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O incentivo à pesquisa em todas as séries da graduação

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Academic year: 2021

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O incentivo à pesquisa em todas as séries da graduação

Claudia Jawsnicker1

As diretrizes curriculares do Ministério da Educação para a área de Comunicação Social (2001) prevêem que o perfil do formando deve incluir a sua “habilidade em refletir a variedade e mutabilidade de demandas sociais e profissionais na área, adequando-se à complexidade e velocidade do mundo contemporâneo”. Preocupação semelhante faz parte do Programa Nacional de Estímulo à Qualidade da Formação em Jornalismo, elaborado conjuntamente pela Associação Brasileira de Escolas de Comunicação (ABECOM), Federação Nacional de Jornalismo (FENAJ) e Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS), entre outras entidades (2002). O projeto ressalta que a formação do jornalista através de um curso superior específico especializado deve propiciar, através da reflexão acadêmica, condições para que sejam equacionadas as demandas da sociedade em relação à atuação destes

profissionais.

Profissionais da área também ressaltam a importância da formação acadêmica do jornalista, que deve perseguir ideais éticos para que a sua atuação profissional seja um elemento a mais na construção da cidadania. Segundo Carta (2000), os cursos de Comunicação Social têm a responsabilidade de formar profissionais capazes de preencher os requisitos básicos para a prática jornalística: uma fervorosa devoção pela verdade, a fiscalização independente do poder e, principalmente, o exercício do espírito crítico. Preocupado, Costa (2002) reclama da homogeneização das redações e da pasteurização das notícias, fruto, muitas vezes, da falta de garra dos jovens repórteres em encontrar pautas novas e criativas. Mendes (2003:1) alerta que o mercado quer jornalistas que saibam pensar novas formas de editar e enfoques jornalísticos, profissionais que arriscam e experimentam. Para ele, o jornalista dos dias de hoje deve ser um ‘multiprofissional’ que ‘compreende sociologicamente os diversos aspectos de negociação e de interação dos segmentos sociais para dar conta de retratar realidades jornalísticas com um rigor mais próximo das verdades dos fatos, fugindo dos rótulos e reafirmando padrões éticos que aos poucos se perdem’ (ibid:2). Dines (1986) acrescenta

1 Jornalista, mestre em Educação e professora da UNIPAR e da FAG, ambas instituições localizadas no

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que a prática jornalística se caracteriza pela permanente tomada de decisões: durante todo o tempo de sua atividade diária, o jornalista reflete, seleciona e opta.

A preocupação comum das instituições, entidades e profissionais comprometidas com a construção da qualidade do ensino superior em Jornalismo converge para a necessidade de formação de um profissional crítico capaz de analisar e refletir sobre os padrões e práticas vigentes no jornalismo. Recentemente, muitos educadores têm valorizado o conceito do “profissional reflexivo”, que criticamente analisa a sua prática profissional e desenvolve estratégias inovadoras que desafiem os preceitos profissionais já

estabelecidos a sua volta (Schon 1983, Cowan 1998). Não apenas na área da

Comunicação Social, mas em outras áreas tão diversas quanto Pedagogia, Medicina, Ciências Biológicas e Arquitetura, o profissional reflexivo representa aquele que livre das amarras do tecnicismo, reflete, critica e interpreta as situações a sua volta e a sua performance com intuito de desenvolver novas práticas e ações profissionais.

Qual seria a melhor forma de o professor encorajar e desenvolver esta capacidade de reflexão entre os alunos de Jornalismo, garantindo que o ambiente da sala de aula seja um espaço de construção do conhecimento? Segundo Demo (1998), o bom professor é o que ensina os alunos a problematizarem. Para isso, é necessário que o docente

estabeleça práticas de ensino que fomentem a discussão reflexiva e privilegiem a busca de argumentos em sala de aula, incentivando a autonomia e a confiança dos estudantes. Um dos caminhos naturais para incentivar a reflexão em sala de aula é através da pesquisa. Demo (1996) defende a necessidade de fazer da pesquisa uma atitude

cotidiana no professor e no aluno. Segundo ele, a pesquisa deve ser entendida como um processo social que perpassa toda a vida acadêmica e penetra na medula de professor e do aluno. Stenhouse (1986) acrescenta que o ensino mais eficaz é baseado em pesquisa e descoberta. Para ele, os professores devem valorizar em sala de aula o prazer de viver a aventura do conhecimento investigativo.

Assim como os teóricos citados, acreditamos na importância de estimular a formação de espaços de reflexão em sala de aula engajando os estudantes de Jornalismo no ambiente da pesquisa ao longo de todas as séries da graduação. Para Gomes (2003), é

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a desmistificação da idéia equivocada de que tal procedimento (a pesquisa) está reservada aos intelectuais acadêmicos os quais passaram pelos programas de pós-graduação e legitimando, assim, o status de pesquisadores, mestres ou doutores.

Gomes (2003:1)

Diante desta perspectiva, a pesquisa pode refletir a construção, pelos acadêmicos, de um espaço de discussão sobre diferentes campos de saber, incentivando assim a

interdisciplinaridade e visando possibilidades de problematizações sobre assuntos variados. A pesquisa, considerada por Demo (ibid) um princípio educativo e científico, estimula a interpretação própria do mundo a sua volta e a construção de novos

conhecimentos.

Para que se crie uma cultura de pesquisa na graduação é fundamental que o processo de pesquisa seja significativo para o aluno. Dessa maneira, ao envolver o aluno na

pesquisa, o professor deve incentivá-lo a iniciar-se com o questionamento de uma preocupação ou curiosidade que seja significativa para o próprio estudante. A pesquisa deve ser entendida como um processo que permita com que o aluno-pesquisador avance no questionamento sobre a realidade que o cerca, criando assim condições para

interpretá-la e transformá-la.

Mas como fazer isso concretamente?

Os professores de nossa instituição procuraram colocar em prática o conceito de uma pedagogia comprometida com o estimulo à curiosidade e à capacidade analítica, interpretativa e reflexiva dos estudantes, por meio de alguns projetos de incentivo à pesquisa. Estas experiências foram desenvolvidas por docentes que sentiram a necessidade de investir numa dimensão transformadora da educação e tentaram criar condições de aprendizagem para todos os alunos, procurando garantir que a sala de aula fosse um espaço de reflexão e crescimento para docentes e alunos de todas as séries da graduação.

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No primeiro projeto, os acadêmicos do 5 º período são inicialmente estimulados a debater e a refletir sobre as diferentes fases de produção jornalística em um veículo impresso: produção de pauta, reportagem e edição. Vários textos, selecionados

previamente pelo professor orientador, servem de ponto de partida para a discussão em sala de aula. A partir daí, os acadêmicos participam de visitas técnicas às redações dos jornais locais, onde têm a possibilidade de comparar a teoria dos textos à prática desenvolvida em redações da imprensa local. Novamente em sala, seguem-se mais discussões e reflexões, em pequenos grupos, nos quais eles debatem se a prática desafia a teoria. Nesta fase, o professor, assumindo o papel de orientador, auxilia os acadêmicos a organizar as novas informações de maneira coerente. Que dados foram coletados pelos alunos? Como relacionar e contrastar estas informações? Aprendendo com as suas descobertas e a dos outros acadêmicos, eles iniciam o processo de interpretação dos fatos, por meio da classificação das novas informações, formulação de hipóteses e entendimento das relações de causa e efeito. Por fim, os alunos envolvem-se na produção de papers nos quais analisam as características do jornalismo praticado na imprensa do interior. Alguns dos temas dos textos produzidos pelos alunos - como “o uso e abuso do release”, “a pauta corrompida” ou “a dificuldade em pautar a cultura local” têm oferecido uma visão crítica e reflexiva da realidade do jornalismo da região. O segundo projeto pretende encorajar o contato do acadêmico do 6º período com a realidade do jornalismo comunitário desenvolvido na região. Após leitura de textos sobre o tema, os alunos pesquisam e analisam as práticas de jornalismo comunitário existentes na região, entrevistando os participantes. Na sala de aula, discutem os programas visitados. Por fim, os acadêmicos desenvolvem projetos nos quais propõem alternativas de fomento ao jornalismo comunitário na cidade.

Segundo avaliação do professor orientador, o projeto possibilitar não só ao acadêmico a compreensão de um jornalismo voltado para a comunidade, construído de forma coletiva e que leva em consideração a responsabilidade social; mas oportuniza às comunidades escolhidas a participação efetiva num projeto de comunicação que nasce a partir de seus próprios interesses

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REFERÊNCIAS

CARTA, Mino. Jornalismo sim e não. Disponível em

http://www.facapser.com.br/jornalismo/anuario/carta1.htm. Acesso em

09/11/2000.

COSTA, Luciano Martins. Aos filhos da pauta. Disponível em Observatório da Imprensa.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq020420031.html. Acesso em 02/04/02.

COWAN, John. Como ser um professor universitário inovador. Reflexão na

ação. São Paulo: Artmed Editora, 1998.

DEMO, Pedro. Conhecer e aprender – sabedoria dos limites. São Paulo: Artmed, 1998.

_____________ Educar pela pesquisa. São Paulo: Editores Autores Associados, 1996.

DINES, Alberto. O papel do jornal. São Paulo: Summus, 1986.

FENAJ. Programa Nacional de Estímulo à Qualidade da Formação em

Jornalismo (2002)

GOMES, Adriano.Lopez A pesquisa no cotidiano da sala de aula: relato de

uma experiência. Disponível em:

http://www.professoresjornalismo.jor.br/grupos_trabalho/pesquisa_graduacao/N atal/adriano.htm. Acesso em : 03/07/2003.

MENDES, Ricardo. ABAN: A proposta de um novo modelo de atividade

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http://www.professoresjornalismo.jor.br/grupos_trabalho/producao_laboratorial/i mpresso/Natal/ricardo_mendes.htm. Acesso em : 30/07/2003

STENHOUSE, Lawrence. An introduction to curriculum research and

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