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Turismo urbano: alojamento local no norte de Portugal

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Academic year: 2020

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Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Sara Simões Loreto Norberto

outubro de 2019

Turismo Urbano

Alojamento Local no Norte de Portugal

Sara Simões Loreto Norberto

Turismo Urbano Alojamento Local no Nor

te de P

or

tugal

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Sara Simões Loreto Norberto

outubro de 2019

Turismo Urbano

Alojamento Local no Norte de Portugal

Trabalho efetuado sob a orientação do

Professor Doutor Albertino Gonçalves

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Sociologia

Área de especialização em Políticas Sociais

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE

UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR

TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição CC BY

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iii

AGRADECIMENTOS

É difícil de expressar como me sinto privilegiada por ter sido orientada pelo professor Doutor Albertino José Ribeiro Gonçalves. Deixo o meu profundo agradecimento pela sua paciência e constante disponibilidade e boa disposição que me motivou a continuar com este projeto.

Um agradecimento especial ao meu pai que fez os possíveis e os impossíveis para me ajudar e por ser a minha principal cobaia.

Aos meus colegas do Mestrado em Sociologia. Foi a turma mais unida e mais amiga que já tive, e por isso, muito obrigada.

Aos meus amigos (eles sabem quem são) por estarem sempre lá para mim nos momentos bons, nos maus e nos feios.

Por último, quero agradecer à mulher mais bonita do mundo: a minha mãe.

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho acadêmico e confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de atualização indevida ou falsificação de informação ou resultados em nenhuma das etapas conducentes à sua elaboração. Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

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RESUMO

Turismo urbano: Alojamento Local no Norte de Portugal

No início da década, Portugal atravessava uma grande crise económica e social. Os salários baixaram significativamente, a taxa de desemprego subiu consideravelmente e muitas empresas fecharam as suas portas.

Enquanto isto, a violência e o terrorismo proliferavam nos países do Médio Oriente, o que levou a que milhões de pessoas fugissem para a Europa, principalmente para os países mediterrânicos, criando então uma crise de refugiados devido a essa afluência.

Portugal não sofreu de forma expressiva destas “enfermidades” (afluxo massivo de refugiados e terrorismo). Precisamente por isso, o fator de segurança vai tornar-se um dos grandes responsáveis pelo desvio dos turistas para o nosso país

Foi então que a verdadeira descoberta turística aconteceu, e assim se tem vindo a manter devido a uma variedade de fatores como a afabilidade do português, a qualidade e variedade gastronómica, um clima quente, o património cultural, etc. E sempre a segurança.

Este interesse dos turistas não passou despercebido, os portugueses viram nisso uma boa oportunidade de negócio, tentado recuperar rendimentos perdidos. Foi então que o Alojamento Local (AL) marcou uma posição relevante do setor do Turismo.

Muitos sentiram os benefícios deste negócio, mas devido ao seu crescimento acelerado notou-se uma falta de regulação.

Criam-se debates e discussões em volta deste tema, chegando até ao ponto de existir alguma animosidade contra os turistas. Começa-se a falar cada vez mais em gentrificação, fenómeno que afeta as dinâmicas e composições de uma região ou bairro.

Ao longo do trabalho vamos tentar perceber melhor este fenómeno através da elaboração de entrevistas a proprietários de AL e de pesquisa documental (complementando com dados estatísticos) para expor as diferentes opiniões acerca do crescimento desta atividade turística.

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ABSTRACT

Urban tourism: Local Accomodation in Northen Portugal

At the beggining of the decade Portugal was crossing a major economical and social crisis: wages have dropped significantly, the unemployment rate has risen consideravly and many companies have closed their doors.

At the meanwhile, violence and terrorismo proliferated in the Middle East countries, which led millions of people to flee to Europe, mainly to the Mediterranean countries. This influxo f people generated a refugee crisis.

Portugal has not suffered significantly from these setbacks (massive influxo f refugees and terrorismo). Precisely for this reason, the security factor will become one of the major responsible for the diversion of tourists to the country.

It was than that the real touristic discovery took place. It has been like so due to a variety of factores such as the portuguese hospitality, the quality and varietu of portuguese cuisine, the warm climate…

This growth of tourists did not go unnoticed. The portuguese saw that as a good business opportunity and a way to recover the lost income due to the economic crisis. It was then that Local Accomodation marked a relevant position of the Tourism sector.

Many felt the benefits of this business, but due to its rapid growth a lack of regulation was felt.

There are many disccussions and debates around this subject, to the point of building some animosity rowards tourists. More and more people are talking about gentrification, a phenomenon that affects the dynamic and composition of a region or neighborhood.

Throughout this investigation we’ll try to find a better understanding of this phenomenon, interviewing L.A. owners and through documentar research (complementing with statistical data) to expose diferente oppinions about the growth of this touristic activity.

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ÍNDICE

DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS... 2

AGRADECIMENTOS ... iii DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE...iv RESUMO ... v ABSTRACT ...vi LISTA DE FIGURAS ... ix LISTA DE GRÁFICOS ... ix LISTA DE TABELAS ... ix INTRODUÇÃO ... 11 CAPÍTULO I ... 14 ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 14 1. Definição de Turismo ... 15

2. Contexto Histórico: Conceito e Evolução do Turismo ... 19

2.1. Origem do conceito ... 19 2.2. Evolução do Turismo... 20 3. Motivação e o Turismo ... 25 4. O Turista ... 29 CAPÍTULO II ... 33 ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ... 33 1. Problemática ... 34 2. Metodologia ... 36 2.1. Objeto de Investigação ... 36 2.2. Etapas do Procedimento ... 37

2.3. Instrumentos de recolha de informação ... 38

CAPÍTULO III ... 41

APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS ... 41

1. Alojamento Local ... 42

1.1. Dos Primórdios até ao início do séc. XXI ... 42

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2. Análise das entrevistas ... 48

2.1. Perfil dos proprietários de AL ... 49

2.2. Experiência com o AL... 49

2.3. Expetativas para o futuro da atividade do AL ... 53

3. Tendências do Alojamento Local ... 55

3.1. Análise Quantitativa ... 55

3.2. Alojamento Local e o crescimento do Turismo ... 61

3.3. Críticas ao Alojamento Local ... 62

4. Despersonalização do AL ... 67 CAPÍTULO IV ... 69 CONCLUSÃO... 69 Considerações Finais ... 70 BIBLIOGRAFIA ... 73 ANEXOS ... 77 Guião da Entrevista ... 77 Entrevistas PORTO ... 78 Entrevistas BRAGA ... 94

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Centro de Estudo de Turismo………... 16

Figura 2- Pirâmide de Maslow………. 26

Figura 3- As etapas do procedimento……….. 37

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Nº de dormidas nos estabelecimentos turísticos………. 56

Gráfico 2- Receitas turísticas no PIB……….. 57

Gráfico 3- Taxa de desemprego em Portugal……….. 58

Gráfico 4- Emprego criado, em milhares de indivíduos……….. 58

Gráfico 5- Nº de espaços de alojamento local registados em Portugal……… 59

Gráfico 6- Nº de espaços de alojamento local registados em Porto e Braga………. 60

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Tipologia do Turista……….. 30

Tabela 2- O velho e o novo turista……….. 31

Tabela 3- As diferentes partes da entrevista……….. 48

Tabela 4- Perfil dos proprietários………. 49

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INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende conhecer o Alojamento Local (AL): como surgiu, como evoluiu, que impactos causou.

O turismo é, talvez, a atividade que maior transversalidade apresenta relativamente a todas a outras. É também, e por isso mesmo, a atividade que mais influencia o quotidiano. Mas também é extremamente sensível a influências externas. Esta está diretamente ligada aos seres sociais assumindo diversas formas consoante as necessidades e as motivações destes.

Em Portugal, o turismo sempre foi uma atividade bastante previsível e estável, isto é, sempre teve um cariz eminentemente sazonal e de concentração muito localizada nas regiões do Algarve, Lisboa e Madeira. Também as taxas turísticas não evidenciavam grandes oscilações, relativamente às subidas e às descidas. Digamos, para usar um termo popular, o turismo sempre foi “aquilo”, “um bocadinho para cima e às vezes um bocadinho para baixo”.

Ora, há cerca de 10/12anos assistimos a um boom do turismo em Portugal com uma expressão nunca antes vista. Vemos turistas em todo o país, durante todo o ano. O tradicional “sol e mar” já não é o grande produto turístico, mas apenas mais um. Mesmo em Braga, onde só víamos os turistas no Verão e Natal; ou os espanhóis na Semana Santa… estes, agora já fazem parte do quotidiano da cidade.

Como é evidente, tal acontecimento vai causar impactos económicos, geográficos, laborais, etc. Trata-se de um fenómeno inédito. Ninguém previa que tal fosse acontecer e, até aos dias de hoje, estamos a tentar perceber onde é que isto nos vai levar e como pesar os seus impactos (positivos e negativos).

Este crescimento turístico dá-se simultaneamente com a crise económica que assolou o país e evidenciou uma atividade que, até há pouco tempo, passava despercebida: o Alojamento Local.

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Desde essa altura, 2011, que tenho interesse na temática do turismo urbano, em particular o Alojamento Local. Primeiro como interveniente, quer como hóspede, depois como anfitriã. Mas vai ser no âmbito do Mestrado em Sociologia pela Universidade do Minho que tenho oportunidade de explorar o tema com mais profundidade.

O mais interessante é a quantidade surpreendente de mudanças que o AL sofreu a nível legal, no seu funcionamento e dinâmica, e até mesmo na opinião pública e em tão curto espaço de tempo.

Para melhor entender este fenómeno do turismo urbano, começamos por compor um quadro teórico.

Neste quadro teórico começamos por elaborar uma definição de turismo onde são apresentadas várias perspetivas de diferentes autores. Aqui, tentamos, por um lado, apresentar os pontos comuns de cada uma dessas perspectivas e, por outro lado, mostrar o quão difícil é definir este conceito e a sua complexidade. Apesar do conceito de “turismo” existir há muito tempo (como é possível perceber no “Contexto Histórico”), ainda não se acordou numa definição generalizada, sendo apenas possível recolher noções pouco aprofundadas deste conceito.

Seguidamente, fizemos um enquadramento histórico do turismo. Começámos por fazer uma breve pesquisa da origem etimológica da palavra turismo, com base no The Oxford English Dictionary. E mesmo aqui, podemos encontrar divergência entre os investigadores em relação à origem da palavra tour, que é o princípio da noção de turismo.

Ao longo da História, o turismo sempre teve várias formas e motivações para o Homem.

Mas o que ficou claro é que está cada vez mais presente no nosso quotidiano e, à medida que nos aproximamos do presente, se torna cada vez uma atividade mais necessária e, simultaneamente, mais acessível.

Por forma a ajudar a explicar estas alterações relativamente à relação entre o turismo e a necessidade crescente que desperta no ser humano, apresentamos várias teorias da motivação onde são apontadas diversos tipos de motivações e se tenta explicar que estas não partem apenas do desejo do turista.

Para finalizar este enquadramento teórico, procuramos conhecer melhor o agente mais concreto da atividade turística: o turista. Tal como a própria atividade, a imagem do turista tem vindo a renovar-se ao longo dos tempos, tornando impossível estabelecer uma definição concreta.

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Tal como explica John Urry (2001), o turista é a perceção que ele tem dele próprio. Esta definição remete-nos para uma visão muito egocêntrica do conceito e que torna difícil a sua utilização em qualquer contexto.

Mas quando procuramos responder às questões: “O que é ser turista? O que procura?”, conseguimos entender um pouco mais esta definição e aceitá-la. E isto leva-nos a entender o sucesso do alojamento local: o turista é egocêntrico. Ele quer fazer as coisas à maneira dele, de forma a satisfazer as suas necessidades. No AL o turista pode ser aquilo que ele quiser.

Não devemos ver a definição de Urry como ligeira mas sim como necessária.

Passando ao estudo do AL, fizemos uma análise tão profunda quanto conseguimos. Também aqui fizemos o contexto histórico e legal da atividade.

De seguida, falamos e entrevistamos um universo de anfitriões donos de unidades de Alojamento Local de Braga e Porto.

Entendemos serem estas, as pessoas mais indicadas para nos ajudar a perceber todos os impactos da atividade e as suas evoluções, uma vez que são eles que sentem permanentemente todas as pulsões.

Na análise de resultados, complementamos toda a análise feita com dados estatísticos. Isto permite-nos fazer o levantamento das questões mais expressivas do AL.

Finalizamos a nossa investigação abordando o tópico mais expressivo: a despersonalização do Alojamento Local.

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CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO

TEÓRICO

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1. Definição de Turismo

O que é o Turismo?

Esta questão é, provavelmente, o grande e o maior desafio para qualquer cientista que se tenha deparado com o tema: definir “Turismo”. Apesar dos múltiplos estudos em diversas áreas (sociologia, economia) ainda não se chegou a um consenso sobre o que poderá ser de facto uma definição globalmente aceite, devido à sua natureza generalizada e multidimensional.

Em consequência da sua essência, este conceito irá ser sempre alvo de controvérsia, mesmo que seja possível avançar com uma definição científica, como explica Cláudia Henriques (2003): A complexidade emergente do fenómeno turístico leva-nos a ter presente que qualquer definição que dele se queira adiantar ficará sempre aquém da sua inteira perceção.”. Restam-nos, então, uma coleção de teorias variadas que nos vão ajudando a montar este puzzle.

Trata-se de uma atividade, sobretudo, multidisciplinar, apesar de existirem inúmeras discussões se devemos considerar (ou não) o Turismo como uma disciplina.

Há autores, como Goeldner, Leiper, para os quais, sem dúvida alguma, os estudos turísticos constituem um disciplina. Outros há, Gunn, Hoerner, que consideram que o Turismo constitui uma ciência. Já para Tribe, considera tratar-se de um domínio de conhecimentos multidisciplinar. Este para reforçar a sua ideia utiliza o termo “indisciplina” ao descrever o Turismo, pois entende que se trata de um conjunto de conhecimentos que se apoiam em várias disciplinas para investigar e explicar a área de interesse. (Cunha, Introdução ao Turismo, pág. 127)

Esta natureza multidisciplinar deve-se ao facto do Turismo estar diretamente ligado tanto à sociedade quanto ao individuo. É preciso utilizar diversas “disciplinas” para o entendermos melhor, como por exemplo a psicologia. As motivações que levam as pessoas a viajar variam consoante uma serie de fatores, essa avaliação psicológica será importante para criar formas de promover produtos turísticos.

Outro exemplo será a economia. Visto que o turismo é das atividades mais rentáveis, será necessária uma análise económica.

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Para não ocupar este capítulo com exemplos das várias disciplinas do turismo, observemos o modelo elaborado por Jafari em 1981, que representa essa multidisciplinariedade:

Figura 1- Centro de Estudos de Turismo de Jafari, 1981

Claro que com a expansão significativa desta atividade, fez-se sentir a necessidade de elaborar uma definição, de certa forma, oficial e globalmente aceite. Foi em 1991 que a OMT (Organização Mundial de Turismo) apresentou uma definição de “turismo” (uma espécie de upgrade da definição de “turista” criada em 1968): “O turismo compreende as atividades e estadas em locais situados fora do seu enquadramento habitual por um período consecutivo que não ultrapasse um ano, para fins recreativos, de negócios e outros.”.

Já o INE (Instituto Nacional de Estatística) descreve o turismo como “atividades realizadas pelos visitantes durante as suas viagens e estadas em lugares distintos do seu ambiente habitual,

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por um período de tempo consecutivo inferior a 12 meses, com fins de lazer, negócios ou outros motivos não relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no local visitado.”.

A definição de “turista” foi um pouco mais desafiante. Este conceito foi submetido a um tratamento exaustivo, estabelecendo diferenças entre visitante, turista e excursionista:

 Visitante- qualquer pessoa que visite um país diferente daquele onde reside habitualmente e cuja finalidade não seja a de exercer uma atividade remunerada. Esta definição engloba os conceitos de turista e excursionista.

 Turista- todo o visitante temporário que permaneça pelo menos 24 horas no país que visita e que aí pernoite.

As finalidades da viagem podem ser de prazer, férias, saúde, religião, desporto, instrução, trabalho e família.

 Excursionista- todo o visitante que permanece menos de 24 horas no país de visita. Inclui-se neste grupo os viajantes de cruzeiro e em trânsito nos aeroportos que permanecem algumas horas no país.

Estas definições são muito técnicas e genéricas, dando apenas uma noção muito superficial do que é o turismo, não dando margem para explorar a sua essência dinâmica. Um exemplo disto, em ambas as definições afirma-se que o turismo só o é quando praticado num espaço inferior a 12 meses. Contudo, entre os séculos XVII e XVIII, período em que o turismo começou a ganhar forma (grand tour) as viagens podiam durar até 2 anos, estas definições já não se podem aplicar neste caso, que não deixa de ser menos turismo do que nos dias de hoje, simplesmente tinha uma outra estrutura, como teremos oportunidade de ver no capítulo seguinte sobre o contexto histórico do turismo. Esta transformação da atividade é continua, o que torna inevitável que a sua definição não o seja: “Na verdade, aquilo que se entende por «turismo» foi variando ao longo do tempo, em conformidade com as práticas de cada época.” (Barros, 2015)

Tal como muitos outros cientistas e instituições, a OMT e o INE tiraram inspiração de Hunziker & Krapf (1942) e criaram a definição mais estimada até aos dias de hoje, devido ao seu carater humano e lucrativo. Estes descrevem o turismo como “uma deslocação e permanência pouco prolongada de indivíduos fora da respetiva área de residência habitual (…) não motivada por nenhuma atividade diretamente lucrativa.”

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O sociólogo John Urry, explica na sua obra “O Olhar do Turista” (1990) que a definição de Turismo está diretamente ligada com o individuo que o pratica, é o contraste da sua realidade social. Fazer Turismo exige o afastamento e a rutura de uma série de rotinas, que vão causar uma série de estímulos que serão diferentes para cada pessoa.

Por outras palavras, são as práticas não-turísticas que vão ajudar a construir o que é o Turismo: “… o olhar do turista, em qualquer período histórico, é construído em relacionamento com o seu oposto, com formas não-turísticas de experiência e de consciência social (…) sobretudo aquelas baseadas no lar e no trabalho remunerado.”.

O autor, apesar de não nos colocar nenhuma definição concreta de Turismo, deixa-nos margem suficiente para pensar em todos os fatores que este implica: tempo, espaço, status, etc. São estes fatores que vão criar motivações desta atividade, que por sua vez vão criar uma imagem (ou várias) do que é o Turismo.

O turismo constitui uma das temáticas mais intrincadas das ciências sociais. Apesar das várias tentativas de múltiplos autores, ficamos com uma imagem ainda muito abstrata do que é o Turismo.

John Tribe ajuda-nos a resumir este capítulo: “O mundo do turismo é problemático (…), é frequentemente permissivo e impressionante e, portanto, pode abranger uma variedade de significados.” (The Indiscipline of Tourism, 1997)

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2. Contexto Histórico: Conceito e Evolução

do Turismo

2.1. Origem do conceito

A palavra tourism é usada pela primeira vez na língua inglesa. O registo inicial, segundo o The Oxford English Dictionary, data de 1811. Três décadas antes, 1780, surgira a palavra tourist.

O seu significado é:

“Tourist – One who makes a tour or tours, esp.one who does this for recreation, one who travels for pleasure or culture, visiting a number of places for their objects of interest, scenery, or the like.

Tourism – The theory and practice of touring; travelling for pleasure. Usually depreciatory.” (1987: 3363)

Relativamente às datas do primeiro uso escrito das palavras tourist e tourism, acima referidas, não há grande contestação. Tal como quanto à raiz da palavra – tour .-que, para a maioria dos etimologistas, surge no inglês como um galicismo.

Quanto à origem da palavra tour, há divergências. Uns defendem que procede do latim tornar - redondear, tornear, girar – que evoca volta, giro, viagem circular… Outros, em particular Arthur Haulot, inclinam-se para uma origem hebraica da palavra tour. Isto porque no hebreu antigo existe a palavra tur que corresponde ao conceito de viagem de descoberta, reconhecimento, exploração.

Seja aceite uma ou outra tese e deixando de lado as conjunturas semânticas, somos levados a concluir que, desde tempos muito remotos, existiram viagens ou outras manifestações com alguma natureza turística.

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2.2. Evolução do Turismo

Viajar, desde há muito tempo que é uma prática recorrente do ser humano, mas “viagem” e “turismo” são duas coisas diferentes, sendo que o desafio é delinear onde acaba um e começa o outro. Nem todas as viagens são turismo, mas fazer turismo implica sempre viajar.

O conceito “viagem” apresenta matrizes muito diferentes ao longo da história. A viagem não estava associada a prazer mas sim a sofrimento, pois eram realizadas em condições incómodas e perigosas. A viagem não era um fim em si, mas um meio para chegar a um destino específico, e restringia-se a pequenas minorias. Contudo, as causas que estavam na base das deslocações dos viajantes de outras épocas, de certa forma, ainda perduram: comércio, lazer, desporto, religião.

Fazendo um breve repasso pela História do Egipto faraónico, da Grécia Clássica, do Império Romano, da Idade Média e do Renascimento encontramos uma imensidade de factos ilustrativos destas causas.

Contudo, o surgimento dos conceitos turista/turismo (1780 -1811) é a marca que muitos autores adoptaram para fazer a diferenciação entre turismo e todas as outras viagens que até aí se faziam.

Sergio Molina, na sua obra “O Pós-Turismo” (2005), enumera e descreve aquelas que foram para ele as principais etapas do desenvolvimento do turismo.

A sua proposta cronológica constitui-se da seguinte forma:  Pré-Turismo (grand tour);

 Turismo Industrial (turismo de massas); o Turismo Industrial Prematuro; o Turismo Industrial Maduro; o Turismo Pós-Industrial.  Pós-Turismo.

O autor reforça a ideia que as categorias acima não se excluem em contexto temporal, podendo coexistir em simultâneo.

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21 Pré-Turismo

O Pré-Turismo tem origem na Europa entre os séculos XVII e XVIII, baseia-se na prática comum dos filhos dos aristocratas ingleses, que, quando atingiam a maioridade, viajavam por várias cidades importantes da Europa como complemento da sua educação e para estabelecer contactos diplomáticos e de negócios. Eram acompanhados por serventes e um tutor e a viagem podia durar mais de 2 anos.

Esta viagem é mais conhecida como grand tour (traduz-se literalmente por “grande volta). Foi Richard Lassels, um perceptor inglês, que em 1670 usou a expressão grand tour para descrever a sua viagem e respetivo pupilo em Itália.

Os primeiros tourists são, então, os jovens ingleses que têm a instrução como motivo da viagem. Mais tarde, esta atividade é adotada noutros países e por outras classes sociais.

Turismo Industrial

O turismo sofre uma evolução significativa na etapa do Turismo Industrial, que por sua vez se divide em 3 fases: (1) Turismo Industrial Prematuro, (2) Turismo Industrial Maduro e (3) Turismo Pós-Industrial.

Esta etapa descreve as origens do turismo moderno no início do século XIX. Um dos grandes fatores deste fenómeno foi a revolução dos transportes. A rede de caminhos-de-ferro na Inglaterra, França e Europa Central ganhou uma dimensão que se aproxima dos dias de hoje, permitindo uma grande diversidade de itinerários. A velocidade dos comboios aumenta significativamente, encurtando as distâncias temporais. São também melhorados aspetos relacionados com a comodidade e a capacidade deste meio de transporte.

Turismo Industrial Prematuro

É no nesta fase que vamos observar:

 O aparecimento dos primeiros grandes hotéis;

 O auge e desenvolvimento das zonas balneares em áreas Mediterrânicas;  A criação de organismos governamentais de turismo.

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22

É também durante este período que surgem as primeiras agências de viagens, e os primeiros pacotes turísticos.

A Julho de 1841, Thomas Cook revolucionou a história do turismo, ganhando o título de “pai do turismo moderno”. Conseguiu-o quando alugou um comboio para assim organizar o transporte de um grupo de 570 pessoas entre as cidades inglesas Leicester e Loughborough, para assistir a um congresso sobre antialcoolismo. Esta é viagem é considerada o primeiro pacote turístico da História, visto que o preço de 1 xelim incluía, não só o transporte, mas também uma refeição e entretenimento.

Nos anos seguintes, Cook continuou a organizar viagens do género, para cada vez longe, passando a incluir reservas de hotéis, restaurantes, guias, etc. Foi então que surgiu a primeira agência turística: Thomas Cook and Son.

Desde então que as agencias turísticas não param de se multiplicar. Apesar de estruturadas e organizadas, não diversificavam o produto que ofereciam.

A Primeira Guerra Mundial foi, naturalmente, um momento de pausa nesta evolução. No final da guerra, o turismo continuou a crescer e a evoluir, visto que a população buscava algum tipo de distração após os anos difíceis que tinham vivido. Para além disso, conquistou-se a democratização do turismo com o direito a férias pagas para a classe trabalhadora geral, o que fez com que o turismo passa-se a ser uma atividade acessível a (quase) todos.

Apesar das duas guerras mundiais que serviram de obstáculo ao crescimento do turismo, foi também nesta altura que se desenvolveu a utilização do automóvel e do avião, o que facilitou consideravelmente a deslocação.

Turismo Industrial Maduro

É após a Segunda Grande Guerra que vamos assistir à fase mais dinâmica da expansão turística de toda a História: Turismo Industrial Maduro.

Esta fase é grande marco do turismo de massas. Molina chama-lhe de “locomotora da expansão turística”.

É nesta altura que surgem uma série de fatores que possibilitam este crescimento impressionante e constante:

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23  A estabilidade politica;

 O desenvolvimento industrial e produtivo (aumenta o poder de compra de amplas camadas da população ocidental);

 A melhoria geral a nível de instrução (o que faz que o interesse em conhecer novas culturas aumente);

 Os progressos técnicos no domínio dos transportes aéreos (permitem viajar com maior comodidade, rapidez e para mais longe de forma acessível);

 Expansão das técnicas de marketing e da publicidade (que influenciam e aumentam as motivações das pessoas a viajar).

Os próprios territórios sofrem transformações drásticas, devido ao desenvolvimento turístico: Constroem-se numerosos complexos balneares na costa Mediterrânica e estâncias de esqui em zonas de montanha; multiplicam-se as ofertas de alojamento como é o caso de Veneza que se converte numa cidade feita para turistas (o que revelou ser um problema).

O turismo torna-se, então, das atividades económicas mais importantes do mundo.

Turismo Pós-Industrial

Esta “fase” constitui um paradigma que vai descartar os valores, métodos e técnicas “tradicionais” que foram suportes da expansão da fase anterior, utilizando os novos métodos tecnológicos que a sociedade começa a adotar. Os serviços oferecidos começam a ser diferenciados e personalizados.

Podemos dizer que o Turismo Pós-Industrial não tem “duração” suficiente para se considerar uma fase, mas sim um período de transição entre o Turismo Industrial e o Pós-Turismo.

Pós-Turismo

A expressão “Pós-turismo” é utilizada pela primeira vez em 1985 por Maxine Feifer na sua obra “Going Places”. Contudo, é importante perceber que este conceito foi criado em forma de “previsão” do que o turismo se estava a transformar. Feifer acreditava que, com os rápidos avanços tecnológicos, o turismo iria passar a ser uma atividade inteiramente praticada através de

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aparelhos eletrónicos. Fazer turismo sem ter de sair de casa, uma espécie de experiencia de realidade virtual.

Foi na década de 90 que John Urry vai reinventar este conceito. Segundo o sociólogo, o Pós-Turismo é um jogo de interpretação. Tal como falamos no capítulo anterior, Urry acredita que o Turismo se transforma segundo o olhar do indivíduo.

É também nesta altura que as agências sofrem uma reviravolta devido ao fenómeno que vai transfigurar o mundo como o conhecemos: a internet.

Antes deste fenómeno, quase todos os turistas recorriam às agências para organizar as viagens, para reservar os hotéis, emitir bilhetes, câmbios, pedir recomendações de atividades, entre outros serviços. Estas coisas estavam, de um modo geral, muito inacessíveis ao cidadão comum, daí a importância da agência como mediadora.

Com as populações cada vez mais info-incluídas estes processos tornam-se cada vez mais simples. Hoje em dia, qualquer um consegue organizar e comprar uma viagem em 2 horas, sem nunca ter de sair de casa.

As agências turísticas continuam a oferecer serviços e pacotes exclusivos que de outro modo não conseguimos adquirir, mas já não é fator indispensável para o turista, são uma opção.

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3. Motivação e o Turismo

Como já mencionamos em capítulos anteriores, o ser humano sempre viajou. Os primeiros homos eram nómadas, deslocavam-se constantemente para obter alimento, abrigo e outros recursos indispensáveis para a sua sobrevivência. Curiosamente, mesmo após nos tornarmos sedentários, viajar continuou a ser um exercício comum.

Hoje em dia viajar é uma prática de lazer, uma forma de relaxar e ocupar os tempos-livres. É verdade que também viajamos em trabalho, mas associamos sempre viagem a algo prazeroso. Mas porque é que o fazemos? O que nos motiva?

De acordo com Dubois (1990), “motivação” refere-se ao ato de dispensar um esforço particular, tendo em vista a concretização de um determinado objetivo. No entanto, não está somente ligada à deliberação dos objetivos da viagem, mas também à consideração das necessidades e aspirações de quem visita.

A grande maioria das teorias da motivação tem como conceito central a necessidade: “A(s) necessidade(s) é/são a força que motiva o comportamento, pelo que compreensão da motivação passa pela determinação das necessidades individuais de como elas tendem a ser satisfeitas” (Henriques, 2003)

Abraham Maslow (1941) acredita que os nossos comportamentos são influenciados pelas nossas necessidades, que por sua vez estão organizadas hierarquicamente. As necessidades mais abaixo dessa hierarquia devem ser satisfeitas antes das necessidades do nível mais alto. Maslow elaborou um modelo sob a forma de pirâmide que explica a sua teoria:

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Figura 2- Hierarquia das necessidades de Maslow- 1941

Na base da pirâmide deparamo-nos com as necessidades fisiológicas (ou necessidades básicas) como a fome, a sede, o sexo, etc; De seguida e subindo a pirâmide, encontramos as necessidades de segurança. Esta assume várias vertentes que vão desde o sentimento de segurança dentro de uma casa a vertentes mais elaboradas de segurança como estabilidade na família, um plano de saúde, um emprego estável, etc; As necessidades de amor/relacionamento surgem da necessidade de pertencer a um grupo e da satisfação de carências afetivas; Acima estão as necessidades de estima que se separam em duas partes: (1) o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e (2) o reconhecimento dos outros face a nossa capacidade de adaptação às funções que desempenhamos; Por último, encontramos no topo da pirâmide a autorrealização: “What humans can be, they must be: they must be true to their own nature.”. Aqui, o individuo procura tornar-se o que pode vir a ser, Maslow acredita que todo o ser humano deve ser coerente com aquilo que é na realidade.

Podemos ainda dividir a pirâmide em duas partes: (1) Material, que é constituída pelos dois primeiros níveis da sua base: Fisiologia e Segurança; (2) Psicológica ou Espiritual onde se integram as necessidades de Relacionamentos, Estima e Realização pessoal.

Devido à sua natureza capitalista, o Turismo Industrial procura satisfazer necessidades de cariz Material. Oferece a segurança dos serviços da agência, os hotéis, pensões completas, pacotes com tudo incluído, etc.

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No Pós-Turismo, percebemos que existe uma maior preocupação com as necessidades Psicológicas ou Espirituais. A viagem é um meio de atingir a autorrealização. Existe uma preocupação em criar relações com os outros, conhecer novas culturas e meios de vida, dispensando os luxos e confortos oferecidos pela agência turística e sair da zona de conforto.

Não importa apenas reconhecer que temos uma necessidade, é preciso entender o que poderá satisfazê-la.

Dann (1981) desenvolveu um modelo que diz respeito ao estudo da motivação que pode ser aplicado ao estudo da procura turística: Push & Pull.

Push (empurrão) são todos aqueles fatores (ou necessidades) que levam o ator social a querer viajar, independentemente do destino: podemos dizer que se trata de uma motivação geral. Está relacionada com o desenvolvimento pessoal, o reconhecimento ou a necessidade de afastamento de certos ambientes sociais (como o trabalho, por exemplo) que podem instigar o desejo de viajar. Vareiro (2008) explica que as variáveis demográficas que estão fortemente ligadas às motivações, sendo que os fatores “idade” e “nível de instrução” são os mais determinantes.). Pull (puxão) trata-se de uma motivação mais específica, apresenta um carater externo, visto que diz respeito a todas as características do destino, que serão determinantes na escolha do visitante. Está diretamente ligado à perceção da oferta que o visitante tem do destino, e se este é capaz de saciar as suas necessidades. Quando o turista opta por visitar um certo local procurará alcançar objetivos específicos, refletindo os meios através dos quais as necessidades serão satisfeitas.

Por exemplo: se o ator social se encontrar num estado de stress por causa do trabalho (push) o mais provável será procurar destinos onde possa descansar e relaxar (pull). Já um destino com uma grande oferta cultural, com diversas atividades e experiências (pull) será mais apelativo para alguém que deseje sair da rotina diária (push).

Este método de Push & Pull é bastante utilizado pelas empresas turísticas, para melhor entender o que é que o destino em questão pode oferecer e que tipo de pessoas o procuram.

Holloway (1994) identifica três categorias onde encaixa os diferentes motivos de viagem: viagens de negócios, viagens de lazer e outros motivos (inclui visitas de estudos, peregrinações religiosas, desporto, saúde, etc.). Podemos dizer que as viagens de lazer e de negócios são as

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mais comuns nos meios urbanos (é importante apontar que os mesmos visitantes que viajam por motivos de negócios tentam sempre combinar o trabalho com o lazer).

Posto isto, será necessário perceber que a maior ou a menor procura de certos destinos deve-se à quantidade e/ou diversidade de equipamentos (ex.: museus, estádios de futebol, eventos musicais, eventos desportivos, igrejas, restaurantes, entre outros) que estes disponibilizam. Ou seja, se uma cidade disponibilizar os produtos que consigam satisfazer as várias necessidades, maior será a probabilidade de motivar um grande número de turistas a visitá-la. Isto leva-nos a poder concluir que as motivações do turista coexistem com o lazer dos habitantes da cidade (ou não).

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4. O Turista

A necessidade de uma expressão para designar o individuo que se desloca só se verificou quando

o homem se tornou sedentário… (Licínio Cunha, 2001)

Para melhor entendermos o alojamento local e o seu crescimento acelerado, será importante conhecer quem procura este tipo de serviços: o turista.

Viajar tem-se tornado, cada vez mais, uma atividade relativamente acessível para todos, cada vez menos dispendiosa, tanto a nível monetário como temporal. Já não se trata de algo que apenas algumas classes sociais podem disfrutar.

Muitos autores chamam a este fenómeno desdiferenciação, que é consequência das transformações do capitalismo na sociedade pós moderna, descrita por Urry (2001) como uma sociedade anti-hierárquica.

Certas atividades deixam de serpraticadas única e exclusivamente pelas classes altas, mas tornam-se acessíveis a todos. Concluindo: o turismo deixa de ser uma atividade diferenciada.

Surgiram companhias aéreas low-cost e serviços turísticos self-service, onde basta aceder a algumas plataformas online e em menos de 1 hora marca-se uma viagem para o fim-de-semana (mais conhecidas como city break) em qualquer capital europeia, é só escolher.

Como já foi referido anteriormente, o turismo, como o definimos, está, naturalmente, relacionado com os modos de vida da sociedade, daí ser uma atividade tão multifacetada. Já tentamos desvendar o turismo, agora será necessário perguntar: O que é um turista?

Em 1963, a OMT (Organização Mundial do Turismo) apresenta a seguinte definição: “Turista é um visitante temporário que permanece pelo menos 24 horas no lugar que visita, por motivos de prazer ou de negócio. Um visitante que fique menos de 24 horas, por motivos semelhantes é um excursionista.”. Pode-se dizer que se trata de uma explicação bastante vaga e que aprofunda a complexidade do tema.

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O próprio termo “turista” tem vindo a ganhar conotações diferentes ao longo dos tempos. Não podemos ignorar o facto de que o turista tem uma imagem muito negativa nos dias de hoje. Como explica Freitas (Por falar em Pós-Turismo, 2013) a palavra “viajante” evoca a ideia de alguém com mente aberta, um espirito livre que interage e se integra com a população local. Contrariamente a isso, o turista é visto como aquele que faz sightseeing, com a máquina fotográfica ao pescoço, faz filas e fala alto: “Tal associação apoia-se em estereótipos e é uma grande falácia.”. (Freitas, 2013)

Em 1972, Cohen cria um modelo onde encaixa o que ele acredita serem os vários tipos de turista:

Turismo Industrial Turismo Não- Industrial Turista de Massa “Organizado” Turista de Massa “Individual” O Explorador O Vagabundo -Não é aventureiro; -Compra pacotes turísticos;

-Pouco contacto com os locais ou com a própria cultura do destino. Semelhante ao Turista de Massa “Organizado”, mas é mais flexível: não segue os planos dos pacotes tão à risca.

-Organização da viagem independente; -Não segue as tendências turísticas; -Gosta do conforto no alojamento e nos transportes. -“Foge” ao máximo do que é familiar; -Fica acomodado com os locais e adota os seus hábitos; -Não tem itinerário fixo.

Tabela 1- Tipologia de Turista, Cohen, 1972

Plog (1974) segue a mesma linha de pensamento de Cohen referindo três tipos de turista:  Psicocêntrico: inseguro relativamente a viajar; viaja para locais familiares ou

parecidos com o seu lugar de origem;

 Central: define a maioria dos turistas; viaja para destinos reconhecidos; é mais aventureiro do que o psicocêntrico mas não dispensa certos confortos;

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 Alocêntrico: Plog descreve este turista como “independente”; procura a aventura e sair da sua zona de conforto através de uma profunda exploração cultural; geralmente, estes turistas têm uma remuneração acima da média.

É na sua obra “O Olhar do Turista” que Urry (2001) explora este conceito, indo de encontro a uma explicação mais adequada à sua heterogeneidade e possíveis ramificações.

(…) o olhar do turista, em qualquer período histórico, é construído em relacionamento com o seu oposto, com formas não-turísticas de experiência e de consciência social: o que faz de um determinado olhar do turista, depende daquilo que com o que ele contrasta; quais são as formas de uma experiência não-turística, não em termos de algumas características intrínsecas, mas através dos contrastes implicados com práticas sociais não turísticas, sobretudo aquelas baseadas no lar e no trabalho remunerado. (pag. 16)

O que torna o conceito de Urry tão aclimatado para as Ciências Sociais é o facto deste ter em consideração fatores importantes na definição de um turista (classe socioeconómica, espaço e tempo, experiências de vida, etc), deixando margem para uma variedade extensa deste.

Em 1993, Auliana Poon elabora uma tabela para evidenciar algumas tendências e transformações no turismo, fazendo então uma comparação entre “Velho Turista” e “Novo Turista”:

Velho Turista (Empreendedor)

Novo Turista (Autentico)

Seguem as massas Querem estar no controle Querem “ter”… Querem “ser”…

Superioridade Compreensão

Precavido Aventureiro

Come no Hotel Experimenta comida local

Homogéneo Hibrido

PROCURA DESCANSO PROCURA UMA EXPERIÊNCIA

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Tenhamos em atençãoque esta análise foi realizada em 1993… O “Novo Turista” já não é assim tão novo. Contudo, o trabalho de Poon não perde relevância, sendo ainda um marco considerável no planeamento de estratégias turísticas. Este estudo ajuda-nos a entender a urgência de ter uma reflexão contínua destes conceitos, já que a sociedade está continuamente a manifestar transformações, a adaptação das definições é estritamente necessária.

Como foi explicado no subcapítulo “Contexto Histórico do Turismo”, Sérgio Molina desenvolve, também, uma linha evolutiva do turismo com três etapas (pré-turismo, turismo industrial e pós-turismo)

O próprio termo “pós-turismo” em sofrido diversas alterações na sua definição ao longo dos anos. Segundo Urry (2001) foi Maxine Feifer a primeira a utilizar o termo “pós-turismo” em 1985. A autora afirmava que, devido ao rápido desenvolvimento tecnológico, as experiências seriam feitas através de uma realidade virtual, onde as pessoas teriam a possibilidade de conhecer o mundo através de um aparelho virtual, sem terem de se deslocar. Apesar dos avanços tecnológicos, a teoria de Feifer não provou estar certa. Aliás, como já foi referido, as pessoas viajam cada vez mais.

Urry dá uma nova forma a este conceito, criando, inclusive, um debate em torno da própria autenticidade da experiência turística.

Segundo o autor, o pós-turista tem a perfeita consciência de que aquilo que lhe oferecem não é uma experiência autêntica. Quando visita um museu ou um monumento, espera fazer uma viagem no tempo. Ele sabe que as ruas estão “encenadas” para fins turísticos, mas é nessa mesma inautenticidade que o pós-turista encontra prazer.

Podemos concluir que caminhamos cada vez mais para um turismo “camuflado”. O turista cada vez mais procura contacto com os nativos, alojar-se segundo os hábitos locais (não dispensando o conforto de uma boa cama), andar nos transportes públicos, etc.

Mais do que uma fotografia bonita, o turista procura uma experiência na sua viagem. Já não se trata de completar o roteiro turístico, mas sim de uma busca de identidade.

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CAPÍTULO II

ENQUADRAMENTO

METODOLÓGICO

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1. Problemática

Desde há muito tempo que o turismo em Portugal é sobretudo sazonal e concentrado em Lisboa e na região do Algarve. No entanto, nos últimos anos, tem vindo a acontecer algo de inédito: o país inteiro sofreu um boom no turismo, de tal forma significativo que se tornou percetível para todos. E isto porque todo o país, não só Lisboa e Algarve, vê chegar os turistas.

Nessa mesma altura as plataformas de alojamento de curta duração como a Airbnb, Homelidays e Homeawa, entre outras, são cada vez mais procuradas. Estas plataformas vão disponibilizar este tipo de alojamento tornando-o cada vez mais populares. Não só era mais económico, como fornecia uma experiência personalizada e de proximidade com o estilo de vida local, que é algo que o turista cada vez mais procura nas suas viagens.

O turismo é uma atividade que está constantemente a reinventar-se, pois tem de ir de encontro às necessidades do ator social. A nossa sociedade está cada vez mais infoincluida, por isso é natural que os produtos turísticos estejam em formato online, como é o caso das plataformas de aluguer se terem popularizado tão rapidamente.

Não é que este tipo de alojamento seja inovador, podemos dizer que é mais antigo do que o próprio turismo. Mas foi esta procura de satisfazer as necessidades dos atores que deu ao alojamento local uma dimensão nunca antes vista. Atingiu uma proporção tal que levou a que fosse regulamentado por lei, uma vez que havia um vazio legal que não enquadrava esta atividade. Quando esta atividade surgiu, os portugueses viram uma boa oportunidade rendimento, aproveitando espaços que não utilizavam ou, em alguns casos, investindo em imóveis, que nessa altura eram abundantes e baratos nos centros das cidades.

Muitos imóveis dos centros urbanos encontravam-se degradados e sem as condições necessárias para habitação (falta de elevador, garagem, etc.). Ao investirem nestes apartamentos para os introduzirem no arrendamento de curta duração, os proprietários tratam também do restauro destes imóveis. Esta repentina reabilitação dos espaços urbanos depressa se fez notar, assim como o sucesso da atividade do alojamento local…

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São estes proprietários de pequena escala que atraem os turistas: proporcionam uma relação de proximidade e segurança e também mostram um Portugal autêntico. Não se trata apenas de um alojamento, é uma experiência

Perante o sucesso deste tipo de alojamento turístico, começam a surgir grupos com grande poder económico que investem no AL de grande escala: como é o caso do edifício dos antigos correios de Lisboa que foi adquirido por um grupo e fez nele 140 apartamentos para aluguer de curta duração.

Por outro lado, uma parte significativa dos media começa a refletir a posição de determinados grupos (políticos e outros) que se insurgem contra esta mudança que emerge nas cidades.

O AL surge assim como o principal “alvo” do descontentamento da opinião pública, sendo acusado de todos os malefícios que a atividade turística traz às cidades.

Devido ao desenvolvimento quase descontrolado da atividade do alojamento local, foram tomadas medidas: foi em 22 de Agosto de 2018 que publicaram no Diário da República a nova Lei do AL, entrando em vigor 60 dias depois (22 de Outubro de 2018).

Esta nova legislação apresenta alterações radicais que vão alterar o funcionamento do alojamento local como o conhecemos.

Nesta investigação vamos procurar perceber:

 Como é que estas mudanças vão impactar os proprietários de AL?  Porque é que o AL causa tanta controvérsia?

Um dos grandes desafios desta investigação é o fator temporal. Nota-se que a lei entrou em vigor em Outubro de 2018, e as entrevistas foram realizadas entre Outubro e Dezembro do mesmo ano, pelo que não será possível aos entrevistados (proprietários de estabelecimentos de alojamento local) terem, nessa altura, sentido os impactos da nova lei. Podemos, apenas, perceber as suas experiências como anfitriões de AL e quais as perspetivas que têm para o futuro.

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2. Metodologia

2.1. Objeto de Investigação

O objeto de estudo desta investigação é a atividade do alojamento local no Norte de Portugal, em concreto nas cidades do Porto e de Braga. A seleção das cidades baseou-se no facto de serem as de maior dimensão na região Norte, não sendo possível estender a pesquisa para outro locais devido ao fator tempo desta investigação.

Esta investigação desenvolveu-se, principalmente, através de métodos qualitativos (complementando-se com dados estatísticos) onde estão incluídas a observação direta, a pesquisa documental e entrevistas, que vão permitir dar mais atenção ao ator social. A análise sociológica “deveria estar centrada no sentido que lhe é dado pelo(s) ator(es) que orienta(m) os seus comportamentos num contexto de racionalidades variadas em interações com outros” (Guerra, 2006: p. 7).

Decidimos que uma das melhores formas de entender o alojamento local seria contactar proprietários com mais de três anos de experiência e submetê-los a uma entrevista semiestruturada, pois estes estão em constante contacto com a atividade e passaram pelos períodos de mudança mais significativos, o que pode fornecer informação mais real e esclarecedora. Ao entrevistar os proprietários podemos também chegar (de forma indireta) ao turista e compreender melhor o porquê deste fenómeno, o que é que o motivou a realizar a viagem. Visto que as plataformas online não permitem entrar em contacto com os anfitriões sem primeiro alugar um espaço, aderimos a vários grupos privados do Facebook e outras plataformas direcionados a proprietários de estabelecimentos AL e assim requisitar voluntários para a entrevista.

Através deste método procuramos entender as motivações que levaram os anfitriões a iniciar-se a continuar com o AL e de que forma este correspondeu e às suas expetativas. Quisemos também perceber como lidaram com as mudanças que têm vindo a ocorrer na atividade, e qual a sua perspetiva do futuro do alojamento local.

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2.2. Etapas do Procedimento

Neste capítulo, iremos abordar a abordagem utilizada nesta investigação.

Segundo R. Quivy e L. Van Campenhoudt, uma boa investigação desenvolve-se através de

três fases:

1. Rutura

É nesta primeira fase que rompemos com os preconceitos e pressupostos do senso comum, dando início à construção do procedimento científico.

2. Construção

É a construção de um sistema concetual organizado que sustenta a lógica que o investigador acredita que está na base do fenómeno, tornando possível fazer um plano de pesquisa, definir métodos, etc.

3. Verificação

A verificação dos factos são o que dão estatuto científico a una proposição. Por sua vez, estas fases são constituídas por sete etapas fulcrais:

Figura 3- As etapas do procedimento; Fonte: “Manual de Investigação em Ciências Sociais”, Quivy & Campenhoudt. 1995

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Para evitar hesitações, incertezas e desvios durante a investigação, é importante escolher um fio condutor. Para tal deve-se estabelecer uma pergunta de partida. Esta deve ser o mais clara possível, tendo com objetivo o conhecimento e não a demonstração. Deve remeter-se unicamente aquilo que se vai investigar.

A etapa seguinte é a da exploração, onde o investigador deve explorar o terreno para conceber uma problemática através de leituras, entrevistas, entre outros métodos. É com esta exploração que podemos elaborar uma problemática.

A problemática é a “ponte” entre a Rutura e a Construção de uma investigação. É a etapa onde decidimos que abordagem teórica queremos adotar para tratar do problema formulado na pergunta de partida.

Construir uma problemática consiste em formular pontos de referência teóricos da investigação, definindo aquilo que queremos explicar, os conceitos fundamentais e as ideias gerais que inspiram a análise.

Segue-sea construção do modelo de análise, onde se vão construir conceitos e definir hipóteses, que por sua vez, ajudam a apontar o caminho da pesquisa. É com a observação que testamos as operações que englobam o modelo de análise. Esta etapa é construída por 3 fases: escolha do instrumento que vai responder à nossa pergunta, teste desse instrumento e a recolha de dados.

Na penúltima etapa temos a análise de informação, e, finalmente, a conclusão.

É na conclusão que os leitores procuram indicações do interesse que o trabalho pode ter, por isso nela devemos incluir uma retrospetiva das grandes linhas do procedimento onde fazemos uma comparação entre os resultados esperados e os observados, assim como os contributos da investigação para conhecer melhor o objeto.

2.3. Instrumentos de recolha de informação

Leitura

A validade externa importa para legitimar qualquer investigação, por isso é importante situa-la em quadros concetuais já reconhecidos.

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Um trabalho científico deve acrescentar algo mais às interpretações já estabelecidas, a fim de fazer aparecer novas significações do problema a ser tratado.

A escolha das leituras deve seguir os seguintes critérios:  Ligação à pergunta de partida;

 Dimensão razoável, de modo a evitar uma sobrecarga de leituras;  Privilegiar textos de interpretação e análise e não apenas descritivos;  Incluir abordagens diversificadas do fenómeno estudado.

Entrevista

A entrevista é a técnica de recolha de dados mais rica e mais utilizada na metodologia qualitativa e é definida como “uma técnica para obter informação, mediante uma conversação profissional com uma ou várias pessoas para um estudo analítico” (Olabuénaga, 2003).

A estrutura da entrevista e o tipo de perguntas colocadas determinam a conduta e o tipo de entrevista, no entanto, a eficácia da utilização desta técnica não depende apenas do domínio da metodologia em questão. É uma situação social onde se desenvolve uma relação face a face, tudo o que pode condicionar essa situação social irá interferir na entrevista e influenciar os resultados, por isso é importante que o entrevistador consiga detetar esses fatores (psicológicos, ambientais, comportamentais, etc.) para que assim tome uma atitude mais ajustada para o contexto.

Uma entrevista bem-sucedida passa também pela promoção de um ambiente de confiança mútua, o que requer uma atitude de abertura, interesse e empatia. A empatia entre o entrevistador e o entrevistado é fundamental, tendo um efeito quase terapêutico neste último

Contudo é preciso perceber que criar uma relação de confiança não significa criar uma relação de intimidade, pois uma relação íntima pode criar efeitos negativos no estudo fazendo com que o entrevistado perca a espontaneidade e limitando a capacidade de surpreender o entrevistado, impedindo-o de criar novos conceitos. No ponto de vista da sociologia é importante manter um “distanciamento formal” para que seja possível manter a objetividade cientifica.

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N. Mayer (1995) acredita que a entrevista deve ser vista como um momento que pode (ou deve) proporcionar ao entrevistado uma ocasião inesperada de se interrogar sobre si mesmo. Este sublinha duas condições a não esquecer:

 Condição de ordem ética. Esta não exige necessariamente envolvimento, é a capacidade de estar disponível e compreender o outro, e ter um olhar crítico sobre a mesma realidade;

 Condição de caráter cognitivo. Exige ao cientista o conhecer o meio onde se realiza o trabalho de campo.

J. Claude Kaufmman (1996) introduz o conceito de “entrevista compreensiva” como uma metodologia que permite a construção de uma sociologia (também ela compreensiva). Este tipo de entrevista permite ao entrevistador perceber o ponto de vista subjetivo do ator, ou seja, as representações e os significados que este atribui ao mundo. Para o sociólogo essa subjetividade não é uma representação da sua individualidade mas sim um processo de socialização que resulta de uma intersubjetividade.

Concordamos que esta técnica metodológica é a que mais se adequa a nesta investigação, pois vai permitir uma análise mais profunda e detalhada relativamente à experiência dos nossos entrevistados.

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CAPÍTULO III

APRESENTAÇÃO DE

RESULTADOS

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1. Alojamento Local

1.1. Dos Primórdios até ao início do séc. XXI

O Alojamento Local (AL) surgiu em Portugal com esta designação e enquadramento legal em 2008 pelo Decreto-Lei 39/2008.

Contudo, esta atividade existe desde que há memória. As designações, quando as há, são variadas bem como as modalidades e os países/territórios. Como ponto comum têm o facto de haver um cidadão que disponibiliza a sua casa para que um forasteiro aí possa pernoitar.

Só mais tarde é que surge o termo Bed & Breakfast, designação comum em Inglaterra mas que adotava práticas existentes em toda a Europa continental, tais como as pousadas, pensões, gasthaus, etc. São residências de particulares que disponibilizam dormidas e pequenos-almoços aos viajantes. A particularidade deste tipo de estabelecimento é o facto de os donos viverem no próprio alojamento, partilhando o espaço com quem lá fica alojado por curta duração. Após a II Guerra Mundial, viajar para a Europa torna-se uma atividade popular nos E.U.A. devido, não só ao ambiente de paz, mas também à valorização do dólar relativamente às moedas europeias Isto fez com que milhões de americanos descobrissem estes estabelecimentos e os popularizassem.

Nos anos 80 o B&B tornou-se uma prática adoptada também nos E.U.A., começando por serem estabelecimentos simples e a baixo custo e, mais tarde, acomodações de luxo e com serviço de alto nível.

O rápido crescimento da internet foi fator fundamental para o boom desta atividade, com o aparecimento de plataformas online, unicamente direcionadas para o aluguer de curta duração de espaços habitacionais de particulares, como por exemplo a Homelidays, Homeaway, Rentalia e Airbnb.

É claro que o Alojamento Local também já existe em Portugal há muito tempo. Basta falar com pessoas nascidas nos anos 60 para que todas me refiram ter memória da proliferação de

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letreiros, principalmente nas terras junto ao mar, nas janelas “ALUGA-SE QUARTO/CHAMBRE/ROOM/ZIMMER”.

Vivia-se a época pré-internet do AL. Completamente sazonal, com incidência nas zonas costeiras, e como a fonte de rendimento que equilibrava as finanças das famílias.

1.1.1. Alojamento local no séc. XXI

O turismo sempre foi uma atividade importante para a economia portuguesa e sempre apresentou índices de crescimento.

Contudo, a partir de 2011 esses índices de crescimento bateram, até à data, todos os recordes jamais alcançados.

Olhando para a conjuntura política, económica e social da época, deparamo-nos com os seguintes aspetos:

 Crise económica e financeira na U.E. e E.U.A.;

 Aumento do desemprego e degradação das condições laborais;

 Escalada do terrorismo e violência no Médio Oriente e na União Europeia;  Afluxo massivo de refugiados à Europa, principalmente pela Grécia.

Aparentemente, esta conjuntura é contraditória com o crescimento do turismo. Mas, pondo o foco em Portugal, verificamos que é exatamente o contrário.

Estes “ingredientes” conjugam-se perfeitamente para justificar os índices de crescimento verificado no turismo.

A ebulição verificada nos países mediterrânicos, europeus e norte africanos, devido à violência, terrorismo ou afluxo de refugiados, levou a que os milhões de turistas que tradicionalmente procuravam estas regiões optassem por outros destinos.

Ora, Portugal apresenta todas as condições que estes turistas procuram: para além das condições climatéricas e geográficas, tem segurança e preços muito convidativos.

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Tem também capacidade de resposta rápida a toda esta procura que, repentinamente, quer vir para Portugal. E nisto, a crise vai ser um fator positivo, pois leva a que muitos portugueses, para compensar a perda de rendimentos, disponibilizem as suas casas e quartos a esta procura.

1.2. Alojamento Turístico

Quando consultamos a bibliografia, verificamos que ao longo do tempo o alojamento turístico foi ganhando novas formas e denominações.

O Turismo de Portugal, no documento «Tipologias de Empreendimentos Turísticos»

segundo o Decreto-Lei nº 39/2008, de 7 de Março, enumera as diversas formas de alojamento turístico:

 Estabelecimentos hoteleiros (Hotéis, Hotéis-apartamentos e Pousadas):

São estabelecimentos hoteleiros os empreendimentos turísticos destinados a proporcionar serviços de alojamento e outros serviços acessórios ou de apoio, com ou sem fornecimento de refeições, e vocacionados a uma locação diária.  Aldeamentos turísticos:

São aldeamentos turísticos os empreendimentos turísticos constituídos por um conjunto de instalações funcionalmente interdependentes com expressão arquitetónica coerente, situadas em espaços com continuidade territorial, com vias de circulação interna que permitam o trânsito de veículos de emergência, ainda que atravessados por estradas e caminhos municipais já existentes, linhas de água e faixas de terreno afetas a funções de proteção e conservação de recursos naturais, destinados a proporcionar alojamento e serviços complementares de apoio a turistas.

 Apartamentos turísticos:

São apartamentos turísticos os empreendimentos turísticos constituídos por um conjunto coerente de unidades de alojamento, do tipo apartamento, entendendo-se estas como parte de um edifício à qual entendendo-se acede através de espaços comuns,

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nomeadamente átrio, corredor, galeria ou patamar de escada, que se destinem a proporcionar alojamento e outros serviços complementares e de apoio a turistas.  Conjuntos turísticos (resorts):

São conjuntos turísticos (resorts) os empreendimentos constituídos por núcleos de instalações funcionalmente interdependentes, situados em espaços com continuidade territorial, ainda que atravessados por estradas e caminhos municipais já existentes, linhas de água e faixas de terreno afetas a funções de proteção e conservação de recursos naturais, destinados a proporcionar alojamento e serviços complementares de apoio a turistas, sujeitos a uma administração comum de serviços partilhados e de equipamentos de utilização comum, que integrem pelo menos dois empreendimentos turísticos, sendo obrigatoriamente um deles um estabelecimento hoteleiro.

 Empreendimentos de turismo de habitação:

São empreendimentos de turismo de habitação os estabelecimentos de natureza familiar instalados em imóveis antigos particulares que, pelo seu valor arquitetónico, histórico ou artístico, sejam representativos de uma determinada época, nomeadamente palácios e solares, podendo localizar - se em espaços rurais ou urbanos.

 Empreendimentos de turismo no espaço rural (casas de campo, argo-turismo e hotéis rurais):

São empreendimentos de turismo no espaço rural os estabelecimentos que se destinam a prestar, em espaços rurais, serviços de alojamento a turistas, preservando, recuperando e valorizando o património arquitetónico, histórico, natural e paisagístico dos respetivos locais e regiões onde se situam, através da reconstrução, reabilitação ou ampliação de construções existentes, de modo a ser assegurada a sua integração na envolvente.

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São parques de campismo e de caravanismo os empreendimentos instalados em terrenos devidamente delimitados e dotados de estruturas destinadas a permitir a instalação de tendas, reboques, caravanas ou autocaravanas e demais material e equipamento necessários à prática do campismo e do caravanismo, podendo ser públicos ou privativos, consoante se destinem ao público em geral ou apenas aos associados ou beneficiários das respetivas entidades proprietárias ou exploradoras.

1.2.1. Alojamento Local

Como podemos verificar na enumeração acima, até 2008, não há qualquer referência ao Alojamento Local (AL). Pode afirmar-se que tal não sucede porque o AL se encontra inserido implicitamente em quase todas as formas de alojamento.

No entanto, a produção dos DECRETOS leva a que pensemos exatamente o contrário. Quando procedemos à análise destes

Ao analisar o Decreto-Lei nº 128/2014 e o Decreto-Lei 39/2008 que se debruça exclusivamente sobre o Alojamento Local, no capítulo I. artigo 3.º, o AL integra diversas modalidades e estabelecimentos: moradia, apartamento e estabelecimentos de hospedagem. Ainda no artigo 3.º “2- Considera-se «moradia» o estabelecimento de alojamento local cuja unidade de alojamento é constituída por um edifício autónomo, de carater unifamiliar.”; “3- Considera-se «apartamento» o estabelecimento de alojamento local cuja unidade de alojamento é constituída por uma fração autónoma de edifício ou parte de prédio urbano suscetível de utilização independente.” e por fim “4- Considera-se «estabelecimento de hospedagem» o estabelecimento de alojamento local cujas unidades de alojamento são constituídas por quarto.”.

No artigo 2.º o Alojamento Local define-se como “ (…) aqueles que prestam serviços de alojamento temporário a turistas, mediante remuneração, e que reúna os requisitos previstos no presente decreto-lei.”.

Aqui chegados voltamos ao princípio: o AL está integrado nas tipologias de alojamento turístico, mas enquanto alojamento propriamente dito. Enquanto atividade desenvolvida por pequenos empreendedores e empresários, todos os alojamentos turísticos são alojamento local (excetua-se a hotelaria clássica e, em alguns casos, o turismo de habitação).

Imagem

Figura 1- Centro de Estudos de Turismo de Jafari, 1981
Figura 2- Hierarquia das necessidades de Maslow- 1941
Tabela 1- Tipologia de Turista, Cohen, 1972
Tabela 2- O velho e o novo turista, Auliana Poon, 1993
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