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ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

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ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre- sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere- cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici- pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra- vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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3 Sumário

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL ... 1

NOSSA HISTÓRIA ... 2

INTRODUÇÃO ... 4

1 – ÉTICA ... 4

1.1 Idade Antiga ... 7

1.1.1Aristóteles ... 8

1.1.1Sócrates ... 9

1.1.3 Platão ... 10

2.MORAL... 12

2.1Relação ética e moral ... 14

3. ÉTICA CRISTÃ ... 16

3.1 Idade Média ... 17

3.1.1Santo Agostinho ... 17

3.1.2 São Tomás de Aquino ... 19

3.2 Ética protestante e o espírito do capitalismo (Weber) ... 20

3.3 Immanuel Kant ... 21

3.3.1Moral kantiana ... 26

4.ETICA PROFISSIONAL ... 28

4.1Deodontologia ... 29

4.2Códigos de ética ... 29

4.2.1 Tipos de código de ética ... 31

4.2.2Tendências códigos de ética profissional ... 32

4.2.3 Características Fundamentais de uma Conduta Ética ... 33

CONCLUSÃO ... 36

REFERÊNCIAS ... 37

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4 INTRODUÇÃO

Ao longo da história da humanidade, várias têm sido as áreas que fomen- tam reflexões acerca da ética, até porque a humanidade necessita de acordos para que a sua interação e convivência se tornem sustentáveis. Por isso vamos também estudar as concepções doutrinais da Grécia até a contemporaneidade.

É nessa perspectiva, da convivência, do entendimento, que queremos trabalhar os conceitos a seguir.

1 – ÉTICA

A palavra ética é de origem grega, derivada de ethos, que diz respeito ao costume ou mesmo aos hábitos dos homens.

Na Grécia, o homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral, uma vez que para sua cultura até os deuses eram humanos com seus defeitos e qualidades.

Em Roma a ética passa a ser denominada “mores”; que significa “moral”.

No direito romano a palavra ética refere-se a normas de conduta ou princípios que regem a sociedade ou um determinado grupo e em uma determinada época.

Os estudos sobre o assunto lidam com a compreensão das noções e dos princípios que norteiam as bases da moralidade social e da vida individual além de tratar-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo quanto no âmbito individual. Diversos são os autores que conceituam a Ética. Ela é denominada, por exemplo, como “um conjunto de

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valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade” ou então, conforme outra definição, uma parte da filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida com a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual. Em outras pala- vras, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual.

A Ética é um saber científico que se enquadra no campo das Ciências Sociais. É uma disciplina teórica, um sistema conceitual, um corpo de conhecimentos que se torna inteligível aos fatos morais. Mas o que são fatos morais? São os fatos sociais que dizem respeito ao bem e ao mal, juízos sobre as condutas dos agentes, convenções históricas sobre o que é certo e errado, justo e injusto, o que é certo ou errado? Toda coletividade formula e adota os padrões morais que mais lhe convém.

(SROUR, 2003, p. 7-8).

Os estudiosos faziam a crítica da realidade social de sua época e a partir dessa crítica ofereciam saídas de como teria de ser a conduta das pessoas para evitar os infortúnios que levariam ao desaparecimento do ethos comum.

A sociedade, então, considerando aquelas ideias úteis, passou a educar as novas gerações para aqueles valores. Muitas vezes, por ser um novo dever, o Estado transformava tais normas em leis até que tais condutas fossem incor- poradas às consciências individuais e, assim, lentamente, fora estruturados os valores que hoje consideramos essenciais.

A separação entre bem comum e bem individual (o público e o privado), que começa a ocorrer durante o período da decadência grega, é que justifica a necessidade de alguma teoria que explicasse esta dualidade entre moral e ética Nossa visão de ética, hoje, deve muito, também, a Platão. A ética de Platão está relacionada intimamente com sua filosofia política, porque, para ele, a polis (cidade-estado) é o terreno próprio para a vida moral. Assim, buscou um Estado ideal, um estado-modelo, utópico, cujo modelo seria o corpo do ser hu- mano.

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O agir ético não será apenas uma simples reprodução de ações das ge- rações anteriores, mas uma atividade reflexiva que oriente a ação a seguir num determinado momento de nossa vida pessoal. Quando surgem questionamentos sobre a validade de determinados valores ou costumes, e a realidade exige no- vos valores que possam orientar a ética, surge à necessidade de uma teoria que justifique esse novo agir, uma vez que é impossível a ação ética sem que o agente compreenda a racionalidade dessa ação.

Assim, não é possível o agir ético sem uma reflexão entre o que eu devo fazer e o que eu gostaria de fazer em um determinado momento. A ação ética sempre deve buscar o bem comum e consiste na recusa de todas as ações que propiciem o mal. O agir ético vai além de um conjunto de preceitos relacionados a cultura, crenças, ideologias e tradições de uma sociedade, comunidade ou grupo de pessoas.

Embora a ética seja um assunto basicamente filosófico, seu campo de atuação e reflexão pode ser estendido por todas as áreas. A ética também se divide em vários campos do saber: teologia, filosofia, psicologia, direito, econo- mia e outros.

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1.1 Idade Antiga

A Idade Antiga é representada pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristó- teles, e é nessa época que a ética adquire extremo valor. Esses filósofos se preocupavam com o ser no mundo físico, voltados aos problemas sociais e mo- rais. Embora não haja propriamente coesão no pensamento e doutrina dos três, ainda assim suas ideias tornam-se próximas no sentido da reflexão acerca do homem e da cidade. O estudo da Ética, se pode dizer, teve início com os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. O livro Ética a Nicômaco é uma obra de referên- cia, em que a ética vai determinar que a finalidade suprema é a felicidade (eu- daimonia).

Nessa época, a questão da ética era o bem supremo da vida humana e, de acordo com Passos (2004, p. 32), “não devia consistir em ter a sorte ou ser rico, por exemplo, e sim em proceder e ter uma alma boa”. Para Socrátes, a questão ética era o que bastava o homem saber, ter bondade para ser bom. O conhecimento, para Sócrates, era uma virtude, porque pensava que com o co- nhecimento o homem conseguia ser bom e ter a felicidade. Por esse motivo é que há um entrelaçamento entre bondade, conhecimento e felicidade. Para Pla- tão, o conceito de cidade (polis) perfeita estava baseado em valores éticos e morais. Platão aborda que os conceitos da mente humana não são reais, mas sim imagens reflexas. Diferente de Socrátes, Platão considerava que a moral é

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a arte de preparar o indivíduo para a felicidade que não se encontra na vida terrena. Em Aristóteles, a felicidade, finalidade suprema da ética, só pode ser alcançada se o homem fosse capaz de moderar suas paixões. Aristóteles preo- cupou-se com a forma como as pessoas viviam na sociedade e contribuiu muito para o entendimento da ética e a busca da felicidade individual e coletiva.

Sócrates foi considerado um marco da filosofia, de modo que todos os filósofos que antecederam a época dos filósofos citados são conhecidos por pré- socráticos. Os pré-socráticos também eram conhecidos como naturalistas, ou filósofos da natureza. Esses filósofos preocupavam-se mais em entender as coi- sas, em dar explicação para a natureza e para o mundo.

1.1.1Aristóteles

Aristóteles nasceu na Macedônia, na cidade de Estagira, no ano de 384 a.C. Seu pai chamava-se Nicômaco e exercia a profissão de médico do rei da Macedônia. No ano de 367 a.C., quando Aristóteles tinha aproximadamente 17 anos, foi enviado a Atenas para completar sua educação, devido à intensa vida cultural daquela cidade que lhe acenara possibilidade de estudo. Ingressou na Academia de Platão e estudou ali até o ano da morte do mestre, quando consolidou sua vocação para filósofo.

Em 343 ou 342 a.C., Aristóteles foi chamado para ser mestre do jovem Alexandre, o rei da Macedônia, quando este ainda tinha 13 anos. Posteriormente o filósofo voltou a Atenas, em 334 a.C., e fundou sua pró- pria escola, o Liceu, cujos alunos eram chamados de peripatéticos6 . Morreu em 322 a.C.

Aristóteles, refletindo sobre como o homem poderia viver uma boa vida, afirmava que a felicidade era a finalidade de todo homem e a plena realização humana era a contemplação do exercício da razão humana. Ele ensinava que há três formas de alcançar a felicidade: pela virtude, pela sabedoria e pelo prazer.

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Escreveu aproximadamente uma centena de obras, mas muitos de seus livros perderam-se por terem sido proibidos pela Igreja Católica, no final da Idade Média.

O pensamento moral de Aristóteles está exposto em obras como Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo e A Grande Ética. As suas obras foram das mais discutidas e comentadas da Antigüidade, deixando uma importante herança para a história da cultura e da filosofia.

1.1.1Sócrates

Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores gregos mais estudados e citados no campo da ética. De um modo geral, afirmavam que a conduta do ser humano deveria ser pautada no equilíbrio, a fim de evitar a falta de ética.

Pregavam a virtude, a estreiteza moral e outras atitudes voltadas para a ética.

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Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 a.C., e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Aprendeu música e literatura, mas se dedicou à meditação e ao ensino filosófico. Desde jovem, Sócrates ficou conhecido pela sua coragem e pelo seu intelecto. Serviu no exército, desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Desde a juventude, Sócrates tinha o hábito de debater e dialogar com as pessoas de sua região. Não fundou

uma “escola de

pensamento”, pois preferiu realizar seu trabalho em locais públicos, principalmente nas praças e ginásios. Costumava agir de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e políticos de sua época.

Para Sócrates, virtude é sabedoria (sofia) e conhecimento. Já o vício é o resultado da ignorância. O saber fundamental é o saber a respeito do homem.

Sobre essa idéia, o pensador teria dito suas frases mais conhecidas como:

“Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei”.

Sócrates, devido a sua liberdade de expressão e às fortes críticas que fazia à política da Grécia, foi acusado de corromper os jovens da época e foi condenado a beber cicuta. Morreu em 399 a.C.

1.1.3 Platão

Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C. e morreu em 347 da mesma Era.

Pertencia a uma família rica, da mais alta aristocracia grega.

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A descoberta da metafísica é atribuída à Platão, cujas reflexões filosóficas culminam para o mun- do das idéias. Segundo a Teoria das Idéias de Platão, existem dois mundos; o primeiro mundo é composto por ideias imutáveis, eternas, invisíveis e diferentes das coisas concretas; o segundo, o mundo real, é constitu- ído por réplicas das ideias (coisas sensíveis), cópias imperfeitas e mutáveis. Ao contrário do que se pode pensar, o mundo das Ideias, de Platão, é o lugar das coisas verdadeiras enquanto o mundo real é o lugar onde reinam as aparências e as sombras. Segundo esta premissa, o homem não se pode deixar levar pelos sentidos, que sempre lhe pas- sam uma percepção distorcida das coisas que o rodeiam. A verdadeira realidade só pode ser atingida e verdadeiramente compreendida por intermédio da razão. Vale destacar que Platão também afirma que o bem é um molde sobre o qual deveria se processar toda a ação humana. Ele entendia que o elemento da vontade do homem deveria estar sempre

voltado para o bem.

Platão também encami- nhou seus estudos para as áreas da política e da reforma social, em de- corrência do seu envolvimento com a difícil situação de Atenas, após a Guerra do Peloponeso.

Ele ainda entendia que a pólis é o próprio terreno da vida mo- ral e que a ética necessariamente desemboca na política.

Platão reconhecia como

“classes superiores” as dos gover- nantes e guerreiros, pelas suas atividades de contemplação, guerra e política. As “classes inferiores” eram as dos artesãos – devido ao desprezo do pensador pelo trabalho físico – e dos escravos – considerados pela sua sociedade como desprovidos de virtudes morais e de direitos cívicos. A ética de Platão dava-se de acordo com as ideias dominantes, a partir da realidade social e política daquela época.

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12 2.MORAL

A palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “re- lativo aos costumes”. A moral estabelece regras que são assumidas pela pes- soa, como uma forma de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fron- teiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se co- nhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral comum.

O estudo da Moral, de suas regras e dos costumes é, pois, relevante principalmente para humanizar as relações econômicas e o mundo materializado de nossos dias. O dicionário Aurélio define moral como sendo “de acordo com os bons costumes. Que é próprio para favorecer os bons costumes. Relativo ao espírito; intelectual (por oposição ao físico, ao material)”. No que tange ao signi- ficado de moral Leonardo Boff traz uma série de exemplos e afirmações para conceituar o termo.

Então, o que é agir conforme a moral? O que é o agir imoralmente? Ou o que é uma atitude amoral? Como podemos diferenciá-los? De forma bem re-

sumida pode-se dizer que:

● Moral – é agir conforme os valo- res da sua organização ou sociedade sem prejudicar os outros.

● Imoral – é uma atitude que vai contra as normas e valores de uma orga- nização ou sociedade e que prejudica os outros.

● Amoral – quando uma atitude não influi nem positiva e nem negativa- mente, ou seja, é uma ação neutra. Pode-se concluir que uma atitude moral é uma ação positiva, uma atitude imoral é uma ação negativa e uma atitude amoral é uma ação neutra. Dessa forma, o âmbito da moral é decidir como agir, é uma questão da prática, enquanto que o âmbito da ética é refletir sobre essas ações e suas implicações na felicidade humana.

A forma concreta como a ética é vivida, depende de cada cultura que é sempre diferente da outra. Um indígena, um chinês, um africano vivem do seu

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jeito o amor, o cuidado, a solidariedade e o perdão. Esse jeito diferente chama- mos de moral. Ética existe uma só para todos. Moral existem muitas, consoante as maneiras diferentes como os seres humanos organizam a vida. Vamos dar um exemplo. Importante é ter uma casa(ética). O estilo e a maneira de construi- la pode variar(moral). Pode ser simples, rústica, moderna, colonial, gótica, con- tanto que seja casa habitável. Assim é com a ética e a moral.

Vale destacar ainda que a moral não se reduz apenas a seu aspecto social, pois a medida que desenvolvemos nossa reflexão crítica, passamos a questionar os valores herdados, para então decidir se aceitamos ou não as nor- mas. A ética, tanto quanto a moral, não é um conjunto de verdades fixas, imutá- veis. A ética se move, historicamente, se amplia e se adensa. Para entendermos como isso acontece na história da humanidade, basta lembrarmos que, um dia a escravidão foi considerada “natural”. Entre a moral e a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica universal e, a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.

E moral vem de mores, termo latino plural que significa costumes, hábi- tos, fazendo com que moral equivalha às atitudes e normas que se estabelece- ram como hábito de boa convivência, de bom comportamento. Mesmo que essas regras ou hábitos ou atitudes consideradas corretas mudem, há regras. De saída podemos afirmar que moral não significa só um conjunto de regras, mas sim um conjunto de atitudes conforme regras. Por isso dizemos que é moralmente cor- reta a pessoa que mantém costumeiramente uma determinada postura frente às coisas e às pessoas, adotando um estilo de comportamento, embora também consideremos moralmente correta a atitude de quem devolve uma carteira de documentos e dinheiro que encontrou na calçada, mesmo que tal pessoa possa normalmente não se comportar tão corretamente. De toda forma, constatamos também que bem e mal são reconhecidos como tais porque há cumprimento ou descumprimento dessas regras, desses costumes. Portanto, se não houvesse regras ou hábitos estabelecidos, não haveria bem e mal. Outro modo de nos darmos conta da existência da moral consiste em assinalar o que se vive em situações bem concretas de nossa vida individual ou de grupos humanos ou até nacionais. Alguns exemplos revelam aquilo que chamamos “senso moral”: ficar- mos sensibilizados com o fato de haver tanta gente morrendo de fome, enquanto

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acontece um desperdício enorme de alimentos; ouvirmos todos os dias notícias de mortes pela violência no trânsito, em chacinas de pessoas ou até de animais, sequestros, estupros, torturas, e ficarmos indignados com isso. Ao mesmo tempo, em que convivemos com essas situações, confrontamo-nos com situa- ções difíceis de se resolver no campo prático da moral, tais como: Permitir ou não o aborto, sobretudo quando a gestação se deveu a um estupro? Aceitar ou não uma tarefa que possibilite o dinheiro para sustentar a família, quando se sabe que o cumprimento da tarefa assumida vai contra a legislação em vigor?

Desligar ou não os aparelhos que mantêm viva uma pessoa, quando tudo indica que já não existe possibilidade de uma vida digna ou razoável sem o uso dos aparelhos? Ser a favor da pena de morte para crimes muito graves? Tais per- guntas existem precisamente enquanto põem em questão ou à prova nossa consciência moral.

2.1Relação ética e moral

Frequentemente se confunde ética com moral e isso tem um razão de ser. É que a palavra “moral” vem do latim mos (singular) e mores (plural), que significa “costumes”. E a palavra “ética” vem do grego e possui o mesmo signifi- cado, ou seja, “costumes”.

Por isso, muitos utilizam a expressão “bons costumes” como sinônimo de moral ou moralidade.

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Moral está mais relacionada a crenças estruturadas em valores acumu- lados desde a mais tenra infância e transmitidos pelos grupos sociais de intera- ção afetiva, tais como a família e a Igreja. Moral está diretamente relacionada à consciência de que é o lócus privilegiado dos valores, enquanto que a ética é a exteriorização da conduta humana em sociedade.

Sendo cultural, a moral é o conjunto de regras que se impõem às pes- soas pelo grupo ao qual pertencem, numa ação coletiva que tende a agir de determinada maneira, sendo a consolidação de práticas e costumes observados no geral pelo receio de uma reprovação social (a pressão é externa). Partindo desse pressuposto, todo ser humano é moral ao cumprir normas de conduta ori- undas de um conjunto de crenças inquestionáveis dentro de sua cultura.

A ética é perene porque as suas reflexões são num curso contínuo e eterno, sempre haverá reflexões sobre a ética. Já a moral é temporal, porque de acordo com o tempo, os costumes e valores de uma sociedade se modificam. A ética é universal porque as suas reflexões independem da cultura, sociedade ou tempo histórico, as suas reflexões cabem em qualquer lugar e em qualquer tempo, porque se referem ao comportamento humano. A moral é cultural porque em cada sociedade, em cada lugar, os costumes e valores serão diferentes. A ética é regra, porque não existe mutabilidade em suas reflexões, as suas refle- xões é que podem ser realizadas perante as mudanças. A moral é conduta de regra, porque é preciso relacionar os valores para que a moral possa instituir a sua conduta. A ética é teoria porque está situada no campo das reflexões, en- quanto a moral se refere às práticas do comportamento humano, seus costumes, seus hábitos e seus valores

Portanto, do ponto de vista etimológico, ética e moral significam a mesma coisa, contudo há o limiar tênue entre uma e outra. E isso você poderá observar à medida que vamos nos aprofundando no assunto. Veja então, resu- midamente: “A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experi- ência humana ou forma de comportamento dos homens, ou da moral, conside- rado, porém, na sua totalidade, diversidade e variedade”. (VÁZQUEZ, 2003, p.

21). A moral é o estudo dos costumes de uma determinada sociedade numa determinada época e lugar.

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16 3. ÉTICA CRISTÃ

Durante a Idade Média, o cristianismo se estabelece como teoria no campo filosófico; a representação ocidental do “divino” não é mais a natureza e passa a encarnar uma pessoa: Jesus Cristo.

A moral passa a ser entendida como a busca da perfeição “à imitação de Cristo” como característica de cada ser humano Essa nova concepção da pessoa humana, do indivíduo, é o próprio cerne do processo civilizador ocidental, resultando em todos os direitos da pessoa humana.

A ética cristã articula liberdade e vontade; apresenta essa última como essencialmente dividida entre o bem e o mal. Foi o cristianismo que subordinou o ideal de virtude à ideia de dever e de obrigação. Fez da humildade uma virtude essencial, o que era desconhecido pelos antigos.

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3.1 Idade Média

A Idade Média é identificada muito fortemente pelo Renascimento, que foi considerado um movimento literário, artístico e filosófico que teve duração entre o fim do século XIV ao fim do século XVI. Suas características principais foram o humanismo, a renovação religiosa, a renovação das concepções políti- cas e o naturalismo (novo interesse pela investigação da natureza). Nessa época, a situação política e social era mais complexa, por esse motivo não se podia pretender a mesma harmonia da polis. De acordo com Passos (2004, p.

37), “também por questões ideológicas houve o predomínio da teoria sobre a prática”, e o cristianismo tornou-se a religião oficial, o que influenciou as condu- tas morais. As concepções filosóficas destacadas por Passos (2004), ou seja, os principais filósofos deste período, foram:

● Santo Agostinho (354-430): ‘compreender para crer, crer para com- preender’. Para Agostinho, o dom divino era o único capaz de resgatar o homem de seus pecados. Nesse sentido, a ética estava ligada aos valores da moral cristã.

● Tomás de Aquino (1225-1274): a ética consiste em agir de acordo com a ordem natural, o homem tem livre-arbítrio e, orientado pela consciência, tem uma capacidade de captar, pela intuição, a ordem moral – ‘faz o bem e evita o mal’.

3.1.1Santo Agostinho

Iniciamos o percurso pela própria proposta que desperta Agostinho, isto é, o problema do mal numa perspectiva metafísico-ontológico: “Qual a origem do mal?”. Ele lê Cícero e se sente impulsionado em buscar a sabedoria e a verdade, aproxima-se do maniqueísmo pela resposta ao problema metafísico-ontológico do mal, rompe com os maniqueístas e constrói uma nova interpretação para o problema do mal ontológico com implicações ético-moral com a ajuda e influên- cia da filosofia neoplatônica e dos teólogos de Milão.

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A partir de então, toda a construção é para mostrar que o homem pre- cisa bem viver, mas para isto precisa ter uma vida pautada na reta ordem divina.

Tudo que Deus criou é bom, mas o mal rompeu com a hierarquia da reta ordem divina. Dessa forma, a beatitude do homem só pode ser encontrada em Deus e para isto ele precisa ser curado do pecado pela graça divina. Somente quando isto acontece que o homem pode viver segundo a hierarquia da reta ordem di- vina, mesmo que ele ainda viva dentro de um mundo temporal, ele passa a en- tender e praticar o amor como fundamento do seu ético-moral. Este amor não é simplesmente amar de qualquer forma, mas é amar segundo o que o próprio Deus estabeleceu. Há uma hierarquia estabelecida pelo divino e o viver ético- moral do homem precisa estar regido neste princípio. O amor é o fundamento do ético-moral em Agostinho. Faz-se necessário saber fruir ou utilizar as coisas, o uti-frui. Viver de forma ético-moral é, segundo a reta ordem divina, ter o amor ordenado. A graça divina ajuda o homem, mas ele precisa viver ético e moral- mente pela reta ordem. Isto implica que o homem ético-moral age de forma justa dando à cada um o que é seu. Ele vive em harmonia com todas as coisas e isto requer que ele saiba qual valor ou intensidade de amor deve atribuir às coisas.

Ele ordena o amor numa hierarquia na forma de que Deus, está primeiro lugar, e a si mesmo e ao próximo, em seguida, e somente depois os objetos temporais e, mesmo assim, estes últimos em função de Deus. A estrutura do uti-frui é fun- damental para a construção ético-moral agostiniana. Toda moral agostiniana

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está ligada de forma ontológica ao dever ser buscando a verdadeira felicidade.

Assim, o homem precisa usar retamente os valores do amor ordenando para se aproximar do bem supremo, agindo assim o amor se torna um bem para o próprio homem e o seu próximo. O amor é conduzido pela vontade, uma expressão da liberdade, mas deve conduzir o homem para Deus e guiar toda a sua vida ético- moral para que as escolhas sejam dentro da reta ordem divina do que deve ser amado. O amor na natureza humana é uma questão ontológica, que é objetivada pelo livre-arbítrio que pela razão orienta o ser para Deus e se manifesta no mo- dus vivendi, no ético-moral. A questão moral estabelecida por Agostinho é saber o que necessita ser amado. A ordem do amor é quem redireciona o homem e o amor é quem coloca o homem na “reta ordem divina”. É a ordem do amor que dará a antropologia de Agostinho o significado ético-moral e é o amor ordenado que fará o homem encontrar a beatitude que incansavelmente busca.

3.1.2 São Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frade dominicano. Era res- ponsável pela orientação e proteção religiosa da sociedade. Seu maior mérito foi aplicar a visão aristotélica na doutrina cristã, fato que colaborou com o surgi- mento da Escolástica9. De acordo com Aquino, era a união do corpo com a alma que formava a identidade e dignidade de uma pessoa. O autor também acredi- tava que somente por meio do exercício da razão humana aliado à revelação divina o homem poderia atingir a perfeição das virtudes. Essa vertente afirma que Deus era o legislador, e os padres, os intérpretes da lei.

Para Tomás de Aquino, a fé e a razão estavam unidas e não poderia haver contradição entre ambas, pois estavam sempre dirigidas rumo a Deus.

Esse pensador também afirma que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom quando se está sob a orientação dos mandamentos de Deus. Ele também afir- mou que o mal é a ausência de uma perfeição divina.

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3.2 Ética protestante e o espírito do capitalismo (Weber)

Nos anos de 1904 e 1905 Karl Emil Maximi- lian Weber (1864-1920) produziu para a revista alemã Arquivos de Ciências Sociais e Política Social, os tex- tos que deram origem a sua obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” (no original em alemão Die protestantische Ethik und der 'Geist' des Kapita- lismu). O cerne da reflexão weberiana é apreender o fenômeno observado na transição do século XVI para o XVII, qual seja, o protestantismo relacionado direta- mente ao desenvolvimento do sistema econômico ca- pitalista. O conceito de vocação – entendido como chamado de Deus para o exercício profissional - é apresentado como base motivacional do moderno sis- tema econômico capitalista.

Weber relaciona o papel do protestantismo cristão à formação do com- portamento típico do capitalismo moderno. Weber descobre que os valores do

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protestantismo, tais como a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a valorização do trabalho como instrumento de salvação da ética protestante promovem o surgimento do capitalismo. Para Weber, tais valo- res são incorporados na ética ocidental como estrutura da confiança, valor es- sencial à manutenção da sociedade do contrato, que é a sociedade burguesa.

Dessa forma, é apresentado uma valorização do trabalho e da riqueza produzida por ele, como um dever moral.

3.3 Immanuel Kant

Immanuel Kant nasceu em 1724, na cidade de Konigsberg, na Prússia, onde estudou, ensinou e viveu até à sua morte, em 1804. Apesar de Kant ter escrito bastante sobre geografia e etnologia de terras remotas, nunca abando- nou a sua terra natal. Descendia de uma família modesta que deixara a Escócia cem anos antes do seu nascimento. A mãe era uma devota pietista e o pai um modesto artesão correeiro. De 1732 a 1740, frequentou o Collegium Fredericia- num, onde obteve uma formação clássica. De seguida, entra como aluno na Uni- versidade de Konigsberg, iniciando aí, em 1755, a sua atividade docente. Du- rante 15 anos exerceu funções docentes com carácter provisório. Por duas ve- zes se malogrou a sua candidatura a professor efetivo e só em 1770 foi nomeado catedrático de lógica e metafísica. Por essa altura escreveu um tratado de peda- gogia, do qual dizia ter recomendações pedagógicas excelentes, embora ele não utilizasse nenhuma.

A ética de Kant foi considerada, durante muito tempo, como expoente da ética iluminista. O filósofo alemão foi um típico representante do iluminismo.

Acreditava no poder da razão e na eficácia da reforma das instituições. O seu optimismo foi tal que chegou a afirmar que o paz perpétua estaria assegurada quando todos os países fossem repúblicas. Na sua obra Crítica da Razão Prá- tica, Kant procura responder à questão: que forma deve um preceito assumir para ser reconhecido como moral? "Kant aborda esta questão a partir de uma asserção inicial de que nada é incondicionalmente bom, exceto a boa vontade.

A saúde, a riqueza, o intelecto, são bons apenas quando são bem usados. Mas a boa vontade é boa; brilha como um joia preciosa ...O único motivo da boa

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vontade é cumprir o seu dever pelo dever. O que quer que ela procure fazer, fá- lo porque esse é o seu dever"

Para Kant, o homem está constantemente a ser colocado à prova no sentido de ter de escolher entre as suas inclinações e o cumprimento do dever.

A obediência à lei impõe-se acima de todas as coisas. Quando Kant se refere à lei não está a afirmar que se deve, em todas as circunstâncias, respeitar as leis positivas. Está, isso sim, a afirmar que o dever obriga ao cumprimento da Lei Moral. Qual é o conteúdo da Lei Moral? Como é que eu tomo consciência dela?

Tomo consciência da Lei Moral quando faço a mim próprio a seguinte pergunta:

posso universalizar a minha resposta? O teste do imperativo categórico reside na sua universalização, quer dizer, que eu posso aspirar a fazer dele uma lei universal. O exemplo que Kant dá é o do cumprimento da promessa. Se as pes- soas não derem garantia de que cumprem as promessas, deixa de ter qualquer sentido fazer uma promessa, porque termina a confiança entre as pessoas. A Lei Moral não tem efetivamente conteúdo. Sendo uma expressão puramente for- mal, limita-se aos contornos do imperativo categórico. Esse formalismo da ética kantiana tem sido visto, por uns, como a expressão da vitória da razão e da autonomia do agente cognoscitivo e, por outros, como uma posição carregada de esterilidade que permite, na verdade, integrar todas as posições e condutas.

Na Crítica da Razão Prática, Kant considera que a religião se baseia, não na

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ciência e na teologia, mas sim na moral. Mas para isso a base moral da religião deve ser absoluta e não derivada da experiência sensorial ou da dedução. É preciso encontrar uma ética universal e necessária. "Os princípios a priori da moral são absolutos e certos como os da matemática. Devemos mostrar que a razão pura pode ser prática, isto é, pode por si mesma determinar a vontade, independentemente de qualquer coisa empírica e que o senso moral é inato e não derivado da experiência. O imperativo moral requerido para base da religião deve ser um imperativo absoluto e categórico"

Exemplificando a sua noção de imperativo categórico, Kant dá o exem- plo da mentira: "quero sair-me de apuros dizendo uma mentira? Mas embora podendo querer a mentira, não posso de modo algum pretender que mentir seja uma lei universal. Pois com semelhante lei não poderia haver compromissos.

Daqui o ter eu a impressão de que não devo mentir, mesmo que mentir me traga vantagens. A prudência é condicional; o seu lema é: proceder honestamente, quando for a melhor táctica; mas a lei moral é em nossos corações incondicional e absoluta". Este exemplo ilustra o formalismo da ética kantiana. Levado às últi- mas consequências quer dizer que devemos ignorar os contextos e os particu- larismos no processo de tomada de decisões morais. Ora, todos nós sabemos que a vida não pode isolar-se das circunstâncias. Não existe, na verdade, um Homem universal, pairando sobre as circunstâncias, como pensava Kant, mas sim um Homem situado, profundamente dependente da sua herança cultural e condicionado pelas suas circunstâncias. E o que é uma ação boa? "Uma ação é boa não pelo bom resultado ou pela sua sensatez, mas por ser feita em obedi- ência a este íntimo sentimento do dever, a esta lei moral que não procede da nossa experiência pessoal, mas legisla imperiosamente e a priori sobre o nosso procedimento passado, presente e futuro. A única coisa incondicionalmente boa deste Mundo é a boa vontade - a vontade de obedecer à lei moral, independen- temente do seu proveito ou desvantagem para nós". O imperativo categórico obriga incondicionalmente a proceder para consigo e para com os outros sempre como um fim e nunca como um meio. Vivendo no respeito pelo imperativo cate- górico, podemos construir uma comunidade racional ideal. Mas o que é o impe- rativo categórico? A linguagem imperativa é prescritiva e os imperativos podem ser hipotéticos ou categóricos. Os primeiros são condicionais, os segundos são absolutos. Para Kant, a concepção de um princípio objetivo, na medida em que

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se impõe necessariamente a uma vontade, chama-se um mandamento, e a fór- mula deste mandamento chama-se um imperativo. Todo o imperativo que mande incondicionalmente como se o ordenado fosse um bem em si, é categórico. Kant formula o imperativo categórico de várias maneiras:

1) obra só de acordo com a máxima pela qual possas ao mesmo tempo querer que se converta em lei universal (fórmula da lei universal);

2) obra como se a máxima da tua ação devesse converter-se pela tua vontade em lei universal da Natureza (fórmula da lei da Natureza);

3) obra de tal maneira que uses a humanidade tanto na tua própria pes- soa como na pessoa de qualquer outro, sempre por sua vez como um fim, nunca simplesmente como um meio (fórmula do fim em si mesmo);

4) obra de tal modo que a tua vontade possa considerar-se a si mesma como constituindo uma lei universal por meio da sua máxima (fórmula da auto- nomia);

5) obra como se por meio das tuas máximas fosses sempre um membro legislador num reino universal de fins (fórmula do reino dos fins). O imperativo categórico kantiano tem sido objeto de várias críticas: a objeção sociológica con- sidera que ele é a matriz de uma ética burguesa; a objeção teológica afirma que é o ponto culminante de uma ética autónoma que atribui ao homem a possibili- dade de encontrar o bem sem a inspiração divina; a objeção psicológica afirma que ele faz depender a ética exclusivamente da vontade; a objeção filosófica afirma que é um imperativo inteiramente subordinado à razão, que pode ser con- trário aos imperativos da vida. Decorrente do imperativo kantiano é a crença de que cada um de nós é um agente moral autónomo, entregue apenas à autori- dade da razão e sem a presença de nenhuma autoridade externa, nem mesmo divina, capaz de proporcionar um critério objetivo para a moralidade. A ética kan- tiana "faz do indivíduo o soberano moral; torna-o capaz de rejeitar todas as au- toridades externas. Deixa o indivíduo livre para perseguir tudo aquilo que ele quiser, sem sugerir que ele deve fazer outra coisa. Os exemplos típicos do im- perativo categórico kantiano dizem-nos o que não fazer: não quebrar as pro- messa, não dizer mentiras, não cometer suicídio, etc. Mas em relação às ativi- dades que devemos realizar e aos fins que devemos perseguir, o imperativo ca- tegórico parece ficar em silêncio".

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O teste kantiano para uma verdadeira máxima moral é o teste da univer- salidade. Com esse teste não há lugar para a existência de verdadeiros conteú- dos morais, porque a noção kantiana do dever é tão formal que pode admitir quase todos os conteúdos. Kant simpatiza com a revolução francesa e mostra ao longo da sua obra uma clara antipatia para com o servilismo e o paternalismo.

Amava acima de tudo a independência de espírito e acreditava no poder liberta- dor da razão e da educação. "A vitória aparente da Revolução sobre os exércitos reacionários em 1795 levou Kant a esperar que as repúblicas se espalhariam então por toda a Europa e surgiria a ordem internacional baseada numa demo- cracia sem servidão nem explorações e empenhada na manutenção da paz. A função do governo é, afinal de contas, auxiliar e desenvolver o indivíduo e, não, usar e abusar dele. Todo o homem deve ser respeitado como um fim absoluto em si mesmo - e é um crime contra a sua dignidade de ser humano utilizar-se do homem como mero instrumento para algum fim no exterior".

Na Crítica da Razão Prática, Kant coloca o problema da moralidade de uma forma profundamente inovadora. Respondendo à questão sobre as origens da bondade de um ato, Kant afirma: "os sistemas anteriores de ética procuraram a moralidade no fim dos atos, quer dizer, fizeram radicar a bondade na sua adap- tação a um fim concreto, determinado. Assim, por exemplo, os hedonismos des- cobrem este fim no prazer, ou a moral religiosa, assinala-o no cumprimento de uma lei divina. Mas aquele que assim age, diz Kant, não age por razões morais, mas por algo alheio à própria moral; a verdadeira moral não é heterónima (lei alheia, imposta), mas autónoma; apenas age moralmente aquele que o faz por respeito à Lei, sem razões distintas a este mesmo cumprimento. E que lei é essa em que assenta toda a moralidade? Aqui Kant encontra uma nova forma, uma forma da razão prática, como o espaço e o tempo o eram da razão especulativa.

Esta forma é aquilo a que chama imperativo categórico ou lei moral, que se pode formular com estas palavras: age de modo a que a norma da tua conduta se possa erigir em norma de conduta universal. Quer dizer, se perante uma ação qualquer podemos admiti-la sinceramente como norma de conduta geral, essa ação é legítima moralmente; caso contrário, não. Esta lei ou imperativo é pura- mente formal: em si mesma não ordena nada em concreto, mas serve para qual-

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quer tipo de conteúdos ou atos. Segundo Kant, não se deve praticar um ato por- que é bom, mas é bom porque deve fazer-se. A moral radica apenas numa forma do agir, da razão prática"

Importa ter presente que estas regras são puramente formais. Não for- necem, portanto, nenhuma receita material nem nenhuma norma de conduta. Só a intenção formal conta: age como deves, suceda o que suceder. A liberdade do Homem consiste em agir por dever. A reta conduta torna-me digno de felicidade, mas não a garante. Agindo por dever cumpro o meu ser moral, mas não garanto a minha felicidade. Torno-me apenas digno dela. Qual é a relação existente entre moralidade e felicidade? Kant afirma que a felicidade é um máximo de bem-estar no nosso estado presente e em toda a nossa condição futura. Contudo, Kant não aceita que a felicidade seja sinónimo de satisfação dos nossos desejos e incli- nações. A vida moral torna-nos dignos de ser felizes, mas não constitui um pas- saporte para a felicidade. Uma pessoa moral é a que faz uso continuado da boa vontade para dar a primazia ao bem fazer face ao bem-estar. Para se ser digno da felicidade é necessário ser-se virtuoso, mas a virtude baseia-se na autonomia da razão. Terá de ser, portanto, desinteressada e não pode depender de ne- nhuma autoridade externa. Tão pouco pode ser condicionada pelo medo ou pelo interesse. A noção de boa vontade apresenta-se como central na ética kantiana, porque é a única coisa que pode ser considerada boa, sem quaisquer restrições.

É a boa vontade que distingue um ato reto de um ato mau. A inteligência, a coragem e o autodomínio não são, em si, qualidades morais, porque podem ser usadas para o bem ou para o mal.

3.3.1Moral kantiana

A moral kantiana é a concebida por Immanuel Kant (1724-1804), filósofo prussiano. Sua intuição principal foi que o indivíduo deve estar livre para agir

"não em virtude de qualquer outro motivo prático ou de qualquer vantagem fu- tura, mas em virtude da ideia de dignidade de um ser racional que não obedece a outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente se dá" (Kant, 1785:

16). A ação moral exige a autonomia do agente. Ser autônomo é obedecer a si mesmo ou ao que vem de dentro. É o inverso do heterônomo (o que obedece a ordem do outro, obedece ao que vem de fora). Não se pode falar em ética sem

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autonomia, pois a ação heterônoma (cuja vontade vem de fora) não é uma ação ética. A moral aristocrática e a utilitarista não são eticamente válidas porque de- pendem de algo exterior: a primeira, de ideais transcendentes e a segunda, de ideais imanentes. Para realizar a autonomia, a ação moral deve obedecer ape- nas ao imperativo categórico: o bom senso interior que todos nós temos de per- ceber que não somos instrumentos e sim agentes. Nunca instrumentalizar o ho- mem é a exigência maior do imperativo categórico. Kant fornece uma regra para saber se uma decisão nossa obedece ou não ao imperativo categórico: indague a si mesmo se a razão que te faz agir de determinada maneira pode ser conver- tida em lei universal, válida para todos os homens. Se não puder, esta tua ação não é digna de um ser racional, não é eticamente boa porque te falta a autono- mia, estás agindo premido por circunstâncias exteriores a ti. O bem ético é um bem em si mesmo. Ao realçar a exigência da autonomia da ação moral, Kant desperta a questão da liberdade ética. O conceito de liberdade ética parte da distinção entre ação reflexa e ação deliberada. A ação deliberada é aquela que resulta de uma decisão, de uma escolha, é o mesmo que ação autônoma. A ação reflexa é "instintiva", independe da vontade do agente. Apenas as ações delibe- radas podem ser analisadas sob o ponto de vista ético. Voltemos ao exemplo do gato que morde o homem que lhe pisou a cauda. O gato tentou afastar o que lhe era um mal, mas não podemos dizer que ele escolheu morder o homem. Logo, não se pode dizer que o gato agiu de forma imoral ou antiética.

A questão da liberdade ética pode ser assim resumida: Levando-se em conta que somos animais e ocasionalmente agimos de forma reflexa, em que condições nossa ação pode ser considerada uma ação deliberada? Henri Berg- son (1859-1941) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) respondem a essa pergunta de forma radical: O livre-arbítrio é a qualidade que melhor define o homem. A pró- pria condição humana exige que todo ato humano seja um ato de escolha, seja uma ação deliberada. O homem está condenado à liberdade porque nunca pode decidir não escolher. Diante da consciência de que nos vemos forçados a reali- zar algo por imposição exterior, passamos a ter liberdade de escolher entre en- tregar-se à ação ou ir de encontro a ela.

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28 4.ÉTICA PROFISSIONAL

A atuação profissional deve ser lembrada de maneira pessoal, mas res- saltando-se o trabalho em equipe, haja vista que muito dificilmente a coletividade não influencia na relação laboral. Nesse sentido, devemos lembrar que a forma de atuar profissionalmente requer princípios gerais que norteiam não apenas uma pessoa mas sim um grupos de pessoas que atuam no âmbito profissional.

Assim pode-se definir ética profissional como “conjunto de atitudes e valores po- sitivos aplicados no ambiente de trabalho. A ética no ambiente de trabalho é de fundamental importância para o bom funcionamento das atividades da empresa e das relações de trabalho entre os funcionários”.

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4.1Deodontologia

A palavra déon quer dizer dever, ou o que se deve fazer. Vem do grego

"déon" que quer dizer o obrigatório, o justo, o adequado. A palavra lógos pode ser interpretada como sendo palavra, discurso, doutrina ou tratado; então, deon- tologia significa doutrina, tratado ou ciência do dever ou dos deveres, quer dizer, a doutrina, o tratado ou a ciência do que se deve fazer.

“Profissional” é adjetivo do substantivo “profissão” (que vem da palavra latina professione, e quer dizer ato ou efeito de professar). Deontologia profissi- onal quer, então, dizer discurso, doutrina, tratado, teoria ou ciência do dever pro- fissional. Falar de deontologia profissional é, pois, falar do conjunto de deveres, princípios e normas adoptados por grupos profissionais, ou seja, de grupos que exercem uma determinada profissão. Portanto, a deontologia profissional diz res- peito a todas as profissões e refere-se ao carácter normativo e, até, jurídico que regulamenta as profissões.

Precisamente porque a deontologia profissional faz convergir nas profis- sões aspectos de relevância humana que ultrapassam o campo do dever profis- sional em si, ela é também chamada por ética profissional.

A deontologia profissional é chamada por ética profissional também pelo fato de constituir uma das grandes divisões da ética. Entre as várias divisões da ética possíveis de encontrar, destacamos aquela, para nós mais simples, se- gundo a qual a ética se divide em Metaética, Ética Normativa e Ética Aplicada.

Deontologia profissional, ou ética profissional, é o conjunto das normas de conduta que devem ser postas em prática por qualquer um no exercício de sua profissão.

4.2Códigos de ética

Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética.

Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabe- lecidos de não utilização de animais para estes fins. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada bioética. Além dos princí- pios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe também a ética de

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determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, podemos citar: ética médica, ética profissional (trabalho), ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética jornalística, ética na política, etc.

Num contexto geral, podem ser citados aqui alguns pontos importantes para o dia a dia da organização e ao ambiente do trabalho no sentido ético que buscam melhor e maior aproveitamento do profissional:

 Maior nível de produção na empresa;

 Favorecimento para a criação de um ambiente de trabalho harmoni- oso, respeitoso e agradável;

 Aumento no índice de confiança entre os funcionários. Importante des- tacar ainda alguns exemplos de atitudes éticas que todo o trabalhador deve ter o cuidado e praticar o ambiente de trabalho, mais especificamente:

 Educação e respeito entre os funcionários;

 Cooperação e atitudes que visam à ajuda aos colegas de trabalho;

 Divulgação de conhecimentos que possam melhorar o desempenho das atividades realizadas na empresa;

 Respeito à hierarquia dentro da empresa;

 Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros colegas de trabalho;

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 Ações e comportamentos que visam criar um clima agradável e posi- tivo dentro da empresa como, por exemplo, manter o bom humor;

 Realização, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas relacionadas ao trabalho;

 Respeito às regras e normas da empresa.

4.2.1 Tipos de código de ética

Códigos de Ética Profissionais-Evidenciam os direitos e deveres, as proibi- ções, ou seja, as condutas que são vetadas no exercício da profissão e as san- ções e punições (éticas e disciplinares), no caso de desobediência ao código.

Cada código de ética especifica o papel da profissão na sociedade e a importân- cia do respeito à dignidade humana no exercício de cada uma. Exemplificando, temos o código de ética dos Médicos, dos Psicólogos, dos enfermeiros, do con- tador, do assistente social, dentre outros, etc.

Códigos de Ética Empresariais- Evidenciam a missão, a visão, os valores e princípios que norteiam a organização e que devem ser conhecidos e respeitado pelos seus funcionários. É por meio do código de ética institucional que a função da empresa na sociedade e os valores que ela cultiva são percebidos e perpe- tuados.

Os conselhos profissionais e as instituições, geralmente, possuem um conselho de ética que é o responsável por definir e elaborar o conteúdo dos códigos de ética. O conselho de Ética é formado por profissionais conceituados, escolhidos pela classe profissional que representam, sem vínculo empregatício com os Conselhos e com a responsabilidade ética legal sobre os assuntos dessa categoria. Atuam como tribunais, julgando as situações que podem gerar san- ções éticas ou disciplinares, baseados nas regulamentações dos códigos. No mundo, tem acontecido encontros para a formulação de um conjunto de padrões éticos que possam ser aplicados em todas as organizações. Em um encontro na cidade de Caux, Suíça, em 2004, líderes empresariais europeus, norte-america- nos e japoneses elaboraram um código internacional de ética respaldados num conjunto de valores compartilhados mundialmente, tais como: veracidade, inte- gridade, equidade e igualdade.

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Esse código internacional de ética é constituído de 13 princípios que abrangem as mais variadas interfaces das organizações (FERRELL, 2001),

• Responsabilidade das empresas

• Impacto social e econômico das empresas

• Conduta empresarial • Respeito às regras

• Apoio ao comércio multilateral

• Respeito ao meio ambiente

• Prevenção de operações ilícitas

• Relações com cliente

• Direitos e deveres dos colaboradores

• Agregação de valor para proprietários e investidores

• Parceria com fornecedores

• Práticas com relação à concorrência

• Inserção da comunidade nas decisões empresarias

As organizações que criam um clima transparente, de confiança e res- peito mútuo, possuem recurso valioso para gerar credibilidade, interna e externa, e incentivo para o sucesso. É vantajoso para a empresa ser considerada ética, pois tal reputação produz um efeito positivo poderoso sobre suas relações com as partes interessadas.

4.2.2Tendências códigos de ética profissional

1ª TENDÊNCIA- As normas são orientadas por uma posição positivista onde o que vale são os fatos. Assim, se no dia a dia o profissional usa o seu cliente como meio de ganhar dinheiro e não como o fim último da sua ação, essa prática será vista como legítima e assegurada oficialmente.

2ª TENDÊNCIA- Outra tendência bastante comum é aquela que se diz disposta a enfrentar as práticas estabelecidas e colocar-se diante delas com olhar crítico e questionador.

3ª TENDÊNCIA- Consiste em uma tentativa real de avaliação dos códi- gos elaborados e da prática cotidiana dos profissionais, tendo em vista verificar os seus méritos e os seus defeitos a fim de sugerir as alterações necessárias.

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4.2.3 Características Fundamentais de uma Conduta Ética Deveres

Sá (2007: 162) considera que devemos entender por deveres profissio- nais “as capacidades necessárias ou exigíveis para o desempenho eficaz da profissão”. É necessário, nesta matéria, entender que o propósito do exercício de uma profissão é a prestação de serviços a terceiros. Deste modo, torna-se uma obrigação do profissional face ao seu ofício empregar todas essas capaci- dades necessárias, exigíveis e aplicáveis ao cumprimento das tarefas afins, para o contentamento da(s) pessoa(s) ou do(s) serviço(s) que a tenha(m) solicitado, uma vez plenamente satisfeitas as suas necessidades. Contudo, os deveres pro- fissionais não vêm do nada. Eles começam com a escolha da profissão, daí que se tenha de consultar a consciência pessoal se a profissão escolhida é realmente a desejada, se corresponde com o que agrada ao candidato e se ele tem uma inclinação para tal. A escolha de uma profissão pressupõe ter um conhecimento das tarefas dessa profissão; a ideia das tarefas da profissão escolhida exige uma noção dos deveres que lhe são afins; esta, por sua vez, e em junção com as outras duas, implica o dever de executar devidamente as tarefas, pelo seu do- mínio, respeitando e observando ou cumprindo os deveres. Depreende-se daqui que a escolha da profissão deve coincidir com a vocação do pretendente. E nos casos em que não houve escolha da profissão e esta não coincide com a voca- ção da pessoa, que se deve fazer? Não há outra escolha senão, uma vez exer- cendo- se a profissão, respeitarem-se e observarem-se os deveres, cumprindo- os.

Virtude

A virtude pode ser entendida como a disposição ou a aptidão que se adquire na prática da vida e se torna habitual para um bom comportamento mo- ral. Virtude é, portanto, habilidade ou capacidade de dominar situações da vida e os problemas que provêm da ação; ela não pode ser aprendida e nem trans- mitida teoricamente, mas adquirida na prática da vida. No entanto, essa prática deve-se refletir na perspectiva da exigência moral. Virtude é, então, uma quali- dade adquirida da razão prática para o hábito comportamental moral.

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Para Platão, a virtude é o conjunto de disposições que contribuem para uma vida boa: a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça. Platão identifica a virtude com a sabedoria, isto é, para aquele filósofo, a virtude é o mesmo que sabedoria. Neste sentido, a virtude não é uma inclinação natural da pessoa ou um hábito adquirido pela repetição dos atos sem intervenção da inteligência, ou seja, sem reflexão. Platão defende que só há uma virtude, a sabedoria, embora susceptível a vários derivados. Para ele, são quatro derivados da virtude (sabe- doria): a justiça, a coragem, a temperança (moderação, sobriedade) e a piedade.

Segundo Platão, a virtude, sendo sabedoria, é acessível a todos os que procu- ram o verdadeiro conhecimento e é atingível pela educação que se aprofunda pela reflexão. É daqui o postulado segundo o qual aquele que conhece o bem fará o bem; o vício é uma forma de ignorância. A virtude, para Platão, não se transmite, não se ensina; ela é descoberta pela reflexão.

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Resumindo, as virtudes intelectuais, são ligadas à inteligência e as virtu- des morais, que são relacionadas com o bem. A virtude intelectual consiste na capacidade de aprender com o diálogo e a reflexão em busca do verdadeiro conhecimento e a virtude moral, por sua vez, é a ação ou comportamento moral, é o hábito que é considerado bom de acordo com a ética.

Exemplos de virtude:

Altruísmo- A preocupação com os interesses do outro de uma forma espontânea e positivista.

Moralidade-Conjunto de valores que conduzem o comportamento, as escolhas, decisões e ações.

Virtude- Essa característica pode ser definida como a “excelência hu- mana” ou aquilo que nos faz plenos e autênticos.

Solidariedade-Princípios que se aplicados às relações sociais e que ori- entam a vivência e convívio em harmonia do indivíduo com os demais.

Consciência-Capacidade ou percepção em distinguir o que é certo ou errado de acordo com as virtudes ou moralidade.

Responsabilidade ética-Consenso entre responsabilidade (assumir consequências dos atos praticados) pessoal e coletiva.

Para Aristóteles a virtude é aquilo que completa de forma excelente a natureza de um ser. Se a virtude do cavalo é correr bem, a do homem é agir conforme a razão, ou seja segundo o Meio Justo entre duas atitudes ou compor- tamentos extremos. Assim, a coragem é o meio justo entre o medo e a temeri- dade; a temperança, entre o desregramento e a insensibilidade; a calma (man- sidão) é o justo meio entre a cólera e a apatia; a liberdade, entre a prodigalidade e a avareza; a magnificência é um justo meio entre a falta de gosto e a mesqui- nhez; a magnanimidade, entre a vaidade e a humildade; a afabilidade, entre ob- sequiosidade e o espírito conflituoso; a reserva é o justo meio entre a timidez e o descaradamento; a justa indignação é o justo meio entre a inveja e a maledi- cência; a justiça, entre a injustiça por defeito e a injustiça por excesso (Marques, 1998: 50-67). A prática moral é, neste caso, a permanente tentativa de encontrar o equilíbrio entre duas atitudes ou comportamentos exagerados por defeito ou

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por excesso. Aristóteles defende, contrariamente a Platão, que a virtude pode ser ensinada; no entanto, ela é mais produto do hábito que do ensino.

CONCLUSÃO

Nessa apostila, discutimos no primeiro tópico a Dimensão Humana da Ética, aquela em que o agente, enquanto sujeito moral, é dotado de intenciona- lidade. Os temas abordados possibilitam o aprimoramento da consciência Moral, que se manifesta como uma espécie de voz interior que nos alerta, censura, sanciona e reprime quando estamos a agir bem ou mal. Essa discussão é ne- cessária no alcance do objetivo de evidenciar a responsabilidade dos profissio- nais na disseminação dos valores éticos e morais, por meio do exemplo (retidão de caráter e dignidade no exercício profissional). Apresentamos também os con- ceitos de ética, embasados nas definições de ética como ramo da Filosofia e como um ramo das Ciências, o objeto, os objetivos e a função da Ética, bem como os vícios e virtudes e as teorias que explicam os conceitos éticos e que fundamentam o exercício de atividades profissionais.

Não propomos, aqui, dar nenhuma receita ou colocar princípios que de- vam ser seguidos dogmaticamente: ao contrário, nossa intenção é continuar no caminho da reflexão. Para tanto, levantamos alguns pontos que julgamos servirá continuação desse caminhar ao logo de sua trajetória acadêmica e profissional.

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37 REFERÊNCIAS

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SILVA, F. L. Breve Panorama Histórico da Ética. Revista Bioética, Título: Bioé- tica, v. 1, nº. 1, p. 7 – 11, 1993.

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História da ética- Rosiane Follador Rocha Egg*

Durant, W. (S/D). História da Filosofia. Lisboa: Livros do Brasil, p. 282 7) Gambra, R. (1993). História da Filosofia. Lisboa: Planeta Editora, p. 186 ARCHER, Luís (coord.). Bioética. São Paulo, Editorial Verbo, 1996.

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BORGES, Maria de Lurdes e outros. Ética. Rio de Janeiro, DP & A, Editora Ltda, 2003..

CORTINA, A. e MARTINEZ, E.. Ética. São Paulo, Edições Loyola, 2005.

Referências

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