior do território de um Membro (denominado, a partir daqui, "governo"), i.e.,

(i) quando a prática do governo implique transferência direta de fundos (por exemplo,doações, empréstimos e aportes de capital), potenciais transferências diretas de fundos ou obrigações (por exemplo, garantias de empréstimos);

(ii) quando receitas públicas devidas são perdoadas ou deixam de ser recolhidas (por exemplo, incentivos fiscais tais como bonificações fiscais);

(iii) quando o governo forneça bens ou serviços além daqueles destinados à infraestrutura geral, ou quando adquire bens;

(iv) quando o Governo faça pagamentos a um sistema de fundo, ou confie ou instrua órgão privado a realizar uma ou mais das funções descritas nos incisos (i) a (iii) acima, as quais seriam normalmente incumbência do Governo e cuja prática não difira, de nenhum modo significativo, da prática habitualmente seguida pelos governos;

Ou

(a) (2) haja qualquer forma de receita ou sustentação de preços no sentido do Artigo XVI do GATT 1994;

E

(b) com isso se confira uma vantagem.

Acordo Sobre Subsídios E Medidas Compensatórias. Parte I, Artigo 1.

Sendo assim, um subsídio existe quando há uma contribuição financeira por parte de um governo e isto confira uma vantagem a algum beneficiário. Esta definição de subsídio é ampla, abrangendo diversos tipos de apoio governamental. No entanto, só podem ser objeto de medidas compensatórias aqueles subsídios considerados específicos.

O ASMC determina quatro tipos de especificidade: quanto a uma empresa, quando o governo destina o subsídio a uma empresa específica; quanto a uma indústria, quando o subsídio é destinado a determinado setor; especificidade regional, quanto ele é destinado a produtores de partes específicas do seu território; e subsídios proibidos, quando são destinados a produtos para exportação ou a produtos que utilizam insumos nacionais.

A especificidade pode ser de direito (de jure), ou de fato. A especificidade de direito acontece quando o subsídio é explicitamente delimitado, seja pela autoridade concessora, seja pela legislação. No entanto, quando a autoridade, ou a legislação, estabelecerem critérios ou condições objetivas regulando a qualificação para o subsídio e seu montante, não é considerado especificidade, desde que a escolha dos beneficiários seja automática, com rígida observância dos

8

Acordo sobre subsídios e medidas compensatórias. Disponível em http://www.itamaraty.gov.br/o-ministerio/conheca-o-ministerio/tecnologicos/cgc/solucao-de-controversias/mais-informacoes/texto-dos-acordos-da-omc-portugues. Acesso em outubro de 2014.

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critérios e condições previstos. Os critérios e condições devem ser neutros e objetivos, não favorecendo determinadas empresas em detrimento de outras.

A especificidade de fato é observada no momento da concessão do subsídio. O regulamento deste atende aos critérios descritos acima, no entanto, percebe-se claramente um viés na discricionariedade da autoridade concessora, tanto considerando o momento da análise da agência, ao se analisar a frequência com que os pedidos para um subsídio são recusados ou aprovados e as razões para tal, quanto considerando a sua concessão, ao se analisar os beneficiários. Por exemplo, pode ser que o subsídio atenda a um número limitado de empresas, seja usado predominante por certas empresas, ou haja a concessão desproporcional de grandes montantes de subsídios para certas empresas.

Os subsídios proibidos, como definidos no Artigo 3, são por definição específicos e, por essa razão, passíveis de aplicação de medidas compensatórias. Existem dois subsídios deste tipo, os subsídios à exportação e subsídios para a substituição de importações.

Subsídios à exportação consistem em subsídios vinculados, por força de lei ou de fato, como condição única ou uma dentre várias outras condições, ao desempenho exportador. O Anexo I do acordo traz uma Lista Ilustrativa que enumera 11 tipos de subsídios à exportação abrangendo desde subsídios à exportação diretos até mecanismos de retenção de divisas, isenções, remissões ou estabelecimento de preços para impostos diretos em exportações, utilização excessiva de drawback, e a concessão de garantias de crédito para exportação ou programas de seguro a taxas premium ou créditos à exportação em taxas mais baixas que as disponíveis no mercado. Um caso que tratou de subsídios à exportação envolvendo o Brasil foi o painel contra o Canadá, a respeito de aeronaves, conhecido como caso Embraer – Bombardier9.

Os subsídios de importação são aqueles vinculados, de forma isolada ou como uma dentre várias outras condições, ao uso de produtos nacionais em detrimento dos importados. Comumente, referidas condições assumem a forma de exigências de conteúdo local.

Por ou lado, existem também os subsídios não acionáveis. Os subsídios não específicos não são acionáveis. Alguns subsídios determinados, como os destinados à pesquisa e desenvolvimento, ambientais ou regionais, definidos de forma restrita, não foram considerados acionáveis até 1999, sob a condição de serem comunicados com antecedência ao Comitê de Subsídios. No entanto, não houve sucesso na realização de um novo acordo que prorrogasse esta exceção aos subsídios à pesquisa e desenvolvimento. Sendo assim, desde 1º de janeiro de 2000 tais subsídios são

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considerados acionáveis, o que significa que se for comprovado seus efeitos negativos a indústria de outro país membro, os subsídios a P,D&I podem ser contestados no sistema de solução de controvérsias da OMC.

4. SUBSÍDIOS A PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO – P,D&I O artigo 8 do ASMC traz uma definição de subsídios para P,D&I:

2. A despeito do disposto nas PARTES III e V, os seguintes subsídios serão considerados irrecorríveis:

(a) assistência para atividades de pesquisa realizadas por empresas ou estabelecimentos de pesquisa ou de educação superior vinculados por relação contratual, se: a assistência cobre até o máximo de 75 por cento dos custos da pesquisa industrial ou de 50 por cento dos custos das atividades pré-competitivas de desenvolvimento; e desde que tal assistência seja limitada exclusivamente a: (i) despesas de pessoal (pesquisadores, técnicos e outro pessoal de apoio empregado exclusivamente na atividade de pesquisa);

(ii) despesas com instrumentos, equipamento, terra e construções destinados exclusiva e permanentemente à atividade de pesquisa (exceto quando tenham sido arrendados em base comercial);

(iii) despesas com consultorias e serviços equivalentes usados exclusivamente na atividade de pesquisa, incluindo-se aí a aquisição de resultados de pesquisas, de conhecimentos técnicos, patentes etc.;

(iv) despesas gerais adicionais em que se incorra diretamente em consequência das atividades de pesquisa;

(v) outras despesas correntes (como as de materiais, suprimentos e assemelhados) em que se incorra diretamente em consequência das atividades de pesquisa.(...) Acordo Sobre Subsídios E Medidas Compensatórias. Parte IV, Artigo 8, Inciso 2.

Nas notas de rodapé referentes ao texto do acordo citado anteriormente, a OMC detalha o que considera como atividades de P&D, as quais ela denomina ―pesquisa industrial‖ e ―atividades pré-competitivas de desenvolvimento‖.

O termo ―pesquisa industrial‖ se refere à busca planejada ou investigação destinada à descoberta de novos conhecimentos que sejam úteis no desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços, ou no acréscimo de significativas melhorias em produtos, processos ou serviços existentes. Já o termo "atividade pré-competitiva de desenvolvimento" significa a transposição de descobertas realizadas pela pesquisa industrial a planos, projetos ou desenhos de produtos, processos ou serviços novos, modificados ou aperfeiçoados, destinados ou não à venda ou uso, inclusive a criação de protótipo insusceptível de uso comercial. Poderá incluir, ainda, a formulação conceitual e o desenho de alternativas a produtos, processos ou serviços e a demonstração inicial ou projetos-piloto, desde que tais projetos não possam ser convertidos ou usados em atividades industriais ou exploração comercial. Ele não inclui alterações rotineiras ou

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periódicas de produtos existentes, linhas de produção, processos, serviços ou outras atividades produtivas em curso, ainda que essas alterações possam representar aperfeiçoamentos10.

Estes termos se referem a atividades relacionadas a inovações tecnológicas, pois tratam sobre o desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços ou melhoria dos já existentes, e prevê que elas tenham aplicações práticas, e não apenas de expansão de conhecimento. Isto é reforçado pela definição de outra nota de rodapé, que coloca que o disposto neste artigo não se aplica às atividades de ampliação de conhecimento científico e técnico mais abrangente, não ligada a objetivos industriais e comerciais, denominadas de ―pesquisa avançada‖.

4.1. Implicações para o comércio doméstico e internacional

O estímulo ao desenvolvimento de produtos e processos inovadores vem assumindo nos últimos anos papel central nas estratégias para aumento de competitividade dos países, incluindo aqueles em desenvolvimento. Isso se desdobra no aumento dos incentivos governamentais às atividades de P,D&I.

Estes incentivos podem ser realizados através de diversos mecanismos, tais como: concessão de financiamento a taxas diferenciadas; concessão de recursos não reembolsáveis ou subvenção econômica, que não necessitam de amortização por parte do beneficiário, na maioria dos casos sendo necessária contrapartida econômica ou financeira por este; concessão de bolsas para mão de obra especializada; fundos de investimento de risco em empresas inovadoras; dentre outros.

Os subsídios para P,D&I trazem implicações tanto para o comércio local quanto para o comércio internacional, descritas a seguir.11

Dentro do próprio país, os incentivos à P,D&I podem levar a três problemas. Primeiramente, os projetos de inovação têm intrinsecamente um alto grau de incerteza associado. Não é possível garantir que um projeto selecionado para apoio governamental tenha sucesso, por mais que os processos de seleção visem mitigar este risco. Sendo assim, é possível que haja uma má alocação dos recursos. Segundo, ao se selecionar certo projeto, o governo desestimula outras empresas ou instituições com projetos semelhantes ou na mesma área a continuar seus próprios investimentos, já que o subsídio governamental aumenta as chances de sucesso do projeto selecionado. Terceiro, caso

10

Acordo sobre subsídios e medidas compensatórias. Disponível em http://www.itamaraty.gov.br/o-ministerio/conheca-o-ministerio/tecnologicos/cgc/solucao-de-controversias/mais-informacoes/texto-dos-acordos-da-omc-portugues. Acesso em outubro de 2014.

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Caiado e Berghaus. R&D Subsidies: A Law & Economics Analysis of Regional and International Rules. Society of International

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o projeto seja bem sucedido, ele pode levar a um desequilíbrio no mercado, já que a empresa detentora da nova tecnologia possui um diferencial competitivo que, no longo prazo, pode levar ao monopólio e ao desaparecimento das empresas concorrentes.

A nível internacional, os efeitos dos subsídios à P,D&I em determinado país no comércio mundial são mais complexos, por ser difícil de prever suas externalidades para os diversos países. Não é clara e nem fácil de demonstrar na prática a relação causal direta entre o subsídio para P,D&I em um país e seus efeitos danosos em um terceiro. Estes efeitos serão descritos nos parágrafos a seguir.

Como exemplo, podemos considerar dois países, A e B, sendo que A concede subsídios para o desenvolvimento de determinado produto. Quando B consome tal produto, em um primeiro momento B se beneficia do fato de ter um produto mais eficiente disponível em seu mercado. No entanto, da mesma forma que acontece a nível nacional em A, pode ocorrer um desestímulo às empresas de B, que reduzem seus investimentos em P,D&I ou se tornam pouco lucrativas por terem produtos menos competitivos. Isto faz com que B comece também a fornecer subsídios para P,D&I, levando agora a uma competição entre os países.

Por um lado, tal fator pode ser considerado benéfico, já que de modo geral estimula-se o investimento no desenvolvimento de novas tecnologias para a retomada da competitividade no mercado. No entanto, deve-se considerar que os países não possuem a mesma capacidade de fornecer subsídios, principalmente para P,D&I, como é o caso dos países em desenvolvimento. Sendo assim, tais subsídios podem reforçar ainda mais a assimetria existente entre estes e os países desenvolvidos. Mesmo porque, os efeitos danosos ocorridos em B podem ser multiplicados para outros países através do comércio internacional. Isto justifica então uma preocupação dos países em regular os mecanismos de subsídio para P,D&I no mercado internacional. Tal preocupação deveria ser principalmente dos países em desenvolvimento, já que não possuem a mesma capacidade de fornecer subsídios para P,D&I e por serem, de modo geral, importadores dependentes de produtos de alto teor tecnológico dos países desenvolvidos. Bem como por possuírem indústrias com tecnologias defasadas em relação a estes, sendo então afetados em maior proporção pelo uso de tais subsídios.

4.2. Disputas envolvendo subsídios para P,D&I na OMC

Até os anos 2000, como eram considerados não acionáveis, não foram registrados casos de disputas envolvendo subsídios para P,D&I no sistema de solução de controvérsias da OMC.

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Existem dois casos recentes relacionados a este tipo de subsídio, envolvendo a União Europeia - UE e os Estados Unidos - EUA12. A primeira disputa, na qual os Estados Unidos são os reclamantes contra a União Europeia, a respeito dos subsídios concedidos às empresas Airbus, teve a fase de consultas aberta em outubro de 2004. A segunda, aberta pela UE contra os EUA, pelos subsídios que este concedia a empresa Boeing, se iniciou em junho de 2005.

No primeiro caso, os EUA contestam os subsídios concedidos pelos governos da Alemanha, França, Reino Unido e Espanha, na forma de provisão de financiamento para design e desenvolvimento das empresas Airbus, denominado ―launch aid”; a provisão de subsídios (grants) e bens e serviços fornecidos pelo governo para desenvolvimento, expansão e melhoria das unidades de fabricação da empresa para o desenvolvimento e produção do Airbus A380; a concessão de empréstimos em termos preferenciais; a assunção (cessão de débito) ou perdão de dívidas originadas do lançamento e outros financiamentos relacionados à produção e desenvolvimento; a provisão de injeções de capital e subsídios; a provisão de empréstimos e subsídios para pesquisa e desenvolvimento de aeronaves civis, para benefício direto da empresa; e quaisquer outras medidas envolvendo a contribuição financeira às empresas Airbus.

Estas ações podem ser agrupadas em cinco categorias: (i) lauch aid ou member State

Financing; (ii) empréstimos do European Investment Bank; (iii) subsídios para infraestrutura ou

relacionados a ela; (iv) medidas de reestruturação corporativa e (v) fomento a pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

O primeiro passo adotado pelo painel, dentre outros, foi definir o escopo da disputa, incluindo seu limite temporal. As medidas em questão abrangem um período de quase 40 anos, e incluem tanto subsídios para P,D&I quanto outros, como, por exemplo, para a exportação. Em seguida, foi analisado se os subsídios poderiam ser considerados específicos. A maioria foi julgada como tal, incluindo os subsídios launch aid, subsídios para infraestrutura em aeroportos e zonas industriais e injeções de capital realizadas por bancos de investimento, por sua vez considerados inconsistentes com as práticas de investimento usuais dos bancos em questão, inclusive considerando valores de mercado abaixo do real. No entanto, alguns subsídios foram considerados não específicos, como os realizados pelo European Investment Bank e por programas de fomento a P,D&I de alguns países.

O próximo passo foi então avaliar se os subsídios concedidos a Airbus causaram efeitos adversos aos interesses do EUA, elegendo as aeronaves de grande porte para aviação civil da

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Disputas DS316: European Communities — Measures Affecting Trade in Large Civil Aircraft e DS353: United States — Measures Affecting Trade in Large Civil Aircraft — Second Complaint.

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Boeing como produto comparador. Esta avaliação foi realizada em duas etapas, considerando primeiramente se efeitos prejudiciais no mercado existiam e depois se eles foram causados pelos subsídios específicos.

O painel concluiu que os subsídios específicos concedidos reduziram uma parte significativa dos riscos de lançamento das aeronaves, transferindo-os do fabricante para o governo, e que a capacidade da Airbus de desenvolver e introduzir no mercado seus modelos de aeronaves era essencialmente dependente dos subsídios governamentais. Concluiu-se também que a presença da Airbus no mercado, seu market share na UE e em alguns países em desenvolvimento e as vendas que ela ganhou da Boeing, foram claramente um efeito dos subsídios. No entanto, o painel concluiu que o EUA não foi capaz de comprovar que a depressão dos preços neste mercado observada no período foi causada pelos mesmos. A recomendação do painel então foi que os subsídios proibidos fossem suspensos ou que fossem adotadas medidas para remoção dos efeitos adversos. É importante ressaltar que o painel não fez sugestões de como estas medidas deveriam ser implementadas.

No segundo caso, a União Europeia contesta incentivos fiscais e não fiscais fornecidos pelos estados de Washington e Illinois; isenção de impostos de propriedade e de venda, e pagamento de juros realizados pelo estado do Kansas; pagamentos e acesso à instalações, equipamentos e funcionários governamentais fornecidos pela National Aeronautics and Space Administration –

NASA, pelo Department of Defense – DOD e pelo Department of Commerce – DOC; renúncias e

transferências de direitos de propriedade intelectual realizados pela NASA e pelo DOD para a empresa; licitações e reembolso de propostas realizados pela NASA e o DOD; bolsas para treinamento de mão de obra concedidas pelo Department of Labor; e outras isenções fiscais concedidas pelo governo. Novamente, algumas destas ações não são exclusivas para atividades de P,D&I, incluindo também subsídios para exportação. De acordo com a UE, os subsídios somaram $19,1 bilhões entre 1989 e 2006, sendo que a NASA foi responsável por mais de metade deste valor. O painel concluiu que algumas destas ações foram caracterizadas como subsídios específicos, e calculou que o valor total dos subsídios foi de pelo menos $5,3 bilhões. Ademais, concluiu-se que houve prejuízo a UE, na forma de deslocamento ou ameaça à empresa Airbus em mercados de países de terceiro mundo, supressão de preços e perdas de vendas significativas. O painel também recomendou que os subsídios proibidos fossem suspensos ou que fossem adotadas medidas para remoção dos efeitos adversos.

Ambas as disputas passaram pela análise do painel, cujo relatório foi contestado no órgão de apelação, o qual não alterou completamente a decisão do relatório, realizando apenas ajustes em alguns pontos. Posteriormente, as decisões foram acatadas pelas partes julgadas. No entanto,

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também em ambos os casos, os reclamantes solicitaram a realização de um painel para verificação do cumprimento (compliance panel) das recomendações do relatório e solicitaram também autorização para adotar contramedidas, já que em sua visão estas não tinham sido implementadas. Os casos foram submetidos à arbitragem, a qual foi suspensa por solicitação conjunta dos EUA e da UE, e se encontram atualmente sob análise dos compliance panels, cujos relatórios estão previstos para serem concluídos no final de 2014 e meados de 2015, respectivamente.

5. CONCLUSÃO

Durante a elaboração deste artigo foram encontrados poucos textos referentes a subsídios para P,D&I na OMC, principalmente de origem brasileira. No entanto, este é um tema de estudo importante, devido ao papel que este tipo de subsídio assume no cenário atual, na qual os modelos de desenvolvimento econômico dos países cada vez mais se baseiam na geração de diferencial competitivo através do desenvolvimento de produtos tecnológicos de alto valor e em fomento à inovação. Sendo assim, os subsídios para P,D&I são de extrema importância para garantir a competitividade de um país no comércio global. Além disto, este tema é de grande importância para os países em desenvolvimento, já que estes não tem a mesma capacidade de concessão de subsídios para P,D&I do que os países desenvolvidos e são afetados diretamente pelos subsídios concedidos por estes às suas fortes indústrias de base tecnológica.

Existem atualmente poucos casos de disputas envolvendo subsídios para P,D&I na OMC. No entanto, elas são emblemáticas, por envolverem duas principais potenciais mundiais, os EUA e a UE e um setor de alto teor tecnológico e estratégico, que é o de aviação civil. Este setor é estratégico não só por movimentar montantes muito grandes de valores, mas pelo fato de que tecnologias relacionadas a ele são aplicáveis também ao setor de defesa, envolvendo então agências estratégicas dos países. Por fim, pelo contexto econômico mundial, é possível que o número de disputas envolvendo este tipo de subsídio e outros setores de alta tecnologia, como tecnologias de informação ou biotecnologia, aumente nos próximos anos.

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Roberto Luiz Silva e aos colegas da disciplina Organização Mundial do Comércio e Propriedade Intelectual pelas valiosas contribuições ao texto.

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Revista Mineira de Direito Internacional e Negócios Internacionais (RMDINI), v. 1, n. 1, jul./dez. 2014. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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