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A hipótese do 'Jornalismo Público' como orientação conceitual na formação profissional

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Academic year: 2021

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FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNPJ)

XII ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO

VIII CICLO NACIONAL DE PESQUISA EM ENSINO DE JORNALISMO

MODALIDADE DO TRABALHO: Relato de Experiência

GRUPO DE PESQUISA: Ensino de Ética e de Teorias do Jornalismo

A hipótese do 'Jornalismo Público' como orientação conceitual

na formação profissional

Sérgio Luiz Gadini1

sergiogadini@yahoo.com.br

Palavras-chave: Jornalismo Público. Teorias do Jornalismo. Campo Jornalístico. Resumo: O texto, em forma de relato de experiência, discute o uso conceitual das

referências do 'Jornalismo Público' como uma orientação nas aulas da disciplina de

Teorias do Jornalismo, ministrada no curso da UEPG/PR, considerando algumas

marcas (características) e a pertinência da abordagem do Public Journalism no estudo das Teorias do Jornalismo contemporâneo e, pois, também como estratégia de ação (na formação) profissional em Jornalismo.

Breve contextualização temática2

A trajetória do jornalismo norte-americano que, de alguma maneira, influencia historicamente o jornalismo brasileiro, tem suas marcas no modo jornalístico de pensar o mundo e de estruturar a produção profissional do campo (jornalístico). O que se discute, aqui, é a pertinência da abordagem do 'Jornalismo Público' no estudo das Teorias do Jornalismo contemporâneo e, pois, também como estratégia de ação (na formação) profissional em Jornalismo.

No século XX, já se pode falar, gradualmente, que o modo jornalístico dominante no Brasil é forjado e disseminado mais rapidamente depois da Segunda Guerra (1945).

1 Professor do Curso de Jornalismo da UEPG, membro da diretoria do FNPJ (Gestão 2008-10) .

2 O ponto de partida do presente texto é de algumas aulas da disciplina de Teorias do Jornalismo (UEPG, em 2008), sobre a abordagem do 'Jornalismo Público' como referência conceitual.

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Como mostra a história, em meados da década de 1940, já existem algumas experiências em jornais brasileiros, que sistematizaram o atual modelo dominante de (se) fazer jornalismo, inserindo as orientações que entraram no eixo das políticas editoriais – é a Era do Lide (das técnicas da pirâmide... em especial, a 'invertida')! E uma das referências dessa formatação jornalística, que também está associada ao modo de estruturar os jornais, se dá primeiro no Diário Carioca3. Lage recupera, de forma oportuna, a gradual

definição de regras redacionais, que vão nortear o 'manual' do Diário Carioca (em 1950), forjando o modelo dominante que, alguns bons anos depois, vai ser associado a outros periódicos da história do jornalismo brasileiro (JB, ou FSP, ao seu modo).

E o que isso tem a ver com a discussão do 'Jornalismo Público'? A formação do modelo dominante (informativo) no jornalismo norte-americano é bem anterior ao caso brasileiro, com uma tradição mais consolidada e, por isso, aos poucos começam a surgir outras frentes e abordagens. É daí, por exemplo, que na década entre o final dos anos 1950 e início de 60, aparecem outras variáveis, como a proposta de um 'Novo Jornalismo', na perspectiva da reportagem bem mais experimental. É isso o que [Truman] Capote fez, que o [Tom] Wolf depois vai fazer, dentre outros. No entanto, é de um pequeno setor, porque, na média, a referência jornalística dominante continua. O surgimento do New Journalism, que deslancha nos anos 60, está associado a uma crise do modelo dominante. Na mesma lógica, então, a partir do final dos anos 1980, e de forma mais acentuada no início da década de 90, nasce a variável de um 'Jornalismo Público'.

O jornalismo público4 surge na esteira de uma crítica ao modelo informativo. Tal

modelo hegemônico – bem anterior ao caso brasileiro - , vai criando dissidências e, pois, forjando a busca por alternativas. Foi assim, de algum modo, com o jornalismo (New) literário e, depois, com a abordagem do chamado 'Jornalismo Público'. Com a diferença de que o New Journalism sai do eixo das redações e, assim, sua trajetória remete mais facilmente aos profissionais que se descolam das redações dos grandes jornais por uma série de razões... mas modelo dominante (informativo), que não está em pauta o mérito de questionar ou não, continua hegemônico.

3 Esta história é ilustrada por Nilson Lage e Tales Faria (“Diário Carioca: o primeiro degrau para a modernidade”), em texto apresentado no II Encontro Nacional de História da Mídia/Rede Alcar, Florianópolis, 2004.

4 Uma panorâmica deste debate pode ser o livro de Carlos Álvarez Teijeiro (“Comunicación, Democracia y Ciudadanía: Fundamentos teoricos del Public Journalism”). Buenos Aires: Ciccus/La Crujía, 2000.

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No espaço de crise – ou, talvez, mais de crítica – nos anos 1980, legitima-se a busca de outras referências ao fazer jornalístico. Assim, não se trata de uma crise do tipo “acabou o jornalismo” ou “não há saída na grande mídia (empresarial)”. E aí um grupo de profissionais começa a procurar outros modos de se pensar: surge a abordagem do 'Jornalismo Público', que se dá, de fato, na denominada 'grande imprensa', e não na chamada 'alternativa' de outros veículos possíveis. O eixo passa do “que é” para “por que” se faz isso.

A busca de um termo mais apropriado... ao 'Jornalismo Público'!

E por que (JP) público e não comunitário ou cívico, como utilizam alguns autores (em especial norte-americanos, portugueses ou espanhóis)? No contexto brasileiro, esses termos são complicados! Em 'comunitário' tende-se a associar, mais diretamente, a um jornalismo segmentado, voltado a grupos, bairros ou comunidades. A expressão 'Cívico', então, é mais ambígua... uma vez que, no Brasil, 'cívico' remete a civismo ou, talvez, ainda a uma certa crença em 'patriotismo', ou até a cultos da pátria, para não sugerir ilusões politicamente frágeis e pouco defensáveis! Na tradição política norte-americana, cívico está mais relacionado à cidadania. Daí porque apenas 'importar' o termo traduzido pode remeter a compreensões ambíguas, questionáveis demais.

Assim, ao que tudo indica, o termo mais apropriado para indicar o debate parece mesmo ser 'JP'! Mas, ainda assim, surgem dilemas ou ambigüidades. Afinal, a referência a uma cobertura 'pública' no Brasil remete a veículos custeados pelo Estado (via governos), habitualmente com o dinheiro do contribuinte. Tal situação merece outra aula e debate mas, só para adiantar, é comum, neste País, o registro de veículos custeados pelo dinheiro público e manter uma fachada comercial. Poderia-se citar, aqui, o caso da Última Hora (no Governo segundo Vargas), mas ainda hoje alguns veículos usam dinheiro público, seja por anúncios explícitos ou 'negociados' pelas orientações editoriais. A história, aqui, é repleta de exemplos: um diário que 'emprestava' carro transportar presos políticos até os órgãos de repressão política no regime militar... e hoje tenta vender uma imagem! Nos vários casos, tal prática jornalística de marca pública só teria mesmo o dinheiro do povo... e muito pouco a orientação, que tende a indicar as relações, nem sempre explícitas e transparentes entre grupos políticos e empresas de

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mídia. Por isso, simples tradução do termo (similar também na grafia e pronúncia, diga-se de passagem) pode provocar algumas complicações! Assim, 'Jornalismo Público' parece ser o termo mais apropriado para indicar tal tendência. Um pouco diferente, pela abordagem norte-americana, tudo indica que tais 'dilemas' conceituais seriam bem menores, levando à constatação de que diferentes autores, por vezes, usem como quase-sinônimo civic-public-communitary!

A adesão a este modo de ver (entender/explicar) e fazer jornalismo (Public

Journalism) envolve autores e profissionais de diferentes países, para além dos EUA...

seja na Europa ou América Latina, dentre outras regiões do mundo.

Uma outra relação histórica, nos estudos em Jornalismo! Alguns autores que conceituam jornalismo falam que uma das características do jornalismo seria o interesse. Se num primeiro momento, a noção de público é mais ampla, logo, logo, vai estar associado ao 'interesse público', seja pela dimensão da proximidade ou pretensão humana a um maior alcance e adesão (universalidade). Ao indicar a busca pelo 'interesse público' não se está falando em agradar interesses privados, seja de um grupo, de uma família, tribo, de um setor ou um bairro, mas de pautar temas que tenham maior relevância, em sint0nia com o alvo de tal periódico/produto ou serviço periodístico.

Em outros termos, a marca (característica) do interesse público perpassa o Jornalismo. A mesma reflexão vale para as diversas editoriais, como política, por exemplo! E, pois, mesmo no tempo em que o jornalismo tinha como marca a intervenção política (como tribuna para atores que buscavam projeção no campo eleitoral – esta fase parece que ainda não acabou na mídia verde-amarela!), a marca de interesse coletivo não podia ser ignorada ou, ao menos, fugir à pauta editorial... embora com cores e interesses de ações políticas (no voto do eleitor). No período republicano é exatamente isso! No momento anterior ao final do século XIX, há o predomínio de um 'jornalismo político', por excelência. Mesmo nesse momento, quando se tenta demarcar posições para os grupos que visam mais espaço político, ainda assim, o jornalismo se pretende universal. É como o debate eleitoral agora. Nenhum dos candidatos vai dizer: “vou administrar para minha família, para meu grupo”. Ao contrário, tenta falar para a cidade ou região. Essa pretensão à universalidade, no fundo, tenta traduzir um modo particular de escrever o mundo. O eixo de representação política é o interesse público.

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Seria possível contar a mesma história a partir do conceito de público no jornalismo! O que vai diferenciar, no caso brasileiro, é que as diferentes fases que envolvem algumas peculiaridades, mas a idéia de um sentido 'público' que marca o jornalismo, identifica também os diversos momentos da história da imprensa brasileira. Claro, com variações no conceito e sentido de público! E qual a grande marca, atual, que se pode indicar na prática jornalística brasileira? A crença – na maioria das vezes inquestionada – de que o trabalho de reportagem está (previamente) revestida de um interesse público. É daí o pressuposto de que quando você entra num espaço público, com a função de reportar um tema pautado por um determinado veículo, seu trabalho é 'dado' como de 'interesse coletivo'. E, pois, habitualmente, não se questiona a abordagem posterior que vai ser publicada pelo jornal, rádio ou tv. A hipótese de que o trabalho jornalístico demanda acesso aos mais diversos espaços sociais e atores que, teoricamente, representam a gestão da vida coletiva, justifica-se pelo mesmo 'interesse público'... que avaliza a produção jornalística brasileira contemporânea!

E o que mais identifica a vertente do Jornalismo Público norte-americano? Mais do que informar, o JP busca examinar, escolher enfoque e centrar a atenção no interesse público. Não é só informar, portanto. Daí o sentido da pergunta “por que informar?”. O olhar – explicativo e, pois, como possível norteador da prática profissional - desloca o conhecido “quem faz, o que, como e onde” para um “por que fazer isso”. E, assim, parece complicar, pois já não basta mais, apenas, informar. É preciso dizer que a mesma informação deve contribuir, de algum modo, seja pelo debate de temas socialmente relevantes, como também ao exercício da cidadania. O conceito de cidadania está associada ao que se entende por 'sociedade democrática', mesmo que essa esteja – como parece ser dominante - no limite de uma relação de mercado. Então, o jornalismo se torna, por excelência, um elo com o campo político. Não há como dissociar o exercício da posição (ou condição) de cidadania da intervenção (possível) no campo político. Por isso que o jornalismo questiona. Essa é a pretensão, mas, claro, não significa que seja sempre assegurado de tal modo.

Ainda, vale aqui, um outro conceito clássico. Quando se fala em público, por vezes, alguns autores se tornam mais presentes. É o caso de Habermas, a partir da caracterização histórica em torno da emergência da “esfera pública moderna” como espaço (público, em relação ao privado) de intervenção. Por esta via, só se pode(ria)

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falar da presença do espaço público quando se tem claro o limite ou referencial de um espaço privado. Assim, interessa, ao Jornalismo, o diálogo ou tematização do assunto ou problema que envolve o bem coletivo, o interesse público. E, pois, o que é privado não interessa, ao menos do ponto de vista jornalístico. Assim, quando se pensa em interesse público, fala-se logicamente em espaço, relação e em serviço que envolve situações que vão além da dimensão privada.

Em outros termos, está em pauta – ou deveria, para o jornalismo – qualquer modo de gestão de situações coletivas. É o conceito mais elementar de política pública! E isso interessa porque, ao jornalismo, é (oni) presente que só tem sentido falar em informação quando se vislumbra condição da cidadania.

Observe, assim, que o debate em torno do interesse coletivo – que tende a marcar a produção jornalística – está diretamente associado à abordagem conceitual de um 'Jornalismo Público'... guardadas as proporções à vertente conceitual e de ação política norte-americana do Public Journalism! Como se vê, como explicam alguns autores, na trajetória do jornalismo norte-americano, a força desse mesmo referencial parece estar associado a um conceito de civismo, comunitário ou público. Por isso, quando a mídia passa a ser, gradualmente, esse (outro) espaço público, aceita-se uma gestão privada, mas o eixo dominante de de ação tem que ser ... de interesse público!

Considerações Finais

O que você pressupõe no chamado “exercício” desse Jornalismo Público5? Uma

simultânea, e inevitável, autocrítica profissional. Você tem que desenvolver tais habilidades e predisposições, para ir além de apenas informar. E aí, sem dúvida, ao 'provocar' o debate sobre o interesse público, a expectativa é de que os atores sociais (seja numa perspectiva individual ou coletiva) tendem a se sentir mais 'participantes' da produção editorial... como leitores que interagem, quando não são fontes, que dialogam com os profissionais sobre os temas e problemas sociais pautados.

5 Algumas das discussões sobre Jornalismo Público no Brasil tem por base a oportuna experiência (do autor do presente texto) como ombudsman, no período 2007/08, junto ao Jornal da Manhã (de Ponta Grossa/PR, que circula na Região dos Campos Gerais), que reivindica a abordagem do Jornalismo Público como orientação editorial.

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Em outros termos, ao se reivindicar o exercício de um 'Jornalismo Público', e não houver uma autocrítica constante, fica mais difícil de se ampliar a participação da sociedade civil. Dentre outros aspectos, porque a sociedade civil registra constantes mudanças, seja de interesses, disputas por hegemonia e representação, além dos problemas que também indica prioridades, na medida em que afetam os contribuintes e cidadãos em variadas influências e impactos.

O outro aspecto a se atentar diz respeito à crença de que, nós, jornalistas apostamos na hipótese de que, na média, estamos certos, quando acima de eventuais conflitos ou contradições. Ou seja, na prática, a sua metralhadora sempre gira do lado correto! E, na prática, nas relações cotidianas de interação com diferentes grupos e atores sociais, não há tal garantia. Tal ilusão já levou grupos e empresas de mídia a se expor ao 'apedrejamento' social... como não lembrar d'uma emissora de TV que tentou ignorar o “Movimento Diretas Já” (em 1984), mesmo diante de manifestações que reuniam centenas de milhares de pessoas, em diversas cidades do País? Era a mesma ilusão de, por 'controlar' o agendamento temático, poderia ignorar por completo o que não passava pela pauta de seus produtores. Engano histórico que, habitualmente, serve de exemplo do quanto é fundamental rever os modos de ver, entender e falar do cotidiano brasileiro.

Claro que, no Brasil, é preciso considerar que as intenções econômicas (privadas, portanto) marcam ou tendem a cercar a cobertura jornalística. E, pois, é de fato um pouco difícil pensar na operacionalização da abordagem Jornalismo Público na produção editorial cotidiana. Talvez, muito por isso, há tanta resistência no Brasil em se falar sobre jornalismo público. Mas, é possível, em diferentes aspectos! Uma das sugestões é pensar no sentido, prático e operacional, do que significa 'pluralidade' na produção jornalística: uma reportagem plural tende a garantir que, ao menos, os vários aspectos e ângulos em torno de um mesmo problema, possam ser consultados e ouvidos.

Por fim, com esta reflexão, pode-se indicar algumas pistas para discutir o Jornalismo Público como possível norteador conceitual – dentre muitos outros –, considerando algumas marcas (características) e a pertinência da abordagem do 'Jornalismo Público' no estudo das Teorias do Jornalismo contemporâneo e, pois, também como estratégia de ação (na formação) profissional em Jornalismo.

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É por esta ótica que o estudo do Jornalismo Público está diretamente associado e diz respeito às Teorias do Jornalismo. Em outros termos, no mundo contemporâneo não há como se falar em Teorias do Jornalismo sem passar pela hipótese que enfatiza o interesse na produção jornalística.

Referências

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