• Nenhum resultado encontrado

NECESSIDADES DE INVESTIMENTOS E OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA COM O PROGRAMA DE BIODIESEL NO BRASIL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "NECESSIDADES DE INVESTIMENTOS E OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA COM O PROGRAMA DE BIODIESEL NO BRASIL"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)

1 NECESSIDADES DE INVESTIMENTOS E OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

AGROPECUÁRIA COM O PROGRAMA DE BIODIESEL NO BRASIL lualves@esalq.usp.br

Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

GERALDO SANT’ANA DE CAMARGO BARROS; LUCÍLIO ROGÉRIO APARECIDO ALVES; MAURO OSAKI.

ESALQ/USP, PIRACICABA - SP - BRASIL.

NECESSIDADES DE INVESTIMENTOS E OTIMIZAÇÃO DA

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA COM O PROGRAMA DE BIODIESEL

NO BRASIL

Grupo de Pesquisa:

Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo

Este trabalho visa examinar as necessidades de investimento agrícola e industrial para o cumprimento das metas do programa do biodiesel, considerando a otimização das principais culturas nas principais macrorregiões produtoras de oleaginosas no Brasil, para o período de 2007 a 2017. Desta forma, é possível analisar a rentabilidade dos investimentos efetuados na agropecuária, diante do programa biodiesel brasileiro. Empregaram-se as técnicas analíticas de Análise de Cadeia de Valor e de Programação Linear, e calculou-se a Receita Líquida Operacional (RLO), que exclui os custos de depreciação e reposição do capital, a qual foi utilizada no cálculo da Taxa Interna de Retorno (TIR). Os resultados apontaram que o fator determinante da expansão do agronegócio no Brasil é o investimento em infra-estrutura. Ao mesmo tempo, há uma inseparável integração entre cadeias produtivas, cuja economicidade não pode ser analisada por cadeias individuais. A preocupação que se antecipava quanto à destinação da produção adicional em grandes quantidades de farelo mostrou-se controlável, e não foi necessário ampliar a área já ocupada com estabelecimentos agropecuários atual. Palavras-chaves: Biodiesel, investimentos, programação linear, cadeia de valor

Abstract

This study aims to examine the needs of agricultural and industrial investment to the fulfillment of the goals of the biodiesel program, considering the optimization of production of major crops in the South, Southeast and Center-West of Brazil for the period 2007 to 2017. Thus, it’s possible to analyze the profitability of investments in agriculture, before the Brazilian biodiesel program. Using the analytical techniques of the Value Chain Analysis and Linear Programming, and calculated to Net Operating Income, which excludes the costs of depreciation and replacement of capital, and this was used to calculate the Internal Rate of Return. The results showed that the factor determining the expansion of agribusiness in Brazil is investment in infrastructure. At the same time, there is an inseparable integration of productive chains, whose economy can not be analyzed by individual chains. The concern that anticipated on the allocation of additional production of large quantities of

(2)

2

meal was shown to be controllable, and it was not necessary to enlarge the area already occupied with current agricultural establishments.

Key Words: Biodiesel, investments, linear programming, value chain

1 INTRODUÇÃO

O Governo Federal do Brasil está promovendo o biodiesel como uma fonte renovável de energia em substituição ao óleo diesel do petróleo. Enquanto o etanol é usado como substituto por excelência da gasolina em meios de transporte individuais, o biodiesel seria utilizado mais amplamente: em caminhões, ônibus, tratores e motores estacionários. A base para a produção é a ampla gama de matérias-primas produzidas pela agricultura brasileira.

A Lei 11.197 de Janeiro de 2005 fixou a meta de adição voluntária de 2% de biodiesel ao óleo diesel até o final de 2007, o que se tornou obrigatório em 2008 e passou para 3% em meados de 2008. A adição de 5% de biodiesel foi estabelecida como voluntária de 2008 até 2012 e obrigatória a partir de 2013. A iniciativa é justificada com base no princípio da busca pela diversificação de fontes energéticas para reduzir riscos de dependência excessiva do instável mercado internacional de petróleo e derivados. O biodiesel também oferece prospectos ambientais favoráveis: melhor qualidade do ar face à redução de poluentes, como material particulado. Pretende-se ainda através do programa viabilizar benefícios econômicos e sociais a pequenos agricultores, aliviando a pobreza rural.

Que volume de recursos seria necessário para compatibilizar tais metas? São amplamente reconhecidas as limitações do País no que tange a sua capacidade de investimento, que situando-se em torno de 16% do PIB, perto de R$ 400 bilhões por ano, tem-se mostrado insuficiente para um crescimento mais rápido da economia, que tem-se situado na casa dos 3,1% ao ano em média. Portanto, ao avaliar os prospectos de sucesso do programa mister se faz estimar adequadamente os investimentos necessários tanto nas atividades agropecuárias quanto nas agroindustriais.

Além dessa restrição macroeconômica, outras há que se relacionam mais com a forma de implementação do programa. Por um lado, está a necessidade de produzir energia alternativa em bases competitivas – fundamento da integração econômica alcançada pelo País – e ao mesmo tempo controlar possíveis impactos concentradores de renda diante das conhecidas vantagens econômicas e tecnológicas da produção com métodos modernos e em grande escala, tanto na produção primária como na fase industrial e na logística.

Há vários trabalhos relacionando aspectos técnicos e econômicos sobre o programa do biodiesel no Brasil, como Barros et al. (2006), em especial analisando os custos financeiros, considerando variadas matérias-primas de sorte a explorar possibilidades de produção e consumo de biodiesel nas cinco grandes regiões brasileiras. Dado o status atingido pelo programa em termos de prioridade governamental e interesse despertado por investidores, algumas questões merecem esforço ainda maior em termos de pesquisa bem como novos temas devem ser incorporados ao rol de novas questões a serem tratadas.

Em primeiro lugar, faz-se necessário, um exame cuidadoso do volume de investimento necessário para cumprir as metas estipuladas no programa e examinar as possibilidades de que tais recursos estejam disponíveis para aplicação nesse ramo de atividade. Em segundo lugar, trata-se de avaliar o potencial de produção de cada região dada a estrutura de terra e capital dos estabelecimentos rurais e a disponibilidade concreta de tecnologia. Embora sejam relevantes estudos exploratórios a respeito dos impactos de tecnologias em processo de geração, há que, numa primeira etapa, avaliar o potencial da tecnologia atual, inclusive para detectar lacunas existentes de forma a orientar o setor de pesquisa.

(3)

3

Desta forma, este trabalho objetiva a) examinar as necessidades de investimento agrícola e industrial para o cumprimento das metas do programa do biodiesel; b) efetuar uma análise sobre a otimização das principais culturas nas principais macrorregiões produtoras de oleaginosas no Brasil, considerando o período de 2007 a 2017; e, c) analisar a rentabilidade dos investimentos efetuados na agropecuária. As análises focarão nas macrorregiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

2 METODOLOGIA

2.1 Custos ao longo da cadeia de valor

Para esta análise, se considerará o custo financeiro rotineiramente calculado baseado no mercado, avaliados de acordo com preços pagos pelos produtores. Como taxa real de juros será empregada a média de 10%, observada nos últimos 5 anos. Quanto à taxa de câmbio serão considerados níveis alternativos acima e abaixo do valor (R$ 2,15/dólar) à época da análise.

Os custos do biodiesel (mão-de-obra, insumos e bens de capital) deverão incluir a produção agrícola, transporte, esmagamento e processamento em biodiesel e a mistura ao óleo diesel. Os subprodutos obtidos (farelo e glicerina) no processamento serão avaliados a preços de mercado considerando as possíveis expansões de oferta que decorram do programa do biodiesel. O custo do biodiesel será dado pelo valor necessário para que as cadeias produtivas consideradas decidam produzi-lo nas quantidades programadas.

Para cálculo de custos financeiros ao longo das cadeias produtivas utiliza-se o método da “Cadeia de Valor”, introduzido por Porter (1985). No caso em apreço, está envolvido o conjunto de firmas/empresas que aparecem ao longo da cadeia produtiva que vai da produção ou importação de insumos agrícolas ou seus componentes até a colocação do biodiesel misturado ao diesel ao atacado. Podem ser destacadas analiticamente etapas como: (a) frete internacional, tarifas e demais custos de importação de insumos; (b) transporte de insumos até unidades processadoras ou misturadoras, armazenagem e transporte até o varejo nas regiões de produção agrícola; (c) transporte de insumos até as fazendas ou estabelecimentos agropecuários; (d) custos das atividades agrícolas, do preparo do solo à colheita, atividades pós-colheita, inclusive transporte e armazenamento, até chegada da matéria-prima às unidades esmagadoras, (e) esmagamento, armazenamento e transporte do óleo vegetal até à planta de biodiesel, (f) custos de transformação do óleo em biodiesel 100%. Keyser (2006) preparou um conjunto de planilhas pré-programadas especialmente para coleta e análise de dados de cadeias de valor.

Em cada etapa ao longo da cadeia, são calculados custos operacionais ou variáveis (CO), que incluem matéria-prima, insumos e mão-de-obra. São os custos necessários para colocar os ativos das empresas (agrícola ou industrial) em operação. Terra e capital (máquinas, construções, e rebanho), por outro lado, são contabilizados ao custo de capital. Este é calculado de acordo com o método do custo anualizado de reposição do capital (CARP). Uma fórmula apresentada para cálculo de CARP de um item i de capital por Monke & Pearson (1989) e Gittinger (1982) é dada por:

i CR i frc i CARP = com, 1 ) 1 ( ) 1 ( − + + = v r r v r i frc

onde frc é o fator de recuperação de capital e inclui tanto o custo de oportunidade do capital (r ), como a reserva de depreciação considerada uma vida útil de v anos. CR é o custo de

(4)

4

reposição do capital (representado pelo valor do bem novo ou do mercado de segunda-mão, conforme o caso). Ao fator terra e no caso do rebanho, é atribuído o custo de oportunidade do capital1.

Todos os custos de insumos de produção e de capital referentes a cada estágio (produção agrícola, transporte, armazenamento, esmagamento e processamento) e custos agregados resultantes são classificados em seus componentes: custos privados, de um lado, e impostos e tributos menos subsídios de outro. Com isso, obtém-se o custo unitário do biodiesel de cada fonte alternativa. Resta saber quais matérias-primas serão utilizadas em cada região.

2.2 Otimização das Cadeias Produtivas

No processo de decisão quanto à produção de biodiesel, para cada região será necessário escolher a combinação de matérias-primas a ser utilizada. Neste estudo, tal escolha foi considerada para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Para o Norte e Nordeste, apenas a atividade de produção de biodiesel a partir de uma matéria-prima pré-definida foi considerada, em razão da falta de alternativas claras à produção de palma (dendê) no Norte e de mamona no Nordeste para os sistemas observados nessas regiões.

Considere-se um empreendimento já em andamento. A análise do custo de produção relacionado ao preço de mercado de um produto não é suficiente para a inferência quanto a se deverá ser ou não produzido. Dado um conjunto de matérias-primas alternativas, será escolhida aquela combinação que maximiza a receita liquida operacional da cadeia produtiva – isto é, oferece a melhor remuneração ao capital. É possível que no curto prazo determinada matéria-prima seja produzida apesar de seu preço cobrir apenas os custos operacionais (e não os de capital) se esta for a melhor alternativa. Por outro lado, mesmo que todos os custos sejam cobertos, a matéria-prima pode não ser produzida se uma outra alternativa também o fizer e em melhores condições (maior retorno por unidade capital).

Num empreendimento em análise, porém, é importante que a decisão de implantá-lo baseie-se na expectativa de que não só os custos operacionais sejam cobertos, mas também que os investimentos necessários tenham perspectiva de serem remunerados pelo custo de oportunidade dos recursos graças à receita líquida operacional que será proporcionada.

Um modelo de Programação Linear para cada uma das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, considerando conjuntamente diversas cadeias de valor (desde as atividades desenvolvidas na fazenda, armazenamento, esmagamento da matéria-prima para obtenção do óleo vegetal, até o processamento deste para confecção do biodiesel) é empregado para definição das culturas que darão origem ao biodiesel em cada região. A função a ser maximizada é dada por:

GLIgli Bb f F o O g G P CT E CT L CT

RTL AGi i ESMi i PROCi i i i i i i i

K

iΣ − − − + + + + +

=

=1[ ]

onde

RTL= receita total líquida

AGi

CT = custo total agrícola por hectare da matéria-prima i;

=

i

L área cultivada com matéria-prima i;

=

ESMi

CT custo total por tonelada de esmagamento da matéria-prima i;

=

i

E quantidade em toneladas de matéria-prima i esmagada;

1 Para a terra e para o rebanho (já estabilizado) nota-se que frc r

vlim→∞ =

(5)

5 =

PROCi

CT custo total por tonelada de processamento de óleo i para biodiesel;

=

i

P quantidade em toneladas de óleo i processada para biodiesel;

i

G = quantidade em tonelada de matéria-prima i vendida sem transformação;

i

g = preço da tonelada da matéria-prima i;

=

i

O quantidade em toneladas de óleo i vendida como óleo vegetal;

=

i

o preço da tonelada do óleo vegetal;

=

i

F quantidade em toneladas de farelo i resultante do esmagamento;

=

i

f preço da tonelada do farelo i vendida;

=

B quantidade em toneladas de biodiesel;

=

b preço da tonelada do biodiesel;

GLI= volume em toneladas de glicerina

=

gli preço da tonelada de glicerina

Na função acima, o custo total é a soma do custo operacional com o custo anualizado de reposição do patrimônio (CT=CO+CARP). A combinação otimizada pode, porém, levar a

RTL negativa quando então a rentabilidade do projeto ficará abaixo do custo de oportunidade

do capital. Sempre que RTL for não-negativa o custo de oportunidade do capital, bem como sua depreciação estarão cobertos. Trata-se de análise de longo prazo.

Entre as K atividades consideradas encontram-se diversas que podem total ou

parcialmente ser destinadas para biodiesel (soja, mamona, girassol, amendoim, palma, algodão) e outras não destinadas à produção de biodiesel, tais como gado de corte, cana-de-açúcar, milho, conforme seja a fazenda representativa da região. Nestas últimas considera-se também o processamento. Dessa forma, fica evidenciada a interdependência entre as cadeias e dentro delas (entre seus elos) e avalia-se a competitividade da produção das matérias-primas para biodiesel e de outras alternativas encontradas nas regiões analisadas.

A função-objetivo – que mede a receita líquida total do conjunto de cadeias produtivas – é maximizada monitorando-se as restrições de capacidade de armazenamento, esmagamento (produção de óleo e farelo) e processamento (produção do biodiesel) disponíveis na região, ficando aberta a possibilidade de venda de matéria-prima sem processamento. Os impactos de criação de capacidade para essas facilidades, tanto para biodiesel, especificamente, como para outras atividades, são então avaliados comparando-se a disponibilidade no período-base de 2003-2006 como aquelas necessárias em 2011 e 2017. Exceto para as facilidades necessárias para o biodiesel, as restrições de capacidade são ampliadas de acordo com o padrão histórico de crescimento e ampliadas também quando necessário para atender as tendências de consumo alimentar e de fibras. No caso específico da capacidade de processamento do biodiesel, ela é ajustada de acordo com as metas de 2%, 5% 10% e 20% de mistura ao diesel de petróleo.

Para alimentar o modelo de otimização, previamente se procede à análise de cadeia de valor para cada região e para cada matéria-prima ou produto com ela concorrente ou complementar adrede escolhidos. A otimização do conjunto das cadeias produtivas representativas da região indicará qual, ou quais, matérias-primas serão produzidas e em que proporção da área disponível. Custos financeiros do biodiesel são calculados para a solução ótima.

(6)

6 2.3 Taxa Interna de retorno

Estabelecidas para cada região as atividades que maximizam a função objetivo, trata-se de verificar a taxa interna de retorno (TIR). O horizonte de análise vai de 2007 a 2022. Os investimentos são feitos em 2 etapas. No primeiro ano, considera-se que sejam realizados os investimentos já existentes em 2006 bem como os necessários para a meta do programa biodiesel. Em 2011 podem ser feitos investimentos adicionais.

Considera-se o montante de investimentos sob dois ângulos. No primeiro, consideram-se os investimentos totais (já existentes e novos) no conjunto das cadeias produtivas. No segundo, apenas os novos investimentos realizados especificamente para a produção de biodiesel.

Ao longo dos 15 anos evoluem as produções em função dos preços previstos e das mudanças nas disponibilidades de infra-estrutura e demandas do programa. A TIR é calculada pela fórmula abaixo onde I é investimento e RLO é a receita líquida operacional. Esta corresponde à RLO calculada para o conjunto das cadeias produtivas com a combinação de atividades que maximiza a receita total liquida (RTLmax ).

0 ) 1 ( *) ( 15 1 = + +

Σ

= t t t TIR RLO I e CARP RTL RLO*= max

Convém salientar que faz-se uma avaliação da rentabilidade das atividades produtivas nas várias cadeias produtivas sob diferentes cenários e considerando-se os custos do biodiesel. Os resultados mencionarão o preço necessário pagar pelo biodiesel bem como a taxa interna de retorno do sistema de cadeias em que sua produção se insere.

Uma análise análoga é feita apenas para os incrementos de RLO e de investimentos devidos ao programa de biodiesel. Nesse caso, os resultados dependem de que os investimentos examinados na primeira análise sejam realizados.

3 DADOS E PRESSUPOSTOS

Os dados necessários para as análises de cadeia de valor foram obtidos em entrevistas diretas com produtores de insumos e bens de capital, agricultores e empresários já estabelecidos no mercado – como industrial ou comerciante –, além de técnicos e especialistas dos setores privado e público.

No caso específico dos dados agrícolas, o procedimento utilizado foi o de o de entrevistas coletivas com grupos de produtores cujas fazendas são consideradas representativas de certa região. Esta técnica é denominada de “painel”. Esses produtores são selecionados com base em informações secundárias e por indicação de técnicos regionais. As entrevistas focam em planilhas contendo coeficientes técnicos e fluxo de caixa de uma fazenda que corresponda aproximadamente àquelas dos produtores presentes. Durante a entrevista os dados das planilhas são discutidos e atualizados.

Para análise do processo de produção de biodiesel com base em metodologia de custo/beneficio naturalmente considera-se determinada tecnologia como dada. Neste caso, coeficientes técnicos somente foram empregados se compatíveis com processos em uso na atualidade em escala comercial2.

2 No caso da pecuária de corte, foi a considerada a evolução histórica da produtividade: de 229,2 kg/ha em 2006, para 255,8 kg/ha em 2011 e 292 kg/ha em 2017. Esse crescimento médio de 2,23% a.a. vem sendo observado em todo o Centro-Sul.

(7)

7

Duas variáveis macroeconômicas são muito importantes para cálculos de rentabilidade econômica e financeira: taxa de juros e taxa de câmbio. Dentro do mesmo espírito que levou ao uso apenas de coeficientes técnicos observados, optou-se pelo emprego da taxa real de juros de 10% ao ano, média ex-post aproximada no Brasil durante grande parte dos anos 20003. Para a taxa de câmbio, empregou-se o valor de R$ 2,15 por dólar, em vigor no período a que se refere a análise. Impactos de variações da ordem de 16% dessa taxa para cima (para R$ 2,50) e para baixo (para R$ 1,80) foram examinados. Não foi feito esforço para cálculo da taxa de câmbio de equilíbrio: como se sabe, o Brasil, apesar de ter aumentado o grau de liberalização comercial, ainda possui barreiras tarifárias para produtos industriais; além disso, o Banco Central brasileiro tem-se mostrado bastante atuante tanto para conter as altas (com possíveis conseqüências inflacionárias), como as baixas (que prejudicariam os setores exportador e industrial).

Para cada região foram pré-definidas as matérias-primas que teriam seus custos avaliados e sua viabilidade analisada. A seleção recaiu sobre aquelas culturas que na ocasião do estudo eram vistas como mais promissoras pelos especialistas e que já contavam com iniciativas implementadas quando do início do estudo. Assim definiram-se:

a) Região Centro-Oeste (ou cerrado): Soja, Algodão e Girassol (2a cultura); b) Região Sudeste: Soja, Girassol, Algodão e Amendoim;

c) Região Sul: Soja e Girassol.

Na região Centro-Oeste as atividades gado bovino de corte e milho foram incluídas nas simulações. No Sudeste incluíram-se a cana-de-açúcar e gado de corte e no Sul, o milho e gado de corte. Ver na Tabela 1 as áreas consideradas em cada região. As áreas – para as atividades consideradas – de cada região e o total delas para o Brasil são tomados como constantes para todo o período de análise. Tais áreas diferem do total em estabelecimentos agropecuários pela exclusão da parte referente às demais atividades. Dessa forma os ajustes associados à produção de biodiesel se processam mediante substituição de certas atividades por outras na mesma área total. Os efeitos da inclusão de novas áreas – via desmatamento, por exemplo – merecem estudo especial, que fica além do escopo destas análises.

Tabela 1. Áreas consideradas no estudo (mil hectares) – 2006

REGIÃO CENTRO-OESTE SUDESTE SUL

ALGODÃO 604 128 - SOJA 9677 1875 8959 GIRASSOL - 18,7 89,6 GIRASSOL SAFRINHA 96,8 - - MILHO - - 1000 MILHO SAFRINHA 3.387 - 3500 AMENDOIM - 129 - CANA - 8571 457 PECUÁRIA 62718 38584 44109 TOTAL 73000 49000 57000

Fonte: IBGE (2007) (valores arredondados)

3 De janeiro de 2000 a dezembro de 2005, a taxa real de juros, deflacionada pelo IPCA, medida oficial de inflação, foi 9,7%.

(8)

8

Como resultado dessas restrições, a otimização das cadeias de valor com o programa de biodiesel implicará a escolha entre:

a) aumentar a taxa de processamento de grãos visando ao biodiesel, exportando maior proporção de farelo e menor de grãos; se a produção de grãos exceder substancialmente os níveis projetados, então suas projeções de preços precisarão ser revistas;

b) aumentar a produção de grãos e algodão em detrimento das pastagens e outras culturas não direcionadas a biodiesel.

Na Tabela 2 apresentam-se informações técnicas sobre produção e demanda de biodiesel. O maior potencial de produção é da soja na atualidade. A mamona, o amendoim e o girassol têm os maiores rendimentos em óleo.

3.1 O Modelo no Contexto Internacional

As bases projetadas de preços, áreas, produções são as simulações efetuadas pelo FAPRI (Food and Agricultural Policy Research Institute, 2007), um programa de pesquisas envolvendo a Iowa State University e a University of Missouri-Columbia. O FAPRI faz projeções para o setor agrícola – explorando suas relações com a indústria – dos Estados Unidos e para os mercados internacionais. O modelo tem mais de 3.000 equações detalhando relações entre preços, produção (área e produtividade), demanda, estoques e outras variáveis. São modelos para análise de políticas e não para previsão (WISNER, 2002).

Tabela 2. Matérias-primas, produtividades, rendimentos em óleo, oferta potencial atual e demanda de biodiesel (B2 e B100)

Região Matéria-Prima Produtividade kg/há Rendimento óleo % Óleo (kg/ha) Área (mil há) Oferta total óleo (mil litros)

Demanda B2 (mil litros) Demanda B100 (mil litros) Soja 2.904,00 19% 551,76 10.290,00 6.379.337,53 Algodão 2.100,00 16% 336,00 585,40 221.004,94 Girassol 1.800,00 39% 702,00 42,00 33.128,09 TOTAL 6.804,00 23% 1.589,76 10.917,40 6.633.470,56 Soja 2.538,00 19% 482,22 1.812,00 981.778,25 Algodão 1.600,00 16% 256,00 110,00 31.640,45 Girassol 2.000,00 39% 780,00 2,20 1.928,09 Amendoim 2.415,00 40% 966,00 87,10 94.537,75 TOTAL 8.553,00 29% 2.484,22 2.011,30 1.109.884,54 Girassol 1.367,00 39% 533,13 13,30 7.967,00 Soja 2.705,50 19% 514,05 8.319,00 4.804.876,80 TOTAL 4.072,50 26% 1.047,18 8.332,30 4.812.843,80 Soja 2.280,00 19% 433,20 1.418,00 690.199,55 Algodão 2.287,40 16% 365,98 309,00 127.066,36 Mamona 758,00 48% 363,84 171,90 70.274,27 TOTAL 5.325,40 22% 1.163,02 1.898,90 887.540,17 Palma 22.000,00 20% 4.400,00 45,80 226.426,97 Soja 2.614,00 19% 496,66 464,00 258.932,85 TOTAL 24.614,00 20% 4.896,66 509,80 485.359,82 23.669,70 13.929.098,89 767.464,46 38.373.223,00 3.516.608,00 TOTAL GERAL N 90.107,92 4.505.396,00 340.824,68 17.041.234,00 155.532,82 7.776.641,00 110.666,88 5.533.344,00 70.332,16 SE S CO NE

Fonte: Área: IBGE (2007): Dendê; CONAB (2007): soja, algodão, girassol e amendoim; Demanda de óleo: ANP (2007)

Em sua versão distribuída em janeiro de 2007, o FAPRI supõe crescimento mundial a uma taxa de 3,3% ao ano (ex.: EUA: 2,8%, EU: 2,7% China:7,8%, América Latina: 4,2%, Argentina: 5,5% e Brasil: 3,6%) e preço do petróleo acima de US$ 50/barril. O dólar deverá manter sua tendência de depreciação real em relação às principais moedas. Nos EUA, supõe-se que as políticas de preços e pagamento aos agricultores permanecerão, inclusive os programas de crédito fiscal e tarifas do etanol e biodiesel. Na União Européia supõe-se continuidade na direção da desvinculação (decoupling). É essencial ter em conta que o FAPRI inclui o programa do biodiesel do Brasil em suas análises conforme estipulado até 2012.

(9)

9

Assim, nas análises do programa do biodiesel brasileiro, parte-se de uma solução próxima do uso atual (2006/07) de recursos. Vale-se, então, das projeções de preços no mercado internacional (inclusive do petróleo4) efetuadas pelo FAPRI e consideram-se suas projeções de produção e uso da terra no Brasil para avaliar os impactos do programa do biodiesel para 2011 e 2017 quanto às alocações da terra. Mudanças positivas e negativas na taxa cambial brasileira são consideradas. Correções nos níveis de preços previstos pelo FAPRI deverão ser efetuadas somente se as produções de grãos e subprodutos divergirem daquelas projetadas em decorrência da consideração do programa de biodiesel no Brasil no caso das metas superiores a B2.

Enfatiza-se, assim, que os dados e projeções do FAPRI são usados como referência nas (para monitoramento das) análises realizadas. Porém, as análises do FAPRI são para o Brasil como um todo; não consideram as diversas regiões do País. Nas análises aqui apresentadas sempre se atentou para qualquer diferença significativa entre os resultados obtidos e os do FAPRI; caso isso ocorresse, os preços projetados pelo FAPRI não poderiam ser utilizados. Assim, tanto no agregado como por região fez-se necessário monitorar e comparar os resultados agregados (2006, 2011 e 2017). Regionalmente, o “guia” era a parcela atual da região na produção e na área de cada atividade. Os resultados mostraram que o programa do biodiesel não tem impactos regionais ou nacionais (agregados) grandes o suficiente para discrepar das projeções gerais da FAPRI. Assim, não foi necessário realizar qualquer ajuste nos dados do FAPRI, não havendo mudança importante na composição regional da produção agropecuária.

As restrições do modelo de otimização envolveram:

a) Facilidades de infra-estrutura – armazenamento, esmagamento e processamento de grãos, algodão e cana – foram projetadas de acordo com a tendência histórica recente, conforme a disponibilidade de dados, até 2011 e 2017; caso essa capacidade projetada fosse insuficiente, ela era expandida conforme e necessidade para cumprir a tendência de demanda de alimentos e fibras: dessa forma avaliavam-se as necessidades de investimentos;

b) Utilização da capacidade instalada – a utilização histórica média da capacidade instalada foi considerada ao estabelecer as restrições no modelo; quando essas restrições eram superadas determinavam-se novos investimentos conforme a necessidade;

c) A área com soja foi monitorada de forma a não ser menor do que as projeções do FAPRI para atendimento da demanda convencional aos preços projetados; de novo, não houve necessidade de ajustes aos dados da FAPRI;

d) Milho e girassol safrinha são delimitados como percentagem da área de soja; no Sul, o milho de verão deve no mínimo atender a demanda para o auto-consumo e o milho safrinha restringe-se à área do Paraná onde o clima permite a atividade.

Na Tabela 3 aparecem os índices de preços calculados com base nas projeções (em dólares) do FAPRI, as quais foram ajustadas em proporção às alternativas de câmbio consideradas5. As maiores altas previstas são para o algodão e derivados; óleo de soja, girassol e amendoim; e carne de boi. As quedas mais expressivas são para os farelos em geral.

4 A previsão do FAPRI indica quedas de 4% (até 2011) e 13% (até 2017) no preço internacional do petróleo em relação ao valor em 2007.

5

(10)

10

4 RESULTADOS

4.1 Necessidades de Investimento

Para estabelecer as necessidades de investimento para concretizar as projeções das cadeias produtivas em geral e, em especial, as metas regionais do programa de biodiesel recorre-se aos dados coletados para estudo das cadeias de valor das várias matérias-primas alternativas. A análise a seguir fornece os montantes necessários nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Na Tabela 4 aparecem investimentos nas cadeias produtivas sob vários cenários: a) na primeira coluna, atual com B0; 2011 com B0 e 2017 com B0; b) investimentos adicionais até 2011 com B2, B5, B10 e B20, c) investimentos adicionais até 2017 com B2, B5, B10 e B20. Notar que o total de investimentos já realizados até 2007 nas cadeias produtivas consideradas nas três regiões é R$ 679 bilhões. Até 2011 investimentos adicionais de R$ 94 bilhões serão necessários não havendo produção de biodiesel; para 2017 o montante (com B0) seria R$ 111 bilhões a partir de 2011. Caso se produza B2, o incremento de investimentos será de R$ 6,87 bilhões (63% ou R$ 4,31 bilhões no Sudeste), sendo R$ 3,08 bilhões até 2011. O grande salto de investimento se dá para produzir B5: R$ 12,5 bilhões (57% no Sudeste), sendo R$ 6,69 bilhões até 2011.

As últimas três colunas sintetizam os resultados para a três regiões. A primeira delas mostra os investimentos dedicados exclusivamente ao biodiesel (até B20, até 2011 e 2017). O total seria R$ 77,8 bilhões. Na penúltima coluna está o total de investimentos nas cadeias: R$ 679 bilhões já existentes em 2007; mais R$ 134 bilhões até 2011 e mais R$ 150 bilhões até 2017, quando então o total das cadeias nas três regiões atingiria R$ 962 bilhões. Na última coluna aparecem os percentuais de investimentos em biodiesel sobre o total das cadeias. Até 2011, quase 30% dos investimentos a serem realizados nas cadeias entre 2007 e 2011seriam dirigidos diretamente ao biodiesel; de 2011 a 2017, o percentual seria 26%. No Sul e no Sudeste, o biodiesel demandaria percentuais nos investimentos muito mais elevados que no Centro-Oeste; a razão é fundamentalmente a expansão da soja nas três regiões. Enquanto no Centro-Oeste teria de haver expansão de apenas 24% na área de soja para B2 (ou 41% para B20) até 2011, no Sudeste a expansão seria de 50% para B2 (ou 410% para B20) e no Sul 18% para B2 (ou 80% para B20). Ao fim e ao cabo, haveria sido realizado investimento da ordem de 8,1% do total aplicado nas cadeias especificamente para o biodiesel (até B20 em 2017).

Tabela 3. Índices de preços projetados para três taxas de câmbio, 2011 e 2017

Produtos 2006 2011 R$ 2,15 2011 R$ 1,80 2011 R$ 2,50 2017 R$ 2,15 2017 R$ 1,80 2017 R$ 2,50 Algodão em pluma 100 119 99 138 122 102 142 Caroço de algodão 100 119 100 139 125 104 145 Óleo de algodão 100 124 104 144 127 106 148 Farelo de algodão 100 99 83 115 86 72 100 Soja em grão 100 112 94 131 104 87 121 Óleo de soja 100 124 104 144 127 106 148 Farelo de soja 100 99 83 115 86 72 100 Girassol em grão 100 106 89 123 94 78 109 Óleo de girassol 100 116 97 135 119 100 139 Farelo de girassol 100 98 82 113 88 73 102 Amendoim em grão 100 100 84 116 95 80 110 Óleo de amendoim 100 109 91 127 114 95 132 Farelo de amendoim 100 93 78 108 89 74 103 Milho em grão 100 107 90 125 101 84 117 Açúcar 100 110 92 128 103 86 120 Carne de boi 100 103 87 120 113 95 132 Fontes: FAPRI (2007)

(11)

11

Tabela 4. Investimentos (R$ bilhões) para biodiesel – 2011, 2017.

REGIÕES ATÉ B0 B2 B5 B10 B20 BIO TOTAL BIO/TOT (%)

2007 228.49 228.49 0 2011 27.46 0.12 1.63 0.08 0.16 1.99 29.46 6.76 2017 39.04 0.23 0.05 0.09 0.17 0.54 39.58 1.36 TOTAL 294.99 0.34 1.68 0.17 0.34 2.53 297.52 0.85 2007 256.32 - 256.32 0 2011 37.44 2.06 3.41 6.43 12.16 24.06 61.50 39.12 2017 50.09 2.25 3.73 6.21 12.43 24.62 74.72 32.96 TOTAL 343.85 4.31 7.14 12.65 24.59 48.69 392.54 12.40 2007 193.78 - 193.78 0 2011 29.42 0.90 1.65 3.74 6.86 13.15 42.57 30.90 2017 21.94 1.32 2.06 3.43 6.63 13.43 35.38 37.97 TOTAL 245.14 2.22 3.71 7.17 13.49 26.59 271.73 9.78 2007 678.59 - 678.59 0 2011 94.32 3.08 6.69 10.26 19.18 39.20 133.53 29.36 2017 111.08 3.80 5.84 9.73 19.23 38.60 149.68 25.79 TOTAL 883.99 6.87 12.52 19.99 38.41 77.80 961.79 8.09 CENTRO-OESTE SUDESTE SUL SOMA TRÊS REGIÕES

Fonte: Dados da pesquisa

Da Tabela 5 constam os investimentos necessários no Norte e no Nordeste. No Nordeste os investimentos devem chegar a R$ 40 bilhões para B2. Recursos adicionais de R$ 60 bilhões serão necessários para se chegar a B5; o total para B20 será R$ 400 bilhões. No Norte é necessário investimento de R$ 25 bilhões para B2 e R$ 250 bilhões para B20. Confrontando-se as estimativas de necessidades de investimentos no Norte e no Nordeste com as das demais regiões, tem-se uma medida da defasagem existente entre esses grupos em termos de investimentos já realizados no agronegócio. No Centro-Oeste, como visto, basta um investimento de R$ 120 milhões para B2, posto que já existem investimentos de R$ 228 bilhões em 2007 e se admite mais R$ 27 bilhões em 2011 mesmo para B0; no Norte e no Nordeste tais investimentos não estão disponíveis e nem há planos de que o agronegócio invista nos segmentos que interrelacionam-se com a mamona ou a palma – assim, teriam de ser realizados como parte da iniciativa do biodiesel.

Tabela 5. Total dos investimentos (R$ bilhões) para biodiesel – Norte e Nordeste*

REGIÃO B2 B5 B10 B20 TOTAL B20

NORDESTE 40 60 100 200 400

NORTE 25 37,5 62,5 125 250

TOTAL 65 97.5 162,5 325 650

Fonte: Dados da pesquisa

*Os investimentos em terra não estão incluídos; ou seja, supõe-se que ao agricultores disporão previamente deste recurso.

4.2 Otimização das Cadeias de Valor

A partir daqui relatam-se os resultados da utilização de modelo de programação linear para maximização da receita liquida total das cadeias de valor para cada região. Para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul são apresentados resultados comparando a atual alocação de recursos com as alternativas ótimas para os anos de 2011 e 2017. As restrições de infra-estrutura impostas aos modelos referem-se à capacidade de armazenagem e capacidade e sua utilização para processamento de grãos e são ajustadas à taxa de crescimento dos anos 2000 a

(12)

12

2007. Como já se mencionou, o modelo do FAPRI 2007 é a base sobre a qual se avaliam os impactos das mudanças nas metas do programa de biodiesel, variando-se as restrições de infra-estrutura (caso as metas do programa de biodiesel não estejam sendo atendidas) e as taxas de câmbio.

Apresentam-se a seguir os resultados regionais da maximização da receita líquida total (RLT) do conjunto de cadeias produtivas. Nas Tabelas 6, 7 e 8 estão resultados referentes ao Centro-Oeste. Os valores estão arredondados para serem expressos em bilhões de reais e mil hectares. Considere a Tabela 6. Na primeira coluna estão os dados para 2006, antes de o programa do biodiesel ser implantado (B0). A área total é de 73 milhões de hectares, dos quais 605 mil estão ocupados com algodão, 9,7 milhões com soja, 97 mil com girassol-inverno e 3,4 milhões com milho-safrinha. A área com pastagem é de 63 milhões de hectares. A receita líquida operacional (RLO) é de R$ 17,6 bilhões para o conjunto de cadeias como um todo. A receita líquida total (RLT), que desconta as despesas de capital é negativa: -R$ 12,4 bilhões6.

A segunda coluna reporta as mesmas variáveis para 2011 também sem o programa. Veja-se que aqui os resultados incorporam uma otimização com ajustes de longo prazo, o que não ocorria necessariamente em 2006. Nesse caso, haveria expansão do algodão e contração da soja significativas e eliminação das culturas de inverno. A pastagem ocuparia a área liberada. Os resultados financeiros melhoram: RLO vai a R$ 32,2 bilhões e RLT a -R$ 1,1 bilhão. Esses efeitos se devem à movimentação de preços projetada, favorecendo o algodão bem como à otimização a favor da lucratividade maior da pecuária bovina.

Na terceira coluna surgem os efeitos do programa do biodiesel, com limite de 2%. Percebe-se que a restrição imposta para tal fim não altera significativamente7 os resultados, uma vez que uma quantidade marginal de soja é transformada em biodiesel ao invés de ir para óleo comestível a um custo de R$ 1.963/t8. Novos cenários com crescentes volumes de biodiesel em 2011 tendem fazer com que a área de soja seja expandida em detrimento marginal da pecuária e novos investimentos em plantas de biodiesel têm de ser feitos.

As demais colunas reportam resultados para 2017. Os resultados econômicos e financeiros melhoram substancialmente à medida que as áreas de soja e principalmente de algodão (cujo preço sobe bastante) crescem. Releve-se ainda que a partir de 2011 considera-se maior produtividade na pecuária bovina de corte, o que na verdade implicou em maior produção em menor área.

É fundamental atentar que só em 2012 a RLT torna-se positiva indicando que os custos de capital estão sendo devidamente cobertos pelas receitas obtidas. De qualquer forma, o conjunto de cadeias produtivas incorporando a produção de B2 no Centro-Oeste a uma taxa de câmbio de R$ 2,15 teria de amargar um período de 5 anos de resultados negativos.

Tabela 6. alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Centro-Oeste. (Taxa Cambial : US$ 1=R$ 2,15) . Base: 2003/06.

6 Há muitas evidências da baixa rentabilidade financeira do agronegócio brasileiro: em que pesem os substanciais ganhos de produtividade total, estimado em 100% entre 1975 e 2005 em Gasques, et al. (2006), os preços reais caíram ao mesmo tempo cerca de 70% aos produtores e aos consumidores, do que resulta queda real receita por unidade produzida de cerca de 60%. Somente de 1995 a 2006, a dívida agrícola oficial aumentou de R$41 bilhões para R$80,1 bilhões, segundo Rezende (2007). Em Barros e Osaki (2007) três fazendas de grãos do Paraná apresentaram Receita Líquida Total negativa no período 2004/2006.

7 Lembrar que os valores estão arredondados. 8

(13)

13 ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 ALGODÃO (mil ha) 605 1067 1067 1067 1067 1067 2110 2110 2110 2110 2110 SOJA(mil ha) 9700 4200 4200 4800 4800 4800 5300 5300 5300 5300 5300

GIRASSOL(mil ha) 97 0 0 48 48 48 53 53 53 53 53

MILHO(mil ha) 3400 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

BOVINOS CORTE(mil ha) 63000 68000 68000 67000 67000 67000 66000 66000 66000 66000 66000 AREA TOTAL(mil ha) 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 RLO CADEIA (R$bilhões) 17.6 32.1 32.2 32.5 32.5 32.5 48.5 48.5 48.5 48.5 48.5 RLT CADEIA(R$bilhões) -12.4 -1.1 -1.1 -1 -1 -1 10.2 10.2 10.2 10.2 10.2

2011 2017

Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 7 estão os resultados para a taxa cambial de R$ 1,80. Os resultados são bem piores do ponto de vista econômico-financeiro. A expansão de algodão e soja é menos expressiva e a pecuária é menos afetada. O biodiesel é produzido basicamente de algodão (a R$ 1.914/t). As RLT são negativas ou bastante baixas.

Na Tabela 8 estão os resultados para a taxa cambial de R$ 2,50. Do ponto de vista econômico e financeiro a situação melhora muito. RLTs positivas ocorrem todos os anos para todos os níveis de concentração do biodiesel (de soja). Para atender a demanda regional, porém, o seu preço vai para R$ 2,234/t em 2011 e R$ 2,304/t em 2017.

Tabela 7. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Centro-Oeste. (Taxa Cambial :US$ 1=R$ 1,80). Base: 2003/06.

ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 ALGODÃO (mil ha) 605 1067 1067 1067 1067 1067 1800 1800 1800 1800 2000 SOJA(mil ha) 9700 3800 3800 3800 4000 4800 4600 4600 4600 4600 5000 GIRASSOL(mil ha) 97 0 38 38 40 48 46 46 46 46 50

MILHO(mil ha) 3400 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

BOVINOS CORTE(mil ha) 63000 68000 68000 67000 68000 67000 67000 67000 67000 67000 66000 AREA TOTAL(mil ha) 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 RLO CADEIA (R$bilhões) 17.6 22.7 22.7 22.7 22.7 22.7 35 35 35 35 35 RLT CADEIA(R$bilhões) -12.4 -11.4 -11.4 -11.4 -11.4 -11.4 -3 -3 -3 -3 -3

2017 2011

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 8. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Centro-Oeste. (Taxa Cambial :US$ 1=R$ 2,50) Base: 2003/06.

ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 ALGODÃO (mil ha) 605 1067 1067 1067 1067 1067 2100 2100 2100 2100 2100 SOJA(mil ha) 9700 4800 4800 4800 4800 4800 5300 5300 5300 5300 5300 GIRASSOL(mil ha) 97 42 42 48 48 48 53 53 53 53 53

MILHO(mil ha) 3400 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

BOVINOS CORTE(mil ha) 63000 67000 67000 67000 67000 67000 65600 65600 65600 65600 65600 AREA TOTAL(mil ha) 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 73000 RLO CADEIA (R$bilhões) 17.6 42.2 42.2 42.9 42.9 42.9 62.3 62.3 62.3 62.3 62.3 RLT CADEIA(R$bilhões) -12.4 9.3 9.3 9.4 9.4 9.4 9.2 9.5 9.5 9.5 9.5

2017 2011

Fonte: Dados da pesquisa

Nas Tabelas 9, 10 e 11 relatam-se os resultados para o Sudeste. A área total considerada para região perfaz 49 milhões de hectares, sendo dominantes em 2006 as áreas de pastagem com 39.000 hectares, cana com 8.600 hectares e soja com 1.900 hectares. A RLO é de R$ 36 bilhões e RLT de R$ 3 bilhões, o que assegura TIR acima de 10% para a região. Em 2011, se não houvesse o biodiesel (B0), RLO cresceria para R$ 54 bilhões (e RLT para R$ 16 bilhões)

(14)

14

com expansão da cana e da soja em detrimento da pecuária. Na verdade, o biodiesel afeta os resultados pela expansão da soja sem influenciar a cana, mas avançando sobre as pastagens. O preço do biodiesel (de soja) chegaria a R$ 2.171/t em 2011 e R$ 2.420/t em 2017, quando a cana se expande ao lado da soja enquanto as pastagens sofrem acentuada redução.

Tabela 9. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Sudeste. (Taxa Cambial :US$ 1=R$ 2,15). Base: 2003/06.

ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 ALGODÃO (mil ha) 128 128 128 128 128 128 128 128 128 128 128 SOJA(mil ha) 1900 2100 2700 3700 5600 9200 2400 3100 4400 6500 10700 GIRASSOL(mil ha) 19 21 27 37 56 92 0 31 44 65 107 BOVINOS CORTE(mil ha) 39000 36500 36000 35000 33000 29000 33000 33000 31000 29000 25000 CANA(mil ha) 8600 10500 10500 10500 10500 10500 13300 13300 13300 13300 13300

AMENDOIM (mil ha) 128 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

AREA TOTAL(mil ha) 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 RLO CADEIA (R$bilhões) 36 54 54.8 55.3 56.6 58.3 66.7 67.1 67.9 68.8 71.5 RLT CADEIA(R$bilhões) 3 16 16.3 16.3 16.6 17.3 22 22.1 22.4 22.8 23.5

2011 2017

Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 10 reportam-se os resultados para taxa cambial de R$ 1,80. Embora os resultados econômicos e financeiros piorem, a alocação de recursos pouco se altera. O biodiesel de soja seria produzido ao custo de R$ 1.900/t, subindo para R$ 2.315/t em 2017.

Na Tabela 11, estendem-se os resultados para o câmbio de R$ 2,50. Os resultados econômico-financeiros melhoram sem grandes alterações na alocação da terra. O biodiesel (de soja) agora custa R$ 2.377/t em 2011 e R$ 2.455 em 2017.

Tabela 10. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Sudeste. (Taxa Cambial :US$ 1=R$ 1,80). Base: 2003/06.

ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 ALGODÃO (mil ha) 128 0 128 128 128 128 128 128 128 128 128 SOJA(mil ha) 1900 2025 2600 3700 5500 9000 2500 2700 3900 5900 9200 GIRASSOL(mil ha) 19 0 27 37 56 90 25 27 39 53 53 BOVINOS CORTE(mil ha) 39000 36500 36000 35000 33000 29500 33200 32600 31000 29000 25000 CANA(mil ha) 8600 10500 10500 10500 10500 10500 13300 13300 13300 13300 13300 AMENDOIM (mil ha) 128 0 0 0 0 0 0 157 157 157 157 AREA TOTAL(mil ha) 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 RLO CADEIA (R$bilhões) 36 37.1 37.8 38.5 39.8 41.5 38.4 47.4 47.6 49 51.7 RLT CADEIA(R$bilhões) 3 -0.9 -0.7 -0.5 -0.2 0.5 -6.3 2.4 2.6 3 3.7

2011 2017

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 11. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Sudeste. (Taxa Cambial :US$ 1=R$ 2,50). Base: 2003/06.

ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 ALGODÃO (mil ha) 128 128 128 128 128 128 128 128 128 128 128 SOJA(mil ha) 1900 2100 2700 3900 5900 9200 2500 3320 4700 7000 10900 GIRASSOL(mil ha) 19 21 27 39 59 92 25 33 47 70 109 BOVINOS CORTE(mil ha) 39000 36500 35800 35000 32600 29300 33200 36000 31000 28700 24800 CANA(mil ha) 8600 10500 10500 10500 10500 10500 13300 13300 13300 13300 13300 AMENDOIM (mil ha) 128 157 157 157 157 157 0 0 0 0 0 AREA TOTAL(mil ha) 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 49000 RLO CADEIA (R$bilhões) 36 71 71.6 72 73.9 76.4 81.1 81.6 82.4 83 86.4 RLT CADEIA(R$bilhões) 3 33 33 33.4 33.9 34.9 38.4 38.5 39 39 40

(15)

15 Fonte: Dados da pesquisa

Nas Tabelas 12, 13 e 14 estão os resultados para o Sul. A área total da região disponível para as atividades consideradas é de 57.025 mil hectares. Em 2006, as pastagens ocupavam 44.100 mil hectares, a soja 8.900 mil hectares e o milho verão 3.500 mil hectares. RLO é de R$ 14 bilhões, enquanto RLT é negativa (-R$ 18,6 bilhões).

Em 2011 com B0 e câmbio de R$ 2,15 (Tabela 12), haveria alguma melhora: RLO iria para R$ 20,2 bilhões (RLT para –R$ 8,8 bilhões): basicamente aumentaria a área de pastagem e cairia a de soja e milho. Com B2 há moderada expansão da soja, com biodiesel a R$ 2.063/t. Essa tendência e custo permanecem para os demais níveis. Em 2017, a soja se expandiria mais rapidamente e a pastagem cairia igualmente. O custo do biodiesel chegaria a R$ 2.428/t.

Na Tabela 13 estão os resultados para a taxa cambial de R$ 1,80. Não há alterações importantes na alocação de terra. Os custos do biodiesel seriam de R$ 1.880/t em 2011 e R$ 2.370/t em 2017. RLO e RLT cairiam.

Na Tabela 14 reportam-se os resultados para o câmbio de R$ 2,50. Agora a soja se destaca pela expansão da área mais rápida até 2011 (aproveitando-se das oportunidades de exportações em grão) sobre as pastagens; a partir de então a sua área se retrai e as pastagens se recuperam. O biodiesel chega ao valor de R$ 2.355/t em 2011 e R$ 2.490/t em 2017. Tabela 12. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Sul. (Taxa

Cambial :US$ 1=R$ 2,15). Base: 2003/06.

ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 SOJA(mil ha) 8900 5200 5300 5700 6500 8100 5900 6200 6700 7500 9200

GIRASSOL(mil ha) 89 0 53 57 65 81 0 62 67 75 92

BOVINOS CORTE(mil ha) 44100 50300 50100 49800 48900 47400 50000 50000 49500 48600 47000 CANA(mil ha) 457 620 620 620 620 620 900 900 900 900 900 MILHO VERAO (mil ha) 3500 950 950 950 950 950 0 0 0 0 0

MILHO INVERNO (mil ha) 1000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

AREA TOTAL(mil ha) 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 RLO CADEIA (R$bilhões) 14 20.2 20.4 20.8 21.6 23 31.4 31.7 32.2 33 34.4 RLT CADEIA(R$bilhões) -18.6 -8.8 -8.7 -8.5 -8.2 -7.7 -0.5 -0.3 -0.09 0.3 0.8

2011 2017

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 13. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Sul. (Taxa Cambial :US$ 1=R$ 1,80). Base: 2003/06.

ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 SOJA(mil ha) 8900 5000 5200 5700 6500 8000 5900 6100 6700 7500 9200

GIRASSOL(mil ha) 89 0 52 57 65 80 0 61 67 75 92

BOVINOS CORTE(mil ha) 44100 51150 51200 50700 50000 48500 50000 50000 49500 48600 47000 CANA(mil ha) 457 620 620 620 620 620 1000 1000 900 900 900 MILHO VERAO (mil ha) 3500 0 0 0 950 950 0 0 0 0 0

MILHO INVERNO (mil ha) 1000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

AREA TOTAL(mil ha) 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 RLO CADEIA (R$bilhões) 14 11.4 11.6 12.1 12.8 14.5 21.2 21.4 21.9 22.6 24.1 RLT CADEIA(R$bilhões) -18.6 -16.6 -16.5 -16.3 -16 -15.5 -10.7 -10.6 -10.4 -10.1 -9.5

2011 2017

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 14. Alocação da terra e resultados econômicos das cadeias produtivas – Sul. (Taxa Cambial :US$ 1=R$ 2,50). Base: 2003/06.

(16)

16 ATIVIDADES 2006

AGROPECUÁRIAS B0 B0 B2 B5 B10 B20 B0 B2 B5 B10 B20 SOJA(mil ha) 8900 10000 10000 10000 10000 10000 5900 6100 6700 7500 9200 GIRASSOL(mil ha) 89 100 100 100 100 100 59 61 67 75 92 BOVINOS CORTE(mil ha) 44100 45500 45500 45500 45500 45500 49300 49100 48600 47700 46000 CANA(mil ha) 457 620 620 620 620 620 900 900 900 900 900 MILHO VERAO (mil ha) 3500 950 950 950 950 950 900 900 900 900 900

MILHO INVERNO (mil ha) 1000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

AREA TOTAL(mil ha) 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 57025 RLO CADEIA (R$bilhões) 14 32 32.2 32.9 32.9 32.9 42 42.2 42.7 43.4 44.9 RLT CADEIA(R$bilhões) -18.6 0.5 0.6 0.7 0.9 1.2 9.2 9.3 9.5 9.8 10.4

2011 2017

Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 15 estão indicadas as composições do biodiesel em cada região e a diferentes taxas de câmbio. Em todos os casos, a soja é a principal matéria-prima.

As Figuras 3 e 4 resumem os resultados das taxas de retorno (TIR) financeiras – de 2007 a 2022 – para os conjuntos de cadeias produtivas sem produção de biodiesel e para o biodiesel B2 de forma incremental, respectivamente. Na Figura 3 estão os resultados para as atividades totais das cadeias sem o programa de biodiesel e supondo-se que os atuais investimentos existentes se dêem no período inicial. Nota-se a dependência forte das TIRs dos valores da taxa de câmbio. No Centro-Oeste e no Sul, a TIR é inferior ao custo de oportunidade do capital ao câmbio de R$ 1,80. Nesta última região continua o problema mesmo à taxa de R$ 2,15. O Sudeste é de longe a região mais rentável, suportando bem inclusive taxas cambiais relativamente baixas como as atuais. Uma possível hipótese para diferença de rentabilidade seria a cana, que, aliás, vai se espalhando Brasil afora. No Sul, a eficiência cairia devido à exploração de grãos e também bovinos em pequena escala, ao contrário do que se passa no Centro-Oeste.

Tabela 15. Composição ótima do biodiesel B2 por matéria-prima (%) – 2011. Base: 2003/06.

REGIÃO CULTURAS 1.8 2.15 2.5 SOJA 66 70 66 GIRASSOL 34 30 34 SOJA 80 80 80 ALGODÃO 14 14 14 GIRASSOL 6 6 6 SOJA 75 75 55 GIRASSOL 25 25 45 TAXA DE CÂMBIO CENTRO-OESTE SUDESTE SUL

(17)

17 8 10 2,5 13 20 5 18 26 14 0 5 10 15 20 25 30

CENTRO-OESTE SUDESTE SUL

1.8 2.15 2.5

Figura 3. Taxas internas de retorno financeiras (%) para as cadeias produtivas para B0 para diversas taxas de câmbio. Base: 2003/06.

Fonte: Dados da pesquisa

Na Figura 4 estão as TIRs financeiras apenas para B2. As TIRs são calculadas considerando somente os investimentos adicionais para a hipótese B2. Consideram-se também somente os incrementos em RLO em vista do B2. As TIRs são relativamente altas no Centro-Oeste a qualquer taxa de câmbio considerada; no Sudeste o projeto se viabilizaria somente com câmbio acima de R$ 2,15; no Sul somente a R$ 2,50. Mas não se deve perder de vista que nada significam se não se pressupuser que os demais investimentos analisados na figura anterior foram feitos! As TIRs para B2 são menores no Sudeste, porque aí são necessários investimentos relativamente grandes visando ao processamento de grãos, ao contrário das 2 outras regiões (onde a infra-estrutura para grãos já está desenvolvida). Entretanto no Sul, continua o problema da baixa rentabilidade dos grãos comparada ao Centro-Oeste. 20 1.25 2 14 13 3 25 10 14 -5 10 15 20 25 30 CO SE S 1.8 2.15 2.5

(18)

18

Figura 4. Taxas Internas de retorno para investimentos incrementais no biodiesel. Base: 2003/06.

Fonte: Dados da pesquisa

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo visou examinar as necessidades de investimento agrícola e industrial para o cumprimento das metas do programa do biodiesel, efetuar uma análise sobre a otimização das principais culturas nas principais macrorregiões produtoras de oleaginosas no Brasil, considerando o período de 2007 a 2017, e analisar a rentabilidade dos investimentos efetuados na agropecuária.

Para tal, foram consultados – com a finalidade de coletar dados que espelhassem o estado tecnológico e econômico das iniciativas implementadas ou em implementação – produtores agropecuários, agentes das várias cadeias produtivas que direta e indiretamente se envolvem com a produção do biodiesel, além de técnicos do setor público e privado. A análise se assenta sobre estudo mundial do FAPRI, que elaborou baselines, a partir das quais se pôde examinar impactos de programas nos muitos países envolvidos. O FAPRI em 2007 divulgou estudos com projeções de volumes e preços levando em conta os prováveis panoramas macroeconômicos e setoriais, com explicita consideração de juros, câmbio e PIB dos países, além de preços de petróleo e de commodities resultantes da implementação dos programas energéticos dos EUA, Brasil (inclusive as metas do biodiesel até 2012). Assim, no presente estudo vale-se dessas projeções até 2017 e verificam-se os ajustes dentro do agronegócio brasileiro compatíveis com as projeções mundiais e nacionais do FAPRI.

Duas técnicas analíticas foram empregadas no presente estudo. Por um lado, a Análise de Cadeia de Valor permitiu uma avaliação sistemática de custos – agrícolas, de armazenagem, esmagamento, processamento – decompostos em suas várias categorias, inclusive impostos e contribuições.

O método da Programação Linear também foi empregado de forma a maximizar a Receita Líquida Total (RLT) do conjunto de cadeias produtivas relacionadas (mas não necessariamente destinadas) ao biodiesel nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Para produtos e insumos foram considerados preços reais médios para o período de 2003/2006. O mesmo se deu com relação ao câmbio e juros. Quanto ao biodiesel, considerou-se em cada caso que seu preço seria aquele necessário para induzir a produção dos volumes estipulados no programa oficial. Esse preço pode evidentemente estar abaixo ou acima do custo de oportunidade dos recursos envolvidos. Assim, somente quando RLT maximizada não seja negativo, o conjunto de cadeias é viável financeiramente – remunerando inclusive o custo de oportunidade do capital. Como regra, foi constatado que a máxima RLT era negativa quando o câmbio considerado era de R$ 1,80 por dólar. À taxa de R$ 2,15 somente no Sudeste RLT é positiva (no Centro-Oeste, somente após 5 nos). A R$ 2,50, a RLT fica sempre positiva.

Calculou-se também a correspondente Receita Líquida Operacional (RLO), que exclui os custos de depreciação e reposição do capital. Fez-se, então, o cálculo da Taxa Interna de Retorno (TIR), ou seja, do retorno oferecido pelas cadeias produtivas em conjunto sem o programa e com B2. Sem o programa, à taxa cambial de R$ 1,80 as TIRs eram insuficientes (abaixo do custo de oportunidade do capital) no Centro-Oeste e no Sul. A R$ 2,15 apenas no Sul a TIR era ainda baixa. A R$ 2,50 no Sul também se torna rentável. No Sudeste a TIR foi satisfatória mesmo a câmbio de R$ 1,80. Concluiu-se que o conjunto de cadeias é financeiramente viável, outras coisas constantes, se o câmbio permanecer em torno ou acima de R$ 2,15 por dólar. Caso contrário, ele seria sustentável apenas no Sudeste.

(19)

19

Quanto à TIR para o programa em si (considerando-se apenas os incrementos de investimento, receitas e custos), ela indica boa viabilidade do programa no Centro-Oeste a qualquer taxa cambial considerada, que, entretanto, fica condicionada aos investimentos pouco rentáveis ao câmbio baixo (R$ 1,80) no conjunto das cadeias. No Sudeste há necessidade de câmbio de R$ 2,15 para cima. No Sul, o câmbio mínimo (entre os experimentados) seria R$ 2,50. Se levado a efeito o programa, o biodiesel teria como teria matérias primas: a) no Centro-Oeste: soja (70%) e girassol (30%); no Sudeste: soja (80%), algodão (14%) e girassol (6%); no Sul: soja (75%) e girassol (25%).

É necessário esclarecer que o fator determinante da expansão do agronegócio no Brasil é o investimento em infra-estrutura. O conjunto de cadeias produtivas (diretamente ou não ligadas ao biodiesel) do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, deve investir R$ 94 bilhões (média de R$ 19 bilhões/ano) até 2011 e mais R$ 111 bilhões (média de R$ 18,5 bilhões/ano) até 2017. O programa do biodiesel fundado em B2 demanda investimentos específicos R$ 3,1 bilhões (R$ 600 milhões/ano) até 2011, e mais cerca de R$ 12,5 bilhões para B5 a partir de 2011 (R$ 2,1 bilhões/ano). Não estão aí incluídos outros investimentos de uso mais geral, como infra-estrutura de transporte e energia. Os investimentos considerados, como mencionado, têm

TIRs consideradas boas exceto quando se consideram taxas baixas (R$ 1,80 ou menos por

dólar) de câmbio. Não se pode esquecer, no entanto, que o programa se implementado vai se somar ao restante do agronegócio brasileiro, que seguidamente necessita de renegociação de dívidas em decorrência das oscilações de mercado e ocorrências climáticas. Entretanto, neste estudo não se analisaram os riscos do empreendimento.

É preciso que fique clara a inseparável integração entre cadeias produtivas, cuja economicidade não pode ser analisada por cadeias individuais. Assim, no Centro-Oeste, quando se expande a soja para biodiesel, com ela cresce o milho e o girassol safrinha, cai área com pastagens para bovinos. No Sudeste, há em andamento uma forte expansão da cana, que, pela sua alta rentabilidade em 2006, dá robustez ao agronegócio da região, viabilizando a substituição de pastagens. Exceto no Centro-Oeste onde um papel coadjuvante cabe ao girassol e algodão, a grande fonte de biodiesel será a soja.

A preocupação que se antecipava – qual seja, a destinação da produção adicional em grandes quantidades de farelo – mostrou-se controlável. Na verdade, o Brasil é um grande exportador de soja em grão, que gera óleo e farelo em outros países. Com o programa do biodiesel, grande parte do grão, antes exportado, passaria a ser processada internamente, sem que haja aumento na disponibilidade global de farelo. Antecipando o aumento mundial da produção de farelo, o FAPRI projetou queda de seu preço de 14% até 2017, fato incorporado neste estudo. Em todos os casos, a produção nacional de farelo não excedeu as previsões do FAPRI. Foco de atenção deve ser o fato de que o Brasil terá de exportar quase que somente farelo, e não mais grão como atualmente, no caso da soja.

Outra preocupação decorria do impacto sobre o uso da terra. Em primeiro lugar não foi necessária ampliar a área já ocupada com estabelecimentos agropecuários atual; ou seja, o estudo analisou o programa mantendo a área em uso para as culturas analisadas – assim não há necessidade de qualquer avanço sobre a Amazônia. Segundo, foram mantidas as tendências de crescimento de óleo comestível e fibras através da expansão – via investimentos – nas facilidades de infra-estrutura necessária.

(20)

20

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (ANP) (2007). Dados estatísticos. Obtido em: <http://www.anp.gov.br/petro/ dados_estatisticos.asp>. Acesso em: Novembro 2007.

BARROS, G.S.A.C. et al. (2006). Análise comparativa de custos e preços do biodiesel em diversas regiões do Brasil: suporte à tomada de decisão e à formulação de políticas. CEPEA,ESALQ/USP.

BARROS, G.S.A.C.; OSAKI, M. (2007). Economicidade e sustentabilidade da agropecuária, CEPEA/CNA. (mimeo).

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). (2007). Central de

informações agropecuárias. Safras. Obtido em:

<http://www.conab.gov.br/conabweb/index.php?PAG=131>. Acesso em: Dezembro 2007. FOOD AND AGRICULTURAL POLICY RESEARCH INSTITUTE (FAPRI). (2007).

Outlook. Iowa State University. Obtido em: <http://www.fapri.iastate.edu/>. Acesso em:

Outubro, 2007.

GASQUES, J.G. et al. (2006). Produtividade e fontes de crescimento da agricultura brasileira. IPEA, Brasília, (mimeo).

GITTINGER, J.P. (1982). Economic analysis of agricultural projects. Economic Development Institute of the World Bank, 2nd Edition, Johns Hopkins University Press, Baltimore and London.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). (2007) Sidra. Obtido em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: Outubro, 2007.

KEYSER, J.C. (2006). Description of methodology and presentation of templates for value chain analysis. The World Bank. Environmental, Rural & Social Development Unit Africa Region. Washington DC.

MONKE, E.A.; PEARSON, S.R. (1989). The policy analysis matrix for agricultural development, Cornell University Press, Ithaca.

PORTER, M. (1985). Competitive Advantage. Free Press, New York.

REZENDE, G.C. (2007), Política Agrícola, Boletim de Conjuntura, n. 76, IPEA-DF.

WISNER, R.N. et al. (2002). Are large scale agricultural-sector economic models suitable

for forecasting. Iowa State University. Disponível em:

Referências

Documentos relacionados

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins &amp; Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

Os dados referentes aos sentimentos dos acadêmicos de enfermagem durante a realização do banho de leito, a preparação destes para a realização, a atribuição

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e

8- Bruno não percebeu (verbo perceber, no Pretérito Perfeito do Indicativo) o que ela queria (verbo querer, no Pretérito Imperfeito do Indicativo) dizer e, por isso, fez

A Sementinha dormia muito descansada com as suas filhas. Ela aguardava a sua longa viagem pelo mundo. Sempre quisera viajar como um bando de andorinhas. No

29 Table 3 – Ability of the Berg Balance Scale (BBS), Balance Evaluation Systems Test (BESTest), Mini-BESTest and Brief-BESTest 586. to identify fall

Este estudo tem por objetivo determinar até que ponto os acontecimentos da vida são entendidos como indutores de stress e os níveis de burnout e de satisfação com

After this matching phase, the displacements field between the two contours is simulated using the dynamic equilibrium equation that bal- ances the internal