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ENTRE ARTE E POLÍTICA: A EXCLUSÃO DA ESFERA POLÍTICA PELA EXCLUSÃO ARTÍSTICA

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Academic year: 2021

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345 ENTRE ARTE E POLÍTICA: A EXCLUSÃO DA ESFERA POLÍTICA PELA

EXCLUSÃO ARTÍSTICA

Franco Pereira Leite1

Resumo:O presente tem por finalidade discutir a exclusão de indivíduos, ou grupo de indivíduos, da esfera política, exclusão realizada por um não acolhimento da produção artística de um indivíduo. Pretendemos analisar como a não aceitação de uma produção artística pode ser considerada como uma supressão da linguagem, elemento fundante da política, não permitindo que mazelas sofridas por minorias venham a cena política por meio da expressão artística. Veremos três exemplos em que a exclusão artística influenciou nos rumos políticos de determinados grupos: no primeiro caso, a exposição de arte degenerada promovida pelo regime Nazista, que tinha por objetivo assimilar os judeus a doenças, no segundo caso a produção artística de Bispo do Rosário na Colônia Juliano Moreira como resposta ao tratamento dado ao louco e, no terceiro, como escritores brasileiros contribuíram par a fim da escravidão no Brasil.

Palavras-chave: Exclusão política; Arte; Linguagem.

1. Arte e política

Um elemento fundante da política em Aristóteles é a linguagem, é por meio dela que o homem deixa de ser um mero animal vivente para adentrar à esfera política. Na sua obra A Política Aristóteles estabelece assim a esfera política:

Agora é evidente que o homem, muito mais que as abelhas ou outro animal gregário, é um animal social. Como costumamos dizer, a natureza nada faz sem um propósito, e o homem é o único animal entre os animais que tem o dom da fala. Na verdade, a simples voz pode identificar a dor e o prazer, e outros animais a possuem (sua natureza foi desenvolvida somente até o ponto de ter sensações do que é doloroso ou agradável e externá-las entre si), mas a fala tem a finalidade de indicar o conveniente e o nocivo, e portanto também o justo e o injusto; a característica específica do homem em comparação com os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades morais, e é a comunidade de seres com tal sentimento que constitui a família e a cidade. ( ARISTÓTELES, 1988, p. 15).

1 Formado em filosofia pela Universidade Estadual de Londrina, atualmente é estudante do curso de letras o do programa de mestrado em filosofia na mesma universidade, também atua como professor de filosofia na rede estadual de ensino.

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346 Temos aqui uma relação clara entre linguagem e política, mas em outras obras Aristóteles também vê na linguagem a possibilidade política. Enquanto a voz é comum a vários animais, a linguagem é um atributo exclusivo do ser humano. Esse atributo que permite que o ser humano possua um segundo atributo: o político. A voz que é uma condição à linguagem não insere os animais em uma comunidade política, pois ela fica no domínio das sensações, por outro lado, a linguagem além de criar uma comunidade faz desta uma instância política. E é na política que reclamamos a justiça, seja ela de qual natureza for, assim hoje em dia também o é.

Aqui não quero fazer toda uma análise pormenorizada mostrando como a tradução por ‘fala’ do termo grego logos não é apropriada, isso porque já fiz isso em outro trabalho2, mas

mostrar que uma tradução por linguagem do termo logos seria mais apropriada. Isso, de modo sumário, porque logos não é entendido apenas como fala, mas ele tem um sentido mais amplo, entendido no sentido de uma racionalidade − não é à toa que que uma das definições do ser humano é ser um animal racional. E é nesse sentido mais amplo, e por falta de um termo melhor, que fundamento uma tradução de logos em linguagem, pois assim podemos falar de vários tipos de linguagens, como a linguagem científica, prática e também a linguagem artística, que é a que me interessa aqui.

O que quero aqui mostrar é como a não acolhimento de determinada forma artística pode acarretar a exclusão de indivíduos, ou grupos de indivíduos, da esfera política, pois entendo as expressões artísticas como formas de linguagem e, como vimos, a supressão da linguagem acarreta a exclusão da esfera política. Para tanto pretendo analisar três situações em que o não acolhimento da arte nos custou consequência gravíssimas: a exposição de arte degenerada no regime nazista; a detenção de Arthur Bispo do Rosário em um manicômio e a desqualificação do louco; e, por fim, uma análise da literatura de autores que trataram da situação do negro no Brasil.

2. A semana de arte degenerada

No começo do século passado pululou na Europa várias correntes artísticas, chamadas de movimentos de vanguarda, dentre elas o cubismo, dadaísmo, futurismo, expressionismo entre outros. Esses movimentos vieram revolucionar a arte, o artista liberto da representação

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347 podia naquele momento explorar outros aspectos da produção artística. Porém tais explorações não foram bem vista, tanto por críticos como pelo setor político.

Hitler, que de artista frustrado a político, não gostava de tal arte e junto com seu aliados procurou usá-la em seu discurso político. Fest, que fez uma biografia detalhada de Hitler, aponta que um dos possíveis motivos de Hitler não gostar do movimento de vanguarda foi a suas reprovas na Escola de Belas Artes, o que mais tarde o levou a opor-se aos que ali ensinavam. Essa oposição pode ser vista na famigerada exposição de arte degenerada3.

Essa exposição é emblemática até mesmo na sua nomenclatura. Degenerado é uma palavra do âmbito do biológico e isto aqui tem toda sua importância, pois a guerra travadas com as minorias na Alemanha não era apenas um guerra política, mas também biológica. Os judeus, que foram o maior alvo dos nazistas, eram considerados seres inferiores biologicamente e que essa inferioridade poderia degenerar a raça ariana, portanto deveriam ser eliminados. Mas a degeneração dos judeus, segundo os nazistas, também estava presente na arte, sendo que os movimentos de vanguarda eram a expressão da tal degeneração. Na exposição de arte degenerada, que circulou por várias cidades alemã, quadros de pintores judeus e não judeus eram colocados do lado de fotografias de pessoas doentes ou com deficiência física, fazendo assim relação entre arte de vanguarda, sobretudo de artistas judeus, e tal degeneração promovida pelos nazistas.

Tal comparação tinha por objetivo mostrar que a degeneração que assolavam os judeus era tida como um perigo até mesmo no campo artístico, e como resposta a tal degeneração foi criada em 1928 a Sociedade Nacional Socialista da Cultura Alemã, que na época de Hitler trocou o nome para Sociedade Nacional de Defesa da Cultura Alemã. Esta sociedade ao mesmo tempo que quer eliminar um estilo artístico quer impor outro, se por um lado os membros de tal organização pretendiam eliminar as artes de vanguarda, como a de Picasso, Georges Braque, Lasar Segall, George Grosz, Henri Matisse, Otto Dix, Max Ernst, entre outros, por outro lado queriam estabelecer um padrão estético que remetesse ao renascimento e à antiguidade clássica. Para os nazista a arte podia ser entendida como um espelho da saúde mental e física, ela teria por obrigação mostrar como anda a saúde de uma raça. Sendo assim, as artes de vanguarda refletiriam uma condição de saúde em degeneração, enquanto a arte renascentista e antiga mostrariam uma raça saudável.

Outra grande investida dos nazistas sobre a arte está no fechamento da Escola Bauhaus. Em poucos mais de dez anos de existência a escola difundiu suas ideias pelo mundo.

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348 Bauhaus era o lugar da experimentação, tanto que mesmo sendo uma escola voltada à arquitetura, ali ministravam aulas artista como Wassily Kandinsky e Pual Klee, que em suas aulas discutiam sobre o uso das cores na arquitetura. Mas em 1933 a escola é fechada e seus alunos e professores são perseguidos pelo regime nazista. Em um caso especial quero me demorar um pouco mais, é o quadro Riscado da Lista de Klee.

Paul Klee, que foi considerados um artista degenerado, além de ter que deixar seu posto de professor na Bauhaus também teve mais de cem obras apreendidas pelos regime nazista, tais acontecimentos levaram o artista a responder da melhor forma que sabia, ou seja, fazendo arte. Em 1933 Klee pinta um autorretrato intitulado Riscado da Lista, neste quadro podemos perceber o semblante triste do artista devido aos acontecimentos, e sobre seu rosto um X como sinal de não aceitação do artista e de sua obra e, consequentemente, de todo um povo.

Essa não aceitação das artes de vanguarda trouxeram marcas indeléveis à política. Foi também por uma exclusão da arte que pessoas, em especial os judeus, foram submetidos a tratamento desumano, mas tudo isso autorizado por um racismo de Estado. O tema do racismo de estado foi estudado por Foucault no seu curso intitulado Em Defesa da Sociedade dos anos de 77/78, em relação ao nazismo o autor define assim o racismo de Estado:

Aparecimento portanto, no fim do século XIX, daquilo que poderíamos chamar de racismo de Estado: racismo biológico e centralizado. E esse tema e que foi, se não profundamente modificado, pelo menos transformado e utilizado nas estratégias especificas do século XX. [...] De uma parte, a transformação nazista, que retoma o tema, instituído no final do século XIX, de um racismo de Estado encarregado de proteger biologicamente a raça. Mas esse tema é retomado, convertido, de certa forma em modo regressivo, de maneira que seja reimplantado, e que funcione, no interior de um discurso profético, que era justamente aquele em que aparecera, antigamente, o tema da luta das raças. É assim que o nazismo vai reutilizar toda uma mitologia popular, e quase medieval, para fazer o racismo de Estado funcionar numa paisagem ideológico-mítica que se aproxima daquela das lutas populares que puderam, em dado momento, sustentar e permitir a formulação do tema da luta de raças. (FOUCAULT, 2010, p. 69).

Esse racismo de estado vai permitir que o Estado possa eliminar indivíduos ou grupos de indivíduos, e no Estado nazista uma das formas de racismo de Estado veio, como vimos, em relação a arte, mostrando que arte degenerada é a representação de um grupo degenerado. Quando os nazistas fizeram a relação entre a suposta degeneração e a saúde degenerada de um grupos, eles conseguiram impetrar na população um racismo promovido pelo Estado, incutindo um medo na população, então o Estado nazista conseguiu levar centenas de

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349 milhares de pessoas para além da fronteira da esfera política permitindo, consequentemente, o extermínio dessas pessoas.

A história não pode ser entendida de um modo linear, baseada na continuidade, mas também não é interessante pensá-la como apenas um processo de rupturas, ou seja, de descontinuidade, mas como um processo que mistura essas duas linhas de interpretação. Temos que entender que a história se forma de processos e mecanismos que ora são descontinuo e ora são contínuos.

Nesse processo de continuidade e descontinuidade, que chamamos história, vemos algumas estratégias se repetirem, mas com fundamentos diferentes, como no caso do cancelamento da exposição Queermuseu, que contava com obras de nomes como Portinari e Ligia Clark. Acusada de zoofilia, pedofilia e imoralidade por grupos, entidade e políticos que se jugavam entendedores de arte, a exposição foi cancelada. A estratégia é bem similar com o modelo nazista, pois sabemos que esse tipo de acusação é ligado a um grupo, aquilo que chamamos de esquerda no Brasil, é que essa arte é o que representaria esse grupo; mas aqui não é uma saúde física ou mental que está degenerada, mas a moral dos indivíduos que consumiriam e produziriam tal arte.

Outro fator preocupante na exclusão de formas artísticas é aquela que a é excluída antes mesmo de ser apresentada ao público, indivíduos que levam questões importantes a serem debatidas que muitas vezes são impedidos de apresentá-las.

3. A arte louca ou louca arte de Arthur Bispo do Rosário

Foucault, ao escrever sua História da Loucura, pretendeu analisar o surgimento da psiquiatria, portanto foi necessário entender quando a loucura passou a ser tratada como doença mental, pois a partir desse momento a psiquiatria tem seu surgimento e o seu objeto de estudo: os desvios da mente. Ao longo da história o entendimento sobre a loucura nem sempre foi visto como doença mental, houve períodos em que a loucura estava mais próximas da verdade, foi só no momento em que a loucura foi considerada como doença metal que o discurso do louco ficou desprovido de verdade, e é a partir deste momento que louco é considerado um doente, que sua verdade deixa de ser verdade, não é mais a razão atuando, mas a desrazão.

Quando a psiquiatria tomou o louco como exemplar máximo de seu objeto de estudo, a ela foi autorizado a dominação sobre o louco, que levou ao movimento manicomial no

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350 mundo todo. O louco por ser um incurável deveria ser isolado da população, independente se seu comportamento fosse calmo ou agressivo. É um movimento de internação compulsória, que além de silenciar o louco, e mesmo que ele consiga dizer alguma coisas, seu discurso é interditado de saída por ser uma não-verdade, uma desrazão.

Um caso que é caro ao Estado brasileiro em relação a movimento manicomial é de Arthur Bispo do Rosário, que passou boa parte de sua vida na Colônia Juliano Moreira no estado do Rio de Janeiro. Diagnosticado como esquizofrênico-paranoico ficou boa parte de sua vida internado e, no seu internamento, produz um arsenal de obras de arte. No entanto sua obra não foi de início reconhecida, isto por ser considerado um louco, um desarrazoado. Só quando o movimento antimanicomial começou a tomar força no país que Bispo do Rosário foi reconhecido e teve um mínimo de atenção. Em 1982, o crítico de arte Federico Morais incluiu as obras de Bispo em uma exposição intitulada A Margem da Vida, que reunia obras de pessoas que estavam a margem da sociedade, como loucos e presos. Duas coisas é importante notar aqui: a primeira é que a arte de Bispo teve de ser chancelada por um dito arrazoado; a segunda é o próprio título da exposição, a ‘margem’ aqui tem todo um sentido que pode ser entendido como político, estes artistas são aqueles que estão para além da margem de esfera política.

De interno a de um hospital psiquiátrico a expositor no MAM e posteriormente na bienal de arte de Veneza, onde ganha reconhecimento internacional, Bispo fez uma arte de resistência, resistência que o colocou na cena política e que ajudou trazer à tona a situação dos internos nos manicômios. A produção de Bispo e outros Loucos ajudam na compreensão e inserção dessas pessoas nas discussões políticas.

A loucura foi algo sempre próximos dos artistas, talvez todo artista tenha sua pitada de loucura, assim como com Bispo do rosário ou então como no caso da artistas japonesa contemporânea Yayoi Kusama. Kusama desde de 1977 mora no Hospital Seiwa para doentes mentais em Tóquio, de onde sai todos os dias para seu estúdio que fica a uma curta distância do hospital. Seu trabalho passeia por temas variados, como o questão do infinito, em que a artista trabalha com espelhos para produzir uma sensação de espaço sem fim. Para Yayoi Kusama produzir arte é uma questão de (r)ex(s)istência, pois a artista tem para si que o produzir arte é o que a mantem viva. No entanto, no momento em que Kusama ou Bispo do Rosário produziram arte, além de deixar o mundo um pouco mais mágico e possível, colocaram questões sérias com relação como a loucura é tratada: eles, todos os artistas loucos, produziram arte, mas também alagaram as margens do perímetro político.

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351 4. Literatura brasileira e política

A literatura, entendida no sentido tradicional, tem por materiais e instrumento de sua a produção a palavras, e estas por sua vez são elementos tanto da escrita como da fala, duas expressões máximas da linguagem, tendo assim uma estreita ligação com a política. Uma das formas do compreendermos a situação de uma sociedade em dado momento histórico é atentar a literatura produzida nessa época, pois a produção literária não está dissociado de seu tempo e das relação sociais.

Boa parte da fonte da história colonial do Brasil, pelo menos para história cultural, advém da sua literatura, para alguns historiadores a produção cultural de uma época é fundamental para compreensão de tal período histórico. Na literatura temos a produção do quinhentismo que também ficou conhecida como literatura de informação, além de dar detalhes sobre os primeiros anos do Brasil, serviram de base para fundamentar a literatura brasileira. A literatura brasileira serve como base para compreendermos a história de várias etnias que compõe o Brasil, dentre elas a história dos negros no Brasil.

No romantismo, um grande escritor que se interessou pela situação política do negro foi Castro Alves, interesse tamanho que recebeu o título de poetas dos escravos. Embora tenha vivido pouco mais de vinte anos, Castro Alves fez uma poesia pujante em defesa dos escravos. Sua obra é uma denúncia do tráfico e a condição do negro submetido à escravidão. Em seu mais famoso poema, Navio Negreiro, Castro Alves define assim o navio negreiro:

Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado,

E o baque de um corpo ao mar...(ALVES, 2013, p. 24).

O negro ao vir para o Brasil era submetido por processos violentos que pretendiam destruir suas identidades culturais, muitos recursos eram utilizados, como a separação dos grupos para que não houvesse comunicação entre os indivíduos, proibição da prática cultural e religiosa. Até mesmo em solo africano esses recursos eram utilizados, como a famigerada

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352 árvore do esquecimento, uma árvore tida como mágica, que após os negros darem certo números de volta esqueceriam tudo, suas origens, parentes família e até nome: aqui temos uma violência ontológica.

A poesia de Castro Alves, apelando ao sentimental, despertavam as mazelas sofridas pelos escravos, tendo assim uma influência forte na abolição da escravidão no Brasil. Por meio da arte escrita o poeta influenciou os rumos político da nação, mas não foi simplesmente a luta pelo fim da escravidão que estabeleceu o reino da justiça social, os negros e pessoas sensíveis a causa negra tiveram que seguir lutando, e continuam lutando, pelo o estabelecimento da justiça social e racial, a literatura foi uma arma constante em tal luta.

Um outro escritor que teve uma grande importância na causa negra foi Luís Gama que foi considerado o patrono da abolição. Em seu livro Primeiras Trovas burlescas de Getulino encontra-se o famoso poema Quem Sou Eu?, poema escritos em resposta a termos depreciativo usado para definir o negro, como bode, eis o como o autor se expressa:

Hão de chamar-me — tarelo, Bode, negro, Mongibelo; Porém eu que não me abalo, Vou tangendo o meu badalo Com repique impertinente, Pondo a trote muita gente. Se negro sou, ou sou bode,

Pouco importa. O que isso pode? (GAMA apud FERREIRA, 2011, p. 63).

Tanto Castro Alves como Luís Gama foram importantes representantes políticos da população negra do Brasil, com seus textos eles denunciaram e condenaram a situação a qual o negro encontrava-se, nesses posicionamentos contribuíram para questões políticas importantíssimas, como a abolição da escravidão. É mais uma vez o artístico com reflexos no político. A arte é uma arma importantíssima na luta pela igualdade, mas é aquela arma que quando dispara não produz a morte, mas a vida.

Considerações finais

A eterna pergunta se arte imita a vida ou a vida imita a arte continua sem resposta, mas se nas três possibilidade positivas de resposta elas forem verdadeiras − se arte imita a vida for

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353 verdadeira, se a vida imita a arte for verdadeira ou ainda, se ambas forem verdadeira − teremos ainda que nos debruçarmos sobre a arte para saber o que fomos, o que somos e o que seremos. Isto porque a dimensão artística é caráter fundamental do ser humano, seja a partir da arte dita erudita, popular ou de massa. Talvez outro ponto que devemos pensar é como a arte também pode ser utilizada para uma exclusão de indivíduos, como no caso de pessoas que por condições sócio/educacionais não tem acesso à arte em sua plenitude. Também devemos pensar qual é o papel que dita arte de massa desempenha nos dias atuais, pois como bem denunciaram os teóricos da Escola de Frankfurt, este tipo de arte foi utilizada por movimentos totalitários no último século. Agora o caminho é mais amplo, mas isso não significa uma melhor caminhada, pelo contrário, significa que ela será mais árdua: teremos mais coisas para observarmos nesse caminho: além da inclusão na esfera política pelo acolhimento de uma produção artística, teremos também a exclusão da esfera política pelo não acolhimento de uma produção artística. No entanto essas dificuldades não deve nos amedrontar ou nos desencorajar, pois e ele que move o pensamento.

Referências

ALVES, Castro. O navio negreiro e Vozes d’África. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições da Câmara, 2013.

ARISTÓTELES. Política. Trad. Mario da Gama Kury. 2ª. Ed. Brasília: UNB, 1988.

FERREIRA, Ligia Fonseca. Com a palavra, Luiz Gama: poemas, artigos, cartas, máximas. São Paulo: Imprensa Oficial, 2011.

FEST, Joachim. Hitler. Trad. Analúcia Teixeira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade: curso no Collège de France. Trad Maria Ermantina Galvão. 2ª. Ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

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