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OBRAS DA COLEÇÃO DE ARTE DA PORTUGAL TELECOM CONTEMPORÂNEA

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Academic year: 2021

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OBRAS DA COLEÇÃO DE

ARTE

DA PORTUGAL TELECOM

CONTEMPORÂNEA

(2)

No Centro de Arte Contemporânea Graça Morais estarão em exposição obras dos seguintes artistas

Alice Geirinhas

Álvaro Lapa

Ana Vieira

Ângelo de Sousa

António Palolo

Augusto Alves da Silva

Cristina Lamas

Eduardo Batarda

Fernando Brito

Fernando Calhau

Gerardo Burmester

Helena Almeida

João Pedro Vale

João Tabarra

João Vieira

João Vilhena

Joaquim Bravo

Joaquim Rodrigo

Jorge Martins

Jorge Molder

Júlia Ventura

Lourdes Castro

Martinha Maia

Miguel Leal

Miguel Soares

Paulo Mendes

Pedro Cabral Santo

Pedro Portugal

Pedro Proença

Rita Barros

Rui Serra

Sancho Silva

Xana

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A Coleção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom, de que a Fundação PT é curadora, conta com cerca de 160 peças de autores portugueses cuja escolha foi orientada por critérios baseados na qualidade estética e representatividade histórica das obras e dos currículos dos artistas, com o objectivo de proporcio-nar uma visão abrangente e continuada da contemporaneidade plástica por-tuguesa.

Dos anos 60 até aos nossos dias, diversos são os autores que, através das mais variadas formas de expressão e multiplicidade de suportes, proporcionam uma visão abrangente da evolução da arte contemporânea, no nosso país.

Integrada numa política de itinerância adotada pela Fundação PT, que tem leva-do vários núcleos de obras da coleção a diferentes regiões leva-do país num total de oito exposições com cerca de 23.200 visitantes, esta mostra irá decorrer de 13 de Abril a 23 de Junho no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais. Nela vão ser expostas 45 obras, de 33 artistas, das quais 6 nunca foram exibidas pela FPT.

A Fundação Portugal Telecom agradece à Camara Municipal de Bragança esta parceria e a possibilidade que nos proporciona de, mais uma vez, podermos fazer chegar a um público mais vasto obras de artistas plásticos portugueses que têm marcado a arte contemporânea em Portugal.

Como escreveu Leonardo da Vinci, “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível”

José Carlos de Oliveira Baldino

Fundação Portugal Telecom Administrador Delegado

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Acolhemos com agrado, no centro de Arte Contemporânea Graça Morais, no seu núcleo de exposições temporárias, um conjunto significativo de obras de valiosa e diversificada coleção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom, mediante protocolo de cooperação estabelecido entre o Município de Bragan-ça e a Fundação PT, enquadrado na sua política de promoção cultural, via itinerância regional.

Trata-se de uma boa oportunidade para, durante três meses, os residentes na região e os turistas de várias nacionalidades que visitam Bragança, estes últimos por razões em que a motivação cultural tem predominância, poderem desfrutar de momentos que os aproxima da variada e elevada sensibilidade artística, num universo representativo de criatividade da arte contemporânea portuguesa no último meio século, período de grandes tensões sociais e políticas, de grandes transformações também na área cultural, que a visão artística foi interpretando de forma particularmente sensível.

No âmbito da responsabilidade social, a Portugal Telecom, ao garantir continui-dade e abrangência para a sua coleção, assegura apoio para a sua ativicontinui-dade artística, protege o património cultural e evidencia o serviço público que presta, tendo outras dimensões que não só a económica.

Diversas entidades privadas, algumas tiveram estatuto público, têm vindo a constituir boas e valiosas coleções de arte que cuidadamente preservam, en-quanto valor patrimonial e cultural e que prestam serviços de interesse geral se impõe, garantem aos cidadãos oportunidade de as poderem apreciar, de preferência em espaços públicos próprios e de forma descentralizada.

É esta visão de responsabilidade social que os dirigentes da Portugal Telecom assumem, agora com a presente exposição em Bragança, uma das cidades que no país mais evoluiu em termos culturais na última década, demonstrando que a descentralização cultural também é uma via para a coesão e o desenvolvimento. Reconhecemos e agradecemos a colaboração da Fundação PT.

António Jorge Nunes

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Alice Geirinhas

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45 OBRAS DA COLEÇÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA PORTUGAL TELECOM Jorge da Costa

Balizada entre os anos 60 e a atualidade e constituída por cerca de duas cente-nas de obras, a Coleção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom é repre-sentativa não só de uma polifonia autoral, mas também dos vários movimentos artísticos, escolas e poéticas que foram marcando e reconfigurando a arte con-temporânea portuguesa dos últimos anos.

A par da presença de autores consagrados, ligados aos movimentos artísticos das décadas de 1960 e 1970, cujo trabalho se cruzou, em alguns casos, com as estéticas então dominantes na cena artística internacional, é expressiva a rela-ção de obras associadas ao fluxo criativo dos artistas da gerarela-ção mais recente, representativa dos mais emergentes e promissores territórios autorais, alguns ainda em construção.

Constituída entre os anos de 1997 e 2004(1), a coleção, agrega ainda, numa car-tografia abrangente e plural, um conjunto muito particular de obras da década de 1980 - um período dinâmico, marcado pela popularidade das artes plásticas e pela emergência de um grande número de artistas - e também a profusão de novos temas, estilos e percursos autorais da década seguinte, paradigmática da notória viragem discursiva que então se operou.

O núcleo de obras que agora se apresenta deriva de uma criteriosa seleção, não só reveladora da pluralidade de trajetórias e opções plásticas dos artistas nela representados, mas também da diversidade de modos de operar, articulando-se criações de domínios tão distintos como os da pintura e da escultura, do desenho e da fotografia, do vídeo e da instalação.

Sem parâmetros cronológicos rígidos, pois, mais do que os vários movimen-tos, pretende-se o enfoque na individualidade de cada uma das obras, ainda que, nesta momentânea coexistência, algumas possam aparecer agrupadas a partir de movimentos estéticos com os quais surgem comummente conotados ou pelas soluções estéticas que preconizam, como acontece com o manifesto número de artistas que trabalham a fotografia ou recorrem, pela autorrepre-sentação, à performatividade do próprio corpo como instrumento direto ou suporte do ato criativo.

Álvaro Lapa

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Para além da componente visual, sobressai a derivação de obras de artistas que, deixando de estar presos à opticalidade, convocam, a partir de outros campos de possibilidades e de sentidos, uma forte carga sinestésica, reivindicada na ex-plícita contaminação que as obras realizam entre si no espaço arquitetónico. Exemplo disso são as resultantes de uma vertente mais experiencial e experi-mental, reconfiguradas por vezes a partir do cruzamento de géneros ou resul-tantes do recurso a dispositivos como o som, a palavra escrita ou falada, o movi-mento, a luz ou até mesmo aos mais inusitados materiais ou pouco usuais na tradição artística.

Pretexto para uma reflexão em torno das inúmeras questões que a arte do nosso tempo mantém em aberto, a presente exposição não deixará de preconizar e interpelar, num diálogo permeável e articulado, a experiência subjetiva do espectador, intercetada pela perceção das mais inesperadas experiências sen-soriais.

Integrada num programa de itinerâncias já realizadas em várias cidades do país, a mostra que agora se apresenta no CACGM, em Bragança, representa, até ao momento, o maior núcleo de obras da coleção, um total de 45, algumas exi-bidas pela primeira vez pela Fundação Portugal Telecom.

Adscreve-se ainda, no catálogo que a documenta, em jeito de roteiro, uma sumária exegese sobre as obras e cada um dos 33 artistas aqui representados, optando-se, neste caso, por seguir uma ordem cronológica geracional:

Com uma carreira artística iniciada tardiamente, Joaquim Rodrigo (Lisboa, 1912 - 1996), pintor autodidata, introduz, a partir da década de 60, uma forte componente neofigurativa na sua pintura, alicerçada em representações de forma propositadamente simples, sobre fundos uniformes, de que é exemplo a obra Sem Título, de 1962. Dispostas em esquemas que traduzem narrativas indecifráveis, onde o contexto político e social se mistura com as memórias pes-soais, o seu vocabulário pictórico, muito próximo do signo puro, passa a obe-decer a regras próprias como o recurso a uma paleta de cores muito reduzida. As duas obras de Lourdes Castro, (Funchal, 1930) expressivas do trabalho que realiza no início da década de 1960, sublinham, numa aproximação aos princípios da assemblage (contextualizados pelo Novo Realismo), a condição supérflua dos objetos de uso quotidiano, que agrupa arbitrariamente para de-pois diluir e dissimular a partir do recurso à uniformização através da coloração

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Ângelo de Sousa

Cruz vermelha 4, 1998 | Acrílico s/ tela | 90x90 cm

Ângelo de Sousa

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António Palolo

Sem título, 1997-1998 | acrílico / tela | 194x162 cm

Ao mesmo tempo desmaterializa-os, evocando-os a partir da projeção da sua sombra, matéria de eleição no seu trabalho, retendo deles apenas a imagem aurática e essencial da sua condição de objeto.

Artistas como Helena Almeida, (Lisboa, 1934) que rompem a partir dos anos 70 com os métodos e disciplinas tradicionais e lidam com os grandes movimentos artísticos internacionais, adota a fotografia como medium privilegiado da sua obra, com o qual cruza outras áreas de expressão. Estudo para um enriqueci-mento interior, de 1977-1988, é paradigmático do trabalho da artista, série que tem por base uma sucessão de movimentos performativos em que utiliza o próprio corpo como elemento de mediação, que dissimula ou oculta através de uma mancha de cor azul que insinua movimento e sequencialidade.

Com um trabalho particularmente intenso na área do desenho, Joaquim Bravo (Évora, 1935 – 1990, Lagos) sente a necessidade de o transferir para a tela. Os traços rápidos e bruscos, de composição ligeiramente abstrata, e a dinâmica do gesto, são, a par das suas referências da vanguarda internacional, matriz regula-dora do seu trabalho. No início da década de 1980, de que são modelo as duas obras em exposição, a pintura de Joaquim Bravo assume a consolidação do seu vocabulário pessoal, mais intuitivo e poético, reivindicando a essencialidade co-municativa, sem metáforas nem narrativas.

Os caracteres que titulam as obras PTGL e TLCM, ambas da série Alfabeto Latino e Grego que João Vieira (Vidago, 1936 – 2009, Lisboa) apresentara em 2000, são, como o corpo, o objeto dos exercícios picturais em torno dos quais desenvolveu uma carreira com mais de cinco décadas. A partir das mais diversas representa-ções pictóricas e matéricas, chegando a converter as letras em protagonistas de ações performativas, João Vieira recorreu também ao plexiglas colorido para uma série de trabalhos onde os carateres, sem perderem o seu pendor de signo linguístico, se transformam simultaneamente em matéria pictórica.

A literatura e a filosofia são presenças fortes no trabalho de Álvaro Lapa (Évora, 1939 - 2006, Porto). A obra Que horas são que horas, de 1975, uma das séries apresentadas nesse mesmo ano na galeria Buchholz, em Lisboa, organiza-se a partir de um complexo sistema de signos e formas, onde a pintura e a escrita se coligam para dar corpo a campos tão ininteligíveis como secretos e particulares, elementos estruturantes de uma obra de forte pendor autobiográfico.

Jorge Martins (Lisboa, 1940) desenvolve continuamente a sua obra, num cru-zamento entre as disciplinas do desenho e da pintura, em torno das possibi-lidades da representação da luz; elemento que usa não só como meio para a perceção das formas, mas ele próprio tornado objeto de representação.

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Cristina Lamas

Sem título, 2004 | Esferográfica sobre papel | 100x70 cm

Maioritariamente inscritos numa dimensão abstrata, especialmente a partir da década de 1980, os desenhos são também reveladores da apropriação de incontáveis referentes do quotidiano, ou da reinvenção de espaços, quase sempre pautados por efeitos ilusórios que resultam dessa virtuosa manipula-ção da luz.

A mistura e a diversidade de géneros, perentória no trabalho de Ana Vieira, (Coimbra, 1940) nomeadamente nas suas instalações, reflete-se em Pronomes, um projeto de índole cenográfico de 2001, que se dispersa a partir de vários ob-jetos, neste caso 11 capotes negros tradicionais de S. Miguel, ilha onde cresceu, e da incorporação de dispositivos sonoros. Herdeira de linguagens artísticas como o esvaziamento e a desmaterialização da imagem dos objetos ou figuras tão presente em Lourdes Castro, o seu trabalho acompanhou sempre de perto os novos paradigmas internacionais dos finais da década de 1960.

Tendo abandonado a partir dos anos 80 o trabalho em aguarela e as figurações explícitas de densa narratividade e humor corrosivo, próximos da banda desenhada e de notória influência da Pop inglesa, Eduardo Batarda (Coimbra, 1943) re-toma o trabalho a partir do acrílico, onde dominam a profusão de linhas hori-zontais, verticais e elípticas. As obras GK e Majora, ambas de 2004, correspon-dem a uma nova fase criativa de Batarda, cujas linhas se estencorrespon-dem a manchas abstratas e de onde sobressai, a partir do recurso a duas cores uniformes, a clara distinção entre fundo e forma.

Vinculado a questões de autorrepresentação e da fotografia a preto e branco é também o trabalho de Jorge Molder, (Lisboa, 1947) aqui representado por uma obra de 1995, da série Inox. O artista constrói e equaciona a partir do re-curso ao próprio corpo ou rosto, figuras ficcionadas, por vezes de aparência es-pectral, que, pela teia de relações que convocam e pela seriação, lhe conferem um cariz cinematográfico, mas que declinam qualquer estrutura narrativa. Próximos do conceptualismo e do pós-minimalismo são os trabalhos de Fernando Calhau (Lisboa, 1948 – 2002) onde, para além da fotografia, o de-senho e o vídeo, explorou suportes muito variados como o néon, o acrílico e a chapa de ferro, dispositivos a quem sempre agregou a seriação monocromática e uma grande depuração formal, de que são exemplo as obras #49, de 1991 e #50, de 1988, aqui apresentadas.

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Augusto Alves da Silva

Série abrigo, 1999 | Ilfochrome (1/5) | 41 x 50 cm

Augusto Alves da Silva

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Eduardo Batarda

GK, 2004 | acrílico / papel | 40x30 cm

Eduardo Batarda

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Fernando Brito

CF12, 1988/97 | Fórmica contraplacado | 100x100x2,5 cm

Fernando Brito

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Fernando Brito

Bycicle wheel remade, 2001 | alumínio sobre suporte de madeira | 150x57x32 cm

Fernando Brito

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Fernando Calhau

#50, 1988 | Acrilico s/ tela e aço | 51x200 cm

Fernando Calhau

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Gerardo Burmester

Sem título, 1991-1999 | madeira e couro | 60x60x10 cm

Júlia Ventura (Lisboa, 1952) é também uma artista que, a par da pintura, orga-niza a sua obra a partir da seriação metódica de fotografias e da autorrepresen-tação. A teatralidade que infere a cada imagem, como se de pequenas ficções se tratasse, representando estados de espírito, impede, por outro lado, o espectador de acreditar na ingenuidade das emoções que regista. Às fotografias do seu rosto integra elementos como rosas, estereótipos do amor e do feminino, como na obra da série Geometrical reconstructions and figures with roses, de 1987. A obra de Gerardo Burmester (Porto, 1953), artista que faz uso de linguagens tão diversas como a performance, a pintura, a escultura, o desenho e a instalação, dá corpo à sensual utilização de materiais como o couro laminado e a madeira. Num claro exercício de sedução e utopia, as suas pinturas assumem a dimensão de “objetos-quadro”, cuja presença explícita da moldura lhe intensifica

esse estatuto, aparentando-os, de algum modo, com a condição doméstica de mobiliário luxuoso.

O trabalho, Sem Título, 1997/98, de António Palolo (Évora, 1956 – 2000, Lis-boa), artista que desenvolveu a sua obra em consonância com as estéticas então dominantes no contexto artístico internacional - nomeadamente a Pop Art, o informalismo, o hard-edge ou a arte conceptual - corresponde ao período em que, tendo abandonado a figuração, produzia campos de cor a partir da utilização de bandas de rigorosa definição geométrica.

Rita Barros (Lisboa, 1957) trabalha e vive há cerca de 30 anos em Nova Iorque no famoso Hotel Chelsea, um lugar de referência, de passagem e de criação de algumas das obras mais conhecidas de grandes nomes da cultura internacional, entre eles Andy Warhol que aí realizou o seu primeiro filme experimental, Chelsea Girls, primeiro grande sucesso deste artista Pop e uma referência do cinema experimental. O hotel foi vendido e entrou em obras em 2001, mas Rita Barros, como muitos artistas, continuaram a habitar o espaço, resultando daí o seu trabalho fotográfico Dispplacement2, de que fazem parte o Autorretrato: fifteen years; Chelsea Hotel, de 2000.

Com uma criação artística muito diversificada, erigida a partir de meios tão di-versos como a pintura, o desenho, a banda desenhada, o vídeo e a escultura, Fernando Brito (Pampilhosa da Serra, 1957) tem-se arredado, por vontade própria, dos circuitos expositivos nacionais. Aqui representado por quatro obras, entre elas Bicycle Well Remade, de 2001, consentânea do primeiro ready-made de Marcel Duchamp, e do diálogo que o artista matinha com as vanguardas do século XX, a que introduz, simultaneamente, elementos de irrisão.

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Helena Almeida

Estudo para um enriquecimento interior, 1977-1978 | 6 fotografias PB e acrílico | 52x42 cm cada

Agindo a partir da máxima simplificação das formas, as duas pinturas de Ângelo de Sousa, (Maputo, 1958 - 2011, Porto) ambas de 1998, atestam a progressiva libertação da representação figural que marcou o seu trabalho da década de 1960, construindo a partir de linhas, geometrizadas e subtis que se cruzam, a projeção volumétrica dos planos. Numa aparente monocromia, mas repleta de nuances cromáticas, e na máxima depuração formal, as suas telas denunciam, a par da serialidade e da repetição, o crescente caráter minimal que pautou a sua obra.

Com uma linguagem plástica de acentuado cromatismo, no trabalho de Xana (Lisboa, 1959) cruzam-se a pintura, o objeto e a instalação. Como em Lar doce lar - no quarto 2, uma obra de 1994, da exposição com o mesmo título que realiza no Centro Cultural de Belém, a sua pintura, onde importa a ilusão das formas, assume, por vezes, a dimensão de pintura-escultura, evocada a partir de estruturas tendencialmente padronizadas e recortadas, que, não obstante, sendo aparentemente abstrata, radica grandemente no real.

A figuração metamórfica e ornamental do talentoso desenho de Pedro

Proença (Angola, 1962) é construída ao sabor da imaginação, em narrativas non-sense. Da mistura de elementos, por vezes de pendor barroco, sejam for-mas humanas, vegetais e animais, Pedro Proença faz nascer depois outras que desdobra, fragmenta e expande em várias direções, conferindo-lhes múltiplas possibilidades de leitura.

Associados a “um forte sentido lúdico da provocação e uma clara intenção de comentário irónico à atualidade artística”,(2) estão os Explicadismos de Pedro Portugal (Castelo Branco, 1963), obras que patenteiam o sistema de referenci-ais citados da banda desenhada, realizados a partir do recurso a um minucioso trabalho de composição, com os quais explicita os seus comentários críticos de pendor social, artístico e político; temas que estende a outras áreas da sua multifacetada obra.

As duas paisagens naturais da série Abrigo, de 1999, de Augusto Alves da Silva (Lisboa, 1963) assemelham-se num primeiro olhar a meros “postais ilustrados” de uma qualquer paisagem de inverno, silenciosa, isenta de presença humana, que parecem resultar de um simples disparo automático. Mas o aturado rigor técnico, o cuidado tratamento da luz e o enquadramento dos planos contrariam de imediato essa primeira impressão sobre o trabalho de um dos mais impor-tantes artistas portugueses da década de 1990. No seu trabalho fotográfico, prin-cipal meio, mas não único, onde aborda mais diversos temas, sempre numa linha soci-ológica, o excecional não surge de imediato, tem de ser demoradamente procurado.

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João Pedro Vale

Please don’t go!, 1999 | 5000 pastilhas elásticas com aroma de morango sobre alcatifa | 230x230 cm

Alice Geirinhas (Évora, 1964) tem-se dedicado de modo muito particular à ilustração. Com uma linguagem gráfica muito peculiar, Geirinhas tem vindo a arquitetar a sua obra a partir de um amplo retrato sociológico do nosso país, refletindo sobre temas tão diversos como o papel da mulher, a família, sociedade ou mesmo da esfera política e cultural, incutindo-lhe por vezes a sátira e o hu-mor, como em Maria do Carmo, de 1999, um peculiar e caricato retrato sobre a emigração portuguesa das décadas de 60 e 70.

Tendo trabalhado anteriormente como repórter fotográfico e na primeira fase da sua carreira artística em dupla com João Louro, João Tabarra (Lisboa, 1966) utiliza a fotografia como instrumento predominante da sua obra criativa. O seu percurso a solo inicia-se precisamente com obras como João Ponte Diniz “pilha elétrica”, campeão de mínimos amadores boxe, 1943 e sting, de 1993-1994, onde, com um humor e uma ironia muito peculiares, constrói, a partir do plano social, encenações ambíguas e até desajustadas, cruzando o realismo fotográ-fico com cenários idílicos e irreais, capazes de estabelecer uma ligação entre o plano estético da arte e a condição humana.

Na série de fotografias L`Art de Vivre (portrait), / ken c`est moi, Barbie c`est moi, Action man c`est moi, de 1997/98, Paulo Mendes (Lisboa, 1966)) mascara-se de brinquedo de plástico, simulando figuras como a do Ken, a Barbie e o Action Man, estereótipos de beleza e de outros ideais americanos, que veio a utilizar em vários projetos artísticos. Como um ator, veste a figura desses brinquedos ou das várias personagens que os próprios assumem, como a do soldado da ONU, com o intuito de criticar a ascendência que esses objetos, aparentemente inocentes, protagonizam na atual sociedade de consumo.

A instalação sonora de Miguel Leal (Porto, 1967) Words that are strictly true seem to be paradoxical (remix), de 2001, resultante da reinterpretação e remis-tura de materiais utilizados numa peça anterior, reivindica não só uma relação com espaço, mas também o envolvimento físico do espectador. Oito calotes de acrílico colorido e sonorizados, suspensos do teto, projetam, a partir de 16 altifalantes, a conversa entre um homem (Bruce) e uma mulher (Victoria); um diálogo baseado em textos clássicos do taoismo, sobre o “elogio da aleatoriedade e o desejo da contradição”. Os mais diversos dispositivos tecnológicos que vêm regendo e mediando, desde o início dos anos 90, o trabalho de Miguel Leal, reforçam este contínuo questionamento ente a relação da Arte e os processos sociais que, hoje, lhe dão visibilidade.

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João Tabarra

João Ponte Diniz “pilha eléctrica” campeão de mínimos amadores boxe, 1943 e Sting, 1993-1994 | fotografia a cores (tiragem única) | 4 módulos 174x53 cm | 2 módulos 174x103 cm

O trabalho de Cristina Lamas (Lisboa, 1968) tem-se desenvolvido ao longo de vários anos em torno das potencialidades do desenho. O intricado de linhas com que constrói, a esferográfica, a obra Sem título, de 2004, traduzida em sucessivos planos de grelhas de distintas cores, reflete o rigor sistemático do fazer. Alimentado por incontáveis fontes, dos filmes às viagens, os desenhos de Cristina Lamas são concebidos a partir de um moroso e obsessivo trabalho de artífice, onde sobressai a questão do detalhe.

A atividade artística de Pedro Cabral Santo (Lisboa, 1968) abrange as áreas da escultura, da instalação e do vídeo, estabelecendo entre elas as mais diversas relações e combinações de meios técnicos, de modo a possibilitar que cada trabalho possa convocar múltiplas leituras, imprimindo-lhe, por vezes, uma forte componente crítica e de questionamento dos valores políticos e sociais da nossa contemporaneidade, como o poder e a identidade. A partir da obra Deep Blue, de 1999, Pedro Cabral Santo personifica no lápis de luz, de cor azul, a metáfora, sem rosto, mas precisa, que foi a censura à liberdade do Estado Novo. O percurso pictórico de Rui Serra (Elvas, 1970) é vincado por temas sobre a realidade política dos nossos dias, abordando questões como a guerra à escala da globalização ou as diversas formas de violência, utilizando técnicas de representação originárias do graffiti e das imagens reproduzidas pelos meios de comunicação social. Em obras como o díptico XIº Mandamento – admitir sempre o erro, de 1996, da série Dez Novos Mandamentos Visuais, Rui Serra retrata uma catástrofe nuclear a partir da simultânea citação da obra do pintor norte-americano Barnet Newman Who’s Afraid of Red, Yellow and Blue III. Vencedor do prémio BES Photo, em 2007, o trabalho de Miguel Soares (Braga, 1970) radica em zonas tão diversas como o design, a videoarte, a instalação multimédia, a animação a 3D, a manipulação de jogos de computador ou a música eletrónica. A sua obra revela, por isso, um grande fascínio pelas inova-ções tecnológicas, a ficção científica ou as utopias futuristas. A fotografia surge na sua prática discursiva essencialmente como prolongamento dos vídeos de animação digital, meio através do qual apropria, cristaliza e manipula as paisagens virtuais ou pormenores dos seus filmes.

Licenciado em Matemática Pura, em Dublin, Sancho Silva (Lisboa, 1973) é um dos artistas da nova geração que abordam a questão da problematização da perceção do espaço a partir de um lugar e de distintos pontos de vista, recor-rendo à utilização dos mais variados dispositivos, como periscópios ou monu-mentais estruturas que transformam o espaço e desafiam o espetador a expe-rienciar.

(20)

A ação do espectador é igualmente convocada pela obra Um anjo suburbano que subsiste como um paradoxo, de 1997, cuja aproximação ativará um disposi-tivo de movimento, que fará depois a arquitetura vibrar.

Martinha Maia (São Mamede do Coronado, 1976) faz particular uso do de-senho, onde intensifica o negro através de sucessivas camadas para atingir a máxima profundidade, propondo um diálogo/confronto entre planos de vazio e a saturação. Mas Martinha Maia trabalha outras linguagens como a perfor-mance, de que é exemplo a obra Fato, utilizado em setembro de 2004 na série de ações performativas que realiza na Galeria Municipal da Mitra, aqui docu-mentada através de um vídeo.

Capaz de provocar um forte apelo sensorial, a obra de João Pedro Vale (Lisboa, 1976) Please, don`t Go!, de 1999, cujo título se inscreve em alto-relevo na própria peça, é também paradigmática do trabalho de acentuada matriz escultórica que vem desenvolvendo. A par do recurso a signos e objetos do quotidiano ou a materiais insólitos e inesperados, como é o tapete concebido a partir de 5.000 pastilhas elásticas com aroma de morango, João Pedro Vale explora também a relação entre o objeto e o texto, integrando-lhe frases curtas e simples que não só interpelam diretamente o espectador, como conferem, como armadilhas, outras significações que se furtam à fisicalidade da obra.

A par da prática de uma pintura reducionista, a obra de João Vilhena (Lisboa, 1978) desenvolve-se a partir da fotografia, onde as referências à cultura literária e ao universo cinematográfico são uma constante.

Partindo de fotografias tratadas digitalmente, Vilhena apropria-se de frammes de filmes e séries americanas, procurando importar para os dias de hoje cenas da “vida quase perfeita”. A obra Untitled JV, de 2002, ano em que realiza a sua 1ª exposição individual, centra-se num outro universo do seu trabalho: a represen-tação de si mesmo em registos de encenação e teatralização.

(1) - As obras que integram a Coleção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom foram selecio-nadas por Marina Bairrão Ruivo e Pedro Portugal entre 1997 e 2004.

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João Vieira

TLCM, 1999 | elementos recortados em vidro acrílico | 80x80 cm

João Vieira

(22)

Joaquim Rodrigo

Sem título, 1962 | óleo / tela | 73x92 cm

João Vilhena

(23)

Joaquim Bravo

Sem título., 1980/1990 | Acrílico s/ papel | 50x70 cm

Joaquim Bravo

(24)

Jorge Molder

Sem título - série INOX (refª JMO12), 1995 | fotografia PB 3/3 | 102x102 cm

Jorge Martins

(25)

Martinha Maia

Fato, 2004 | REF: M.M. 08/10-04

Júlia Ventura

(26)

Lourdes Castro

Figuras, objetos, fundo prateado, 1963 | tinta / platex | 44x60 cm

Lourdes Castro

(27)

Miguel Soares

Sem título (M)/(Mansion)/(Psi)/(QW)/(HG), 1998 | 5 caixas de luz em alumínio | 30x42x15 cm

Miguel Leal

Words that are stricty true seen to be paradoxical (remix), 2001 | 8 caixas em plexiglas colorido, 16 colunas de som, ferro roscado e 4CDs áudio, loop sonoro total 4, 33

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Pedro Cabral Santo

Deep Blue, 1999 | materiais diversos | dimensões variáveis

Paulo Mendes

L’Arte de Vivre (portrait), / ken c’est moi, Barbie c’est moi, Action man c’est moi, 1997/98 | Fotografia a cores, 12 partes, 4 fotos cada personagem | 39,5x29,5 cm cada

(29)

Pedro Portugal

Explicadismo 3, 2004 | Acrílico e tinta-da-china s/ papel | 62x75 cm

Pedro Portugal

(30)

Pedro Proença

Unacceptable Truth, 1994 | tinta da china / papel | 150x100 cm

Pedro Proença

(31)

Rui Serra

XIº Mandamento – admitir sempre o erro, 1996 | Acrílico s/ tela | 195x420 cm

Rita Barros

(32)

Xana

Lar doce lar – no quarto 2, 1994 | Acrílico, MDF | 183x275x4 cm

Sancho Silva

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Agradecimentos

As pastilhas elásticas de sabor a morango que integram a obra

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Ficha técnica da exposição

Comissário

Jorge da Costa I CACGM

Curadoria e gestão da Coleção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom

Mónica Constantino | FPT

Coordenação e Produção

Jorge da Costa I CACGM Mónica Constantino | FPT

Serviço Educativo

Cláudia Pinto I Susana Pires | Carlos Martins I CACGM

Montagem

Paulo Ferreira I José Araújo I CMB

Design Gráfico

Direção de Comunicação e Imagem Corporativa da Portugal Telecom

Imagem da capa

Exposição “Muros de Abrigo” Crédito fotográfico Paulo Costa.

Tiragem

500 Exemplares

Edição

Câmara Municipal de Bragança Fundação Portugal Telecom, 2013

ISBN

978-989-8344-21-2

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