• Nenhum resultado encontrado

Governo 'rouba' às pensões para pagar pandemia

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Governo 'rouba' às pensões para pagar pandemia"

Copied!
24
0
0

Texto

(1)

Página 6

Semanário

Político Independen

• Sai às Se

xtas •

16 de Julho de 2021 • Ano XLV • Nº 2324 • Preço 2,00 € (IVA incluído) • Fundadora: Vera Lagoa • Directora: Cecília Alexandre

Desde 1976 Página 11

Veneramos

simpaticamente

os ladrões e

incompetentes que

nos desgovernam…

Pedro Caetano

General

português

comanda tropas

da UE em

Moçambique

Candidato do PS

a Loures afirma:

“A gestão da CDU

paralisou

o desenvolvimento

do concelho”

Heróis do ar,

pobre povo,

nação doente…

otto Czernin

Página 9 Página 5 Página 7

Governo 'rouba' às pensões

para paGar pandemia

alerta do economista

eugénio rosa

(2)

2

• O DiabO, 16 de Julho de 2021

Sete Dias

DR

O

‘cartoon’

de

Adriano

Centeno

Bicadas

© adriano Centeno / O Diab O

SEMPRE, SEMPRE

AO LADO DO POVO

N

a sua cruzada anti-Hungria, o Parlamen-to Europeu pode bem estar a abrir a porta da saída aos Estados europeus que não queiram submeter-se aos dogmas de fé que a UE tem vindo a acrescentar ao seu male-ável ideário, ao sabor da nova indústria de entretenimento dos “direitos humanos” da esquerda radical. A lei anti-pedofilia votada no Parlamento de Budapeste por 157 votos contra 1, que proíbe propaganda LGBT e da homossexualidade junto dos menores de 18 anos, gerou uma onda de histeria entre os espectadores de bancada do Parlamento Europeu mais susceptíveis de se deixarem entreter. E, na Quinta-Feira, 8 de Julho, foi aprovada por 448 votos a favor, 197 contra e 48 abstenções mais uma resolução não vinculativa anti-Orbán. Os eurodeputados portugueses, votaram todos com a “nova indústria”, incluindo o solitário restante do CDS. Todos, não: o PCP, que resiste ainda e sempre a deixar-se entreter, votou contra. E tal como não embarca na “morte assistida” e em touradas anti-tourada, também não reconhece à UE “nem autoridade, nem le-gitimidade para se arvorar em juiz, árbitro

ou mesmo referência no que aos direitos humanos e à democracia diz respeito”. Onde chegámos, para que a razoabilidade tenha de ser defendida pelo PCP?

ASSIM, MOEDAS

SÃO TROCOS

E

ntretanto, Carlos Moedas, o incisivo can-didato à Câmara de Lisboa, achou por bem confessar, não o seu “extremo descon-forto” com o muito que por cá vai na Câmara e na Pátria, mas com o facto de “ter Viktor Orbán no PPE” e com o que “de terrível se está a passar na Hungria”. Medina agradece. Talvez Moedas se candidate à câmara de Budapeste.

ASTRÓLOGO PARA

ASSESSORAR MEDINA,

PRECISA-SE

M

ais uma vez, ninguém o avisou. E avan-çou para a comissão de honra. A CML é um organismo extraordinariamente vasto e complexo e o Presidente tem de gerir a colossal agência de empregos, acomodar

sensibilidades, pagar favores, coleccionar as-sessores, encobrir escândalos, arranjar bodes expiatórios, sacudir a água do capote nos media, dar de comer a quem não tem fome – tem, enfim, de praticar o socialismo... E não pode chegar a tudo. E depois, nenhum dos seus 415 arquitectos o alertou para o que o presidente do seu clube pudesse andar a arquitectar, nenhum dos seus 63 paisagísticos viu a paisagem, nenhum dos seus 168 historia-dores achou que havia ali história, nenhum dos 308 engenheiros da Câmara detectou vestígios de engenharia financeira. Em suma, não houve um único dos seus 81 psicólogos que não tivesse validado a idoneidade do re-candidato. E apesar de já ter estado durante anos, e também com o amigo Costa, ao lado e do lado de um detido bem pior sem que tivesse dado por nada, nunca pensou que o presidente das águias pudesse ser burro ao ponto de se deixar apanhar. Onde é que estava o Grupo Municipal do PAN que o não alertou para a possibilidade desta inesperada transmutação inter-espécies?

A IDADE DO ARMÁRIO

M

amadou Ba merece bem todos os sub-sídios que o Estado português lhe vai concedendo com os nossos impostos. Afinal, o reputado sociólogo senegalês tem vindo a mobilar o nosso pequeno mundo com toda uma vasta gama de novos e estimulantes conceitos científicos, bem como de práticos armários. Armários em que se é enfiado a pontapé para que se seja de lá arrancado pelas orelhas. Walk-out closets, portanto. E se dos tradicionais armários se saía para assumir uma diferença e enfrentar com coragem uma maioria opressora, tacanha, castigadora e castradora, ficámos a saber que, dos modernos, se sai para enfrentar o terrível Mamadou Ba e o seu opressor,

taca-nho, castigador e castrador “novo consenso”. Manuel Luís Goucha, por apoiar a candidata do PSD à Amadora, terá então saído agora do “armário-racista”, revelando-se perigosamen-te “homo-nacionalista”. É que Ba não brinca em serviço, ferra logo o dente pela paz, pela igualdade e pelo anti-racismo, identifican-do pronta e cientificamente no mais leve indício de incorrecção “o grunhido de um nazi-fascista”. Quem também tem um sexto sentido para viver de subsídios, identificar “fontes de fotocópias” e denunciar quem por aí anda “de camuflado” é a reputada jorna-lista e especiajorna-lista em avaliação de carácter Fernanda Câncio, a famigerada ex-namorada do ex-primeiro ministro José Sócrates. Para Câncio, Goucha também “saiu do armário duas vezes” e “nunca a enganou”. Já são dois vultos de inquestionável prestígio intelectual, moral e cívico entretidos a fechar o profis-sional do entretenimento no “armário do homo-nacionalismo” para iludir o povo.

SÓ COM AÇAIME

O

PAN não baixa os braços na sua guerra contra a Festa Brava e a Caça. Mas como as medidas proibitivas que queria impor tra-riam a revolta de centenas de milhares de ca-çadores e arruinariam vastas zonas do campo, avança com medidas indirectas. A proposta do PAN, entregue no Parlamento, prevê então “que os cães possam ser usados, mas só como pisteiros, sempre presos por trela e açaimados”. Por que não também de máscara, com certifi-cado de vacinação e teste rápido de antigénio, realizado nas 24 horas anteriores à caçada na presença de um profissional de saúde? Dizem alguns caçadores que a lei equivale a permitir relações sexuais indiscriminadas entre humanos desde que os intervenientes sejam só “pisteiros” e estejam devidamente vestidos e calçados... Pobres animais.

(3)

Sete Dias

O

mais recente barómetro da Euro-sondagem/Grupo Libertas para o jornal ‘Nascer do SOL’ confirmou na úl-tima semana uma tendência que se vem acentuando desde o início do ano: se as eleições legislativas fossem realizadas hoje, o PS obteria uma maioria absoluta. Com efeito, ao reforçarem em 0,8% a sua po-sição no ‘ranking’ das intenções de voto desde a última sondagem, os socialistas têm hoje as simpatias de 40,8% dos elei-tores (mais 4,4% do que nas legislativas de 2019), o que lhe assegura, teoricamente, uma bancada parlamentar com mais de 115 deputados.

Embora o PSD averbe 27,3% das in-tenções de voto (uma ligeiríssima que-da de 0,1% relativamente ao barómetro anterior), o crescimento do ‘score’ do PS veio aumentar para 13,5% a distância entre os dois maiores partidos e a rele-gar o partido ‘laranja’ para uma posição acentuadamente mais frágil no conjunto partidário português.

Já o Chega regista novo

crescimen-to exponencial ao triplicar o seu ‘score’, situando-se agora em terceiro lugar com 9% das intenções de voto (mais 7,7% do que nas eleições de Outubro de 2019).

Em queda acentuada continua o Bloco de Esquerda, que agora ombreia com o PCP com os mesmos 5,2%. Enquanto os comunistas subiram 0,2%, os bloquistas desceram 0,3%. São pequenas variações, é certo, mas que permitem avaliar a ten-dência do eleitorado.

Na “liga dos mais pequenos”, a Iniciati-va Liberal fica-se nos 2,5% (desceu 0,2%), o CDS estagna nos 2,2% (menos 0,3%) e o PAN perde apenas 0,1%, fixando-se agora nos 2,1%.

Quanto à avaliação feita ao desem-penho dos líderes partidários, António Costa averba 45,8% positivos, seguindo--se Rui Rio (+22,5%) e André Ventura (+4,8%). Jerónimo de Sousa, que capta mais simpatias proporcionais do que o seu PCP, regista +4,4%. E o centrista Francisco Rodrigues dos Santos consegue um ‘score’

Caso Vieira

travou

nomeação

para o Banco

de Fomento

V

ítor Fernandes estava à beira de ser nomeado para a liderança do Banco de Fomento, instituição que terá como missão prioritária acompa-nhar financeiramente os projectos do âmbito da ‘bazuca’. Faltava apenas o parecer da Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Públi-ca. Mas a nomeação acabou por ficar oficialmente “suspensa” nos últimos dias: a detenção de Luís Filipe Vieira e o rebentamento do escândalo Cartão Vermelho permitiram saber que, afinal, o indigitado banqueiro e ex-gestor do Novo Banco é apontado pelo Ministério Público como “um ajudante de Vieira em operações lesivas para o Fundo de Resolução”.

A escolha, pelo Governo de António Costa, de Vítor Fernandes para o Ban-co de Fomento foi alvo das críticas de vários partidos e o Banco de Portugal admitiu que poderá ter de reavaliar a sua idoneidade, face às informações vindas a público no âmbito da Operação Cartão Vermelho.

“[Vítor Fernandes] estava na admi-nistração do Novo Banco quando Luís Filipe Vieira recomprou dívida de mais de 50 milhões, por apenas nove milhões, num negócio tão mal explicado que agora uma das medidas [de coacção] a que Luís Filipe Vieira está sujeito é não poder estar em contacto com Vítor Fernandes”, disse Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, sublinhando que não seria aceitável a nomeação de “al-guém que está ligado aos escândalos bancários sucessivos” dos últimos anos.

Por seu turno, a Iniciativa Liberal defendeu que “não existem quaisquer condições” para que o chairman [pre-sidente do conselho de administração] escolhido pelo Governo para o recém--criado Banco de Fomento possa desem-penhar tais funções”.

Também o Chega considera que “o facto de [Fernandes] aparecer agora associado, no processo Cartão Ver-melho, a relações de grande proximi-dade com Luís Filipe Vieira, fragiliza irremediavelmente a sua posição e compromete qualquer possibilidade de continuidade”. Assim, o Chega “reitera ao Governo a imperiosa necessidade de assegurar que Vítor Fernandes cessa de imediato qualquer função executiva no Banco de Fomento ou em qualquer instituição bancária, sendo esta a única forma de garantir que não assistiremos no futuro próximo a uma desestabiliza-ção ainda maior do sistema bancário e financeiro”.

DUAS SONDAGENS COM RESULTADOS IDÊNTICOS

PS aguenta liderança,

PSD cai, Chega em 3º

P

elo menos 20 negócios de portu-gueses na África do Sul, na sua maioria em Gauteng, foram afectados por distúrbios violentos, saques e in-timidação que se intensificaram nos últimos dias naquele país, disse à Lusa fonte da comunidade portuguesa. Em Joanesburgo, a capital económica do país, pelo menos sete talhos de um proprietário português foram afecta-dos, adiantou.

A Lusa noticiou no início da semana que pelo menos seis grandes superfícies e uma loja de venda de álcool, em Gauteng, e outros três negócios também de empre-sários portugueses, filhos de madeirenses, em Durban e Pitermaritzburg, no KwaZulu--Natal, foram saqueados e vandalizados por completo.

Os distúrbios violentos, que se alastram da Cidade do Cabo à província de

Mpuma-langa, nordeste do país, junto à fronteira com Moçambique, apesar da presença no terreno de mais de 2.000 militares do Exército sul-africano, afectou também o funcionamento do consulado-geral de Portugal, em Joanesburgo.

A comunidade portuguesa residente na África do Sul, que se estima em cerca de 450 mil pessoas, está “em pânico”, referiu uma fonte da agência noticiosa.

A

s últimas Jornadas Parlamentares do CDS, realizadas no início da semana em São João da Madeira, transformaram--se num autêntico comício contra o líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos. Vários oposicionistas pronunciaram-se inflamadamente contra o desempenho de ‘Chicão’, destacando--se nas críticas o eurodeputado Nuno Melo.

Discursando durante mais de 45 minutos, Melo defendeu a anterior liderança de Assunção Cristas e lamentou a “depres-são” que se vive actualmente no partido. Depois de criticar o “entrincheiramento” de uma direcção que “desvaloriza a saída de militantes” e está mais concentrada em “ajustes e contas e purgas” do que em fazer oposição, sem fazer “o esforço de agregar o partido do topo para a base”, o eurodeputado acusou a direcção de Rodrigues dos Santos de “atacar os seus” num dos momentos “mais difíceis da vida” do partido.

Reagindo a críticas feitas na imprensa aos seguidores da “linha” de Assunção Cristas, Nuno Melo comentou: “Não sei o que se pretendia: que fôssemos embora? Que optássemos por uma filiação no PSD? No que tem a ver comigo, desenganem-se. Eu estou cá!”. E para provar que, ao contrário do que afirmam os detractores de Cristas, os seus seguidores criticam ferozmente o PS, Nuno Melo passou a atacar o Executivo de Costa, que classificou de “nepotista, dogmático, conflituoso e incompetente” e que “avança sem travão”.

Também Telmo Correia e Cecília Meireles fizeram inter-venções críticas para ‘Chicão’. No entanto, nos corredores das Jornadas Parlamentares o nome de Nuno Melo voltou a ser referido como uma alternativa à actual liderança de Francisco Rodrigues dos Santos.

Portugueses “em pânico” na África do Sul

Crescem críticas a ‘Chicão’

positivo de 1,3%, o que é consolador face à perspectiva de desaire eleitoral que o CDS enfrenta.

Finalmente, a “coordenadora” blo-quista Catarina Martins cai para resultado negativo: -3,6%.

PSD: queda maior

Embora apresentando resultados específicos de diferente valor, a mais recente sondagem da Fundação Fran-cisco Manuel dos Santos confirma, ge-nericamente, a tendência eleitoral atrás referida e o posicionamento relativo dos vários partidos.

Assim, segundo o estudo daquela Fun-dação, o PS lidera as intenções de voto, mas registando “apenas” 35% das simpatias. A vasta maioria dos inquiridos pronuncia-se com “satisfação” face à actuação do Go-verno socialista no combate à pandemia. Já o PSD não ultrapassa, segundo esta sondagem, 22% das intenções de voto, o que indica um fosso de 13% em relação ao PS, muito semelhante portanto ao regis-tado pela sondagem da Eurosondagem/ Grupo Libertas para o jornal ‘Nascer do SOL’ (13,5%).

Também quanto à terceira posição os dois estudos são concordes, ainda que com valores diferentes: a sondagem da Funda-ção dá ao Chega ainda mais intenções de voto, fixando-as em 11%. Quanto ao BE, fica-se pelos 9%.

(4)

4

• O DiabO, 16 de Julho de 2021

Opinião

Um País, Dois Destinos

DR

As virgens da

política portuguesa

HenriQUe neto

D

epois de Joe Berardo, foi agora a vez de Luís Filipe Vieira, o filho, o advogado empreendedor Bru-no Macedo e o empresário José António dos Santos experimentarem as camas dos calabouços da PSP em Lisboa, para serem ouvidos pelo juiz Carlos Alexandre.

Tudo normal, portanto, porque para além da compreensível azáfama comuni-cacional das rádios, jornais e televisões, que por algum tempo deixaram o vírus em paz, temos agora as virgens da políti-ca, a meias com alguns comentadores da nossa praça que, surpreendidos na sua pacata existência, colocaram em marcha as habituais explicações, quase sempre acom-panhadas de alguns ataques sublineares à Justiça, em que Carlos Alexandre, Rosário Teixeira e Paulo Silva são os bombos da festa. O quase centenário programa da SIC “Eixo do Mal” abriu as hostilidades e, de chalaça em chalaça, lá vai cumprindo a sua função de transformar fenómenos conhecidos e relativamente simples de corrupção, numa confusão em que nin-guém se possa entender.

A cada novo processo que a Justiça leva a cabo e a partir do momento em que se tornam conhecidos, desenrolam--se sempre os mesmos acontecimentos:

1 – Aparente surpresa geral e gran-de alarido na comunicação social, que habitualmente exagera nos meios e nas horas que devota ao assunto.

2 – O poder político vai às gavetas da memória e afirma aos quatro ventos que se trata de um problema da Justiça e esperam que esta seja feita bem e depres-sa. Claro que o topo do poder político já tinha sido informado com antecedência e preparou os participantes envolvidos a organizar a defesa possível, nomeada-mente através dos comentadores amigos que afinam a argumentação necessária, sendo que a fórmula habitual é a rea-firmação do princípio da presunção de inocência, a pouca vergonha das prisões sem julgamento e a enumeração dos er-ros anteriores da Justiça em geral e do Ministério Público em particular. A seguir seguem-se os ataques às personalidades

do costume, Carlos Alexandre, Rosário Teixeira e Paulo Silva, impenitentes e viciosos justiceiros sedentos de popula-ridade.

3 – A opinião pública e a publicada dividem-se entre os que justificam a fata-lidade de tais acontecimentos pelas mais diversas razões, os que consideram que talvez não tenha sido tanto assim e os que já esperavam que aquilo acontecesse e tentam perceber os pormenores e o universo dos envolvidos.

4 – O Presidente da República, que habitualmente fala sobre tudo, nestes casos tem a cassete pronta para dizer que não comenta os casos em segredo de justiça, segredo que ele sabe não existir, enquanto o primeiro-ministro... Bem, não digo porque os leitores já sabem.

Neste contexto, podemos assim afir-mar que existe um clima geral de irres-ponsabilidade entre aqueles que pode-riam fazer alguma coisa para corrigir o que está mal e evitar que esta sucessão

de casos de polícia se repita. Do ponto de vista do Governo, a fórmula de atirar tudo para a Justiça resolve o assunto à nascença, o que seguido do cerceamento dos meios necessários para a investigação na Polícia Judiciária e na Justiça, permite aos acusados e aos gabinetes de advogados negar os factos, nomear testemunhas sem fim, provocar os mais variados entraves durante o julgamento e enviar depois, uma e mais vezes, os processos para a Re-lação, para o Supremo e para o Tribunal Constitucional. Assim, a irresponsabili-dade e a impuniirresponsabili-dade podem continuar a governar o País.

Uma outra fórmula instituída pelo Governo do PS permite lateralizar os problemas antes da sua chegada à fase da Justiça, seja através da surdez da As-sembleia da República que não fiscaliza os governos, seja pela apatia das oposições. Segue-se depois a recusa dos ministérios a fornecer esclarecimentos a tudo que seja perguntas oriundas da sociedade ou de instituições da sociedade. Ques-tões como a política ferroviária, o novo

aeroporto, a venda das barragens pela EDP, o Novo Banco, a TAP, os Kamov e outros meios de combate aos incêndios, como o CIRESP, são temas anunciados para um dia chegarem à Justiça, mas que o Governo trata como não existentes. Isto é, à Justiça tudo o que já lá chegou e tudo o mais que um dia lá vai chegar.

Em resumo, a Justiça continuará a cumprir o seu papel com os escassos meios que tem, os gabinetes de advoga-dos têm trabalho garantido, os criminosos continuarão a tentar morrer antes dos processos transitarem em julgado de for-ma definitiva e o Governo, e o partido que o apoia, confiam que a Justiça mantenha a aparência de uma certa estabilidade, sem ter que fazer as reformas que a sua indo-lência e a sua fraca vontade impedem.

Por todas estas razões, suponho que nos próximos tempos entrarão novos processos no debate, agora que a opinião pública percebeu que os ladrões também podem ser acusados e a respectiva comis-são da Assembleia da República possa continuar a levantar a caça. Entretanto, há muito que o governo de António Costa só receia a publicação de mais novida-des inconvenientes nos jornais e essa é a preocupação dominante, como o foi nos anteriores governos do PS de José Sócrates. Ou seja, os comentadores de serviço nas televisões vão ter muito que fazer porque o povo, dizem, é sereno.

Aliás, já temos em mãos o caso Victor Fernandes. Trata-se de um processo que mostra, de forma evidente, o compro-misso do Governo com a corrupção, na medida em que o PS e António Costa acham natural nomear um companheiro de Santos Ferreira e de Armando Vara na administração da Caixa Geral de Depósi-tos e no assalto ao BCP para presidente do Banco de Fomento, a fim de gerir os fundos da bazuca europeia. Que este Victor Fernandes publique que tem a idoneidade e a competência necessárias para este novo cargo, refugiando-se na colegialidade para não explicar porque nunca deu por nada nos créditos con-cedidos, sem garantias, de milhares de milhões de euros que deitaram abaixo todo o edifício financeiro em Portugal, é preciso ter lata.

Mas não tanta quanto António Costa, que sempre esteve por detrás de Sócrates e agora mostra, com esta nomeação, que permanece fiel à equipa.

(5)

Mundo

DR

A Europa, finalmente,

vai ajudar Moçambique

General português comanda tropas da UE em Cabo Delgado

“É

uma missão impor-tantíssima da parte de Portugal e da União Europeia (UE), extremamente relevante para o que podemos fazer para melhor ajudar Moçam-bique”, disse o brigadeiro-general do Exército, actual subdirector--geral de Política de Defesa Na-cional no Ministério da Defesa Nacional e professor da Academia Militar, no anúncio da sua indi-gitação para comandar a Missão de Formação Militar da UE em Moçambique.

Lemos Pires fez questão de manifestar, “como europeu”, “muito orgulho pela solidarie-dade europeia” em ajudar Mo-çambique, “simultaneamente em termos de segurança e desenvol-vimento”. “Acho muito impor-tante esta ajuda que a UE está a dar”, que faz parte dos “valores que defende e, na prática, é o que faz: ajudar a dar paz e desen-volvimento”, disse. Nuno Lemos Pires é filho do falecido general Mário Lemos Pires (1931-2009), oficial do Estado-Maior e cavalei-ro da Ordem de Avis, que foi o último Governador português de Timor.

Designada EUTM Moçambi-que, a missão aprovada esta sema-na em Bruxelas pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE começa a ser preparada agora, mas estará em pleno funciona-mento em final de Outubro, data a partir da qual contarão os dois anos do seu mandato.

“Pretende-se que a missão es-teja em pleno funcionamento a partir do final de Outubro. Nessa altura teremos já tudo a funcio-nar, com os militares das várias nações da UE no terreno e tudo a acontecer. Até lá é uma fase de preparação e desenvolvimento”, explicou Lemos Pires.

Depois de anos de imagens de uma violência terrível de Cabo Delgado, a União Europeia

decidiu avançar. O general português Nuno Lemos Pires vai comandar no terreno as forças

da União Europeia que vão treinar as unidades moçambicanas de intervenção rápida.

O militar diz que recebeu a nomeação com “imenso orgulho e muita responsabilidade”.

por Maria Costa

Quantos homens terá e exac-tamente o que irá fazer “são questões que ainda vão ser acer-tadas”, disse ainda o operacional português.

“Hoje é a autorização política, a seguir segue-se o planeamento militar. Há uma série de pormeno-res que ainda não estão definidos. Mas não há dúvidas de qual é a grande missão. É preparar unida-des de forças especiais de inter-venção rápida da Marinha e do Exército de Moçambique”, disse.

As forças armadas portuguesas estão familiarizadas com este tipo de forças, que deslocaram para vários teatros de conflito, disse o brigadeiro-general, citando os exemplos da República Centro--Africana ou do Afeganistão.

“A UE vai treinar unidades destas, ou seja, vai prepará-las, vai equipar, com equipamento não letal, e vai prepará-las o melhor possível para que essas forças es-tejam capacitadas para enfrentar qualquer tipo de desafio no norte, em Cabo Delgado”, disse Lemos Pires.

A formação receberá ainda um enfoque fundamental, como está expresso no próprio comuni-cado do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE agora emitido e para o qual o brigadeiro-general português chama a atenção: “a defesa dos direitos humanos, da vida e da dignidade das pessoas”.

“Ao mesmo tempo que se prepara forças para garantir a segurança e protecção de civis, vai-se também garantir que este treino é acompanhado por um grande enfoque no respeito pela lei, pelos direitos humanos e pela dignidade humana”, sublinhou Nuno Lemos Pires.

Missão não-executiva

O brigadeiro-general, que exerceu funções de instrução e comando na Escola Prática de Infantaria, mas também nos ser-viços de informações das forças de deslocação rápida da NATO estacionadas em Valência e foi as-sistente militar do Comandante da NATO no “Joint Command”, em Lisboa, fez ainda questão de sublinhar que esta é “uma missão não-executiva”.

“O que foi aprovado e o que foi pedido por Moçambique à UE foi uma missão não-executiva. Quer dizer que vamos treinar as forças armadas de Moçambique para que elas actuem. Damos todo o tipo de formação e apoio para treinar o melhor possível es-tas forças em várias componentes, mas quem conduz as operações no terreno são as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique”, sublinhou.

Uma das questões que se co-locará no terreno é a da coorde-nação e interoperabilidade das diversas forças internacionais presentes, chamadas por Mapu-to a ajudar no combate às forças radicais islâmicas, sobretudo na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

Lemos Pires disse que esse é “sempre um papel que está reser-vado a quem convida, que neste caso é Moçambique”.

“Moçambique tem a liberdade de convidar quem entende para este tipo de missões, mas tam-bém é um trabalho que é feito em coordenação entre todos. O espírito é muito aberto e franco entre todos os países que estão a colaborar. Porque, no fim do dia, o que interessa é ajudar a dar mais segurança e mais desenvolvimen-to às populações carenciadas de

Moçambique, nomeadamente em Cabo Delgado”, afirmou.

“Todos ganham em falar uns com os outros e é isso que está a acontecer”, reforçou o opera-cional. “Obviamente, a UE fala com outros actores que lá estão, desde as comunidades regionais de segurança, como é a SADC (Co-munidade de Desenvolvimento da África Austral), como com os Esta-dos UniEsta-dos ou outros países que lá estejam a ajudar. Mas também, o próprio Governo de Moçambique, quando faz os pedidos, também os faz em coordenação com as várias autoridades”, disse.

“Penso que isso é do interesse de todos, já está a acontecer e irá continuar a acontecer”, reforçou.

Nuno Lemos Pires explicou que “ainda não está definido com-pletamente o número de pessoas”

que integrará a EUTM. “Isso de-pois tem a ver com a ‘force gene-ration’, ou seja, quando é que os países estão dispostos a dar”.

“Portugal disse que daria meta-de meta-destas forças, calcula-se que se-rão em torno dos 120, 130, 150… Ainda não sabemos bem. Porque o planeamento começou agora. E o que sabemos nesta altura é que, provavelmente, vamos estar em duas bases: uma a sul, entre Ma-puto e Catembe, e outra a norte, entre a Beira e o Chimoyo, para formar, respectivamente, forças es-peciais de Marinha e de Exército. Esta é a missão principal e, para já, é o que se pode dizer”, concluiu.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e 732.000 des-locados, de acordo com a ONU.

Chissano quer CPLP

O antigo Presidente moçam-bicano Joaquim Chissano defen-deu entretanto que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) pode ter um papel rele-vante ao mobilizar a opinião pú-blica internacional a favor da luta contra o terrorismo em Cabo Del-gado. Sem excluir outros papéis que possam caber à organização, Chissano referiu, em declarações à Lusa, que este pode estar entre os mais simples de concretizar.

O que se passa no norte de Mo-çambique é uma violência armada que Chissano classifica como “ter-rorismo internacional e que devia ser agarrado pela CPLP com muita força”, no sentido de “Denunciar a situação e mobilizar a opinião pública internacional contra esse terrorismo”, disse.

Entre os membros da CPLP, Portugal já participa nos apoios de combate ao terrorismo, acres-centou – numa alusão ao treino que está a ser dado a tropas mo-çambicanas no sul do país.

A próxima Cimeira da CPLP, agendada para hoje e amanhã, sábado, em Luanda, será dedicada ao tema “Fortalecer e Promover a Cooperação Económica e Em-presarial em Tempos de Pande-mia, em prol do Desenvolvimento Sustentável dos Países da CPLP”.

A CPLP é constituída por An-gola, Brasil, Cabo Verde, Guiné--Bissau, Guiné Equatorial, Mo-çambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

(6)

6

• O DiabO, 16 de Julho de 2021

Deixámos de ser Portugal para ser outra coisa qualquer, não sei o quê

Opinião

Heróis do ar, pobre

povo, nação doente…

otto Czernin

N

ós sempre tivemos a mania de ser os maiores.

Eu andei muitos anos num colégio in-terno em Abrantes, o famoso e temeroso La Salle. Quando fui para lá tinha 10 ou 11 anos. Ainda me lembro do dia em que lá cheguei. Foi num domingo, já às portas do Outono, se não me engano em Setembro de 1968. Nessa altura morava no Monte Estoril, no Largo Ostende, feio e famoso pelas suas garagens automóveis. Depois da ida à Igreja dos Inglesinhos, como nós lhe chamávamos, por ser maioritariamente frequentada por estrangeiros e porque os padres eram ir-landeses dominicanos enviados a Portugal logo após a implantação da república, o que não deixa de ser irónico, Portugal, país de missionários, passar a país de missão…

Enfim, depois da missa, lá partimos para Abrantes, a minha Mãe, nascida e criada em Cascais, a minha Avó inglesa e o meu Pai, austríaco, ao volante de um velho VW. Chegámos por volta das seis da tarde, já o sol ia baixo. Fomos recebidos e conduzidos à longa camarata. Eram para cima de 150 camas, divididas por quatro filas. Fiquei com o número 149, número que se manteve até 1973, data em que me vim embora, após cinco anos de estadia em regime de pensão completa.

Portugal estava nessa altura em plena guerra de África. E eu lembro-me perfei-tamente da primeira sova que levei. Foi no balneário do hóquei, dada por um preto da Guiné, chamado Rui. Era mau como as cobras, mas depois ficámos amigos, pois foi ele o nosso treinador de hóquei. No La Salle havia uma seita de pretos que mandava naquilo. Havia também uma seita de alente-janos e ribatealente-janos, marialvas da província, com muitos irmãos, que vestiam sempre as melhores samarras e tinham sempre os melhores botins. No Inverno andavam de safões de pele e isso então era “o máximo”, enchendo todos os outros de inveja. Pare-ciam uns “cowboys” em miniatura.

Nessa altura eu fazia parte da equipa de hóquei do colégio e, quando jogávamos em casa, a numerosa claque, que nos apoiava da bancada, cantava a plenos pulmões: “É nossa! É nossa! É nossa!” (mais tarde vim a perceber que se referiam a Angola) e isso enchia-nos de orgulho. Eu, por não ser

puro--sangue, ficava sempre com uma pontinha de inveja.

Consolava-me o facto do meu bisavô materno ter sido um dos heróis da África portuguesa do século XIX, colega de armas de Mouzinho e Paiva Couceiro. De manhã, quando íamos para as aulas, tínhamos à nossa frente o famoso mapa de Minho a Timor. Isso também me causava um misto de orgulho e inveja. O Napoleão fizera gato-sapato da Áustria, esta não tinha colónias, confundia-se com a Austrália, falava a língua dos alemães, não tinha touros nem forcados, eram todos lourinhos e insípidos e sei lá mais o quê.

Consolava-me também o facto de o trei-nador do Benfica na altura se chamar Otto Glória, apesar de a mim me faltar a tal glória. Em 1973 saí de Abrantes e fui para o Co-légio de S. Miguel, também interno, mas aí já com muitos vícios e manhas na bagagem. Só lá durei o ano lectivo de 73/74 e os ecos do 25 de Abril apanharam-me já com o pé no estribo para voltar para casa. Lembro-me de ver pintada nos muros da estrada nacional da Batalha a palavra LUAR. Não sabia bem o que era aquilo mas, no íntimo, pressentia que não era bom, tal como a foice e o mar-telo que também nos inspiravam horror e desconfiança.

Mas o céu estava cada vez mais cinzento para Portugal, com o Professor Marcello Caetano muito desconfortável na cadeira do poder, desconforto esse que Salazar já dificilmente conseguira disfarçar no ocaso do seu longo e difícil consulado. Nesses pri-meiros meses pouco se passou. Claro que a minha estadia no Colégio de S. Miguel acabou com um “convite” para sair e o meu

Pai lá me trouxe de volta ao Monte Estoril. Lisboa ainda era uma cidade limpa. No entanto, aqui e ali, lá iam aparecendo os primeiros cartazes, mal colados e à socapa. E um dos primeiros que apareceram dizia assim: “Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, países crucificados…” exibindo ao centro um enorme Cristo negro.

O meu Pai, já com 74 anos e com duas guerras mundiais no currículo e a sua que-rida Boémia amordaçada pelo comunismo, imediatamente mandou imprimir cartazes com os seguintes dizeres; “Polónia, Hungria, Checoslováquia, Roménia, países crucifica-dos…”, que poucos dias depois fomos colar para Lisboa, logo de madrugada, perante os olhares de indiferença de alguns e desprezo de outros, todos apressadamente a caminho do trabalho.

Todos sabemos o que se passou a seguir e cada um tem as suas histórias. Mas o orgulho que eu tinha por Portugal, esse nunca esmo-receu. Nem com o descalabro do PREC, nem com a perda dos territórios ultramarinos, nem com coisa nenhuma.

Eu era o Otto Luís Marie Czernin, mas tinha uma pena imensa de não ser o Luís Azevedo. E assim, depois de uma curta esta-dia na Áustria, de 75 a 82, lá voltei, deixando para trás toda a minha família.

E o meu orgulho mantinha-se intacto; tudo o que eu abominava na Áustria, a or-dem, o perfeito funcionamento de pessoas e instituições, o ambiente ordeiro e bem organizado, a ausência de beatas no chão, a ausência de discussões na rua, a ausência de grafitos nas paredes, enfim, cá era tudo

ao contrário. Portugal tinha vida, com os restaurantes baratos a abarrotar, as constan-tes confusões e mal-entendidos, a alegre e despreocupada desorganização, a fotogénica sujidade, o permanente “laisser faire, laisser passer”, tudo isso embriagava a minha alma e alegrava o meu espírito.

E assim, cantando e rindo, Portugal lá entrou para a CEE, começando também a Europa a “entrar” em Portugal, primeiro com uns aguaceiros de dinheiro, mais tarde com verdadeiras chuvadas, Cavaco lá foi ganhando maiorias de mangas arregaça-das e nós deixámos de ser Portugal, para ser outra coisa qualquer, que eu ainda não percebi bem o que é. Hoje agradeço o meu passaporte austríaco e já não me importo de não ser o Luís Azevedo.

E começo a pensar no que seria este país se ainda tivéssemos juntas de bois a puxar os barcos de pesca, se ainda tivéssemos bur-ros a carregar os tacos de golfe, se ainda tivéssemos velhotes segurando raquetes de pingue-pongue a substituir os semáforos na linha do 28, as longas e coloridas procissões das aldeias e sei lá mais o quê? Pequenos pormenores que todos juntos dão uma coisa chamada tradição, o fermento da alma de um povo.

Seríamos talvez uma Suíça (porque até a Suíça tem tradições, basta lembrar que até há bem pouco havia um cantão onde apenas votavam os homens), seríamos talvez essa Suíça ou Áustria, com sol e praia, e tudo o resto, as empresas, o PIB, o poder de compra, a simplicidade, o Estado a funcionar, com políticos anónimos que raramente aparecem nos jornais e tudo o mais. Mas não.

Ficámos reduzidos ao CR7, uma peque-nina bomba de oxigénio colectiva, e de cada vez que aparece mais uma, como agora o Oliveira “das motas”, é rapidamente colocada no coração do povo e tratada como mais um cromo para a colecção. São estes agora os nossos heróis?

A acrescentar àqueles a que se refere um estudo encomendado pelo Centre for European Policy Studies (CEPS) a pedido do Parlamento Europeu, que diz que entre as 25 pessoas mais beneficiadas pelos fundos comunitários entre 2014 e 2020, surgem sete portugueses. Estes sete multiplicados por várias centenas de amigos e conhecidos dá alguns milhares, os tais que diariamente vemos passar nas nossas auto-estradas, monta-dos em carros de alta cilindrada. Isto, numa economia que não chega a pesar um por cento da europeia, dá que pensar.

Estaremos reduzidos a um país onde ape-nas os restaurantes funcionam, atafulhados com os plasmas da Sport TV e com clientes de olhar apático agarrados aos telemóveis, martelando furiosamente nas pobres sapa-teiras, como se não tivessem mais ninguém com quem falar?

Com tudo isto deixei de ter vergonha do meu passaporte austríaco, apesar de manter a esperança de voltar a ter orgulho no país que me viu crescer.

(7)

Economia

DR

Risco de um “enorme buraco” na sustentabilidade da Segurança Social

Governo desvia

descontos dos

trabalhadores

O Governo está

a utilizar os

descontos dos

trabalhadores

do regime

contributivo

da Segurança

Social para pagar

as despesas do

Covid-19, o que

põe em perigo sua

sustentabilidade

e a actualização

das pensões.

O

sistema contributivo da Segurança Social, que paga as pensões de re-forma, o subsídio de desemprego e o subsídio de doença, é finan-ciado pelos descontos dos traba-lhadores e pelas contribuições das empresas. Estas correspondem a uma parcela do valor criado pelo trabalhador que ele não recebe directa e imediatamente sob a forma de remuneração. Recebe-a mais tarde, quando perde o seu rendimento por doença ou por perda de emprego (subsídio de doença ou de desemprego) ou então quando deixa de trabalhar (pensão de reforma). A receita assim obtida também é utilizada para manter o poder de compra das pensões devido à degrada-ção causada pelo aumento dos preços, ou seja, para actualizar as pensões.

eUGÉnio rosa

economista

No entanto, o governo está a utilizar indevidamente estas re-ceitas para pagar as medidas do Covid, pondo assim em perigo a sustentabilidade do Regime con-tributivo da Segurança Social e em risco, no futuro, quer o paga-mento das pensões dos trabalha-dores por conta de outrem, quer a actualização das pensões. É isso que vamos provar neste estudo utilizando os dados divulgados pelo próprio governo.

Sustentabilidade

em risco

De acordo com a execução orçamental divulgada todos os meses pela Direção-Geral do Or-çamento do Ministério das Finan-ças, a Segurança Social, de Janeiro a Maio de 2021, já tinha suporta-do encargos que resultaram suporta-do Covid-19 no montante de 1.433,4 milhões €, sendo 207,9 milhões € de receitas perdidas devido às isenções de contribuições conce-didas pelo governo às empresas, e 1.225,1 milhões € de despesas pagas referentes às medidas de apoio às empresas e às famílias por causa da pandemia.

No Orçamento de Estado de 2020, o governo inscreveu 2.492,4 milhões € de transferências do Orçamento do Estado para o Orçamento da Segurança Social para esta poder suportar as des-pesas das medidas aprovadas pelo governo de apoio às empresas e às famílias devido ao Covid-19, mas pagas através da Segurança Social. E no Orçamento do Estado para 2021, apenas foram inscritos 647 milhões € para transferir para a Segurança Social para esta poder pagar este tipo de despesas.

Mas a Segurança Social já suportou, só até Maio de 2021, apenas em cinco meses, 1.433,4 milhões €, sendo 1.225,1 milhões € com pagamentos referentes ao Covid-19, ou seja, praticamente o dobro do montante que consta do Orçamento de Estado aprovado

em 2021 para transferir para a Segurança Social (647 milhões €). E de 647 milhões €, o gover-no transferiu para a Segurança Social, até Maio de 2021, apenas 269,6 milhões €.

É evidente que são os des-contos dos trabalhadores e as contribuições das empresas para o Regime contributivo da Segu-rança Social que estão a pagar, em 2021, as medidas do Covid, apesar das receitas do Regime contributivo não se destinarem a esse fim. É evidente também que se não for aprovado um or-çamento suplementar em 2021 que aumente significativamente as transferências do Orçamento do Estado para o Orçamento da Segurança Social serão as receitas do Regime contributivo da Segu-rança Social, ou seja os descontos dos trabalhadores e contribuições das empresas, que acabarão por suportar a maioria das despesas do Covid-19 abrindo-se, deste forma, um “enorme buraco” na sustentabilidade da Segurança Social.

Não se está a pôr em causa a necessidade de haver medidas de apoio do Estado às empre-sas e às famílias que perderam os seus rendimentos devido ao Covid-19, o que estamos a pôr em causa, e consideramos isso mesmo uma ilegalidade, é que sejam os descontos e as contribui-ções para o Regime contributivo da Segurança Social a pagar essas despesas, o que põe em causa a sustentabilidade deste regime, ou seja, as pensões do Regime geral e a sua utilização.

As despesas de apoio às em-presas e às famílias devem ser suportadas por toda a sociedade, através de impostos e transferên-cias do Orçamento do Estado para o Orçamento da Seguran-ça Social, e não apenas com os descontos directos e indirectos dos trabalhadores para o

Regi-me contributivo da Segurança Social.

O que não deixa de ser estra-nho é o silêncio e a passividade da Assembleia da República e, em particular, dos partidos de esquer-da, perante este comportamento do governo que põe em perigo a sustentabilidade do Regime con-tributivo para não aumentar a dí-vida pública. Tal como aconteceu antes do 25 de Abril, as receitas dos Regime contributivo estão a ser utilizadas para fins que não são, por lei, os seus, pondo em risco o pagamento e o aumento necessário das pensões, já que a maioria dos reformados continu-am a receber pensões inferiores ao limiar da pobreza, e outros apoios sociais continuam a não tirar da pobreza centenas de mi-lhares de portugueses.

Desinvestimento

A obsessão do défice continua--se a sobreporcontinua--se à necessidade de defender a saúde dos portugue-ses, pois o Governo continua a recusar dotar atempadamente o SNS dos meios que este necessita para enfrentar a grave crise de saúde pública. E não são as pre-visões irrealistas e optimistas do Banco de Portugal de Centeno sobre a economia portuguesa, nem a “bazuca”, que alteram a realidade.

Em plena pandemia, o Gover-no aprovou um orçamento para o SNS em 2021 que é profunda-mente irrealista e mostra a pouca

preocupação que lhe merece a saúde pública e, por arrasto, a profunda crise económica e social em que o país está mergulhado devido ao Covid.

Em 2020, a despesa total do SNS foi 11.454 milhões €, e a prevista para 2021 é apenas de 11.604 milhões €, ou seja, só mais 1,3%. Se compararmos a despe-sa nos cinco primeiros meses de 2021 com a dos cinco primeiros meses de 2020 conclui-se que ela aumentou em 7,2%, portanto um ritmo de crescimento percentu-al 5,5 vezes superior ao previsto no orçamento do SNS aprovado pelo governo que é apenas 1,3%. E com o reduzido aumento de receita de receita do SNS previs-to para 2021, o próprio governo previa um défice de 89 milhões € este ano. Este irrealismo das previsões do governo, associado a transferências ainda menores de fundos nos primeiros cinco meses de 2021, quando compa-rado com igual período de 2020 (-2,5%), determinou que, só nos cinco primeiros meses de 2021, o SNS acumulou um saldo nega-tivo de 377 milhões €, que é 4,2 vezes superior ao défice previsto no orçamento do SNS aprovado pelo governo para todo o ano de 2021. Se se mantiver o ritmo de crescimento do défice verifi-cado nos primeiros cinco meses de 2021, o SNS terminará este ano com um enorme défice de 904,8 milhões, que se adicionará à enorme dívida que já tem aos fornecedores privados.

(8)

8

• O DiabO, 16 de Julho de 2021

autárquicas

Q

ual a fasquia da IL para as próximas autárquicas em Sintra?

Duplicar a votação do Tiago Mayan, que foi o candidato presidencial da IL.

Como lê as sucessivas sondagens dos últimos tempos?

Não temos ainda sondagens em Sintra, pelo menos que tenha conhecimento.

Antes da IL qual foi o seu percurso

PAULO CARMONA, CANDIDATO DA INICIATIVA LIBERAL A SINTRA

“Justiça é mal paga e

dependente do poder executivo”

“aumentar os efectivos da Polícia Municipal nas zonas

problemáticas com videovigilância e iluminação nessas

zonas, seguro municipal básico para todos os munícipes

que o não tenham e um cheque infância municipal para

ser utilizado nas creches do concelho” são as prioridades

de Paulo Carmona, candidato da iniciativa Liberal a

Sintra. Em declarações a O DiabO, é cáustico sobre a

Justiça: “Pobre, mal paga, mal organizada, poucos meios,

lenta e demasiado dependente do poder executivo”.

por Marta Brito

DR

político?

Nenhum.

Qual a grande mudança de que Portugal precisa?

Devolver liberdade e responsabilidade aos cidadãos. Moderar o peso do Estado acabando com as diferenças na saúde e educação, entre quem pode pagar seguros e escolas privadas, e os outros.

Tem alguma experiência autárquica

anterior?

Não.

Quais as suas prioridades para o concelho de Sintra, caso vença as eleições?

Aumentar os efectivos da Policia Muni-cipal nas zonas problemáticas com videovi-gilância e iluminação nessas zonas, seguro municipal básico para todos os munícipes que o não tenham e um cheque infância municipal para ser utilizado nas creches

do concelho.

Quais são as principais riquezas do concelho?

As suas paisagens naturais, os monu-mentos e as suas gentes.

Preocupa-o um Verão quente em matéria de incêndios?

Muito, dada a incompetência manifesta do ministro Cabrita em temas de prevenção e preparação.

Está politicamente activo

há quantos anos?

Há 40 anos.

Como está a saúde da nossa Justiça?

Pobre, mal paga, mal organizada, pou-cos meios, lenta e demasiado dependente do poder executivo.

Como está a saúde da nossa Democracia?

Má. Não existe o devido escrutínio nem o essencial equilíbrio entre os três poderes. O executivo manda nas listas do legislativo que supostamente o con-trolaria e a independência da Justiça, sobretudo a níveis superiores é muito dificultada.

O

presidente do Chega, André Ven-tura, aponta como objectivo do seu partido ser a terceira força política mais votada nas eleições autárqui-cas e anunciou a intenção de suspender o mandato de deputado para participar nessa campanha.

No encerramento de um encontro na-cional do Chega de preparação das autár-quicas de 26 de Setembro, em Santarém, André Ventura citou Salazar, afirmando que os candidatos do Chega se apresen-tarão a estas eleições “orgulhosamente sós, enquanto outros se deitam debaixo do PSD para conseguir um lugar ao sol”.

“Já podemos assegurar que teremos mais de 250 câmaras municipais a que nos candidataremos em Portugal”, declarou o presidente e deputado único do Chega no auditório do Centro Nacional de Ex-posições e Mercados Agrícolas (CNEMA), recebendo palmas.

André Ventura traçou como “grande objectivo para as eleições autárquicas fazer do Chega a terceira força política mais votada” e disse que ficará muito desiludido se isso não acontecer.

“Durante a campanha autárquica sus-penderei o meu mandato na Assembleia da República para andar ao vosso lado nas estradas deste país”, acrescentou o presidente do Chega.

Por altura das eleições regionais de 2020, nos Açores, e quando se apresentou às presidenciais de 26 de Janeiro deste ano, André Ventura também anunciou a intenção de suspender o mandato de deputado na Assembleia da República, mas isso não era permitido pelo Estatuto dos Deputados, que está atualmente a ser revisto na sequência de iniciativas legisla-tivas do PSD e do CDS-PP.

Este encontro em Santarém,

denomi-nado Convenção Autárquica Nacional, contou com cerca de 400 participantes, segundo o Chega, partido constituído em 2018, que vai concorrer pela primeira vez a eleições autárquicas.

Na sua intervenção, Ventura pediu “lealdade e irreverência” aos candidatos autárquicos do Chega, frisando que no dia seguinte às eleições “o partido não desaparece, nem o seu líder deixa de existir, nem a direcção nacional, nem as comissões políticas distritais”.

Críticas ao PSD

O presidente e deputado único do Chega, André Ventura, acusou o líder do PSD, Rui Rio, de copiar as ideias do seu partido com o projecto de revisão constitucional dos sociais-democratas apresentado na AR.

“Talvez o PSD deva perceber que é hora de terminar de copiar as nossas ideias

e de ter um programa para Portugal”, afirmou André Ventura, no encerramento de um encontro nacional autárquico do Chega.

André Ventura referiu que o Chega lançou no ano passado um projecto de revisão constitucional “que envolvia re-duzir deputados, uma reforma da Jus-tiça – verdadeira reforma da JusJus-tiça – e uma redução dos cargos e do clientelismo do Estado, que teve a firme oposição de todos os outros partidos”. “Vergonha” exclamou.

“Qual foi o espanto quando vejo Rui Rio na televisão a dizer que o PSD ia apresentar uma reforma e uma revisão constitucional que assentaria na redução de deputados e na reforma da Justiça”, acrescentou.

O presidente do Chega, que foi militan-te do PSD, procurou caricaturar Rui Rio,

(9)

autárquicas

RICARDO LEÃO CANDIDATO DO PS A LOURES

“A gestão da CDU paralisou o

desenvolvimento do concelho”

“Quando for eleito, a primeira medida será a reorganização

dos serviços da câmara, mais transparente e próxima das

pessoas, de forma a acabar com estes casos de suspeitas

que têm sido prática nesta gestão comunista de 30 anos à

frente do município de Loures, que têm e muito manchado a

imagem do nosso concelho” – afirma a O DiabO Ricardo Leão,

candidato do PS a Loures. Frisa ainda que a insistência numa

acção política de “passa culpas” e de “responsabilização do

governo” transformou Loures num dos concelhos

mais atrasados da aML. “É inaceitável”. Para Ricardo Leão,

“a alternativa à Democracia é mais e melhor Democracia”.

por Marta Brito

DR

L

oures é visto como um bastião do PCP. Considera-se o homem certo para que isso mude?

Não seria suficiente. A equipa e as propostas certas são o segredo! A gestão da CDU paralisou o desenvolvimento do concelho; foram anos de oportunidades perdidas.

descrevendo-o como “uma espécie de cópia do André Ventura”, que apareceu na televisão “com pior ar, na verdade, e com aquela pouca energia assim própria, com aquele ar de contabilista já enraive-cido com o mundo e com todos”.

O presidente do Chega adiantou que vai encarregar o gabinete de estudos do partido de elaborar “uma matriz de intervenção autárquica”, que será como uma “enciclopédia” das posições a defender pelos candidatos autárqui-cos: “Para que de todos sejamos um e para que o corpo seja unido àquilo que defendemos”.

Antes, também Patrícia Carvalho, assessora de comunicação e vogal da direcção nacional do Chega, falou aos participantes neste encontro sobre a “necessidade de uniformizar a men-sagem e uniformizar toda a comuni-cação”.

A insistência numa acção política de “passa culpas” e de “responsabilização do governo” transformou Loures num dos con-celhos mais atrasados da AML. É inaceitável.

Estar a lutar “contra” o PCP não pode prejudicar as negociações do OE 2022?

A luta nunca seria contra o PCP. A luta é pelo desenvolvimento de Loures; pela melhoria da qualidade de vida; qualidade do espaço público; das acessibilidades; do investimento.

Quais as principais mudanças de que Loures precisa?

Precisa de uma visão integradora na AML; de se posicionar como um polo de desenvolvimento e de assumir a atracção de empresas e emprego como essencial.

Necessita também de cuidar dos seus munícipes, cuidando da recolha do lixo, dos espaços verdes, por exemplo.

Se fôr eleito qual vai ser a sua primeira medida?

Quando for eleito, a primeira medida será a reorganização dos serviços da câ-mara, mais transparente e próxima das pessoas, de forma a acabar com estes casos de suspeitas que têm sido prática nesta gestão comunista de 30 anos à frente do município de Loures, que têm, e muito, manchado a imagem do nosso concelho.

E depois dessa nova estrutura, trabalhar para cumprir os compromissos assumidos, muito particularmente na habitação, com

novas políticas de habitação jovem e a criação de uma bolsa de habitação para a classe média, tão abandonada nestes anos todos.

Antes desta candidatura qual foi o seu percurso político?

Não foi um percurso, foi uma prepa-ração. Para além do meu percurso profis-sional e académico, em que tenho uma licenciatura em Gestão de Empresas e sou contabilista certificado, inscrito na ordem dos contabilistas certificados, o meu percurso político começou em 1997, ano em que fui eleito para a Assembleia de Freguesia de Sacavém. Em 2001 fui eleito vereador da Câmara Municipal de Loures, até 2013, responsável por pelouros como a educação, o desporto, a cultura, a juven-tude e também as finanças e o orçamento. Em 2015 fui eleito, pelo Círculo do Distrito de Lisboa, deputado à Assembleia da República, mandato renovado em 2019 e que actualmente exerço, agora também coordenador dos deputados do PS do distrito de Lisboa.

Em 2017, fui eleito pela população do concelho de Loures Presidente da Assem-bleia Municipal.

Qual a grande mudança de que Portugal precisa?

Na produtividade. Nada justifica a assi-metria de produtividade quando compara-da com a UE. Mais produtivicompara-dade significa mais riqueza com os mesmos meios e, consequentemente, melhores salários.

Como lê as sucessivas sondagens dos últimos tempos?

Como sondagens: umas boas, outras más, mas nenhuma faz ganhar ou perder eleições.

Como explica os fracos resultados do PSD e do PS nas sondagens?

Não conheço, mas mesmo que conhe-cesse: sondagens! Não se ganham nem perdem eleições com elas.

Como está a saúde da nossa Justiça?

Recupera muito bem e apresenta melhorias significativas de dia para dia. Está mais ágil e mantém a mesma cre-dibilidade e a mesma capacidade de ministrar a justiça a todos e de forma igual.

Precisará continuar a exercitar a ve-locidade, mas bem. A Justiça deve aferir--se, essencialmente, pela sua segurança, credibilidade e solidez.

Como está a saúde da nossa Democracia?

Com quase 50 anos, está em excelen-te forma: com vitalidade, participação e capacidade de se regenerar.

Sobretudo a capacidade de reflectir sobre si própria, de se questionar e de não perder a esperança – e o objectivo – de melhorar a qualidade da cidadania e a qualidade vida dos seus cidadãos. A alternativa à democracia é mais e melhor democracia.

(10)

10

• O DiabO, 16 de Julho de 2021 PUb C M Y CM MY CY CMY K

(11)

Miseráveis, mas

bem-educados

Pedro Caetano

Opinião

Veneramos simpaticamente os ladrões e incompetentes que nos desgovernam…

O

s Portugueses são economicamen-te miseráveis, mas gostam de ser muito bem-educados para quem os faz miseráveis. A maior parte dos povos do mundo tratam mal e mandam verbalmente a sítios poucos recomendáveis qualquer ladrão que os roube ou incompetente que desperdice o seu dinheiro. Assim, nesses países há vergonha e fim de carreira política e pública para quem roube ou desperdice enormemente o erário público.

No entanto, isso não acontece em Por-tugal. Os Portugueses, relembremos, são quem inventou um slogan único no mundo para, bem-educados, desculparem políticos que os roubam: o famoso “rouba mas faz”, que começou com Isaltino de Morais em Oeiras mas agora é aplicado a quase todo o regime dos políticos e seus protegidos de honra em Lisboa. Muitos dos nossos compatriotas não percebem que nos outros países os políticos e quem eles nomeiam ou apoiam para instituições públicas ou emblemáticas nacionais, se são bem pagos, têm é de fazer e não precisam nem devem roubar para fazer.

Uma multidão de Portugueses não percebe também que muitos dos nossos políticos e figuras públicas a eles associadas, do futebol à banca, além de potencialmen-te roubarem ainda por cima fazem muito poucochinho. Tão poucochinho que esta-mos economicamente estagnados há mais de 20 anos e cada vez mais em últimos da Europa. Igualmente, o Benfica há quase 60 anos que não é campeão europeu nem obtém nenhum outro título europeu. Nem já no futebol, apesar de termos excelentes jogadores, somos primeiros, de tal forma a cultura de lideranças sem ética nem mérito singrou na política e nas comissões de honra dos políticos a apodrecerem Portugal por todo o lado.

Notamos a forma educadíssima como as nossas televisões deram enorme tempo de antena ao advogado empinocado de Luís Filipe Vieira para este atacar inter-minavelmente heróis nacionais como Car-los Alexandre e Rosário Teixeira. Muitas primas-donas da nossa imprensa e do regi-me também laregi-mentam que estes valentes procurador e juiz tenham sido tão mal

educados para com Vieira, com “métodos desagradáveis”.

Notamos sobretudo que Michael O’Leary, o CEO da Ryanair, que tem pro-priedade e paga impostos em Portugal, deu uma conferência de imprensa onde chamou Pinóquio e desenhou o famoso nariz de mentiroso na cara do ministro das infraestruturas Pedro Nuno Santos. Esta “falta de educação” vinda de um herói de sucesso da aviação internacional horrorizou vários jornalistas das rádios, televisões e jor-nais da nossa praça, que não negaram que o CEO da Ryanair tinha razão. No entanto recomendaram que não ouvíssemos o muito que este CEO tinha para nos ensinar sobre aviação e fazer dinheiro, pois “tinha sido muito mal educado” para com o ministro que nada percebe de aviação e faz desa-parecer milhares de milhões de euros dos nossos impostos. O’Leary é irlandês, logo não percebe que os portugueses prefiram ser pobres e ver os seus impostos a serem esbanjados, mas extremamente bem edu-cados para quem os rouba e/ou desbarata os seus impostos e dinheiros.

Na televisão tratam sempre muito edu-cadamente e dão grande destaque e entre-vistas polidas aos políticos, aos honrados pelos políticos e seus advogados. Enquanto os outros povos correm com os ladrões, os portugueses estendem-lhes tapetes verme-lhos! Derretem-se em salamaleques e tiques

de educação do século passado para com os políticos e seus amigos, apesar de estes lhes levarem o dinheiro e quotas todas a troco de nada e com nenhum resultado. Em vez de preferirem quem lhes apresente resultados e faça o país progredir finalmente na Euro-pa, os portugueses preferem incompetentes sem ética nas lideranças do governo e das instituições portuguesas, cuja incompetên-cia e falta de ética faça emigrar os seus filhos e netos. Acabamos e matamos lentamente Portugal, mas ao menos somos educados e veneramos simpaticamente os ladrões e incompetentes que nos desgovernam sem reclamarmos nem insultarmos!

Ora Michael O’Leary tem todo o di-reito de ser mal-educado e nós também. Qualquer pessoa e país saudável o seria. Afinal temos sobre nós uma das maiores cargas fiscais da Europa, não só medida em impostos directos sobre o rendimento mas em impostos como aqueles que re-sultam em pagarmos a energia mais cara da Europa por poder de paridade de com-pra. E o que obtemos em troca de pagar tantos impostos? Não temos auto-estradas gratuitas como a maioria dos outros euro-peus tem. Para irmos a cidades do interior como Portalegre, por exemplo, temos que pagar dezenas de euros em portagens. Em contraste, o autor destas linhas ainda agora foi de Agios Nikolaus a Heraklion, na ilha grega de Creta, de autoestrada, sem pagar um único cêntimo. O ano

pas-sado também deu a volta ao Peloponeso, a maior península grega, de autoestrada sem pagar um único cêntimo. Todos sabemos que o mesmo se passa em Espanha e pela Europa quase toda.

Também não temos acesso ao serviço nacional de saúde fácil e generalizado como os outros europeus têm. Quarenta por cento dos residentes portugueses pagam até centenas de euros mensais para terem seguro de saúde privado para poderem ter acesso eficiente aos médicos. Este autor vive em Inglaterra e tem sempre acesso fácil e rápido ao serviço nacional de saú-de britânico, tal como a gransaú-de maioria dos outros residentes britânicos tem, por isso apenas 10% pagam seguro de saúde privado. Em Portugal são 400% mais de cidadãos forçados a pagarem seguro de saúde apesar de pagarem mais impostos que os britânicos. Então para onde vai o dinheiro dos nossos impostos se não vai para pagar as infraestruturas básicas e saúde que os outros povos europeus tem de graça através dos impostos?

Segundo o CEO da Ryanair, os nossos impostos vão para o nosso governo, para por exemplo o ministro das infraestrutras Pedro Nuno Santos “atirar para a retrete abaixo”. Isto porque o governo gasta em companhias cada vez mais irrelevantes para Portugal como a TAP. A TAP só voa para 70 aeroportos do mundo, enquanto a Rya-nair voa de Portugal para 140 aeroportos fazendo crescer o nosso turismo e economia cada vez mais no Porto, no Algarve, nas Ilhas e em Lisboa. No entanto, segundo os jornalistas do nosso apodrecido regime, nem este eficientíssimo amigo da economia portuguesa pode ser mal educado para com o ministro inimigo da nossa economia e das nossas infraestruturas.

Com muita educação e sobretudo muito tempo de antena na televisão para qual-quer ladrão, vivemos assim num pântano cada vez mais podre e pobre desde que Guterres fugiu horrorizado e repugnado, deixando o país nas mãos de Sócrates e Costa à frente do PS e Pedro Nuno Santos à frente da JS. Se tivéssemos de apostar, apostaríamos que depois de Sócrates e de-pois do seu número 2, Costa, teremos o seu número 3, Pedro Nuno, também à frente de Portugal. Sempre com muita educação, muita subserviência, muito medo, nenhuma questão dura e mal-educada na altura do esbanjamento de impostos (só depois dos factos). Continuaremos assim miseráveis, mas bem-educados.

Esta boa educação patológica e maso-quista, única no mundo para com ladrões, sádicos políticos e seus amigos em comis-sões de honra por todo o lado, parece ser a estranha morte de uma nação. Somos dominados por um grande conjunto de burros sempre à volta da nora da pobreza e a levarem chicotadas cada vez mais fortes de quem vive à custa dos impostos deles, sem nenhuma coragem nem energia para se rebelarem e se verem livres da albarda de serem o povo mais pobre e mais emigrado de toda a União Europeia.

© Sh Utt ERS tOC k.

(12)

12

• O DiabO, 16 de Julho de 2021

Mundo

As actuais políticas de “acolhimento” são uma insanidade, pois vão criar mais problemas, em mais locais, e não vão resolver nenhum dos existentes

Migrações anárquicas: um negócio de milhões

João JosÉ Brandão

Ferreira

oficial Piloto aviador (ref.)

A

vaga de migrações que por aí vai – leia-se fluxo de pessoas constante de países na maioria pobres, viciosos, corruptos, em violência política e social, ago-ra com predominância de religião islâmica e hindu – à excepção da América Central e do Sul, que são católicos, para a Europa, EUA, Canadá e Austrália e apenas estes (já que os japoneses, até ver, não os deixam entrar) tem sido uma das bandeiras da nova esquerda marxista (acompanhada de uma boa parte do capitalismo selvagem); da escandalosa manipulação e lavagem ao cérebro dos “me-dia” – seguramente a actividade profissional menos provida de comportamentos éticos, à face da terra – que passou a ser patrocinada pela babilónica ONU, como uma “causa”, a que o respectivo Secretário-Geral empresta todo o seu carinho (correspondido pelos seus amigos em Lisboa) e que teve o seu cú-mulo no pouco noticiado e menos discutido Pacto Global das Migrações, assinado em Marraquexe por cerca de 150 países, em 10 de Dezembro de 2018. Um Secretário-Geral aparentemente cheio de ideias “boazinhas”, mas na maioria idiotas e fora da realidade das coisas e dos homens.

Por isso estamos a assistir, há bastos anos, a uma movimentação de pessoas completa-mente desregulada e anárquica, fomentada por não se sabe dizer quem (sem rosto), apoiada por ‘ONGs’ (organizações não go-vernamentais), num negócio ideológico que movimenta muitos milhões e acarreta sofri-mentos incomensuráveis para as suas vítimas e posta em marcha acelerada depois das chamadas “primaveras árabes” (outro caso mal contado) e do início da guerra civil na Síria, outra cena ainda pior relatada.

A capa filantrópica (existe sempre uma capa filantrópica, cheia de boas intenções – de que está o inferno cheio) é a ajuda huma-nitária às pessoas que, por via de guerras ou perseguições políticas, fogem dos territórios onde essas acções decorrem e as mesmas são vítimas colaterais das mesmas, para as quais não têm, obviamente, qualquer responsabi-lidade. Também não existem certezas sobre quem, e com que critério, se decide da justiça de uns e de outros.

Uma questão geopolítica

Aparentemente o Direito Internacional foi ultrapassado e assoberbado por toda esta vaga, que já vai na simples alusão à falta de condições de vida para justificar um “asilo”. Ora tudo isto é uma insanidade, para além de uma injustiça e uma falsidade.

É uma insanidade pois vai criar mais pro-blemas, em mais locais, e não vai resolver nenhum dos existentes; é uma injustiça para as populações dos países de acolhimento que não tenham culpa nenhuma no que se passa nos locais mais remotos da Terra, mas vão ver toda a sua vida perturbada, por vezes violentamente. E antagonismos de séculos não desaparecem de uma década para a outra. Finalmente, é uma falsidade pois o que está por detrás de tudo isto, nada tem de humanitarismo e filantropismo.

É como a luta contra o “Colonialismo” (que confundiram propositadamente com “Colonização”, sendo coisas diferentes), quando “inventaram”, a seguir à II Guerra Mundial, o direito à autodeterminação dos povos”, sendo o que esteve por detrás foi a Guerra-Fria, o acesso a matérias-primas, a cooptação de pontos estratégicos importantes e a substituição de soberanias.

Agora, com esta coisa infame das migra-ções o que se pretende é a substituição de populações; a mistura das raças (visando o seu fim, sobretudo a dos caucasianos), o fim das nações (do nacionalismo) e das fronteiras, logo dos países. No limite, amal-gamar tudo, visando uma governação global. É uma questão geopolítica. Numa palavra, tal visa objectivos de “Poder”, servindo derivas ideológicas.

O originador destas ideias na Europa foi o aristocrata (mestiço) Conde Coundenhove Kallergi (1894-1972) (nascido em Viena já no estertor do Império Austro-Húngaro que, a partir de 1922, fundou o “Movimento Pan--Europeu”), que já sonhava se expandisse de Vladivostok a S. Francisco, e incentivava a importação para a Europa de milhões de

africanos e asiáticos. Parece que lhe deram agora ouvidos.

E não deixa de ser curioso recordar que, quem Kallergi (que pertenceu a várias lojas da Maçonaria, teve quatro nacionalidades e foi casado três vezes, sendo duas das suas mulheres judias) entendia que melhor esta-ria à altura, para dirigir tudo isto, seesta-riam os judeus (leia-se, judeus “ashkenazim”), enfim, com o que restasse da aristocracia europeia de antanho, entretanto quase desaparecida.

Estas são as origens mais remotas da União Europeia, mas o vulgo só se lembra do que se passou a seguir à II Guerra Mun-dial, até porque estas coisas raramente são referidas.

Situação catastrófica

É bom ainda recordar que, depois da-quela data, os europeus foram escorraça-dos politicamente de África e da Ásia (das Américas já o tinham sido no século XIX), mas agora podem vir hordas de asiáticos, islâmicos e negros, para a Europa e passa-rem a ter todos os direitos políticos… Em Portugal, só aparentemente (pois a realidade é escamoteada) a situação não é encarada como catastrófica.

A “inauguração” da nova rota do norte de África para o Algarve, de tráfico de mi-grantes e o surto de Covid-19, na zona de Odemira – e as inacreditáveis trapalhadas governamentais em lidar com o problema – vieram finalmente, começar a destapar a ponta do véu.

Mas a população ainda não se apercebeu das terríveis implicações disto tudo, aneste-siados que andam pela Comunicação Social

– que frita os miolos às pessoas, sobretudo as televisões – e a cobardia, quando não a falta à verdade de políticos e comentadores. É mais uma delirante desgraça do politicamente cor-recto. A situação é catastrófica por um conjun-to alargado de razões, que se ligam entre si.

Em primeiro lugar a demografia negativa dos nacionais; por razões várias, todas elas pouco abonatórias, a população mais jovem portuguesa em idade de procriar deixou de querer ter filhos, o que resulta na impossibili-dade de as gerações se substituírem, havendo uma regressão na população original, que se vai reflectir nas próximas décadas (estamos com uma demografia de cerca de 1,3 filhos por casal e, há muitos anos, a segunda mais baixa da Europa; para que as gerações se

Referências

Documentos relacionados

No sentido de reverter tal situação, a realização deste trabalho elaborado na disciplina de Prática enquanto Componente Curricular V (PeCC V), buscou proporcionar as

Deste modo, o adequado zoneamento e sua observância são fundamentais para a conciliação da preservação ou conservação de espécies, hábitats e paisagens dentre outras e

também, de Augusto Abelaira. Organizado por Paulo Alexandre Pereira. Aveiro: Universidade de Aveiro, 2008. Grandes Romances).. Ensaio de

O CES é constituído por 54 itens, destinados a avaliar: (a) cinco tipos de crenças, a saber: (a1) Estatuto de Emprego - avalia até que ponto são favoráveis, as

O que a lei não pode suportar, o que ela sente como uma ameaça intolerável, é a existência de uma violência que lhe seja exterior, ao contrário da violência (Gewalt) que vem de

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

Para saber a quantidade de fumos e gases, você pode pegar ar como amostra. Analisando essa amostra, pode ser determinada qual proteção respiratória deve ser utilizada. Um exemplo

The lagrangian particle tracking model was used to stu- dy the dispersion of particles released in different lagoon channels, the advection of particles released