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CAPÍTULO DÉCIMO PRIMEIRO AS ANÁLISES FACTORIAIS E ÍNDICES DAS VARIÁVEIS SOBRE AS NECESSIDADES DA MORALIDADE, PROJECTUALIDADE E PREVENÇÃO SOCIAL NOS LICEUS DE CABO VERDE

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(1)

SOBRE AS NECESSIDADES DA MORALIDADE,

PROJECTUALIDADE E PREVENÇÃO SOCIAL

NOS LICEUS DE CABO VERDE

0. Premissa

Após as análises efectuadas dos dados, na sua generalidade, sobre os diversos temas e problemas pessoais e sociais de actualidade que envolvem os estudantes adolescentes ao longo da sua formação moral, pessoal-profissional e social, tentaremos, em particular, efec-tuar uma análise dos “factores significativos”, a fim de poder determinar as reais necessidades da moralidade, projectualidade e prevenção presentes nas escolas secundárias de Cabo Verde. De facto, das análises feitas ao longo dos capítulos anteriores, pudemos ver a confirmação de várias hipóteses concebidas no início deste estudo sobre essas necessidades. Entretanto, pro-curaremos focalizar alguns aspectos mais pertinentes para que o sistema do Ensino Secundá-rio tenha em consideração que é urgente e factível a reestruturação do plano curricular condi-zente com a disciplina da “Formação Pessoal e Social” já implementada nos estabelecimentos das escolas secundárias que englobam as duas vias, Geral e Técnica.

Com este estudo não se pretende impor à escola secundária uma teoria moral e espe-culativa sobre a validade ou não dos argumentos apontados para a formação e educação dos seus alunos, mas propor uma reflexão conjunta sobre as verdadeiras necessidades que a pró-pria escola tem e sente no desempenho das suas tarefas educativas, partindo de factores e objectivos reais segundo as sensibilidades e as expectativas dos estudantes adolescentes cabo-verdianos. Na II parte deste estudo (o enquadramento teórico), salientámos as diversas neces-sidades humanas que devem ser consideradas como factores importantes para o desenvolvi-mento integral do indivíduo. É importante que a escola e seus agentes conheçam as necessi-dades dos seus alunos e as exigências que a sociedade lhes impõe no tempo actual para que a sua formação seja adequada e corresponda as suas reais expectativas e projectos de vida.

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Pre-cisamente porque o acto de ensinar não consiste apenas no saber “reading, writing and

reaso-ning”, mas também, no saber “concern, care and connection”, isto é, capacitar o aluno no

sentido de usar bem o seu raciocínio, enfrentar os problemas, lidar com os desafios das mudanças sociais e culturais, cuidar dos seus semelhantes e estabelecer relações responsáveis e duradoiras com os outros para um projecto de vida familiar.

Como já vimos no desenrolar da teoria à volta da educação como recurso indispensá-vel para o desenvolvimento das habilidades humanas, é certo que, por um lado não é fácil definir um plano de acção educativa perante uma sociedade em constante transformação e ins-tável, doutro lado, é preciso tomar decisões e agir em conformidade com aquilo que a socie-dade e o mundo, em geral, apresentam como desafio às instituições educativas no tempo actual. De facto, nota-se pouca audácia e firmeza e muita incerteza no modo de enfrentar os problemas educativos em Cabo Verde. Na opinião de E. Morin, é possível responder às incer-tezas que aparecem ao longo das acções mediante a escolha de uma decisão, a consciência dos desafios, a elaboração de estratégias que tenham em consideração as complexidades inerentes à própria finalidade que, eventualmente, poderão ser transformadas durante o desenrolar das acções segundo os casos, as informações, as mudanças de contextos. Em todo caso, pode-se enfrentar as incertezas e superá-las a curto e médio prazo sem a pretensão de eliminá-las a longo prazo1.

É a partir dessa consciência racional de que a incerteza é uma atitude mental que deve ser superada paulatinamente, que a escola secundária e seus agentes são interpelados a conhecer e verificar os factores que vão ser apontados ao longo deste capítulo e que demons-tram quer os aspectos positivos que devem ser reforçados quer os menos positivos que devem ser superados, mediante tarefas educativas que satisfazem as exigências dos alunos do ponto de vista moral, pessoal-profissional e social. É nesse sentido que a escola secundária deve sentir-se portadora de um estilo de convivência impregnado de moralidade e de uma concep-ção de vida futura também ela impregnada, de projectualidade, capaz de transmitir aos alunos noções práticas para a superação dos problemas pessoais e sociais. Portanto, a implementação, por parte escola secundária, de um plano estratégico, à volta da moralidade e projectualidade pressupõe que ela esteja à altura de conhecer as condições dos seus alunos e o seu contexto ambiental e familiar.

Hoje, a compreensão dos problemas dos alunos não depende somente do estilo de ensino-aprendizagem e do saber persuadir os alunos com argumentos e programas que o sis-tema curricular propõe, é mais do que isso, implica que a escola invista no seu pessoal uma formação pedagógica que abranja a dimensão moral e carácter da personalidade, a visão

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transcendental e a competência profissional. Não é possível transmitir aos alunos aquilo que a escola e os seus agentes não possuem. A transmissão de valores éticos, religiosos e interpes-soais para a formação da personalidade do indivíduo não acontece somente através do ensino das disciplinas escolares, mas sobretudo através do estilo de vida e da realização do projecto de vida de cada professor e da própria imagem da escola em si. Portanto, não é descabido afirmar que, muitas vezes, o insucesso escolar de um aluno depende da falta da moralidade e projectualidade da escola e dos seus professores.

Para que a escola secundária possa implementar as modalidades que criam um estilo cultural de vida ético-moral e de estratégias que apoiam os alunos na realização dos seus pro-jectos de vida pessoal e profissional, passaremos a analisar os factores que apontam a necessi-dade da moralinecessi-dade, projectualinecessi-dade e as condições sociais que os estabelecimentos do ensino devem suscitar como forma de prevenção e integração social dos alunos.

1. O Ensino Secundário e a transmissão da moralidade

A escola secundária, enquanto instituição educativa, é pela sua postura jurídica e social uma entidade moral quer para o seu corpo docente, alunos e pessoal de serviço quer para a sociedade civil em geral. Então, tem sentido fazer uma abordagem à moralidade no seio dos estabelecimentos do ensino secundário de Cabo Verde, apenas, como reflexão e com o intuito de esclarecer melhor as necessidades de algumas componentes para a compreensão dessa condição indispensável para o bem-estar dos alunos e da própria instituição escolar. Nesta reflexão, pensamos encarar a escola não apenas como objecto material, mas também como entidade institucional que se manifesta através das suas características humanizadas, dos seus planos de ensino-aprendizagem, dos seus reflexos sobre os hábitos, usos e costumes sociais e da forma como produz os sentimentos emocionais no seu pessoal. Precisamente por-que os princípios morais não são simplesmente subjectivos e arbitrários nem tão pouco uma questão de preferência individual, mas são condições que têm uma relevância colectiva e ins-titucional. É através do seu agir educativo, nas suas diversas componentes (lectiva, curricular, administrativa, interactiva) que a escola secundária deve apresentar ao aluno a vivência moral como um bem que o promove de forma integral (a realização plena da sua humanidade) e integrada (ajuda-o a estabelecer relações pessoais e interpessoais). Portanto, é nesse sentido que entendemos a capacidade da escola na transmissão da moralidade aos alunos como factor indispensável para o seu relacionamento pessoal e interpessoal na vida familiar, escolar e social.

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Partindo do princípio que a escola secundária dispõe de um programa formativo para os seus alunos em fase de crescimento, é fácil concebê-la como portadora de uma pedagogia capaz de transmitir os valores que ajudam os seus alunos a serem indivíduos éticos na família, nas comunidades e na sociedade. Nessa perspectiva pedagógica e filosófica, pode-se dizer que a escola exerce uma função ético-moral de ajudar o aluno, enquanto ser natural, a “converter a sua primeira natureza em segunda natureza espiritual de tal maneira que o espiritual se con-verta em hábitos”2 de comportamento ou actos humanos, social e racionalmente partilhados. Trata-se de aquisição ou de assimilação de novas atitudes comportamentais segundo o espírito racional e normas que dirigem a sociedade na sua convivência humana. Precisamente porque o desempenho da educação moral é de todos, já que é o agir bem de cada membro que faz uma comunidade boa3, competindo à escola a responsabilidade de promover cada aluno atra-vés do ensinamento das virtudes para o bem da sociedade.

Não basta um estudo analítico dos factores que descrevem os problemas educativos e demonstram as necessidades morais e éticas presentes na escola secundária, é preciso que haja uma política educativa que aposte, não somente no aspecto estrutural e logístico, mas tam-bém, na qualidade do desenvolvimento das condições que favoreçam um clima moral e a cria-ção de um plano curricular de educacria-ção moral e cívica. É nesse sentido que insistimos na tese de que a escola é o reflexo moral da sociedade. Com a expressão “educação moral” não entendemos, apenas, a ideia de apresentar aos alunos noções e princípios (cognição moral), mas também, oferecer um contributo que possa ajudá-los na formação ou educação do próprio carácter4. Portanto, trata-se de uma educação preocupada com o desabrochamento da imagi-nação moral que implica o exercício de condutas morais respeitadoras de valores básicos e princípios normativos universais.

Para podermos demonstrar a importância da escola secundária na transmissão da moralidade, é bom que se apresente uma análise de factores que tomam em consideração alguns aspectos salientes no acto educativo dos alunos adolescentes, sobretudo, no que con-cerne à assimilação dos valores culturais, a compreensão dos conteúdos na sua vertente ética, a autoridade moral do professor e a valorização da dimensão moral-religiosa dos alunos. Par-tindo dessas e outras componentes, estaremos em condições de colaborar com o Ensino Secundário apresentando um programa que põe em realce a dimensão moral da escola no desempenho estratégico da sua moralidade, em prol do crescimento harmonioso e solidário da camada estudantil cabo-verdiana.

2

Cf. T.WEBER, Ética e Filosofia Política: Hegel e o Formalismo Kantiano, Porto Alegre, Edipucrs, 1999, p. 14.

3 Cf. M.P

ELLEREY, Educazione morale, educazione sociale, educazione del carattere, in “Orientamenti Pedago-gici”, n. 42 (1995), pp. 219-233, p. 229.

4 Cf. R.M

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1.1 Análises factoriais dos valores e a sua dimensão moral

A escola secundária ou liceu, enquanto instituição educativa que prepara a juventude para a vida social, foi constituída para desenvolver um conjunto de tarefas capazes de que facilitar o desenvolvimento do ser humano e da sociedade nas suas organizações e funções, para o equilíbrio moral, espiritual e social das populações. A precisa de ser valorizada pela importância que ela tem na vida de cada pessoa e da sociedade. A escola deve impor-se à sociedade e às pessoas pela qualidade da sua estruturação, organização interna, fazendo pre-valecer as suas regras, os seus valores e modelos educativos, independentemente das mudan-ças e transformações sociais e culturais que possam verificar-se na sociedade. Portanto, é papel da escola promover a educação moral e formação cultural capaz de ajudar os alunos adolescentes a assimilar os valores éticos, religiosos e interpessoais como condições para a superação das suas dificuldades, sobretudo em relação à escola e demais instituições. Isso depende da forma como os alunos apreciam os valores na sua vida, num contexto bem delimi-tado.

Por isso, uma análise da percepção que os alunos têm dos valores éticos (civis), reli-giosos e interpessoais significa, antes de tudo, demonstrar que a escola tem a necessidade de interiorizar e assimilar esses valores no seu programa e no seu pessoal docente e dirigente como critérios indispensáveis para a orientação dos alunos adolescentes na vivência de uma vida em conformidade com os valores significativos da sua existência como pessoas humanas, e nas suas relações com os outros, com o meio ambiente e com o transcendente. Isso está bem patente na opinião de M. Pellerey, quando diz que a escola desempenha uma tríplice tarefa na sociedade: social, no sentido que representa a sociedade e é, também, responsável pela sua construção e desenvolvimento no que tange às virtudes morais e convivência democrática; educativa, no campo moral, que se manifesta no comportamento dos professores e dirigentes e nas relações pessoais e institucionais; cultural, ligada à promoção dos valores humanos, dos significados à experiência pessoal, aos eventos sociais e à realidade humana5. Essas tarefas são fundamentais para a formação e educação dos alunos na estruturação de uma hierarquia de valores que servem para orientá-los no presente e projectá-lo para o futuro mediante opções concretas e realizáveis.

É nesse sentido que vamos interpretar os 3 grupos de factores que descrevem a importância dos valores, a fim de verificar a importância que a escola secundária tem na transmissão da moralidade. Pode-se dizer que a compreensão e assimilação dos valores da parte dos alunos depende, muitas vezes, do tipo de conhecimento adquirido e da qualidade de

5 Cf. M.P

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informação moral sobre os valores que a escola consegue transmitir ao longo do seu percurso educativo. Portanto, as análises factoriais que vamos efectuar neste âmbito, abrangem os valo-res que explicitam a dimensão ético-social, religiosa e sócio-afectiva. É importante que a escola secundária tenha em consideração essas características valorativas no acto educativo, encarando-as como elementos fundamentais para a realização moral, pessoal-profissional e social dos seus alunos.

1.1.1 Factor (1) condizente aos valores ético-sociais – civis

Os alunos adolescentes cabo-verdianos, apesar de viverem num contexto social diversificado, deparam com uma sociedade complexa e pluralista do ponto de vista político, cultural e religioso. Não obstante a carência de poder de compra e de recursos materiais, a sociedade é invadida por ideologias partidárias e seitas religiosas; pelas publicidades, teleno-velas, modas e pelo desporto através da radiotelevisão nacional e estrangeira; por interesses culturais ligados à música, ao filme, videogame; pela informática no que toca ao uso de com-puter-internet etc. Trata-se de um fenómeno sócio-cultural que põe em causa todo o esquema valorativo tradicional cabo-verdiano. É perante esse mundo de coisas que as instituições edu-cativas, nomeadamente as escolas, são interpeladas a propor valores, mediante uma educação moral e social dos adolescentes. A educação para os valores exige que se tenha em considera-ção esse contorno de coisas que fascinam e distraem a camada juvenil, afastando-a dos seus compromissos e, às vezes, levando-a a fugir da realidade. Só a partir da consciencialização desse fenómeno sócio-cultural é possível negociar com os adolescentes estudantes, mostrando os aspectos positivos e menos positivos daquilo que a sociedade oferece para a diversão e formação cultural da pessoa humana. A criação dessa visão crítica e moral dos fenómenos sócio-culturais compete a todas as instituições educativas e, de modo especial, às escolas.

Através dos dados acerca da percepção dos alunos do Ensino Secundário sobre os

valores que mais contam na sua vida (na pergunta, 40 – ver o questionário em anexo),

indivi-dualizamos o primeiro grupo de factores que, em nosso entender, a escola secundária deve encarar como necessários na implementação dos valores ético-sociais ou civis que facilitam os alunos na compreensão dos seus comportamentos morais, das suas decisões, opções e compromissos. Na perspectiva de poder conhecer aquilo que para os alunos é significativo, a escola secundária deve fazer-se, antes tudo, promotora desses valores: liberdade (.54), respon-sabilidade (.66), solidariedade (.67) e ser bom cidadão (.62). São valores que caracterizam a vida moral e civil do cidadão inserido e integrado na sociedade. Tomando em consideração a

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diferença significativa para a vida dos alunos (.60) do Ensino Secundário e apresenta a M.2.77, conforme a indicação dos dados. Nesse aspecto, nota-se que há diferença significativa entre as faixas etárias (P <.001) isto é, as duas faixas de 11-14 anos (P <.020) e 17-21 anos (P <.003) destacam-se mais do que a de 15-16 anos (P <.001) no sentido de que os valores con-tam mais para a sua vida do que os outros. Ao passo que, entre os alunos de ambos os sexos, de grupos de Barlavento e Sotavento e os que já tiveram relações sexuais ou não, a diferença não é significativa (n.s.) (cf. Tabs. I/a e I/b).

Tabs. I/a: As análises factoriais – Escala 1: os valores ético-sociais – civis: (Pontuações Factoriais, Média, Índice de Fidelidade)

Variáveis Pontuações Factoriais Items analisys Mp Liberdade .54 2.74 Responsabilidade .66 2.76 Solidariedade .67 2.74

Ser bom cidadão .62 2.82

Índice de fidelidade (ALFA DE CRONBACH) .60

Tab. I/b: As análises de variante sobre a Escala 1: os valores ético-sociais – civis (Idade, sexo, ilhas e relações sexuais – Nível de Significância P <.001)

Idade M. – P <.001 Sexo M. - P <.001 Ilhas Em M. - P <.001 Relação sexual M. – P <.001

11-14 15-16 17-21 M F Barlavento. Sotavento. Sim Não

2.71 2.76 2.84 2.75 2.78 2.78 2.75 2.78 2.76 P <.001 n.s. n.s n.s. Factor (1) Valores Ético Sociais ou Civis n.s. P<.001 P<.003

Embora a escola secundária cabo-verdiana prime pela instrução dos alunos, investin-do em recursos humanos para o desenvolvimento social, a qualidade investin-do ensino encontra-se no tipo de educação do indivíduo e do homem que se quer para o futuro. Se partirmos do princí-pio que a educação é um desabrochar contínuo de potencialidade presente no indivíduo ou um fazer nascer aquilo que é peculiar do ser humano, concluiremos então que a escola deve assumir os valores em que os alunos acreditam e pela importância que têm na sua vida. Veri-ficando a predisposição dos alunos adolescentes deduzimos que a escola secundária

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cabo-verdiana tem a necessidade de implementar no seu seio os valores ético-sociais ou civis para a orientação moral e integração social na vivência da Nação e na mútua relação interpessoal com os seus semelhantes (cf. hipóteses gerais – 7); é urgente que a escola secundária aposte na educação dos adolescentes para os valores vitais, éticos, religiosos e estéticos (hipóteses particulares – moral – 6).

1.1.2 Factor (2) dos valores religiosos – fé e religião

Um segundo factor que abarca o campo dos valores, segundo a percepção dos estu-dantes adolescentes do Ensino Secundário de Cabo Verde, é a fé e religião. O factor religioso não é uma dimensão estranha à vida do ser humano, como já foi realçado, anteriormente, é parte estruturante da personalidade de cada indivíduo. Portanto, não é aconselhável que a escola secundária cabo-verdiana ignore essa dimensão pessoal dos alunos, que faz parte de um sentir colectivo, cultural e comunitário na constituição da moralidade entre as pessoas que comungam a mesma religiosidade e crença.

Perante o pluralismo cultural e religioso que se vive em Cabo Verde, a tendência política é de enquadrar a fé e a religião na esfera do privado. Certo é que um país laico não admite uma religião de Estado. Pensamos que todas as Igrejas presentes não aspiram a nenhuma incumbência política na governação da sociedade. Todavia, a religião e a fé conti-nuam a ser valores que norteiam o comportamento moral, espiritual e social de muitos cida-dãos no País. Para além duma dimensão transcendental desses valores, enquanto busca de uma felicidade eterna em Deus Criador do universo e Redentor da humanidade, seria justo e correcto que os políticos compreendessem a dimensão imanente desses valores para o bem-estar da população e da sociedade em geral.

Embora a religião e a fé de muitas pessoas sejam uma realidade de facto, a sua com-preensão, para muitos, continua a ser uma incógnita. Não é fácil explicitar e comunicar a pró-pria identidade religiosa, a não ser através da própró-pria vivência pessoal e comunitária. O pro-cesso do desenvolvimento social, económico, tecnológico apostado no materialismo, consu-mismo, individualismo e sensualismo contribui de forma acentuada para tornar essa identida-de menos expressiva na sociedaidentida-de actual. A perda identida-dessa visão transcenidentida-dental contribui para o enfraquecimento da consciência do que é mal e do que é bem, aliás, a relativização da cons-ciência moral. Assim, pode-se afirmar que a religiosidade dos adolescentes estará privada de perspectiva e de projectualidade ou é sentida de forma utópica e, por conseguinte, desconexa

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com a realidade e vivência quotidiana6. Em todo o caso, a fé exige que cada um busque o pon-to de referência para se poder orientar na vida. Daí a necessidade da religião como espaço de vivência espiritual que garante o amadurecimento espiritual, moral, profissional e social do indivíduo.

Não obstante a condição juvenil do tempo presente, os estudantes adolescentes cabo-verdianos apontam a fé e a religião como um factor religioso que exige da política educativa uma reflexão profunda sobre a implementação da educação moral no Ensino Secundário. Se tomarmos essa sensibilidade espiritual dos alunos na linha de conta, acabaremos, mais uma vez, por afirmar que a escola secundária de Cabo Verde é interpelada pelos seus alunos a implementar uma moralidade que tenha em consideração os valores religiosos (crença, fé e religião) como critérios para uma vida moral de tolerância, fidelidade, honestidade, paridade e respeito mútuo.

Este segundo factor ligado aos valores religiosos apresenta 3 variáveis bastante signi-ficativos para a vida dos alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde: acreditar em Deus (.81); fé (.79); religião (.72). Tomando em análise esse grupo, verificamos que se trata de um factor significativo (.55) e com uma M.2.75, segundo os dados apurados pela Amostra repre-sentativa. Nesse factor, notamos que há uma diferença entre o sexo masculino com M.2.70, e o sexo feminino com M.2.80, bastante significativa (P <.001). Isto é, as meninas são propen-sas a acreditarem nestes valores mais do que os rapazes. Além dessa diferença entre os géne-ros, verificamos que há, também, diferença entre os alunos que habitam nos dois grupos de ilhas: Barlavento com M.2.65, e Sotavento com M.2.86, e com um nível de significância (P <.001) saliente. De facto, nas ilhas de Sotavento as pessoas aderem mais aos valores religio-sos do que as do Barlavento. Ao passo, que o nível de significância entre os grupos de faixas etárias é nulo neste factor religioso (Tab. I, 2). Todavia há uma diferença entre os alunos que já tiveram relação sexual (M.2.72) e os que não tiveram essa experiência (M.2.78) com nível de significância de P < .010. Neste caso a formação religiosa ajuda o indivíduo a conter um comportamento moral consoante os princípios religiosos.

Sobre este factor religioso, pode-se ver a diferença entre os estudantes crentes (M.2.83), e estudantes indiferentes ou ateus (M.2.56) e os que andam à procura da fé (M.2.77), com um nível de significância de P <.001. Nota-se, também, a diferença entre as categorias do mesmo factor, em que os crentes e praticantes em relação aos indiferentes e ateus (M.2.83 (A) e M.2.56 (B), e a diferença entre A-B: .270) com um nível de significância de P <.001. Em segundo lugar, pode-se confrontar os alunos crentes e praticantes com os que

6 Cf. V.O

RLANDO et al., L’Esperienza religiosa nell’attuale vissuto giovanile, in M. MIDALI et ali.(Edd.), L’esperienza religiosa dei giovani, I. L’ipotesi, Leumann (To), Elledici, 1997, p. 89.

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andam à busca da fé (M.2.83 (A) e M.2.77 (B) e a diferença entre A-B: .056) com um nível de significância de P <.030. E em terceiro lugar podemos comparar os indiferentes e ateus com os que procuram a fé (M.2.56 (A) e M.2.77 (B) e a diferença entre a A-B: -.214) com um nível de significância de P <.001 (cf. Tabs. II/a e II/b). Portanto, os crentes e praticantes apon-tam mais para os valores morais e religiosos do que os outros não crentes e indiferentes.

Tab. II/a: Análises factoriais – escala 2: sobre os valores religiosos: (Pontuações Factoriais, Média, Índice de Fidelidade)

Variáveis Pontuações Factoriais Items analisys Mp Acredita em Deus .81 2.87 Fé .79 2.86 Religião .72 2.53

Índice de fidelidade (ALFA DE CRONBACH) .55

Tab. II/b: As análises de variante sobre a escala 2: sobre os valores religiosos (Idade, sexo, ilhas e relações sexuais – Nível de Significância P <.001)

Idade M. - P <.001 Sexo M. - P <.001 Ilhas M. - P <.001 Relação sexual M. – P <.001 11-14 15-16 17-21 M F Barlavento Sotavento Sim Não

2.74 2.77 2.75 2.70 2.80 2.65 2.86 2.72 2.78 n.s. P <.001 P <.001 n.s.

Crença M. - P <.001

Crente Indiferente À Busca 2.83 2.56 2.77

P <.001

Crença Média A Média B Dif. A-B P <.001 Crente Indiferente 2.83 2.56 .270 P <.001 Crente À Busca 2.83 2.77 .056 n.s. Factor (2) Religioso: Religião Indiferente À busca 2.56 2.77 -.214 P <.001

Os alunos apontam este factor religioso (crença, fé e religião) para demonstrar que os valores têm uma dimensão transcendental que exige do Ensino Secundário uma abertura para aceitar que a credibilidade de um valor depende da convicção do indivíduo e do sentido como vive a sua vida moral. É importante que se diga que os alunos têm o direito a uma educação moral que os capacite para viver e conviver com a multiplicidade de valores e bens materiais e espirituais que experimentam na sua própria vida quotidiana. Portanto, não é descabido o ensino da moral e religião na escola tendo em consideração a sua dimensão universal.

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Entretanto, sabe-se que a escola tem o seu programa curricular, o seu estatuto e seus objectivos a atingir ao longo do ano lectivo. Na generalidade, a escola pensa que o ensino de qualquer disciplina pressupõe a transmissão da moralidade, no sentido que isso vai além do direito restrito, da ética, da obrigação e do dever e se ocupa das relações com os outros, com o meio ambiente e com a cultura. Além desse preconceito subjacente do ponto de vista ético, é possível que a escola secundária sinta a necessidade de incentivar uma moralidade capaz de perceber a sensibilidade religiosa, espiritual e cultural dos seus alunos (cf. hipóteses particula-res – moral – 4).

Perante esse factor significativo, não é justo que a crença, a fé e a religião sejam rela-tivizadas e consideradas apenas como uma invenção humana para explicar a impotência do saber humano antes das descobertas feitas pela ciência. Embora a ciência tenha desvendado muitos fenómenos do universo que para o homem primitivo era um incógnito, o universo e a humanidade continuam a ser algo aberto e transcendente, que a própria ciência não consegue enxergar. Todavia, a finalidade dos valores religiosos não visa apenas o que se deve saber sobre o mundo, sobre o homem e sobre Deus, mas também em quem acreditamos e como vivemos a nossa existência aqui e agora em relação ao meio ambiente, aos outros e a Deus. Portanto, o factor religioso põe em evidência aquilo que há de mais profundo no ser humano e que o remete para uma outra dimensão, diferenciando-o de todo o resto dos seres vivos pre-sentes neste planeta.

1.1.3 Factor (3) dos valores interpessoais

Após as considerações analíticas dos factores anteriores, vamos analisar um terceiro factor que circunscreve um grupo de valores que consideramos “interpessoais” pela sua dimensão relacional entre pessoas e grupos de indivíduos que optam por conviver na amizade, na paz, no amor e na família. Os alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde são da opinião que esses valores contam muito na sua vida pessoal e são importantes para a determinação da sua existência terrena e do mundo em geral. É bom que a escola interiorize aquilo que é perti-nente e importante para os seus alunos, precisamente porque os valores acima indicados não são um mero “flactus vocis” que descreve os sentimentos imaginativos, mas realidades exis-tenciais que comprometem a pessoa do ponto de vista moral, social e familiar. Educar os alu-nos para esses valores é uma tarefa que compete, também, à escola secundária, além de outras instituições educativas e religiosas.

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Os valores interpessoais têm a sua dimensão ética, no sentido que permite uma comunicação inter-subjectiva e comunitária como base para a realização e formação da pessoa livre e responsável em relação aos outros, ao mundo e ao transcendente. Sobre essas relações e suas definições e conteúdos, falar-se-á na parte operativa deste trabalho. Por agora preferi-mos apresentar as convicções dos alunos no que se refere aos valores interpessoais, para que a escola secundária possa tomar consciência da sua responsabilidade na educação dos alunos para os valores que são fundamentais para a realização moral, que uma componente indispen-sável para a estruturação da sua personalidade. Também, a transmissão da moralidade passa necessariamente pela valorização das relações interpessoais que a escola incentiva entre os alunos e destes com a própria escola, família e sociedade. A interiorização da amizade, da paz, do amor e da família como valores para a edificação da vida humana realiza-se no pró-prio contexto moral de vida relacional e de comunhão.

Com base nessas constatações, analisamos o factor, tendo em conta alguns aspectos mais pertinentes para a vida dos alunos adolescentes que frequentam o Ensino Secundário de Cabo Verde. O factor que abarca os valores interpessoais destaca quatro variáveis que mere-cem algumas considerações de base, segundo as aspirações dos alunos em questão: amizade (.49), paz (.64), amor (.66) e família (.32). No seu conjunto, pode-se acrescentar que é um fac-tor significativo (.47), no sentido que possui a M.2.96. Entretanto, a diferença entre o sexo masculino (M.2.96) e sexo feminino (M.2.97) não é significativa (n.s). O mesmo se pode afirmar quanto aos alunos de Barlavento (M.2.96) e Sotavento (M.2.96). As faixas etárias e os alunos que já experimentaram as relações sexuais ou não, resultam também não significativas (cf. Tabs. III/a e III/b).

Tab. III/a: Análises factoriais – escala 3: sobre os valores interpessoais: (Pontuações Factoriais, Média, Índice de Fidelidade)

Variáveis Pontuações Factoriais Items analisys M = Amizade .49 2.97 Paz .64 2.97 Amor .66 2.97 Família .32 2.94

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Tab. III/a: Análises de variante – escala 3: sobre os valores interpessoais: (Idade, sexo, ilhas e relações sexuais – Nível de Significância P <.001)

Idade M. – P <.001 Sexo M. - P <.001 Ilhas M. - P <.001 Relação sexual M. – P <.001 11-14 15-16 17-21 M F Barlavento Sotavento Sim Não

2.93 2.97 2.97 2.96 2.97 2.96 2.96 2.97 2.96 Factor (3) Interpessoais: Amizade, Paz, Amor, Família n.s. n.s. n.s n.s.

O quadro apresenta o factor dos “valores interpessoais” na sua unanimidade demons-trando a importância que os alunos lhes atribuem na sua vida. Apesar de viverem num mundo sujeito a determinados conflitos relacionais, políticos, culturais, religiosos e económicos, e tocado pela profunda crise de valores existenciais que não permitem facilmente a interioriza-ção de modelos que exprimem as relações interpessoais, a aspirainterioriza-ção dos alunos em relainterioriza-ção a esse factor exige ser apoiada pelas escolas secundárias mediante uma educação que encare o futuro com optimismo e determinação para o seu desenvolvimento integral.

Portanto, a “Formação Pessoal e social” implementada pelo Ensino Secundário não ignorar os valores que foram indicados pelos alunos e que servem para a realização e o equilí-brio psico-afectivo da sua pessoa e para a sua integração comunitária e familiar. É de capital importância que a escola secundária aposte seriamente na educação dos alunos para esses valores, a fim de conseguir preveni-los dos fenómenos que poderão pôr em risco tanto o desenvolvimento moral da sua personalidade como a sua integração social e profissional mediante o seu projecto pessoal. Isso vem confirmar a hipótese geral (1) que nos foi colocada a seu tempo.

1.2 As análises dos objectivos didácticos e a sua vertente ética

Nessa perspectiva de demonstrar as hipóteses que confirmam a necessidade da mora-lidade nas escolas secundárias de Cabo Verde, somos induzidos a analisar os objectivos na planificação das actividades didácticas segundo as expectativas e exigências dos alunos. Não pretendemos analisar os conteúdos de cada disciplina em si, para sabermos o nível do conhe-cimento ético presente em cada uma, mas ver qual é o verdadeiro interesse presente no plano do estudo que os professores apresentam para a formação integral dos alunos. Nesse sentido, é compreensível que a escola necessite de um conjunto de noções ético-pedagógicas para a transmissão de conhecimentos didácticos. Essa é a razão pela qual é preciso partir das exigên-cias objectivas e reais dos alunos para a implementação das actividades didácticas não

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somen-te no sentido de instruir e de ensinar, mas também de educar e de formar o indivíduo do ponto de vista cultural, pessoal e moral.

Os objectivos preconizados pelos alunos do Ensino Secundário alvejam uma estraté-gia metodológica e busca de conteúdos capazes de responder ao vazio profundo dos adoles-centes de hoje. Perante as exigências dos alunos, a escola e seus agentes não podem permane-cer num esquema educativo pré-confeccionado, clássico e tradicional no que se refere à meto-dologia e à estratégia. Antes, é essa própria exigência de base que vão exigir da escola e dos seus professores uma profunda reciclagem e actualização no campo metodológico e estratégi-co do ensino-aprendizagem. Portanto, é papel da esestratégi-cola ajudar os alunos a superar o seu vazio existencial e os problemas sociais e culturais, mediante uma educação capaz de torná-los maturos e autónomos nas ideias, na liberdade criativa, na compreensão da história do passado e do tempo presente7 com tudo aquilo que a ciência tecnológica põe ao seu alcance para o seu crescimento. Não é bom que se esqueça que o progresso tecnológico poderá, também, contri-buir para a sua alienação se vier a faltar uma consciência crítica e moral dos bens terrestres.

Depois destas ponderações à volta da necessidade da moralidade na escola secundá-ria conforme as expectativas dos alunos, podemos fazer uma análise detalhada sobre alguns objectivos que melhor caracterizam a importância que se deve dar à implementação das acti-vidades didácticas. No entender dos estudantes adolescentes, os professores da escola secun-dária devem ter na planificação das suas disciplinas escolares os seguintes objectivos como prioritários para a formação integral do indivíduo: antes de tudo uma formação que tenha como objectivo o desenvolvimento cultural e profissional dos alunos; em segundo lugar, a formação da personalidade dos alunos em todas as suas dimensões; por fim, a formação moral e cívica que facilita a sua integração social e comunitária.

1.2.1 1º Objectivo: a formação cultural

A escola, enquanto instituição educativa, desempenha um papel específico na socie-dade, isto é, na instrução dos cidadãos, como também desenvolve um papel educativo no sen-tido que contribui para a formação integral dos alunos. Nesse sensen-tido, a instrução torna-se educativa na medida em que contribui para que o indivíduo esteja em condições de fazer esco-lhas livres e responsáveis8 para a sua auto-realização pessoal e profissional. Partindo desse

7 Cf. G.D

EIANA, La legge morale dentro di me e la virtù dei cittadini, Milano, Unicopli, 1999, p. 9.

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pressuposto, é mais fácil o enquadramento do “objectivo à volta da formação cultural” preco-nizado pelos alunos das escolas secundárias de Cabo Verde.

Conforme os dados inqueridos nas escolas secundárias, a formação cultural é um dos objectivos mais elevados, no entender dos alunos do Ensino secundário. Antes, 95% dos estu-dantes indica esse objectivo como um dos principais que deve ser contemplado no plano didáctico e atingido mediante o acto formativo e educativo. Nesse objectivo não há diferença significativa entre as faixas etárias e o sexo dos estudantes: os alunos de 11-14 anos (93,9%), de 15-16 anos (95,5%) e de 17-21 anos (96,1%); os do sexo masculino (95,3%) e sexo femi-nino (94,9). Quanto aos alunos dos dois grupos de ilhas, a percentagem coincide (95%). Veri-ficamos ainda que os alunos com dificuldade em aceitar a sua identidade sexual são os que menos apontam para esse objectivo (92,25%) conforme a Tab. IV – 1º objectivo.

A formação cultural dos alunos é um dos objectivos específicos que a escola deve atingir através dos conteúdos presentes em cada disciplina escolar. Trata-se de uma cultura formativa e sistemática que, segundo o autor acima citado, entra no âmbito do património social de cultura que permite o desenvolvimento intelectual, amadurecimento pessoal e inser-ção na vida social das pessoas9. Os conteúdos didácticos servem para o alargamento do conhecimento e dilatação do campo de experiência ou preceptivo dos alunos. Para além da finalidade de cada conteúdo disciplinar, a nova geração de estudantes exige que sejam imple-mentadas novas formas metodológicas. Ora, na perspectiva dos alunos adolescentes cabo-verdianos, a assimilação dos conteúdos didácticos depende, essencialmente, de um bom método de ensino e aprendizagem, capaz de os orientar para uma formação profissional e de fornecer uma base de cultura geral.

A exigência dos alunos é consequência do progresso científico e tecnológico que os países mais avançados lhes apresentam como modelos. Sendo Cabo Verde um país aberto ao mundo ocidental, facilmente pode ser condicionado pelos modelos externos, apesar de não possuir recursos económicos para fazer frente a certas necessidades, sobretudo, no campo da informática. Embora a escola secundária seja carente de meios modernos de informatização para facilitar o ensino e aprendizagem dos seus alunos, há que ter sempre presente o anseio dos alunos no desenrolar das actividades didácticas.

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1.2.2 2º Objectivo: a formação da personalidade

Um segundo objectivo que deve ser implementado na planificação das actividades didácticas, segundo a perspectiva dos alunos do Ensino Secundário, é a formação global da sua personalidade. Nessa óptica, o centro de interesse não é o conteúdo da matéria escolar a transmitir, mas a pessoa do aluno que deve ser formada e educada na sua globalidade. Portan-to, a planificação das actividades didácticas pressupõe que a escola e os seus professores se esforcem por assimilar os requisitos necessários que ajudem a compreender o campo percep-tivo dos alunos, isto é, o seu mundo interior e tudo aquilo que os rodeia exteriormente. E para que a formação da personalidade do aluno encontre resposta no plano das actividades didácti-cas, é importante que a escola e seus professores tenham em consideração o mundo vital dos alunos que abarca um conjunto de noções sociais, culturais e políticas: problemas sociais, novos valores, direitos humanos, convivência democrática, emergência de novas culturas, desenvolvimento económico e técnico, paz, tolerância etc.10. Desde que tudo seja valorizado e apresentado com critérios ético-sociais para o equilíbrio da personalidade do aluno.

São situações que dum modo ou doutro contribuam para a formação integral dos alu-nos no acto educativo. Todavia, essas situações pressupõem que haja um discernimento moral sobre o modo de enfrentar e assimilar aquilo que o mundo exterior propõe para a formação da personalidade dos alunos, precisamente porque a sociedade pós-moderna está apostando cada vez mais num relativismo cultural que põe em questão certos valores e critérios morais que gozam de uma estabilidade perene. Face ao pluralismo cultural (raças, etnias, crenças religio-sas) e ao evento da democracia (partidos políticos, movimentos, associações e organizações sociais) a escola secundária de Cabo Verde ressente de um forte relativismo ético no plano curricular. Isso confunde-se, muitas vezes, com o relativismo cultural que prevalece no plano pedagógico e didáctico. Daí a necessidade de uma reflexão ética sobre as disciplinas escolares e de um plano curricular que contemple as linhas de orientação moral em prol da formação da personalidade dos alunos.

Na realidade, as escolas secundárias cabo-verdianas carecem de um código de con-dutas morais, que poderia permitir um discernimento de vida moral e que facilitaria o amadu-recimento de carácter dos alunos. A causa dessa falta de código de condutas nas escolas é interpretada pelo R. Marques, como uma espécie de reflexo da ditadura instalada na metrópo-le e nas colónias no tempo do regime de Salazar. Recorrer às metrópo-leis de condutas significa, no pensamento dos políticos liberais, aprovar a ditadura nas escolas11. Todavia, a falta de

10 Idem., p. 40 11 Cf. R.M

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rios morais no interior dos estabelecimentos do Ensino Secundário faz com que haja mais indisciplinas, agressões físicas, desrespeito mútuo entre professores e alunos. São factos que acontecem em todas as escolas secundárias de Cabo Verde. É por essa razão que continuamos a insistir na necessidade da moralidade nessas escolas.

É, pois, urgente que haja nas escolas uma disciplina para a educação moral e que se ocupe da formação do carácter e da personalidade dos alunos e da imagem da escola enquanto expressão moral de uma sociedade que garanta ordem, disciplina, tolerância e paz para o bem-estar de cada cidadão. É nessa perspectiva que 59,7% dos alunos concordam que a planifica-ção das actividades didácticas deve contemplar, como objectivo prioritário, a formaplanifica-ção da personalidade e do carácter e deve ser capaz de proporcionar aos alunos uma adequada aqui-sição de habilidades para a sua autoformação.

Mais do que uma simples recomendação, o sistema do Ensino Secundário é interpe-lado a rever o plano curricular de Formação Pessoal e Social no que tange à formação moral dos alunos. De facto, todas as faixas etárias, 11-14 anos (61,8%), 15-16 anos (60,3%) e 17-21 anos (57,7%) estão unanimemente de acordo com esse objectivo. Assim também, os géneros não se diferenciam nessa expectativa: rapazes (59%) e meninas (60%). Embora a diferença não seja tanto significativa, nota-se que a percentagem dos alunos do Sotavento (62.7%) é um pouco mais do que os de Barlavento (57%). Entre os alunos que aceitam ou não a sua identi-dade psico-sexual, os dados indicam que os alunos com dificulidenti-dade em aceitar o seu sexo (65.2%) são mais elevados do que os que aceitam com normalidade (58,9%). Isso revela uma necessidade implícita de apoio à formação da sua personalidade, sobretudo, no que tange à sua vivência sexual (Tab. IV – 2º Objectivo) como condição necessária para o seu equilíbrio moral.

1.2.3 3º Objectivo: a formação moral – cívica

A formação da consciência moral e cívica dos estudantes adolescentes do Ensino Secundário é, também, um objectivo que a escola e os professores devem ter presente na pla-nificação das actividades didácticas. Como já foi realçado anteriormente, o acto educativo visa a formação do indivíduo na sua totalidade e, por conseguinte, os que trabalham na forma-ção da consciência moral devem compreender a sensibilidade e a percepforma-ção dos alunos sobre aquilo que é bem e é mal, a importância que atribuem aos valores na sua dimensão objectiva e o modo como assumem a responsabilidade dos seus comportamentos. É importante que os conteúdos didácticos tenham em conta esses elementos, de modo que possam contribuir para

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ajudar e apoiar os alunos a ter uma consciência correcta daquilo que é bom e mau, isto é, a sua implicação no processo moral como sujeito do seu agir livre e responsável12. Nesse sentido a escola poderá contribuir, também, para a formação cívica dos alunos, enquanto cidadãos acti-vos na sociedade.

A manifestação dessa expectativa dos alunos no plano didáctico comprova que há uma carência de propostas concretas no seio das escolas secundárias, que definam a implica-ção e a inserimplica-ção dos alunos na vida cívica do país, enquanto indivíduos em fase de crescimen-to. Apesar dessa falta, não é justo que se faça da juventude apenas uma instrumentalização de acções políticas como aconteceu na época colonial, em que havia o grupo de MJP (Mocidade de juventude Portuguesa), e no período de ditadura do partido único OPADCV (organização dos pioneiros – crianças – do Abel Djasy de Cabo Verde) e JACCV (Juventude de Amílcar Cabral de Cabo Verde). Esses modelos reflectiam uma doutrina ideológica que ia contra o espírito democrático. Essa tendência continua bastante presente no seio dos partidos políticos, como é o caso do JPD (Juventude para Democracia), filiada ao MPD (Movimento para Democracia), e JPAI (Juventude do Partido Africano da Independência), filiada por sua vez noao PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde).

A implementação de uma educação à cidadania no seio da escola cabo-verdiana é mais do que uma necessidade actual. Não basta que essa ideia seja referida, de forma genéri-ca, nos programas curriculares, é urgente que se faça um programa específico de conteúdos, metodologias e estratégias de orientação e educação dos estudantes adolescentes para a cida-dania democrática13, e que no acto educativo se crie espaço para que haja maior convivência democrática na vida escolar, como condições para que haja uma educação cívica no tempo actual, marcado pela globalização e pela interdependência. Portanto, a escola é interpelada a colaborar para que os alunos tenham uma consciência aberta sobre novas perspectivas do que significa ser cidadão hoje, que, Segundo C. Nanni, equivale a dizer cidadão da própria cidade, do próprio país, do próprio continente, da sociedade internacional, do mundo, e para quem acredita, porque não, da cidade celeste14.

Dos alunos que foram entrevistados, aparece uma percentagem significativa (44.8%) que exige que a formação moral-cívica dos alunos seja um dos objectivos preconizados na planificação das actividades didácticas. Nessa perspectiva, os alunos da fase inicial da adoles-cência, 11-14 anos (52,2%), manifestam a exigência desse objectivo nas actividades escolares mais do que as outras duas fases, média, 15-16 anos (42,2%) e final, 17-21 anos (41,4%). Há

12

Cf. M. VIDAL, Para conhecer a ética cristã…, p. 58.

13 Cf. A. M. FONSECA, Educar para a cidadania. Motivações, princípios e metodologias, Porto, Porto Editora,

2001, p.41.

14 C.N

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uma concordância relativa entre os géneros, masculino (46,8%) e feminino (43,9%); entre os das ilhas de Barlavento (44,7%) e Sotavento (45,1%); também, não há nenhuma diferença entre os que aceitam (44,9%) e não aceitam (44,7%) a sua dimensão sexual (Tab. IV – 3º Objectivo).

Tab. IV: As análises dos objectivos que devem ser contemplados na planificação das actividades didácticas: segundo sexo, idade, ilhas e gosto do próprio sexo (em %)

1º Objectivo 2º Objectivo 3º Objectivo Total % Formação Cultural Formação Personalidade Formação Moral-cívica Total: 95,0 59,7 44,8 Masculino 95,3 59,0 46,8 Sexo: Feminino 94,9 60,0 43,9 11-14 93,9 61,8 52,2 15-16 95,5 60,3 42,2 Idade: 17-21 96,1 57,7 41,4 Barlavento 95,0 57,0 44,7 Grupo de ilhas Sotavento 95,0 62,7 45,1 Sim 95,4 58,9 44,9

Gosto do meu sexo

Não 92,2 65,2 44,7

Esta concordância à volta desse objectivo demonstra, claramente, que os alunos exi-gem da escola e dos seus professores uma formação da consciência moral e cívica. Essa necessidade comprova a hipótese de que, muitas vezes, nota-se nos professores e nas entida-des públicas pouca afeição às manifestações religiosas, património cultural, símbolos da Nação e vivência segundo os princípios da moralidade (cf. o nível moral, 7b). E não se trata de mera exigência, mas de uma necessidade que a escola deve sentir como um modo explícito de ajudar os alunos a enfrentar a falta de civismo na própria escola e na sociedade em geral, a ter uma maior consciência de pertença à nação, e a valorizar a própria cultura como expressão da sua identidade social. Para isso, é necessário que os professores cultivem mais afeição em relação ao património nacional, cultural e religioso e manifestem maior sentido de vivência moral em relação aos seus alunos que, ainda, estão em fase de crescimento.

A formação da consciência moral-cívica da nova geração é uma tarefa educativa que interpela a escola e seus professores a construírem novas inteligências, novos valores, e novas responsabilidades individuais enraizados na igualdade e solidariedade, na sensibilidade demo-crática e inculturalidade, na luta contra exploração, alienação e subordinação de classe, no

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espírito público e sentido de estado, no respeito para com a natureza e o desenvolvimento do ecossistema (ecologia)15. São princípios cívicos que facilitam os alunos, quer na estruturação de uma nova mentalidade face aos problemas que afectam a sociedade, a humanidade e a natureza, quer na orientação dos seus comportamentos morais para uma sã convivência comunitária e social.

1.3 As análises das carências no sector do Ensino Secundário

Um estudo do sistema do Ensino Secundário no que toca à transmissão da moralida-de, impele-nos a analisar o nível de grupos de carências existentes no desenrolar da praxis educativa, conforme as posições indicadas pelos alunos adolescentes cabo-verdianos. Trata-se não somente de fazer uma reflexão crítica sobre o índice da pobreza de recursos materiais vigentes no território nacional que afecta esse sector, mas também demonstrar que a falta de moralidade, muitas vezes, é o efeito de um conjunto de carências de ordem material, pessoal e relacional. A transmissão da moralidade não se faz, simplesmente, comunicando aos alunos noções sobre os princípios éticos e valorativos, mas sim mediante a consciencialização da necessidade de um desempenho colectivo na luta contra as carências, de vária ordem, presen-tes nas escolas secundárias.

Fala-se muito de carências de recurso materiais no País e menos de outras que duma forma consciente ou inconscientemente perturba, em parte, o processamento da acção educa-tiva dos alunos. Ora, para que a escola possa desempenhar o seu papel educativo e com mora-lidade, é importante que o sistema do Ensino Secundário tome em análise os grupos de ele-mentos carentes que poderão estar na origem de certos comportaele-mentos, atitudes e desmoti-vações dos alunos em relação à escola e ao sistema do ensino e aprendizagem. Na realização de uma análise dessa envergadura é necessário que o sistema escolar tenha apoio de instru-mentos diagnósticos de matriz psicológica e sociológica. De facto, a indiferença em relação aos factos psicológicos que acontecem no âmbito do espaço escolar pode colocar o aluno, facilmente, no risco de insucesso escolar16. Só a partir do conhecimento objectivo das carên-cias se poderá compreender a intencionalidade dos comportamentos, das atitudes e motiva-ções dos estudantes que frequentam os estabelecimentos do ensino, e permitirá uma interven-ção pedagógica e educativa com sentido ético-moral.

15 Cf. G.D

EIANA, La legge morale dentro di me e la virtù dei cittadini, Milano, Unicopli, 1999, p. 10

16 Cf. G.C

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Pelos dados apurados, estaremos em condições de fazer realçar, segundo as posições objectivas dos alunos, um conjunto de grupos de carências presentes na praxis educativa do sistema do Ensino Secundário e, mais concretamente, nas escolas secundárias cabo-verdianas. Portanto, a falta de subsídios didácticos, o fraco envolvimento e autoridade moral dos profes-sores, a carência de pessoal especializado no seio dos estabelecimentos e pouca interacção da escola com o ambiente externo (outras instituições educativas e sociedade civil) são elemen-tos que merecem muita atenção no acto educativo e exigem uma reflexão do ponto de vista moral.

1.3.1 1º Grupo: A falta de subsídios didácticos e repercussão moral

Os subsídios didácticos e os meios tecnológicos para implementação e reforço do ensino e aprendizagem dos alunos continuam ser indispensáveis, não obstante o surgimento de novas modalidades transmitidas pelos meios de comunicação de massa. Antes, são consi-derados mais eficazes na medida em que instauram as operações intelectuais, tais como, a concentração, a memorização, a aplicação das regras, o acto de descriminar, generalizar e pôr em relação as partes com o todo17. Entretanto, no caso de Cabo Verde, a falta de subsídios didácticos e de meios tecnológicos para a viabilidade do ensino-aprendizagem continua a ser uma realidade preocupante. Além da falta dos meios materiais, acrescentamos ainda outras carências ligadas ao envolvimento dos alunos na vida da escola, assim como é fácil de consta-tar que não há uma estreita relação da escola secundária de formação técnica com o trabalho produtivo.

Esse conjunto de deficiência é comprovado unanimemente pela maioria dos estudan-tes do Ensino Secundário (83,7%). A percentagem dos alunos mais crescidos e com mais exi-gência no estudo, isto é, os da faixa etária de 17-21 anos (87%), é um pouco mais elevada do que os de 11-14 anos (81,3%) e de 15-16 anos (82,4%). Para os alunos, segundo a posição profissional dos pais, nota-se uma diferença percentual bastante relativa no sentido de que 87,2% dos que tem pais com um nível económico médio é um pouco mais do que os outros de nível alto (83,3%) e baixo (80,7%). Sendo uma situação que mexe bastante com a sensibilida-de e o estado emocional do indivíduo, não é sensibilida-despropositado confrontar os dados em relação à vivência e crença dos alunos. De facto, 84,3% dos alunos que apontam para essa carência gos-tam de ver filmes violentos em relação a 83,4% que não gosgos-tam de esse tipo de filmes; verifi-camos ainda que 88,1% dos estudantes que indicam essa deficiência são indiferentes ou ateus,

17 Cf. S. B

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ao passo que os que se declaram crentes são 81,3%, e os que estão à procura da fé 82,1% (cf. Tab. V – 1º Grupo).

Uma abordagem empírica do ensino e aprendizagem dos alunos adolescentes cabo-verdianos apresenta uma situação bastante fragilizada no que se refere aos recursos materiais para assimilação de conhecimentos na sua generalidade. A carência de materiais didácticos depende de dois factores que comprovam as hipóteses preconcebidas (cf. hipóteses a nível profissional, 3). Antes de tudo, essa carência é devido ao facto de que o sistema do ensino curricular não contribui para que haja livros e manuais segundo as disciplinas e conteúdos programados pelo mesmo sistema; em segundo lugar, deve-se aos limites do poder de com-pra, já que os pais têm um salário relativamente baixo para satisfazer as exigências dos filhos que vão à busca constante de outros utensílios e fotocópias de conteúdos administrados ao longo das aulas.

A carência de material e de outras modalidades de actividades para o envolvimento dos estudantes no seu percurso formativo poderá gerar neles um certo mal-estar. Os alunos com um índice elevado de pobreza encontram mais dificuldade de acesso aos materiais esco-lares. Trata-se de uma situação bastante constrangedora que põe em causa o percurso formati-vo de muitos estudantes cabo-verdianos. Tendo em conta essa falta de livros e manuais de estudo, é urgente que cada escola se apetreche de uma biblioteca para que os alunos mais carenciados e não só, possam no sentido cultivar o hábito de leitura e pesquisa para a sua autoformação. Além disso, cada professor deve diligenciar de sentido de colocar nas mãos dos seus alunos todos os meios necessários para a sua formação. Não há dúvida que um estudo acompanhado e guiado pelos professores não só torna os alunos competentes do ponto de vis-ta intelectual, como vis-também, leva-os a cultivar a consciência de a escola é um instrumento essencial para a estruturação da sua personalidade. Interiorizando a ideia de que a escola é um bem, o aluno acabará por compreendê-la como um valor social que merece ser preservado e querido para o desenvolvimento da humanidade toda. Embora haja deficiência de recursos materiais, a escola secundária deve envidar todo o esforço necessário para cultivar uma ima-gem de quem se ocupa com a identidade intelectual de todo o seu pessoal como suporte moral para a prevenção dos problemas que afectam sobretudo a camada estudantil.

1.3.2 2º Grupo: O fraco envolvimento e autoridade moral dos professores

A análise da condição juvenil do tempo actual mostra a implicância de um maior envolvimento das instituições educativas e seus agentes para uma melhor definição dos

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parâ-metros, com metodologia e estratégia apropriados, para um acolhimento efectivo e uma ins-trução-educação capaz de responder às necessidades e exigências dos adolescentes que, mui-tas vezes, vivem no anonimato, na incerteza e na solidão de um cidadão global, como é des-crito no livro de Z. Bauman18. Não é descabido afirmar que a condição problemática dos estu-dantes adolescentes das escolas secundárias de Cabo Verde e da juventude em geral, é uma interpelação útil e necessária aos professores e pais no sentido de se actualizarem com novos conhecimentos pedagógicos, buscarem reforços sociológicos e psicológicos e terem tempera-mento, carácter e postura moral para enfrentar os problemas dos filhos e alunos nesta nova conjuntura social. Na opinião G. Deiana, a condição actual da nova geração chama em causa a responsabilidade cultural e social dos docentes que operam na escola e a sua capacidade de elaborar propostas prioritárias e eficazes, e críticas inovadoras19 capazes de enfrentar os pro-blemas com moralidade e determinação.

A situação actual do mundo juvenil ou estudantil é um desafio aos professores evi-dencia a necessidade de uma abordagem na escola secundária, para a recolha de alguns dados sobre a opinião dos alunos no que tange ao envolvimento e à autoridade moral dos professores nas escolas secundárias. Na verdade, o aparecimento de situações conflituosas entre professo-res e alunos não só espelha a crise de relações inter-gerações, mas, também, é expprofesso-ressão de perda de autoridade moral do próprio professor em relação ao aluno. Não basta afirmar essas e outras situações, mas é necessário encontrar as razões profundas que explicam essa falta de moralidade no seio das escolas secundárias.

Antes de tudo, é bom que se saiba a forma como os alunos encaram a condição do professor quer em relação à escola e aos alunos quer em relação à disciplina que ensina. É alarmante a percentagem de alunos que descrevem as carências problemáticas que afectam a figura do professor na escola secundária de Cabo Verde. De facto, 86,5% dos alunos são da opinião que o professor tem falta de reciclagem formativa para uma melhor actualização dos conteúdos da disciplina que ensina, de uma renovação de metodologia e de uma estratégia mais acessível aos alunos; que o professor é pouco envolvido na participação e resolução dos problemas que afectam os estudantes e a própria escola em si, devido, também, à falta de uma participação democrática na eleição do corpo dirigente da escola; que existem relações confli-tuosas entre o professor e alunos, precisamente porque tem-se verificado muita cumplicidade de natureza afectiva, isto é, situações de namoro entre professores e alunos.

18 Cf. Z. BAUMAN, La solitudine del cittadino, Milano, Feltrinelli, 2000.

19 Cf. G. DEIANA, Insegnare l’etica pubblica. La cultura e l’educazione alla cittadinanza: una sfida per la

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Perante estas situações, podemos apresentar os dados que indicam a opinião dos alu-nos em relação às situações que envolvem os professores do Ensino Secundário. Nota-se que há uma percentagem mais elevada entre os alunos na fase inicial da adolescência, 11-14 anos, 90,4%, em relação à faixa etária de 15-16 anos (85,9%) e de 17-21 anos (83,7%). Os alunos de pais com profissão alta (88,7%) aparecem um pouco mais elevados nessas declarações do que os de profissão média (84,5%) e baixa (86,2%). Embora não se diferenciem muito, os dados indicam que os alunos que gostam de ver filmes violentos (87,4%), são mais inclinados a afirmar essas situações do que os que não gostam (85,7%). Os mesmos dados indicam que os crentes e praticantes são menos propensos nessas afirmações dos que andam à procura da fé (90,1%), ou são indiferentes e ateus, (87,2%, conforme se vê na Tab. V - 2º Grupo.

É a partir dessa percepção dos alunos que estaremos em condições de compreender a visibilidade e a credibilidade do professor como autoridade moral presente na sociedade. As situações acima indicadas mostram claramente que a autoridade moral do professor e do pró-prio sistema educativo cabo-verdiano está em causa. Convém sublinhar que a figura do pro-fessor deve ser, sempre, o reflexo visível da instituição e a configuração moral da disciplina que transmite aos alunos. É urgente que o sistema educativo resgate a figura moral do profes-sor para que a escola possa encontrar a sua autoridade moral, para que o seu ensinamento não seja uma imposição, mas sim uma transmissão de valores e princípios éticos que devem nor-tear o comportamento e as atitudes dos estudantes.

Este panorama de condição escolar, revela que é urgente que haja na sociedade cabo-verdiana uma política educativa que torne a escola secundária mais autónoma e coloque no centro de atenção a ética da profissão do professor. Certo é que os alunos precisam mais de admirar a qualidade moral do professor do que a exposição inteligente da sua disciplina. Antes, é a postura moral do professor que convence os alunos sobre a importância dos valores éticos e motiva os alunos a desempenharem as suas tarefas com liberdade e responsabilidade moral e social.

O conflito relacional entre os alunos e entre estes e os professores no seio das escolas secundárias do País é um fenómeno cada vez mais extenso. Além da recuperação da persona-lidade do professor como autoridade moral, é urgente encontrar modapersona-lidades para travar esse tipo de situação. Quanto à forma de amainar os problemas que afectam o professor no seu relacionamento com a instituição escolar e com os estudantes, G. Deiana diz que é possível inventar uma escola laboratório de ideias e programas de estudo, que experimente o alarga-mento da participação do pessoal na realização das metas gerais e particulares, e na reforma e

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da democracia escolar, com particular referência à relação entre professores e alunos20. Mais do que isso, são problemas que reflectem a necessidade de um código moral de condutas nas escolas e de educação cívica. Portanto, a política educativa do Estado cabo-verdiano não pode eximir-se da urgência de uma educação cívica e moral nas escolas secundárias. No dizer do R. Marques, fica patente que «na ausência de uma cultura cívica na escola, é completamente impossível qualquer esforço de educação cívica, por mais disciplinas e espaços interdiscipli-nares que se criem, pela simples razão de que o clima moral da escola é o principal factor de promoção e desenvolvimento moral»21.

1.3.3 3º Grupo: A carência de pessoal especializado

Se partirmos das carências verificadas no seio das escolas secundárias de Cabo Ver-de, é mais fácil demonstrar a necessidade de uma educação moral e cívica capaz de apoiar e orientar os alunos no seu comportamento, nas suas atitudes e na assimilação de novos conhe-cimentos. Isso, certamente, não dispensaria a presença de uma equipa psico-pedagógica fina-lizada a orientar os alunos no discernimento vocacional e profissional durante o seu percurso escolar. A necessidade de pessoal especializado no seio dos estabelecimentos (pedagogos, assistente social, psicólogo, médico de cínica geral) deve ser vista em função da educação integral dos alunos, porque a escola não pode exigir que o professor tenha receitas para todo o tipo de problemas que aparecem durante a praxis educativa. É a própria conjuntura social, económica, política e ambiental que exige esse enquadramento no sistema educativo capaz de tornar a escola um espaço mais eficiente na formação e na educação do aluno que será um verdadeiro recurso para o desenvolvimento social, cultural e económico do País. Para que o enquadramento de um corpo de pessoal especializado nos estabelecimentos do Ensino Secun-dário seja factível, é necessário que haja maior interesse e intervenção do Ministério da Edu-cação no que se refere à prevenção e orientação moral, psicológica e social dos alunos.

Conforme os dados 75,7% dos alunos são da opinião que falta nas escolas secundá-rias do País uma equipa de pessoal especializado e há pouco interesse directo do Ministério da Educação em relação à formação integral dos alunos. Essa necessidade é mais sentida pelos alunos de 17-21 anos (82,3%), que se encontram numa posição de maior expectativa, do que os em relação os de 11-14 anos (70,6%) e de 15-16 anos (74,2%). A percentagem dos alunos de pais com profissão alta (79,4%) é um pouco mais do que os de profissão média (77,3%) e baixa (71,9%). Essa exigência é ainda mais elevada entre os alunos que gostam de ver filmes

20 Idem., p. 68. 21 R.M

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violentos (76,8%) do que entre os que não gostam (74,8%). E os alunos que, do ponto de vista religioso, se consideram indiferentes e ateus (79,1%), são mais elevados nessa afirmação do que os que se acham crentes e praticantes (74,3%), e que estão à procura da fé (76,5%), con-forme Tab. V – 3º Grupo.

Segundo a nossa observação in loco, algumas escolas secundárias contam com a pre-sença de um psicólogo e de um professor que faz as vezes do assistente social. Isso é já um indício de que a hipótese (cf. nível de formação profissional – 3a) confirma a necessidade de uma estrutura organizada, isto é, de um consultório psico-pedagógico no interior de todas as escolas secundárias do País, porque o posicionamento dos alunos em relação a essa carência manifesta, também, essa deficiência no próprio Sistema Educativo vigente em Cabo Verde. A figura de uma equipa psico-pedagógica com pessoas especializadas ajudaria o corpo docente e todo o pessoal da escola na resolução de problemas ligados à saúde psico-física, aos conflitos entre os alunos e entre estes e o professor, e contribuiria para a integração familiar e inserção social dos alunos, assim como para a orientação dos alunos à vida futura mediante uma pro-fissão e um projecto de vida vocacional.

Entre as muitas outras funções que a equipa psico-pedagógica poderá desempenhar no seio do estabelecimento escolar, realçamos, neste momento, apenas uma que está em con-sonância com o assunto e que é a base de solução de todos os problemas à volta da condição juvenil: a negociação de conflitos entre os alunos e destes com os professores e pais. Segundo M. Comoglio, o facto de habilitar os estudantes de estratégias comunicativas de soluções positivas dos conflitos tem muitas vantagens: poderá contribuir para melhorar a qualidade de relações interpessoais no sistema de vida de relação sempre caótica e exigente, mas também permitirá descobrir os valores gratificantes da diversidade, os quais são percebidos como oca-sião para se conhecer e conhecer o outro22. É nessa linha de comunicação e de diálogo que se poderá estabelecer um verdadeiro modelo de inter-ajuda capaz de criar um clima moral na escola secundária do País.

1.3.4 4º Grupo: A falta de interacção da escola com o ambiente externo

A escola, em geral, é vista como uma comunidade educativa e didáctica constituída de elementos estruturais e pessoais e com a sua dinâmica interna que lhe permite funcionar conforme as suas finalidades e seus objectivos. Segundo C. Nanni, ela está sujeita e ao mesmo

22 Cf. M.C

OMOGLIO, Educare insegnando. Aprendere ad aplicare il cooperative learning, Roma, Las, 1999, p. 345.

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