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Experiências para a Formação Continuada de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais

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Experiências para a Formação Continuada de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais

Monike Cristina Silva Bertucci Maria do Carmo de Sousa

Resumo

Diante da complexidade da profissão docente e da necessidade constante de estudo, surge a formação continuada de professores conforme indicam os estudos de Nóvoa (1992, 2002), Candau (1996), Nacarato (2000), Passos et al (2006) e Fiorentini (2008). Considerando esse contexto, foi desenvolvida uma pesquisa de mestrado com o objetivo de investigar as experiências de formação continuada vivenciadas pelos professores de uma escola pública no interior do estado de São Paulo. A metodologia utilizada foi o estudo de caso. Os resultados apontam que o trabalho e estudo em grupo permeado pelo compartilhamento de experiências na escola potencializam o desenvolvimento profissional dos professores e contribuem para o atendimento das necessidades locais em relação ao ensino da matemática nos anos iniciais. Estes resultados indicam que a escola pode ser também, um local de formação continuada para os professores, principalmente aos que ensinam Matemática nos anos iniciais.

Palavras-chave: formação continuada de professores, anos iniciais, matemática.

Abstract

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Experiences for Continuing Education Teachers who teach mathematics in the elementary school

Given the complexity of the teaching profession and the continuing need to study, the teacher continued as studies indicate Nóvoa (1992, 2002), Candau (1996), Nacarato (2000), Passos et al (2006) and Fiorentini ( 2008). Given this context, we developed a research aiming to investigate the experiences of continuing education by experienced teachers in a public school within the state of Sao Paulo. The methodology used was case study. The results indicate that work and study in groups permeated by sharing experiences in school potentiate the professional development of teachers and contribute to meeting local needs in relation to the teaching of mathematics in the early years. These results indicate that the school may also be a place of continuing education for teachers, especially those who teach mathematics in the elementary school.

Keywords: continuing education, elementary school, mathematics.

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Introdução

No presente texto serão discutidos os resultados da pesquisa de mestrado desenvolvida pela primeira autora, sob orientação da segunda autora, na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo – FAPESP.

A pesquisa desenvolvida mediante um estudo de caso investigou as experiências de formação continuada realizadas por um grupo de professores dos anos iniciais sobre o ensino de matemática na própria escola em que trabalham. Entre elas destacam-se o grupo de estudos durante as Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo – HTPCs e o campeonato de matemática.

A experiência de formação continuada na área do ensino de matemática iniciou-se com o retorno de uma das professoras da escola à universidade, no ano de 2006, em busca de apoio e solução para suas inquietações em relação ao ensino da matemática nas séries iniciais.

Esse foi o início do estabelecimento de parceria com professores de matemática e pesquisadores da universidade que, foram à escola ouvir os professores e suas necessidades e junto com eles, estabelecer as demandas e formas de estudo.

Os professores optaram pelo estudo em grupo com a presença de um professor de matemática para refletir sobre suas práticas docentes, estudar a matemática envolvida no processo de ensino e de aprendizagem na escola e desenvolver, com os alunos, atividades planejadas em conjunto e posteriormente analisadas pelos professores durante os encontros do grupo de estudo.

Importante frisar que, o grupo de estudos acontecia na escola, durante a jornada de trabalho dos professores, dentro das Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo – HTPC, que é um espaço na jornada de trabalho destinado à “reuniões e outras atividades pedagógicas e de estudo, de caráter coletivo, organizadas pelo estabelecimento de ensino, bem como para atendimento a pais de alunos” (SÃO PAULO, LEI 836/97, Art. 13).

Ressalta-se ainda que, não é comum, um grupo de professores dos anos iniciais, com formação na área de Ciências Humanas (Pedagogia ou Magistério) se reunirem para estudos na área do Ensino de Matemática, pois de acordo com Carvalho (1994) estes professores possuem a concepção de que a Matemática é uma ciência pronta e fechada somente acessível aos mais inteligentes; e desgostam da área de exatas, o que corrobora a opção pelos cursos de Magistério e Pedagogia.

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Pode-se dizer que o grupo de estudos se aproxima do modelo construtivo de formação continuada de professores estudado por Nóvoa (1992), Candau (1996) e outros pesquisadores desde a década de 1990, porque os estudos na escola envolveram o compartilhamento de saberes e experiências, além de leituras, desenvolvimento de atividades e reflexão em grupo sobre as mesmas, valorizando o aprendizado na e pela prática docente, tornando os professores sujeitos da própria formação.

No início de 2008, o grupo não pôde mais contar com a participação da professora de matemática e ficou sem o Professor Coordenador Pedagógico – PCP. Dessa maneira, os estudos em grupo sobre o ensino de matemática perderam espaço. Durante o segundo semestre a escola pode contar novamente com uma professora para a função de PCP, que procurou instigar o grupo a estudar, discutir, compartilhar e refletir sobre o ensino de matemática ao propor o Campeonato de Matemática.

Esta prática foi uma das formas encontradas pela PCP de continuar a estudar sobre o ensino de matemática na escola e a desenvolver atividades planejadas e analisadas em conjunto pelos professores.

Alguns olhares para a formação continuada de professores

Em 1996, Candau, já fazia referências aos estudos de Nóvoa e elaborava suas teses sobre outros modelos de formação de professores em oposição ao modelo clássico baseado na racionalidade técnica. Sustentava que a escola é local de formação; defendia a valorização do saber docente e a consideração das necessidades específicas de cada etapa do desenvolvimento profissional. A autora procurava assim, “repensar a formação continuada de professores e adequá-la aos desafios de nosso momento.” (CANDAU, 1996, p.143).

Candau compreendia que a escola pode ser considerada local de formação porque em seu cotidiano, o professor aprende, desaprende, reestrutura o aprendido, vai se aperfeiçoando e se desenvolvendo. Acreditava que oferecendo espaço e tempo para a reflexão coletiva favorecerá as intervenções na prática pedagógica pela socialização dos professores. Esse termo é adotado neste artigo como “compartilhamento de experiências e saberes”. Mas a autora alerta “não é o simples fato de estar na escola e de desenvolver uma prática escolar concreta que garante a presença de condições mobilizadoras de um processo formativo.” (CANDAU, 1996, p.144).

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Em 2008, Fiorentini reafirma a idéia de modelo construtivo Nóvoa (2002, apud Fiorentini 2008) como alternativa para a formação de professores, entendendo-o como

[...] um processo contínuo de reflexão interativa e contextualizada sobre as práticas pedagógicas e docentes, articulando teoria e prática, formadores e formando. Implica uma relação de parceria entre formadores e formandos, os quais podem interagir colaborativamente, sendo co-responsáveis pela resolução de problemas e desafios da prática e pela produção conjunta de saberes relativos às práticas educativas. É comum nesse processo de formação continuada a formação de grupos de estudo [...](FIORENTINI, 2008, p.60).

Pesquisas como as de Fiorentini e Nacarato (2005) verificaram que a maioria dos professores procura uma atualização permanente participando de palestras, cursos, oficinas, congressos e seminários porque são conscientes dos compromissos da profissão docente e buscam caminhos para melhorá-la, e junto com ela a qualidade da educação. Ao mesmo tempo, os professores que participam da elaboração das propostas de mudanças curriculares, tendem a aceitá-las e implementá-las em suas práticas na escola.

Reforçando estas idéias, Imbernón (2006), defende a contextualização do desenvolvimento profissional docente de maneira que as pesquisas na escola sejam feitas com os professores sobre suas práticas e formação e não apenas sobre os professores, suas práticas e formação.

Ressalta-se que a parceria entre professores e pesquisadores tem sido apontada como uma forma de aproximar a teoria da prática e favorecer estudos e reflexões para conhecer as concepções, saberes, conteúdos e sujeitos do processo educativo em busca de melhorias. Esses aspectos têm sua importância reconhecida por Fiorentini et al (1998, p. 322) ao escreverem “o saber não é isolado, ele é partilhado e transforma-se, modifica-se a partir da troca de experiência e da reflexão coletiva com ou outros.”

Além das parcerias, os momentos em grupo permitem a re-significação de saberes e práticas. Nesse contexto, o grupo se torna importante como espaço de questionamentos, apresentação de dúvidas, debates, reflexões e busca ou tentativas de construção de respostas, empreendendo maior segurança ao professor no desenvolvimento de suas práticas em sala de aula.

[...] o fato de existir o grupo dentro da própria escola, e com reuniões freqüentes, dá às professoras soluções rápidas aos dilemas que surgem,

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possibilitando que não haja interrupções no desenvolvimento das atividades com as crianças (NACARATO, 2000, p. 285).

Quando ajudado pelo grupo, as reflexões do professor ganham sentido e se expandem, como afirma a autora: “O saber experiencial e pedagógico possibilita a produção de saberes e o grupo possibilita a aquisição de uma multiplicidade de caminhos para o trabalho de sala de aula”

(NACARATO, 2000, p.285). Esta autora entende que a prática possui uma complexidade e se realiza entre o ideal e o possível.

Concordando com os autores apresentados, entende-se que a realização da formação continuada como processo contínuo de reflexão sobre a prática e de compartilhamento de saberes e experiências na própria escola em que lecionam os professores pode contribuir para seu desenvolvimento profissional.

A construção do material empírico e as categorias de análise

O material empírico da pesquisa de mestrado foi construído a partir do s instrumentos utilizados no trabalho de campo: questionário com perguntas abertas e fechadas, narrativas escritas pelos profissionais da escola, entrevista semi-estruturada audiogravada e o registro no diário de campo da pesquisadora. Todo o material foi digitalizado pela pesquisadora e conferido por casa profissional.

A análise do material empírico foi realizada a partir de um processo de leitura, releitura e atribuição de significado aos dados construídos para a constituição de duas categorias de análise, conforme mostra a figura 1:

Figura 1 – Categorias de Análise.

1.PRÁTICAS DE FORMAÇÃO

DOCENTE

2.INFLUÊNCIAS DAS

POLÍTICAS PÚBLICAS

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(Fonte: Bertucci, M. C. S., UFSCar, 2009 )

Estas categorias foram analisadas em três momentos: o cenário (movimento dos profissionais na escola); os cursos de habilitação profissional (formação inicial) e as ações desenvolvidas pelos profissionais da escola (formação continuada) como ilustrado na figura 2:

Figura 2 – Inbricação das categorias nos momentos de análise.

(Fonte: Bertucci, M. C. S., UFSCar, 2009 )

A discussão deste artigo centrar-se-á na interrelação da primeira categoria de análise – Práticas de formação docente – e do terceiro momento – ações desenvolvidas pelos profissionais da escola.

Discussão dos dados

1. O cenário

Neste momento foi analisado o cenário e o movimento dos profissionais da escola participante do estudo.

3 Ações desenvolvidas pelos profissionais (formação continuada)

2 Cursos de Habilitação (formação inicial) 1 Movimento da escola (cenário)

1.PRÁTICAS DE FORMAÇÃO

DOCENTE

2. INFLUÊNCIAS DAS POLÍTICAS

PÚBLICAS

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Trata-se de uma escola pública, localizada no interior de São Paulo e pertencente à rede estadual, com duas décadas de funcionamento. A escola atende somente o ciclo 1 do ensino fundamental, ou seja, as séries iniciais.

Um dos aspectos que evidenciou neste cenário foi a influência das políticas públicas na constituição do corpo docente e da equipe gestora. Devido aos processos de atribuição de aulas, o corpo docente e a equipe gestora sofrem modificações de um ano para outro, dificultando a continuidade das ações desenvolvidas pelos profissionais da escola.

2. A formação inicial

A formação inicial dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, foi realizada por muito tempo pelos cursos de Magistério e atualmente pelos cursos de Pedagogia. Nestes cursos, os professores tiveram pouco contato com a Matemática, na maioria das vezes não garantiu formação adequada para que possam ensiná-la.

Atualmente parece haver poucas mudanças nos cursos de formação inicial. Batista e Moura (2007) realizaram o levantamento das indicações de formação matemática nos cursos de Pedagogia no estado de São Paulo. Suas informações são importantes para afirmar que uma grande parcela de professores formada atualmente não teve contato com a Matemática durante a formação inicial, na graduação em Pedagogia.

Para Curi (2004), os cursos de Pedagogia oferecem uma formação generalista, deixando transparecer muitas vezes a ideia de que esse professor não precisa ‘saber Matemática’, basta apenas saber como ensiná-la.

Ratificando a constatação de Curi (2004), Nacarato, Mengali e Passos (2009) afirmam que a formação inicial em Matemática das futuras professoras polivalentes ocorre pautada apenas sobre os aspectos metodológicos.

Assim, a formação inicial continua, ainda hoje, sem oferecer formação adequada na área do ensino de Matemática para os futuros professores. Diante dessa situação, a formação continuada de professores para a ser um caminho mais que necessário ao professor.

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3. A formação continuada e as experiências dos professores na escola.

Foi possível compreender que os professores da escola participante da pesquisa valorizam e buscam a formação continuada na própria escola, por entender que esta instituição é também um espaço de formação.

Assim, a formação inicial continua, ainda hoje, sem oferecer formação adequada na área do ensino de Matemática para os futuros professores. Diante dessa situação, a formação continuada de professores para a ser um caminho mais que necessário ao professor.

Todos os profissionais da escola acreditam, a exemplo dos autores que foram trazidos para a discussão teórica do tema, que a escola é também, um lugar de formação para os professores, de acordo com suas palavras: Porque aqui [na escola], eu aprendi, aprendo e vou continuar aprendendo muito. Só dentro da minha sala, na medida em que eu ou planejando as minhas aulas já é um espaço de formação, eu estou aprendendo. Na medida em que vou buscando trabalhar com determinada criança, e que assunto trabalhar, eu já estou me formando. Vou buscando novas informações dentro daquela própria formação e antes, trabalhava de uma forma diferente e hoje vi que já surgiram novos assuntos pra trabalhar, então por isso que pra mim é uma formação, o espaço da escola é uma formação (Cecília: entrevista, 05/12/2008).

Eu acho que estudo. À medida que estou trabalhando, já estou estudando porque vou pegando e preparando atividades, às vezes de algum livro, ou de algum outro material pedagógico (Heloísa: entrevista, 28/11/2008).

Outros entrevistados extrapolaram a dimensão da sala de aula e relacionaram a formação com os demais ambientes escolares e com a experiência compartilhadas por outros professores, sejam eles da mesma série de atuação ou de outras; com as coordenadoras pedagógicas e até mesmo com diretores e agentes externos.

[...] é uma aprendizagem, todos os dias, porque assim, às vezes você pensa que a criança vai aprender daquele jeito e você vê que não é por ali que você deve ir, não é assim que eles pensam, porque cada um aprende diferente, então ali

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você cria várias estratégias de ensino pra que a criança aprenda, então pra mim é por isso que é um espaço de formação, pra mim, também, eu aprendi muito, tanto na minha prática, que assim, eu não aprendi na época minha de faculdade, que eu aprendo agora, por isso que eu acho que é um espaço de formação (Lilian: entrevista, 05/12/2008).

É porque aqui existem muitas trocas, são novos conhecimentos, lidamos com criança, e trazem uma bagagem que também é trabalhada, a cada dia, há novos conhecimentos. Nos HTPC trocamos conhecimentos científicos, através de textos relacionados a realidade escolar (Rebeca: entrevista, 10/12/08).

Acredito que a formação do professor está diante do trabalho dele, juntamente com os estudos que são feitos dentro da unidade, que é o HTPC, e até mesmo fora do HTPC nós estudamos, porque nós estamos sempre trocando informação, uma professora com a outra ou com a coordenação, ou com a vice até no caso nesse ano, e até mesmo com a direção (Gisele, entrevista, 12/12/2008).

Sobre os estudos em grupo, a fala dos profissionais da escola ratificam as informações da literatura e dos estudos buscados para a fundamentação teórica da pesquisa. A professora Marta, em entrevista durante o trabalho de campo, descreve situação semelhante à descrita por Nacarato (2005):

[Marta] A gente aprende na escola, dependendo do grupo a gente aprende muito e geralmente nas escolas, a gente está trocando idéias. E eu aprendo...

tem trabalho que você diz, “Como é que eu vou fazer isso?” Você senta no grupo na HTPC, aí dá uma clareada: “Vou fazer assim, vai dar certo.” Porque você conversa com o pessoal e surgem as idéias.

[Pesquisadora] Então esses momentos de trabalho em grupo de professores nas HTPC...

[Marta] Nossa! É uma maravilha, clareia. Ajudam, ajudam muito, porque muitas vezes você está com o trabalho na mão, é aquilo ali, e tem lá dois alunos que estão com dificuldade, e você diz “O que é que eu faço com essa criança?” E depois do HTPC você já sai certinho sabendo o que vai trabalhar, o que vai fazer.

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(Entrevista, professora Marta, 01/12/2008).

Essa relação e aprendizado com os colegas do grupo profissional também é ressaltada pela professora Cecília:

Como organizar, como distribuir determinado material didático, o material dourado, por exemplo, eu não sabia como organizar, eu sabia já como usar, mas eu não sabia como organizar: eu vou dar dez, vou dar cinco, vou dar três, como é que eu... uso eu sozinha e mostro? O olhando as amigas e vendo, aí eu consegui. Hoje eu trabalho com facilidade, mas aprendi com amigos. Eu acho que o trabalho em grupo enriquece demais (grifos nossos) (Entrevista, professora Cecília, 05/12/2008).

Porém, Nacarato (2005, p. 193) aponta alguns riscos em relação ao trabalho coletivo pois,

“ao mesmo tempo que possibilitaria instâncias colaborativas entre os professores, pode também gerar divisões, se não envolver todo o corpo docente da escola”. Uma professora da escola parece concordar com a autora:

[Pesquisadora] você falou em trabalhar em grupo. E que depende muito do grupo também, tem uma série de fatores, mas depende da interação do grupo.

[Lilian] É... é...

[Pesquisadora] Esse relacionamento em grupo, tem momento que facilita, tem momento que dificulta, por quê? O que ajuda na formação, o que atrapalha...

[Lilian] Ah, o momento que facilita... porque assim, eles têm vivências, cada um tem uma vivência, uma experiência diferente, então, se você troca, uma ajuda a outra, então isso facilita. Mas ao mesmo tempo, se não é um grupo engajado, acaba de certa forma, prejudicando, porque é sempre aquele grupo que não tem vontade, que não está nem aí, então acaba também desmotivando o próprio grupo que quer fazer alguma coisa... não fica um clima agradável de aprendizagem (Lilian: entrevista, 05/12/2008).

Em relação ao campeonato de matemática como prática de formação, os profissionais da escola afirmam:

Olha, eu achei que foi bom, as crianças gostaram, eu estou falando assim, dos meus alunos, desde a hora que eu propus, falei que ia ter, eles gostaram, ficaram super engajados em estar participando. Como a proposta era de estar

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misturando as equipes, não ficar só os bons... então foi feita essa separação dos grupos. Então, eu montei as equipes, tomando o cuidado de deixar eles espalhados. Eu achei que foi bom na sala, porque alguns alunos que eu achava assim, tem mais de uma dificuldade em Matemática, que requer mais cuidado, mais atenção minha, eu achei assim, que no grupo, um auxiliando os outros, eles tiveram mais motivação, eles fizeram. Algumas equipes me surpreenderam até, sabe, porque um ajudava o outro, e não era aquele assim de copiar, porque eu também estava com essa preocupação: “Olha, não é copiar do colega, é você ajudar, falar como tem que... como você fez, porque é que tem que fazer isso, pra você também ir ajudando ele, porque eu não vou conseguir ficar em todas as equipes ao mesmo tempo”. Então eu percebi que em algumas equipes isso deu certo, que o líder, vamos supor, daquela equipe, aquele que tinha mais facilidade com a Matemática, ele conseguia ajudar o colega que tinha mais defasagem, então ele conseguia, do jeito dele explicar o porque que era aquilo, então eu achei que isso foi bom, ele, por mais que às vezes não conseguia resolver sozinho, mas em equipe ali com o colega, com o colega explicando, ele foi resolvendo. Então eu acho que isso na sala foi muito bom (Sofia: entrevista, 01/12/2008).

O depoimento da professora ressalta a importância de se trabalhar em grupo também durante a formação dos alunos. Para ela, o campeonato trouxe o desafio de trabalhar com novas dinâmicas em sala de aula e de enfrentar alguns receios como o da cópia dos alunos com dificuldades no lugar da interação e aprendizado com o grupo. Neste ponto, os alunos surpreenderam a professora e realmente interagiram, pois aprenderam no grupo com o auxílio do colega.

Eu gostei, primeiro porque a gente acabou vendo uma atividade que a gente não tinha nem pensado em elaborar antes, então foi um tipo de elaboração de atividades diferente daquela do dia-a-dia, sabe aquele maçante, você acaba fazendo, procurando, mas aquela foi diferente, coisas que eu achava que estava trabalhando, mas que na verdade eu não estava, vamos supor, a estimativa, eu não pensei em trabalhar a estimativa daquela forma, aquele jeito que foi nas atividades, e outras atividades... o cálculo mental, foi uma

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maneira diferente, outra elaboração de atividades (Cecília, entrevista, 05/12/08).

O destaque nesta fala é a oportunidade de aprender novas atividades e de outras maneiras de se trabalhar a Matemática com os alunos. Este aprendizado remete à formação continuada a partir de um desafio – o campeonato de Matemática – da reflexão sobre a prática e da interação com os professores da escola. Entende-se que é possível considerar esses momentos como aspectos do modelo construtivo de formação proposto por Nóvoa (1992) e da formação centrada na escola (Imbernón, 2006 e 2009).

O depoimento da professora Raquel sobre o Campeonato de Matemática aponta alguns aprendizados. O primeiro deles foi poder observar, dentro da dinâmica de trabalho em grupo, as dificuldades dos alunos em relação ao aprendizado da disciplina que, até então, ela não havia observado conforme fala:

[Raquel] montando os grupos de crianças, assim, não todas fortes, então era um grupo bem mesclado e daí a gente trabalhou. Eu trabalhei uma semana com esses grupos e eu fui vendo como eles estavam indo. Teve dia que eu até saí meio triste, porque eu falei “puxa vida, tô trabalhando tanto e aquele lá não entendeu”, mas foi bom porque aquele lá eu tô trabalhando agora e vai ficar de reforço comigo.

[Pesquisadora] E você não tinha percebido essa dificuldade?

[Raquel] Não tinha porque não deu tempo, eu não trabalhava só com ele, e aquele dia no grupo eu fui vendo as dificuldades, então aquele grupo foi legal sabe.

[Pesquisadora] Então o campeonato te ajudou nesse sentido?

[Raquel] Me ajudou muito nesse sentido, de ver as dificuldades de um, dois, três alunos que estavam no meio do grupo [...]

(Raquel: entrevista, 28/11/2008).

O segundo aprendizado apontado pela professora foi o envolvimento, a motivação e o compromisso dos alunos com seu próprio aprendizado em relação à Matemática que a motivaram ainda mais, conforme declara:

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[...] vi que eles [alunos] estavam levando a sério, que eles estavam preocupados, estavam estudando, traziam a atividade pra eu ver [...] Nós fomos pegar livros [na sala de leitura] e eles perguntaram ‘professora tem livro de tabuada? tem livro de Matemática?’ Então eles estavam preocupadíssimos com a Matemática. E no dia [da final do campeonato] eles estavam assim super aflitos pra vir logo, pra fazer e quando fizeram, quando chegaram na sala eu perguntei: E aí como é que foi? ‘Professora, nós demos tudo de nós.’ Eu achei lindinho eles falarem isso, sabe, pelo menos, eu achei assim, valeu à pena. Eu to passando pra eles, a valorização, a gente tem um valor, se foi bom ou ruim né, o que você fez, mas você fez o seu melhor, não é? Então eu achei assim que valeu por isso (Raquel: entrevista, 28/11/2008).

Conclusões

Enfatizando alguns pensamentos, é possível afirmar que, primeiro, a escola também pode ser um local de formação para seus professores, principalmente aos que ensinam Matemática nos anos iniciais que não tiveram formação específica na área dessa disciplina.

Segundo, o grupo de estudos na própria escola como estratégia para a formação continuada dos professores constitui-se em um momento privilegiado de reflexão coletiva sobre a prática docente e de compartilhamento de saberes e experiências.

O estabelecimento de parcerias também é benéfico à formação continuada dos professores e ao desenvolvimento profissional e tem sido uma alternativa encontrada por muitos professores. Auxilia também a aproximação dos profissionais que atuam na escola básica e na universidade.

E por último, as experiências vivenciadas pelos professores da escola participante da pesquisa de mestrado indica-nos que a formação continuada pode ser pensada de outra maneira, junto com os professores que atuam na escola básica. Porém não é o que, tradicionalmente tem ocorrido. As políticas públicas pouco valorizam esse pensamento e gerenciam um modelo de formação continuada sem a participação daqueles que iram vivenciar esta formação, ou seja, sem a participação dos professores.

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Referências

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Monike Cristina Silva Bertucci. Mestre em Educação e Professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental. mobertucci@yahoo.com.br

Maria do Carmo de Sousa. Doutora em Educação e Professora da Universidade Federal de São Carlos. mdcsousa@ufscar.br

Referências

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