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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0525.12.010072-8/001

Número do Númeração 0100728-

Des.(a) Alexandre Santiago Relator:

Des.(a) Alexandre Santiago Relator do Acordão:

19/03/2014 Data do Julgamento:

25/03/2014 Data da Publicação:

APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS DE TERCEIROS - PENHORA DE BEM PERTENCENTE AO MESMO GRUPO ECONÔMICO - APLICAÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (ART.

28 DO CDC) - POSSIBILIDADE.

- Os Embargos de Terceiros constituem-se procedimento especial adequado para a liberação de constrição em bem de terceiro, estranho a relação processual, que tenha sido apreendido por ordem judicial.

- A desconsideração da personalidade jurídica e a aplicação da teoria da aparência - que, em última análise, visam o combate à fraude - constituem institutos excepcionais, porquanto o ordinário é a preservação da personalidade jurídica e da responsabilidade civil da sociedade que firmou o negócio jurídico.

- Verificada a constituição de diversas empresas e a alteração de nome de alguma delas após a ter o devedor contraído o debito, e configurando intuito de frustrar a execução, é de se considerar a possibilidade de empresa do mesmo grupo econômico se responsabilizar pela divida, com bem de sua propriedade.

- Existindo prova documental, ainda que indiciária, no sentido de configurar abuso de direito e objetivo de fraudar credor não há como afastar a aplicação da responsabilização daquela através de bens de sua propriedade, ainda que aleguem possuir apenas indiretamente o bem que já teria sido vendido a alguém.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0525.12.010072-8/001 - COMARCA DE POUSO ALEGRE - APELANTE(S): MSRV PARTICIPAÇÕES E

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EMPREENDIMENTOS S/A - APELADO(A)(S): RODRIGO MOREIRA CRUZ, HENRIQUE MOREIRA CRUZ, RENATA MOREIRA CRUZ DE CASTRO E OUTRO(A)(S), HERDEIROS DE JOSÉ ESTULANO DE ALMEIDA CRUZ A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. ALEXANDRE SANTIAGO RELATOR.

DES. ALEXANDRE SANTIAGO (RELATOR) V O T O

Trata-se de apelação interposta à sentença de ff. 173/175v, proferida pelo MM. Juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Pouso Alegre que, nos autos da ação de Embargos de Terceiros proposta por MSRV PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS S/A em desfavor de RENATA MOREIRA CRUZ DE CASTRO E OUTRO, HERDEIROS DE JOSÉ ESTULANO DE ALMEIDA CRUZ, que julgou improcedente os pedidos iniciais, considerando existir sucessão empresarial e tentativa de fraudar o credito contraído antes da venda do imóvel penhorado, e que, em funmção da teoria da aparência, o imóvel penhorado, ainda que em nome de terceiro, deva se manter respondendo pela divida.

Nas razões de apelação do embargante (ff.178/185) arguiu a necessidade de modificação da decisão hostilizada, levando-se em consideração que o imóvel não pertence ao devedor, e portanto não pode responder pela divida exeqüenda. Alega, ainda, que trata-se de empresas distintas, com quadro societários distintos e CNPJ distintos, não existindo nada que autorizasse a penhora na forma efetivada, e que o pedido de

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Recurso regularmente preparado.

Contrarrazões às ff.189/196.

Em síntese, é o relatório.

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.

Primeiramente, cabe esclarecer que os Embargos de Terceiros, regulamentados a partir do artigo 1.046 do Código de Processo Civil, constituem-se o procedimento especial adequado para a liberação de constrição em bem de terceiro, estranho a relação processual, que tenha sido apreendido por ordem judicial.

Neste contexto, terceiros são aqueles alheios à relação processual, por não figurarem como partes no processo em curso e, desta forma, não podem suportar os efeitos da execução.

Dispõe a legislação processual civil:

"Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam mantidos ou restituídos por meio de embargos

§1º. Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor".

Dito isso, passo à análise dos fatos narrados nos autos.

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Cuida-se de embargos de terceiro onde o apelante se irresigna em face da decisão que julgou improcedente o pedido de descaracterização da penhora efetivada nos autos da execução movida pelos apelados em face de Gama Terra Hotelaria Ltda, ao argumento de que o imóvel não pertence à devedora e também não se pode considerar empresas do mesmo grupo econômico, dada a existência de CNPJ's diferentes e quadro societário distintos.

Inicialmente deve-se estabelecer que as razões que levaram o magistrado primevo a considerar a improcedência do pleito inicial encontra- se perfeitamente fundamentado através do histórico obtido pelas fichas cadastrais das empresas, colacionadas às ff.68/81.

Isto porque pela fundamentação da decisão hostilizada restou claro que a constituição de tantas empresas, tendo na maioria delas ou o diretor ou o sócio majoritário, Antônio Ferreira de Matos, sempre com a denominação "GAMA TERRA" no nome, indiciam a existência de um mesmo grupo econômico.

Também importante salientar que a empresa apelante possuía anterior denominação de Gama Terra Empreendimentos e Participaçoes S/A, conforme documento de f.15/16, sendo que tem como diretor-presidente Antonio Ferreira de Matos.

E mais, a devedora Gama Terra Hotelaria Ltda, conforme certidão de f.67 encontra-se localizada na Rua João Gontart, 16, Centro, na cidade de Ituverava-SP, que é o mesmo endereço da apelante, f.15.

Assim, diante da cadeia de representatividade e sucessão muito bem elaborada pelo magistrado sentenciante, não restam duvidas de que as modificações de nome e sucessão, foram feitas no intuito de burlar credores na satisfação de seu debito, porém, pertecentes, executada e apelante, ao mesmo grupo econômico.

No caso em apreço, verifica-se que o magistrado a quo utilizou-se

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devedora, para atingir os bens de seus sócios via cadeia sucessória através da teoria da aparência.

Conforme bem colocado pela MM. Juíza do Trabalho Carina Rodrigues Bicalho, em publicação sobre aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidade jurídica no processo do trabalho, que de forma idêntica deve ser analisada na Justiça Comum:

"(...)

A possibilidade de utilização da pessoa jurídica para atender a fins diferentes do interesse coletivo para o qual se destina, afrontando assim preceitos éticos, de certo permeou a idéia da qual resultou a elaboração da teoria da desconsideração da personalidade jurídica pela jurisprudência, primeiramente dos Estados Unidos e da Alemanha, e, então, pela doutrina.

Rubens REQUIÃO afirma que "se a personalidade jurídica constitui uma criação da lei, como concessão do Estado objetivando, como diz Cunha Gonçalves, 'na realização de um fim', nada mais procedente do que se reconhecer ao Estado, através de sua justiça, a faculdade de verificar se o direito concedido está sendo adequadamente usado. A personalidade jurídica passa a ser considerada doutrinariamente um direito relativo.(

Revista dos Tribunais, n. 411)

Assim, negando o absolutismo do direito da personalidade jurídica, a teoria da penetração, como é conhecida no direito argentino, permite a desconsideração episódica da personalidade jurídica para "penetrando em seu âmago, alcançar as pessoas e bens que dentro dele se escondem para fins ilícitos ou abusivos.( REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica. Revista dos Tribunais n. 411, p. 14.)"

Confirma Rolf SERICK, como cita Rubens REQUIÃO, que "a jurisprudência há de enfrentar-se continuamente com os casos

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extremos em que resulta necessário averiguar quando pode prescindir-se da estrutura formal da pessoa jurídica para que a decisão penetre até o seu próprio substrato e afete especialmente a seus membros. (3 REQUIÃO, Rubens. Op. cit., p. 13. )"

A questão, uma vez constatada a relatividade da personalidade jurídica e de seu corolário, a autonomia patrimonial, é saber quais seriam esses "casos extremos" a que se refere o mestre alemão.

A esta pergunta responde SERICK, conforme assinalou Antônio POLO, tradutor da obra para o espanhol, em nota introdutiva, que "lãs manifestaciones más frecuentes que pueden revestir los supuestos de abuso de la persona jurídica, a saber: fraude de ley, fraude o violación de contrato, y daño fraudulento causado a terceros.( 4 SERICK, Rolf. Trad. Antonio Pólo Diez. Aparencia y realidad em las sociedades mercantiles: el abuso de derecho por meio de la persona juridica. Barcelona: Ediciones Ariel, 1958, p.

14.)"

João CASILLO anota objeções de Reinhardt e Ereinghagen ao critério de SERICK, afirmando que para tais doutrinadores "a aplicação da teoria do 'durehgriff', deve-se utilizar o critério objetivo: toda vez que houver um conflito entre a pessoa jurídica e a finalidade dela, a desconsideração deve ser aplicada. (CASILLO, João. Desconsideração da pessoa jurídica. Revista dos Tribunais n. 528, p. 31.)"

REQUIÃO ensina que a teoria deve ser utilizada para "impedir a fraude ou abuso através do uso da personalidade jurídica. (6 REQUIÃO, Rubens.

Op. cit., p. 13.)

A finalidade da teoria, segundo ROMITA, é "impedir que a personalidade jurídica da sociedade seja utilizada com intuitos fraudulentos, ilícitos ou contrários à boa-fé. (7 ROMITA, Arion Sayão. Revista LTr, v. 45, n. 9, p.

1040.)"

Nota-se, a partir das lições de REQUIÃO e ROMITA, a influência da

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utilizada de forma abusiva, desviando-se dos fins para os quais fora criada e em razão de que o direito lhe confere autonomia patrimonial em face dos sócios. Essa é, sem dúvidas, a vertente tradicional da teoria da disregard.

No entanto, das primeiras manifestações jurisprudenciais e doutrinárias da teoria da penetração já se passaram muitos anos. DALLEGRAVE NETO sugere, hoje, a classificação dos fundamentos da teoria em três correntes doutrinárias.

". a primeira, denominada subjetiva, admitindo o disregard somente nos casos em que esteja comprovado o animus fraudulento ou de abuso de direito por parte da sociedade devedora;

. a segunda, finalística, aplicando-se a teoria da penetração em sintonia com o que dispõe o § 5º do art. 28 do CDC, ou seja, a intenção fraudulenta é presumida com a presença do prejuízo do credor no momento da dificuldade da execução;

. a terceira, objetivista, aplica amplamente o disregard, seja em prol do credor ou mesmo do devedor, bastando a presença da separação patrimonial da sociedade como forma de obstáculo a determinado interesse tutelado pelo direito. (8 DALLEGRAVE NETO, José Affonso. A execução dos bens dos sócios em face da disregard doctrine. In: Execução trabalhista - estudos em homenagem ao Ministro João Oreste Dalazen, p. 186.)"

O CDC, no art. 28, caput e § 5º, enumera as situações em que deve ser relativizada, episodicamente, a autonomia patrimonial sócios/sociedade, quais sejam: abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito, violação dos estatutos ou contrato social, falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração (caput) e situação em que a pessoa jurídica for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (§ 5º).

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Observa-se que são inúmeras as hipóteses em que fica autorizada a desconsideração da personalidade jurídica, abrangendo qualquer situação em que a autonomia patrimonial venha a frustrar ou dificultar o ressarcimento do consumidor prejudicado.

Entretanto, o próprio autor supracitado, em análise do § 5º, considera que

"o reconhecimento de valia e eficácia normativa está condicionada à interpretação que se der às razões de veto opostas pelo Presidente da República ao § 1º" sugerindo que o veto oposto ao § 1º seria destinado ao § 5º o que comprometeria a eficácia deste último.( GRINOVER, Ada Pellegrini [et al]. Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 214).

Assim, tendo restado tão bem apurado como na decisão hostilizada, que a empresa apelante pertence ao mesmo grupo econômico e familiar da devedora,não restam dúvidas de que a decisão a se tomar no caso em apreço seja a de manutenção da penhora efetivada.

Também importante perquirir que a empresa apelante apenas modificou a sua razão social em 29/12/2010, antes pertencendo ao grupo econômico Gama Terra, onde sempre figura na sociedade ou direção, Antonio Ferreira de Matos, na forma mencionada alhures.

Nesta seara, não restam duvidas de que tendo a razão social sido modificada apenas após a constituição do debito exeqüendo, tudo leva a crer que a tentativa da pessoa jurídica foi dificultar possível execução que poderia recair sobre si, em função do grupo econômico gestor das empresas "GAMA TERRA" ainda que no quadro societário da empresa devedora conste hoje pessoas totalmente

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estranhas àquelas que sempre figuraram e também figuram nas outras empresas "Gama Terra", a saber, Walter Gama Terra.

Ressalta-se por fim que mesmo em se tratando de pessoas jurídicas distintas, nada impede que uma delas responda pelos débitos decorrentes, ainda mais quando visível a confusão societária existente entre estas.

A doutrina de Fábio Ulhoa Coelho já referiu:

Em razão do princípio da autonomia patrimonial, as sociedades empresárias podem ser utilizadas como instrumento para a realização de fraude contra os credores ou mesmo abuso de direito. Na medida em que é a sociedade o sujeito titular dos direitos e devedor das obrigações, e não os seus sócios, muitas vezes os interesses dos credores ou terceiros são indevidamente frustrados por manipulações na constituição de pessoas jurídicas, celebração dos mais variados contratos empresariais, ou mesmo realização de operações societárias, como as de incorporação, fusão, cisão.

(Curso de Direito Comercial, vol. 2, p. 31).

Diante do exposto, considero que a decisão não merece reparo, devendo ser mantida na integra, a bem lançada sentença da lavra do Dr.

NEREU RAMOS FIGUEIREDO.

Com estes fumdamentos, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO.

Custas pelo apelante.

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DESA. MARIZA DE MELO PORTO (REVISORA) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. PAULO BALBINO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

Referências

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