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A Transformação das Sociais Representações do Envelhecer: uma proposta de intervenção

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Academic year: 2020

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Resumo: existe um consenso nos estudos das representações

sociais da velhice: declínio, doenças e perdas (físicas, familiares e da capacidade de trabalho), de um lado e, de outro, a valorização da experiência do idoso e das questões sócio-políticas a ele relacionadas. Na Psicologia do envelhecimento, 3 aspectos são salientados: o declínio do suporte familiar ao idoso, a experiência e valores relacionados ao envelhecer e a defesa de trabalhos sobre a capacitação dos cuidadores, majoritariamente centrados no aspecto físico do envelhecimento. Os resultados apontaram dois focos - o envelhecimento visto como expe-riência negativa e a ênfase nas perdas físicas, intelectuais e sociais – sustentados por um paradigma calcado na relação aspecto físico, beleza e afetividade, indicando uma articulação entre as representações sociais do envelhecimento e aquelas de gênero.

Palavras-chave: Representações sociais. Envelhecimento. Velhice.

Grupo focal. Tomada de consciência.

O

envelhecimento populacional no mundo e mais recentemente também nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, tem colocado o desafio de enfrentarmos essa nova realidade com soluções criativas e viáveis, especialmente nos países do terceiro mundo. Vale notar que o envelhecimento tem exigido respostas no que diz respeito especialmente às políticas de saúde e políticas sociais dirigidas à população idosa, com o intuito de preservar sua saúde e qualidade de vida, bem como de atendê-la em suas doenças. Proporcionalmente, a faixa etária de 60 anos ou mais

Filomena Guterres Costa** Maria Helena Fávero***

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é a que mais cresce. Projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) evidenciam que os idosos, no Brasil, no período de 1950 a 2025, terão o seu número aumentado em 15 vezes, enquanto o restante da população em cinco. Com essa projeção, o Brasil será o 6.o país quanto ao contingente de idosos em 2025, devendo ter cerca de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos (COSTA, 2001).

Um fator importante relacionado a essa transição demográfica é o fato de que ela ocorreu lentamente nos países desenvolvidos, acompanhada da elevação da qualidade de vida, graças à possibilidade de inserção das pessoas no mercado de trabalho, de oportunidades educacionais favorá-veis, de boas condições sanitárias, alimentares, ambientais e de moradia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). No Brasil e em outros países latino-americanos, no entanto, esse processo foi rápido, se se observar uma retangularização da pirâmide populacional, ainda que não tenha sido acompanhada de uma melhora na qualidade de vida dessa parcela da população. Esse processo é nitidamente urbano, como afirmou Ber-quó (1992), e deve-se tanto à queda da fecundidade como ao aumento da longevidade.

Diferentes áreas de estudo têm assinalado o que, hoje, é um fato no Brasil: o crescimento populacional das pessoas acima de 60 anos. Embora em vários países a questão do idoso venha sendo discutida há bastante tempo, no Brasil, somente nos últimos 25 anos é que o envelhecimento efetivamente começou a ter um espaço nas agendas de debates e de elabo-ração de políticas públicas, não sem um sentido também de ameaça e de desafio, tanto para os que envelhecem quanto para a sociedade e o Estado. Está claro, hoje, que envelhecer é um processo pelo qual passa o ser humano, desde sua concepção até a sua morte, e que, em cada indiví-duo, as mudanças físicas, comportamentais e sociais desenvolvem-se em ritmos e em velocidades diferentes. Desse modo, a idade cronológica é apenas um fator, entre outros, que podem afetar o bem-estar da pessoa. Também está claro que o processo de envelhecimento envolve uma série de fatores psicossociais, que podem contribuir para uma velhice ativa e saudável (“bem-sucedida”). Incluem-se, aí, fatores extrínsecos tais como educação, acesso a serviços de apoio, habitação adaptada, cuidados com a saúde e oportunidades de trabalho adequadas às necessidades e capa-cidades individuais do idoso, além dos fatores ligados à sua motivação e iniciativa (NERI, 1993).

No Brasil os estudos sobre as representações sociais da velhice, do idoso e do envelhecimento apontam para um consenso: de um lado, que

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De um modo geral, pode-se dizer que as representações sociais, apontadas pelo estudo de Costa (2001), junto a idosos, parecem ser partilhadas na sociedade. Isto é: a maior parte das pesquisas voltadas para a capacitação de profissionais (cuidador formal) ou familiares (cui-dador informal), no cuidado de idosos de alta dependência, ou bastante fragilizado, tende a se centrar nos aspectos relacionados a perdas físicas. Compatível com tal visão, nossa revisão bibliográfica sobre cuidadores apontou, salvo raras exceções, para uma visão médica, ou seja, biológica, dessa capacitação e não psicológico. Até na gerontologia, tais trabalhos vinculam-se à enfermagem, e os relatos de intervenção junto aos cuidadores dizem respeito às perdas e à dependência do idoso. E, vale acrescentar que, nos trabalhos publicados na área do Serviço Social, o problema central se limita, quase que exclusivamente, às questões sobre a aposentadoria. Nossa revisão abrangeu 47 trabalhos de âmbito nacional e internacional entre artigos de revistas, monografias, dissertações, teses e livros, publicados num período de 10 anos, de 1993 a 2003.

Para obtenção da referida bibliografia, utilizamos o Portal da CAPES (base de dados – SciELO, LILACS, BVSE, OVID, PsyINFO, APA, Web of Science) e Bireme. Como palavras-chaves, trabalhamos com termos: intervenção, capacitação, treinamento, recrutamento e cuidadores; envelhecimento, idoso, velho, gerações e valores.

Assim, foram localizados artigos nas seguintes revistas publicadas no Brasil: Estudos de Psicologia (Natal) de 1997 a 2003; Psicologia da USP (SP) de 1997 a 2003; Psicologia e Sociedade de 2002 a 2004; Psicologia em Estudo de 2002 a 2004; Psicologia: Teoria e Pesquisa (UnB) de 2000 a 2004; Psicologia: Reflexão e Crítica (Porto Alegre) de 1997 a 2003;

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Psicologia: Teoria e Prática de 1999a 2003; Revista Latinoamericana de Psicologia de 1995 a 2003; Revista Brasileira de Psiquiatria (S.P) de 1999 a 2003; Texto sobre Envelhecimento (UNATI/UERJ) de 1993 a 2004 e Caderno de Saúde Pública (S.P) de 1994 a 2003.

Artigos internacionais foram localizados nos periódicos: The In-ternational Journal of Aging end Human Development de 1993 a 2003; Psychology and Aging (APA) de 1993 a 2003; Applied Psychology de 1993 a 2003; Journal Applied Psychology de 1993 a 2003; Journal of Applied Developmental Psychology de 1993 a 2003; Journal of Aging Studies (USA) de 1993 a 2004; Journal of Adult Development (USA) 1993 a 2004, Ageing and Society (United Kingdom) de 1993 a 2004 e American Psychologist (APA) 1993 a 2003.

Pelo menos dois aspectos da revisão apresentada são importantes para a proposta do nosso trabalho. Em primeiro lugar, a maior parte das pesquisas centra-se especificamente nas questões da pessoa em processo de envelhecimento e do seu cuidador segundo uma visão quase exclusiva-mente médica, em detrimento de uma abordagem psicológica (FÁVERO; COSTA, 2005). Em segundo lugar e, conseqüentemente, são raros os estudos que dizem respeito à formação de recursos humanos visando os idosos independentes e autônomos, tanto na literatura nacional como na internacional. E isso, a despeito de estudos como os desenvolvidos por Veras e Camargo Jr. (1995), por exemplo, mostrando que, no Rio de Janeiro, 82,5% dos idosos não relataram problemas de saúde ou queixas de saúde. Portanto, é um fato a existência de um contingente cada vez maior de pessoas acima dos 60 anos vivendo de forma saudável e que precisam de espaços de convivência, atividades de lazer e oportunidades para o desenvolvimento de sua cidadania. Essa é a razão por que têm crescido, nos últimos anos, no Brasil, os programas voltados para os idosos, como as “escolas abertas”, as “universidades para a terceira idade” e os “grupos de convivência”, além dos “centros de convivência” ou as “casas-lares”. Trata-se de programas, segundo Debert (1999), que buscam a auto-expressão e a exploração de identidades que eram exclusivas da juventu-de, abrindo novos espaços para que experiências inovadoras possam ser vividas coletivamente, mediante novas oportunidades dadas à velhice, as quais vêm demonstrar que a sociedade brasileira está, hoje, mais sensível às questões do envelhecimento.

Assim, levando em conta a necessidade de se formar profissionais não somente para trabalhar com idosos dependentes e com alto grau de comprometimento, mas também com a qualificação de profissionais para

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Assim procedendo, seria possível considerar, como propôs Fávero (2005): a identificação das representações sociais (as vozes institucionais, como sugeriu Bakhtin), assim como o paradigma pessoal de cada sujeito que partilha tais representações; a tomada de consciência, no sentido proposto por Piaget (1977), de tais representações sociais e das premissas que fundamentam o seu paradigma; as implicações deste paradigma para a prática pessoal e/ou profissional e as possibilidades de sua re-elaboração. MÉTODO

Sujeitos

Participaram deste estudo oito sujeitos – seis mulheres e dois homens, entre 32 e 50 anos de idade, profissionais de uma instituição de Goiânia, GO, que atende a idosos autônomos e independentes. A escolaridade desses sujeitos foi variada: três possuem o 1o grau do ensino fundamental incompleto; um, o 1o grau do ensino fundamental completo; também um sujeito, com ensino médio incompleto; um com o curso técnico completo e dois com curso universitário completo.

Caracterização da Instituição

A instituição pesquisada trata-se do Centro de Convivência Vila Vida, que é mantido pela Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) inaugurado no dia 26/03/94. Este Centro surgiu como possibilidade de prestar um serviço substitutivo aos asilos. Atualmente abriga 55 idosos aposentados, mas tem capacidade para 60 (há ali, 30 casas). Com idades

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a partir de 60 anos, sendo que, 50% dessa população está na faixa dos 70 anos. Dos 55 moradores, somente duas possuem o 2° grau completo e exerceram a profissão de professora. Os outros moradores possuem o 1° grau (só sabem escrever o nome), e suas profissões são a de pedreiro e doméstica. A grande maioria provém da zona rural.

Procedimento de Coleta de Dados

O processo de coleta de dados teve início com o consentimento da organização responsável – a Organização das Voluntárias de Goiás (O.V.G.). Em seguida, realizou-se uma reunião com a diretora da ins-tituição, para esclarecimentos sobre o objetivo da pesquisa, bem como quanto à liberação dos funcionários para participar da mesma. Para a coleta de dados utilizamos o grupo focal.

As reuniões, que agora passamos a descrever, tidas como sessões de grupos focais, foram desenvolvidas numa seqüência com intervalos variados de acordo com a disponibilidade dos sujeitos. Foram realizadas 14 sessões de grupos focais, com uma duração média de 1 hora e 30 minutos cada uma, as quais foram gravados em fitas, com autorização prévia dos participantes. Todos os encontros foram marcados com antecedência e se realizaram em uma sala na própria instituição.

O início de cada sessão se dava a partir do resumo da análise da sessão anterior, levando os participantes a confrontarem afirmações sobre velhice e envelhecimento expressas nas sessões anteriores. O objetivo desse momento era verificar a tomada de consciência do conteúdo expresso, isto é, perceber as representações sociais sobre velhice e envelhecimento bem como refletir sobre a relação entre representações sociais e as que o grupo tinham junto aos idosos.

Cada uma das sessões era transcrita na íntegra e esta descrição sub-metida a dois tipos de análises, como descreveremos a seguir: à análise dos

atos da fala e a análise de conteúdo, verificadas por meio das proposições.

Os resultados de tal análise forneciam os subsídios para a definição dos objetivos da sessão seguinte. Dito em outros termos, a análise de uma sessão de grupo focal definia o foco da sessão seguinte.

Procedimento de Análise dos Dados

Assim, as transcrições obtidas de cada uma das sessões de grupo focal, segundo o procedimento descrito anteriormente, foram submetidas

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Os resultados foram estruturados em tabelas divididas em qua-tro colunas. Na 1ª coluna transcrevemos literalmente as interlocuções produzidas nas sessões de grupo focal; na 2ª coluna, apresentamos as proposições. Na 3ª coluna, apresentamos a categorização dos atos da fala (interlocuções) e finalmente, na última coluna, apresentamos a categori-zação de tais atos. Esta pesquisa foi fruto de um estudo longitudinal que abrangeu o período de maio de 2004 a dezembro de 2005.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primeira sessão, a moderadora instigou a discussão, focando em velhice, velho e idoso. A análise da transcrição dessa sessão aponta em resumo, para: velho conceituado como ranzinza, doente, carente, experiente, “uma coisa”; velhice conceituado como estado de ser do velho, mudança na cabeça, desgaste físico; idoso, como o velho que não se entrega à velhice, aquele que respeita o velho. Elaborou-se assim, um resumo das representações sociais partilhadas no grupo e obtidas na primeira sessão que foi devolvida na segunda sessão para cada sujeito, por escrito, digitada em papel sulfite. O objetivo era focar a discussão na confrontação das premissas, sobretudo naquelas antagônicas, como por exemplo: o velho “tem experiência de vida” e, ao mesmo tempo, “o velho não tem valia”.

Diante de tal confrontação, os sujeitos concluíram que necessitavam de mais informações. Assim, na terceira sessão, foi proposto ao grupo uma discussão focada na leitura de 3 textos publicados na imprensa brasileira:

Projetos para a velhice, de Mônica Tarantino e Respeite meus cabelos brancos,

de Rita Moraes, publicados na Revista Veja em 07/05/2003; Velhice com

qualidade, de Deire Assis, publicado no jornal O Popular em 18/04/2004.

Na quarta sessão se deu continuidade à discussão dos textos e o grupo chegou ao consenso de que: envelhecer não é bom no Brasil e envelhecer está relacionado com a perda da beleza (desgaste físico). Tais premissas fundamentavam a tese geral do grupo: envelhecer é ruim. Da quinta a nona sessão as discussões giraram em torno de dois raciocínios básicos: envelhecer traz perdas e alterações físicas; tais alterações elimina a beleza

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e limita o sujeito velho, numa sociedade que valoriza a beleza e na qual é mais fácil ser feliz quem é belo e belo é jovem. Por outro lado, ser velho implica estar só; estar só impede ser feliz, portanto, ser velho é ser infeliz. Na décima sessão houve a participação de alguns técnicos da instituição que foram convidados para participarem do grupo focal. O objetivo dessa participação foi promover reflexões sobre questionamentos que o grupo vinha construindo no decorrer das sessões. Já a décima primeira sessão foi pouco produtiva e não conseguimos realizar o fechamento. A questão levantada produziu respostas vagas e pouco esclarecedoras. Este fato pode estar relacionado ao espaço de três meses entre a décima e a décima primeira sessão. Na décima segunda sessão utilizamos transparências para revisão das sessões anteriores e promover no grupo a tomada de consciência de contradições que surgiram nas interlocuções dos cuidadores. Já na décima terceira sessão procuramos rever expressões e conceitos ditos pelo grupo e colocamos em questão termos como agressividade e assertividade. Por fim na décima quarta sessão verificamos afirmações relacionadas ao conceito de assertividade e agressividade e a tomada de consciência sobre o significado de idoso saudável e doente além da constatação, pelo grupo, de que as repre-sentações sociais do envelhecimento passa pelo viés da questão de gênero. A análise da produção das sessões interativas mostram uma volta constante à premissa: envelhecer não é bom porque há perdas; isso traz conseqüências negativas (reclusão, doenças, etc) e portanto, é difícil ser velho e ser feliz. Observou-se, no entanto, que o procedimento de afrontar o grupo com suas próprias premissas e instigá-los a discutir as implicações dessas para sua prática profissional dentro da sua instituição. Por isso mesmo, nas últimas sessões observou-se um deslocamento desse foco, para a questão do apoio da sociedade à população envelhecida, sobretudo nas classes sociais menos favorecidas economicamente. Isso levou à reflexão de que as atividades institucionais poderiam desempenhar um papel ativo no que se refere às políticas públicas em relação à população idosa. CONCLUSÃO

Acreditamos que a contribuição do nosso trabalho diz respeito à importância da pesquisa de intervenção na promoção das transformações das representações sociais. Nosso intuito foi demonstrar a pertinência da articulação entre o desenvolvimento psicológico, a mediação semiótica e as representações sociais como proposto por Fávero (2005). Como sabe-mos, os estudos sobre a dinâmica e a transformação das representações

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Vale ressaltar que através dessa proposta teórico-metodológica de Fávero (2005) foi possível o reconhecimento das representações sociais sobre a velhice e o envelhecimento por parte dos próprios sujeitos, através de questionamentos que envolviam suas práticas profissionais e pessoais e, por consequência, a re-elaboração das narrativas a respeito dessas mesmas práticas. De acordo com Piaget (1977), podem ocorrer mudanças através da tomada de consciência. Esse autor defende a idéia de que a tomada de consciência não é simplesmente um processo de iluminação, pois na medida em que o sujeito toma consciência de um processo, verifica-se uma mudança no próprio sujeito. Então, podemos afirmar que, quando o sujeito entra em contato com as suas representações sociais sobre um determinado fenômeno social, nesse momento, começa a ocorrer um processo de mudança no próprio sujeito.

Isto posto, reafirmamos que, ao se pensar em pesquisa de interven-ção, se faz necessária a identificação das representações sociais ou, como no dizer de Fávero (2005) em referência a Bakthin, há que se perceber as vozes institucionais, sem descartar, no entanto, e isto é o ponto chave desta proposta, o paradigma pessoal de cada sujeito que compartilha tais representações que sustenta, por sua vez, suas práticas sociais. Certamente que, ao falarmos em paradigma pessoal estamos, como a autora citada acima, nos referindo à tese de que o sujeito humano é ativo e apresenta uma identidade única e particular sem, contudo apartá-lo do mundo coletivo e social, afinal, esse sujeito constrói suas representações sociais a partir de trocas comunicacionais produzidas pela situação de grupo focal como: as conversações, os diálogos e as argumentações no sentido de facilitar a exploração e a síntese das contradições, o que, por outro lado, favorece uma nova fundamentação na criação e na transformação dos significados.

Infelizmente, os estudos que têm se dedicado ao processo de trans-formação das representações sociais não têm levado em consideração, nem a teoria do desenvolvimento psicológico e nem a da mediação semiótica.

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Certamente pelo fato da existência da “dificuldade em aceitar que as práticas podem ser reconstruídas e, portanto, modificadas por meio da reconstrução dos significados que lhes dão sentido” (FÁVERO, 2005, p. 22). Acreditamos que é exatamente esse aspecto que traduz uma das impor-tantes contribuições dessa pesquisa, tanto para a teoria das representações sociais como para o desenvolvimento de pesquisas de intervenção que aliás, se mostrou relevante na promoção das transformações nas representações sociais. Reconhecemos que esse é um tema extremamente relevante e caro para a teoria das representações sociais, mas ainda pouco estudado. Essa pesquisa, realizada para esse nosso trabalho, poderá abrir novos horizontes e possibilidades na construção de novos caminhos, o que ampliará o campo de atuação e abrangência da teoria das representações sociais.

Um outro aspecto de fundamental importância, constatado nessa pesquisa, diz respeito que as políticas públicas destinadas ao velho aten-tassem para o fato de que vivermos em um país que possui um número significativo de idosos saudáveis e independentes, como apresentado na parte teórica desse trabalho. Ao falarmos de idosos saudáveis não estamos nos referindo à ausência de doenças mas, sim, à manutenção da autonomia que garante a qualidade de vida dessa população.

Diante desse fato, se torna urgente que as instituições que trabalham com idosos, em especial com idosos independentes e semidependentes, pro-movam capacitação continuada para todos os seus funcionários, tendo em vista o desenvolvimento de suas competências e habilidades, tanto no que diz respeito ao processo de envelhecimento quanto a pessoa que envelhece. Essa decisão institucional favoreceria a melhora na qualidade do trabalho prestado ao idoso, bem como garantiria uma vida com maior autonomia.

Assim, chegamos ao “final” dessa jornada com a certeza de que as conquistas e também as grandes dificuldades que foram experienciadas na realização deste estudo muito contribuíram para o nosso crescimento pessoal e profissional. Vale, por fim, ressaltar que os sujeitos, que fizeram parte nessa pesquisa, tiveram uma participação efetiva no nosso processo de aprendizagem, não somente relacionado ao idoso mas, principalmente, no nosso próprio processo de envelhecimento.

THE TRANSFORMATION OF SOCIAL REPRESENTATIONS TO AGEING: A PROPOSAL FOR INTERVENTION

Abstract: there is a consensus in studies of the social representation of ageing:

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ability to work), and on the other, respect for the experience of older people and of related socio-political issues. In the psychology of ageing, three aspects are highlighted: declining family support for older people, experience and values related to ageing and the defence of studies regarding the training of carers, mainly focussed on the physical aspect of ageing. The results suggested two foci – ageing seen as a negative experience, and an emphasis on physical, intellectual and social losses – both based on a paradigm related to physical appearance, beauty and affect, suggesting a connection between the social representations of ageing and gender.

Keywords: Social representations. Ageing. Focus group. Grasp of consciousness. Referências

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* Enviado: 10.07.2010. Recebido: 09.09.2010

** Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (2006). Mestre em Psico-logia pela Universidade Católica de Goiás (2001). Graduada em PsicoPsico-logia pela Universidade Católica de Goiás (1996). Coordenadora do Centro de Referência em Atenção a Saúde da Pessoa Idosa e está vinculada diretamente ao programa do Idoso. Funcionária concursada da Secretaria Municipal Saúde. Professora convidada da Universidade Católica de Goiás onde além de ministrar algumas disciplinas na graduação está na orientação dos artigos de final de curso. Tanto o mestrado como o doutorado estão relacionados às questões do envelhecimen-to e da Pessoa Idosa. Atua na linha de Pesquisa vinculada a CNPq intitulada: Identidade, gênero e representações sociais do envelhecimento.

*** Doutora em Psicologia e Ciências da Educação pela Universite de Toulouse II (Le Mirail), França, obtido em 1984, como bolsista da CNPq. Professora do Instituto de Psiciologia da Universidade de Brasília desde 1987, onde ingres-sou por meio de Concurso Público, como Professora Adjunto. Desenvolve projetos de pesquisa com bolsa de pesquisador do CNPq desde 1989. Coor-dena a linha de Pesquisa vinculada a CNPq intitulada: Identidade, gênero e representações sociais do envelhecimento.

Referências

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