Coesão Textual e Coerência
Aula 08 de Produção de Texto Professora Carolina Ferreira Leite
A linguagem é a própria matéria com que se pensa e se produz um texto, é o fio condutor do pensamento e ao mesmo tempo aquilo que
possibilita sua visibilidade ao leitor.
Emília Amaral / Severino Antônio Redação II
A linguagem, portanto, é a terceira margem do rio, confluência do sonho e da realidade, núpcias da
pulsão e do Logos, que, no transporte da paixão, engendra o verbo.
Hélio Pellegrino Os sentidos da paixão
A linguagem dissertativa
Você realizou uma série de experiências dissertativas, estudou os processos de argumentação e processos de estruturação deste tipo de texto. Em todos os exercícios, você trabalhou com a
linguagem: lendo, escrevendo, escrevendo e lendo.
A linguagem constitui, portanto, o elemento que engloba os demais, quando produzimos um texto.
O texto é feito de palavras, e o texto bem sucedido é aquele em que as palavras se combinam, se organizam, de forma adequada.
Assim precisamos nos dedicar, com atenção e cuidado especiais, à linguagem dissertativa.
A linguagem dissertativa
Como devemos realizar nossos textos?Que tipo de palavras escolhemos? Como as combinamos? Quais são as características fundamentais de linguagem, numa dissertação?
Vamos começar o nosso trabalho sobre este assunto, fazendo algumas observações que são imprescindíveis:
Escrever criadoramente, com lógica
As palavras com as quais escrevemos o que pensamos devem ser palavras nossas, palavras que fazem parte do nosso universo, e não aquelas que mal conhecemos, aquelas que parecem “enfeitar” o texto mas que na verdade só o prejudicam. As palavras “difíceis”, e as frases “de efeito”, por exemplo, às vezes usadas com a intenção de
“impressionar” o examinador, podem tornar confusas, e mesmo ininteligíveis, as ideias que queremos expor. Isto porque se não dominarmos o que significam, se não tivermos clareza sobre os sentidos que possuem, corremos o risco de alterar, distorcer e
mesmo inverter o nosso raciocínio, criando um texto contraditório, complicado, confuso.
Escrever criadoramente, com lógica
Vejamos um exemplo deste tipo de problema:
Dentre outros problemas, que serão comentados mais
adiante, este parágrafo torna-se ilegível pela utilização de uma palavra que claramente não pertence ao universo do autor da redação.
Podemos abordar um tema que, creio eu, todos pensam e dissertam sobre o próprio. A juventude e a velhice. A meu ver, cria-se uma certa antagonia de desejos e interesses entre essas duas fases etárias. (fragmento de uma redação)
Escrever criadoramente, com lógica
Trata-se da palavra com a qual o estudante pretendeu se referir à oposição entre juventude e velhice: antagonismo, que foi colocada no feminino e distorcida em termos morfológicos: antagonia. Além disso, há a confusão entre faixas e fases
etárias...
Outro exemplo, agora retirado de um anúncio de jornal:
Escrever criadoramente, com lógica
Observe que a tentativa de criar uma frase “de efeito” resultou numa afirmação duplamente contraditória: primeiro porque não existe oratória, que é a arte de falar, sem voz...
Segundo, pela expressão não fala, que torna redundante (repetitivo) o erro lógico já cometido.
Além de criarem equívocos do ponto de vista lógico, as
palavras artificiais que se usam em redação podem impessoalizá-la, isto é, torná-la sem vida, inexpressiva, carente da presença de seu sujeito, de seu autor.
Escrever criadoramente, com lógica
Observe a opinião dos examinadores dos textos produzidos no vestibular da UNICAMP de 2000 sobre o assunto:
O aluno evita se posicionar, ser sujeito de seu discurso, lançando mão de uma linguagem artificial, reproduzindo modelos consagrados para se ausentar de uma responsabilidade para com seu próprio texto e para com seu leitor. Por não se construir como sujeito de sua produção, o aluno acaba se transformando num outro, reproduzindo um discurso
alheio, um discurso de ninguém.
J. A, Durigan, M.B. Marques Abaurre, Y. Frateschi Vieira (org.) A magia da mudança
Escrever logicamente, com criação
Além da necessidade de utilizarmos palavras próprias – que conhecemos, cujo significado dominamos – em nossas dissertações, outro ponto importante com relação à linguagem deste tipo de texto diz respeito à forma como nele expressamos as nossas ideias.
Em outras palavras, estamos nos referindo à coesão, à clareza do texto dissertativo: um texto no qual os elos entre as palavras de uma frase; as frases de um período; os períodos como partes de um todo, consistem elementos decisivos, em termos de organização de linguagem, como passaremos a verificar.
A coesão textual
Por definição, temos:
Coesão como sendo a união íntima entre as partes de um
todo; conexão, nexo, coerência; e coerência como sendo a presença de coesão entre as partes enunciadas; ligação, presença de nexos lógicos.
Apesar de uma aparente tautologia nas definições, veremos realmente que as mesmas, antes de serem tautológicas,
estabelecem uma igualdade entre os dois termos...
Maria Thereza Fraga Rocco Crise na linguagem / A redação no vestibular
A coesão textual
De acordo com as afirmações anteriores, coesão – conexão, nexo – e coerência – ligação, presença de nexos lógicos – são
termos equivalentes.
Podemos colocar, entretanto, a coesão como um dos elementos responsáveis pela coerência do texto dissertativo.
A coerência, num sentido mais amplo, envolveria não apenas a coesão, mas também a adequação entre o ponto de vista e argumentos, a ausência de contradição e até a clareza da linguagem dissertativa.
A coesão textual
É importante, nessa abordagem que procura didatizar os elementos dissertativos, é perceber que sua coerência se dá, por exemplo, através da coesão.
Assim, vamos estudar como se consegue a coesão,
procurando entender que não se trata de um assunto referente apenas à “beleza do estilo”, mas que dele depende a coerência do nosso texto, a clareza de sua organização. Na medida em que envolve nexo, ligação, conexão entre palavras, frases e períodos, a coesão possui como elementos constitutivos principalmente
A coesão textual
O uso adequado desses elementos (conjunções, os
pronomes relativos e os sinais de pontuação) nos ajuda a
explicitar as nossas ideias, a mostrar as relações entre elas, a ordená-las com clareza e coerência.
Os conectivos e a coesão textual
Vamos observar um exemplo de uso de conectivos
(conjunções) e outras palavras relacionais, palavras com as quais se obtém coesão textual, num texto dissertativo:
Tomar defesa de... A história em quadrinhos é um gênero menor?
O que muitas pessoas pensam
Exagero de imagens nas H.Q. As H.Q. levam os jovens à preguiça. As H.Q. são escritas num “mau português”çp-
As H.Q. são responsáveis pelo mau aproveitamento dos alunos em português As H.Q. não são uma arte, pois podemos encontrá-la em todos os jornais
As H.Q. não têm lugar na escola
Entretanto...
A leitura das H.Q. ajuda os jovens a apreciarem melhor o cinema e a televisão
As H.Q. podem ajudar a preparar jovens para ler, mais tarde, romances (intriga, personagens...) A arte está no museu. Sendo publicadas nos jornais, as H.Q. são uma arte ao alcance de todos
Coesão Textual - Resumo
Toda vez que falamos em coesão textual, associamos à ideia de coerência. Coesão e coerência são primas-irmãs que sempre andam juntas em aulas de redação para vestibular e ENEM. Dito isso:
Se a coerência é a sequência lógica das ideias de um texto, a coesão é a responsável formal por ligar essas ideias que estão sequenciadas logicamente. Mas não é só isso, a coesão é um
conjunto de mecanismos com mais de uma função. Veja o exemplo:
Coesão Textual - Exemplo
Ontem procurei João.
Não encontrei João.
Se quisermos fazer a ligação entre essas duas frases, devermos perceber que entre elas existe uma relação de sentido. Que relação de sentido é essa?
• Causa • Tempo • Modo • Lugar • Circunstância • Dúvida
Coesão Textual - Exemplo
Ontem procurei João.
oposição
Não encontrei João.
Se eu procurei João, é claro que minha intenção é encontra-lo, só que nesse caso, nesse dia, eu não encontrei João. Então
entre as duas frases existe uma relação de oposição. E essa oposição pode ser manifestada para o leitor com o uso de
algumas palavras, que têm a função de ligar as duas frases, os chamados CONECTIVOS, que nesse caso pode ser:
Coesão Textual - Exemplo
Ontem procurei João
, mas
oposição
não encontrei João.
• mas• Porém • Contudo
Coesão Textual - Exemplo
Ontem procurei João
, mas
oposição
Não encontrei João.
Conseguimos completar o raciocínio coesivo? Não!
Chegamos só à metade dele. Se quisermos usar essas duas frases em um texto, elas ainda têm um problema: a repetição do
vocábulo “João”. Precisamos de outro termo de um elemento coesivo.
Coesão Textual - Exemplo
Ontem procurei João
, mas
oposição
Não encontrei João.
Eliminamos a palavra João e a substituímos por um
pronome, nesse caso um pronome pessoal oblíquo, o “o” , e por um fator de próclise, colocaremos o “o” antes do verbo:
Coesão Textual - Exemplo
Ontem procurei João,
mas
não
o
encontrei.
Agora sim essa frase está correta do ponto de vista
gramatical e observando todos os elementos relativos à coesão. Portanto as duas funções da coesão em um texto:
1. Ela é responsável por ligar as partes, por isso foi utilizado o “mas”;
Coesão Textual
É um conjunto de mecanismos linguísticos com o objetivo de estabelecer ligações e evitar repetições. Se essas duas funções forem cumpridas, o texto estará coeso.
Tendo em vista as duas funções da coesão, existem outros dois conceitos:
Coesão sequencial Coesão referencial
Coesão Sequencial e Coesão Referencial
A Coesão Sequencial é responsável por dar sequencia,continuidade, andamento às partes do texto, ou seja, é ela que estabelece as ligações.
A Coesão Referencial é aquela que faz referência a termos que já apareceram ou termos que vão aparecer. Ela evita as
Mecanismos de Coesão
• Substituição por pronomes:João gosta muito da esposa, sempre que pode, ele lhe
manda flores.
Ele = João Lhe = esposa
Mecanismos de Coesão
• Substituição por palavras sinônimas:Seu desempenho no treino foi ótimo. Se mantiver a
performance nos jogos, logo estará na seleção.
• Substituição por expressões nominais (epítetos):
Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, receberá inúmeros eventos nos próximos anos.
Mecanismos de Coesão
• Substituição por nomes genéricos como “coisa, gente,
negócio”:
Não entre nesse financiamento, pois esse negócio pode ser arriscado.
• Coesão por elipse (omissão de um termo a fim de evitar sua
repetição):
A nossa presidente foi a Portugal. Lá (ela) recebeu grandes homenagens.
Mecanismos de Coesão
• Coesão por oposição (empregam-se conectivos com valor de
oposição: mas, contudo, todavia, porém, entretanto, embora) para tornar o texto coerente:
Todos ouvimos os tiros, porém não vimos o assassino. Embora ouvíssemos os tiros não vimos o assassino.
• Por causa (uso de conectivos causais: porque, como, já que,
visto que):
Não vimos o carro atropelador porque a nossa visão fora prejudicada pela densa neblina.
Mecanismos de Coesão
• Por condição (uso de conectivos condicionais: se, caso, a
menos que, contanto que):
Se estudássemos mais, passaríamos no vestibular.
• Por finalidade (emprego de conectivos finais: para, para que,
a fim de, com o objetivo de, com a finalidade de):
Coesão
André e Pedro são excelentes alunos. Apesar disso, eles são diferentes. Este é muito bom em português, aquele é ótimo em matemática. Ambos são os melhores alunos da turma e têm as melhores notas nessas disciplinas.
Referências bibliográficas
• AMARAL. Emília e ANTONIO Severino. Série Grandes
Vestibulares – Redação – dissertação e narração. Ed. Moandy. 1993 (adaptado);
• Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias. Ler e Escrever estratégias de produção textual. 2010;
• Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia – A coerência textual.2010