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O inquérito policial e o princípio da publicidade

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O inquérito policial e o princípio da publicidade

A persecução criminal é dever do Estado, sendo assim, uma vez praticada a infração penal, cumpre a ele, a apuração e o esclarecimento dos fatos e de todas as suas circunstâncias.

Para tanto, é deferido a determinados órgãos a competência para a investigação dos crimes, a fim de que se esclareça a existência do ato ilícito, bem como indícios de autoria. Oliveira (2011), nesse sentido, diz que tal determinação cabe à polícia judiciária, presente no art. 144 da CRFB/88, do qual se pode notar que este procedimento tem natureza administrativa e é realizada anteriormente à provocação da jurisdição penal.

Mirabete (2005, p. 23) completa, “uma das tarefas essenciais do Estado é regular a conduta dos cidadãos por meio de normas objetivas sem as quais a vida em sociedade seria praticamente impossível". Segundo o autor ainda, "para que se proponha a ação penal, entretanto, é necessário que o Estado disponha de um mínimo de elementos que indiquem a ocorrência de uma infração penal e de sua autoria”.

Grecco (2010, p. 151) assevera que "não se inicia investigações por puro capricho, por curiosidade, por leviandade, mas sim quando se tem um mínimo necessário de provas que possa conduzir a investigação à descoberta de um fato criminoso e de seu provável autor".

A fase de investigação, portanto, é pré processual, tratando-se de procedimento cabal ao esclarecimento do fato típico ocorrido, destinado, conforme Oliveira (2011) à formação do convencimento do responsável pela acusação. O juiz deve permanecer inerte e alheio nesta fase, podendo intervir apenas para tutelar violações ou ameaças de lesões à direitos e garantias individuais dos investigados, bem como para resguardar a efetividade da função jurisdicional.

Para Lopes Jr. (2012, p. 207-208):

A investigação preliminar é uma peça fundamental para o processo penal [...] é absolutamente imprescindível, pois um processo penal sem a investigação preliminar é um processo irracional, uma figura inconcebível segundo a razão e os postulados básicos do processo penal constitucional [...] Não se deve começar um processo penal de forma imediata. Em primeiro lugar deve-se preparar, investigar e reunir elementos que justifiquem o processo ou não-processo. É um grave equívoco que primeiro se acuse, para depois investigar e ao final julgar.

Ademais, em posicionamento adverso, Oliveira (2011) defende que o inquérito não é indispensável à propositura da ação penal, uma vez que a acusação pode vir a tomar conhecimento e formar seu convencimento sobre o fato delitivo e autoria de outras formas ou elementos informativos.

Assim, a investigação preliminar é início da persecução penal que, por sua vez, tem como fundamento as normas constitucionais. Contudo, conforme expõe Lopes Jr. (2012), o convencimento do encarregado da acusação pode decorrer também de procedimento administrativo levados por outras autoridades administrativas e até mesmo por atuação de particular, do qual se tenha informações suficientes para a formação da opinião delitiva.

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A legislação brasileira começou a contar com o inquérito policial através da Lei 2.033 regulamentada por meio do decreto 4.824 de 1971, cujo nome foi mantido da mesma forma até os dias atuais.

Nesse sentido Nucci (2014, p. 109) expõe:

A denominação inquérito policial, no Brasil, surgiu com a edição da Lei 2.033, de 20 de setembro de 1871, regulamentada pelo Decreto-lei 4.824, de 28 de novembro de 1871, encontrando-se no art. 42 daquela Lei a seguinte definição: “O inquérito policial consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito”. Passou a ser função da polícia judiciária a sua elaboração. Apesar de seu nome ter sido mencionado pela primeira vez na referida Lei 2.033/71, suas funções, que são da natureza do processo criminal, existem de longa data e tornaram-se especializadas com a aplicação efetiva do princípio da separação da polícia e da judicatura. Portanto, já havia no Código de Processo de 1832 alguns dispositivos sobre o procedimento informativo, mas não havia o nomen juris de inquérito policial.

Para o autor, o inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal, conduzido pela polícia judiciária, voltado à colheita preliminar de provas a fim de apurar a prática de uma infração penal e sua autoria.

Capez (2012, p. 42) por sua vez, conceitua o inquérito policial como sendo "o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, art. 4º)".

Para Avena (2014), o inquérito policial possui natureza administrativa, na medida que se é instaurado pela autoridade policial, tratando de um procedimento inquisitorial, destinado a angariar informações para proceder à elucidação de crimes.

Mirabete (2005, p. 60) afirma ainda, que se trata “de instrução provisória, preparatória, informativa, em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária”.

Dessa forma, para uma conceituação precisa, além de cumprir a finalidade de apuração da materialidade delitiva e de indícios da sua autoria, o inquérito policial cumpre o precípuo papel de resguardo das provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, mos termos do art. 155 do CPP.

Nota-se que a finalidade do inquérito policial tem por base a segurança da ação judicial posterior e do próprio acusado, uma vez que fazendo-se uma instrução prévia, por meio do inquérito, é que será possível a reunião de todas as provas preliminares que suficientemente apontam a ocorrência do delito e o seu autor.

Nesse sentido, Nucci (2014, p. 108) assevera que " o simples ajuizamento da ação penal contra alguém provoca um fardo à pessoa de bem, não podendo, pois, ser ato leviano, desprovido de provas e sem um exame pré-constituído de legalidade".

Outra característica que compõem a formação do inquérito policial é a da oficialidade. Nesse sentido Capez (2012) explica que a CRFB/88 informa que a autoridade que preside o inquérito policial constitui-se em órgão oficial do Estado. Esta característica do inquérito é e, decorrência do princípio da

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legalidade, uma vez que os referidos órgãos da perquirição criminal são criados por lei, tendo por fundamento o art. 144 da Constituição.

A autoridade que preside o inquérito policial é o delegado de polícia. Portanto, o inquérito policial também é caracterizado por autoritariedade, uma vez que é autoridade pública que preside seus procedimentos, possuindo, para tanto, poder de decisão e mando.

Outra peculariedade do inquérito policial, conforme explica Avena (2014) é quanto a oficiosidade e indisponibilidade, uma vez que não é necessário provocação para ser iniciado, sendo sua instauração obrigatória quando estar-se diante da notícia de uma infração penal, nos termos do art. 5º, I, do CPP, ressalvados, sobretudo, os casos de ação penal pública condicionada e ação penal privada (art. 5º, II, do CPP).

Ademais, a lei 11.690/2008 trouxe subsídios para que o magistrado busque equilíbrio durante a investigação criminal. O inquérito é um meio adequado para que se afaste eventuais dúvidas e se corrija o prumo da investigação, evitando-se o indesejável erro judiciário.

Desde o início da persecução criminal, deve o Estado possuir elementos confiáveis para agir contra o investigado, a fim de que se torne mais improvável a ocorrência de equívocos na indicação da autoria do crime. Por outro lado, além da segurança, deve o Estado ainda fornecer a oportunidade do colhimento de provas cujo perecimento é um perigo iminente, sob pena de deturpação irreversível.

Lopes Jr. (2012, p. 211-216) ainda expõe:

O ponto de partida da investigação preliminar é a notitia criminis e, por consequência, o fumus commissi delicti. Essa conduta delitiva é geralmente, praticada de forma dissimulada, oculta, de índole secreta, basicamente por dois motivos: pra não frustrar os próprios fins do crime e para evitar a pena como efeito jurídico. Por isso, o autor do delito buscará ocultar os instrumentos, meios, motivos e a própria conduta praticada [...]

A investigação preliminar também atende a uma função simbólica [...] ao contribuir para restabelecer a tranquilidade social abalada pelo crime. Significa que [...] contribui para amenizar o mal-estar causado pelo crime através da sensação que os órgãos estatais atuarão, evitando a impunidade [...] A nosso juízo, a função de evitar acusações infundadas é o principal fundamento da investigação preliminar, pois, em realidade, evitar acusações infundadas significa esclarecer o fato oculto (juízo provisório e de probabilidade) e com isso assegurar à sociedade de que não existirão abusos por parte do poder persecutório estatal.

Assim, em prol dessa instrumentalidade constitucional da investigação preliminar, resta evidente a função de comprovar a noticia crime, bem como suas circunstâncias, visando, sobretudo, a dar uma resposta estatal de forma imediata e justificar a instauração ou arquivamento de eventual processo, mediante a observância das razões que o fundamentam, a busca do fato oculto, evitando, entretanto, acusações infundadas.

Conforme disposto no art. 20 do CPP, a autoridade policial assegurará o sigilo necessário à elucidação dos fatos para o inquérito policial, ficando pois ao seu critério discricionário, conforme oportunidade e conveniência. Assim, sempre que achar necessário, a referida autoridade poderá decretar a quebra do sigilo do ato, desde que justifique nos autos do inquérito.

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Nesse sentido, Tourinho Filho (2010) diz que a polícia judiciária é de fundamental importância dentro da persecução criminal, uma vez que o proprio inquérito policial formulado por ela pode concluir a inocência ou pela falta de provas de autoria em desfavor do investigado.

Para tanto, o delegado de polícia deve manter o sigilo necessário aos autos, já que a divulgação precipitada de fatos na fase de investigação pode acabar por prejudicando a completa elucidação do caso.

Capez (2012), em complemento, diz que o sigilo em questão não se estende ao representante do Ministério Público nem à autoridade judiciária. Os advogados poderão consultar os autos do inquérito, uma vez que o próprio STF já decidiu que a sua oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria garantia constitucional do acusado previsto no art. 5º, LXIII, da CRFB/88.

Nesse sentido, expõe Reis (2012, p. 51-52):

Essa regra, porém, perdeu parte substancial de sua relevância, na medida em que o art.

7º, XIV, da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB) confere aos advogados o direito de

“examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos”. Ademais, a Súmula Vinculante n. 14 do Supremo Tribunal Federal determina que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Esta súmula deixa claro que os defensores têm direito de acesso somente às provas já documentadas, ou seja, já incorporadas aos autos. Essa mesma prerrogativa não existe em relação às provas em produção, como, por exemplo, a interceptação telefônica, pois isso, evidentemente, tornaria inócua a diligência em andamento.

Portanto, ainda que decretado sigilo do inquérito, não fica o advogado privado de acesso aos autos. De tal modo, Avena (2014) assevera que o acesso amplo assegurado pela referida súmula não é sinônimo de acesso irrestrito, podendo ser oferecido ao advogado desde que este não comprometa o regular andamento das investigações.

Desse modo, assegurado acesso aos autos, o defensor também pode estar presente no interrogatório do acusado e na oitiva de testemunhas. Contudo, o inquérito deve permanecer relativamente secreto, a fim de que a autoridade policial possa ter total liberdade para agir no desempenho de suas funções.

Em que pese tais argumentos, cabe ressaltar ainda que o art. 7º, XIII da Lei 8.906/94, o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, acrescenta ao rol de direitos do advogado, a possibilidade de exame, em qualquer órgão do Poder Judiciário, Legislativo e da Administração Pública em geral, dos autos de processos finalizados ou mesmo em andamento, ainda que o advogado não tenha procuração, desde que não estejam sujeitos a sigilo, podendo o referido procurador obter cópias ou realizar anotações. Assim, desde que se parta da premissa que o referido dispositivo se estende ao inquérito policial, resta presumível que quando decretado o segredo de justiça pela autoridade competente, não há o que se falar de acesso aos atos investigativos pelo defensor.

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Neste sentido, Capez (2012) assevera ainda que frente a decretação do segredo de justiça, através de decisão judicial, não será permitido ao advogado acompanhar a realização dos atos procedimentais.

Em conformidade com este entendimento, Nucci (2014, p. 110) diz que:

"[...] em confronto estão o direito individual de vista dos autos de procedimento inquisitorial, de um lado, e de outro, o interesse público de manter o sigilo da investigação, ante a necessidade de preservar-se a segurança do Estado e da sociedade (artigo 5º, XXXIII, da CF). Incidente o princípio da razoabilidade, o interesse de menor relevância (privado) cede em homenagem àquele que garante o interesse coletivo (público), consubstanciado este no direito estatal de perquirir sobre possíveis ilícitos de extremada repercussão social."

Franco (1992, p. 20), corroborando tal entendimento, aduz que:

Normalmente, nos casos em que esteja envolvida vítima de estupro, nos crimes contra a honra e mesmo nos delitos relacionados com tóxicos, devem ser apurados com sigilo, e, para que o fato não seja ventilado e explorado publicamente, para assegurar o sigilo, a autoridade deve decretá-lo nos autos de inquérito, não podendo fornecer informações nem mesmo a imprensa [...].

Ademais, por um lado, com o poder de decretar o sigilo, o Estado afasta eventuais possibilidades de trazer prejuízo às investigações, bem como resguarda o direito constitucional da presunção de inocência dos investigados, uma vez que ainda não há, efetivamente, nenhuma acusação a estes. Por tal razão, a divulgação desenfreada de fatos acusatórios poderá atingir pessoas que, posteriormente, resta provado inocência.

Nesse sentido, Tourinho Filho (2010, p. 197) expõe que se em juízo, o princípio da publicidade "sofre restrições, não é de se estranhar deva haver sigilo na fase do inquérito policial, na fase em que se colhem as primeiras informações, os primeiros elementos de convicção a respeito da existência da infração penal e sua autoria."

O sigilo é, portanto, a essência do inquérito policial. Oliveira (2011) aduz que não respeitar essa premissa é abrir campo para que se fruste e macule o perfeito andamento da persecução criminal.

Contudo, nem sempre é possível afirmar que a juntada de elementos de prova implique a desnecessidade do sigilo.

Nesse sentido, Avena (2014 p. 240), ressalta que o sigilo que poderá ser conferido ao inquérito policial é, "unicamente, aquele que impedirá as pessoas do povo e o próprio investigado de manusear os respectivos autos ou tomar contato direito com o resultado de diligências realizadas no seu curso".

Cabe ressaltar o parágrafo único do art. 20 do CPP, acrescentado pela lei 6.900, de 14 de abril de 1981 e modificada redação pela Lei nº 12.681, de 2012, do qual estabelece que: "nos atestados de

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antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes".

Este preceito reflete o princípio da presunção de inocência, segundo o qual, conforme esclarece Capez (2012), ninguém pode ser considerado culpado senão depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Assim, o atestado de bons antecedentes deve ser deferido, mesmo quando houver qualquer inquérito ou processo criminal em andamento.

Com isto, verifica-se a preocupação legislativa na proteção da intimidade, vida, honra e imagem do investigado. Dessa forma, cabe a autoridade policial, quando está a frente da condução do inquérito policial, ater-se à colheita das provas, com o fim de buscar provas que corroboram com a verdade dos fatos, seguindo a justa instauração da ação penal, no caso houver elementos para tanto.

A globalização pressupõe a necessidade de informações. Frente as complexidades do mundo atual, a busca por informações é uma tarefa cada vez mais árdua para os indivíduos. Daí a importância da mídia na busca das atualizações acerca do que ocorre no mundo. A mídia deve buscar filtrar as informações, atuando com clareza e imparcialidade.

Conforme exposto, os atos emanados pelo Estado são públicos, uma vez que há, com isso, o exercício do monopólio sobre o poder jurisdicional. O sigilo ou segredo de justiça é uma exceção. A publicidade tem o intuído de atribuir maior credibilidade aos processos judiciais, umz vez que os julgamentos secretos podem vir a dificultar a fiscalização e censura da população. Com isso, conforme explica Giacomolli (2014), há a redução das arbitrariedades por parte do Poder Público, bem como aumenta a crença na Justiça na população.

Ainda de acordo com o autor "um processo probatório ético não admite o sigilo, o anonimato e nem o absolutismo da fé pública; é um espaço público de purificação dialética e não de exploração e de ocultação" (GIACOMOLLI, 2014. p.339).

Portanto, o sigilo presente nas investigações criminais se ligam a ideia de autoritarismo e arbitrariedade por parte do Estado, remetendo ainda à características inquisitoriais, contrárias aos princípios democráticos do modelo acusatório. Entretanto, para coibir essa ideia e trazer a parcialidade dos julgadores é que surge a publicidade.

Dessa forma, em prol do princípio da publicidade, o art. 93, inc. IX, da CRFB/88 consagra:

Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

A partir disso, conforme ensina Lima (2011), pode-se afirmar que a publicidade consiste em garantir o acesso de todo e qualquer cidadão aos atos processuais, a fim de assegurar maior transparência, pois possibilita a fiscalização das atividades estatais pelas partes ou por qualquer pessoa que assim o deseja, demonstrando clara adequação ao Estado Democrático de Direito.

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O inquérito polícia, como visto, ocorre em sigilo quando necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade, nos conformes do art. 20 do CPP, a fim de impedir que algo indevidamente interfira no regular andamento da investigação. Ademais, Muccio (2011, p. 47) esclarece ainda que "o inquérito policial é peça informativa, não fazendo parte do processo stricto sensu. A Constituição Federal assegura a publicidade dos atos processuais, não abrangendo aqueles do inquisitório".

Tendo em vista a proteção constitucional da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do indivíduo, conforme Lopes Jr. (2012) a proteção dos direitos do investigado deve ser priorizada face a publicização e exposição do inquérito policial à mídia, ainda mais considerando que a liberdade de imprensa não é absoluta.

Para Lopes Jr. (2012, p. 126) ainda,

[...] desde a perspectiva de máxima eficácia da atuação estatal na repressão dos delitos, o segredo externo (e o impedimento da publicidade plena) serviria para garantir a utilidade da persecução. [...]"a imparcialidade e a tranquilidade do órgão encarregado da investigação preliminar (policial, judicial ou a cargo do MP) estarão mais garantidas pela ausência da pressão pública e dos meios de difusão de massa.

Portanto, em vista do caráter instrumental do inquérito policial, a publicidade da investigação pode ser inócua, a depender do caso. Não valendo, portanto, o risco de se espalhar para a mídia.

No mesmo sentido, Giacomolli (2014, p. 339) entende que:

Defender a publicidade externa de fatos relacionados ao âmbito criminal não é vinculá- la aos interesses midiáticos de exploração da miséria das vítimas e de seus familiares e nem às finalidades econômicas e de manutenção da permanência do grande auditório. A comunicação e revelação do processo a terceiros encontra limites.

Ademais, visando as garantias constitucionais do investigado, segundo Lopes Jr. (2012, p.

126) a publicização "abusiva dos atos da investigação preliminar é, desde o ponto de vista do sujeito passivo, o mais grave prejuízo que pode sofrer um inocente, (...), pois coloca-o prematuramente no banco dos acusados".

Com isso, resta visível que a publicidade plena em determinados casos torna o princípio da presunção de inocência maculado, haja visto a formação antecipada do juízo condenatório do investigado, além de prejuízo à honra, imagem e intimidade do mesmo.

Contudo, não é de hoje o interesse da mídia por questões criminais, o crime tem sido um dos principais produtos deste meio desde sempre. Entretanto, o interesse em questão ganhou espaço no campo jornalístico com o desenvolvimentos dos meios de comunicação em massa no fim do século.

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Nesse sentido, Pina (2009, p. 89) diz que o crescimento adveio com o "aparecimento da rádio e da televisão e o desenvolvimento de um mercado cada vez mais concorrencial entre imprensa, rádio e TV na disputa de audiências e recursos publicitários, a situação acentuou-se ao longo de todo o século XX até os dias de hoje".

Porém, o que inicia-se com intuitos nobres pode acabar levando ao uso exacerbado e errôneo. Daí restringir a publicidade externa pode significar a proteção do estado de inocência do indiciado, pois, conforme Giacomolli (2014, p. 341), "o que importa ao Estado de Direito é que a infração criminal está senso apurada, que o Estado está cumprindo as suas funções" e "não a exposição da imagem do suspeito, o seu nome completo, a de seus familiares e onde reside".

Imperioso considerar a responsabilidade do Poder Judiciário, quando na proteção dos direitos e garantias do investigado, frente ao uso exacerbado da publicidade midiática. Nesse sentido, expõe Lopes Jr (2012, p. 126):

Também os agentes do Poder Público possuem uma grande parcela de responsabilidade pela publicidade abusiva e sensacionalista. Não são poucos juízes, promotores e policiais que, estimulados pela vaidade, fazem clamorosas e ao mesmo tempo precipitadas declarações em público e aos meios de comunicação, fomentando a estigmatização do sujeito passivo e prejudicando seriamente a administração e o funcionamento da justiça. Inclusive, o gravame é maior conforme o status e a credibilidade dessas pessoas e a função que desempenham

Ademais, o conflito de interesses entre o público e privado do acusado acaba por ser prejudicado, haja visto que as garantias constitucionais do mesmo também compõe o rol do interesse público, ou seja, é a defesa contra qualquer arbitrariedade, seja advindo do Estado ou pela mídia.

Nesse sentido Lopes Jr. (2012, p. 129) aduz que por tal razão, na fase pré-processual, "a publicidade externa deve ser restringida para proteger a intimidade e a imagem do acusado, até porque ao lado desse direito fundamental está outro, de grande importância: a presunção de inocência".

Portanto, a publicidade do inquérito policial não pode ser confundida com pré julgamento ou mesmo trazer a violação a direitos fundamentais do indiciado, restando de fundamental importância manter o privilegio ao direitos fundamentais da intimidade, vida privada, honra e imagem dos investigados.

Cabe ao magistrado limitar os autos do inquérito policial sempre achar prudente, a fim de assegurar os direitos do investigados e evitar prejuízos que uma eventual absolvição posterior não tem o poder de restabelecer: a perca do status de inocência perante a sociedade.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL, Decreto-Lei 3.689, de 3 de Outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 out. 1941.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

FRANCO, Paulo Alves. Inquérito Policial. São Paulo: Sugestões Literárias, 1992.

GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: Abordagem conforme a Constituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. São Paulo: Atlas, 2014

GRECO, Rogério. Atividade Policial. 2. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. vol. I. Niterói: Impetus, 2011.

LOPES JR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 9. ed. São Paulo:

Saraiva, 2012.

MIRABETE, Julio Fabrício. Processo penal. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MUCCIO, Hidejalma. Curso de Processo Penal. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Gen, 2011.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 11. ed. rev. e . atual. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de·processo penal.15.ed., rev. e. atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011

PINA, Sara. Media e Leis Penais. Coimbra: Almeida, 2009.

REIS, Alexandre Cebrian Araújo e GONÇALVES, Vitor Eduardo. Direito processual penal esquematizado. 8. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Manual de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

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