• Nenhum resultado encontrado

Maio, 2014 Tese de Doutoramento em Filosofia Especialidade em Ontologia e Filosofia da Natureza ESQUIZOFRENIZAR A MORTE Filipe Alexandre Pinheiro Rodrigues Ferreira

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Maio, 2014 Tese de Doutoramento em Filosofia Especialidade em Ontologia e Filosofia da Natureza ESQUIZOFRENIZAR A MORTE Filipe Alexandre Pinheiro Rodrigues Ferreira"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Maio, 2014

Tese de Doutoramento em Filosofia

Especialidade em Ontologia e Filosofia da Natureza

ESQUIZOFRENIZAR A MORTE

(2)

Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau

de Doutor em Filosofia (especialidade em Ontologia e Filosofia da Natureza),

realizada sob a orientação científica do Professor Doutor José Nuno Godinho

(3)

AGRADECIMENTO

Existem momentos, períodos, nos quais se sente que, apesar de tudo, decide-se alguma coisa…

No que se refere a este ensaio, que acaba por ser uma espécie de retrato ou ponto de vista do trajecto doutoral que está na sua origem, diria que existiu um desses momentos ou períodos sem o qual ele talvez tivesse permanecido definitivamente na obscuridade da espécie de analfabetismo que, diga-se, quem o escreveu não deixou de experimentar durante alguns anos.

Penso no período onde, ainda em Nova Iorque, pressentia-se que o „trabalho‟ ia numa

direcção desalinhada com o departamento de filosofia (mais um dos „centros de iniciados‟ de

que fala Artaud) que frequentei durante uns 4 anos e no qual acabei por obter - pelo menos do meu ponto de vista - uma espécie de qualificação doutoral.

Tenho a ideia que já a partir do segundo ou terceiro ano de lá estar ainda existia no ar algo que, enfim, vinha de trás: a direcção de escrever alguma coisa sobre a filosofia de Deleuze. Foi assim, no seminário destinado às teses, que os alunos geralmente frequentavam no terceiro,

quarto ou até quinto ano do „curso‟, que acabei por apresentar um projecto sobre a questão do tempo em Deleuze (os detalhes evidentemente não interessam, aliás, nem os recordo).

A recepção, diga-se, até foi positiva, não sendo propriamente aí que comprovara-se o pressentimento de um certo desalinhamento. Foi só a partir de uma decisão de minha parte de propor um novo projecto e assim repetir no ano seguinte o referido seminário, que começou a parecer-me evidente que talvez fosse uma ideia mudar.

É que o segundo projecto propunha pensar a relação entre a esquizofrenia e o transcendental em Deleuze, no que suporia, para além das obras que Deleuze escreveu

„sozinho‟, o conjunto do pensamento deleuzo-guattariano.

Digamos, simplesmente, que era evidente a resistência a Guattari, a resistência ao que

Žižek, por exemplo, definiu pejorativamente como a „guattarização‟ do pensamento de

Deleuze…

Ou seja, se o primeiro projecto suscitava um certo interesse, apoio, e isto por assumir Lógica do Sentido, Diferença e Repetição e os dois volumes do Cinema de Deleuze como os textos centrais, o segundo era indirectamente adjectivado de “wacky” (insano, irracional, etc.) por ser esta a palavra usada para descrever o Anti-Édipo e Mil Platôs.

É num verão em Lisboa, na livraria de um amigo, o Nuno Nabais (a quem agradeço por, ainda antes de Nova Iorque, ter-me deixado participar no seminário doutoral de filosofia que conduzia, e que, diga-se, reunia um grupo formidável de doutorandos) que dou-me de caras com um livro escrito por um filósofo húngaro-brasileiro, Peter Pál Pelbart, intitulado O Tempo Não-Reconciliado.

Curiosamente, a questão que o livro trata é justamente a do tempo em Deleuze, algo que supostamente responderia ao primeiro e não ao segundo projecto. Havia, no entanto, algo nele de outra ordem: um rigor, uma maneira de abordar, de pensar a filosofia de Deleuze que me atraía.

Passaram-se uns meses até que decidi, de regresso a Nova Iorque, procurar os contactos deste filósofo. Já no site do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Subjectividade, onde Peter Pál Pelbart dá aulas, usei o endereço geral para mandar um email cuja resposta convidava-me a

(4)

A recepção não podia ter sido melhor. Passei a frequentar o Núcleo: o seminário dado

nesse semestre por Peter Pál Pelbart se intitulava „O Efeito Guattari‟…, depois havia ainda o

seminário de Suely Rolnik sobre variados cruzamentos entre arte, política e clínica no contexto latino-americano e de Luiz Orlandi sobre o Espinosa de Deleuze.

Conheci ainda nesse período pessoas no Núcleo ou através do Núcleo que fizeram com que a decisão a tomar se tornasse óbvia: falo de John Laudenberger, Rafael Adaime, Giuliano Obici, Elizabeth Pacheco, Fabi Borges, Paula Francisquetti e Juliano Garcia Pessanha.

Viria também a conhecer a Mariana Marcassa, que é a pessoa que de mais perto acompanhou os anos que se seguiram, fazendo da vida que envolveu este projecto a vida que o amparou.

Quero também agradecer ao José Gil, o orientador - juntamente com Peter Pál Pelbart - desta tese. Conheci o José Gil pela primeira vez antes de Nova Iorque, onde ele, simpaticamente, viu o que era evidente: que ainda não havia chegado o momento. Voltei uns quatro anos depois antes de partir para o tal café em São Paulo. Ainda com a ideia de „defender‟

em Nova Iorque, propus-lhe que acompanhasse a tese. Ele aceitou à primeira. Depois do café em São Paulo, propus-lhe uma espécie de orientação conjunta com Peter Pál Pelbart (supondo-se um regresso ao Núcleo), agora com o horizonte de uma „defesa‟ na Universidade Nova de

Lisboa. Ele aceitou novamente. E tem sido assim: simples.

Uma palavra para o João Emanuel Diogo que, pacientemente, muito fez, em cima da hora, como geralmente acontece, para que o português utilizado fosse o mais legível.

Agradeço finalmente aos meus pais, Nelly de Azevedo Pinheiro e António Pinto Ferreira, aos meus avós paternos, Maria Eugénia Pinto Ferreira (entretanto falecida) e António Rodrigues Ferreira, e a um amigo, João Prata, por ajudarem em momentos onde talvez não lhes fosse inteiramente viável fazerem-no.

(5)

ESQUIZOFRENIZAR A MORTE

Filipe Alexandre Pinheiro Rodrigues Ferreira

[RESUMO]

Que relação existe entre morte e psicose? Como abordaremos o grito psicótico que, sofrendo uma perda radical de realidade, repete insistentemente, obsessivamente, que é a própria vida, na sua faísca essencial, que se perdeu? Como será esta perda uma morte, um suicídio involuntário, impessoal, onde é em mim, num morrer eternamente anterior, que a própria morte acaba?

Críticos à maneira em que tanto a psiquiatria como a psicanálise abordam estas questões, consideraremos - nos termos de uma análise ao conjunto da vida e obra de Antonin Artaud - como o corpo que ele nomeia sem órgãos é criado não só para as responder como também como ponto de partida para um projecto mais amplo: o de retomar a vida e a morte sobre novas bases. Como resposta ao corpo descorporizado, morto, suicidado, anunciado nestes gritos, investigaremos como Artaud propõe a produção do corpo sem órgãos do interior do

corpo que, sofrendo uma morte anterior à morte, não só deixa de „corporizar a realidade‟ mas

também, crucialmente, revela um Dentro mais profundo do que qualquer interioridade vivida

por um sujeito „equilibrado‟ no seu eixo sensório-motor. Prosseguiremos em seguida à questão da vida: qual a relação entre o corpo sem órgãos e os corpos intensivos, duplos, que Artaud

anuncia no seu „Théâtre de la Cruauté‟? A resposta que damos é a seguinte: que os corpos deste teatro nascem do corpo sem órgãos; que nascidos deste corpo, eles são os corpos do lado duplo

da própria vida („do outro lado‟); e finalmente, que jamais transcendendo a vida, eles nos forçam a supor um sensível ilimitado que extravasa por todos os lados os ditos limites da experiência humana.

É, portanto, a seguinte tríade de corpos que somos levados por Artaud a definir e em torno do qual giram os movimentos conceptuais propostos neste ensaio: corpo suicidado - corpo sem órgãos - corpo intensivo.

É ao considerarmos uma análise mais filosófica (e clínica) desta tríade, que as três ou quatro páginas do Anti-Édipo onde Deleuze-Guattari introduzem a tarefa de „esquizofrenizar a morte‟ se apresentam como centrais. A nossa intenção é dupla: primeiro, clarificar o que eles

definem como uma „experiência de morte no inconsciente‟; segundo, conceber esta experiência,

a conversão ou mutação do corpo suicidado num corpo sem órgãos, como um acontecimento - acontecimento este que, para distingui-lo do que Deleuze propõe em Diferença e Repetição e Lógica do Sentido, definiremos como esquizofrénico: o Acontecimento esquizo.

É ao expandirmos a concepção deste Acontecimento segundo o que definiremos como um espinosismo esquizo, que chegaremos - enquadrando certas passagens do O que é a Filosofia? de Deleuze-Guattari no conjunto do pensamento de Henri Bergson - ao conceito

proposto na conclusão: o que, afirmando corpos que nascem no „outro lado da existência‟ e não „deste‟, anuncia um cérebro-espírito na imanência do qual todos eles sobrevivem enquanto „por vir‟ eterno da própria vida.

(6)

[ABSTRACT]

What relation is there between death and psychosis? How are we to think about the psychotic scream that, suffering from a radical loss of reality, repeats insistently, obsessively, that life, in its essential spark, has been lost? How is this a death, an involuntary, impersonal, suicide , where it is in me, in a death eternally anterior to the event of my death, that death itself ends?

Critical to the ways both psychiatry and psychoanalysis approach these questions, we shall initially consider - in terms of an analysis which includes the life and work of Antonin Artaud as a whole - how the body he names without organs is, in fact, created so as to not only respond to these questions but also, in so doing, recast the very questions of life and death on a new basis. As a response to the decorporized, dead, suicided body announced in these screams, we shall investigate how it is that Artaud proposes the production of the body without organs from within a body that, suffering a death anterior to death, not only no longer „corporizes reality‟ but, crucially, reveals an Inside more profound than any sort of interiority lived by a

„well-balanced‟ subject in its sensory-motor axis. We shall then proceed to the question of life: what is the relation between the body without organs and the intensive, duplicated, bodies Artaud announces in his „Théâtre de la Cruauté‟? Our answer runs as follows: that the bodies of this theatre are born from the body without organs; that, born from this body, they are the bodies

of the double side of life itself (its „other side‟); and finally, by no means transcending life, they

force us to suppose an unlimited realm of sensible experience that fundamentally overwhelms the so-called limits of human experience.

It is, therefore, the following triad of bodies which we are lead by Artaud to define and upon which the conceptual movements proposed in this essay depend: suicided body - body without organs - intensive body.

It is as we turn to a philosophical (and clinical) analysis of this triad, that the three or four pages in Anti-Oedipus where Deleuze-Guattari introduce the task of „schizophrenizing death‟ are crucial to us. Our intention is twofold: first, clarify what they define as an „experience of death in the unconscious‟; second, conceive this experience, the conversion or mutation of

the suicided body into a body without organs, as an event which, to distinguish it from the one Deleuze conceives in Difference and Repetition and Logic Sense, we shall define as schizophrenic, the schizo Event.

It is as we further expand the conception of this Event on the basis of what we shall define as a schizo spinozism, that we shall arrive - framing certain passages of

Deleuze-Guattari‟s What is Philosophy? within Henri Bergson‟s philosophical thinking as a whole - at the concept proposed in the conclusion: the one which announces a brain-spirit in the immanence of which all these bodies survive as the eternal „to come‟ of life itself.

(7)

Índice

Introdução: Morte e Psicose ………...………..1

1. O Suicídio de Artaud ………

...

………..15

as dúvidas de Artaud sobre a morte (16-20); a invenção do

estado de morte (20-34); a vertigem do Absoluto, do corpo Absoluto,

sem órgãos (34-63)

2. Interrupções na V

iagem Esquizofrénica………..64

desejo, produção de produção (65-75); a máquina paranóica (75-86);

um gravador, por exemplo (87-99); linhas de fuga falhadas (99-109); Édipo como

sistema repressão-recalcamento (109-122)

3. Esquizofr

enizar a Morte………...……….123

falhar absolutamente (124-131); converter um zero noutro, uma morte noutra

(131-144); um espinosismo esquizo (144-156)

Conclusão: O Cérebro-

Espírito………...………..157

ANEXOS: “Enquête: le suicide est

-

il une solution?” e “

Sur le s

uicide”

de Antonin Artaud………

.192

(8)

Chegará o momento em que estudaremos com a mesma seriedade e o mesmo rigor com

que estudamos as definições de Deus de Descartes ou Malebranche, as do Presidente

Schreber ou de Antonin Artaud?

Referências

Documentos relacionados

O artigo 2, intitulado “Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): Estar fora da família, estando dentro de casa”, foi resultado da realização de uma pesquisa de

O professor que ensina Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve propiciar ao aluno atividades que possibilitem a construção de noções geométricas, que

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

d) independentemente dos registros contábeis cabíveis, nas notas explicativas aos balanços da sociedade - conforme determinado pelo item XVI do Título 4 do Capítulo II

A tendência manteve-se, tanto entre as estirpes provenientes da comunidade, isoladas de produtos biológicos de doentes da Consulta Externa, como entre estirpes encontradas

psicológicos, sociais e ambientais. Assim podemos observar que é de extrema importância a QV e a PS andarem juntas, pois não adianta ter uma meta de promoção de saúde se

[r]

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o