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Conclui que deve ser dado provimento ao recurso, revogando-se o despacho recorrido.

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Cópias da sentença do 17." Juízo Cível da Comarca de Lisboa e do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferidos no processo de registo de marca nacional n." 248 946.

S. C. Johnson & Son, Inc., com sede nos Estados Uni- dos da América, veio interpor o presente recurso do des- pacho do Ex.mo Sr. Director do Serviço de Marcas do Ins- tituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) de 31 de

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Janeiro de 1994, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 1/94, de 29 de Julho, que deferiu o registo da marca mista n.° 248 946, Fort, requerido pela socieda- de F. Lima & C.ª, Suc., L.da

Alegou, em resumo, que:

A marca a que o despacho recorrido concedeu o registo confunde-se com a marca da recorrente n.° 164 701, Forza, anteriormente registada e des- tinada a assinalar produtos iguais ou semelhantes; As duas marcas têm sensivelmente o mesmo núme- ro de letras, lêem-se ambas como se fossem for- madas por duas sílabas, têm o acento tónico lo- calizado na primeira sílaba, que é dominante, e apresentam evidente semelhança de conjunto; Existe também evidente semelhança figurativa entre

ambas;

Com efeito, além de serem representadas por letras com desenho de marcada semelhança, a marca da recorrida inclui a representação de um raio, que figura nas embalagens dos produtos da recor- rente;

Este símbolo, que visa sugerir a ideia de força, de eficácia, contribui poderosamente para a confusão entre os dois sinais;

O consumidor dos produtos da recorrente seria fa- cilmente induzido em erro quando, no atropelo de um supermercado, pretendesse comprar esses pro- dutos e encontrasse os produtos assinalados com a marca a que o despacho recorrido concedeu o registo;

Os produtos de limpeza da recorrente contam-se entre os mais antigos e conhecidos no mercado, para o que contribuiu não só a qualidade e regularidade desses produtos como a confiança que a recorrente conquistou por parte dos consumidores no decur- so dos seus já longos anos de presença no mer- cado;

Conclui que deve ser dado provimento ao recurso, revogando-se o despacho recorrido.

Foi dado cumprimento ao disposto no artigo 206.° do Código da Propriedade Industrial (CPI).

A Direcção do Serviço de Marcas respondeu nos ter- mos constantes de fl. 62 a fl. 63 dizendo, em síntese, que: As figuras em causa, com as expressões que man- têm, parecem evidenciar um aproveitamento da marca da recorrente, o que se traduz em concor- rência desleal;

A confirmação do registo da marca objecto do re- curso, com o seu significado e expressão, tem potencialidade para provocar confusão e a sua qualificação como marca que imita a marca da recorrente.

Notificada, a requerente do registo da marca n.° 248 946, Fort, veio dizer, em síntese, que:

A recorrente alega, mas não prova, ser titular da marca de registo nacional n.° 164 701, Forza, o que lhe retira legitimidade para o recurso; A marca de que a recorrente diz ser titular é uma

marca simples de carácter meramente gráfico, ao passo que aquela de cujo deferimento se recorre é uma marca mista composta de elementos gráfi- cos e também de um elemento figurativo de ca- rácter marcadamente distintivo;

Distinguindo-se ambas quer do ponto de vista foné- tico quer figurativo. são inconfundíveis, sendo irrelevante o tipo de produtos a que se destinam; O uso e a inclusão pela recorrente dos dizeres «Forza» na marca de que diz ser titular, integrada em embalagens e rótulos com o aspecto gráfico a que alude, em particular com o desenho de um raio, para além de constituir um desvirtuamento da própria marca, que, sendo meramente nominativa, passou a incluir na sua apresentação e rotulagem o desenho de um raio, nada tem a ver com a protecção legal que o direito ao uso da marca confere;

O rótulo, na configuração que a recorrente invoca, ou seja, com uma configuração contendo um raio, reveste características de obra artística e, enquan- to tal, só merece tutela legal se objecto de registo próprio;

Registo esse que a recorrida requereu em 31 de Março de 1989 à Direcção de Serviços do Direi- to de Autor e lhe foi concedido por despacho de 30 de Maio de 1989;

Por isso, cabe em exclusivo à recorrida o direito ao uso de um rótulo com a referida configuração; Assim, embora não faça sentido invocar qualquer

pretensa concorrência desleal por as marcas em confronto serem direrentes, a existir, sempre seria de sentido inverso ao pretendido pela recorrente, pois será a recorrente que. fazendo uso indevido e abusivo da sua marca por lhe associar um ele- mento figurativo que a não integra, está a criar uma eventual confusão dos seus produtos com os da recorrida;

De qualquer forma esse perigo hipotético não advém das marcas em si mesmas consideradas, as quais são inconfundíveis;

Conclui que o despacho recorrido é claramente con- forme à lei e como tal deve ser mantido. Tudo visto, cumpre apreciar e decidir.

O tribunal é o competente em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia.

O processo é o próprio e não enferma de nulidades. As partes são dotadas de personalidade e têm capaci- dade judiciária, sendo legítimas.

A recorrida deduziu a excepção da ilegitimidade da recorrente, alegando que esta não demonstrou ser a titular da marca que invoca.

Porém, notificada a recorrente, veio juntar certidão comprovativa de que é a actual titular da marca nacional n.° 164 701, Forza, invocada como obstativa ao registo concedido pelo despacho recorrido.

Julgo, pois, improcedente a deduzida ilegitimidade. Inexistem outras excepções ou questões prévias de que cumpra conhecer.

Face aos elementos juntos pelas partes e aos elementos constantes do processo n.° 248 946 da Direcção do Servi- ço de Marcas do INPI, apuram-se os seguintes factos, com interesse para a decisão:

1) Em 20 de Julho de 1988 F. Lima & C.ª, Suc., L.da, requereu ao Ex.mo Sr. Director do Serviço de Marcas do INPI o pedido de registo da marca n.° 248 946, Fort, com a expressão gráfica e fi- gurativa que se vê a fl. 3, destinada a assinalar os seguintes produtos da classe 3.ª: detergentes; lixívias; abrasivos; produtos de limpeza;

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2) S. C. Johnson & Son, Inc., apresentou reclama- ção defendendo a recusa do registo, com funda- mento em alegada confusão com a marca n.° 164701, Forza, registada desde 7 de Novem- bro de 1972, destinada a assinalar: preparados para limpeza de fornos; preparados para limpeza de casas de banho e de sanitários; preparados para limpeza de soalhos, e preparados para polir; 3) Os serviços técnicos da Direcção do Serviço de

Marcas do INPI emitiram, em 31 de Janeiro de 1994, parecer com o seguinte teor: «Do ponto de vista fonético, as marcas são inconfundíveis. Acresce ainda que a marca registanda tem um aspecto figurativo próprio, o que lhe confere distintibilidade da marca oponente. Assim sendo, sou de parecer que se desatenda a reclamação apresentada e se defira o presente pedido do re- gisto.»;

4) Na mesma data o Sr. Director do Serviço de Marcas proferiu o despacho seguinte: «Concordo e defiro.»;

5) O referido despacho foi publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 1/94, de 29 de Julho: 6) A recorrente é titular da marca nacional n.° 164 701, Forza, destinada a assinalar os seguin- tes produtos: preparados para limpeza de fornos; preparados para limpeza de casas de banho e de sanitários; preparados para limpeza de soalhos, e preparados para polir;

7) Nas embalagens dos seus produtos a recorrente utiliza a palavra «Forza» com o desenho de um raio, como se vê a fl. 6;

8) Em 17 de Março de 1989 a recorrida F. Lima & c.ª, Sue., L.da, requereu à Direcção de Serviços do Direito de Autor o registo de uma obra artística intitulada Fort Gel, consistente num rótulo, reproduzida a fl. 71, tendo o pedido de tal registo sido deferido por despacho de 30 de Maio de

1989.

Face aos factos apurados, cumpre aplicar o direito. A marca é um sinal ou conjunto de sinais nominativos, figurativos ou emblemáticos que servem para identificar os produtos propostos ao consumidor, tendo, portanto, por função distinguir produtos ou até serviços (artigo 79.° do CPI em vigor à data do despacho recorrido).

Uma marca nascente deve ser nova, no sentido de que não deve ser igual ou parecida com outra já registada para produtos iguais ou afins, ou seja, a marca deve ter eficá- cia distintiva de qualquer outra já existente ou adoptada por qualquer outro comerciante ou industrial destinada aos seus produtos, em ordem a evitar a confusão do consumi- dor.

Se for igual a outra (totalmente), existe contrafacção; se for semelhante (sinais parcialmente idênticos), configu- ra-se a imitação.

Assim, a imitação resulta do confronto dos respectivos elementos distintivos: concluindo-se pela identidade sus- ceptível de levar o consumidor médio à confusão, no âmbito do mesmo produto ou de produtos semelhantes, há imitação.

Nos termos do artigo 93.°, n.° 12.°, do CPI, será recu- sado o registo das marcas que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenham reprodução ou imitação, total

ou parcial, de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado.

O conceito de imitação ou usurpação de' marca vem explicitado no artigo 94.° do mesmo diploma legal, segun- do o qual se considera imitada ou usurpada, no todo ou em parte, a marca destinada a objectos ou produtos ins- critos no reportório sob o mesmo número ou sob núme- ros diferentes, mas de afinidade manifesta, que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois do exame atento ou confronto.

Decorre dos citados preceitos legais que para existir imitação de uma marca por outra mais recente é necessá- rio que, cumulativamente, se verifiquem os seguintes re- quisitos:

Destino das marcas ao mesmo produto ou produtos afins;

Existência entre as marcas de semelhança gráfica, fonética ou figurativa;

Possibilidade de o consumidor poder ser induzido em erro, necessitando do seu confronto ou exame para que as possa distinguir.

Importa assim averiguar se entre os sinais que compõem as duas marcas em confronto há a apontada semelhança, nos moldes que seja susceptível de induzir facilmente em erro o consumidor dos produtos que ambas se destinam a assinalar, no caso de não estar na presença simultânea das duas marcas.

Para julgar da possibilidade de confusão é preciso to- mar como termo de comparação o consumidor médio, entendido como o conjunto das pessoas a que o produto interessa no mercado, o não perito ou especializado, con- forme orientação constante do Supremo Tribunal de Justi- ça - V. Acórdão de 23 de Julho de 1980, publicado no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 299, p. 345, e res- pectiva anotação.

É a confusão ou erro do consumidor, e não o de peri- tos, que se pretende evitar - v. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 18 de Novembro de 1975, publica- do no Boletim do Ministério da Justiça. n.° 251, p. 187.

Por outro lado, aquilo que cumpre ter em atenção para estabelecer a semelhança entre duas marcas não são por- menores isolados de cada uma delas. Há que atender, es- pecialmente, ao conjunto, pois este é que, como é natural, impressiona e chama a atenção do consumidor e o pode induzir em erro - v. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 13 de Fevereiro de 1970, publicado no Boletim do Ministério da Justiça. n.° 194, p. 237.

A imitação de marcas deve ser apreciada menos pelas dissemelhanças que ofereçam os diversos pormenores iso- ladamente do que pela semelhança que resulta do conjun- to dos elementos que as constituem. É por intuição sinté- tica, e não por dissecação analítica, que deve proceder-se à comparação das marcas - v. Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 3 de Novembro de 1981, publica- do no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 311, p. 401, e de 13 de Fevereiro de 1970, publicado no Boletim do Ministério da Justiça. n.° 194, p. 237.

Tratando-se de marcas nominativas, é pelos elementos fonéticos e gráficos que se há-de emitir juízo acerca da facilidade de indução em erro, devendo atender-se menos às diferenças oferecidas pelos diversos pormenores do que à semelhança resultante do conjunto dos seus elementos -

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v. citado Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 23 de Julho de 1980.

Tratando-se de marcas mistas, deverão, como adverte o Prof. Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, vol. i,

1965, pp. 349 e 369, nota 1 de rodapé, «ser consideradas globalmente, como sinais distintivos de natureza unitária, mas incumbindo a averiguação da novidade sobre o ele- mento ou elementos prevalecentes - sobre os elementos que se afigurem mais idóneos a perdurar na memória do público (não deverão tomar-se em linha de conta, portan- to, os elementos que desempenham função acessória, de mero pormenor)». No mesmo sentido se pronuncia o Dr. Carlos Olavo, Colectânea de Jurisprudência, ano XII, tomo 2, p. 24.

Feitas estas considerações, analisemos o caso concreto dos autos.

A questão que neste recurso se coloca é a de saber se a marca a que foi concedida protecção pelo despacho re- corrido se confunde com a marca da recorrente n.° 64 701, Forza.

A referida marca da recorrente é constituída pela pala- vra «Forza».

A marca a que foi concedida protecção pelo despacho recorrido é uma marca mista, constituída pela palavra «Fort», na qual a letra «O» foi substituída por uma espi- ral que sugere a imagem de um raio.

Nas embalagens dos seus produtos a recorrente utiliza a sua marca nominativa Forza associada a um elemento figurativo, ou seja, o desenho de um raio.

Diz a recorrida que esse elemento figurativo não faz parte da marca da recorrente. E nessa parte tem razão.

Porém, comercializando produtos idênticos, a recorrida não poderia desconhecer a forma como a recorrente apre- sentava a sua marca, pelo que, ao utilizar na composição da marca registanda um elemento nominativo semelhante e um elemento figurativo que sugere também um raio, não poderá ter deixado de admitir que poderia levar à confu- são entre os produtos que as duas marcas se destinam a assinalar.

De referir que o registo feito pela recorrida na Direc- ção de Serviços do Direito de Autor não lhe confere o direito a utilização da obra ali registada como marca. Só o registo no INPI confere o direito à utilização dos sinais que compõem a marca ali registada para assinalar os pro- dutos do titular do registo.

Certo é que a simples comparação dos vocábulos que as constituem permite concluir pela existência de seme- lhanças entre as duas marcas em confronto susceptíveis de induzir em erro ou confusão no mercado.

Além de ser o mesmo o tipo de letra utilizado em ambas, como diz a recorrente, Forza e Fort têm de co- mum o elemento «For», que é dominante, elemento esse que lhes confere semelhança fonética e gráfica.

Essas semelhanças são suficientes para poderem indu- zir na consciência do consumidor médio o risco de uma confusão fácil quanto à proveniência dos produtos por elas assinalados.

Considero, portanto, que as duas marcas apresentam semelhança susceptível de induzir facilmente o consumi- dor médio em erro ou confusão. Por isso, entendo que o despacho recorrido violou o disposto nos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do CPI.

Decisão.

Pelo exposto, julgo o recurso procedente e, conse- quentemente, revogo o despacho do Ex.""' Sr. Director do Serviço de Marcas do INPI de 31 de Janeiro de 1994, que concedeu o registo da marca n.° 248 946, Fort.

Custas pela recorrida F. Lima & C.ª, Suc., L.da Notifique e registe.

Após trânsito, cumpra-se o disposto no artigo 44.° do actual CPI.

Lisboa, 6 de Dezembro de 1996. - O Escrivão-Adjun- to, (Assinatura ilegível.)

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa: Relatório

S. C. Johnson & Son, Inc., com sede nos Estados Uni- dos da América, interpôs recurso do despacho do Sr. Director do Serviço de Marcas do INPI de 31 de Ja- neiro de 1994, publicado no Boletim da Propriedade In- dustrial, n.° 1/94, de 29 de Julho, que deferiu o registo da marca mista n.° 248 946, Fort, requerido pela sociedade F. Lima & C.ª, Suc., L.da, o qual, sob o n.° 1348/94, foi distribuído à 1.ª Secção do 17.° Juízo do Tribunal Cível da Comarca de Lisboa, para tanto alegando, em síntese, que a marca em causa se confunde com a marca da re- corrente n.° 164 701, Forza. anteriormente registada e destinada a assinalar produtos iguais ou semelhantes, sen- do certo que as duas marcas têm, sensivelmente, o mes- mo número de letras, lêem-se ambas como se fossem for- madas por duas sílabas, têm o acento tónico localizado na primeira sílaba, que é dominante, e apresentam evidente semelhança de conjunto, existindo também evidente seme- lhança figurativa entre ambas, dado que, além de serem representadas por letras com desenho de marcada seme- lhança, a marca recorrida inclui a representação de um raio que figura nas embalagens dos produtos da recorrente, símbolo este que visa sugerir a ideia de força e de eficá- cia, o que contribui poderosamente para a confusão entre os dois sinais, levando que o consumidor dos produtos da recorrente seja facilmente induzido em erro quando, no atropelo de um supermercado, pretendesse comprar esses produtos e encontrasse os produtos assinalados com a marca a que o despacho recorrido concedeu o registo. Mais alega que os produtos de limpeza da recorrente se contam entre os mais antigos e conhecidos no mercado, para o que contribuiu não só a qualidade e regularidade desses pro- dutos como a confiança que a recorrente conquistou por parte dos consumidores no decurso dos seus já longos anos de presença no mercado.

Pede que seja dado provimento ao recurso e se revo- gue o despacho recorrido.

Respondeu a Direcção do Serviço de Marcas, dizendo, em resumo, que as figuras em causa, com as expressões que mantêm, parecem evidenciar um aproveitamento da marca da recorrente, o que se traduz em concorrência desleal, e que a confirmação do registo da marca objecto do recurso, com o seu significado e expressão, possui potencialidade para provocar confusão e a sua qualifica- ção como marca que imita a marca da recorrente.

A requerente do registo da marca n.° 248 946, Fort, pronunciou-se no sentido de que o despacho recorrido é, claramente, conforme à lei, pelo que deve ser mantido, para tanto alegando, essencialmente, que a marca de que

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a recorrente diz ser titular é uma marca simples de carác- ter meramente gráfico, ao passo que aquela de cujo defe- rimento se recorre é uma marca mista composta de ele- mentos gráficos e de um elemento figurativo de carácter marcadamente distintivo, distinguindo-se as marcas em confronto, quer do ponto de vista fonético quer do ponto de vista figurativo, sendo irrelevante o tipo de produtos a que se destinam. Alega, igualmente, que o uso e a inclu- são pela recorrente dos dizeres «Forza» integrada em embalagens e rótulos com o aspecto gráfico a que alude, em particular com o desenho de um raio, para além de constituir um desvirtuamento da própria marca, que sendo meramente nominativa, passou a incluir na sua apresenta- ção e rotulagem o desenho de úm raio, nada tendo que ver com a protecção legal que o direito ao uso da marca confere, sendo certo que o rótulo contendo um raio reves- te características de obra artística e, enquanto tal, apenas merece tutela legal se objecto de registo próprio, registo que a recorrida requereu em 31 de Março de 1989 à Di- recção de Serviços do Direito de Autor e lhe foi concedi- do por despacho de 30 de Maio de 1989, cabendo, por isso, à recorrida, em exclusivo, o direito ao uso de um rótulo com a referida configuração, pelo que, embora não faça sentido invocar qualquer pretensa concorrência des- leal por as marcas em questão serem diferentes, a existir, seria de sentido inverso ao pretendido pela recorrente, pois é esta quem está a fazer uso indevido e abusivo da sua marca por lhe associar um elemento figurativo que a não integra, criando uma eventual confusão dos seus produtos com os da recorrida, sendo certo que esse perigo hipoté- tico não advém das marcas consideradas em si mesmas, que são inconfundíveis.

Foi proferida decisão julgando procedente o recurso e, consequentemente, revogando o despacho do Sr. Director do Serviço de Marcas do INPI de 31 de Janeiro de 1994, que concedeu o registo da marca n.° 248 946, Fort, com o fundamento, além do mais, de que as duas marcas apre- sentam semelhança susceptível de induzir facilmente o consumidor médio em erro ou confusão.

Inconformada, F. Lima & C.ª, Suc., L.da, ora apelante, interpôs o presente recurso.

Ofereceu a apelante as suas alegações, donde extraiu as seguintes conclusões:

a) A marca que a ora recorrida invoca ser titular é uma marca nominativa de carácter meramente gráfico, ao passo que aquela de cujo deferimento recorreu é uma marca mista composta de elemen- tos gráficos e também de um elemento figurativo de carácter marcadamente distintivo, em que a letra «O» da sua primeira sílaba foi substituída por uma espiral que sugere um raio;

b) Distinguindo-se ambas, no seu todo, quer do ponto de vista figurativo quer do ponto de vista gráfico, e até fonético, pois aquela modificação e adulte- ração de «O» impede a pronúncia da sua sílaba tónica;

c) Enfermando, assim, a sentença recorrida de erro nos seus pressupostos de facto;

d) Sendo, pois, as marcas inconfundíveis, é irre- levante o tipo de produtos a que se destinam; e) Acresce que o uso e a inclusão pela ora recorrida

dos dizeres «Forza» da marca que refere ser titu- lar, integrada em embalagens e rótulos com o aspecto gráfico a que 'alude, em particular com o desenho de um raio, para além de constituírem um desvirtuamento da própria marca, nada têm a ver

com a protecção legal que o direito ao uso de marca confere;

f) O rótulo, na configuração que a recorrente invo- ca, reveste características de obra artística e, en- quanto tal, só merece tutela legal se objecto de registo próprio, enquanto direito equiparado ao direito de autor, nos termos da Convenção de Berna, aprovada pelo Decreto n.° 73/78, de 26 de Julho, artigos 11-bis, 12 e 14;

g) Registo esse que a recorrida requereu em 31 de Março de 1989 e lhe foi concedido por despacho de 30 de Maio de 1989;

h) Pelo que também não faz sentido invocar qualquer confundibilidade das marcas a partir do uso feito pela ora recorrida da sua marca como é apresen- tada nas embalagens dos seus produtos, pois que esse rótulo ou embalagem reveste natureza de obra artística cujo uso lhe é vedado, mercê da tutela que aquele registo confere à ora recorrente; i) E, desinserido desse rótulo ou embalagem, logo

desaparece qualquer risco da sua confundibilidade para o consumidor;

j) Foram violadas, por erro de interpretação, as nor- mas insertas nos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do CPI de 1940 e 11-bis, 12 e 14 da Convenção de Berna.

Contra-alegou a apelada, pronunciando-se no sentido de que deve ser confirmada a sentença recorrida.

Corridos os vistos legais, atendendo a que nada obsta, cumpre decidir.

A matéria de facto dada como provada pela 1.ª instân- cia e que esta Relação considera assente é a seguinte:

1) Em 20 de Julho de 1988 F. Lima & C.ª, Suc., L.da, requereu ao Sr. Director do Serviço de Marcas do INPI o pedido de registo da marca n.° 248 946, Fort, com a expressão gráfica e figurativa que se vê a fl. 3, destinada a assinalar os seguintes pro- dutos da classe 3.": detergentes; lixívias; abrasivos; produtos de limpeza;

II) S. C. Johnson & Son, Inc., apresentou reclama- ção, defendendo a recusa do registo, com funda- mento em alegada confusão com a marca n.° 164 701, Forza, registada desde 7 de Novem- bro de 1972, destinada a assinalar: preparados para limpeza de fornos; preparados para limpeza de casas de banho e de sanitários; preparados para limpeza de soalhos, e preparados para polir; III) Os serviços técnicos da Direcção do Serviço de

Marcas do INPI emitiram, em 31 de Janeiro de 1994, parecer com o seguinte teor: «Do ponto de vista fonético, as marcas são inconfundíveis. Acresce ainda que a marca registanda tem um aspecto figurativo próprio, o que lhe confere distintibilidade da marca oponente. Assim sendo, sou de parecer que · se desatenda a reclamação apresentada e se defira o presente pedido de re- gisto.»;

IV) Na mesma data o Sr. Director do Serviço de Marcas proferiu o despacho seguinte: «Concordo e defiro.»;

V) O referido despacho foi publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 1/94, de 29 de Julho; VI) A recorrente é titular da marca nacional n.° 164 701, Forza, destinada a assinalar os seguin-

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tes produtos: preparados para limpeza de fornos; preparados para limpeza de casas de banho e de sanitários; preparados para limpeza de soalhos, e preparados para polir;

VII) Nas embalagens dos seus produtos a recorrente utiliza a palavra «Forza» com o desenho de um raio, como se vê a fl. 6;

VIII) Em 17 de Março de 1989 a recorrida F. Lima & C.ª, Suc., L.da, requereu à Direcção de Serviços do Direito de Autor o registo de uma obra artística intitulada Fort Gel, consistente num rótulo, reproduzida a fl. 71, tendo o pedido de tal registo sido deferido por despacho de 30 de Maio de

1989.

Em conformidade com o disposto no n.° 3 do arti- go 684.° do Código de Processo Civil, o objecto do recur- so encontra-se delimitado pelas conclusões retiradas pela apelante das suas alegações.

«O âmbito do recurso é dado pelas conclusões extraí- das, pelo recorrente, da respectiva motivação.» (Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 13 de Março de 1991, publicado em Actualidade Jurídica, ano 17.°, p. 3.)

Assim:

Quantos às conclusões a), b), c) e d).

Conforme estabelece o n.° 12.° do artigo 93.° do CPI em vigor à data do despacho em causa do Sr. Director do Serviço de Marcas, será recusado o registo das marcas que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenham repro- dução ou imitação, total ou parcial, de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado.

Comparando a marca n.° 248 946 da apelante, Fort, com a marca n.° 164 701 da apelada, Forza, constantes, respec- tivamente, a 11. 3 e a fl. 6, constata-se que ambas são constituídas por elementos nominativo e figurativo.

No que concerne ao primeiro, embora as três primeiras letras sejam coincidentes, verifica-se que enquanto a mar- ca da apelante é constituída por uma só sílaba, a da ape- lada é constituída por duas, o que desde logo lhes impri- me uma diferente fonética.

Por outro lado, o aspecto gráfico de ambas as marcas apresenta-se diferente, o que, aliado à figura em espiral curvilínea que substitui o «O» na marca da apelante, com- parativamente à figura angulosa, mostrando um raio, acom- panhando a letra «Z» da marca da apelada, desde logo afasta qualquer possibilidade de erro ou confusão no con- sumidor médio não só no que respeita ao modo de pro- nunciar as duas palavras como também no que toca ao seu aspecto visual.

Deste modo, o que existe em comum nas marcas em confronto são, somente, as três primeiras letras que as constituem.

É certo que ambas as marcas se destinam a assinalar os mesmos produtos ou produtos semelhantes, mas isso, por si só, não constitui fundamento de recusa de registo, sendo necessária a existência de susceptibilidade de erro ou confusão no mercado, perante o consumidor médio, tendo em conta o conjunto de pessoas que procuram o produto, em face da semelhança dos elementos constitutivos das marcas em confronto, no seu aspecto global (cf. Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de

23 de Julho de 1980, publicado no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 299, p. 345; de 18 de Janeiro de 1975, publicado no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 251, p. 187; de 13 de Fevereiro de 1970, publicado no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 194, p. 237, e de 3 de No- vembro de 1981, publicado no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 311, p. 401).

As marcas em questão não são, portanto, considerando os elementos que as constituem, susceptíveis de induzir em erro ou confusão o consumidor médio, pois se destinguem uma da outra pelos seus aspectos gráficos, fonéticos e fi- gurativos, como acima se apontou.

Procedem, pois, estas conclusões. Quanto às conclusões e), f), g), h) e i).

O facto de haver sido deferido o pedido de registo for- mulado pela apelante junto da direcção de Serviços do Direito de Autor de uma obra artística intitulada Fort Gel, consistente num rótulo, reproduzido a fl. 71, não se nos afigura que tenha a ver com a questão subjacente ao re- curso de registo de marca em causa e, em consequência, que aqui deva ser tratado.

Porém, a procedência das anteriores conclusões conduz a procedência da apelação.

Quanto à conclusão j).

Na medida em que procedem as conclusões a), b), c) e d), igualmente procede.

Em face do exposto, em conformidade com a mencio- nada disposição, concede-se provimento ao recurso, pelo que se revoga a sentença apelada, confirmando-se o des- pacho do Sr. Director do Serviço de Marcas do INPI de 31 de Janeiro de 1994, que deferiu o registo da marca n.° 248 946, Fort, requerido pela apelante.

Custas pela apelada. Notifique.

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