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Siglas e Abreviaturas Capítulo V Deliberações dos sócios Capítulo VI Gerência e fiscalização... 77

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ÍNDICE GERAL

Siglas e Abreviaturas. . . 7 Título III – Sociedades por quotas

[…]

Capítulo V – Deliberações dos sócios . . . 15 Artigo 246º – Competência dos sócios

J. M. Coutinho de Abreu . . . 15 Artigo 247º – Formas de deliberação

J. M. Coutinho de Abreu. . . 25 Artigo 248º – Assembleias gerais

J. M. Coutinho de Abreu . . . 29 Artigo 249º – Representação em deliberação de sócios

Carolina Cunha/Ricardo Costa . . . 44 Artigo 250º – Votos

J. M. Coutinho de Abreu . . . 62 Artigo 251º – Impedimento de voto

J. M. Coutinho de Abreu . . . 69 Capítulo VI – Gerência e fi scalização . . . 77 Artigo 252º – Composição da gerência

Ricardo Costa/Carolina Cunha . . . 77 Artigo 253º – Substituição de gerentes

Ricardo Costa . . . 91 Artigo 254º – Proibição de concorrência

Alexandre de Soveral Martins . . . 100 Artigo 255º – Remuneração

J. M. Coutinho de Abreu . . . 114 Artigo 256º – Duração da gerência

Ricardo Costa . . . 120 Artigo 257º – Destituição de gerentes

J. M. Coutinho de Abreu . . . 124

Book Codigo das Sociedades Comerciais em Comentario IV – 2ed.indb 395

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396 CÓDIGO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS EM COMENTÁRIO

Artigo 258º – Renúncia de gerentes

J. M. Coutinho de Abreu . . . 140 Artigo 259º – Competência da gerência

Alexandre de Soveral Martins . . . 143 Artigo 260º – Vinculação da sociedade

Alexandre de Soveral Martins . . . 150 Artigo 261º – Funcionamento da gerência plural

Alexandre de Soveral Martins . . . 175 Artigo 262º – Fiscalização

Gabriela Figueiredo Dias . . . 192 Artigo 262º-A – Dever de prevenção

Gabriela Figueiredo Dias . . . 203 Capítulo VII – Apreciação anual da situação da sociedade . . . 213 Artigo 263º – Relatório de gestão e contas do exercício

Ana Maria Rodrigues/Rui Pereira Dias . . . 213 Artigo 264º – Publicidade das contas – Revogado. . . 220 Capítulo VIII – Alterações do contrato . . . 221 Artigo 265º – Maioria necessária

Paulo de Tarso Domingues. . . 221 Artigo 266º – Direito de preferência

Paulo de Tarso Domingues. . . 234 Artigo 267º – Alienação do direito de participar no aumento de capital

Paulo de Tarso Domingues. . . 264 Artigo 268º – Obrigações e direitos de antigos e novos sócios em aumento de capital Paulo de Tarso Domingues. . . 275 Artigo 269º – Aumento de capital e direito de usufruto

Paulo de Tarso Domingues. . . 280 Capítulo IX – Dissolução da sociedade. . . 284 Artigo 270º – Dissolução da sociedade

(3)

ÍNDICE GERAL 397

Capítulo X – Sociedades unipessoais por quotas . . . 287 Comentário Geral sobre a Unipessoalidade no CSC

Ricardo Costa . . . 287 Artigo 270º-A – Constituição

Ricardo Costa . . . 315 Artigo 270º-B – Firma

Ricardo Costa . . . 320 Artigo 270º-C – Efeitos da unipessoalidade

Ricardo Costa . . . 323 Artigo 270º-D – Pluralidade de sócios

Ricardo Costa . . . 340 Artigo 270º-E – Decisões do sócio

Ricardo Costa . . . 344 Artigo 270º-F – Contrato do sócio com a sociedade unipessoal

Ricardo Costa . . . 366 Artigo 270º-G – Disposições subsidiárias

Ricardo Costa . . . 379 Índice Analítico . . . 389 Índice Geral . . . 395

Book Codigo das Sociedades Comerciais em Comentario IV – 2ed.indb 397

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15

TÍTULO III

SOCIEDADES POR QUOTAS

[…]

CAPÍTULO V

DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS

ARTIGO 246º

Competência dos sócios

1. Dependem de deliberação dos sócios os seguintes atos, além de outros que a lei ou o con-trato indicarem:

a) A chamada e a restituição de prestações suplementares;

b) A amortização de quotas, a aquisição, a alienação e a oneração de quotas próprias e o consentimento para a divisão ou cessão de quotas;

c) A exclusão de sócios;

d) A destituição de gerentes e de membros do órgão de fi scalização;

e) A aprovação do relatório de gestão e das contas do exercício, a atribuição de lucros e o tra-tamento dos prejuízos;

f ) A exoneração de responsabilidade dos gerentes ou membros do órgão de fi scalização; g) A proposição de ações pela sociedade contra gerentes, sócios ou membros do órgão de fi s-calização, e bem assim a desistência e transação nessas ações;

h) A alteração do contrato de sociedade;

i) A fusão, cisão, transformação e dissolução da sociedade e o regresso de sociedade dissol-vida à atidissol-vidade;

2. Se o contrato social não dispuser diversamente, compete também aos sócios deliberar sobre: a) A designação de gerentes;

b) A designação de membros do órgão de fi scalização;

c) A alienação ou oneração de bens imóveis, a alienação, a oneração e a locação de estabelecimento;

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16 J. M. COUTINHO DE ABREU

Índice

1. Competência deliberativa dos sócios 1.1. Competência legal imperativa 1.2. Competência legal dispositiva 1.3. Competência estatutária 1.4. Competência legal facultativa 1.5. Os sócios como órgão superior

2. Atos da gerência sem deliberação dos sócios Bibliografia

a) Citada:

abreu, j. m. coutinho de – Governação das sociedades comerciais, 2ª ed., Almedina, Coim-bra, 2010, Curso de direito comercial, vol. II – Das sociedades, 5ª ed., Almedina, CoimCoim-bra, 2015; costa, ricardo – A sociedade por quotas unipessoal no direito português, Almedina, Coimbra, 2002; domingues, p. tarso – “A vinculação das sociedades por quotas no Código das Sociedades Comerciais”, RFDUP, 2004, p. 277-307; furtado, j. pinto – Deliberações dos sócios, Almedina, Coimbra, 1993; martins, a. soveral – “Capacidade e representação das sociedades comerciais”, em IDET, Problemas do direito das sociedades, Almedina, Coimbra, 2002, p. 471-496; santo, j. espírito – Sociedades por quotas e

anóni-mas – Vinculação: objecto social e representação plural, Almedina, Coimbra, 2000; ventura,

raúl – Sociedades por quotas, vol. II, Almedina, Coimbra, 1989, vol. III, 1991. b) Outra:

martins, a. soveral – “Competência dos sócios vs. competência dos gerentes (nas sociedades por quotas): sobre o nº 2 do art. 246º do CSC”, em Ars Iudicandi – Estudos em

homenagem ao Prof. Doutor António Castanheira Neves, vol. II, U.C./Coimbra Editora,

Coim-bra, 2008, p. 403-411.

1. Competência deliberativa dos sócios

Enquanto órgão de formação de vontade ou deliberativo-interno, os sócios (o conjunto ou colectividade de sócios) de sociedade por quotas têm o poder ou competência de deliberar sobre variados assuntos sociais.

Para certos assuntos, a lei atribui aos sócios competência exclusiva, não podendo eles, portanto, atribuí-la a outro órgão por cláusula estatutária ou por delibera-ção (competência legal imperativa: nº 1 do art. 246º); para certos outros assun-tos, a lei atribui aos sócios competência de carácter dispositivo ou supletivo − o

Book Codigo das Sociedades Comerciais em Comentario IV – 2ed.indb 16

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COMPETÊNCIA DOS SÓCIOS ART. 246º 17

poder deliberativo pertence-lhes na medida em que os estatutos sociais não dis-ponham diferentemente (competência legal dispositiva: nº 2 do art. 246º); para outros assuntos, a lei permite que os estatutos atribuam aos sócios poder delibe-rativo (competência estatutária: proémio do nº 1 do art. 246º); e, principalmente em matérias (não discriminadas) de gestão, a lei atribui aos sócios competência deliberativa que eles podem exercer ou não (competência legal facultativa: cfr. art. 259º).

1.1. Competência legal imperativa

Nos termos do art. 246º, 1, dependem de deliberação dos sócios os atos previstos nas suas nove alíneas, além de outros que a lei indique.

Entre estes outros atos, mencionemos os previstos nos arts. 35º, 3 (medidas adotáveis pelos sócios em caso de perda de metade do capital), 255º, 1 (fi xação da remuneração de gerente), 492º, 2 (aprovação do projecto de contrato de grupo paritário), 496º (aprovação do projecto de contrato de subordinação), 505º (apro-vação do projecto de modifi cação de contrato de subordinação), 506º (resolução e denúncia de contrato de subordinação).

Vejamos agora, sumariamente1, os atos previstos nas alíneas do nº 1 do art. 246º. a) Chamada e restituição de prestações suplementares. Veja-se também o art. 211º, para a exigibilidade de prestações suplementares, e o art. 213º, para a restituição.

b) Amortização de quotas, aquisição, alienação e oneração de quotas próprias,

consen-timento para a divisão ou cessão de quotas. Para a amortização de quotas, v. art. 234º.

Relativamente às quotas próprias, o artigo a elas dedicado (art. 220º) não se refere à necessidade de deliberação dos sócios; por isso tem especial utilidade o previsto no art. 246º, 1, b). O consentimento para divisão de quota tem de ser dado por deliberação dos sócios (v. também o art. 221º, 6); mas nem toda a divi-são exige consentimento (v. art. 221º, 4 e 5). O consentimento exigido para ces-são de quotas (v. arts. 228º, 2, 229º, 2, 3), quando “expresso”, é dado por delibe-ração dos sócios (art. 230º, 2).2

c) Exclusão de sócios. A exclusão baseada em facto especifi cado na lei ou no esta-tuto social efectua-se normalmente por deliberação dos sócios (v. arts. 204º, 2, 212º, 1, 241º, 2). A exclusão fundada na causa legal genérica prevista no art. 242º,

1 Os desenvolvimentos devidos constam dos comentários a vários outros artigos. 2 O consentimento tácito pode ou não resultar de deliberação (cfr. art. 230º, 5, 6).

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18 J. M. COUTINHO DE ABREU

1, efectua-se por decisão judicial, mas a propositura da ação deve ser deliberada pelos sócios (art. 242º, 1, 2).

d) Destituição de gerentes e de membros do órgão de fi scalização. Em regra, os sócios podem deliberar a todo o tempo a destituição de gerentes (art. 257º, 1). Em alguns casos a destituição tem de ser judicial (art. 257º, 3, 5) ou pode ser judicial (art. 257º, 4); todavia, na hipótese prevista na 2ª parte do nº 3 do art. 257º, a propo-situra da ação deve ser precedida de deliberação dos sócios. Por sua vez, o fi scal único ou os membros do conselho fi scal (nas sociedades que tenham, claro, órgão fi scalizador − arts. 262º, 1, 413º, 1, a)) não designados judicialmente podem ser destituídos com justa causa por deliberação dos sócios (art. 419º, 1).

e) Aprovação do relatório de gestão e das contas do exercício, atribuição de lucros e

trata-mento dos prejuízos. Normalmente, compete aos sócios aprovar o relatório de

ges-tão e as contas do exercício (v. também o art. 65º), mas pode às vezes competir ao tribunal (arts. 67º, 3, 5, 68º, 2). E é desnecessária deliberação dos sócios quando todos eles sejam gerentes e todos “assinem, sem reservas, o relatório de gestão, as contas e a proposta sobre aplicação de lucros e tratamento de perdas, salvo quanto a sociedades” sujeitas a revisão legal de contas ou que possuam órgão de fi scalização (art. 263º, 2). Também por norma, compete aos sócios deliberar sobre “a atribuição de lucros e o tratamento dos prejuízos”3. Mas casos há em que não tem de haver deliberação dos sócios para estes terem direito à distribuição de lucros4. O tratamento de perdas passa, no essencial, por deliberar cobri-las com reservas ou lucros de exercício, ou fazê-las transitar para exercício seguinte5.

f ) Exoneração de responsabilidade dos gerentes ou membros do órgão de fi scalização. Veja-se os arts. 74º, 2, 3 (2ª parte), 81º, 1.

g) Proposição de ações pela sociedade contra gerentes, sócios ou membros do órgão de fi

s-calização e bem assim a desistência e transação nessas ações. Os sujeitos contra quem

estas ações são propostas aparecem em posição orgânica (gerentes e membros do órgão fi scalizador) ou de socialidade (sócios) − enquanto titulares de órgão de administração e representação ou de órgão fi scalizador, ou de participação social. Se aparecerem em outra qualidade (v. g., contrapartes da sociedade em contratos de compra e venda por eles não cumpridos), a propositura de ação pela

3 Esta expressão é substituível com vantagem por “aplicação de resultados” (que aparece, aliás, nos arts.

66º, 5, f), 189º, 3, 376º, 1, b)).

4 V. coutinho de abreu (2015), p. 422, s., 431, s.. 5 Cfr. últ. ob. cit., p. 435, s., 439, s..

Book Codigo das Sociedades Comerciais em Comentario IV – 2ed.indb 18

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COMPETÊNCIA DOS SÓCIOS ART. 246º 19

sociedade não depende de deliberação dos sócios6. As ações da sociedade con-tra gerentes, fi scal único ou membro do conselho fi scal são, principalmente, de responsabilidade civil (art.75º). As ações contra sócio dependentes de delibera-ção têm causa, por exemplo, em factos previstos nos arts. 58º, 3 (responsabili-dade por voto abusivo)7, 83º (responsabilidade de sócio controlador) e 214º, 6 (responsabilidade por utilização indevida de informações societárias). Em casos destes, a sociedade goza de alguma liberdade de escolha (propor ou não pro-por a ação); deve pro-por isso caber aos sócios decidir. Sendo assim, deverá também entender-se que não depende de deliberação dos sócios a propositura (decidida pela gerência) de ação social contra sócio quando a lei não atribua à sociedade aquela liberdade: v.g., nas hipóteses previstas nos arts. 25º, 3 (responsabilidade pelo valor de entrada mal avaliada) e 34º, 1 (dever de restituição de bens indevi-damente recebidos da sociedade)8.

h) Alteração do contrato de sociedade. Com exceção da mudança da sede social (art. 12º, 2), em que há (ou pode haver) competência concorrente da gerência e dos sócios, é da competência exclusiva destes deliberar sobre qualquer alteração estatutária (art. 85º, 1).

i) Fusão, cisão, transformação e dissolução da sociedade e regresso de sociedade dissolvida

à atividade. No processo de fusão, excetuados os casos previstos nos arts. 116º, 3, e

117º-I, 3, o projeto respetivo tem de ser aprovado por deliberação dos sócios (arts. 100º, 2, 6, 102º, 103º, 1, 117º-F). Por força da remissão do art. 120º, são aplicáveis (com adaptações) à cisão os citados arts. 100º, 2, 6, 102º e 103º, 1 (mas, em algu-mas situações, é também aplicável o art. 116º, 3). Para as deliberações de trans-formação, v. arts. 132º, 4, 133º e 134º. Para a dissolução por deliberação, v. por um lado os arts. 141º, 1, b), e 270º, 1, e, por outro lado, o art. 142º, 3. O regresso à ati-vidade de sociedade dissolvida é deliberado segundo o estabelecido no art. 161º. 1.2. Competência legal dispositiva

No nº 2 do art. 246º, a lei atribui aos sócios competência deliberativa em certas matérias, se o estatuto social não dispuser diversamente.9

6 Embora os sócios possam deliberar a respeito − v. infra, nº 1.4.

7 Mas nem só a sociedade tem legitimidade para acionar − v. minha ob. cit., p. 511. 8 Mas também nestes casos podem os sócios deliberar − v. infra, nº 1.4.

9 Outra competência deliberativa dispositiva é prevista no art. 13º, 2: “A criação de sucursais, agências,

delegações ou outras formas locais de representação depende de deliberação dos sócios, quando o contrato a não dispense.”

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20 J. M. COUTINHO DE ABREU

a) Designação de gerentes. Em regra, os gerentes são designados no contrato de sociedade ou eleitos posteriormente por deliberação dos sócios (art. 252º, 2). Mas pode o estatuto social determinar outros modos de designação.10 Por exem-plo, atribuir a gerência a todos os sócios, atuais e futuros11, ou atribuir a um ou mais sócios, a título de direito especial, competência para designar um ou mais gerentes (cfr. arts. 24º, 1, e 83º, 1).

b) Designação de membros do órgão de fi scalização. Se a sociedade tiver órgão de fi s-calização (fi scal único, que tem de ser ROC, ou conselho fi scal, que deve incluir um ROC), os membros respetivos são em regra eleitos por deliberação dos sócios (v. arts. 262º, 1, 413º, 1, a), 414º, 1, 2, 415º, 1). A própria lei prescreve ou admite, para certas situações, modos de designação diferentes: nomeação ofi ciosa do ROC pela respectiva Ordem (art. 416º), nomeação judicial (arts. 417º, 418º). Poucas alternativas poderão ser estabelecidas no contrato social referido na al. b) do nº 2 do art. 246º. Mas poderá o estatuto social, por exemplo, atribuir a um ou mais sócios, a título de direito especial, competência para designar um ou mais mem-bros do órgão fi scalizador.

c) Alienação ou oneração de bens imóveis, alienação, oneração ou locação de

estabeleci-mento. Entende a lei que estes actos, sendo embora de gestão, merecem ser

deci-didos pelos sócios por terem em geral importância signifi cativa para a situação patrimonial e funcional da sociedade. É possível, porém, o estatuto atribuir com-petência decisória à gerência para tais atos12.

d) Subscrição ou aquisição de participações noutras sociedades e sua alienação ou

onera-ção. Segundo o art. 11º, 4, aplicável às sociedades dos vários tipos em geral, é lícito

uma sociedade, pelo órgão de administração e representação, sem necessidade de deliberação dos sócios, adquirir (originária ou derivadamente) participações em sociedades de responsabilidade limitada cujo objeto seja igual ao que a socie-dade está exercendo, salvo disposição diversa do estatuto. Ora, a regra (dispositiva também) do art. 246º, 2, d), é de sentido inverso: compete aos sócios deliberar sobre aquisição de participações sociais (bem como sobre a sua alienação ou one-ração), salvo disposição diversa do estatuto (dispensando deliberação dos sócios). Para aquisição de participações como sócia de responsabilidade ilimitada ou de participações em sociedades com objeto diferente, sociedades reguladas por leis especiais ou ACE (e AEIE, acrescente-se), o art. 11º, 5, requer autorização

estatu-10 Possível é também a designação judicial (art. 253º, 3). 11 Derrogando também o disposto no nº 3 do art. 252º.

12 Mas sem que os sócios fi quem impedidos de deliberar sobre os mesmos (cfr. art. 259º).

Book Codigo das Sociedades Comerciais em Comentario IV – 2ed.indb 20

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COMPETÊNCIA DOS SÓCIOS ART. 246º 21

tária; se o estatuto de sociedade por quotas autorizar aquisições destas, competirá aos sócios deliberar sobre elas, a menos que o estatuto dispense as deliberações. 1.3. Competência estatutária

Além da competência atribuída diretamente pela lei (imperativa ou disposi-tiva), poderes deliberativos dos sócios podem derivar imediatamente dos esta-tutos sociais (proémio do nº 1 do art. 246º).

É possível, por exemplo, o estatuto de uma sociedade estipular que depende de

deliberação dos sócios a prática de certos atos ou categorias de atos, como a aquisição de

imóveis ou estabelecimentos, a concessão de garantias de valor superior a x, a contração de empréstimos de valor superior a y, o encerramento de estabeleci-mento ou de secção, a designação de mandatários ou procuradores para a prática de certas categorias de atos (cfr. art. 252º, 6), a contratação de trabalhadores de certa categoria ou com retribuição superior a z.

Contudo, não será lícita cláusula estatutária que atribua aos sócios praticamente todo o

poder de decisão em assuntos de gestão, fazendo da gerência simples órgão executivo

(e dos gerentes meros empregados subordinados)13. A gerência é órgão necessá-rio de administração (arts. 252º, 1, 259º). Na administração de sociedade hão-de os gerentes ter poder decisório – ao menos no campo da gestão corrente − cum-prindo os deveres e responsabilidades próprios. Além dos atos especifi cados na lei (v. g., elaboração do relatório de gestão e das contas do exercício − art. 65º −, elaboração de projecto de fusão ou de cisão − arts. 98º, 119º), outros atos de ges-tão hão de poder depender da iniciativa da gerência.

1.4. Competência legal facultativa

Em matérias de gestão, além das competências especifi cadamente previstas na

lei ou nos estatutos, têm os sócios poder (legal) geral de, mediante deliberações,

dar instruções genéricas ou concretas aos gerentes (v. g., delimitar possíveis projetos

de investimento, discriminar as fontes de fi nanciamento ou de fornecimentos, indicar pessoa a contratar como gerente de comércio, escolher o prédio para ampliação das instalações). É o que decorre do art. 259º: “Os gerentes devem

13 coutinho de abreu (2010), p. 56. V. ibid., nt. 133, indicações bibliográfi cas no mesmo e em diverso

sentido. Entre nós, no sentido indicado, pinto furtado (1993), p. 35., ricardo costa (2002), p. 591, s., espírito santo (2000), p. 387, nt. 1041; divergentemente, raúl ventura (1991), p. 141-142.

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22 J. M. COUTINHO DE ABREU

praticar os atos que forem necessários ou convenientes para a realização do objeto social, com respeito pelas deliberações dos sócios.”14

Porque a prática deliberativa é sempre intermitente, esta faculdade de inter-venção dos sócios não porá (quase nunca) em causa o poder de iniciativa e deci-são dos gerentes na administração societária.

1.5. Os sócios como órgão superior

Tendo em conta a ampla competência dos sócios para deliberar medidas estru-turais societário-empresariais e medidas concretas importantes para a vida da sociedade e respetiva(s) empresa(s), eles são, sem dúvida, o órgão social superior.

Relativamente ao órgão fi scalizador (quando exista), a superioridade

manifesta--se principalmente no facto de, por norma, os seus membros serem designados e destituídos pelos sócios. Que, todavia, não podem comandar aqueles no exer-cício das funções de fi scalização.

Relativamente à gerência, os sócios, além de normalmente designarem e

destituí-rem os gerentes, têm ainda poder muito alargado para determinadestituí-rem a gestão. São, nesta medida, um órgão quase-soberano.15

2. Atos da gerência sem deliberação dos sócios

Há deliberações dos sócios (1) auto-executáveis (self-executing) ou auto-sufi cientes: bastam-se a si próprias para produzir os efeitos jurídicos visados, sem neces-sidade de atuação complementar ou executiva da gerência16; (2) executáveis ou

complementáveis por atuação não negocial da gerência; (3) executáveis por atos negociais da gerência.17

(1) Exemplos: deliberações de consentimento para divisão de quota (art. 221º, 6) ou para cessão de quota (arts. 228º, 2, 230º, 2), de destituição de gerentes ou de membros do órgão de fi scalização (arts. 257º, 1, 262º, 1, 419º, 1), de aprovação do relatório de gestão e das contas do exercício, bem como de tratamento das

14 Sobre o dever (ou não) de o órgão de administração cumprir as deliberações dos sócios, v. coutinho

de abreu (2010), p. 57, s..

15 Sobre o princípio da “soberania” das assembleias de sócios das sociedades anónimas, hoje perimido,

v. últ. ob. cit., p. 47, s..

16 Algumas destas deliberações só produzem efeitos contra terceiros depois da data do respectivo registo

(arts. 3º, 1, 14º, 1, do CRCom.). Qualquer gerente (mas não só) tem legitimidade para pedir o registo (arts. 29º, 1, 5, 29º-A do CRCom.).

17 Para uma tripartição paralela, v. r aúl ventur a (1989), p. 156-157.

Book Codigo das Sociedades Comerciais em Comentario IV – 2ed.indb 22

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COMPETÊNCIA DOS SÓCIOS ART. 246º 23

perdas, de exoneração de responsabilidade dos gerentes ou membros do órgão fi scalizador (arts. 74º, 2, 3, 81º, 1), de designação de gerentes e de membros do órgão de fi scalização (arts. 252º, 2, 262º, 1, 415º, 1).

(2) Exemplos: deliberações de amortização de quota e de exclusão de sócio, que exigem comunicação enquanto requisito de efi cácia (arts. 234º, 1, 241º, 2)18, deliberações de fusão e de cisão, que exigem registo (constitutivo) − arts. 111º, 120º −, deliberações de alteração estatutária, quando seja exigido documento que não o simples escrito (art. 85º, 4, 5).

Interessa aqui ter em vista especialmente as deliberações integráveis no grupo (3): v. g., deliberações de chamada e restituição de prestações suplementares (arts. 211º, 213º), de aquisição, alienação e oneração de quotas próprias (arts. 220º, 246º, 1, b)), de atribuição de lucros (arts. 31º, 1, 217º), de propositura de ações pela sociedade contra gerentes ou fi scalizadores, de alienação ou onera-ção de imóveis, alienaonera-ção, oneraonera-ção ou locaonera-ção de estabelecimento, de aquisionera-ção, alienação ou oneração de participações em outras sociedades. A estes exemplos de deliberações que competem aos sócios legal-imperativamente (os quatro pri-meiros) ou legal-dispositivamente (os restantes), pode aditar-se a generalidade dos exemplos acima apresentados no contexto das competências estatutária (nº 1.3.) e legal-facultativa (nº 1.4.).

Ora, os atos previstos no nº 1 do art. 246º “dependem” de deliberação dos sócios. Quando, sem esta, sejam praticados pelos gerentes, são inválidos ou inefi

-cazes. Nulas são as (eventuais) deliberações da gerência (art. 411º, 1, c), aplicável

analogicamente)19. E nulos são os atos pelos quais gerente ou gerentes chamem ou restituam prestações suplementares (sem deliberação dos sócios não há obri-gação de prestar nem direito à restituição), adquiram, alienem ou onerem quo-tas próprias, ou atribuam lucros; inefi cazes serão os atos de propositura de ações, pela sociedade20, contra gerentes, sócios ou membros do órgão fi scalizador21.

18 Quando as deliberações são tomadas em assembleia geral e os sócios afetados estão presentes ou

representados, a comunicação não tem de ser feita por gerente.

19 V. coutinho de abreu (2010), p. 115, s., 144-145. 20 Quando tenha de ser esta a decidir − cfr. supra, nº 1.1., g).

21 A jurisprudência tem aplicado nestes casos o art. 29º do CPC (v. tb. os arts. 576º, 2, e 577º, d)): “1 – Se

a parte estiver devidamente representada, mas faltar alguma autorização ou deliberação exigida por lei, é designado o prazo dentro do qual o representante deve obter a respetiva autorização ou deliberação, suspendendo-se entretanto os termos da causa./2 – Não sendo a falta sanada dentro do prazo, o réu é absolvido da instância, quando a autorização ou deliberação devesse ser obtida pelo representante do autor(…)”. V. Ac. da RP de 23/3/2004, CJ, II, 2004, p.173 (citando no mesmo sentido Ac. da RP de 23/3/92 e Ac. da RL de 29/4/93) e Ac. do STJ de 8/3/2005 (www.dgsi.pt – proc. 04A3553). Diferentemente, Ac.

(13)

24 J. M. COUTINHO DE ABREU

O nº 2 do art. 246º estabelece a competência deliberativa dos sócios em certas matérias, mas permite que o estatuto social atribua aos gerentes poderes deci-sórios nessas (em algumas dessas) mesmas matérias. Pois bem, mesmo sem dis-posição estatutária neste sentido, e sem prévia deliberação dos sócios, a sociedade

fi ca em princípio vinculada pela alienação ou oneração de bens imóveis, ou pela

alie-nação, oneração ou locação de estabelecimento, ou pela aquisição, alienação ou oneração de participações em outras sociedades efetuadas por gerente(s) (em número bastante). Na verdade, nos termos do art. 9º, 1, da 1ª Diretiva sobre socie-dades22, a sociedade vincula-se perante terceiros pelos atos realizados pelos seus órgãos, “a não ser que esses atos excedam os poderes que a lei atribui ou permite

atribuir a esses órgãos”. A lei (art. 246º, 2) permite atribuir à gerência poderes

em matérias nela previstas. Interpretando o art. 260º, 1, em conformidade com a Diretiva, aquela conclusão impor-se-á23.

Prevendo o estatuto social competência deliberativa dos sócios em assuntos de gestão, os atos praticados por gerente(s) relativamente a tais assuntos, sem prévia deliberação dos sócios, vinculam também a sociedade para com terceiros (não sócios, nem titulares de outros órgãos sociais) − as limitações estatutárias são inoponí-veis a terceiros (art. 260º, 1)24.

Conclusão idêntica vale ainda no domínio da competência legal facultativa: se uma deliberação dos sócios exige outra deliberação para certo negócio, ou se instrui a gerência para esse negócio, a sociedade fi ca vinculada pelos atos de gerente(s) apesar da falta de segunda deliberação ou de observância da instru-ção (as limitações resultantes de deliberações dos sócios são inoponíveis a ter-ceiros: art. 260º, 1)25.26

da RP de 18/6/95 (www.dgsi.pt – proc. 9450734): falta de deliberação é condição da ação, importando absolvição do pedido.

22 V. agora o art. 10º, 1, da Diretiva 2009/101/CE, de 16 de setembro de 2009.

23 V. sover al martins (2002), p. 493-494, tarso domingues (2004), p. 296-297, coutinho de

abreu (2015), p. 556-557. Diferentemente, r aúl ventur a (1991), p. 163, espírito santo (2000), p. 284, Ac. do STJ de 22/11/95, BMJ 451 (1995), p. 460.

24 Cfr. coutinho de abreu (2015), p. 557-559. Diferentemente, r aúl ventur a (1989), p. 160. 25 Cfr. r aúl ventur a (1989), p. 160, coutinho de abreu (2015), p. 559-560.

26 O desrespeito, pelos gerentes, das competências deliberativas legal dispositiva, estatutária e legal

facultativa, embora não impeça a vinculação, é evidentemente passível de sanções (p. ex. destituição com justa causa, responsabilidade civil para com a sociedade).

Book Codigo das Sociedades Comerciais em Comentario IV – 2ed.indb 24

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