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Educação e a formação humana: Um estudo sobre a concepção de emancipação nos espaços educacionais / Education and human development: A study on the concept of emancipation on educational spaces

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Academic year: 2020

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Educação e a formação humana: Um estudo sobre a concepção de

emancipação nos espaços educacionais

Education and human development: A study on the concept of emancipation

on educational spaces

DOI:10.34117/bjdv6n7-006

Recebimento dos originais: 01/06/2020 Aceitação para publicação: 01/07/2020

Rosimeiry Souza Santana

Especialista em Educação e Diversidade Étnico Cultural pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; UESB. Graduada em Psicologia pela Faculdade Juvêncio Terra; Integrante dos

Grupo de Estudo e Pesquisa em, Movimentos Sociais e Diversidade Educação do Campo e da Cidade - GEPEMDECC e Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo - GEPEC, ambos

vinculados à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, registrado na CNPQ. E-mail: rosysantana007@hotmail.com

Arlete Ramos dos Santos

Pós-Doutorado pela UNESP; Doutora em Educação pela FAE/UFMG, Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB; Coordenadora do Grupo de Estudos Movimentos Sociais; Diversidade Cultural e Educação do Campo e Cidade (GEPEMDECC/CNPq),

e do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ciências Humanas da Educação - CEPECH/DCIE/UESC.

E-mail: arlerp@hotmail.com

Rosilda Costa Fernandes

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação - PPGED, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em, Movimentos Sociais

e Diversidade Educação do Campo e Cidade - GEPEMDECC e Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo - GEPEC, ambos vinculados à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –

UESB, registrado na CNPQ. Graduada em Ciências com Habilitação em Matemática pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

E-mail: fernandesrosilda@bol.com.br

Ricardo Alexandre Castro

Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação - PPGED, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em Movimentos Sociais

e Diversidade Educação do Campo e Cidade - GEPEMDECC, vinculado à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, registrado no CNPQ. Graduado em Ciências Biológicas pela

Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVAS). E-mail: ricardoacastro@me.com

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Rosenaide Pereira dos Reis Ramos

Doutora em Educação (UFSCar), Docente do Departamento de Ciências da Educação - Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC); Ilhéus - BA/Brasil. Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (1984). Mestrado em Educação pela Universidade Federal da

Bahia (1997) Docente do Mestrado profissional em Educação e do PROFLETRAS, UESC. Coordenadora da área de Estágio do DCIE/UESC .Coordenadora do grupo de pesquisa Currículo,

Formação e Prática docente. E-mail: rosamos@uesc.br

RESUMO

O trabalho, intitulado Educação e a formação humana: Um estudo sobre a concepção de emancipação no contexto educacional, tem entre suas finalidades discutir, a educação, enquanto um processo de formação, na perspectiva do desenvolvimento do conhecimento do sujeito, que culmina, na libertação do homem e da mulher, no contexto da sociedade de classe. Utilizamos a revisão bibliográfica como metodologia para esta discussão, que estará sempre pautada no contexto das políticas educacionais, e utilizaremos como exemplo de instituição que trabalha na perspectiva da emancipação humana, a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), para promover as cabíveis discussões, relacionadas à essa temática de grande relevância social. As reflexões sobre a educação enquanto processo de formação humana, no contexto libertador, trazem à tona a concepção de que a educação é uma ferramenta que deve possibilitar uma leitura de realidade, e das questões sociais, em sua coletividade. Os estudos permitiram compreender que o processo educacional tratado nessa discussão, está para além da aquisição de habilidades profissionais, quando pensada como uma educação como processo que corrobora para um pensamento crítico.

Palavras-chave: Educação; Formação Humana; Emancipação ABSTRACT

This work, named Education and Human Development: a study on the concept of emancipation on educational spaces has among its goals, the discussion of education as a forming process on the perspective of the subject’s knowledge development as a means to achieve one’s emancipation in a society of classes. Using bibliographical revision as a methodology for this discussion, always guided in the context of public education policies, we will make use of the Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) to promote the relevant discussions related to this prominent social theme. The reflections on education as a means for human development on an emancipating context brings to the surface, the concept that education is a tool meant to make possible the reading of the reality, of the social questions in their collectiveness. This work allowed us to comprehend that education, as seen in this discussion, goes beyond the acquisition of professional skills when designed as a mean that corroborates to critical thinking.

Keywords: Education; Human development; Emancipation 1 INTRODUÇÃO

As últimas décadas do Século XX foram marcadas por significativas mudanças, advindas de

mobilizações sociais, políticas e a produção de conhecimentos, nos vários campos do saber, que ao desvelarem a realidade das sociedades regidas por sistemas capitalistas autoritários e centralizadores, trouxeram à tona as infinitas desigualdades entre as classes sociais. Nesse período, registram-se as lutas pela reorganização das sociedades, de modo a torná-las democráticas ou mais democráticas, com vistas a melhorar processos associados às condições de vida das populações, especialmente das

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classes menos favorecidas, assegurando-lhes direitos negados, negligenciados ao longo de toda a história.

Nesse período, estatisticamente os bens e serviços sociais foram colocados em pauta e desenharam um cenário estarrecedor e desumano, decorrente do tratamento desigual entre os que detinham o poder e os que a ele eram submetidos, pela relação entre dominantes e dominados. Esse cenário fez a sociedade compreender e perceber sobre quais os grupos sociais que tinham e os que não tinham acesso à educação, saúde, moradia, alimentação, trabalho digno, assistência social, segurança e, até mesmo, a sonhos e esperança de melhores condições de vida, de participação, como protagonista da história e na possibilidade de pertence a uma sociedade consolidada numa perspectiva emancipatória.

Percorridas duas décadas do Século XXI, sem deixar de reconhecer importantes avanços nas políticas públicas e atos regulatórios voltados para a minimização das desigualdades sociais, ainda assistimos o investimento com mobilizações que intencionam a volta das velhas práticas das sociedades capitalistas, comprometendo os avanços no campo dos direitos humanos e de acesso aos bens e serviços sociais, já assegurados, ainda que não na extensão e alcance necessários.

A temática apresentada nesse artigo é um recorte dos resultados das discussões do Grupo de Estudo e Pesquisa em Movimentos Sociais, Diversidade, Educação do Campo e da Cidade (GEPEMDECC) e do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo (GEPEC), ambos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. O texto consiste numa pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo conforme Marconi e Lakatos (2012), com embasamento teórico pautada no materialismo histórico dialético, enquanto posicionamento político que trata das questões sociais e contradições existentes nas relações de trabalho, por entender que a educação e a formação humana, são aspectos que compõe esse cenário do ponto de vista do sistema de produção. O aprofundamento temático permitiu verificar o que já foi estudado e discutido sobre o estudo em questão. Recorremos, não somente a fontes primárias, como e, principalmente, a fontes secundárias (artigos, periódicos, livros teses e dissertações); vislumbrando identificar concepções teóricas, posições, discussões acerca da educação e da emancipação humana nas sociedades capitalistas, buscando discutir a educação e as instituições educacionais como instrumento e espaços que podem e devem contribuir para o enfrentamento das relações de dominação humana, desde que se ponham a favor da luta pela enfrentamento do capitalismo, regido pelas relações de dominação e reprodução da sociedade de classe.

À luz de discussões teóricas, elegemos quatro instituições de formação educacional, que, em suas propostas pedagógicas, contemplam uma formação contextualizada com a realidade de mundo do sujeito, que em seus Projetos de Política Pedagógica, aparecem do ponto de vista de uma formação,

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para além dos interesses do capitalismo. Convém ressaltar que o enfoque nos estudos relacionados às instituições selecionadas foi direcionado a partir do destaque proveniente de seus Projetos Político Pedagógicos subtendido nesse caso, como espaço (na perspectiva da possibilidade) de formação, por permitir ao sujeito, uma leitura de mundo contextualizada.

Como metodologia suporte, o trabalho utilizou-se, da revisão de literatura, com finalidade de trazer a tona as discussões e reflexões sobre essa temática de tamanha relevância social, que é a educação como “patrimônio da humanidade” que incide no processo de formação humana, do ponto de vista do desenvolvimento do conhecimento do sujeito, assim como, o processo de libertação, através da construção do “saber”, em um contexto da sociedade de classe e suas relações pautadas a partir do sistema de produção. Somente dentro da comunidade, cada indivíduo possui os meios para cultivar seus dons em todas as direções; por isso, a liberdade pessoal só se torna possível dentro da comunidade, (MÉSZÁROS, 2002, p. 488). Nessa circunstância, é preciso compreender a força motriz que move a sociedade e as relações humanas, o trabalho. Entretanto, inferimos que a educação no contexto libertador proporciona ao homem e à mulher, uma leitura de realidade, e das questões sociais, em sua coletividade, ou seja, a educação como processo de formação numa perspectiva comunitária, numa compreensão de que a educação está para além da aquisição de habilidades para necessidades do mercado, mas, desenvolver as suas capacidades, pautada numa espécie de “simbiose” da formação humana e emancipação, perpassando pelo viés da educação. E entendemos que

[...] a emancipação da classe trabalhadora é, em última análise, um projeto de libertação da humanidade, que superará a sua pré-história ao constituir uma sociedade de classes na qual o “reino da necessidade”, da escassez, dará lugar ao “reino da liberdade”, quando o ser humano poderá desenvolver suas capacidades ao máximo e escrever sua verdadeira história, (STAMPA; LOLE, p.4, 2017).

A visão das autoras retrata as circunstâncias nas quais o termo emancipação está empregado, e servirá de suporte na formulação das considerações gerais propostas nesse artigo, auxiliando-nos na compreensão sobre os aspectos da formação humana no contexto emancipatório. A partir dessa interpretação da realidade vivida, à luz dos diferentes campos do conhecimento, vislumbrando reflexões e análises sobre as organizações educativas que propõem em seu currículo e Projeto Político Pedagógicos, a efetivação de práticas que contribuam para formação humana na perspectiva emancipatória e, dessa forma, tecer críticas à educação tecnicista e profissionalizante1 como vem

1 A educação fundamentada em princípios tecnicistas, caracteriza-se por um ensino e aprendizagem voltados para preparar

o sujeito para o mercado de trabalho, sem preocupação com a sua formação humana, enquanto cidadão. É uma educação com caráter de terminalidade, geralmente destinada às classes economicamente desfavorecidas. No Brasil a Lei nº 5692/71, reformou o ensino de 1º e 2º graus, criando o ensino profissionalizante, como se deseja, à época, os setores econômicos.

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sendo defendida nos últimos anos, visando apenas a inserção do homem e da mulher no mercado de trabalho, reforçando as característica da educação no sistema hegemônico capitalista.

2 A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO HUMANA, UM LEGADO PARA EMANCIPAÇÃO

Sabe-se que o advento do capitalismo trouxe, em seu processo de evolução, a necessidade de ampliar os olhares e debates sobre as diversas dimensões do trabalho, assim como, a produção de conhecimento acadêmico-científico que o tomou como objeto de estudo e análise. Sendo assim, as questões provenientes do trabalho, entram em cena como objeto e componente de estudo da área de ciências humanas e sociais, principalmente quando abordadas em correspondência com as diferentes formas da exclusão e desigualdade social.

É nesse contexto, que consideramos a educação, para além dos espaços físicos, nos contornos da escola, mas, a educação enquanto ato que se realiza por meio da articulação homem-meio-conhecimento, capaz de mobilizar e formar os sujeitos na perspectiva omnilateral do ponto de vista da totalidade para formação e emancipação humana, possibilitando perceber as relações sociais pautadas pelo sistema de produção. E assim, ocupar um lugar de relevância social, na natureza. Nos Manuscritos econômico filosóficos de 1844, Marx trata do termo omnilateral pela primeira vez, o autor utiliza esse termo para explicar a essência do humano em sua plenitude.

O homem se apropria da sua essência omnilateral de uma maneira omnilateral, portanto, como um homem total. Cada uma das suas relações humanas com o mundo, ver, ouvir, cheirar, degustar, sentir, pensar, intuir, perceber, querer, ser ativo, amar, enfim todos os órgãos da sua individualidade, assim como os órgãos que são imediatamente em sua forma como órgãos comunitários, são no seu comportamento objetivo ou no seu comportamento para com o objeto a apropriação do mesmo, a apropriação da efetividade humana. (MARX, 2004, p. 108)

Nesse cenário, verificamos que, Marx elabora uma concepção de que, o homem omnilateral é aquele que apropria de todos os seus órgãos individuais, e aqui acrescentamos suas faculdades mentais, desenvolvendo as funções vitais essenciais que se relacionam entre si, formando o homem na sua totalidade enquanto ser, em todos os aspectos do seu desenvolvimento e relacionamento com o mundo. Sendo assim, inferimos que é nessa relação que ele se apropria e constrói a sua afetividade humana e a interação social com o outro. É nesse contexto que o processo educacional precisa ser considerado, compreendendo a educação, em todos seus espaço de aprendizagem, como lugar para a promoção do conhecimento e do desenvolvimento de si mesmo e do outro, numa concepção crítico-reflexiva, na perspectiva da totalidade, que intencionem, efetivamente, o descortinar da exploração e contradições do mundo do trabalho, possibilitando analisar a realidade das relações de exploração

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entre empregadores e empregados, de modo a estimular a luta pela ruptura do sistema estabelecido pela exploração força do trabalho.

Compreendemos que as contradições e os conflitos do mundo do trabalho têm relação direta com a falta de acesso à educação de qualidade, como direito social, a ser ofertada e praticada a partir da realidade dos sujeitos, com a identificação de suas demandas e necessidades, para assim, construir conhecimentos que favoreçam a formação nos parâmetros educacionais, numa perspectiva humana e emancipatória, superando as práticas educativas tecnicistas/profissionalizantes, desprovidas da visão crítico-reflexiva da sociedade regida por princípios capitalistas da produção e reprodução de vidas humanas pela exploração do trabalho.

Por formação humana coadunamos com o pensamento de Marx e Engels (2004), que a compreende na perspectiva da totalidade, uma formação que contemple o desenvolvimento intelectual, uma formação que perpassa pela aquisição de habilidades laborativas técnicas e práticas profissionais, atrelados ao saber teórico como todo domínio progressivo de suas atividades e experiências de sobrevivência na sociedade que destaca a importância de instruções qualificadas para o trabalho produtivo, denominada de práxis.

Ao defender a educação como instrumento de formação e libertação humana, a mesma passa a ser compreendida como um bem social de fundamental importância, para o desenvolvimento do homem e da mulher, enquanto agentes construtores transformadores de si próprios, do seu contexto de pertença, da sociedade e da natureza e, nesse sentido, sob as lentes do materialismo histórico dialético, a realidade social, está conectada a uma realidade concreta, com possibilidade de ser compreendida em sua totalidade, pelo ponto vista do sistema de produção.

Segundo Kosik (1976),

Para o materialismo, a realidade social pode ser conhecida na sua concreticidade (totalidade) quando se descobre a natureza da realidade social, se elimina a pseudoconcreticidade, se conhece a realidade social como unidade dialética de base e de supra-estrutura, e o homem como sujeito objetivo, histórico-social. A realidade social não é conhecida como totalidade concreta se o homem no âmbito da totalidade é considerado apenas e sobretudo como objeto e na práxis histórico-objetiva da humanidade não se reconhece a importância primordial do homem como sujeito. (KOSIK, 1976, p. 52)

Compreendemos que as consequências do capitalismo partem de uma variedade de referenciais, distintas teorias e diferentes compreensões. Entretanto, é preciso enfatizar que a categoria contradição, camuflada no sistema capitalista, sempre estará intermediando esse sistema hegemônico, excludente e desigual, que desfavorece a classe de trabalhadores e trabalhadoras, expondo a humanidade, a condição de subalternidade, por meio da exploração da força de trabalho, principalmente em atividades de trabalhos que não exigem mão de obra qualificada. Importa destacar

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que todo trabalho proveniente do exercício e da força humana, tem seu potencial de valor e, portanto, merecedor de valorização e de reconhecimento social e legal, na perspectiva dos direitos trabalhistas. Defende-se então, a educação como instrumento que agrega valores ao trabalho, ao formar sujeitos com visão concreta da realidade, estimulando-os a interagir na/com a sociedade como sujeitos de direitos e não apenas de deveres e/ou exploração.

Sendo assim, inferimos que esse contexto histórico social que envolve a classe trabalhadora e o trabalho, como aspecto essencial para a sobrevivência humana coloca o homem e a mulher na condição de sujeitos, em relação com o meio, por intermédio desse trabalho, seguido aos aspectos educacionais na perspectiva da aquisição de habilidades, do conhecimento, assim como formação profissional para o exercício de uma atividade remunerada. Contudo, esses aspectos levam-nos a considerar que a temática relacionada ao trabalho e suas contradições no sistema capitalista, e assim como as produções de conhecimento relacionado às “lutas de classe2”, na comunidade acadêmica,

têm sido mais necessárias e vem sendo aprimoradas de forma que as investigações procedem do todo para as partes, conforme Kosik, 1976, p.50).

Os espaços de formação humana estão diretamente associados a uma “práxis” que contribui com o processo de formação e preparação do/a trabalhador/a, para o enfrentamento e os desafios provenientes do sistema de produção que explora a força humana. Entre os espaços referidos, citaremos algumas instituições que têm proporcionado uma formação baseada num Projeto Político Pedagógico (PPP), “revolucionário” projeto que possibilita uma leitura de mundo, assim como, os enfretamentos das questões numa perspectiva crítica, a exemplo da Escola Nacional Florestan Fernandes, como uma organização que integra um dos objetivos dessa pesquisa. É pertinente registrar, que o foco desses estudos, estão respaldados pelo posicionamento políticos em destaque nas propostas pedagógica das instituições, proposta amparada em uma pedagogia crítica e libertadora.

Ao pesquisar literatura de referência on line, em web sites da instituição em estudo, verificamos que suas propostas pedagógicas, são elaboradas numa perspectiva crítica, conforme recomendado por Marx (2008) na obra Sobre a questão Judaica, quando o autor apresenta um posicionamento crítico que nos coloca frente à realidade da política e da religião, evidenciando que é possível emancipar-se no contexto de preservação daquilo em que se acredita, desde quando essas crenças, não impossibilitem a leitura e atuação no mundo, nas suas reais dinâmicas, ou seja, sem perder de vista o necessário enfrentamento das relações das forças de produção e reprodução que, de forma simbólica ou manifesta se estabelecem nas diversas instituições em sociedades capitalistas. O que se impõe, nesse cenário, não são questões de escolha, “isso ou aquilo”, mas, a compreensão do que significa, na prática social, a frase emancipação humana, para além dos aspectos e princípios religiosos,

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políticos ou civis. Assim, para Marx (2008), a emancipação está diretamente atrelada à liberdade e à autonomia, ou seja, não se reduz apenas ao desenvolvimento do homem e da mulher na questão do seu posicionamento/opção, político e/ou religioso. O autor defende ser primordial, que a emancipação contemple a formação do sujeito em sua totalidade e realidade objetiva, de forma a romper com as estruturas que engrenam e fortalecem o capitalismo.

Destarte, é importante salientar que o entendimento da emancipação humana, perpassa, principalmente pelo reconhecimento dos direitos em suas diferentes dimensões e setores da sociedade, indo além das questões políticas, culturais, religiosas e econômicas, devendo prevalecer a evolução social do sujeito, assim como a sua capacidade de perceber e compreender a sua realidade, tornando-se capaz de criar as próprias possibilidades de interagir com o meio, tutelado pelos conhecimentos construídos nos espaços e contextos educativos.

Ao interagir, de modo participativo e crítico, com a dinâmica das relações existentes na sociedade, os sujeitos, baseados nas experiências de vida e nos conhecimentos produzidos e socialmente validados, passam questionar essa dinâmica e, paulatinamente mobilizam investimentos em lutas que defendam a emancipação/liberdade humana como direito que assegura o reconhecimento de si mesmo, de seus potenciais e de seus direitos na sociedade em que vivem e convivem, assim como passa a entender, como propõe Marx(2008) que

A emancipação humana só será plena quando o homem real e individual tiver em si o cidadão abstrato; quando como homem individual, na sua vida empírica, no trabalho e nas suas relações individuais, se tiver tornado um ser genérico; e quando tiver reconhecido e organizado as suas próprias forças (forces propres) como forças sociais, de maneira a nunca mais separar de si esta força social como força política. (MARX, 2008, p. 30)

É nessa perspectiva, que brotam algumas indagações e, entre elas, como educação, em seus diferentes segmentos, pode contribuir para a emancipação educacional? Como os Projetos PolíticoPedagógicos, elaborados em contextos capitalistas, podem indicar caminhos para uma prática educativa emancipatória? Quais desafios a escola, numa sociedade capitalista enfrenta para organizar e ofertar uma educação emancipatória? Os Sistemas de Ensino e as instituições educacionais têm viabilizado conhecimentos e práticas educativas que promovam a emancipação dos(as) estudantes? A escola está a serviço de qual modelo de sociedade? Compreendemos escola (do grego schole) como o lugar ou a casa em que se educa, ou ainda na sua acepção do latim (schola) que significa um “corpo de ideias” que se expressam por meio do currículo e do planejamento escolar, fundamentados em uma nova ética pautada na alteridade e nos sentimentos de relação com o próximo, que confere a todos o respeito às diferenças, com igualdade de direitos (SANTOS; NUNES, 2020).

Freire (1987) em muitas de suas obras discute a importância da educação para a formação humana, na perspectiva emancipatória, alertando para os avanços e transformações que precisam ser

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empreendidos, no sistema educacional como um todo (legislação, formação de professores, material didático, reconhecimento dos saberes culturais dos sujeitos e outros), para que se eleve à educação ao patamar da concreta vinculação entre o discurso e prática, superando o cotidianamente praticado, ou seja, uma educação e uma escola a serviço das classes dominantes e, portanto, disseminadora de uma educação reprodutivista, dominadora e de controle social da ordem capitalista estabelecida.

O referido autor tece considerações significativas, quando retrata os objetivos da educação no desenvolvimento humano, ou seja, na vida do sujeito, demonstrando as diferenças entre a proposta da educação libertadora e a educação bancária. Na visão bancária da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Nesse sentido, compartilhamos da posição do autor, de que a educação bancária impossibilita a construção um de mundo a partir da leitura de realidade do sujeito, uma vez que sua prática ocorre sob as bases do poder de dominação, presente nas relações entre os profissionais de educação (gestores, professores, coordenadores, técnicos e outros); nos materiais e conteúdos veiculados nas instituições de ensino; na relação entre professores e alunos (poder de vez e voz) e em outros aspectos que caracterizam o que o autor discute como educação bancária, autoritária e reprodutivista da perversa hegemonia social, bem distante da educação e da escola que emancipa o homem e a mulher e os capacita para transformarem-se e lutar e atuar para/na efetiva transformação da sociedade.

Desse modo constata-se que

Na [...] concepção “bancaria”, à consciência é em sua relação com o mundo, esta “peça” passivamente escancarada a ele, a espera de que entre nela, coerentemente concluirá que ao educador não cabe nenhum papel que não o de disciplinar a estrada do mundo dos educandos. Seu trabalho será, também, o de imitar o mundo. O de ordenar o que já se faz espontaneamente. O de “encher” os educandos de conteúdo. É o de fazer depósito de “comunicados” falso saber-que ele considera como verdadeiro saber (FREIRE,1987, p.36). Nessa circunstância, para o termo educação, cabe um entendimento de direcionamento para a emancipação humana. Para isso, compreendemos que, um projeto, que em seu bojo, trata do desenvolvimento humano, deve estar pautado, em um projeto educacional, construído a partir do contexto sócio-histórico e cultural do sujeito e da sua realidade objetiva, auxiliando-o na descoberta dessa realidade na forma como ela é, elucidando e estimulando a luta para livrar-se das artimanhas que levam à aceitação e conformismo do que é imposto pelas sociedades hegemônicas e capitalistas.

3 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DA EMANCIPAÇÃO

A discussão sobre a possibilidade de um diálogo relacionado à temática educação e emancipação humana, no âmbito da escola pode ser iniciada a partir da análise do Projeto Político Pedagógico, enquanto documento que organiza e direciona o fazer da escola e de seus profissionais,

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bem como retrata as intenções e direcionamentos dos sistemas de ensino, possibilitando identificar a educação que se pretende praticar, se direcionada para a reprodução do que está posto ou para a formação dos seus sujeitos, numa perspectiva emancipatória. Entretanto, o retrato da educação que temos, a partir dos Projetos-Político Pedagógicos, revela a proposição de uma educação formatada a partir dos interesses do capitalismo, com a manutenção do seu sistema hegemônico, destinada a atender às necessidades do mercado de trabalho, direcionada a uma educação profissional e tecnicista, contrária à educação que se desenvolve pelo o ensino e a aprendizagem focados na dinâmica social, histórica e política da sociedade, no reconhecimento e valorização dos saberes e experiências dos sujeitos, construídos no cotidiano de suas vidas e de seus contextos para, de forma consciente, assumirem sua condição e lugar no mundo, numa perspectiva revolucionária (NERY; SANTOS; SOUZA; COSTA, 2018).

Na perspectiva de uma educação focada no reconhecimento e valorização dos saberes e experiências dos sujeitos, Santos (2016a) aponta a modalidade de Pedagogia de Projetos como uma estratégia de ensino que se organiza por meio de ações conjuntas, envolvendo todos os segmentos da escola, especialmente docentes e discentes, o que pode estimular práticas educativas que desvelem a realidade da sociedade, levando à reflexões e posicionamentos, inclusive contrários à ordem estabelecida.

É nesse campo de possibilidades da educação que os espaços educativos se constituem em espaços de formação humana, numa perspectiva emancipatória, que trazemos à discussão a proposta da Pedagogia Histórico-Crítica de Saviani (2007), a qual se apresenta contrária às pedagogias tradicional, tecnicista e escolanovista, uma vez que não consideram os aspectos históricos e críticos, condicionantes da sociedade, que precisam ser vistos e analisados de forma consciente. Considerando a forma de organização da educação, a Pedagogia Histórica-Crítica traz importantes contribuições por orientar um ensino que se realize seguindo etapas num crescente entrelaçado, que parte da identificação da realidade, reflete, problematiza e, seguidamente, reúne instrumentos para uma prática social diferenciada, compromissada com a luta pela superação de práticas reprodutivista, dominadoras e excludentes. Segundo Gasparin e Petenucci (ano, p.?), a Pedagogia Histórico-Crítica é baseada no Materialismo Histórico-Crítico, preconizado por Marx e pode ser concebida como um

[...] método de ensino que visa estimular a atividade e a iniciativa do professor; favorecer o diálogo dos alunos entre si e com o professor, sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levar em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos.

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Outra concepção inerente a temática em estudo, são as contribuições de Mészaros, quando o autor, tece considerações sobre ideal de educação proposto para o mundo, é um modelo que traz no seu bojo, uma proposta que colabora para que possamos “reproduzir o discurso da classe dominante” (MÉSZÁROS, 2008, p.11). O autor, traz nas entrelinhas de suas discussões, uma crítica ao sistema do capital, do ponto de vista de que uma proposta educacional pautadas nos ideais capitalistas, não fomenta transformação e leitura de mundo. Portanto, o autor coloca que existe uma necessidade de pensar a educação, enquanto caminho para outras possibilidades. É nesses aspectos que Mészaros faz sua critica ao sistema educacional que nega a formação humana quando valoriza uma formação mercadológica, atrelado às necessidades do mercado, a educação enquanto empreendimento do capitalismo.

Sob as lentes Freirianas todo esse diálogo, vem corroborar, para consolidação da temática “Educação para emancipação humana” por um viés libertador, mesmo diante do contexto do capitalista como sistema de produção. Assim, os estudos em questão nos permitiram, através de materiais disponibilizados em websites, online, obter uma concepção de que, a Escola Nacional Florestan Fernandes, objeto da nossa pesquisa apresenta propostas educativas que possibilitam uma visão de mundo mais ampliada, permitindo a seu público um leitura de realidade, conforme os molde do sistema de produção, colaborando para com a formação que dê ao sujeito a possibilidade de enfrentamento das questões sociais, por meio da luta cotidiana. Contudo, compreende-se que os Projetos Político Pedagógicos da instituição em questão, estão consolidados por meio de uma proposta de formação no âmbito revolucionário, assim como pela construção de saberes multidisciplinares e da produção de uma diversidade de conhecimentos para que assim, o sujeito possa intervir na realidade social, transformando-a e interagindo juntos aos seus educadores. Nesse sentido, a educação libertadora e problematizadora como, segundo Freire (1987), um ato cognoscente, supera a educação bancária, manifestada nos atos de depositar, narrar, transferir ou transmitir conhecimentos e valores aos educandos que, tomando por meros objetos do processo de formação, tornam-se incapazes de perceber a realidade em sua totalidade, bem como as partes que formam essa totalidade.

4 UMA COMPREENSÃO SOBRE EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA EMANCIPAÇÃO HUMANA

A pesquisa permitiu-nos conhecer quatro formas de organizações com propostas educativas na perspectiva da formação humana, preparando homens e mulheres para os enfrentamentos das contradições e o fortalecimento da resistência, capacitando-os a construir sua própria história e a partir dela intervir na história de outros, do contexto vivido e da sociedade mais ampla. Trouxemos

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para o nosso texto, uma instituição que ao nosso ver, desenvolve uma perspectiva emancipatória, mesmo na conjuntura do capitalismo. A nossa pesquisa evidenciou que a referida escola busca uma educação emancipadora e uma formação política ideológica voltada para a materialização de um projeto de formação humana, pensado pelos e para os trabalhadores e trabalhadoras rurais organizados junto ao Movimento Social dos Trabalhadores sem Terra (MST) e de acordo com seus próprios interesses e necessidades, começa a ser construída em 2000, na cidade de Guararema, em São Paulo, a Escola Nacional Florestan Fernandes, (ENFF), inaugurada em 2005 como a consolidação de um empreendimento político pedagógico através do qual o movimento se organiza e oferece cursos de formação profissional para seus integrantes, através de seus próprios princípios. Contando com o apoio de mais de 500 professores voluntários das mais variadas nacionalidades, e formando militantes dos movimentos sociais do campo e da cidade de todo o território nacional e de outros países, nas áreas de teoria do Conhecimento, Filosofia política, Sociologia Rural, Conjuntura internacional, Educação do Campo, Gestão Social, Estudos latino-Americanos, Economia Política, além de cursos superiores e de especialização, através de parcerias com mais de 35 instituições de nível superior, como o mestrado sobre a questão agrária, através de convênio com a Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

O histórico de lutas de resistência da classe trabalhadora, encontra na ENFF um marco fundamental na edificação de ser um movimento de autoformação, auto-sustentável com destaque nas parcerias com as Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) e sua influência teórica fundada na teologia da libertação, assim como o sindicalismo rural, num momento em que o MST consolida sua política de formação autônoma, em seu movimento de

“[...] a) buscar uma prática intelectual e política que permita produzir o máximo de conhecimento científico necessário à transformação da sociedade; b) Estimular a organização social, política e econômica para superar os desafios internos das áreas de reforma agrária; c). Formar lideranças que contribuam para a construção de uma sociedade justa, fraterna, democrática e igualitária; d. Proporcionar intercâmbio de conhecimentos e experiências com outras organizações de trabalhadores rurais e urbanos; e). Capacitar tecnicamente os militantes da reforma agrária, nas áreas de maior necessidade do movimento” (MST, 1998).

A ENFF pensa a educação a partir de princípios políticos e filosóficos considerado de grande relevância social para enfretamento do modelo educacional vigente no país, oficializado pelo Ministério da Educação. Esses princípios estão presentes no Projeto Político Pedagógico direcionando as discussões e no fazer educacional no âmbito do MST como resistência ao modelo de ensino consolidado a partir das demandas do mercado de trabalho, para atender às necessidades do

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capitalismo. Conforme sinalizam Candido Vieitez e Neusa Dal Ri (2008, p. 199-200) apud, Bauer e Moraes (2015, p.110),

“um projeto educacional com base na formação humana, deve conter em suas estruturas os princípios para a transformação social, para o trabalho e a cooperação, uma proposta educacional voltada para as várias dimensões da pessoa humana, educação com e para valores humanistas e socialistas, como processo permanente de formação e transformação humana”.

Este histórico de formação da ENFF é importante para nossa discussão porque partimos do pressuposto de que a educação, no sistema capitalista não é neutra, pois atende aos mais variados interesses econômicos, políticos e sociais. E como nos trazem Marx e Engels (2003) o surgimento do modo de produção capitalista levou à divisão de classes, nos levando a diversos conflitos de interesses, dos quais aqui nos atemos aos conflitos referentes à educação. A oposição entre as duas classes fundamentais, a burguesia e o proletariado, levou à formação de projetos sociais antagônicos, e não poderia ser diferente no que diz respeito aos projetos de formação humana, que inseridos no projeto de sociedade da classe dominante, só poderia levar a um projeto de educação voltado a subjugar os sujeitos a ele submetidos, em oposição a qualquer iniciativa de emancipação.

É importante destacar que a educação do MST é crítica ao modelo oficial de ensino que se presta no mais das vezes a reproduzir os feitos, os valores e as concepções da sociedade capitalista. No lugar dessa escola reprodutora, o movimento construiu por meio de suas experiências uma concepção alternativa de escola. Escola essa com a responsabilidade de produzir em seus educandos a consciência de classe e a compreensão das tarefas históricas e imediatas que estão colocadas na ordem do dia dos seus adeptos (BAUER; MORAES, 2015, p.111).

Isso tornou imprescindível que o MST desenvolvesse seu projeto educativo que possibilitasse a estruturação intelectual de um novo homem, e mulher, preparados para a luta na defesa de seus interesses. Afinal, a classe trabalhadora tem interesses diferentes de seus exploradores. Afinal, segundo os dirigentes do MST (1999), se não houver um forte investimento na formação de seus militantes, a luta por uma sociedade mais justa e igualitária não há de acontecer. Caldart (2004) nos alerta sobre a necessidade de uma formação que promova um profundo conhecimento da realidade do país que gera os sem-terra e faz da questão agrária o elemento fundamental, responsável pelos índices de desigualdade social no país. Apesar de extrapolar o escopo deste trabalho, é importante registrar o forte alinhamento do MST e da ENFF no apoio à bandeira da agroecologia, não apenas como ferramenta tecnológica de produção de alimentos, mas também como instrumento de luta social pela emancipação do sujeito do campo, luta esta que encontra no agronegócio seu campo de lutas, uma vez que este se alinha aos interesses sociais e econômicos da classe dominante (SANTOS 2016b).

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Retomamos a discussão relacionada à temática em questão, enfatizando que existem diversas possibilidades de projetos educacionais pedagógicos, que perpassam pela “essência” da proposta de Educação, na perspectiva da emancipação humana, a exemplo das Pedagogias Freirianas, que tratam de uma gama de ensinamentos focado na formação para a vida, que tem um certo cuidado de diferenciar, as duas modalidade educacionais, assim como, Saviani (2005), em Escola e Democracia, que trata de diversas modalidades educacional, com destaque na proposta para uma educação libertadora. É nessa conjuntura que trazemos as contribuições de Ciavata, segundo a qual a pedagogia do projeto, permite o desenvolvimento do conhecimento humano, afirmando que é preciso aprender/saber fazer leitura de realidade (2005, p. 85): “o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito de uma formação completa para a leitura de mundo e para atuação como membro pertencente a um país, integrado dignamente a sua sociedade política”. Sendo assim, é possível inferir que a autora, reconhece em outras palavras, que o homem e a mulher precisam entender a sociedade que os cerca, junto aos seus aspectos relacionados à realidade humana, à construção do conhecimento. O entendimento da autora anteriormente citada, nos faz compreender, que é nesse contexto que trouxemos para nossas discussões o entendimento de formação humana, como processo em construção, que se edifica por meio dos projetos educacionais que seguem uma perspectiva revolucionária. Assim sendo, é possível destacar que uma proposta educacional, baseada nos parâmetros da realidade e especificidade do sujeito, pode ser compreendida como passaporte para emancipação humana a partir de uma proposta disponibilizada pela educação escolar, onde

[...] a prática docente vinculada à pedagogia de projeto, muito contribuirá para esse desenvolvimento pleno do educando, uma vez que, possibilitará desenvolver competências múltiplas, que favoreceram a construção de sujeitos autônomos e emancipadas. Diante do exposto pode-se afirmar que a metodologia da pedagogia de projeto, tem muito a contribuir com o intelecto do estudante, favorecendo a este a ampliação das múltiplas inteligências e consequentemente a formação omnilateral, ou seja, uma formação completa que está relacionada à formação humana integral. E o professor que a almeja para seus estudantes, precisa alinhar sua prática docente de tal forma, que esta venha cooperar para este desenvolvimento, possibilitando a estes tornarem-se protagonistas do processo ensino aprendizagem, (SANTOS, 2020, p.04).

A autora previamente citada, traz contribuições de alta relevância social, quando menciona que é necessário pensar nos projetos educacionais para a formação integral, a fim de que o sujeito compreenda a sociedade e suas múltiplas determinações, uma educação que possa promover o desenvolvimento humano para além de habilidades profissionais, mas, uma formação construída de um conhecimento revolucionários O destaque desse estudo, consolidada-se na compreensão de que os Projetos Político Educacionais propostos pelo Estado capitalista não permitem ao sujeito uma leitura de mundo de maneira ampliada, que consiga compreender a dinâmica da exploração do “homem pelo homem”, de pensar em educação como proposta de desenvolvimento humano. Por isso,

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inferimos que existe um imensa probabilidade de agregar a proposta de pensadores, teórico e educadores que pensam a educação numa perspectiva crítica, democrática, libertadora, logo, uma educação com o processo de ensino aprendizagem numa abordagem emancipatória, é nesse sentido que enfatizamos, a terminologia das palavras espaços educacionais, enquanto cenários característicos para o desenvolvimento do conhecimento do homem e da mulher respeitando suas especificidades, necessidades e o contexto sócio histórico desse sujeito, enquanto ser humano em constante processo de aprendizagem.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa possibilitou, a partir da aproximação com os dados, estudos anteriores e documentos das organizações selecionadas, o exercício de discussões e reflexões sobre o processo e os desafios da educação, para além da perspectiva mercadológica, mais no contexto emancipatório. Desse modo, compreendemos que os espaços educativos, apresentado nesse trabalho, perpassam, inicialmente pelo enfrentamento com posições contrárias ao que se estabelecem como organização/escola de ensino pelos sistemas federativos. Ficou evidenciado que a educação que se põe a emancipar os sujeitos, além de se organizar fora dos parâmetros e determinações do sistema, estabelecem objetivos que vão além da formação diretiva, conteudista e distante, rumo a uma formação que se preocupe em discutir a realidade objetiva da sociedade, com a efetiva intenção de preparar os sujeitos para a luta por mudanças significativas, capazes de alterar as relações de dominação e de reprodução pelo trabalho escravagista e alienador.

Da análise dos objetivos e formas de organização pedagógica das instituições investigadas verificamos que as mesmas adotam linhas de ações fundamentadas na Pedagogia Crítica, que chama os sujeitos à tomada de consciência sobre os condicionantes da sociedade capitalista e os instrumentaliza para a luta contra esses condicionantes e sustentados nos seus direitos e deveres, passam a assumir novas práticas sociais, ou seja, liberto-emancipados, passam a exercitar, individual e coletivamente, a luta pela dignidade, equidade e igualdade humana e social. Por fim, sem desconsiderar caminhos de possibilidades, ao olharmos para a nossa realidade objetiva, percebemos que por um período ainda longo, a formação para a emancipação humana continuará a ocorrer por instituições, como as investigadas, que nasceram da luta que se mantém, uma vez que esse tipo de educação não interessa às sociedades hegemônicas e capitalistas. Na certeza de que é possível formar para emancipação humana, tomemos como referência as instituições pesquisadas e sigamos na luta.

Nessa conjuntura, compreendemos que uma das principais preocupações das referidas escolas, até aqui pesquisadas, é a formação política e ideológica, do homem e da mulher, por intermédio dos estudos, produção de conhecimento e trabalho, relacionados com a realidade. Esse foi o ponto de

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relevância para a pesquisa em questão. Diante do exposto, é importante salientar que a possibilidade de um projeto de educação numa perspectiva crítica, faz parte na realidade de mundo de escola que fomentam o enfrentamento de modelo de ensino que se condiciona a reproduzir, os valores e as concepções da sociedade capitalista. Um projeto, que não constrói a consciência de classe nem permite uma leitura de realidade conforme as questões sociais.

No discorrer da pesquisa houve a possibilidade de uma maior compreensão direcionada à educação como um processo de formação e desenvolvimento humano. É preciso pensar a importância da educação, para além da escola, entender a escola, para além dos espaços físicos, ou seja, faz se necessário compreender a educação, não apenas no espaço denominado como escola, mas, pensar na educação como “patrimônio da humanidade”. Educação enquanto caminho para libertação, do ponto de vista do saber compreender e fazer uma leitura das questões sociais determinadas pelo capitalismo. E é nesse cenário, que inserimos o sujeito e a educação, é partindo desses pressupostos, que compreendemos a emancipação humana, levando em consideração a possibilidade dos Projetos Político Pedagógicos, construídos a partir de uma proposta libertadora, onde o homem e a mulher possam construir sua própria história.

REFERÊNCIAS

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