Re la çã o e n t r e os Blogs e W e bj or n a lism o
Joã o Sim ã o
Em ail: sim aocc@gm ail. com
Re su m o
Blogs e w ebj or nalism o podem por v ezes ser confundidos. Há no ent ant o difer enças significat ivas. São os pont os com uns e os pont os div er gent es que est e t r abalho sist em at iza, pr ocur ando ser assim um cont r ibut o par a um a discussão que se pr ev ê evoluir nos pr óxim os t em pos. A Web 2.0 e as fer r am ent as gr at uit as são ainda out r o t em a im por t ant e na r elação dos blogs com o w ebj or nalism o e o j or nalism o em ger al não descur ando o conceit o de j or nalist a cidadão.
1 . Blogs e w e bj or n a lism o
Se t odos sabem os o que é um blog e quais as suas pr incipais
car act er íst icas, o m esm o j á não podem os dizer sobr e o
w ebj or nalism o. Em bor a ainda sem um m odelo concr et o e aceit e
gener icam ent e há elem ent os que podem os apont ar . A act ualização
const ant e, a int eracção com os leit or es at r avés de links e dos
com ent ár ios bem com o a possibilidade de poder enviar o t ext o por
e-m ail são alguns dos elee-m ent os do w ebj or nalise-m o aceit es por t odos. O
int er essant e é que os blogs ofer ecem igualm ent e est as
possibilidades. Não ser á pois de adm ir ar que sur j am algum as
confusões ent r e os blogs e a possibilidade de se pr at icar j or nalism o
nest e supor t e.
Com ecem os ent ão por est e pont o: É possível pr at icar - se
j or nalism o num blog? A r espost a é sim ples, possível é, no ent ant o
dificilm ent e se prat icar á e act ualm ent e ninguém o faz. José Luís
Or ihuela, afir m ou num a ent r evist a que «los blogs no son per iodism o,
ni nuevo ni viej o; no hay, en la inm ensa m ayor ía de los blogs, la m ás
m ínim a int ención por hacer per iodism o ni los blogger s son
consider ados com o per iodist as.»1
1
É possível por que os blogs ofer ecem duas das m ais im por t ant es
necessidades dos w ebj or nalism o; a act ualização const ant e,
r enovação de infor m ação e a int er acção com os w ebnaut as.
Tom em os com o exem plo o Blogger , a m ais popular plat afor m a
de cr iação de blogs. O sit e ofer ece um edit or que per m it e publicar um
t ext o em m odo WYSI WYG ( What You See I s What You Get ) e em
HTML per m it indo assim um a edição m ais sim ples e int uit iva t al com o
se escr ev e no Wor d por ex em plo, ou em m odo HTML que per m it e
inser ir vídeos e sons ent r e out r os elem ent os m ult im édia. Mas est a
edição não é apenas pot enciada por est e edit or on- line. Há inúm er as
plat afor m as que per m it em edit ar post s no blogger , r efir o m ais um a
pela sim plicidade e funcionalidade que t em par a post s m ais t ex t uais.
Com um add- on cedido gr at uit am ent e pelo Blogger é possível
publicar dir ect am ent e a par t ir do Wor d.
Há assim m uit as for m as e m aneir as que per m it em act ualizar e
publicar num blog. A qualquer alt ur a, qualquer post pode ser apagado
ou edit ado. Um blog per m it e dest a for m a um a sim ples e r ápida
act ualização, que aliada à publicação cr onológica or ganiza o blog de
for m a a ser facilm ent e lido e per cebidas as alt er ações desde a últ im a
leit ur a.
Aliada à sim ples cr iação, que não necessit a de nenhum
conhecim ent o t écnico, a facilidade de act ualização e de publicação foi
um dos fact or es que m ais aj udou à popular ização e vulgar ização dos
blogs.
Out r o fact or fundam ent al no w ebj or nalism o e t am bém nos
blogs é a int er acção com os leit or es. E nest e sent ido os blogs t êm
vindo a m elhor as for m as de int er acção. Nos pr im eir os t em pos dos
blogs, r epor t am o- nos a 1999 com o Blogger , não exist ia a
possibilidade de com ent ar . Est a foi pot enciada algum t em po m ais
t ar de com r ecur so a out r os sit es que ofer eciam esse ser v iço.
podem ainda copiar o link per m anent e, enviar por e- m ail aquele post
a out r a pessoa, ou m esm o publica- lo no seu blog deixando a
r efer ência na página or iginal.
A for m a com o est as acções são pot enciadas quase
aut om at icam ent e em t em plat es j á pr edefinidos e ger idos num
int er face gr áfico sim ples e int uit ivo per m it em que qualquer página
sej a int er act iva.
Os com ent ár ios num blog são m uit o im por t ant es. Chega m esm o
a cr iar em - se com unidades de com ent ador es em blogs. Cit am os um
exem plo: no “ blogue dos m ar r et as” podem os encont r ar um núm er o
consider ável de com ent ador es que não se lim it am a com ent ar
espont aneam ent e. São quase fieis na sua t ar efa de com ent ar t endo
cada um o seu pr ópr io est ilo e par t ilhando “ r elações pessoais”2 com
os out r os com ent ador es. Mas a im port ância dos com ent ár ios não se
fica pela cr iação de um a com unidade, aliás est a é o r esult ado de
out r os fact or es.
Um est udo de Gilad Mishne e Nat alie Glance; “ Leave a Reply:
An Analysis of Weblog Com m ent s” deixa alguns dados sobre a
im por t ância que os com ent ár ios desem penham nos blogs. Um a das
pr im eir as conclusões é que os com ent ár ios funcionam com o
m ot ivação par a os blogger s cont inuar em a escr ever. Est a m ot ivação
sur ge pelo car áct er de feedback3 e de acr escent ar de novos dados
que os com ent ár ios confer em ao blog. Tr at a- se ainda de um a
m aneir a de confer ir a popular idade do blog. Par a além dos
cont ador es que r egist am o núm er o de visit as, e dos links par a um
blog, os com ent ár ios em m aior ou m enor num er o são o indicador da
par t icipação e do núm er o de w ebnaut as que lê um blog. No est udo
est a sit uação é r efer ida com o sendo “ a chicken- and- egg sit uat ion”
2
Ao usar m os o t er m o “ relações pessoais” não nos est am os a r efer ir r elações de pr esença física, r efer im o- nos sim a um a aceit ação de individualidade do nick conhecendo- lhe car act er íst icas, gost os e int er esses.
3
ist o é “ quem nasceu pr im eir o o ov o ou a galinha?” o m aior num er o
de com ent ár ios pode ser r esult ado do m aior núm er o de leit ur as
r efer idas nas visit as e links par a o blog, no ent ant o esse m aior
núm ero t am bém se deve ao fact o do blog ser m ais ou m enos
com ent ado. Cer t o é que um post com m ais com ent ár ios é o post m ais
popular e o m ais lido.
«Clear ly, com m m ent ed w eblogs are subst ant ially m or e r ead
and linked t o. How er ever , t her e is a chicken- and- egg sit uat ion her e:
assum ing a fixed per cent age of w eblogs r eader s post com m ent s,
w eblogs w hich hav e m or e incom ing links and m or e r eader s ar e m or e
likely t o have higher am ount s of com m ent s. Never t heless, t he
exist ence of m any com m ent s in a w eblog post is clear ly an indicat ion
for popular it y of t he post , and unlike ot her m easur es ( such as
indegr ee count ) does not r equir e analysis of t he ent ir e blogospher e.»4
Out r o dos pont os que o est udo t am bém abor da é a capacidade
que os com ent ár ios confer em de criar um debat e em t or no de um
t em a e/ ou de um post .
Há ainda out r as for m as de int er acção que pr olifer am cada vez
m ais na w eb. Com ecem os pelos links, quem usar um a fer r am ent a de
“ adm inist r ação de links”5, pode facilm ent e edit ar , act ualizar os links
do blog. Pode ainda at r avés da caixa de sugest ões6 r eceber dos seus
leit or es sugest ões par a links. Cr ia- se dest a for m a um a int er ligação
m aior ent r e o ou os aut or es e os leit or es, ist o por que a m aior par t e
dos leit or es de blog possuiu um .
Out r a for m a de cr iar int er acção passa por aquilo que em
por t uguês do Br asil se designa de “ enquet e” e que em inglês t em a
4 Willis, Chris e Bow m an, Shayne – We Media: how audiences ar e shaping t he
fut ur e of new s and infor m at ion; The Media Cent er at The m er icam Pr ess I nst it ut e; 2003
5
Vulgarm ent e conhecida pela designação inglesa de Blogr oll.
6
denom inação de “ pool” , em Por t ugal ainda não se encont r ou um a
designação aceit e com um m ent e usando- se ou inquér it o ou
quest ionár io, ou out r os nom es m ais cr iat ivos. Est es ser viços são
t am bém eles sim ples de cr iar , de ger ir e de publicar no blog
possibilit ando um a est at íst ica sobr e um t em a que nor m alm ent e é
debat ido no blog.
Em bor a não se possa inser ir dent r o da car act er íst ica de
int er acção com os leit or es, assist im os nos últ im os m eses a
r enovações no que se r efer e ao uso de elem ent os m ult im édia nos
post s. Se a w eb é um m eio as car act er íst icas dest e m eio são a
possibilidade de usar vár ios elem ent os m ult im édia par a além do
t ext o, nom eadam ent e im agem , som , vídeo, anim ações… O “ You
Tube”7 per m it e de for m a m uit o fácil publicar um vídeo num blog não
sendo necessár io possuir conhecim ent os t écnicos par a t al.
Por t odos est es m ot ivo supr acit ados é pois nor m al que t ivessem
sur gido algum as duvidas quant o ao que se faz nos blogs ser
j or nalism o. A nossa r espost a divide- se em duas par t es: a pr im eira de
que é possível; a segunda de que dificilm ent e algum dia isso
acont ecer á. Or a que é possível j á o m ost r am os quando indicam os as
pr incipais car act er íst icas do w ebj or nalism o e dos blogs. Falt a ent ão
j ust ificar o por quê de “ dificilm ent e algum dia acont ecer á” .
Os blogs são est rut ur as que pelas suas car act er íst icas ser vem
pr incipalm ent e par a a cr iação de opinião. A cr iação aut ónom a, a
liber dade de edição, a gr at uit idade, e os com ent ár ios são aliciant es
par a quem quer liber t ar e par t ilhar a sua opinião. Opinião que
assum e diver sas for m as, quer opinião polít ica, quer opinião sobr e
t em as dos m edia, sobr e m usica, sobr e out r os assunt os quaisquer .
7
Há no ent ant o blogs que ser vir am de font es para “ fur os”
j or nalíst icos. O que não faz deles “ j or nais” m as sim font es. Chegám os
ent ão à pr im eir a r elação ent r e os blogs e o w ebj or nalism o ou o
j ornalism o em geral. Os blogs são boas font es para os j ornais. Há
blogs e blogger s8 que t êm acesso a infor m ações que escapa aos
j or nalist as, quer dada a sua posição num a em pr esa, num par t ido
polít ico, ou em qualquer out r a or ganização. Os blogs são ainda font es
quando os seus aut or es escr evem sobr e um det erm inado t em a
especializando assim um blog. É nest e sent ido que o PÚBLI CO.PT est á
a convidar “ blogs especializados que ocupam um lugar de r efer ência
nos seus dom ínios”9 par a se j unt ar em à list a de blogs do j or nal.
Mas os blogs não são apenas font es de infor m ação e de t em as
par a os j or nais, são- o t am bém par a os w ebnaut as10 int er essados
naquele t em a ou naquele blog. Pode- se dizer que há blogs sobr e
t udo, desde os “ baby blogs” , ou blogs de bebés em que os pais
par t ilham o cr escim ent o dos filhos dia a dia no blog, at é blogs
especializados em m edicina, em t ecnologia, em hum or ou
sim plesm ent e blogs de pensam ent os individuais ou colect ivos,
passando t am bém por blogs er ót ico- por nogr áficos, de “ w at ch dog” ,
r egionais, inst it ucionais, educacionais, et c. é pois fácil de
com pr eender que os blogs acabam sem pr e por ser um a im por t ant e
font e de infor m ação que se especializa em cer t os t em as. Exem plo de
que os blogs se com eçam a afir m ar com o um a im por t ant e font e de
infor m ação é a r ecent e j unção da Technor at i com a AP par a ligar os
blogger s aos subscr it or es dos ser viços da AP.11
8
Designação par a quem escr eve num blog.
9
Declar ações de José Vict or Malheir os, dir ect or do PÚBLI CO.PT num com ent ár io do blog Pont o Media de Ant ónio Gr anado, o pr im eiro blog conv idado do PÚBLI CO- PT | ht t p: / / ciberj or nalism o.com / pont om edia/ ?p= 914# com m ent s
10
Designação par a t odos aqueles que navegam na I nt er net .
11
Mas ent ão qual a difer ença que nos leva a ident ificar o cont eúdo
dos blogs com o font es de infor m ação e não com o j or nalism o? A
r espost a a est a quest ão passa com o é óbvio pela ident ificação das
car act er íst icas chaves do que é o j or nalism o. «Jor nalism o é a
act ividade pr ofissional que consist e em apurar , r ecolher e coligir
infor m ação, r edigindo- a sob a for m a de not ícia que se dest ina a ser
divulgada j unt o do público at r avés de um m eio de com unicação de
m assas.» ( Gr adim , 2005) . Assim t em os que o j or nalism o é um a
act ividade que é r egida por r egr as, legais e por cr it ér ios edit or iais de
cada ór gão de com unicação social. Um j or nal12 é for m ado por um a
est r ut ur a com post a por j or nalist as, edit or es, chefe de r edacção, e
dir ect or . A pr ofissão de j or nalist a est á ainda suj eit a às r egr as da
Com issão da Car t eir a Pr ofissional dos Jor nalist as que r esum idam ent e
se apr esent am da seguint e for m a:
«Podem ser j or nalist as os cidadãos m aior es de 18 anos no
pleno gozo dos seus dir eit os civis.»13
«A pr ofissão de j or nalist a inicia- se com um est ágio obr igat ór io,
a concluir com apr oveit am ent o, com a dur ação de 24 m eses, sendo
r eduzido a 18 m eses em caso de habilit ação com cur so super ior , ou a
12 m eses em caso de licenciat ur a na ár ea da com unicação social ou
de habilit ação com cur so equivalent e, r econhecido pela Com issão da
Car t eir a Pr ofissional de Jor nalist a.»14
«O exercício da pr ofissão de j or nalist a é incom pat ível com o
desem penho de:
a) Funções de angar iação, concepção ou apr esent ação de
m ensagens publicit ár ias;
b) Funções r em uner adas de m ar ket ing, r elações públicas,
assessor ia de im pr ensa e consult or ia em com unicação ou im agem ,
bem com o de or ient ação e execução de est r at égias com er ciais;
12
Ent enda- se, ór gão de com unicação social.
13
Est at ut o do Jor nalist a ( Lei n.º 1/ 99 de 13 de Janeir o) ; Ar t igo 2º
14
c) Funções em qualquer or ganism o ou cor por ação policial;
d) Ser viço m ilit ar ;
e) Funções de m em br o do Gover no da República ou de
gover nos r egionais;
f) Funções de pr esident e de câm ar a ou de ver eador , em r egim e
de per m anência, a t em po int eir o ou a m eio t em po, em ór gão de
adm inist ração aut ár quica.»15
Os blogs não r eúnem ent ão as condições necessár ias par a
ser em consider ados j or nalism o. Não só pela legislação m as t am bém
pela for m a com que são ut ilizados, sem um a est r ut ur a que per m it a a
r ecolha isent a e sist em át ica de dados de for m a a coligir , or ganizar e
edit ar infor m ação.
Um j or nal independent em ent e da sua or ganização apr esent a
um a est r ut ur a que não var ia m uit o dest a: Dir ecção, Concelho
Edit or ial, Chefia de Redacção, Edit or es, Redact or es, Colabor ador es,
Colunist as e Secr et ar ia de Redacção. Est a est r ut ur a t em funções e
t ar efas bem definidas em t oda a or ganização e pr odução dos
cont eúdos not iciosos.
Assim o dir ect or de um j or nal par a além de fazer a pont e ent r e
a r edacção e a adm inist r ação t êm ainda com o funções «definir a
or ient ação e a linha edit or ial da publicação, o que faz, ent r e out r as
for m as, at r avés dos edit or ais que per iodicam ent e escr eve; »16 e ainda
«assum ir as r esponsabilidades legais decor r ent es dos t ext os não
assinados que são publicados no j or nal; e co- r esponsabilizar - se pelos
t ext os cuj o aut or est á ident ificado; »17 cabe ainda ao dir ect or
super visionar os t r abalhos m ais im por t ant es e em conj unt o com os
chefes de r edacção escolher os dest aques e t ít ulos par a a pr im eir a
página.
15
Est at ut o do Jor nalist a ( Lei n.º 1/ 99 de 13 de Janeir o) ; Ar t igo 3º
16
Gr adim , Anabela; Manual de Jor nalism o, BOCC ( w w w .booc.ubi.pt ) 2000
17
Num blog, m esm o com v ár ios bloggers est a função de direct or
não exist e. O m ais sem elhant e passa pelo adm inist r ador do blog que
ao convidar os blogger apont ou um a linha t em át ica e que pode
cor r igir e adapt ar t ext os. No ent ant o a função de r esponsabilidade
por t odos os t ext os e o super visionam ent o dos pr incipais post es é
coisa que não acont ece.
Hier ar quicam ent e num j or nal ent r e o dir ect or do j or nal e a
chefia de dir ecção exist e o conselho edit or ial, «um ór gão consult ivo
com r esponsabilidades na definição da linha edit or ial do j or nal»18.
Mais um a vez t al est r ut ur a não se ver ifica nos blogs.
Chefias de r edacção, a figur a do chefe de r edacção e os
sub-chefes são o exem plo da or ganização na r ecolha e pr odução de
not ícias. Ao chefe de r edacção com pet e «coor denar e super visionar
t odo o t r abalho pr oduzido na r edacção [ e] or ganizar cada núm er o do
j or nal»19. Est a figur a apenas exist e com o for m a de or ganizar a
r edacção per m it indo assim a exist ência de um a linha de t r abalho
sist em át ica onde sej am execut ados os t em as de int eresse e os
valor es not iciosos pr esent es na linha edit or ial da publicação. Nos
blogs est a figur a não exist e com car áct er execut ivo. Em blogs
colect ivos t al figura pode exist ir m as apenas dando sugest ões. Est a
difer ença é significat iva pois im plica r esult ados difer ent es na for m a
com o são t r at ados os fact os e as font es e const r uído o t ext o.
As act uais fer r am ent as par a blogar per m it em dividir os post s
em cat egor ias ou t ags. Um j or nal t em secção de t em át icas
específicas. Por cada dessa secção exist em um r esponsável m áxim o.
Os Edit or es se secção «t êm por t ar efa coor denar os t r abalhos dos
r edact or es da sua ár ea, edit ar as peças j or nalíst icas por eles
pr oduzidas» 20
18
I bidem
19
I bidem
20
Hier ar quicam ent e, na or ganização de um j or nal, sob a alçada
dos Edit or es est ão os r edact or es. Est es por nor m a especializam - se na
t em át ica da secção a que est ão afect os e t êm de dom inar os
difer ent es géner os. No caso do blog os r edact or es adopt am o nom e
de blogger s, não t êm de dom inar nenhum géner o pois ainda não há
géner os específicos par a escr it a no blog. Tal com o t am bém j á v im os
os blogger s não t êm nenhum super ior hier ár quico que lhe cont r ole e
super visione o seu t rabalho.
Do cor po r edact or ial de um j or nal fazem t am bém par t e os
colabor ador es e os colunist as. Enquant o que os pr im eir os escr evem
pont ualm ent e par a o j or nal, os segundos por nor m a t êm um espaço
ou r ubr ica fixo. Os «colunist as são per sonalidades de peso e
r econhecido m ér it o social, int elect ual, ou out r o, que assegur am
r ubr icas de opinião fixas nos j or nais onde colabor am . Em ger al é
possível avalia a puj ança, qualidade, e m esm o a linha ideológica de
um j or nal at r avés da análise do elenco de colunist as que int egram a
publicação.»21 Nos blogs o que acont ece é um a m ist ur a de opinião e
de infor m ação. Muit os são apenas opinião. O caso m ais m ar cant e em
Por t ugal r egist a- se no blog Abr upt o de José Pacheco Per eir a, um
r econhecido colunist a do j or nal Público e com ent ador t elevisivo.
Da ar quit ect ur a or ganizat iva de um j or nal fazem ainda par t e a
secr et ar ia de r edacção e o ar quivo. A pr im eir a cum pr e funções
or ganizat ivas e logíst icas com o a agenda, a r eser v a de bilhet es,
hot éis, ger ir a frot a de aut om óveis, et c. Com o é clar o num blog não
há ent idade que t r at e de t ais por m enor es. Quant o ao ar quivo quer no
j or nal quer nos blogs a função é sem elhant e. Guar dar as publicações
m ais ant igas par a m em ór ia e uso post er ior com o backgr ound.
Toda est a quest ão da or ganização ser ve par a dem onst r ar dois
pont os. O pr im eir o é que est a est r ut ur a dos j or nais t em m ais
im plicações do que a m er a or ganização. Alt er a t oda a lógica de
21
funcionam ent o e de r edacção cr iando alt er ações m uit o significat ivas
ao pr odut o final, o t ext o j or nalíst ico e a infor m ação veiculada. O
segundo pont o r efer e- se ao car áct er um pouco par t icular que o blog
apr esent a. Sur gem por ém cada vez m ais blogs inst it ucionais que
com eça a subver t er t oda est a lógica. No ent ant o não ser á de pr ever
que nos t em pos m ais pr óxim os os blogs, da for m a com o os
conhecem os act ualm ent e, se est r ut urem de for m a pr ofissional. Se t al
acont ecer a plat afor m a usada t er á out r as especificações m ais
sem elhant e às usadas act ualm ent e no w ebj or nalism o.
Mesm o não sendo j or nalism o m uit os do blogs de r efer ência são
t idos em t ão boa cont a que são equipar ados a j or nais na leit ur a diár ia
de m uit os w ebnaut as. Os blogs equipar am - se ainda ao j or nais
quando colocados lado a lado nos agr egador es de RSS.
É exact am ent e com os feeds de RSS que se expandiu out r a das
im por t ant es r elações ent r e os blogs e o w ebj or nalism o. Se o
j or nalism o usa os blogs com o font e, os blogs fazem o m esm o m as de
out r a for m a. Com o RSS t or nou- se possível que um blog t ivesse
sem pr e act ualizadas as not ícias dos j or nais que t em com o r efer ência
pela t em át ica que m ais int er essa aos leit or es do blog. Assim ao ler
um blog est á t am bém a t er acesso aos t ít ulos e super lead dos
j or nais, funcionando assim o blog com o dist r ibuidor t em át ico dos
j or nais.
Mesm o ant es a vulgar ização do RSS os blogs t inham j á um a
r elação m uit o pr óxim a com os j or nais, pr incipalm ent e aqueles que se
m anifest am on- line. Muit os dos post s são um a r ecolha, indicação e
com ent ár io de not ícias. Est a act ividade por par t e dos blogger s é sem
duvida o m aior pot enciador de m udanças dos cidadão face ao
j or nalism o ver ificadas pr incipalm ent e em duas ver t ent es. Pr im eir o há
um m aior int er esse e par t icipação nas not ícias. O act o de com ent ar
num blog liber t ou o leit or da sua função de sim ples consum idor de
PÚBLI CO.PT por exem plo. Est a int er acção e par t icipação e clar o a
possibilidade de publicar infor m ação deu ao leit or ainda o ensej o par a
o que hoj e se apelida de j or nalism o do cidadão. A SI C é quem m ais
clar am ent e explor a esse conceit o em que o cidadão passa não a ser
j or nalist a com o int it ula o conceit o m as um a im por t ant e font e bem
colocada e infor m ada que t om a a iniciat iva. Act ualm ent e a SI C no seu
sit e oficial cont a com cinco t em as do “ j or nalism o do cidadão” onde
num for m at o igual aos seus blogs t em át icos coloca infor m ações
enviadas por w ebleit or es22 da SI C.
2 . O n ov o e cossist e m a dos m e dia
O conceit o “ de um par a m uit os” com eça cada vez m enos a
fazer sent ido, m esm o nos m edia t radicionais. Especialm ent e com a
I nt er net , m as não só, sur gem novas font es de infor m ação que
par t em do cidadão ou de associações de cidadãos. Os blogs são a
for m a desse t ipo de expr essões ganhar divulgação sem est ar
dependent e do “ Gat ekeeper ” . Assim os blogs são o pr im eir o passo
par a o “ j or nalism o do cidadão” no ent ant o os blogs cum pr em ainda a
função de obser vador es e de com ent ador es, são “ opinião pública” .
Act ualm ent e podem os dividir as font es dos j or nais23 em t r ês, as
“ font es oficias” , os “ blogs” e a “ invest igação j or nalíst ica” . Nas “ font es
oficiais” incluím os as not as de im pr ensa enviadas por em pr esas,
agência de com unicação, or ganizações e inst it uições, das quais
const a a infor m ação veiculada pelo or ganism o int eressado na sua
div ulgação. Nos “ blogs” há m últ iplos t ipos de infor m ação desde a de
car áct er m ais pessoal, à m ais cor por at iva e at é m esm o infor m ações
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Webnaut a aqui r epr esent a o que nos j ornais são os leit ores, nas rádios os ouv int es e na t elev isão os t elespect adores. Num m eio com m últ iplos m eios não podem os isolar um a car act eríst ica pois num sit e quem o consult a não se lim it a a ler , ouve ficheir os de som e vê vídeos. Com o t al com o t er m o w ebleit or pr et endem os r eunir t odas est as act ividades.
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novas r esult ado da posição do blogger num det er m inado or ganism o,
ou m esm o fr ut o da sua invest igação. A “ invest igação j or nalíst ica” é
t odo aquele m at er ial que o j or nalist a r ecolhe j unt o das suas font es no
local, sej am elas habit uais ou espont âneas.
Depois de t r at ada a infor m ação é difundida e acaba ela m esm a
por ser t am bém “ font e” quer par a os t r adicionais líder es de opinião
locais, quer par a os blogger s, que ao cont r ár ios dos pr im eir os t êm
pr oj ecção m ediát ica. Assim as not icias são t r at adas pelos blogs de
difer ent es m aneir as. Ou sim plesm ent e apr esent adas por ser em de
int er esse do blog, ou com ent adas ou m esm o est udadas ( nest e ult im o
caso r efir o- m e a blogs com função de w at chdog) . Com o a
com unicação ger a com unicação, os blogs volt am a ser usados com o
font e de infor m ação par a os m edia t r adicionais.
Em bor a à pr im eir a vist a par eça que os blogs não t r ouxer am
gr andes alt er ações ao ecossist em a dos m edia, na ver dade o cidadão
com o font e passou a t er m aior peso. As for m as de com unicação e de
infor m ação colabor at ivas aum ent ar am exponencialm ent e e isso
r eflet iu- se nos m edia t r adicionais que souber am usar os cidadão
dot ados agor a de m aquinas fot ogr áficas e de um espír it o
“ j or nalíst ico” m ais apur ado. As m udanças são nít idas. O “ de um par a
m uit os” com eça a per der for ça par a o “ de m uit os par a m uit os” .
Os blogs não são em si j or nalism o, m as são um a par t e
im por t ant e e act iva do ecossist em a m ediát ico.
3 . W e b 2 .0
A figur a que Cam ões im or t alizou nos “ Lusíadas” r epr esent a
t odas as vozes que se levant am cont r a o pr ogr esso enfat izando os
seus per igos. Com a w eb não foi difer ent e e m uit os no passado e
use deixe de t er vida e se dedique apenas ao vir t ual. Est ava assim
post a em per igo a sociabilidade.
A designação de Web 2.0 não é inocent e e segue t oda a
t er m inologia usada par a act ualizações ( updat e) e evoluções
( upgr ade) de pr ogr am as infor m át icos. Quer ist o dizer que a w eb 2.0
t r at a- se de um a evolução da w eb 1.0. Convém ent ão ver o que é a
w eb 2.0, e qual a evolução que o uso da I nt er net t eve. Se os “ Velhos
do Rest elo” t inham r azão ou se pelo cont r ár io est avam enganados.
Um a das pr incipais e pr im eir as car act er íst icas da “ Nova Web”
ou Web 2.0 é o fact o de que os usuár ios pr oduzem cont eúdo. A
m udança que os blogs int r oduzir am foi m ais pr ofunda do que há
pr im eir a vist a possa par ecer . At é ent ão a pr odução de cont eúdo na
w eb est á r eser vada a uns poucos que dom inav am as fer r am ent as
necessár ias de cr iação e act ualização de um a página. Assim a m aior
fat ia dos w ebnaut as t inha o papel passivo de consum ir cont eúdo e
infor m ação. Os blogs e m ais t ar de a t ecnologia Wiki vier am per m it ir
um a m aior dem ocr at ização da w eb no que se r efer e à pr odução de
cont eúdo.
Um a m aior facilidade de pr oduzir cont eúdo e de o colocar
on-line ger ou vár ias alt er ações:
A pr im eir a foi a capacidade cr it ica e act iva das pessoas que
agor a t êm nos blogs a sua for m a de com unicar par a o m undo.
Havendo com o consequência m ais leit ur a e um espír it o m ais cr it ico
em lugar da passiv idade que a falt a de um a r elação dialógica
pr ovocav a.
Cr iação de com unidades baseadas não na pr oxim idade física
m as nos int er esses com uns. A facilidade de publicar or iginou
com unidades que se j unt am em t or no de um int er esse ou t em a
com um o que leva depois à exist ência de r elações int er pessoais que
Quant as m ais pessoas envolvidas na pr odução de cont eúdo de
um sit e, sej a ele blog ou Wiki, m aior é qualidade do ser viço. Quant os
m ais m em br os m aior é a act ualização, a act ualidade, a confir m ação e
validação dos cont eúdos. Quase por r elação dir ect a m aior es são
t am bém o núm er os de w ebnaut as a visit ar a página, que em cer t os
casos, t am bém eles m esm o não sendo m em br os podem suger ir e/ ou
enviar infor m ação e cont eúdos.
Dest a for m a com a facilidade de acesso à pr odução de cont eúdo
est e ganha um a m aior im por t ância. De t al for m a que se liber t a da
sua plat afor m a inicial e se disponibiliza em difer ent es plat afor m as. O
exem plo m ais fácil de per ceber é o funcionam ent o dos feeds de RSS.
At r avés dos feeds RSS o cont eúdo dos blogs, por exem plo, pode ser
usado em agr egador es ou nout r os blogs. O m esm o se passa com
out r o t ipo de cont eúdos que pode ser m ist ur ado e apr oveit ado par a
difer ent es t ipos de plat afor m as.
Há ainda a r egist ar um a nova for m a de classificação da
infor m ação. Se no nosso disco r ígido or ganizam os a infor m ação
dent r o de past as e sub- past as, ou sej a, segundo cat egor ias e sub
cat egor ias ( t axsonom ia) a Web 2.0 per m it e um a classificação m enos
linear e m ais sem elhant e ao nosso pensam ent o. At r avés de t ags que
podem os t r aduzir por palavr as- chave ou et iquet as, podem os colocar
um link em m ais que um a cat egor ia sim ult aneam ent e ( t agsonom ia) .
Out r a das gr andes inovações da Web 2.0 t r at a- se de ser
possível aceder e usar aplicações on- line cr iando am bient es m ais
sem elhant es ao am bient e de t r abalho. Dest a for m a t or na- se m ais
sim ples ut ilizar sit es que r equer em do ut ilizador a t ar efa de pr eencher
e act ualizar a sua própr ia infor m ação.
Est a sim plicidade e r apidez pot enciar am o sur gir das r edes
sociais. As r edes sociais são sit es apoiados em bases de dados que
per m it em m ant er infor m ação sobre cada pessoa act ualizada pelo
ou r eais. A ut ilidade que os ut ilizador es lhe r econhecem passa pelo
j unt ar am igos separ ados pela dist ância. Mant er o cont act o, m ost r ar o
que de novo se passa, e conhecer pessoas novas.
Um per fil com plet o num a r ede social é um pouco a ident idade
de cada um . Coloca à disposição de t odos im agens suas, os seus
int er esses, os desej os, et c. As m edidas de segur ança são definidas
pelos ut ilizador es que apenas disponibilizam os seus cont act os se
assim o desej ar em . As for m as de cont act os pr om ovidas pelos sit es
são segur as podendo apenas ser acedidas dir ect am ent e na base de
dados. Par a os ut ilizador es dest as plat afor m as elas são for m as de
ext ensão par a a w eb das suas r edes de am izades podendo assim
m ant er o cont act o com t odos os am igos.
Ao cont r ár io do que os “ Velhos do Rest elo” vat icinavam a w eb
segue um r um o em que une cada vez m ais as pessoas e as m ant ém
m ais em cont act o. Est ar on- line hoj e significa est ar cont act ável. A
w eb funciona assim com o um a ex t ensão da vida real e não com o um
m undo à par t e com plet am ent e vir t ual. Os blogs e o w ebj or nalism o
t êm nest e est ar cont act ável e nest a ext ensão da vida r eal um a
posição pr eponder ant e no r um o que a w eb 2.0 segue. O w ebj or nal
( r efir o- m e a um a rede de difer ent es j or nais quer por consult a dir ect a
quer por agr egação) é um a font e de infor m ação t r at ada, or denada e
com pilada. O blog é o local onde essa infor m ação é com ent ada,
cit ada, debat ida. Cada blog é um pouco “ um espaço público” do
Re fe r ê n cia s
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