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AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA PSICOPEDAGÓGICA

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Academic year: 2021

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AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA PSICOPEDAGÓGICA

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1 Sumário

Sumário ... 1

NOSSA HISTÓRIA ... 2

Diagnóstico Psicopedagógico ... 3

Procedimentos Internos do Entrevistador ... 5

Os Diferentes Momentos de um Atendimento ... 22

Conversando com o Cliente ... 25

Diagnósticos de distúrbios de aprendizagem ... 32

Conclusões e considerações finais ... 35

Introdução às dificuldades de aprendizagem ... 36

Metodologia ... 38

Os instrumentos ... 39

Objetivos de ensino/intervenção ... 47

Comportamento ... 49

Condições ... 49

BIBLIOGRAFIA ... 51

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.

Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Diagnóstico Psicopedagógico

O desafio de montar um quebra cabeça Simaia Sampaio Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário. É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da "...escuta psicopedagógica...", para que "...se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção". (BOSSA, 2000, p. 24).

Na Epistemologia Convergente todo o processo diagnóstico é estruturado para que se possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo de onde resulta o funcionamento do sujeito (BOSSE, 1995, p. 80) Conforme Weiss, O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. (2003, p. 32 ) O diagnóstico possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento. Ele mexe de tal forma com o paciente e sua família que, por muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito teve uma melhora ou tornou-se agressivo e agitado no decorrer do trabalho diagnóstico.

Por isso devemos fazer o diagnóstico com muito cuidado observando o comportamento e mudanças que isto pode acarretar no sujeito.

Para ilustrar como o diagnóstico interfere na vida do sujeito e sua família, citaremos um exemplo de Weiss: uma paciente, uma adolescente de 18 anos

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cursando a 7ª série de escola especial, queixou-se à mãe que ela (Weiss) estava forçando-a a crescer. Ela conseguiu fazer a elaboração deste pensamento porque tinha medo de perder o papel na família da doente que necessitava de atenção exclusiva para ela. A família percebeu que isto realmente poderia acontecer e era isto também que sustentava seu casamento "já acabado". Concordou com a terapeuta em interromper o diagnóstico (2003, p. 33 ). Bossa nos lembra que a forma de se operar na clínica para se fazer um diagnóstico varia entre os profissionais dependendo da postura teórica adotada. (p. 96, 2000).

Na linha da Epistemologia Convergente, Visca nos informa que o diagnóstico começa com a consulta inicial (dos pais ou do próprio paciente) e encerra com a devolução Antes de se iniciar as sessões com o sujeito faz-se uma entrevista contratual com a mãe e/ou o pai e/ou responsável, objetivando colher informações como:

• Identificação da criança: nome, filiação, data de nascimento, endereço, nome da pessoa que cuida da criança, escola que frequenta, série, turma, horário, nome da professora, irmãos, escolaridades dos irmãos, idade dos irmãos.

• Motivo da consulta;

• Procura do Psicopedagogo: indicação;

• Atendimento anterior;

• Expectativa da família e da criança;

• Esclarecimento sobre o trabalho psicopedagógico.

• Definição de local, data e horário para a realização das sessões e honorários.

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Visca propôs o seguinte Esquema Sequencial Proposto pela Epistemologia Convergente Ações do entrevistador

1. EOCA 2. Testes 3. Anamnese

4. Elaboração do Informe

Procedimentos Internos do Entrevistador

1º sistema de hipóteses Linhas de investigação Escolha de instrumentos

2º sistema de hipóteses Linhas de investigação Verificação e decantação do 2º sistema de hipótese.

Formulação do 3º sistema de hipóteses Elaboração de uma imagem do sujeito (irrepetível) que articula a aprendizagem com os aspectos energéticos e estruturais, a-históricos e históricos que a condicionam. (VISCA, 1991)

Observamos, acima, que ele propõe iniciar o diagnóstico com a EOCA e não com a anamnese argumentando que "... os pais, invariavelmente ainda que com intensidades diferentes, durante a anamnese tentam impor sua opinião, sua ótica, consciente ou inconscientemente. Isto impede que o agente corretor se aproxime 'ingenuamente' do paciente para vê-lo tal como ele é, para descobri-lo. (Id. Ibid., 1987, p. 70). Os profissionais que optam pela linha da Epistemologia Convergente realizam a anamnese após as provas para que não haja "contaminação" pelo bombardeio de

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informações trazidas pela família, o que acabaria distorcendo o olhar sobre aquela criança e influenciando no resultado do diagnóstico. Porém, alguns profissionais iniciam o diagnóstico com a anamnese. É o caso de Weiss.

Compare abaixo a sequência diagnóstica proposta por ela:

1º - Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.) 2º - Anamnese

3º - Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças) 4º - Complementação com provas e testes (quando for necessário) 5º - Síntese Diagnóstica – Prognóstico

6º - Devolução – Encaminhamento (WEISS, 1994)

Esta diferença não altera o resultado do diagnóstico, porém é preciso que o profissional acredite na linha em que escolheu para seu trabalho psicopedagógico.

Como o presente trabalho está baseado na Epistemologia Convergente abordaremos a anamnese ao final e iniciaremos falando sobre a EOCA. A realização da EOCA tem a intenção de investigar o modelo de aprendizagem do sujeito sendo sua prática baseada na psicologia social de Pichón Rivière, nos postulados da psicanálise e método clínico da Escola de Genebra (BOSSA, 2000, p. 44). Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após a seguinte observação do entrevistador: "este material é para que você o use se precisar para mostrar-me o que te Falei que queria saber de você" (VISCA, 1987, p. 72). O entrevistador poderá apresentar vários materiais tais como: folhas de

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ofício tamanho A4, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou revistas, barbantes, cola, lápis, massa de modelar, lápis de cor, lápis de cera, quebra-cabeça ou ainda outros materiais que julgar necessários. O entrevistado tende a comportar-se de diferentes maneiras após ouvir a consigna. Alguns imediatamente, pegam o material e começam a desenhar ou escrever etc. Outros começam a falar, outros pedem que lhe digam o que fazer, e outros simplesmente ficam paralisados.

Neste último caso, Visca nos propõe empregar o que ele chamou de modelo de alternativa múltipla (1987, p. 73), cuja intenção é desencadear respostas por parte do sujeito. Visca nos dá um exemplo de como devemos conduzir esta situação: "você pode desenhar, escrever, fazer alguma coisa de matemática ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça..." (1987, p. 73). Vejamos o que Sara Paín nos fala sobre esta falta de ação na atividade "A hora do jogo" (atividade trabalhada por alguns psicólogos ou Psicopedagogos que não se aplica à Epistemologia Convergente, porém é interessante citar para percebermos a relação do sujeito com o objeto): No outro extremo encontramos a criança que não toma qualquer contato com os objetos. Às vezes se trata de uma evitação fóbica que pode ceder ao estímulo. Outras vezes se trata de um desligamento da realidade, uma indiferença sem ansiedade, na qual o sujeito se dobra às vezes sobre seu próprio corpo e outras vezes permanece numa atividade quase catatônica. (1992, p. 53).

Piaget, em Psicología de la Inteligência, coloca que: O indivíduo não atua senão quando experimenta a necessidade; ou seja; quando o equilíbrio se acha momentaneamente quebrado entre o meio e o organismo, a ação tende a reestabelecer este equilíbrio, quer dizer, precisamente, a readaptar o organismo...

(PIAGET apud VISCA, 1991, p. 41). De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA são "...seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de

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defesa, ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc (1987, p. 73). É importante também observar três aspectos que fornecerão um sistema de hipóteses a serem verificados em outros momentos do diagnóstico:

· A temática - é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um aspecto manifesto e outro latente;

· A dinâmica - é tudo aquilo que o sujeito faz, ou seja, gestos, tons de voz, postura corporal, etc). A forma de pegar os materiais, de sentar-se são tão ou mais reveladores do que os comentários e o produto.

· O produto - é tudo aquilo que o sujeito deixa no papel. (Id. Ibid., 1987, p. 74)

Visca (1987) observa que o que obtemos nesta primeira entrevista é um conjunto de observações que deverão ser submetidas a uma verificação mais rigorosa, constituindo o próximo passo para o processo diagnóstico. É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o 1º Sistema de hipóteses e definirá sua linha de pesquisa.

Logo após são selecionadas as provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as provas projetivas psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares. Visca reuniu em seu livro: El diagnostico operatório em la practica psicopedagogica, as provas operatórias aplicadas no método clínico da Escola de Genebra por Piaget, no qual expõe sucintamente os passos em que usou com grupos de estudo e cursos para o ensino do diagnóstico psicopedagógico, comentando o porque de cada passo. A aplicação das provas operatórias tem como objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito realizando uma análise quantitativa, e reconhecer a diferenças funcionais realizando um estudo predominantemente qualitativo. Isto se deve, talvez, a uma certa dificuldade de sua correta aplicação,

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evolução e extração das conclusões úteis para entender a aprendizagem. Segundo Weiss: As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera (2003, p. 106). Ela ainda nos alerta que não se deve aplicar várias provas de conservação em uma mesma sessão, para se evitar a contaminação da forma de resposta. Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros detalhados dos procedimentos da criança, observando e anotando suas falas, atitude, soluções que dá às questões, seus argumentos e juízos, como arruma o material. Isto será fundamental para a interpretação das condutas.

Para a avaliação as respostas são divididas em três níveis:

· Nível 1: Não há conservação, o sujeito não atinge o nível operatório nesse domínio.

· Nível 2 ou intermediário: As respostas apresentam oscilações, instabilidade ou não são completas. Em um momento conservam, em outro não.

· Nível 3: As respostas demonstram aquisição da noção sem vacilação. Muito interessante o que Weiss nos diz sobre as diferentes condutas em provas distintas: ...pode ocorrer que o paciente não obtenha êxito em apenas uma prova, quando todo o conjunto sugere a sua possibilidade de êxito.

Pode-se ver se há um significado particular para a ação dessa prova que sofra uma interferência emocional: encontramos várias vezes crianças, filhos de pais separados e com novos casamentos dos pais, que só não obtinham êxito na prova de intersecção de classes. Podemos ainda citar crianças muito dependentes dos adultos que ficam intimidadas com a contra argumentação do terapeuta, e passam a concordar com o que ele fala, deixando de lado a operação que já são capazes de

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fazer (2003, p. 111). Em relação a crianças com alguma deficiência mental ela nos diz que: No caso de suspeita de deficiência mental, os estudos de B. Inhelder (1944) em El diagnóstico del razonamiento en los débiles mentales mostram que os oligofrênicos (QI 0-50) não chegam a nenhuma noção de conservação; os débeis mentais (QI 50- 70) chegam a ter êxito na prova de conservação de substância; os fronteiriços (QI 70- 80) podem chegar a ter sucesso na prova de conservação de peso; os chamados de inteligência normal "obtusa" ou "baixa", podem obter êxito em provas de conservação de volume, e às vezes, quando bem trabalhados, podem atingir o início do pensamento formal (2003, p.111-112).

Visca também reuniu em um outro livro: Técnicas proyetivas psicopedagogicas, as provas projetivas, cuja aplicação tem como objetivo investigar os vínculos que o sujeito pode estabelecer em três grandes domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo, através dos quais é possível reconhecer três níveis em relação ao grau de consciência dos distintos aspectos que constituem o vínculo de aprendizagem. Sobre as provas projetivas Weiss observa que: O princípio básico é de que a maneira do sujeito perceber, interpretar e estruturar o material ou situação reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento como procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer algo que lhe é apresentado. Podem-se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente escolar (2003, p.

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Para Sara Paín, o que podemos avaliar através do desenho ou relato é a capacidade do pensamento para construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar a emoção. Também permitirá avaliar a deteriorização que se produz no próprio pensamento. Esta autora ainda nos diz que o pensamento fala através do

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desenho onde se diz mal ou não se diz nada, o que oferece a oportunidade de saber como o sujeito ignora (1992, p. 61). De acordo com a Epistemologia Convergente, após a aplicação das provas operatórias e das técnicas projetivas o psicopedagogo levantará o 2º Sistema de hipóteses e organizará sua linha de pesquisa para a anamnese que, como já vimos, terá lugar no final do processo diagnóstico, de modo a não contaminar previamente a percepção do avaliador.

Weiss nos diz que: As observações sobre o funcionamento cognitivo do paciente não são restritas às provas do diagnóstico operatório; elas devem ser feitas ao longo do processo diagnóstico. Na anamnese verifica-se com os pais como se deu essa construção e as distorções havidas no percurso;... (2003, p.106). A anamnese é uma das peças fundamentais deste quebra-cabeça que é o diagnóstico. Através dela nos serão reveladas informações do passado e presente do sujeito juntamente com as variáveis existentes em seu meio. Observaremos a visão da família sobre a história da criança, seus preconceitos, expectativas, afetos, conhecimentos e tudo aquilo que é depositado sobre o sujeito. ... toda anamnese já é, em si, uma intervenção na dinâmica familiar em relação à "aprendizagem de vida". No mínimo se processa uma reflexão dos pais, um mergulho no passado, buscando o início da vida do paciente, o que inclui espontaneamente uma volta à própria vida da família como um todo (Id.

Ibid., 2003, p. 63).

Segundo Weiss, o objetivo da anamnese é "colher dados significativos sobre a história de vida do paciente" (2003, p. 61). Consiste em entrevistar o pai e/ou a mãe, ou responsável para, a partir disso, extrair o máximo de informações possíveis sobre o sujeito, realizando uma posterior análise e levantamento do 3º sistema de hipóteses.

Para isto é preciso que seja muito bem conduzida e registrada. O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade "... para que todos se sintam com liberdade de expor seus

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pensamentos e sentimentos sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à aprendizagem". (Id. Ibid., 2003, p. 62). Deixá-los falar espontaneamente permite ao psicopedagogo avaliar o que eles recordam para falar, qual a sequência e a importância dos fatos. O psicopedagogo deverá complementar ou aprofundar.

Conforme Weiss, em alguns casos deixa-se a família falar livremente. Em outros, a depender das características da família, faz-se necessário recorrer a perguntas sempre que necessário. Os objetivos deverão estar bem definidos, e a entrevista deverá ter um caráter semi diretivo (2003, p. 64). De acordo com Paín, a história vital nos permitirá "...detectar o grau de individualização que a criança tem com relação à mãe e a conservação de sua história nela" (1992, p. 42). É importante iniciar a entrevista falando sobre a gravidez, pré-natal, concepção. Weiss nos informa que, "A história do paciente tem início no momento da concepção. Os estudos de Verny (1989) sobre a Psicologia pré-natal e perinatal vêm reforçar a importância desses momentos na vida do indivíduo e, de algum modo, nos aspectos inconscientes de aprendizagem" (2003, p. 64).

Algumas circunstâncias do parto como falta de dilatação, circular de cordão, emprego de fórceps, adiamento de intervenção de cesárea, "costumam ser causa da destruição de células nervosas que não se reproduzem e também de posteriores transtornos, especialmente no nível de adequação perceptivo-motriz" (PAÍN, 1992, p.

43). É interessante perguntar se foi uma gravidez desejada ou não, se foi aceito pela família ou rejeitado. Estes pontos poderão determinar aspectos afetivos dos pais em relação ao filho. Posteriormente é importante saber sobre as primeiras aprendizagens não escolares ou informais, tais como: como aprendeu a usar a mamadeira, o copo, a colher, como e quando aprendeu a engatinhar, a andar, a andar de velocípede, a

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controlar os esfíncteres, etc. A intenção é descobrir "em que medida a família possibilita o desenvolvimento cognitivo da criança - facilitando a construção de esquemas e deixando desenvolver o equilíbrio entre assimilação e acomodação...".

(WEISS, 2003, p.66).

É interessante saber sobre a evolução geral da criança, como ocorreram seus controles, aquisição de hábitos, aquisição da fala, alimentação, sono etc., se ocorreram na faixa normal de desenvolvimento ou se houve defasagens. Se a mãe não permite que a criança faça as coisas por si só, não permite também que haja o equilíbrio entre assimilação e acomodação. Alguns pais retardam este desenvolvimento privando a criança de, por exemplo, comer sozinha para não se lambuzar, tirar as fraldas para não se sujar e não urinar na casa, é o chamado de hipoassimilação (PAÍN, 1992), ou seja, os esquemas de objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de coordená-los. Por outro lado há casos de internalização prematura dos esquemas, é o chamado de hiperassimilação (PAÍN, 1992), pais que forçam a criança a fazer determinadas coisas das quais ela ainda não está preparada para assimilar, pois seu organismo ainda está imaturo, o que acaba desrealizando negativamente o pensamento da criança. Sobre o que acabamos de mencionar

Sara Paín nos diz que é interessante saber se as aquisições foram feitas pela criança no momento esperado ou se foram retardadas ou precoces. "Isto nos permite estabelecer um quociente aproximado de desenvolvimento, que se comparará com o atual, para determinar o deterioramento ou incremento no processo de evolução"

(1992, p. 45). A mesma autora aconselha insistirmos "... nas modalidades para a educação do controle dos esfíncteres quando apareçam perturbações na acomodação... " (1992, p. 42). Weiss nos orienta também saber sobre a história clínica,

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quais doenças, como foram tratadas, suas consequências, diferentes laudos, sequelas. A história escolar é muito importante, quando começou a frequentar a escola, sua adaptação, primeiro dia de aula, possíveis rejeições, entusiasmo, porque aquela escola, trocas de escola, enfim, os aspectos positivos e negativos e as consequências na aprendizagem. Todas estas as informações essenciais da anamnese devem ser registradas para que se possa fazer um bom diagnóstico.

Encerrada a anamnese, o psicopedagogo levantará o 3º sistema de hipóteses. A anamnese deverá ser confrontada com todo o trabalho do diagnóstico para se fazer a devolução e o encaminhamento. Devolução no dicionário é o ato de devolver, de dar de volta (ROCHA, 1996, p. 208).

No sentido da clínica psicopedagógica a devolução é uma comunicação verbal, feita aos pais e ao paciente, dos resultados obtidos através de uma investigação que se utilizou do diagnóstico para obter resultados. "... talvez o momento mais importante desta aprendizagem seja a entrevista dedicada à devolução do diagnóstico, entrevista que se realiza primeiramente com o sujeito e depois com os pais (quando se trata de uma criança, é claro)" (PAÍN, 1992, p. 72). Segundo Weiss, no caso da criança, é preciso fazer a devolução utilizando-se de uma linguagem adequada e compreensível para sua idade para que não fique parecendo que há segredos entre o terapeuta e os pais, ou que o terapeuta os traiu (1992, p. 130). É perfeitamente normal que, neste momento, exista muita ansiedade para todos os envolvidos no processo, seja o psicopedagogo, o paciente e os pais. Muitas vezes algumas suspeitas observadas ao longo do diagnóstico tendem a se revelar no momento da devolução, "ficam evidentes nestas falas as fantasias que chegam ao momento da devolução, e que estiveram presentes durante todo o processo diagnóstico" (Id. Ibid., 2003, p. 130). Alguns pais chegam à devolução sem terem consciência ou camuflam o que sabem sobre seu

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filho. É preciso tomar consciência da situação e providenciar suas transformações, caso contrário, não será possível realizar um contrato de tratamento. Weiss orienta organizar os dados sobre o paciente em três áreas: pedagógica, cognitiva e afetivo- social, e posteriormente rearrumar a sequência dos assuntos a serem abordados, a que ponto dará mais ênfase. É necessário haver um roteiro para que o psicopedagogo não se perca e os pais não fiquem confusos. Tudo deve ser feito com muito afeto e seriedade, passando segurança. Os pais, assim, muitas vezes acabam revelando algo neste momento que surpreende e acaba complementando o diagnóstico.

É importante que se toque inicialmente nos aspectos mais positivos do paciente para que o mesmo se sinta valorizado. Muitas vezes a criança já se encontra com sua autoestima tão baixa que a revelação apenas dos aspectos negativos acabam perturbando-o ainda mais, o que acaba por inviabilizar a possibilidade para novas conquistas. Depois deverão ser mencionados os pontos causadores dos problemas de aprendizagem. Posterior a esta conduta deverá ser mencionada as recomendações como troca de escola ou de turma, amenizar a superproteção dos pais, estimular a leitura em casa etc, e as indicações que são os atendimentos que se julgue necessário como psicopedagogo, fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista etc.

Em casos de quadros psicóticos, neuroses graves ou outras patologias, é necessário um tratamento psicoterápico inicial, até que o paciente atinja um ponto tal que tenha condições de perceber a sua própria necessidade de aprender e crescer no que respeita à escolaridade; é preciso que se instale nele o desejo de aprender (Weiss, 2003, p. 136). Muitas vezes faz-se necessário o encaminhamento para mais de um profissional. E isto complica quando a família pertence a um baixo nível socioeconômico.

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É importante que no momento da devolução o psicopedagogo tenha algumas indicações de instituições particulares e públicas que ofereçam serviços gratuitos ou com diferentes formas pagamento. Isto evita que o problema levantado pelo diagnóstico não fique sem uma posterior solução. O informe é um laudo do que foi diagnosticado. Ele é solicitado muitas vezes pela escola, outros profissionais etc.

Quaisquer que sejam os solicitantes é importante não redigir o mesmo laudo, pois existem informações que devem ser resguardadas, ou seja, para cada solicitante deve-se redigir informações convenientes. Sua finalidade é "resumir as conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas que motivaram o diagnóstico" (Id.

Ibid., 2003, p. 138). A mesma autora sugere o seguinte roteiro para o informe:

I. Dados pessoais;

II. Motivo da avaliação - encaminhamento;

III. Período da avaliação e número de sessões;

IV. Instrumentos usados;

V. Análise dos resultados nas diferentes áreas: pedagógica, cognitiva, afetivosocial, corporal.

VI. Síntese dos resultados - hipótese diagnóstica;

VII. Prognóstico;

VIII. Recomendações e indicações;

IX. Observações: acréscimo de dados conforme casos específicos.

O artigo propõe-se a analisar a importância da formação do terapeuta psicopedagogo e, mais do que isto, que ele o faça de forma ininterrupta, pois é

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fundamental que este profissional mantenha-se continuamente buscando o aprofundamento da compreensão dos fenômenos com os quais interage. Na sequência do artigo, há o destaque às diferentes etapas de um atendimento psicopedagógico, o que é determinado pelo grau de envolvimento entre o sujeito com sintoma no processo de aprendizagem e sua família, com o terapeuta psicopedagogo.

O referencial teórico utilizado neste artigo para entender os determinantes da formação em Psicopedagogia é o construcionismo social. A formação do terapeuta psicopedagogo é de enorme importância, a fim de ampliar gradativamente suas competências, pois a cada dia que passa constatamos que é por um deslize da formação do psicopedagogo iniciante que muitos casos "se perdem", ou seja, o cliente (a partir da família) abandona a terapia psicopedagógica. Um dos equívocos que o profissional recém saído de um curso de formação em Psicopedagogia comete é conversar com a família do sujeito indicado para o atendimento psicopedagógico, por meio de uma linguagem demasiadamente técnica, por expressões extraídas das abordagens teóricas estudadas recentemente, não propiciando uma comunicação satisfatória entre as partes envolvidas. Com isto não quero dizer que não podemos nos apoiar nos estudos feitos em um referencial teórico que justifique nossa hipótese, para desenvolvermos a conversa com a família que está buscando esclarecimentos, porém esta deve ser de maneira clara e despida de rebuscamentos, para que ela tenha mais possibilidades de interagir nessa conversa.

Desta forma, o que precisamos priorizar nestas entrevistas, segundo o referencial citado, é a "conversação" que se estabelece entre as partes envolvidas para compartilharmos o conhecimento que ambas as partes possuem sobre a criança ou adolescente em questão, uma vez que, nesta relação, como em uma moeda, temos a seguinte configuração: de um lado, nós, enquanto especialistas em Psicopedagogia,

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um profissional que estudou e estuda sobre os aspectos envolvidos na aprendizagem e seus distúrbios e, de outro, a família, que é a especialista sobre o conhecimento de sua história, de suas expectativas, de suas tramas e segredos em relação a seu(sua) filho(a), conforme nos mostra Anderson e Goolishian1 . Portanto, nesta situação, não podemos pensar que alguém sabe mais, mas que há dois níveis de "saberes"

imprescindíveis para que esta terapia tenha um bom desenvolvimento. Neste sentido, é que ressalto dois aspectos na necessidade do contínuo processo de formação deste profissional: que ele busque não apenas aprofundar seus conhecimentos teóricos e técnicos, mas também que aprimore a "arte de conversar", para poder ampliar cada vez mais seus recursos de escuta e entendimento sobre seu cliente, compreendê-lo e ajudá-lo a defrontar-se com o "não dito", isto é, com a mensagem subliminar da conversa - indício valioso nos espaços terapêuticos.

Ao mencionarmos a conversação, estamos nos referindo ao instrumento para a construção de significado, ou melhor dizendo, a linguagem dá ordem e significado à nossa forma de viver. Portanto, como sugere Brun e Rapizo , a conversa terapêutica possibilita que o outro atribua significação aos eventos e às pessoas que o circundam.

O "NÃO DITO"... Entretanto, muitas vezes, são as coisas não ditas que homeostaticamente mantêm um determinado funcionamento, uma dinâmica familiar, pois fazem parte de um segredo familiar, em outras, são realmente desconhecidas pelo sujeito e o nosso papel é ajudá-lo a perceber e se apropriar deste conhecimento.

Reproduzindo o modelo familiar, a criança no papel de aluno também não diz algumas coisas a seus professores sobre a intransigência de seus pais, como às vezes os filhos não contam a seus pais sobre notas baixas, advertências disciplinares, enfim sobre a vida escolar, mantendo o "jeito de funcionar da família".

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Diante destas situações, o psicopedagogo tem como função estimular a desconstrução destes "não ditos", a fim de ampliar o espaço de aprendizagem.

Portanto, quando nos referimos à formação continuada, pensamos neste investimento ininterrupto, não apenas no aprofundamento teórico, como também no desenvolvimento de habilidades para o trabalho terapêutico. Dentre estas habilidades podemos destacar algumas, tais como:

• habilidade de ouvir como algo extremamente útil, tanto nas sessões que temos com os pais, como também com o cliente, pois tendemos a agir de maneira a dar opiniões ou emitir pareceres, antes mesmo de nosso interlocutor nos solicitar. A escuta é algo muito valioso, porque nesse momento além de ampliarmos os elementos que nos permitem conhecer melhor este sujeito, é quando ele próprio tem oportunidade de "se ouvir";

• habilidade de se surpreender com o novo, com as expressões, com a história de nosso cliente, com sua capacidade de transformar suas experiências sofridas em novas aprendizagens, com a nossa própria capacidade de perceber novos caminhos a serem percorridos junto com ele;

• habilidade de perguntar, pois é perguntando que ampliamos o nosso conhecimento sobre as possibilidades de transformações em nosso cliente, assim como seus próprios horizontes, que ao iniciar um trabalho interventivo, em geral, é bastante reduzido. Neste momento, as informações são mais periféricas e necessitam ser significadas, talvez articular novos nexos associativos, que levarão a uma reorganização do padrão familiar, em relação ao sintoma de uma aprendizagem disfuncional;

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• habilidade de recomeçar um caminho, quando percebemos que o caminho anterior se esgotou ou não é o mais adequado para transformarmos o conflito em questão.

Recomeçar um diálogo, que nos abre novas perspectivas construcionistas, recomeçar novas narrativas, que possam organizar de forma diferente algum problema ou crenças que estejam sendo vivenciados. Devemos cuidar para não nos paralisarmos diante de algumas "falas", isto é, tomarmos como pessoal alguma informação apresentada, e, a partir destas, criarmos conjecturas que nem sempre condizem com a realidade, por exemplo, diante do comentário de uma mãe: "Estou preocupada, pois meu filho foi mal novamente na prova de português", posso por em dúvida minha atuação profissional questionando "Será que esta mãe não está gostando do meu trabalho?" ou "Será que ela não confia na capacidade de seu filho?"

Conjecturas deste tipo, características de um ciclo vicioso, me ajudam apenas a subir a "escada das inferências"3e, ao chegar ao topo da escada, estarei planejando algo, baseado em uma imagem moldada segundo essa inferência, provavelmente para atacar esta mãe, dizendo que talvez isto se deve às faltas dele ao atendimento, etc.

No entanto, talvez a mãe pretendesse apenas compartilhar comigo sua angústia em relação ao baixo aproveitamento de seu filho nesta matéria, ou talvez sua própria incompetência para ajudá-lo na mesma. Nestas circunstâncias, sugiro que façamos questões do tipo "O que você está querendo contar para mim, com esta informação?"

ou "O que você sente diante deste resultado?", pois sendo essas questões de natureza reflexiva, além de facilitar a conversação, geram espaços de comunicação.

Na verdade, acreditamos que os sistemas sociais (família, escola) devem constituir- se em redes de comunicação, as quais se distinguem "em" e "pela" linguagem. Ao falarmos em linguagem, nos referimos ao significado que é atribuído pelo cliente ao contextualmente relevante. Desta forma, um trabalho terapêutico deve ser

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compreendido como algo mais que simples sistemas processadores de informação, mas como um processo de criação de realidades intersubjetivas compartilhadas.

Nossa proposta na Psicopedagogia é legitimar o pensar e, desta forma, provocar uma transformação na identidade do sujeito. Esta meta inclui os pais, pois o que se percebe é que, geralmente, os pais de sujeitos com dificuldades de aprendizagem apresentam certa inabilidade em perceber suas próprias contradições na relação com seu (sua) filho (a). Apoiada em Bruno , podemos dizer que o terapeuta (psicopedagogo) deve trabalhar em dois níveis simultâneos: • procurar entender como a família construiu e constrói sua "história", como é sua lógica particular, que em última análise vai revelar como a família lida com o processo de incorporar-expulsar informações (modalidade de aprendizagem); • ao conhecer essa lógica, fazer intervenções ou perguntas, visando a ativar núcleos de informações periféricas. Os elementos da descrição que o terapeuta faz do padrão familiar e, que servem de base para suas intervenções, procuram corresponder aos elementos da descrição da família e aos padrões por ela demonstrados a ele, nas sessões. Por outro lado, a nossa descrição precisa partir de um referencial diferente para que a família possa receber a notícia de uma diferença, como uma troca perceptiva, que promova mudança nos padrões familiares.

No contexto psicopedagógico, precisamos sistematizar melhor o uso das perguntas para que possamos otimizar a visão contextual e a leitura sistêmica de nosso cliente dentro de uma dinâmica familiar. Por esta razão, enfatizamos a importância das perguntas, porque, segundo Karl Tomm, estas representam um convite mais forte para que o cliente se engaje na conversa e sinta-se desafiado a pensar sobre suas dificuldades. Esperamos desenvolver a habilidade de enxergar um

"bom momento" ou uma "abertura" na conversa para influenciar as percepções ou

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crenças da família, muito embora o cliente responda de acordo com a compreensão que possui. Temos observado em nossa prática clínica que a pergunta pode constituir- se em intervenções terapêuticas. Nossa tarefa fundamental é trazer as suposições e atitudes tácitas à superfície, para que as pessoas possam explorar e falar de diferenças e mal entendidos sem se defender, afinal, como nos diz Tom Andersen , "a linguagem não é inocente". Em meus encontros com os clientes, tenho optado (ainda numa perspectiva de Andersen) por "seguir o cliente", escutando-o e dando atenção à maneira como as palavras são proferidas, até porque "a pessoa que fala é ela própria afetada pelas palavras quando elas chegam aos seus ouvidos".

Os Diferentes Momentos de um Atendimento

Vamos aqui dar destaque a um dos campos de atuação da Psicopedagogia, que é o atendimento clínico. Neste ponto quero destacar os diferentes momentos que venho observando no desenrolar de um atendimento psicopedagógico no espaço clínico. Tais considerações resultam das observações, estudos e reflexões que realizo no cotidiano de minha atuação profissional. Eles podem acontecer de forma sequencial ou até mesmo, em algumas situações, de forma simultânea. Considero o atendimento psicopedagógico clínico norteado pelo sistema narrativo que se estabelece entre terapeuta e cliente. Os meandros da linguagem e da conversação representam nosso principal instrumento terapêutico. Quando uma criança ou adolescente é encaminhado para um trabalho psicopedagógico, e, a fim de que haja a necessária interação entre o contexto familiar e clínico, devemos "incluir" a família no circulo narrativo. Como me referi inicialmente, no trabalho que realizo percebo que há alguns momentos bem marcados em seu desenvolvimento: o primeiro deles é aquele em que se dá a formação do vínculo. Esse período começa desde o contato telefônico feito pela família, quando é formalizada uma queixa, que se estende até a

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entrevista feita com a mesma no consultório, quando se constrói a anamnese e a queixa é mais bem explicitada. Isto feito, recebemos o sujeito portador da queixa de aprendizagem para procedermos à avaliação, como meio de lhe conhecermos melhor em suas potencialidades e possíveis limites. Ao terminarmos tal procedimento, encerramos o diagnóstico psicopedagógico com a devolutiva aos pais e, na sequência, é iniciada a intervenção, que tem como meta estimular a criança ou o adolescente em relação àquilo que está sendo considerado seu(s) déficit(s) e potencializarmos seus valores, suas habilidades. Durante esta etapa, o vínculo com este sujeito, bem como com a família, passa a se estabelecer.

O segundo momento passa a se delinear quando "nosso" sujeito começa a entrar em contato com seus limites e potencialidades, identificando-os ainda que às vezes os rejeite ou os negue, ou como diria Piaget, tornando-os observáveis. É um período de oscilações que deve ser alternado com contatos familiares, nos quais o sujeito deve ser incluído, para que possamos trabalhar as mudanças que começam a acontecer não apenas em seu processo terapêutico, mas também dentro da dinâmica familiar, que geralmente se altera e, então, as relações passam por transformações.

É um período que pode se prolongar, dependendo do nível de tensão existente neste contexto. No terceiro momento passam a se estabelecer as construções cognitivas e afetivas, já que na etapa anterior da intervenção pode-se construir um estímulo mais efetivo da cognição deste sujeito e, neste estágio, já mostra uma forma mais inteligente, mais ágil de entrar em relação com o mundo, possibilitando resgatar sua autoestima e a maior confiança diante de novas conquistas, ou seja, maior interesse por aprender. Temos mais uma etapa pela frente, que é o momento das elaborações em torno das descobertas e construções feitas até então: se conseguimos evoluir no estágio anterior, este momento é bastante gratificante, pois o sujeito passa a atribuir

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um novo sentido não somente aos potenciais que vem constatando em sua terapia, mas também aos limites que percebe existirem, mas que começa a aprender a conviver com eles ou superá-los. Concordamos com Anderson e Goolishian1 , quando afirmam que "o terapeuta é um artista da conversação", pois sua meta é a transformação da maneira como o sujeito se relaciona com o fenômeno da aprendizagem (sua modalidade de aprendizagem), o que é feito por meio de perguntas conversacionais, a ser exercitado pelo profissional, que deve partir de uma posição do "não saber". Com este recurso, nosso intuito é conferir um sentido e, se possível, uma organização ao contexto de aprendizagem desse sujeito.

O instrumento que irá nos nortear por estas etapas do processo terapêutico, como já citamos anteriormente, é a conversação existente nas sessões, ou se preferirmos, o contexto terapêutico pode ser entendido como um sistema linguístico onde a narrativa se constrói entre terapeuta e sujeito (paciente), a fim de que este possa encontrar novas (ou diferentes) formas de se relacionar com sua realidade (escolar ou familiar). Comungo com Bruno , quando esta nos diz "abandonar a crença na possibilidade de se acessar a uma realidade sem parênteses, abrir mão da idéia de objetividade, darse conta de que a realidade inevitavelmente é descrita por alguém que, na sua descrição, não pode fazê-lo sem atingi-la com sua subjetividade - tudo isso correspondeu a uma mudança de paradigma que trouxe consigo alterações significativas na minha forma de trabalhar".

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Conversando com o Cliente

Vou relatar o atendimento que fiz a Fernando, que chegou a mim no mês de junho de 2005. Recebi o telefonema do pai querendo marcar uma entrevista, já que havia recebido a indicação de meu nome no colégio em que seu filho estuda. Como de hábito, propus que a primeira entrevista acontecesse com o casal (pais), para em seguida eu proceder à avaliação psicopedagógica com Fernando, que frequenta uma escola tradicional, com reconhecida exigência em relação à produção de seus alunos.

No primeiro encontro com os pais, procuro fazer a anamnese do caso e tento levantar o motivo da consulta. Este garoto estava com 15 anos, cursando o 1º ano de Ensino Médio. Sua história escolar mostra que frequentou a mesma escola do maternal até a 7ª série, uma escola em que sempre apresentou algumas dificuldades com escrita e leitura, mas a instituição nunca fez nenhum encaminhamento. Segundo o pai, o filho sempre "andou no 4º quarto da turma"(sic), isto é, um rendimento abaixo da média. A mãe acha que impediu um maior desenvolvimento acadêmico dos filhos, porque ao escolher a primeira escola, optou por uma escola bem perto de casa, sem levar em conta os aspectos pedagógicos. Ao concluir a 7ª série, suas irmãs mais velhas saíram desta escola por terem finalizado um ciclo de seus estudos. Com a saída das irmãs, Fernando não quis permanecer na mesma escola e mudou para outra com "menos exigência" entendimento dos pais), onde conseguia se manter no "meio da turma", mas em contrapartida não teve boa adaptação com os colegas. Nesta época, estava um pouco acima do peso, o que o deixava mais retraído e, então, interagia menos com os colegas, por inibição. Concluída a 8ª série, e com problemas de adaptação, novamente Fernando muda de escola. Desta vez, passa a estudar na mesma escola que o pai estudara e que, naquela época, os primos frequentavam. Na descrição da mãe, após esta mudança, Fernando está mais social, anda sozinho de ônibus, mas

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ainda é muito dispersivo. Mesmo assim, os pais percebem seu interesse, pois muitas vezes pedia ajuda nas lições, ao contrário de antes. No primeiro bimestre, teve bons resultados em matemática e física. Na opinião da mãe "não é muito chegado ao social"(sic), está um pouco gordinho (de 5 a 6 anos para cá), come bastante e não faz nenhuma atividade física. No ano passado, foi ao endocrinologista e em função do tratamento emagreceu um pouco. Recentemente, uma das irmãs o levou à academia para fazer exercícios. Os irmãos são bem unidos. A queixa da escola, manifesta pela professora titular que responde pela classe de Fernando, é de que ele deve ter "um problema de ordem organizacional para estudar". Afirma que ele está bem entrosado com o grupo, a ponto de passar as tardes na escola, para estudar com os outros meninos. Na entrevista de devolutiva aos pais, estes comentaram que Fernando não falava sobre o que fazia no consultório no período em que estava realizando o diagnóstico comigo, por esta razão, estavam curiosos em saber minha posição em relação às dificuldades de Fernando. Relatei-lhes que Fernando não apresentava dificuldades significativas para a abstração e sim para a elaboração de texto, bem como para apreender as ideias principais de um texto.

Durante esta entrevista, e, estabelecido o contrato de trabalho, o pai considerou importante fazer o relato de um episódio ocorrido entre o casal, na época em que Fernando tinha 10 anos. Contou sobre um sério desentendimento entre o casal, com uma grave agressão física e, posteriormente, com separação. Neste ponto, comecei a refletir em minha prática psicopedagógica, na forma em que atuo com meus clientes por meio de tarefas, ou seja, de um projeto de maquete, confecção de uma máscara, a leitura de um texto, o desenho de um sonho, etc. Nesses momentos, me utilizo da conversação como um grande aliado do terapeuta, pois enquanto as atividades se desenvolvem, a conversa acontece, o que permite que o sujeito em terapia "se escute"

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e nós possamos levantar algumas hipóteses ou até mesmo alguns questionamentos junto com ele. É desta forma que passamos da 1ª para a 2ª etapa. Foi o que ocorreu no atendimento de Fernando, podíamos conversar enquanto eu via seu fichário que era bem organizado, letra legível, mas, às vezes, com pouco capricho e, em certos dias, a ausência de algumas tarefas. Acabou relatando que sua maior dificuldade estava localizada na leitura, que não era fluente, e na elaboração de textos. Propus- lhe, então, a elaboração de alguns textos, por exemplo:

• Escolher um personagem para escrever uma página de seu diário. Os personagens propostos foram: Einstein, Airton Senna, Ronaldinho e Lula. Ele escolheu Ronaldinho;

• Um fato ocorrido na infância que estivesse guardado em sua lembrança • Um desenho, com o texto correspondente, que falava de um acontecimento absurdo; • Criação de uma fábula;

• Elaboração da autobiografia;

Foi nessa atividade, que notei que lhe faltavam elementos ou então alguma coisa difícil de ser mencionada. Tive a ideia de propor-lhe a confecção do genograma de sua família. O que eu não contava era que sua família materna fosse tão grande!

Foram algumas sessões para a elaboração deste trabalho, numa delas precisamos pedir a ajuda de sua mãe em um de nossos encontros, o que foi muito significativo para Fernando. Concordo com as ideias de Anderson e Goolishian de que os sistemas humanos são geradores de linguagem e, simultaneamente, geradores de sentido; o sentido e o entendimento são construídos socialmente; qualquer sistema em terapia é formado dialogicamente em torno de algum "problema"; a terapia é um evento linguístico que ocorre no que chamamos de conversação terapêutica. Cada encontro terapêutico é uma nova possibilidade de se construir uma narrativa, por meio da qual

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nós (terapeuta e cliente) passamos a compreender melhor o "problema" pelo qual estamos refletindo. Minha intenção ao propor a realização do genograma foi de propiciar um contato de Fernando com sua própria história e com a história de sua família. A ênfase não está em produzir mudanças, mas em abrir espaços para a conversação e, por meio desta, possibilitar que o sujeito possa estabelecer relações entre os acontecimentos que tiveram maior repercussão em sua vida e construir talvez novas relações.

Ao concluir o genograma, retomou sua autobiografia, podendo então se apropriar melhor da rede de relações que existe em sua família. Ao finalizar seu relato, perguntei-lhe se não havia mais nada a acrescentar, ele respondeu que teria então que "falar" do acidente do pai, mas não tinha vontade! As provas de final de ano foram razoavelmente bem sucedidas, o que deixou Fernando satisfeito, pois foi possível comprovar uma melhora em sua produção escolar. Entramos em período de férias com a proposta de retomarmos o trabalho em fevereiro de 2006. Entretanto, no período combinado, entrei em contato para marcarmos o reinício da terapia psicopedagógica, mas a resposta é de que ele não voltaria naquele momento. No mês de maio, a mãe de Fernando telefonou pedindo um horário para que ele retomasse o trabalho, já que estava apresentando novamente dificuldades em seu rendimento escolar. Fui informada de que os pais haviam se separado no final do ano, com a decisão do pai de sair de casa. Nesse momento, priorizei iniciar o atendimento de Fernando deixando uma entrevista com a mãe para depois. Em nossa primeira sessão deste ano, procurei conduzir a conversa com Fernando no sentido de perceber como ele estava sentindo, o que acontecia, e ele assumiu que não estava indo bem por ser muito preguiçoso. Tentei explorar melhor este rótulo que ele se impunha e propus que tentasse uma mudança de papel: "... de preguiçoso para...", ele pensou e então

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respondeu: "para vagabundo, esperto..." Perguntei o que significava ser um vagabundo esperto ao que ele explicou: "só estuda na véspera e faz lição 'meia boca', ou... (outra tentativa de explicação) é um cara inteligente que se resolve estudar, vai bem!” Consultamos o dicionário, para verificar o significado da palavra vagabundo, que vem de vagabundear; vadiar, vaguear, vagar, errar, sem necessidade. Depois de obter este conhecimento, chegou à conclusão de que o termo não era adequado;

pensou então em malandro, ao que fizemos nova consulta ao dicionário: indivíduo dado a abusar da confiança dos outros, ou que não trabalha e vive de expedientes;

indivíduo esperto, vivo, astuto, matreiro. Concluiu que "também não era muito bom, mas era melhor!" Neste momento, estávamos entrando na 3ª etapa do trabalho.

Em nossa segunda sessão de 2006, começou contando sobre o fim de semana, que visitara duas tias maternas. Para que eu pudesse me situar na "geografia familiar", peguei o genograma (que fizéramos no ano anterior) e ele pode me mostrar como estavam as relações, já que as visitas, haviam acontecido somente na companhia do pai e não da mãe. Explicou que o pai mantinha boas relações com esses tios, porque havia sido colega de turma (na faculdade) de um deles. Fiz a proposta de que fizéssemos uma linha do tempo de suas aprendizagens, o que ele fez na mesma folha do genograma (logo abaixo). Em algumas sessões posteriores, pedi que ele indicasse em sua linha do tempo o momento em que acontecera o "acidente com fogo", ele indicou com a palavra BRIGA, no espaço entre 9 e 10 anos.

Perguntei-lhe se lembrava deste dia e Fernando relatou rapidamente o que se lembrava do incidente resultado de uma discussão forte entre os pais, o que resultou em um período de separação de dois meses. Depois disto, seu pai voltara para casa, mas o clima era sempre tenso, com pouco diálogo entre eles. Na entrevista com a mãe, ela falou sobre o incidente, com muita mágoa, pois agora a separação parecia

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ser definitiva e com ela as dificuldades financeiras para ela, pois não trabalhava.

Estava tentando encontrar alguma atividade

A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana – o problema de aprendizagem, colocando num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia – e evolui devido à existência de recursos, para atender esta demanda, constituindo-se assim, numa prática. Como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem. Portanto, vemos que a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende como esta aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Este objeto de estudo, que é um sujeito a ser estudado por outro sujeito, adquire características específicas a depender do trabalho clínico ou preventivo.” (Sueli de Abreu, 2004).

Atualmente, o enfoque da Psicopedagogia prioriza o processo de aprendizagem em sua amplitude e complexidade. Representa uma área de conhecimento interdisciplinar, pois, utiliza o conhecimento de várias disciplinas para desenvolver um quadro de referências teóricas adequadas a sua demanda. Portanto, a Psicopedagogia é um estudo que se constrói, originalmente, a partir de dois saberes e práticas, a Pedagogia e a Psicologia. No entanto, o campo dessa mediação recebe, também, influências da linguística, da semiótica, da sociologia, da neuropsicologia, da psicofisiologia, da filosofia e da medicina. A Psicopedagogia representa uma prática interdisciplinar. A interdisciplinaridade surgiu da necessidade de criar laços/diálogos entre as disciplinas, em meados do século XX. Pesquisadores, como Jean Piaget, Edgar Morin, Eric Jantsch dentre outros, começaram a romper com as fronteiras entre as disciplinas. E, sobretudo, com a visão clássica do mundo, onde o conhecimento

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era excessivamente compartimentalizado. A interdisciplinaridade lida com a transferência de métodos de uma disciplina para outra. É muito importante que você compreenda o conceito de interdisciplinaridade para transitar bem pelo módulo de Psicopedagogia. Você deve pesquisar e ler mais sobre o tema. No final do século XIX, demonstrando um significativo avanço do pensamento, surge um embrião da psicopedagogia: a pedagogia curativa.

Entendemos como avanço, pois, a proposta de se romper com a compartimentalização do conhecimento surge somente no século XX, após a emergência da física quântica. Os cientistas rompem à época com a ciência clássica e com os paradigmas que davam sustentação a física clássica. Portanto, psicopedagogia é uma disciplina interdisciplinar que vêm com a proposta de unir conhecimentos de outras disciplinas para fortalecer a pesquisa e a prática sobre o processo da aprendizagem humana. É uma disciplina deverás complexa, pois, a neurociência, a linguística, a filosofia etc estão em processo acelerado de descobertas que precisam, cotidianamente, serem apropriadas pela psicopedagogia.

O campo de atuação da psicopedagogia é direcionado ao estudo do processo de aprendizagem, diagnóstico e tratamento de seus entraves. O psicopedagogo é responsável por diagnosticar e tratar os transtornos no processo de aprendizagem. A psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana, ou seja, como se aprende - como a aprendizagem varia historicamente e está condicionada por inúmeros fatores, como reconhecer as alterações na aprendizagem, como tratá-las e preveni-las. O diagnóstico psicopedagógico busca investigar, pesquisar para averiguar quais são os obstáculos que estão levando o sujeito à situação de não aprender, aprender com lentidão e/ou com dificuldade; esclarece uma queixa do próprio sujeito, da família ou da escola. Alerta: No exercício clínico, o psicopedagogo

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deve sentir a complexidade de conhecer no outro naquilo que o impede de aprender.

Os rótulos são desnecessários, e, extremamente limitadores da ação. Vamos estudar um texto sobre diagnóstico, em que o foco é a dislexia.

Diagnósticos de distúrbios de aprendizagem

O processo de diagnosticar é como levantar hipóteses. Uma boa hipótese ou teoria explica uma grande quantidade de dados observáveis que são originados de diferentes níveis de análise. O diagnosticador apresenta vantagens importantes que compensam. Uma delas é que ele possui muito mais dados sobre um sujeito do que geralmente um pesquisador tem sobre todo o grupo de sujeitos. Para diagnosticar deve haver:

• Sintomas apresentados;

• O histórico inicial do desenvolvimento;

• Histórico escolar;

• O comportamento durante os testes;

• Os resultados dos testes;

Como diagnosticadores e terapeutas, é importante ter um bom domínio de quais características caem em qual categoria (algumas são típicas da espécie e outras são únicas do indivíduo). Embora um bom clínico deva estar consciente e fazer uso dos atributos únicos de um paciente, o processo científico na compreensão e no tratamento dos distúrbios mentais dependem de como eles apresentam variação

“moderada”, diferenciando características de grupos dentro de nossa espécie. Se assim, não for, o trabalho com saúde mental se reduz apenas a tratar os problemas

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