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Ecossistemas de Inovação e Ecossistemas Circulares: análise de comunalidades e diferenças

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Ecossistemas de Inovação e Ecossistemas

Circulares: análise de comunalidades e

diferenças

Aline Gabriela Ferrari (FEB/UNESP)

aline.ferrari@unesp.br Luis Alberto Bertolucci Paes (FEB/UNESP)

luis.paes@unesp.br

Daniel Jugend (FEB/UNESP) daniel.jugend@unesp.br Barbara Stolte Bezerra (FEB/UNESP)

barbara.bezerra@unesp.br

Um número crescente de empresas vem adotando os princípios da Economia Circular (EC) como modelo de negócios. No entanto, percebe-se que ainda são poucos os estudos que tem se dedicado a analisar a circularidade para os ecossistemas de negócios, muito em função de ser um tema não completamente consolidado e que envolve certo grau de incertezas. Por meio de uma revisão teórica, este artigo tem como objetivo explorar os conceitos de “ecossistemas de inovação” (ESI) e “ecossistemas circulares” (ESC), de modo a apresentar e analisar caractetisicas similares e distintas entre cada um dos termos. Dentre os principais resultados, observou-se que as características comuns entre os dois sistemas é que são formados por uma rede de atores que consistem em clientes, fornecedores e complementadores que cooperam e competem na busca da sobrevivência e domínio. Já a principal característica distinta é que, nos ESC, o principal desafio é redesenhar os ecossistemas de negócios para criar um sistema “ganha-ganha” e equilíbrio entre os interesses dos atores. Os ESC têm como base os conceitos da EC, portanto tem como meta maximizar o valor dos recursos materiais e minimizar o uso de recursos e resíduos. Já em um ESI, o objetivo principal é promover o desenvolvimento tecnológico da inovação. Destaca-se ainda que estudos futuros sobre os ESC podem se tornar uma tendência pela alta sinergia entre os dois temas em desenvolvimento: “Ecossistemas” e Economia Circular”.

Palavras-chave: Economia Circular, Ecossistemas em plataformas, Desenvolvimento sustentável, Modelos de negócios.

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1 1. Introdução

Atualmente, um número crescente de empresas tem incorporado ações e práticas de sustentabilidade em seus modelos de negócios, com o intuito de aumentar sua responsabilidade ambiental e social (LANDRUM, 2018). No entanto, Dyllick e Muff (2016) apontam um problema de “desconexão” entre modelos de negócios sustentáveis e preservação ambiental. O atual modelo linear (extrair-produzir-usar-descartar) de material e fluxo de energia foi identificado como um fator chave para essa desconexão (KORHONEN; HONKASALO; SEPPÄLÄ, 2018). A consequência negativa da linearidade não é apenas a produção de “desperdício”, mas também do consumo de recursos não renováveis e impactos negativos em todas as etapas de produção (LIEDER; RASHID, 2016). Desse modo, a Economia Circular (EC) surge com a proposta de afastar-se das práticas lineares e substituí-las pelo cascateamento, em que os resíduos de um processo se tornam input de outro (Blomsma, 2018) e downcycling de materiais, em que o material é reciclado com qualidade e funcionalidade inferiores ao material original (PIRES et al., 2019). A EC é definida como um sistema regenerativo que visa à redução dos inputs e dos desperdícios através da desaceleração, fechando e estreitando os loops de material e energia, sendo alcançado por meio de projetos, manutenção, reparo, reutilização, remanufatura, reforma e reciclagem (GEISSDOERFER et al., 2017).

Moore (1993) propôs o termo"Ecossistema" sugerindo que a analogia entre redes de negócios e ecossistemas biológicos poderiam ajudar no entendimento no campo organizacional. Para Adner (2017, p.2), ecossistema é “a estrutura de alinhamento do conjunto geral de parceiros que precisam interagir para que uma proposta de valor focal se materialize”. Portanto, pela perspectiva dos Ecossistemas, os modelos de negócios de todos os atores que compõem a cadeia de suprimentos são tão importantes quanto o da empresa “líder focal”. Além da igualdade de importância, o líder focal gera oportunidades para os demais atores lucrarem ao fornecer bens e serviços, contribuindo para que o ecossistema prospere e os nichos sejam ocupados por empresas que buscam, além de satisfazer seus próprios objetivos, os do ecossistema (BELTAGUI; ROSLI; CANDI, 2020). Assim, pode-se definir um Ecossistema Circular (ESC) como uma rede de organizações que colaboram e formam parcerias para criar um ambiente propício à transformação, permitindo que cadeias de valor inteiras (uma região, cidade ou zona operacional específica) criem modelos de negócios circulares e resultados coletivos (LACY; LONG; SPINDLER, 2020). As organizações, portanto, necessitam de

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inovações que apoiem a criação dos ESC. A inovação nos ecossistemas influencia diretamente o papel dos atores, produtos e serviços,

recursos tangíveis e intangíveis, tecnológicos e não tecnológicos, enfatizando relações mais colaborativas para a criação de valor (GRANSTRAND; HOLGERSSON, 2020). Adner (2006, p.2) define Ecossistemas de Inovação (ESI) como "os arranjos colaborativos através dos quais as empresas combinam suas ofertas individuais em uma solução coerente e voltada para o cliente". O conceito tem suas principais raízes no conceito relacionado de ecossistemas de negócios, conforme usado por Moore (1993) e outros autores que aderiram ao termo

posteriormente.

Na literatura vigente, a relação entre ESI e ESC ainda precisa ser melhor explorada. Neste sentido, o objetivo do artigo é identificar e inter-relacionar os principais atores e pontos convergentes e divergentes entre os termos, de modo a contribuir para a área de gestão da inovação e sustentabilidade.

2. Método de pesquisa

Para atingir os objetivos propostos, os procedimentos adotados para a condução da revisão de literatura baseiam-se no estudo conduzido por Booth (2016) e sintetizados no Quadro 1. A análise de conteúdo foi realizada com o propósito de identificação de padrões nos dados. Vale ressaltar que no processo de busca, apenas quatro artigos se relacionavam com as palavras-chave “circular ecosystem” conforme o escopo proposto; e somente um artigo (Konietzko, Bocken e Hultink, 2020) correlacionava diretamente os termos “circular ecosystem” e “innovation ecosystem”, sendo o motivo da utilização de uma busca em duas etapas.

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3 Fonte: Elaborado pelos autores

3. Fundamentação teórica 3.1. Ecossistemas

A literatura referente ao gerenciamento estratégico enfoca os ecossistemas de negócios como fontes de vantagem competitiva para empresas individuais; afinal, um ecossistema encontra suas raízes na ideia de redes de valor (Normann e Ramírez, 1993) e pode ser visto como um grupo de empresas que criam valor combinando suas habilidades e ativos. Esses ecossistemas normalmente são organizados como redes complexas de empresas cujos esforços integrados estão focados em atender às necessidades do cliente final (ZAHRA; NAMBISAN, 2012). Portanto, os ecossistemas de negócios e as redes interorganizacionais consistem em relacionamentos colaborativos e competitivos, o que resulta em uma estrutura de "coopetição" (MOORE, 1993). Como resultado, é a competição entre ecossistemas, e não empresas individuais, que alimentam as inovações (CLARYSSE et al., 2014). Considerando o conceito de ecossistemas na área de gestão, os de inovação têm sido debatidos há alguns anos pela literatura e será definido a seguir.

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4 Com base no conceito de ecossistemas de negócio, mas a fim de abordar o processo de criação de valor conjunta, foi proposto o conceito de “Ecossistemas de Inovação” (ESI), que emergiu como um termo difuso para descrever a crescente complexidade da inovação, envolvendo a interação entre os atores e seus contextos (TORLIG; RESENDE JÚNIOR, 2018). Um ESI pode ser definido como uma estrutura complexa, hierárquica e auto organizada que se assemelha a um ecossistema biológico (IANSITI; LEVIEN, 2004). Isso porque os ESI normalmente são compostos por clientes, fornecedores e complementadores que cooperam e competem em busca da sobrevivência e domínio (MOORE, 1993). Os ecossistemas biológicos referem-se a conjuntos complexos de relacionamentos entre os recursos vivos de uma área, que objetivam manter um estado de equilíbrio sustentável. Os ESI, por sua vez, são responsáveis por modelar a economia, ao invés dos relacionamentos biológicos complexos, e a sua funcionalidade liga-se à viabilização do desenvolvimento da inovação, com repercussão social (TEIXEIRA; TRZECIAK; VARVAKIS, 2017). A importância dos ESI está no fato do aumento da necessidade de alinhamento entre os parceiros que podem influenciar a “coevolução” do ecossistema e das empresas individuais (BELTAGUI; ROSLI; CANDI, 2020).

De acordo com Torlig e Resende Júnior (2018), os ESI podem ser compreendidos como comunidades dinâmicas, reunidas intencionalmente, com complexos relacionamentos, baseados na colaboração, confiança e cocriação de valor, que compartilham tecnologias e complementam competências. Além disso, podem ser entendidos dentro de uma realidade sistêmica, uma vez que crescem dentro de uma rede de relações interorganizacionais, que promovem a inter-relação e a integração do conhecimento de diferentes atores que colaboram e cooperam entre si, compartilhando conhecimento e experiências, de modo que haja o

envolvimento ativo e direto dos usuários em todas as etapas do processo de inovação. Os atores dos ESI incluem: (i) os recursos materiais (fundos, equipamentos, instalações); (ii)

capital humano (estudantes, professores, funcionários, gestores, pesquisadores, colaboradores etc.) e (iii) entidades participantes do ecossistema (universidades, empresas, centros, institutos, agências de financiamento, decisores políticos). Em uma visão sistêmica, um ESI consiste em agentes e relações econômicas, bem como agentes e relações não econômicas, envolvidos com outras partes, como tecnologias, instituições, interações sociológicas e culturais, de modo que um ESI é um híbrido de diferentes redes ou sistemas (TORLIG; RESENDE JÚNIOR, 2018). Uma das principais características dos ESI é a presença de

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5 “plataformas” e “líder” do ecossistema. As plataformas são definidas como serviços, ferramentas ou tecnologias que outros membros do ecossistema podem usar para melhorar o seu próprio desempenho, que pode ser um ativo físico ou intelectual. Por sua vez, a ideia do “líder do ecossistema” (Moore, 1993) se coaduna com a noção de “Keystone”, atores integradores que circulam em diferentes grupos sociais, podendo ser pessoas ou instituições que levam informações de um lado para o outro e criam novas conexões (Iansiti e Levien, 2004) e “líder de plataforma”, que são os atores capazes de articular e coordenar os outros parceiros, de modo que o líder do ecossistema intermedia contatos, fornece incentivos, orquestra colaborações para a criação de alianças estratégicas e fortalece o compromisso de complementaridades (TORLIG; RESENDE JÚNIOR, 2018). A abordagem do ESI está localizada no nível meso, enfatiza a forma e função das relações entre os atores do ecossistema e se conecta tanto ao nível macro das políticas espaciais nacionais quanto ao nível micro das atividades individuais de empresas e outros agentes (MAZZUCATO; ROBINSON, 2018).

Teixeira et al. (2016) citam diversas entidades que se enquadram em diferentes atores, apresentados no Quadro 2.

Quadro 2 - Atores de um ecossistema de inovação

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6 A Figura 1 apresenta os diferentes tipos de atores e seus níveis hierárquicos organizacionais para os ecossistemas de inovação.

Figura 1 - Ecossistema de inovação: diferentes atores e níveis de hierarquia organizacional

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de Teixeira et al. (2016) e PUCCI et al. (2018)

3.3. Economia circular

A EC pode ser definida como um modelo econômico destinado ao uso eficiente de recursos por meio da minimização de resíduos, retenção de valor a longo prazo, redução de recursos primários e ciclos fechados de produtos, peças e materiais dentro dos limites de proteção ambiental e benefícios socioeconômicos (MORSELETTO, 2020). O modelo de EC enfatiza a colaboração em toda a cadeia de valor, tendo potencial para compartilhar valor mais igualmente e aumentar a transparência em todo o ciclo de vida do produto; para isso, baseia-se em três princípios fundamentais: (i) prebaseia-servar e aprimorar o capital natural, controlando estoques finitos e equilibrando os fluxos de recursos renováveis; (ii) otimizar o rendimento de recursos fazendo circular produtos, componentes e materiais em uso no mais alto nível de utilidade o tempo todo, tanto no ciclo técnico quanto no biológico e (iii) estimular a efetividade do sistema revelando e excluindo as externalidades negativas desde o princípio (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017)

A questão da colaboração entre diferentes partes interessadas é fundamental para os modelos de negócios circulares onde as inovações nos modelos de negócios alteram a proposição, criação, captura e entrega de valor (PIERONI; MCALOONE; PIGOSSO, 2019). Zucchella e Previtali (2019) destacam que, enquanto o ecossistema industrial fornece uma “arquitetura de partes interessadas” através de um sistema de atores e seus relacionamentos; o modelo de negócios circular pode abranger esse sistema de atores e fornecer a “arquitetura operacional e

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7 econômica” para tornar o ecossistema viável e sustentável também do ponto de vista financeiro, tomando como base os princípios da economia circular, um modelo que torna o lucro compatível com o futuro do planeta.

3.4. Ecossistemas circulares

Os ecossistemas circulares (ESC) visam coordenar modelos de negócios para criar proposições de valor sustentáveis com loops de recursos fechados (TAKACS; STECHOW; FRANKENBERGER, 2020). Konietzko et al. (2020) afirmam que é importante que as empresas adotem novas maneiras de fazer negócios para se tornarem “circulares”, restringindo, retardando, estreitando e regenerando seus fluxos de material e energia. Isso justifica a necessidade de maiores conhecimentos sobre como inovar em direção a ESC, o que requer mudanças fundamentais em estruturas econômicas amplamente difundidas. Seu escopo é determinado pelos recursos comprometidos, tangíveis e intangíveis, pelos fluxos de confiança e conhecimento, e pelo envolvimento de diferentes parceiros, o que permite que o ciclo seja fechado. Os mecanismos formais e informais fornecem a arquitetura de governança do ecossistema (ZUCCHELLA; PREVITALI, 2019).

Parida et al. (2019) descrevem que, antes de ser iniciada a transformação do ESC, deve ser entendido o papel de três elementos: ambiente externo, modelo de negócio e parceiros do ecossistema. A avaliação ambiental externa consiste na coleta de informações sobre tendências circulares no setor (por exemplo, interesses do cliente e oportunidades tecnológicas) e mudanças regulatórias (por exemplo, introduzindo padrões obrigatórios). Isso pode ajudar na avaliação de oportunidades da transição para a EC e identificar potenciais ameaças que surgiriam se o ecossistema não concluísse a transição a tempo (PARIDA et al., 2019). Konietzko et al. (2020) apresentam um conjunto de princípios que consideram relevantes para que as empresas consigam inovar em direção a um ESC. E categorizam este conjunto de princípios em três grupos: colaboração (como as empresas podem interagir com outras organizações em seu ecossistema para inovar em direção à circularidade); experimentação (como as empresas podem organizar um processo estruturado de tentativa e erro para implementar maior circularidade) e plataforma (como as empresas podem organizar interações sociais e econômicas por meio de plataformas on-line para obter maior

circularidade). O modelo de negócios e as avaliações de parceiros ecossistêmicos complementam a avaliação

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8 do ecossistema externo, pois fornecem informações sobre a prontidão do orquestrador (ou coordenador) do ecossistema e parceiros ecossistêmicos para a transição (PARIDA et al., 2019).

Fontell e Heikkilä (2017) definem cinco principais modelos de negócios para os ESC: (i) suprimentos circulares: fornece energia renovável, material de entrada com base biológica ou totalmente reciclável para substituir entradas de ciclo de vida único; (ii) recuperação de recursos: recupera recursos úteis/energia de produtos ou subprodutos descartados; (iii) extensão da vida útil do produto: aumenta o ciclo de vida útil dos produtos e componentes, reparando, atualizando e revendendo; (iv) plataformas de compartilhamento: habilita o aumento da taxa de utilização de produtos, possibilitando um uso/acesso/propriedade compartilhados e (v) produto como serviço: oferece acesso ao produto e mantém a propriedade para internalizar os benefícios da produtividade circular de recursos.

4. Resultados e discussões

A partir da análise dos conceitos apresentados na literatura, pode-se definir o ESI como sendo uma comunidade dinâmica com relacionamentos construídos na colaboração, confiança e cocriação de valor e especializados em explorar um conjunto compartilhado de tecnologias ou competências complementares (AUTIO; THOMAS, 2014; RUSSELL; SMORODINSKAYA, 2018). A Figura 2 apresenta os principais conceitos e marcos históricos importantes para desenvolvimento dos ESC.

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9 Fonte: Elaborado pelos autores

Um ecossistema (de negócios) é uma forma organizacional com uma arquitetura modular composta por complementadores independentes que trabalham em direção a uma proposta de valor compartilhado (TAKACS; FRANKENBERGER; STECHOW, 2020). O sistema ainda é composto por pessoas e instituições interconectadas, e compreende um conjunto de atores da indústria, academia, associações, órgãos econômicos, científicos e do governo em todos os níveis. Sua principal característica é permitir que os membros da comunidade compartilhem ideias e encontrem formas de apoio mútuo, levando em consideração que a continuidade do ecossistema está na criação de uma rede de relacionamentos em que há recompensa mútua (PUCCI et al., 2018). A possibilidade de estabelecer uma relação entre organismos (negócios) de um mesmo ecossistema ou de um diferente depende dos ajustes espaciais, organizacionais, tecnológicos, culturais e sociopolíticos. Com base nessas premissas, pode-se afirmar que a energia que alimenta e circula entre os ESI pode ser representada pelo “conhecimento”. Por outro lado, o desafio do ESC é encontrar e redesenhar um ambiente de negócios com diferentes atores e alinhado com os princípios da EC. O Quadro 3 resume as principais características observadas em ecossistemas de inovação e em ESC, apresentando as semelhanças e divergências entre os dois e quais os atores que abordam as características.

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10 Quadro 3 - Comparação entre as principais características dos ecossistemas de inovação e ecossistemas

circulares

Fonte: Elaborado pelos autores

Percebe-se que muitas características são compartilhadas entre os termos. Ambos os ecossistemas são formados por uma rede de atores que consistem em clientes, fornecedores e complementadores que cooperam e competem na busca da sobrevivência e domínio. Universidades, centros de pesquisa, empresas, instituições e governos também são apontados como atores. Os dois ecossistemas possuem partes econômicas e não econômicas, como tecnologia, instituições, interações sociológicas e culturais.

Uma diferença que pode ser apontada entre os dois ecossistemas é o fato de que o ESC tem como base os conceitos da EC, portanto baseia-se principalmente em maximizar o valor dos recursos materiais e minimizar o uso de recursos e resíduos. Os três conjuntos de princípios apontados em um ESC, por Konietzko et al. (2020): colaboração, experimentação e plataforma, existem para que as organizações em seu ecossistema consigam inovar em direção à circularidade. Ou seja, a essência de um ESC é criar produtos, soluções e serviços com base nos princípios da EC, aplicando modelos de negócios circulares para criação e entrega de valor. No ESC, o desafio é redesenhar os ecossistemas de negócios para criar um sistema “ganha-ganha” e equilíbrio entre os interesses dos atores. Já em um ESI, o objetivo principal é promover o desenvolvimento tecnológico da inovação.

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11 Outra diferença é a existência, nos ESC, de uma avaliação de prontidão realizada pelos orquestradores ecossistêmicos antes de ser iniciada a transformação do ecossistema. Parida et al. (2019) identificaram três avaliações de prontidão do ecossistema que, juntas, estabelecem a lacuna entre as aspirações da EC e as capacidades do ecossistema para alcançar essas aspirações. A lacuna reflete as capacidades e recursos que estão faltando no ecossistema e os processos de governança ecossistêmica que seriam necessários para a transição do ecossistema para o paradigma da EC. Além disso, o orquestrador de rede pode ou não existir em ecossistemas de inovação, sendo caracterizado como um ator, por exemplo, o proprietário de uma plataforma ou o principal provedor de oportunidades de inovação colaborativa, que domina o ecossistema. Por outro lado, nos ESC, o papel do orquestrador de rede é dito crucial para os processos de implementação e engajamento na realização de um modelo de negócios circular. É ele que administra as complementaridades entre todas as empresas e instituições envolvidas no ecossistema, gerando confiança, comunicação e compromisso entre todos os atores da rede.

5. Considerações finais

Ao traçar este levantamento de conteúdo e análise, entende-se que os resultados desta pesquisa podem contribuir com as áreas de gestão da inovação e da sustentabilidade.

Percebe-se, pela revisão de literatura realizada, que não há uma adoção generalizada de modelos de negócios circulares nas organizações, pois existe grande relutância em implementar modelos de negócios inovadores com base nos princípios circulares, sendo enxergado pelos gestores e stakeholders como modelos incertos e arriscados. Além disso, o termo “ecossistemas circulares” é bastante atual. Somente quatro artigos exploram o tema de forma explícita e a primeira publicação foi feita em 2019. No entanto, a junção dos termos “ecossistemas” e “economia circular” pode se tornar uma tendência de pesquisa para novas publicações, pois parecem apresentar uma sinergia natural. Reconhece-se, por fim, que este trabalho possui limitações de pesquisas. A principal limitação está no método, em que foi proposto somente uma revisão da literatura. Pesquisas futuras poderiam ampliar os resultados deste trabalho, por meio de monitoramento de publicações futuras, proposta de estudos empíricos e estudos de casos em empresas que utilizam os princípios da EC também podem contribuir para a melhoria das relações entre os atores dos ecossistemas, impulsionar o

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12 desenvolvimento de forma sustentável, aprofundar e complementar e os resultados apresentados e discutidos neste artigo.

REFERÊNCIAS

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