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MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS EM CUIABÁ-MT: ANÁLISE DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

ANAYANA CRISTINA PERTILE

MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS EM CUIABÁ-MT:

ANÁLISE DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

CUIABÁ 2016

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ANAYANA CRISTINA PERTILE

MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS EM CUIABÁ-MT: ANÁLISE DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - nível Mestrado, da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Área de Concentração: Enfermagem e o cuidado à saúde regional

Orientadora: Prof.ª Pós-Dr.ª Christine Baccarat de Godoy

Cuiabá 2016

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Dedico este trabalho aos meus pais e ao meu namorado por todo o amor e apoio incondicional.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por ter iluminado meu caminho como sempre tem feito e por ter me proporcionado uma experiência tão enriquecedora, tanto pessoal como profissionalmente.

Agradeço aos meus pais, Edson e Teresa, que são meus exemplos de pessoas e de profissionais cuja carreira eu decidi seguir. Sempre fizeram o possível para que eu pudesse realizar meus sonhos, mesmo que parecessem distantes. Sempre me ampararam quando eu caí e graças ao amor e apoio incondicional deles, eu consegui chegar até aqui. Sem eles, eu nada seria. Obrigada por tudo que vocês sempre fizeram por mim. Amo vocês!

Agradeço ao meu namorado, Rafael, que sempre esteve ao meu lado, que foi meu porto seguro nos momentos difíceis, que lidou com minha ausência e meu nervosismo em vários momentos desta trajetória e que sempre me incentivou a continuar e terminar esta jornada. Obrigada por ser o melhor companheiro de vida que eu poderia ter e por caminhar ao meu lado há tanto tempo. Eu te amo!

Agradeço à família maravilhosa que eu tenho e que sempre torceu por mim, principalmente minha irmã, Ananda, que também vive sua própria jornada neste mundo do mestrado. Obrigada por compartilhar minhas dúvidas e dificuldades. Amo você!

Agradeço a minha orientadora, Christine Baccarat de Godoy, por toda dedicação, paciência e confiança depositadas durante este processo. Obrigada pelos ensinamentos que, com certeza, serão levados comigo para o resto da vida.

Agradeço aos colegas de mestrado que me proporcionaram momentos de ensinamento, companheirismo e divertimento. Agradeço principalmente a minha colega Margani Cadore Weis, que dividiu comigo esta jornada desde o começo. Obrigada pela parceria desde o primeiro dia até hoje. Obrigada por ser meu ombro amigo quando eu precisei e por tornar o clima mais leve e divertido, principalmente durante a coleta de dados. Obrigada pela amizade que tenho certeza que levaremos conosco após o fim do mestrado.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo auxílio concedido por meio de bolsa de estudo para que eu pudesse me dedicar exclusivamente a este trabalho.

Agradeço também a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho, principalmente aos professores membros das bancas de qualificação e defesa, que, certamente, enriqueceram este trabalho com seu conhecimento.

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“Foi o tempo que dedicastes à tua rosa que a fez tão importante.” (Antoine de Saint-Exupéry)

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Pertile AC. Mortalidade por causas externas em Cuiabá-MT: análise da qualidade da informação, 2016. [dissertação de mestrado]. Cuiabá: Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); 2016.

Orientadora: Pós-Dr.ª Christine Baccarat de Godoy

RESUMO

Introdução: mundialmente, na população de crianças, adolescentes e jovens (faixa etária de 0 a 24 anos de idade), as causas externas (acidentes e violências) estão nas primeiras colocações como causa de mortalidade cujos eventos são registrados pela Declaração de Óbito (DO), documento de preenchimento obrigatório e universal em caso de morte. Considerando a magnitude destas causas de óbito nesta população específica e a importância do preenchimento da DO para o seu conhecimento, bem como a carência de estudos sobre a problemática em Cuiabá, é essencial conhecer a realidade da qualidade da informação destas declarações no município. Objetivo: analisar a qualidade da informação das Declarações de Óbito de crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) que faleceram por causas externas no município de Cuiabá – MT, no ano de 2013. Metodologia: estudo descritivo, de corte transversal, com coleta de dados retrospectiva. A população do estudo foi composta por crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) que foram a óbito por causas externas, no município de Cuiabá – MT, em 2013. A fonte de dados foram as DO e a coleta de dados foi realizada na Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá – MT. O instrumento utilizado para a coleta de dados consistiu em formulário fechado, com caracterização das vítimas e dos óbitos, além de critérios de avaliação da qualidade da informação: completude, consistência e validade. Os dados foram processados e analisados por meio do programa Epi Info utilizando análises simples e bivariadas (teste estatístico Qui-Quadrado, p = ou < que 0,05). Utilizou-se um escore para completude e validade dos dados e proporção de inconsistência. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética por meio do parecer 829.672 de 13/10/2014. Resultados: foram identificadas 161 DO por causas externas na faixa etária de 0-24 anos. Sobre o perfil das vítimas, a maioria tinha entre 15 e 24 anos de idade (78,2%), com predominância do sexo masculino (82,0%), cursando do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental (44,1%), da raça/cor parda (66,5%). Referente à qualidade da informação, as classificações do escore Excelente e Ruim prevaleceram tanto para completude quanto para validade. O percentual de inconsistência encontrado foi baixo. Foram identificados problemas na qualidade da informação, como mais de um tipo de caligrafia presente, falta de carimbo médico e falta de informação sobre descrição e circunstâncias do evento. Conclusão: ressalta-se a importância de capacitar e conscientizar os profissionais que preenchem as declarações de óbito visando melhorar a qualidade da informação sobre mortalidade por causa externa no município.

Palavras-chave: Causas Externas. Mortalidade. Qualidade da Informação. Declaração de Óbito.

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Pertile AC. Mortality from external causes in Cuiabá-MT: analysis of the information quality, 2016. [Master dissertation]. Cuiabá: Nursing School of the Federal University of Mato Grosso (UFMT); 2016.

Advisor: Post Dr. Christine Baccarat de Godoy

ABSTRACT

Introduction: Globally, in the population of children, adolescents and young people (aged from 0 to 24 years old), the external causes (accidents and violence) are in the first places as a cause of mortality whose events are registered by the Death Declaration (DD), compulsory and universal completion document in case of death. Considering the magnitude of these death causes in this specific population and the importance of completing the DD to its knowledge, and the lack of studies on the issue in Cuiaba, it is essential to know the reality of the information quality of these statements in the municipality. Objective: To analyze the information quality of children, adolescents and young people Death Declarations (0-24 years) who died of external causes in the city of Cuiaba - MT, in 2013. Methodology: This is a descriptive and cross-sectional study, with retrospective data collection. The study population was composed of children, adolescents and young people (0-24 years) who died from external causes in the city of Cuiaba - MT, in 2013. The data source was the DD and the data collection was performed at the Municipal Health Department of Cuiaba - MT. The instrument used for data collection consisted of closed form, with the characterization of victims and deaths, as well as evaluation criteria for information quality: completeness, consistency, and validity. Data were processed and analyzed through Epi Info using simple and bivariate analyzes (Chi-square statistical test, p= or <0.05). A score was used for completeness and validity of data and proportion of inconsistency. The project was approved by the Ethics Committee by the opinion 829,672 of 10/13/2014. Results: We identified 161 DD by external causes at the age of 0-24 years. Concerning the victims profile, most were between 15 and 24 years old (78.2%), predominantly male (82.0%) enrolled from 6th to 9th grade of Elementary School (44.1%), race/mulatto (66.5%). Concerning the information quality, the score rankings Excellent and Bad prevailed both for completeness and for validity. The found inconsistency percentage was low. Problems were identified in the information quality, as more than one type of calligraphy, lack of medical stamp and lack of information about description and circumstances of the event. Conclusion: The importance of training and awareness among professionals who fill the death declarations to improve the information quality about mortality due to external causes in the city is emphasized.

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Pertile AC. Mortalidad por causas externas en Cuiabá-MT: análisis de la calidad de la información, 2016. [disertación de maestría]. Cuiabá: Facultad de Enfermería de la Universidad Federal de Mato Grosso (UFMT); 2016.

Orientadora: Pos-Dr.ª Christine Baccarat de Godoy

RESUMEN

Introducción: mundialmente, en la población de niños, adolescentes y jóvenes (faja etaria de 0 a 24 años de edad), las causas externas (accidentes y violencias) están en las primeras colocaciones como causa de mortalidad cuyos eventos son registrados por la Declaración de Óbito (DO), documento obligatorio y universal en caso de muerte. Considerando la magnitud de estas causas de óbito en esta población específica y la importancia del documento de la DO para su conocimiento, así como la carencia de estudios sobre la problemática en Cuiabá, es esencial conocer la realidad de la calidad de la información de estas declaraciones en el municipio. Objetivo: analizar la calidad de la información de las Declaraciones de Óbito de niños, adolescentes y jóvenes (0 a 24 años) que fallecieron por causas externas en el municipio de Cuiabá – MT, en el año de 2013. Metodología: estudio descriptivo, de corte transversal, con recolección de datos retrospectiva. La población del estudio fue compuesta por niños, adolescentes y jóvenes (0 a 24 años) que fueron a óbito por causas externas, en el municipio de Cuiabá – MT, en 2013. Las fuentes de datos fueron las DO y la recolección de datos fue realizada en la Secretaria Municipal de Salud de Cuiabá – MT. El instrumento utilizado para la recolección de datos consistió en formulario cerrado, con caracterización de las víctimas y de los óbitos, además de criterios de evaluación de la calidad de la información: lo completo, consistencia y validez. Los datos fueron procesados y analizados por medio del programa Epi Info utilizando análisis simples y bivariados (test estadístico Chi-Cuadrado, p = o < que 0,05). Se utilizó una puntuación para integridad y validez de los datos y proporción de inconsistencia. El proyecto fue aprobado por el Comité de Ética por medio del parecer 829.672 del 13/10/2014. Resultados: fueron identificadas 161 DO por causas externas en la faja etaria de 0-24 años. Sobre el perfil de las víctimas, la mayoría tenía entre 15 y 24 años de edad (78,2%), con predominancia del sexo masculino (82,0%), cursando del 6º al 9º año de Enseñanza Secundaria (44,1%), da raza/color parda (66,5%). Referente a la calidad de la información, las clasificaciones de la puntuación Excelente y Malo prevalecieron tanto para integridad como para validez. El porcentaje de inconsistencia encontrado fue bajo. Fueron identificados problemas en la calidad de la información, como más de un tipo de caligrafía presente, falta de sello médico y falta de información sobre descripción y circunstancias del evento. Conclusión: se resalta la importancia de capacitar y concientizar a los profesionales que llenan las declaraciones de óbito tentando mejorar la calidad de la información sobre mortalidad por causa externa en el municipio.

Palabras-clave: Causas Externas. Mortalidad. Calidad de la Información. Declaración de Óbito.

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LISTA DE TABELAS

Tabelas apresentadas no manuscrito 1

Tabela 1 - Distribuição dos óbitos por causas externas, na população de 0 a 24 anos, segundo faixa etária, sexo, escolaridade e raça/cor das vítimas. Cuiabá, 2013... 52 Tabela 2 - Distribuição dos óbitos por causas externas, na população de 0 a 24

anos, segundo o grupo e subgrupo de causas da CID-10. Cuiabá, 2013... 53 Tabela 3 - Distribuição dos óbitos por causas externas, na população de 0 a 24

anos, segundo a faixa etária da vítima e o tipo de causa externa (grupo de causas da CID-10). Cuiabá, 2013. (p=0,0014)... 54 Tabela 4 - Distribuição dos óbitos por causas externas, na população de 0 a 24

anos, segundo a raça/cor da vítima e o tipo de causa externa (grupo de causas da CID-10). Cuiabá, 2013. (p=0,0115)... 55 Tabela 5 - Distribuição dos óbitos por causas externas, na população de 0 a 24

anos, segundo o subgrupo de causa acidental (subgrupo de causas da CID-10) e a faixa etária da vítima. Cuiabá, 2013. (p=0,0000)... 56

Tabelas apresentadas no manuscrito 2

Tabela 1 - Distribuição dos campos e blocos analisados no estudo segundo a apresentação dos mesmos na Declaração de Óbito. Cuiabá, 2013... 69 Tabela 2 - Distribuição das DO por causas externas, na população de 0 a 24

anos, conforme a classificação dos campos segundo escore de completude de Romero e Cunha. Cuiabá, 2013... 70 Tabela 3 - Distribuição das DO por causas externas, na população de 0 a 24

anos, conforme a classificação dos campos segundo escore de informações válidas (adaptado de Romero e Cunha, 2006). Cuiabá, 2013... 71

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APVP - Anos Potenciais de Vida Perdidos

BO - Boletim de Ocorrência

CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - 10ª Revisão

DO - Declaração de Óbito

IML - Instituto Médico Legal

MS - Ministério da Saúde

SIA-SUS - Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde

SIH-SUS - Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde

SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos

SIS - Sistema de Informação em Saúde

SMS - Secretaria Municipal de Saúde

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 15

1.1. Contextualizando as causas externas... 15

1.2. O conhecimento das causas externas... 17

1.3. Sobre a Declaração de Óbito (DO)... 19

1.4. Qualidade da Informação... 21 2. OBJETIVOS... 27 2.1. Geral... 27 2.2. Específicos... 27 3. METODOLOGIA... 28 3.1. Desenho do estudo... 28 3.2. População de estudo... 28 3.3. Fonte de dados... 28

3.4. Coleta de dados e Instrumento... 28

3.5. Variáveis estudadas... 29

3.6. Tratamento e análise de dados... 29

3.7. Aspectos éticos... 30

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO... 31

4.1. Manuscrito 1 - Mortalidade por causas externas em Cuiabá-MT: perfil das vítimas de 0 a 24 anos... 32

4.2. Manuscrito 2 - Qualidade da informação das declarações de óbito por causas externas em Cuiabá – MT, na faixa etária de 0 a 24 anos... 60

5. CONCLUSÃO... 77

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 79

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APÊNDICES... 85

Apêndice I – Instrumento de coleta de dados... 85

Apêndice II – Termo de Compromisso... 88

ANEXOS... 89

Anexo I – Modelo da Declaração de óbito... 89

Anexo II – Autorização da Secretaria Municipal de Saúde para coleta de dados... 90

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INTRODUÇÃO

1.1. Contextualizando as causas externas

As causas externas de mortalidade englobam causas não naturais, decorrentes de violências, acidentes e eventos de intenção indeterminada (em que não se sabe se foi acidental ou intencional). Dentre essas causas não naturais, encontram-se os acidentes de transporte, agressões, lesões autoprovocadas (suicídio), homicídios, quedas, envenenamentos, queimaduras, acidentes de trabalho, afogamentos e óbitos por intervenção legal (GONSAGA etal. 2012), classificados no Capítulo XX da 10ª Classificação Internacional de Doenças (CID-10) com os seguintes códigos: acidentes de transporte (V01-V99), agressões (X85-Y09), suicídios/lesões autoprovocadas intencionalmente (X60-X84), eventos de ação indeterminada (Y10-Y34), outras causas externas de lesões acidentais (W00-X59) e demais mortes (Y35- Y98) (ANDRADE-BARBOSA et al.,2013; OMS, 2000).

No Brasil, as causas externas (acidentes e violências) são apontadas pelas estatísticas como a terceira causa de mortalidade geral, mas ao analisá-las sob o critério dos segmentos populacionais, percebe-se diferenças marcantes em relação à frequência, às características e circunstâncias dos eventos (MARTINS, 2013). Mundialmente, na população de crianças, adolescentes e jovens (faixa etária de 0 a 24 anos de idade), ocupam as primeiras colocações como causa de mortalidade (MATOS; MARTINS, 2013; PINO; SAN JUAN HURTADO; MONASTERIO OCARES, 2013; GASPAR et al.,2012; IMAMURA; TROSTER; OLIVEIRA, 2012; FRAGA et al., 2010).

Esta população é a mais atingida devido às suas particularidades. As crianças por apresentarem dificuldade de localização exata de sons, visão periférica limitada, possuem tendência à distração, necessitam de mais tempo para processar as informações e estão constantemente explorando o ambiente ao seu redor. Soma-se a estes fatores a própria etapa de desenvolvimento neuropsicomotor, em que a criança apresenta imaturidade física e mental, curiosidade, inexperiência, incapacidade de identificar e evitar situações de risco, propensão a reproduzir comportamentos adultos, falta de percepção corporal e de espaço, além de incoordenação motora. Algumas características individuais, como hiperatividade, agressividade e impulsividade, também podem estar presentes (MALTA et al.,2012a; MASCARENHAS et al., 2009).

Quanto à violência, as crianças são vítimas em função da sua dependência do adulto, por não terem autonomia de seu pensamento e não apreenderem o suficiente da realidade em si. Portanto, nesta fase, que perdura até os 6 anos de idade, a criança se torna totalmente

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exposta ao agressor. Até os 11 anos ainda não é claro para o indivíduo quais os significados das ações realizadas, e é somente na faixa etária acima de 12 anos (que já se caracteriza como adolescência) que ela consegue distinguir a violência como ato prejudicial (MAIA; BARRETO, 2012).

Os adolescentes e jovens estão vulneráveis aos acidentes porque apresentam comportamentos associados à busca de emoções e aventura, prazer em vivenciar situações de risco, exposição às drogas e à marginalidade, impulsividade e imaturidade, necessidade de testar seus limites e de infringir regras. No trânsito, consideram o carro e a moto como representação de aventura e desafio. Exibem atitudes de risco, como velocidade exagerada e manobras arriscadas, utilizadas muitas vezes em exibições em grupo ou “rachas”, que são frutos do sentimento de onipotência e da superestimação de suas reais capacidades e habilidades, além de sua pouca experiência como condutores (MELLO JORGE; MARTINS, 2013; MASCARENHAS et al., 2009).

Considerando a violência na população de adolescentes e jovens, estes aparecem tanto como vítimas quanto agressores, tendo a violência juvenil como a mais visível e com maior ocorrência de incidentes, fatais e não fatais (CASTRO; CUNHA; SOUZA, 2011). Em diferentes culturas, a agressão física é uma forma comum de violência interpessoal nesta população, que manifesta alguns comportamentos que são considerados agressivos, como portar armas e participar de brigas, que se apresentam associados a altos índices de homicídio e suicídio. Estes comportamentos podem estar associados a diversos fatores individuais, como deficit intelectual e baixo rendimento escolar, uso de medicamentos, álcool e drogas, dificuldades na relação com os pais e família numerosa, baixo nível socioeconômico, poucos amigos e abuso infantil prévio (SILVA et al., 2009).

Nos grupos etários que englobam crianças, adolescentes e jovens, os acidentes e violências têm se configurado como um problema de saúde pública devido à sua alta morbidade, mortalidade e impacto para a vítima, família e a sociedade em geral (GONSAGA et al.,2012). Além disso, suas consequências podem ser mensuradas por meio da repercussão econômica, social e emocional, por exemplo, dias de ausência no trabalho, custos para o sistema de saúde, demanda aos serviços de assistência social, danos mentais e emocionais para as vítimas e suas famílias (MARTINS, 2013).

Em virtude da frequência com que ocorrem, alta mortalidade e por serem as crianças, os adolescentes e os jovens os grupos mais atingidos, as causas externas ocasionam várias repercussões, dentre elas os anos potenciais de vida perdidos (APVP) (MATOS; MARTINS, 2013). O APVP é um indicador que contabiliza o tempo que uma pessoa, morta

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prematuramente, poderia ter vivido. Evidencia também as causas específicas de óbito que afetam grupos etários mais jovens, gerando uma ordenação diferente das causas de morte. Tem sido utilizado principalmente no monitoramento de mortes violentas e possui a capacidade de caracterizar a magnitude de causas de óbitos. É calculado através do estabelecimento de um limite de idade como referência, e abaixo deste limite a morte é considerada prematura (SILVA et al., 2011).

No caso de crianças, adolescentes e jovens, os acidentes e, principalmente, a violência têm sido reconhecidos por suas repercussões no aspecto biopsicossocial, ocasionando consequências expressivas nas esferas física, sexual, emocional, cognitiva, comportamental e psicológica, afetando o crescimento e desenvolvimento destes indivíduos. Deve-se considerar também o impacto das causas externas nos custos econômicos com assistência médica, incluindo o tratamento e reabilitação das vítimas, e com o sistema judiciário, além de lesões e traumas ocasionados pelo ato violento, que geram grandes impactos em longo prazo (MARTINS; MELLO JORGE, 2009).

Há que se considerar ainda que a mortalidade da população jovem por causas externas não repercute somente no menor tempo de vida mas também na perda de uma população economicamente ativa, refletindo em vários contextos na sociedade, como o contexto familiar, social e econômico (MARTINS; MELLO JORGE, 2013). Em razão do seu grande impacto, faz-se necessário conhecer estas causas de morbimortalidade.

1.2. O conhecimento das causas externas

Uma das formas de se conhecer a magnitude das causas externas na população é por meio da mortalidade (VILLELA et al., 2012).

Os dados sobre mortalidade por causas externas têm se apresentado mais apropriados para análise e monitorização dos acidentes e violências porque representam os casos fatais, atendidos ou não no Sistema Único de Saúde (SUS), que são registrados pela Declaração de Óbito (DO), que é um documento de preenchimento obrigatório e universal nos casos de óbito (MARTINS, 2010).

O conhecimento das causas externas (como atendimento ambulatorial, internação hospitalar ou óbito) pode se dar por meio dos óbitos (registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM), dos casos de internação hospitalar (registrados no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde SIH-SUS), dos casos de atendimento em unidades de urgência e emergências (como prontos-socorros e Unidades de Pronto

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Atendimento - UPA), dos atendimentos ambulatoriais (registrados no Sistema de Informação Ambulatorial SIA-SUS) e dos atendimentos na atenção básica (GASPAR et al., 2012).

Os dados disponíveis no SIH-SUS não são suficientes para representar a morbidade por causas externas, pois englobam apenas as internações em unidades hospitalares do SUS, excluindo os atendimentos em serviços particulares. Além disso, não abarcam as lesões de menor gravidade que, mesmo não ocasionando internações ou óbitos, são responsáveis por uma grande demanda de atendimentos nos serviços de urgência e emergência (MASCARENHAS et al., 2009).

Os serviços de urgência e emergência, por sua vez, estão inseridos no Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), que foi implantado em 2006 pelo Ministério da Saúde (MS) com o objetivo de monitorar os atendimentos de emergência por causas externas, possibilitando conhecer e analisar características epidemiológicas destes atendimentos. O VIVA está estruturado em dois componentes: o contínuo, que utiliza as notificações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) feita pelos serviços de saúde, e o inquérito, que é um estudo transversal realizado em serviços selecionados de urgência e emergência, durante 30 dias, a cada três anos. O componente contínuo não permite a verificação dos casos de causa externa acidental e, apesar de o inquérito pesquisar os casos acidentais e intencionais, este monitoramento não é contínuo, ocorrendo somente em unidades selecionadas, o que dificulta o uso destas informações para avaliar as causas externas no país (MALTA et al., 2012a; MALTA et al., 2012b).

Já os atendimentos ambulatoriais, apesar de estarem registrados em um sistema nacional, só retratam os atendimentos em números gerais, sem especificar as causas destes, e só abarcam a demanda atendida pelo SUS. Além disso, há ainda os casos que não chegam aos serviços de saúde e os que chegam, mas são registrados como outras causas que não acidentes ou violências (MARTINS, 2010).

Devido às dificuldades expostas, o conhecimento sobre a realidade das causas externas no Brasil ainda é insuficiente. Por ser um documento obrigatório nos casos de óbitos, com ou sem atendimento prévio em qualquer serviço de saúde, a DO permite identificar a maioria destes óbitos por causas externas (salvo os casos em que não se registra o óbito) e suas características, e seu preenchimento é de responsabilidade do médico legista do Instituto Médico Legal (IML) (LOZADA et al., 2009).

Sendo assim, as estatísticas de mortalidade através do SIM demonstram apenas os casos fatais das causas externas, representando somente a ponta do iceberg (MARTINS, 2010). Considerando que o instrumento que alimenta este banco de dados sobre mortalidade é

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a DO, faz-se necessário compreender sobre o preenchimento da mesma (COSTA; FRIAS, 2011).

1.3. Sobre a Declaração de Óbito (DO)

O preenchimento da DO constitui-se um ato médico e os dados presentes neste documento são uma fonte rica de informações sobre características individuais, sociodemográficas e sobre as principais causas de óbito, auxiliando na identificação de fatores de risco associados à mortalidade (CAMPOS et al., 2013). No caso de óbito por causa externa, o preenchimento da DO é de responsabilidade do médico legista do Instituto Médico Legal (IML) e, neste caso, o preenchimento correto da DO torna-se vital porque, além de conter as informações individuais da vítima, também informa sobre o local da ocorrência do evento, o tipo específico de causa externa e sua intencionalidade (agressão, acidente, suicídio), que são informações essenciais para planejar ações preventivas e avaliar a eficácia dessas ações (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013).

Nesse sentido, a DO possui um papel importante no planejamento e desenvolvimento de programas específicos de saúde, no nível local, regional e nacional, pois permite a identificação de grupos de risco mais expostos àquele evento (RODRIGUES et al., 2011). Desta forma, para garantir um melhor delineamento do perfil epidemiológico das causas externas, é preciso o preenchimento adequado e de qualidade da DO (ANDRADE-BARBOSA et al., 2013).

Por ser um documento de preenchimento exclusivamente médico, este profissional possui responsabilidade ética e jurídica pelas informações registradas na DO e por sua assinatura, que segundo orientações de manuais de preenchimento e procedimentos não deve ser assinada sem efetuar uma revisão de todos os campos (SCHOEPS et al., 2014).

Apesar da relevância do preenchimento das declarações de óbito, estudos apontam que muitas delas não possuem informações detalhadas sobre o tipo específico de causa que provocou o óbito, gerando subestimativas e aumentando a proporção de mortalidade por causas mal definidas ou de causas externas cuja intenção é indeterminada (não se sabe ao certo se foi acidental ou intencional), o que compromete a análise da mortalidade (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013; VILLELA et al., 2012; FAJARDO; AERTS; BASSANESI, 2009; LOZADA et al., 2009).

Há que se considerar, ainda, os valores, as percepções e os conhecimentos técnicos, científicos e legais dos profissionais que preenchem a DO, pois estes fatores influenciam

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diretamente na qualidade deste preenchimento (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013; MENDONÇA; DRUMOND; CARDOSO, 2010).

Nesse contexto, uma pesquisa revela que muitas vezes o médico considera este documento como uma simples exigência legal, sem valorizar sua importância para fins estatísticos e, consequentemente, para a saúde pública. Isso pode interferir na fidedignidade dos dados, visto que este profissional não preencherá a declaração corretamente (RODRIGUES et al., 2011).

Estudo realizado com médicos que declararam já ter preenchido, pelo menos, uma DO durante seu exercício profissional mostrou que os principais problemas relacionados ao preenchimento são: o desconhecimento médico acerca da importância do correto preenchimento de todos os campos do formulário; a pouca utilização dos materiais de instrução fornecidos aos médicos pelos órgãos e instituições responsáveis; o desconhecimento sobre a relevância do detalhamento e a adequação da cadeia de eventos patológicos no campo das possíveis causas de morte (MENDONÇA; DRUMOND; CARDOSO, 2010). Outro estudo também identificou falta de conhecimento dos médicos para o adequado preenchimento da DO, principalmente em relação ao preenchimento da causa básica do óbito (FAJARDO; AERTS; BASSANESI, 2009).

Outro aspecto importante a ser considerado no preenchimento das DO é como o profissional médico vê este documento e as informações contidas nele. Para alguns médicos, a DO é necessária para registro do histórico da doença e atribuem a ela a função de registrar as falhas e fracasso das tecnologias médicas, incapazes de impedir a morte, ou seja, atesta o „fracasso médico‟ diante da morte (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013).

Muitas vezes o profissional médico se intimida diante de um documento cujas informações possuem diferentes implicações, como no caso da DO. Para a produção de informação e estatísticas na área da saúde, esta possui uma importância e uma finalidade. Para o setor jurídico/legal e outras instituições que a utilizam, como seguradoras, institutos de previdência e cartórios de registro civil, possui outra finalidade. Portanto a DO, para os médicos que assumem a responsabilidade de preenchê-la, é um documento que tem diferentes dimensões e significados, dependendo de qual profissional a usa e para qual objetivo utilizará suas informações. Tal multiplicidade está associada às diferentes experiências dos sujeitos envolvidos, tanto no seu preenchimento quanto na sua utilização (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013).

Mesmo compreendendo que a DO é um instrumento técnico e objetivo, outros fatores interferem no seu preenchimento, como as representações dos profissionais sobre “causas

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externas” na prática médica, o grau de compromisso do profissional com os desdobramentos da DO e o fato de preencher este documento diariamente, de maneira mecanizada, esquecendo do pensamento crítico envolvido no processo, dentre os fatores mais relevantes (RODRIGUES et al., 2011). Deve-se também conscientizar os profissionais envolvidos no preenchimento da DO sobre a importância do trabalho no qual estão envolvidos visando à melhora na qualidade das informações geradas (SANTANA; BOCHNER; GUIMARÃES; 2011).

Muitas vezes, vários campos da DO, como identificação da vítima, endereço residencial e local de ocorrência do óbito, entre outros, são preenchidos por outros profissionais, mesmo sendo seu preenchimento de responsabilidade médica. Isso sugere que estes dão menor importância a estas informações, prejudicando seu preenchimento e valorizando outros campos, como o que se refere às causas do óbito, que é reconhecido como de competência do médico, sendo inclusive referido por eles como “parte médica” da DO (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013; RODRIGUES et al., 2011).

O MS classificava as variáveis da DO em indispensáveis, essenciais e secundárias, “selecionando” as variáveis “mais importantes”, como sexo, tipo de óbito e causa básica, o que pode ter ocasionado a noção errônea de que as outras variáveis possuem menor importância, consolidando esta noção entre os profissionais e alimentando a cultura do não preenchimento (COSTA; FRIAS; 2011).

A causa de morte é uma das informações mais importantes presentes na declaração de óbito e é fundamental para que se conheça o estado de saúde das populações. No caso de mortes por causas externas, as circunstâncias relacionadas ao evento que levou ao óbito devem ser mencionadas e selecionadas como causa básica da morte. Na maioria das vezes, o médico legista, responsável pelo preenchimento da DO em óbitos por causas externas, menciona somente a natureza das lesões e não descreve as circunstâncias da morte, prejudicando a qualidade da informação gerada (VILLELA et al., 2012).

1.4. Qualidade da Informação

Ainda não há um entendimento claro sobre a definição teórica do termo “qualidade da informação”, pois é considerado um aspecto que engloba várias dimensões e é visto como um conceito complexo. Diferentes visões do objeto analisado têm sido observadas em distintas metodologias, dependendo de sua abordagem. Um dos conceitos utilizados habitualmente refere que uma informação de qualidade é aquela que está apta e é conveniente para o uso em relação à necessidade de quem a usa (LIMA et al., 2009).

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Assim sendo, para avaliar a qualidade da informação, é necessário avaliar suas diferentes dimensões. Estudiosos da área apontam nove dimensões, que são: acessibilidade, clareza metodológica, cobertura, confiabilidade, não duplicidade, oportunidade, incompletude, consistência e validade. A acessibilidade retrata o grau de facilidade e rapidez na obtenção, no trato e na compreensão dos dados ou informações; a clareza metodológica se refere à documentação que acompanha o Sistema de Informação em Saúde (SIS); a cobertura é o grau em que os eventos do universo estão registrados no SIS; a confiabilidade mede a concordância entre duas aferições diferentes, realizadas em condições semelhantes; a não duplicidade verifica o grau em que os eventos estão representados no SIS somente uma vez; e a oportunidade permite identificar o grau de disponibilidade dos dados ou informações para quem os busca, quanto ao local e tempo (LIMA et al., 2009).

A incompletude, por sua vez, é considerada como proporção de informação nula, ou seja, se o campo está em branco ou foi preenchido com os códigos utilizados para informação ignorada. A consistência verifica o grau em que variáveis da DO possuem valores coerentes e não contraditórios, quando relacionadas entre si, ou seja, verifica a coerência entre as informações preenchidas no documento (LIMA et al.,2009; ROMERO; CUNHA, 2006). Já a validade é a medida do “grau em que o dado ou informação mede o que se pretende medir”, ou seja, se o preenchimento daquele campo resultará na informação que deveria ser verificada (LIMA et al.,2009).

A qualidade da informação tem como objetivo primordial buscar a diminuição de deficiências e, simultaneamente, potencialização da satisfação dos usuários. Apesar de ser um tema crescente de pesquisa devido à sua importância e impacto, tanto na execução de atividades quanto no planejamento e tomada de decisão, ainda é um tema pouco trabalhado nas organizações por ser considerado complexo e abstrato (ORNELLAS; TAKAOKA, 2012).

Várias pesquisas publicadas nos últimos anos discutem a qualidade da informação sobre mortalidade como tema, porém os resultados variam de acordo com as localidades e as dimensões investigadas.

Nogueira et al (2009) avaliaram a confiabilidade e validade dos dados contidos nas DO por câncer de boca no município de Teresina, e Lozada et al (2009) analisaram a qualidade do SIM para óbitos por causas externas no estado do Paraná, Brasil, entre 1979 e 2005, e ambos os estudos encontraram informações válidas, confiáveis e de boa qualidade.

Estudo internacional realizado em Montevidéu (Uruguai) tinha como objetivo conhecer a qualidade da informação das declarações de óbitos em um hospital da cidade. Foram detectadas evidentes inconsistências entre informações registradas nas declarações

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analisadas e nas histórias clínicas. Sobre as causas de morte, apenas 12,87% destas estavam classificadas corretamente, 53,52% estavam incompletas ou inexatas (poderiam ser corrigidas com uma reclassificação) e 28,73% estavam incorretas, sem possibilidade de correção (RODRÍGUES ALMADA et al., 2010).

Costa e Frias (2011) avaliaram a completude das variáveis da declaração de óbito de menores de um ano residentes em Pernambuco, de 1977 a 2005, e Felix et al (2012) analisaram a completude dos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade no Espírito Santo, na região Sudeste e no Brasil, no período de 1998 a 2007, e observaram diferentes comportamentos das variáveis, pois houve acréscimo no preenchimento de algumas e decréscimo no preenchimento de outras.

Estudo realizado em São Paulo buscou avaliar a qualidade das informações das declarações de óbito fetal e identificou a necessidade de aprimoramento da completude e da indicação das causas de óbito, mesmo com uma elevada proporção de autópsias realizadas (ALMEIDA et al., 2011).

Rios et al (2013) analisaram a completude dos dados do SIM sobre os óbitos por suicídio em idosos no estado da Bahia, no período de 1996 a 2010, e identificaram melhoria na completude destes dados, sendo observadas tendências decrescentes ou não significativas estatisticamente.

Frias, Szwarcwald e Lira (2014) investigaram a adequação das informações do SIM e do SINASC (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos) no Brasil, por meio de indicadores elaborados por eles referentes à cobertura, regularidade e qualidade das informações, entre os triênios 1999-2001 e 2008-2010. Foram identificados avanços em todos os indicadores, em todas as regiões e em grande parte das Unidades da Federação, e a análise do nível de adequação das informações vitais (nascimentos e óbitos) evidenciou melhoria na situação em todo o país. Porém, segundo os autores, ainda é necessário aprimorar o nível de detalhamento da causa básica de morte e sua classificação.

Um estudo feito na Colômbia tinha o objetivo de avaliar a qualidade das DO por câncer de colo do útero para determinar a causa direta de morte, sendo encontrados problemas nos registros das causas de óbito, muitas vezes sem considerar a CID-10, e conclui-se que é necessário melhorar a qualidade das DO a fim de utilizar as informações presentes nestes documentos (GONZÁLEZ MARIÑO; 2014).

Para avaliar a qualidade da informação sobre mortalidade, alguns autores utilizam como indicador a proporção de óbitos por causas mal definidas, isto é, quando a causa de morte não foi bem detalhada e/ou classificada (LIMA; QUEIROZ, 2014). O limite definido

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para estas causas é de 10%, não devendo ser ultrapassado para que se possa considerar boa a qualidade das informações (ABREU; SAKURAI; CAMPOS, 2010).

A despeito do avanço nos últimos anos em relação à qualidade da informação sobre mortalidade, reduzindo os óbitos por causas mal definidas, torna-se essencial definir exatamente a causa do óbito com o propósito de direcionar políticas e estratégias de prevenção e atendimento (MARTINS; MELLO JORGE, 2013). Devido à importância deste aspecto, foram realizados alguns estudos no Brasil para avaliação da causa básica do óbito e causas mal definidas de mortalidade.

Estudo realizado com o intuito de verificar a evolução da mortalidade por causas mal definidas na população idosa residente em quatro capitais, entre 1996 e 2007, obteve resultados que evidenciaram boa qualidade da informação (ABREU; SAKURAI; CAMPOS, 2010).

No que diz respeito às causas mal definidas, um estudo recente permitiu identificar melhorias neste aspecto, com redução do número de óbitos por estas causas, principalmente por meio de treinamento adequado para todos os envolvidos no processo, desde o profissional médico até a equipe de vigilância epidemiológica (FRANÇA et al., 2014). Os esforços do governo, como o programa de redução do percentual de óbitos por causas mal definidas, proporcionaram uma redução de 53% no número de mortes por causas mal definidas entre 2000 e 2010, consequentemente melhorando a qualidade da informação sobre mortalidade (FRANÇA et al., 2014; LIMA; QUEIROZ, 2014).

Em se tratando de causas externas, a qualidade da informação sobre mortalidade depende de vários fatores que incluem: a estrutura de serviços envolvidos (hospitais, atendimento pré-hospitalar, IML, serviços de perícia, entre outros), ferramentas legais e de gestão, a percepção de quem preenche este documento, a falta de treinamento, entre outros (RODRIGUES et al., 2011; MENDONÇA; DRUMOND; CARDOSO, 2010).

Melo et al (2014) avaliaram a qualidade da informação de óbitos por causas externas e a completude do SIM em Viçosa, no estado de Minas Gerais, entre os anos de 2000 e 2009, e os resultados evidenciaram problemas na qualidade da informação, como elevada proporção de óbitos de intenção indeterminada e problemas de cobertura do SIM, quando comparado com dados da Polícia Civil do município. Destaca-se a importância de se utilizar outras fontes para busca de informações para qualificar o SIM e ampliar sua cobertura.

A qualidade das informações disponibilizadas no SIM depende tanto de fatores internos quanto de fatores externos. Os internos seriam a qualidade do programa de computador que deve sustentar o software utilizado e a capacitação dos profissionais

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envolvidos no processo de trabalho, principalmente os codificadores de causa básica de óbito. Já os fatores externos se referem à assistência à saúde da população, se esta é adequada ou inexistente, gerando informações fidedignas sobre a causa da morte (FELIX et al., 2012).

Além dos fatores internos e externos, outros aspectos também influenciam a qualidade da informação do SIM e dos outros SIS, como falta de normas e definições conceituais claras sobre os campos a serem preenchidos, necessidade de uma coleta primária dos dados com qualidade e recursos de tecnologia da informação que possam otimizar e aperfeiçoar o uso dos SIS, subsidiando a gestão em saúde (SANTOS et al., 2014).

Os problemas referentes à qualidade dos dados e sub-registro destes tendem a ser maiores e mais intrincados nos municípios de pequeno e médio porte, em relação à estrutura dos serviços, como a inexistência de serviços como IML, a fragilidade de funcionamento das instituições responsáveis pela produção das informações e a falta de recursos eficientes para o encaminhamento de vítimas de acidentes e violências para as capitais e cidades polos, onde estes serviços estão disponíveis (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013).

Na tentativa de contornar estes problemas, estudos têm utilizados técnicas como o

linkage (relacionamento probabilístico de banco de dados) e a autópsia verbal (aplicação de

questionário aos familiares para coleta de informações sobre as circunstâncias que levaram ao óbito) para melhorar a qualidade da informação sobre mortalidade (NOMELLINI; ALVES; SANTOS, 2013; MORAIS; TAKANO; SOUZA, 2011; ROCHA et al., 2011).

Estudo realizado em Cuiabá teve como objetivo determinar as taxas de mortalidade infantil e seus componentes no município de Cuiabá utilizando o método direto (dados brutos dos sistemas de informação) para posterior comparação com as taxas encontradas pela utilização da técnica de linkage. O estudo identificou falhas no preenchimento correto das DO, assim como taxas superestimadas obtidas pelo método direto (MORAIS; TAKANO; SOUZA, 2011).

Mendes et al (2012) identificaram a completude e consistência dos dados do SIM e SINASC utilizando a técnica de linkage para analisar a qualidade das informações referentes à mortalidade infantil no estado de Pernambuco. Concluíram que o linkage é um mecanismo que permite o aprimoramento da qualidade da informação, pois possibilitou a diminuição do percentual de campos ignorados em todas as variáveis analisadas.

Outro estudo utilizando o linkage, mas para análise da mortalidade neonatal no município de Recife, entre os anos de 1999 a 2009, também constatou problemas na qualidade da informação. Porém, na série temporal, houve aumento na taxa de vinculação entre os

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sistemas de informação analisados (SIM e SINASC), sugerindo melhoria na qualidade da informação (ROCHA et al., 2011).

Um estudo realizado em Palmas teve como objetivo descrever os óbitos por acidentes e violências relacionadas ao trabalho, além de averiguar a aplicabilidade da autópsia verbal na melhoria da qualidade da informação sobre estes óbitos, que foram subnotificados no SIM, uma vez que nenhum tinha identificação de causas relacionadas ao trabalho na DO, portanto a autópsia verbal proporcionou aprimoramento na qualidade da informação (NOMELLINI; ALVES; SANTOS, 2013).

Além dos problemas estruturais, as ferramentas científicas, legais e de gestão, que são utilizadas para assegurar a qualidade do preenchimento dos documentos que alimentam os sistemas de informação, nem sempre são adequadas ou suficientes para garantir os padrões e metas propostas (MELO; BEVILACQUA; BARLETTO, 2013). Somado a estes fatores, há ainda falhas na cobertura do sistema de saúde e perda na transmissão de dados do SIM (RODRIGUES et al., 2011).

Diante dos erros apontados pela literatura no que se refere à DO e da importância da mortalidade por causas externas no Brasil, principalmente na população de 0 a 24 anos, é preciso avaliar a qualidade das informações das Declarações de Óbito deste grupo e pela referida causa, o que pode subsidiar medidas que visem ao aprimoramento quanto ao seu preenchimento e, consequentemente, melhor conhecimento sobre as mortes decorrentes de causas externas na população mais vulnerável, crianças, adolescentes e jovens.

Considerando que Mato Grosso e Cuiabá detêm alta mortalidade por causas externas, sendo 91,5 e 100,1 para cada 100.000 habitantes, respectivamente (no Brasil esta taxa é de 75,8) (RIPSA, 2012) e que há poucos estudos em nossa realidade sobre a qualidade das informações das DO, o presente estudo propõe analisar a qualidade das informações das Declarações de Óbito de crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) cujas mortes se deram por causas externas no município de Cuiabá – MT, no ano de 2013, segundo os parâmetros de incompletude, validade e consistência dos dados.

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2. OBJETIVOS

2.1. GERAL:

 Analisar a qualidade da informação das Declarações de Óbito de crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) por causas externas no município de Cuiabá – Mato Grosso, no ano de 2013.

2.2. ESPECÍFICOS:

Caracterizar as vítimas segundo idade, sexo, escolaridade e raça/cor;

 Caracterizar os óbitos segundo grupo e subgrupo de causa externa, fonte de informação para preenchimento das circunstâncias da morte, local e mês de ocorrência, se foi acidente de trabalho ou não, e descrição sumária do evento;

 Identificar os campos da DO que possuem problemas de preenchimento em relação à completude dos dados;

Determinar o percentual de validade de cada campo individual da DO;

Analisar a consistência dos dados das DO selecionadas para o estudo;

 Verificar a existência de campos ilegíveis, a presença de mais de um tipo de caligrafia, se a intencionalidade do evento foi ignorada ou não, se a intencionalidade foi consistente com a história do evento e se havia presença do carimbo do profissional médico que atestou o óbito.

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3. METODOLOGIA

3.1. Desenho do estudo

Estudo descritivo, de corte transversal, com coleta de dados retrospectiva.

Os estudos descritivos objetivam definir a distribuição de condições relacionadas à saúde ou doenças segundo características, como tempo, lugar e/ou características individuais. Nesses estudos, podem ser utilizados dados secundários (já coletados e disponibilizados, como nos SIS, por exemplo) e/ou primários (dados coletados especificamente para o desenvolvimento do estudo, condição da presente pesquisa) (LIMA-COSTA; BARRETO, 2003).

3.2. População de estudo

A população do estudo foi composta por crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) que foram a óbito por causas externas, no município de Cuiabá – MT, no período de 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2013.

3.3. Fonte de dados

A fonte de dados desta pesquisa foram as DO que obedeceram aos seguintes critérios de inclusão: as vítimas estarem na faixa etária de 0 a 24 anos, terem ido a óbito por causas externas, o óbito ter ocorrido no município de Cuiabá – MT e no ano de 2013.

Para seleção das DO, foi realizada a leitura de todas as DO do ano de 2013, identificando primeiramente se a causa do óbito foi classificada como causa externa ou se a DO possuía informações que retratavam que o óbito foi causado por este grupo de causas, como a classificação dos codificadores da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ou a descrição do evento. Após a identificação dos óbitos por causa externa, foram verificadas as faixas etárias das vítimas para seleção final de quais DO seriam incluídas no presente estudo.

Foram selecionadas 161 DO cujo óbito ocorreu em 2013, na população de 0 a 24 anos e por causa externa.

3.4. Coleta de dados e Instrumento

A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora nos meses de dezembro de 2014 e janeiro de 2015, no espaço físico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Cuiabá – MT, onde estão arquivadas as DO. A SMS é a gestora do SIM no nível local, recebe as DO para

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digitação e é responsável por enviar os dados à Secretaria Estadual de Saúde para posterior consolidação.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um formulário fechado, contendo seis blocos, com perfil do óbito e critérios de avaliação da qualidade da informação: análise por campo individual da DO, análise por blocos, análise entre blocos, análise da DO de maneira geral e investigação (APÊNDICE I).

3.5. Variáveis estudadas

Foram estudadas as variáveis relativas à vítima, ao óbito e à qualidade da informação nas DO.

 Quanto à vítima: idade, sexo, escolaridade e raça/cor;

 Quanto ao óbito: grupo e subgrupo de causa externa, fonte de informação para preenchimento das circunstâncias da morte, local e mês de ocorrência, se foi acidente de trabalho ou não e se havia descrição sumária do evento;

 Quanto aos campos e blocos da DO: completude, validade e consistência. 3.6. Tratamento e análise de dados

Os dados foram processados eletronicamente por meio do programa Epi Info e, posteriormente, cada variável foi tabulada, de acordo com o resultado obtido através dos critérios de qualidade da informação. Foram utilizadas estatísticas descritivas e inferenciais, por intermédio de análises simples e bivariadas, e para estas foi utilizado o teste estatístico Qui-Quadrado. Foram considerados estatisticamente significativos os resultados em que o valor de p foi igual ou menor que 0,05.

Foi analisada a qualidade da informação das declarações de óbito por causa externa, segundo a completude, validade e consistência, dos campos 1 a 52 e dos blocos I a VII da DO (ANEXO I). Os blocos VIII (Cartório) e IX (Localidade sem Médico) não foram analisados, pois o primeiro é preenchido somente nos cartórios de registro civil, e o segundo é preenchido por leigos em locais sem assistência médica, situação em que Cuiabá não se enquadra.

Optou-se por avaliar estes parâmetros, uma vez que a incompletude, validade e consistência dos dados permitem analisar a qualidade da informação sobre mortalidade por meio dos dados preenchidos na DO, sem necessitar de qualquer outra fonte de informação (LIMA et al., 2009; ROMERO; CUNHA, 2006).

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Para a análise da completude, foi utilizado o escore de Romero e Cunha (2006), que categoriza o grau de completude dos dados em excelente (menor que 5% de incompletude), bom (5% a 10%), regular (10% a 20%), ruim (20% a 50%) e muito ruim (50% ou mais).

Na análise da proporção de dados válidos, utilizou-se uma adaptação do escore de Romero e Cunha (2006), com as mesmas classificações e percentuais, porém estes se referiam à validade dos campos.

Em relação à consistência, a análise foi realizada por meio do indicador de proporção de consistência dos dados, ou seja, verificou-se quantas DO apresentavam alguma inconsistência e transformou-se os números em percentual para comparação com o total.

3.7. Aspectos éticos

A SMS de Cuiabá forneceu autorização por escrito para realização da pesquisa, permitindo a coleta de dados (ANEXO II).

O projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM), cumprindo os requisitos determinados pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, para toda e qualquer pesquisa realizada com seres humanos (BRASIL, 2012), sendo aprovado pelo parecer 829.672 de 13/10/2014 (ANEXO III).

As pesquisadoras se comprometeram a respeitar os aspectos éticos e legais, manter o anonimato dos sujeitos pesquisados e a utilizar os dados obtidos somente para fins de pesquisa, conforme assinatura do Termo de Compromisso (APÊNDICE II).

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atendendo às normas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (nível Mestrado), os resultados foram organizados em manuscritos, listados a seguir.

Título do manuscrito Revista pretendida para

encaminhamento dos

manuscritos

Qualis da revista 4.1. Mortalidade por causas externas em

Cuiabá-MT: perfil das vítimas de 0 a 24 anos

Revista Brasileira de

Epidemiologia

B1

4.2. Qualidade da informação das declarações de óbito por causas externas em Cuiabá – MT, na faixa etária de 0 a 24 anos

Cadernos de Saúde

Pública

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MANUSCRITO 1:

MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS EM CUIABÁ-MT: PERFIL DAS VÍTIMAS DE 0 A 24 ANOS

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Mortalidade por causas externas em Cuiabá-MT: perfil das vítimas de 0 a 24 anos Mortality from external causes in Cuiabá-MT: profile of victims of 0-24 years

Anayana Cristina Pertile1

Christine Baccarat de Godoy2

1

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso. Endereço: avenida Arquimedes Pereira Lima, 870, Garden Três Américas, Apto. 1802, Torre 2, Cuiabá-MT, CEP 78060-581. E-mail: nayapertile@gmail.com

2

Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, disciplina Saúde da Criança e do Adolescente, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Pós-Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Endereço: rua das Palmeiras, 20, Condomínio Rio

Jangada, Casa 95, Jardim Imperial, Cuiabá-MT, CEP 78075-850. E-mail:

(36)

RESUMO

Objetivo: caracterizar crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) que foram a óbito por causas externas, no município de Cuiabá – MT, no ano de 2013. Método: estudo transversal cuja população foi composta por crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos de idade) que foram a óbito por causas externas, no município de Cuiabá – MT, no período de 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2013. Utilizou-se formulário fechado com variáveis referentes à vítima e ao óbito. Os dados foram processados e analisados no programa Epi-Info por meio de análises simples e bivariadas (teste estatístico Qui-Quadrado, p = ou < que 0,05). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética (protocolo 829.672). Resultados: foram encontrados 161 óbitos por causas externas na faixa etária de 0-24 anos. A maioria das vítimas tinha entre 15 e 24 anos de idade (78,2%), com predominância do sexo masculino (82,0%), cursando do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental (44,1%), da raça/cor parda (66,5%). Conclusão: os achados evidenciam a importância de políticas de prevenção para redução da mortalidade por causas externas nesta população através de ações multissetoriais.

Descritores: Mortalidade; Causas Externas; Criança; Adolescente; Adulto Jovem; Registros de Mortalidade.

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ABSTRACT

Objective: To characterize children, adolescents, and young people (0-24 years) who died from external causes in the city of Cuiaba - MT, in 2013.Method: This is a cross-sectional study which population was composed of children, adolescents and young people (0 to 24 years old) who died from external causes in the city of Cuiaba - MT, from January 1st to

December 31st, 2013. A closed form with variables related to the victim and death was used.

The data were processed and analyzed in the Epi-Info program through simple and bivariate analyzes (Chi-square statistical test, p = or <0.05). The project was approved by the Ethics Committee (protocol 829 672). Results: 161 deaths from external causes were found in the age group of 0-24 years. Most of the victims were between 15 and 24 years old (78.2%), predominantly male (82.0%), enrolled from 6th to 9th grade of Elementary School (44.1%), race/mulatto (66.5%). Conclusion: The findings highlight the importance of prevention policies to reduce mortality from external causes in this population through multisectoral actions.

Keywords: Mortality; External Causes; Children; Adolescent; Young Adult; Mortality Registration.

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Introdução

No Brasil, as causas externas (acidentes e violências) são apontadas como a terceira causa de mortalidade geral1, ocupando as primeiras colocações na população de crianças,

adolescentes e jovens (faixa etária de 0 a 24 anos de idade)2-6, em decorrência das

particularidades deste grupo etário.

As crianças estão mais expostas aos acidentes por apresentarem dificuldade de localização exata de sons, visão periférica limitada e tendência à distração, bem como a própria etapa de desenvolvimento neuropsicomotor, em que apresenta imaturidade física e mental, curiosidade, inexperiência, incapacidade de identificar e evitar situações de risco, propensão a reproduzir comportamentos adultos, falta de percepção corporal e de espaço, além de incoordenação motora, acrescentando-se ainda, algumas características individuais, como hiperatividade, agressividade e impulsividade7-8.

Quanto à violência, as crianças (até 12 anos incompletos)9 são vítimas em função da

sua dependência do adulto, por não terem autonomia de seu pensamento e por não apreenderem o suficiente da realidade em si, tornando-se totalmente vulnerável aos agravos intencionais, pois é somente na faixa etária acima de 12 anos (que já se caracteriza como adolescência) que é possível a percepção da violência como ato prejudicial10.

Já entre os adolescentes (12 a 18 anos incompletos) e jovens (18 a 24 anos)9, outros

fatores associam-se aos acidentes, tais como a busca de emoções e aventura, prazer em vivenciar situações de risco, exposição às drogas e à marginalidade, impulsividade e imaturidade, necessidade de testar seus limites e de infringir regras7.

Considerando a violência na população de adolescentes e jovens, estes se colocam tanto na condição de vítimas quanto agressores11 em virtude de comportamentos desafiadores

(porte de armas, envolvimento em brigas, necessidade de autoafirmação por meio da violência e aceitação cultural de brigas entre meninos), além de outros fatores como deficit intelectual e

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baixo rendimento escolar, uso de medicamentos psicotrópicos, consumo de álcool e drogas, relação conturbada com os pais, família numerosa, baixo nível socioeconômico e abuso infantil prévio11-12.

No grupo de crianças, adolescentes e jovens, os acidentes e violências têm se configurado como um problema de saúde pública devido à sua alta morbidade, mortalidade e impacto para a vítima, família e sociedade em geral13, ocasionando consequências expressivas

nas esferas física, sexual, emocional, cognitiva, comportamental e psicológica, afetando o crescimento e desenvolvimento destes indivíduos14. Além disso, suas consequências podem

ser mensuradas por meio da repercussão econômica, social e emocional, por exemplo, dias de ausência no trabalho, custos com o sistema judiciário e com o sistema de saúde, incluindo o tratamento e reabilitação das vítimas, demanda aos serviços de assistência social, danos mentais e emocionais para as vítimas e suas famílias2,14, além dos anos potenciais de vida

perdidos5,15. Estimar o impacto exato destas causas sobre a produtividade econômica e os

sistemas de saúde é uma tarefa árdua e complexa.

Considerando que as causas externas se expressam com maior frequência e impacto na população de crianças, adolescentes e jovens e que, ainda, a mortalidade é a expressão máxima da gravidade deste evento, torna-se essencial conhecer o perfil das vítimas e as circunstâncias do óbito a fim de direcionar medidas de prevenção e controle.

Nesse sentido, o presente estudo objetivou caracterizar crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) que foram a óbito por causas externas, no município de Cuiabá – MT, no ano de 2013.

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Método

Estudo transversal, em que a população foi composta por crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) que foram a óbito por causas externas, no município de Cuiabá – MT, no período de 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2013.

A fonte de dados foram as declarações de óbito (DO) que obedeceram aos critérios de inclusão: as vítimas estarem na faixa etária de 0 a 24 anos, terem ido a óbito por causas externas e o óbito ter ocorrido no município de Cuiabá–MT, em 2013.

Para seleção das DO, identificou-se primeiramente se a causa do óbito foi classificada como causa externa, selecionando-se também as que não estavam classificadas como causa externa, mas possuíam informações que retratavam este tipo de causa, como a classificação dos codificadores da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Posteriormente, foram verificadas as faixas etárias para seleção final de quais DO seriam incluídas no estudo.

Foram estudadas as variáveis relativas à vítima: idade, sexo, escolaridade e raça/cor. Quanto ao óbito, verificou-se grupo e subgrupo de causa externa, fonte de informação para preenchimento das circunstâncias da morte, local e mês de ocorrência, se foi acidente de trabalho ou não e descrição sumária do evento.

Os dados foram processados eletronicamente por meio do programa Epi Info (versão 3.5.2.) e foram utilizadas estatísticas descritivas e inferenciais por intermédio de análises simples e bivariadas. Para estas, foi utilizado o teste estatístico Qui-Quadrado, considerando-se p igual ou menor que 0,05.

O estudo foi autorizado pela SMS de Cuiabá e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, parecer 829.672 de 13/10/2014.

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Resultados

Foram identificados 161 óbitos por causas externas, na população de 0 a 24 anos, ocorridos em Cuiabá, no ano de 2013. Na Tabela 1, entre as vítimas, destacaram-se as idades de 15 a 19 anos (34,1%) e de 20 a 24 anos (44,1%); 132 óbitos (82,0%) foram do sexo masculino; prevaleceu do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II (44,1%); e grande parte das vítimas era parda (66,5%).

O tipo de causa externa (grupos e subgrupos de causas da CID-10) que ocasionou o óbito, segundo informações da DO e da codificação da SMS, encontra-se na Tabela 2. Destaca-se que 22,4% das declarações de óbito não tinham identificação do tipo de causa externa (eventos de intenção indeterminada, outros tipos de causa externa e em branco). Após a codificação, identificou-se qual o grupo e subgrupo de causa que ocasionou o óbito, enquadrando-os entre causa intencional (44,0%), acidental (51,0%) ou evento de intenção indeterminada (5,0%). Entre as causas intencionais, destacaram-se os homicídios. Entre as causas acidentais, prevaleceram os acidentes de transporte.

A Tabela 3 apresenta o cruzamento entre faixa etária da vítima e tipo de causa externa (grupo de causas da CID-10). Considerando o valor de p (0,0014), é possível inferir que há associação entre o tipo de causa externa e a faixa etária da vítima, ou seja, a causa de óbito se modifica conforme a idade, sendo os acidentes mais prevalentes até os 14 anos e os homicídios a partir dos 15 anos.

A Tabela 4 retrata a distribuição dos óbitos segundo a raça/cor da vítima e o tipo de causa externa (grupo de causas da CID-10). Considerando o valor de p (0,0115), pode-se sugerir associação entre a raça e o tipo de causa externa, predominando os acidentes na raça parda e os homicídios nas raças branca e preta.

Especificamente em relação aos acidentes, cruzando-se as causas acidentais segundo a idade das vítimas (tabela 5), o valor de p (0,0000) sugere que há associação entre a faixa

Referências

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