Do Indo-europeu ao Latim
O indo-europeu era uma língua muitíssimo antiga, que espalhou os seus ramos por vastas regiões da Ásia e por quase toda a Europa. Do indo-europeu resultaram, entre outras línguas, o hitita, o arménio, o helénico, o albanês, o eslavo, o germânico, o céltico e o ltálico. Este, por sua vez, dá origem ao latim, osco, úmbrico e venético.
Indo-europeu Itálico Céltico Germânico Eslavo Helénico, etc. Latim Português Castelhano Catalão Francês Provençal Italiano Romeno Osco Úmbrico Venético
O Latim vulgar
O latim é inicialmente falado numa pequena região, o Lácio, que tem Roma como capital. Depois, quando os Romanos conquistam um vasto Império o latim passa a ser também falado pelos povos vencidos.
Os cidadãos romanos que se espalhavam pelos territórios conquistados eram sobretudo os soldados, comerciantes e empregados do Estado, os quais falavam uma linguagem popular, própria das classes menos instruídas - o chamado latim vulgar.
Assim, será este latim de cunho popular que irá estar na origem das várias línguas locais, entre elas o português.
Além do latim vulgar havia ainda o chamado latim erudito - que era não só escrito mas também falado. Era a língua usada pela gente culta.
O português tem como fonte o latim falado pelos Romanos. Entre os mais importantes fatores de difusão do latim e da cultura romana contam-se os soldados, os mercadores e o prestígio dos conquistadores.
Os soldados indígenas, recrutados para os exércitos romanos, contribuíram fortemente para a romanização, porque ao regressarem às suas terras de origem levaram experiências, novas técnicas e novas palavras.
Os mercadores que circulavam pelas estradas levavam consigo os produtos e as palavras que os nomeavam. Os conquistadores utilizavam o latim como a língua oficial dos documentos, dos tribunais e da maior parte dos actos civis.
As línguas românicas
Como os Romanos eram os vencedores e tinham uma cultura superior, a sua língua foi-se impondo às dos vencidos. Mas, como é natural, a língua já existente em cada região não deixaria de exercer bastante influência sobre o latim.
Deste modo nascem as várias línguas novilatinas, derivadas dos diferentes romances (palavra que significa “falares à maneira de Roma" (romanice loqui):
. o português - em Portugal . o castelhano- na Espanha
. o catalão - na Catalunha, região da Espanha . o francês - na França
. o provençal - na Provença, antiga região da França . o italiano - na Itália
. o romeno - na Roménia
. e ainda outras línguas de menor importância
Fatores de diferenciação do latim:
Cronologia da romanização
Tipo de romanizador (soldados, mercadores, funcionários do estado...) Modo de romanização
Substrato (língua que se falava antes da romanização, em Portugal o substrato mais importante é céltico)
Superstrato (língua que vêm depois da consolidação do estrato. O superstrato coexiste com o estrato acabando posteriormente por desaparece, não sem deixar marcas. Em Portugal temos o superstrato germânico e árabe.)
Como já vimos, o latim que esteve na origem das línguas novilatinas foi o falado pelas classes humildes, pelo povo - o latim vulgar -, e assim a maioria das palavras latinas entraram na nossa língua por via popular. Eram palavras espontaneamente faladas por toda a gente e por isso foram sofrendo grandes transformações fonéticas ao longo dos séculos.
Porém, a partir do século XIV e sobretudo do século XVI com o Renascimento, os estudiosos aprofundam os seus conhecimentos e muitas vezes recorrem à criação de novas palavras portuguesas idas buscar diretamente ao latim clássico. Ora estas palavras novas, criadas tardiamente e vindas por via erudita, ou culta, não podem ter uma transformação tão grande como as vindas por via popular, que estão na origem do português. Estes empréstimos de novas palavras que fomos buscar ao latim são designados cultismos.
O que acabámos de dizer permite-nos compreender como é que uma mesma palavra latina dá origem a mais do que uma palavra portuguesa. São as chamadas palavras divergentes, que provêm do mesmo étimo latino.
Latim arena atriu catedra cogitare integru matre oculu parabola patre plenu via popular areia adro cadeira cuidar inteiro mãe olho palavra pai cheio via erudita arena átrio cátedra cogitar íntegro madre óculo parábola padre pleno
Casos há em que, a partir de uma mesma palavra latina, até resultam mais de duas palavras diferentes:
macula {latim): mágoa, malha, mancha, mácula
planu {latim): chão, plano, plaino, plano
Vem a propósito dizer que, por outro lado, há palavras que provêm de étimos diferentes e convergem para a mesma forma vocabular, acabando por escrever-se da mesma maneira, embora se tratem de palavras com significado muito diferente.
São as palavras convergentes.
sanu (adjectivo) > são
rivu (nome) > rio
vanu (adjectivo) > vão
sunt ( verbo) > são rideo ( verbo) > ri
vadunt (verbo) > vão
santo (abreviatura) > são
Palavras divergentes e convergentes.
Planum
Chão
Parabola
Palavra
Plano
Parabola
plenum
Cheio
arena
Areia
Pleno
Arena
Ex. A palavra chão levou séculos a constituir-se, sofrendo sucessivas alterações
fonéticas, na sua utilização popular, até, adquirir esta forma --- Formou-se por via
popular.
A palavra plano foi formada por um escritor, que decalcou essa palavra do latim e a
introduziu, no português através da sua obra escrita ---- via erudita
Palavras convergentes
Palavras que provém de étimos diferentes e apresentam hoje a mesma forma (mesmo
significante mas significado diferente)
Sanu
São
(adj.) (verbo)
Rivu
Rio
(substantivo)
(verbo)
Sunt
rideo
A expansão dos portugueses, a partir do século XV por África, América (Brasil), Ásia e Oceânia, faz do Português, como língua, o idioma internacional. Nada mais natural que a língua portuguesa se fosse difundindo e o Português fosse a primeira língua europeia a afirmar-se entre os povos colonizados de África.
Nos séculos XVI e XVII, o Português era já usado como língua geral nas costas de África. A expansão da língua portuguesa reveste-se de dois aspetos:
a expansão por meio do ensino ministrado pelos jesuítas a expansão por meio de simples contacto e intercomunicação No primeiro caso temos o exemplo típico do Brasil, onde a língua portuguesa tem hoje o seu mais vasto domínio no Mundo.
Estabeleceu-se, assim, a partir do século XV uma espécie de língua franca que serviu de meio de comunicação entre navegadores, comerciantes e missionários e entre populações locais ao longo das costas da África (Ocidental e Oriental), da Arábia, da Pérsia, da Índia, da Malásia, da China e do Japão.
Exemplo desse intercâmbio são os crioulos (que se caracterizam pela profunda transformação da morfologia e da morfossintaxe do Português que lhes deu origem) de origem portuguesa em África (crioulos do arquipélago de Cabo Verde, do golfo da Guiné, da Guiné-Bissau) e os crioulos da Ásia em Malaca, de Macau, do Sri-Lanka e em algumas localidades da União Indiana, como Cochim.
Dentro das variedades não-crioulas há a considerar o Português, língua oficial, de Angola, de Moçambique, de Cabo-Verde, da Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe, mas também de Goa, Damão e Diu, de Macau e Timor.
Transportado para terras tão distantes onde tudo era diferente (clima, topografia crenças, costumes, hábitos linguísticos), o Português fraciona-se numa porção de dialetos. Dialetos do Português europeu e do Português do Brasil que se caracterizam, sobretudo, por diferenças de pronúncia.