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POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE P À POBREZA NO RIO GRANDE DO NORTE: uma avaliação dos resultados ( )

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE

COmBATE À POBREZA NO RIO

GRANDE DO NORTE: uma

avaliação dos resultados

(1997 - 2004)

AUTORES

João Matos Filho

Doutor em Políticas Públicas/UNICAMP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia/UFRN

Endereço: Rua Graciliano Ramos, 2912 – Capim Macio – Natal/RN CEP: 59080-070

Telefone: (84) 3215-3509 Email: matosfilho@gmail.com Rogério Pires da Cruz

Professor do Departamento de Economia/UFRN

Endereço: Rua Monte Sinai, 1753 – Cidade Jardim – Natal/RN CEP: 59078-360

Telefone: (84) 3215-3511 Email: pirescruz@ufrnet.br Lincoln Moraes de Souza

Doutor em Políticas Públicas/UNICAMP. Professor do Departamento de Ciências Sociais/UFRN

Endereço: Rua das Conchas 2218 – Conj. Alagamar –Ponta Negra Natal/RN

CEP: 59090-420

Telefone: (84) 3215-3557 Email: lincolnmoraes@ufrnet.br

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RESUmO

Avalia os resultados dos Projetos de Combate à Pobreza Rural, no Estado do Rio Grande do Norte, através de amostra do universo dos sujeitos desses pro-jetos. Utiliza informações de entrevistas realizadas com beneficiários, dirigen-tes de associações comunitárias, conselhos municipais, gestores públicos e técnicos diretamente ligados aos processos de implementação dos projetos. O universo avaliado inclui subprojetos financiados pelo PCPR-I (de junho de 1997 a junho de 2002); e, pelo PCPR-II (de setembro de 2002 a dezembro de 2004). Aponta, à guisa de conclusão: a) a importância da integração das políticas públicas como requisito para o êxito dos projetos; b) a importância de execução de parcerias entre Estado e as organizações da sociedade; e, c) o valor estratégico dos processos descentralizados para aperfeiçoar a imple-mentação de políticas públicas.

PALAVRAS-ChAVE

Políticas Públicas; Pobreza Rural; Desenvolvimento Local.

ABSTRACT

Public policies Against Rural Poverty in Rio Grande do Norte: a resulta evaluation (1997-204)

This paper evaluates the results of the Rural Poverty Alleviation Projects at the State of Rio Grande do Norte, by using a sample from the universe of the projects beneficiaries. It uses informations from interviews realized with beneficiaries, civil associations, municipal counsels, public managers and technicians connected to the processes of project implementation. The evaluated universe has included subprojects financed by the Rural Poverty Alleviation Project I (from june, 1997, to june, 2002), and Rural Poverty Alleviation Project II (from september, 2002, to december, 2004). It points out at the conclusion: a) the importance of the public policies integration as a condition to the success of the projects; b) the importance of co-arrangements among government and civil organizations; c) the strategic value of the decentralized processes to improve the implementation of the public policies.

KEYWORDS

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INTRODUÇÃO

Os projetos de combate à pobreza rural, também denominados projetos dirigidos pelas demandas sociais, são oficialmente definidos como instrumentos de políticas públicas que se propõem a reduzir a pobreza e melhorar as condições de vida da população residente nas comunidades rurais e nas sedes dos pequenos municípios do nordes-te brasileiro e do Rio Grande do Nornordes-te em particular.

As primeiras experiências com esses tipos de projetos foram im-plementadas no México, na década de 1970, por intermédio do Pro-grama Integrado de Desenvolvimento Rural (PIDER) daquele país. O Banco Mundial avaliou e reconheceu aquelas experiências como mecanismos mais eficientes de alocação de recursos para políticas de redução da pobreza rural, e, também, como estratégias mais ade-quadas para compensar as consequências nefastas dos programas de ajuste estrutural – implementados sob a égide do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do próprio Banco Mundial, nos anos 1980 – comparativamente à estratégia de desenvolvimento rural integrado até então estimulada por aqueles mesmos organismos.

Foi naquele contexto que os recém-eleitos governadores do Nordeste brasileiro, em 1982, foram convidados para conhecer a experiência mexicana. Dali começaram a surgir adaptações à nova estratégia e suas conseqüentes modificações nos contratos de finan-ciamentos até então firmados com o Governo Federal. Ao final da-queles contratos, já na década de 1990, foram assinados os primeiros acordos de empréstimos entre o Banco Mundial e os Governos dos Estados do Nordeste para execução dos atuais projetos de combate à pobreza rural.

Com aquelas providências, o Banco Mundial contribuiu para o en-caminhamento de soluções para três problemas, simultaneamente: i) evitou que o Governo Federal – que estava às voltas com problemas de déficit fiscal –, aumentasse o estoque da dívida externa, assumin-do novos contratos; ii) garantiu financiamentos aos Governos assumin-dos Estados do Nordeste que, embora enfrentando uma crise fiscal, de-monstrassem capacidade de endividamento; e, iii) assegurou o finan-ciamento e a implantação da nova estratégia em todos esses estados, com exceção de Alagoas.

Entretanto, a experiência do Banco Mundial como financiador de projetos rurais na Região Nordeste é bem mais antiga. A primeira ge-ração desses projetos teve início, pioneiramente, no Rio Grande do Norte, em 1975, com a implementação do então denominado Progra-ma de Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Norte (RURALNOR-TE), no valor total de US$ 30 milhões.

O RURALNORTE se fundamentou no conceito de desenvolvimen-to rural integrado, que por sua vez se inspirou na teoria dos pólos, tal como a haviam desenvolvido François Perroux e Albert Hirschman

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- internacionalmente conhecidos, à época, como dois dos principais expoentes do desenvolvimento regional. A fase operacional do pro-grama, por sua vez, fundamentou-se na transferência das atribuições relativas à elaboração e implementação de projetos do Governo Fede-ral - que era o mutuário -, para o Governo do Estado.

A segunda geração teve início em 1985, com o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPP), no valor total de US$ 61,4 mi-lhões, que incluiu um componente denominado Apoio às Pequenas Comunidades Rurais (APCR), destinado ao financiamento de subpro-jetos comunitários. Para tanto, esses subprosubpro-jetos deveriam ser iden-tificados, elaborados e executados por associações civis ou outros tipos de organizações constituídas pelos próprios sujeitos da ação pública.

O APCR foi a primeira iniciativa de descentralização em direção à sociedade civil, materializada numa espécie de delegação de atribui-ções, que antes eram exclusivas das organizações governamentais, para instâncias não-governamentais, constituídas predominante-mente por associações comunitárias. Em 1993, o PAPP foi totalpredominante-mente reformulado e transformado em um único componente, destinado a financiar subprojetos comunitários nos moldes atuais, ou seja, sub-projetos dirigidos pelas demandas sociais.

A terceira geração teve início no ano de 1997, com o financia-mento do Projeto de Combate à Pobreza Rural I (PCPR–I), no valor de US$ 32 milhões, e prosseguiu, em 2002, com o financiamento do Projeto de Combate à Pobreza Rural II (PCPR–II), no valor de US$ 30 milhões, este último em fase final de execução. Esta geração foi representada pelos atuais projetos de combate à pobreza rural e seus respectivos subprojetos dirigidos pelas demandas sociais, os quais são objeto de avaliação no presente artigo.

Após transcorrer quase uma dezena de anos de execução de uma mesma estratégia de redução da pobreza rural, composta pelos PC-PRs I e II, é justo perguntar: esses projetos contribuíram para a me-lhoria das condições de vida e para a geração de renda e ocupação dos sujeitos sociais em nome dos quais foram implementados? Ou, ao contrário, são projetos pontuais que ainda precisam apresentar mudanças institucionais que possam contribuir para a ampliação do grau de efetividade no combate à pobreza rural do RN?

Para responder a essa questão, tomou-se como material empírico, em primeiro lugar, os dados de uma pesquisa por amostragem, reali-zada junto aos beneficiários diretos dos subprojetos financiados pelos PCPRs. Em seguida, foram elaboradas entrevistas com: a) os dirigentes das associações comunitárias e dos conselhos municipais gestores dos subprojetos; b) os técnicos e dirigentes diretamente responsáveis pela implementação dos PCPRs na burocracia governamental1.

O texto ficou então organizado nos seguintes itens, além desta introdução: o item 2, apresenta o debate teórico subjacente aos

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jetos de combate à pobreza rural; o item 3, analisa os resultados dos

PCPRs, com base nos dados da amostra acima referida; e, o item 4, apresenta algumas considerações finais à guisa de conclusão. O DEBATE TEÓRICO SUBjACENTE AOS PROjETOS DE COmBATE À POBREZA RURAL 2

A literatura sobre as formas de ação do Estado no Nordeste brasi-leiro, em particular aquela que trata da relação Estado – sociedade na região no período anterior à Constituição de 1988, é bastante cética quanto às possibilidades de êxito da descentralização das políticas públicas para os governos sub-nacionais, e, menos ainda para as orga-nizações da sociedade civil, tal como preconizam os atuais projetos de combate à pobreza rural.

Os argumentos mais comumente presentes nessa literatura pro-curaram mostrar que a articulação entre os poderes central e local é uma via de mão dupla que tanto atende aos interesses das esferas cen-trais de governo, quanto das oligarquias locais (Bursztyn,1984); que a captura do Estado por essas oligarquias permite a utilização do fundo público para os seus interesses particulares (Oliveira, 1981); que a execução dos programas de desenvolvimento rural se faz de forma seletiva, excluindo a maioria da população dos benefícios desses pro-gramas; e, que o regionalismo conservador tem permitido a apropria-ção dos recursos públicos sob a forma de transferências, incentivos fiscais e créditos subsidiados, favorecendo e estimulando a execução de programas pontuais com impacto insignificante, e contribuindo para concentrar ainda mais a riqueza e para agravar os problemas de pobreza e de exclusão social (CARVALHO, 1987).

Por outro lado, a história da administração pública no Brasil e no Nordeste brasileiro em particular está cheia de relatos de má gestão: “dirigentes de órgãos públicos que buscam a satisfação pessoal em vez do bem comum; excesso nas contratações e nos gastos; funcio-nários contratados, demitidos ou postos à disposição com base no parentesco e na lealdade política ao invés do mérito; pessoal escas-samente instruído e pouco capacitado; e, oportunidades infinitas de outras formas de suborno, tráfico de influência e conduta ilegal” (TENDLER, 1998, p. 13).

Tais características parecem refletir um traço peculiar da cultu-ra política no imaginário popular, não somente no Rio Gcultu-rande do Norte, mas no Brasil em geral. Pois, afinal de contas, foi no estado de São Paulo onde Victor Nunes Leal foi encontrar farto material para escrever o seu clássico “Coronelismo, Enxada e Voto”, no qual aborda a política do favor, o clientelismo, o nepotismo e o surgimento dos novos doutores. Estes, por sua vez, são profissionais liberais que mais recentemente estão assumindo a administração pública no Brasil e que não seriam mais do que formas transfiguradas de manifestação

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dos antigos coronéis que dominaram as relações Estado – sociedade desde os primórdios da colonização (LEAL, 1975).

Apesar do alerta que acaba de ser formulado, quem se der ao tra-balho de examinar os processos contemporâneos de implementação de políticas públicas no Brasil e particularmente no Rio Grande do Norte, há de perceber que estão ocorrendo importantes mudanças na gestão pública, sobretudo no que se refere à conquista de atribui-ções e de recursos pelos governos dos estados e dos municípios e pelas organizações da sociedade, entre as quais se incluem conselhos gestores de políticas públicas, organizações não-governamentais e associações civis.

Sistemas descentralizados de gestão com essas características po-dem ser encontrados em diversas políticas setoriais, como a saúde, a educação e a merenda escolar, assim como, nas políticas diferen-ciadas de desenvolvimento rural, mais recentemente criadas pelos Governos Federal e Estadual. Neste último caso, cabe mencionar, res-pectivamente, o Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultu-ra Familiar (PRONAF) e os PCPRs.

Esta novidade, isto é, a redistribuição de atribuições, recursos e poder decisório da esfera central de governo para o âmbito local e do âmbito governamental para o não-governamental, constitui-se em importante material para a análise de experiências descentralizadas de implementação de políticas públicas no meio rural, que é o obje-tivo central desse trabalho.

Verifica-se, pois, no Rio Grande do Norte, a emergência de novas formas de gestão descentralizada de programas de desenvolvimento rural, ainda que seus desempenhos sejam diferenciados (MATOS FI-LHO, 2002). Novos conceitos e novas propostas emergem ou reapare-cem no cenário da administração pública com o objetivo de aumen-tar a eficiência governamental, transferir atribuições e competências para os conselhos gestores de políticas públicas e associações civis ou estabelecer distintas formas de parcerias com organizações não-governamentais e outros tipos de organizações sem fins lucrativos3.

Na realidade, os discursos da descentralização e da participação social passaram a fazer parte dos documentos assinados pelas orga-nizações nacionais e internacionais, governamentais e não-governa-mentais, ou de financiamento e cooperação técnica, e vêm sendo introduzidos no discurso dos gestores públicos estaduais, tal como o foram na administração pública brasileira, principalmente a partir da Constituição Federal de 1988.

Todavia, não é a simples existência de um programa de descen-tralização que garante o êxito da ação pública. Se assim o fosse, em todos os casos em que fosse instituído um processo descentralizador os resultados seriam os mesmos. O êxito da descentralização depen-de depen-de um conjunto depen-de fatores, entre as quais se depen-destacam: i) fatores de natureza estrutural, como a capacidade de gasto e a existência de

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recursos humanos qualificados; ii) fatores institucionais, entre os

quais se incluem a autonomia e a transparência no funcionamento das instâncias descentralizadas; e, iii) fatores ligados à própria ação política, em particular no que se refere às relações entre as esferas da federação ou às articulações que se estabelecem entre o Estado e a sociedade na gestão pública (ARRETCHE, 2000).

Algumas das responsabilidades decorrentes de um processo des-centralizador são menos complexas e não têm maiores implicações sobre a estrutura de poder ou sobre a natureza da governabilidade local, como é o caso do planejamento municipal, da identificação ou recebimento e priorização de demandas sociais; da identificação e elaboração de subprojetos; do assessoramento técnico aos conselhos municipais e associações comunitárias; e, da implantação e gestão dos subprojetos financiados pelos PCPRs.

Outras responsabilidades apresentam maiores graus de comple-xidade, maiores dificuldades para operacionalização e mais resistên-cias explícitas ou veladas por parte das lideranças tradicionais, como a redistribuição de poder nos conselhos municipais; a garantia de di-versidade política desses conselhos para manter um efetivo controle social sobre os subprojetos financiados pelo PCPR; e, a definição do status institucional que deveria ter a participação política dos cida-dãos e cidadãs nesta proposta alternativa de governança local. Afinal de contas, o que têm a dizer os sujeitos diretos das ações realizadas?

Um grande número de estudos tem dado conta dessas mudanças, sobretudo no que se refere às políticas sociais em geral e às políticas de desenvolvimento urbano em particular. No entanto, são ainda es-cassas as análises sobre as formas descentralizadas de gestão de pro-gramas de desenvolvimento rural no Rio Grande do Norte.

Com o objetivo de contribuir para o preenchimento dessa lacuna, utilizou-se, além dos aportes teóricos acima referidos, o conceito de desempenho institucional, tal como proposto por Putnam (1996). Este conceito foi adaptado, para os propósitos deste trabalho, com base em um modelo de governança local, onde as instituições governamentais re-cebem demandas sociais, por intermédio das associações comunitárias; interagem politicamente, nos conselhos gestores; entram na agenda po-lítica do governo; são objeto de opção popo-lítica na esfera governamental; e, geram produtos (sistemas de abastecimento de água e de irrigação; açudes ou barragens; pequenas agroindústrias; escolas e centros de saú-de comunitários etc); que são implementados pelas associações comu-nitárias, conforme ilustrado no fluxograma abaixo:

Demandas sociais Interação política Governo Opção política Implementação

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Os dados empíricos utilizados para avaliação dos PCPRs foram obtidos, como referido anteriormente, da pesquisa “Avaliação de Re-sultados dos PCPRs I e II”, no Estado do Rio Grande do Norte. Esta pesquisa permitiu, pela primeira vez, a obtenção de valiosas informa-ções sobre a opinião dos sujeitos diretos dos subprojetos de combate à pobreza rural, acerca do desempenho e do alcance dos objetivos formalmente estabelecidos para os subprojetos, como será visto a seguir.

O DESEmPENhO DO PCPR NA PERSPECTIVA DOS SUjEITOS DOS SUBPROjETOS

Até dezembro de 2004, quando foi concluída a pesquisa, haviam sido financiados 2412 projetos, no valor de 64,6 milhões de reais. Deste total, 66,2% foram para projetos de infra-estrutura; 30,6% para projetos produtivos; e, 3,2% para projetos sociais. Os principais ti-pos de projetos foram de abastecimento de água, eletrificação rural e criação de animais, os quais, no conjunto, totalizaram 73,9% do uni-verso financiado.

De acordo com os entrevistados, 71,8% desses projetos estavam em funcionamento, contra 28,2% que estavam paralisados. Para 57,5% dos entrevistados os projetos tiveram efeitos favoráveis, como reduzir os índices de diarréia, possibilitada pelo consumo de água de melhor qualidade fornecida pelos sistemas de abastecimento; redu-zir os índices de desnutrição, pelo consumo de alimentos produzi-dos nas vazantes das barragens financiadas pelo Programa; melhorar a qualidade de vida e desenvolver pequenos negócios não-agrícolas pela disponibilidade de energia elétrica.

Um índice de 71,8% dos projetos em funcionamento pode ser in-terpretado como indicativo de uma excelente performance. Todavia, é preciso ter sistemas eficientes de gestão que garantam a qualidade da água dos projetos em funcionamento, que de uma maneira geral não é tratada, e saber por que 28,2% deles estão paralisados e não haviam sido recuperados até o momento da pesquisa.

Ninguém pode negar a importância da energia elétrica, da água potável e da construção de barragens para as comunidades rurais. Para aglomerados humanos que viviam na escuridão ou bebendo água poluída, a chegada da energia elétrica e da água para beber, irri-gar e criar, pode ser interpretada como uma transformação radical! É provável que o PCPR e que as associações não estejam suficientemen-te articuladas com outras políticas públicas objetivando a insuficientemen-tegração de fontes de financiamento e o aumento da sinergia em matéria de implementação de investimentos no âmbito comunitário.

Todavia, existem alguns avanços neste campo: sem as associações não teria sido possível implantar um número tão grande de subpro-jetos nas milhares de comunidades rurais dispersas pelo interior do

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Rio Grande do Norte; diante das suas fragilidades, são dignas de nota

as alianças estratégicas que elas fazem para o desenvolvimento de suas responsabilidades: 44,6% delas funcionam nos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais; 22,3% nas Câmaras Municipais; 7,8% nas Pre-feituras Municipais; e, apenas 25,3% em outros locais.

Fica claro, portanto, que a maior parte das associações obtém apoio para o desenvolvimento das suas atribuições principalmente dos Sindicatos, em seguida das Câmaras Municipais e, por último, das Prefeituras. Também ficou evidente que as associações não são ape-nas instituições que executam subprojetos financiados pelo PCPR, tendo em vista a variedade dos assuntos discutidos nas reuniões. Além dos temas relacionados com esses projetos, as associações tam-bém discutem problemas relacionados com saúde, educação, crédito para a agricultura e organização da comunidade. Nesses casos, o quo-tidiano das associações difere do caráter cético da literatura sobre as formas de ação do Estado na Região Nordeste dos anos 1980, assim como da política do favor e do clientelismo, tal como descritos por Leal (1975), anteriormente referido.

Há que se reconhecer também que essas experiências são locali-zadas; apontam possibilidades; indicam tendências. No geral, ainda persistem desafios a serem enfrentados, como a falta de legitimidade das lideranças; o uso político dos subprojetos; a ausência de siste-mas de operação e manutenção constituídos e em funcionamento; as intermediações indesejáveis; a atomização das ações; a pulverização dos recursos; um insuficiente nível de organização social e de empo-deramento de um grande número de comunidades.

As associações têm, portanto, um papel importante em um sis-tema descentralizado de implementação de políticas públicas mor-mente em um país de dimensões continentais como o Brasil. Como diz o princípio da subsidiariedade, no qual se baseia a descentraliza-ção político-administrativa, tudo o que puder ser feito de forma mais eficiente por uma entidade espacialmente menor, como o município ou a associação, não deve ser feito por uma instituição maior, como o município, o estado ou a União (Buarque, 2002, p. 51).

As associações comunitárias são, pois, no Rio Grande do Norte, en-tidades com relevância subsidiária. Segundo os entrevistados, 82,2% das associações participam na resolução dos problemas das comuni-dades; 39,2% administram sistemas comunitários de abastecimento de água. Por outro lado, 73,8% dos sócios sempre comparecem às reuniões, o que indica a importância desse tipo de organização como uma referência para as comunidades rurais.

Neste ponto o Rio Grande do Norte tem algumas experiências bem sucedidas, das quais podem ser tiradas lições para futuros projetos. Dentre essas experiências, que além da subsidiariedade, seguiram o princípio da integração institucional, podem ser citadas: as barragens sucessivas do Rio Espinharas, no município de Serra Negra do Norte,

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onde os recursos do PCPR foram somados aos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, do Projeto Dom Hélder, das Prefeituras, da Igreja Católica e da Federação dos Traba-lhadores Rurais do Rio Grande do Norte (FETARN), para construção de 11 barragens sucessivas, que perenizaram 30 quilômetros daquele rio. Originalmente só estava prevista a construção de uma barragem com recursos do PCPR I. No Rio Umari, no município de Umarizal, o Programa de Desenvolvimento Solidário, o Projeto Dom Hélder e o PRONAF, também estão construindo barragens sucessivas. No muni-cípio de Serra do Mel, a integração institucional se deu entre o PCPR e o PRONAF, com o objetivo de implantar as unidades de beneficia-mento de castanha de caju de classificação e de embalagem nas Vilas Paraná e Brasília. No município de Macaíba, a articulação foi entre o Programa de Desenvolvimento Solidário, o Projeto de Crédito Fundi-ário e Combate à Pobreza Rural e o PRONAF, para implantação de um sistema moderno e diversificado de agricultura familiar no Assenta-mento Bom Conselho (BRACERAS, op.cit.).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente análise evidenciou, inicialmente, a importância da articulação e da integração institucional das políticas públicas para que elas ganhem sinergia e apresentem resultados mais expressivos diante dos imensos desafios colocados pelo combate à pobreza e à exclusão social, principalmente no interior do Rio Grande do Norte. Em seguida, foi evidenciado que é preciso mais do que projetos comunitários isolados! Há necessidade, urgente, de uma política dife-renciada – para além de subprojetos pontuais –, que articule as diver-sas dimensões do desenvolvimento local em bases sustentáveis. Isso vale tanto para financiar projetos, quanto para financiar a construção de uma nova institucionalidade pública - que contribua para o exercí-cio da democracia direta e da cidadania nos mais longínquos pontos do interior do Rio Grande do Norte.

Assim, a existência de parcerias entre o Estado e as organizações da sociedade civil, notadamente o Movimento Sindical dos Trabalha-dores Rurais, a Igreja Católica e as organizações não-governamentais têm se caracterizado como um diferencial na coordenação do pro-cesso de implementação de políticas públicas no âmbito estadual.

Os procedimentos descentralizados contribuíram, tal como nos ensina a História recente no estado do RN, de forma decisiva para a cons-trução de novos processos metodológicos de implementação de políti-cas públipolíti-cas no meio rural. A mudança na estratégia de implementação do PCPR, transferiu poder decisório para os conselhos municipais e as associações civis, ao mesmo tempo em que reservou ao Estado o papel estratégico como instância de coordenação, supervisão e financiamento dos subprojetos. Dessa maneira, pôde concorrer para que houvesse uma

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melhoria dos resultados do PCPR e para a difusão dos elementos culturais

relativos a essas novas formas de implementação de políticas públicas. Assim, nesse contexto social em que: a) os subprojetos são legítimos e têm o controle social; b) há entre os beneficiários um estímulo à produ-ção social representado pelo sentimento de propriedade; c) há uma fonte de recursos públicos destinados a projetos socialmente úteis. Então, em face disso, pode-se acreditar que possa ser criado um ambiente favorável em que as partes interessadas – Estado e sociedade – possam trabalhar em parceria para que seja atingido o objetivo de geração de renda, ocupação e melhoria das condições de vida da população no âmbito local.

REFERÊNCIAS

ABRUCIO, Fernando Luiz. Os barões da federação: os governadores e a re-democratização brasileira. São Paulo: HUCITEC; USP, 1998.

ARRETCHE, Marta. Estado federativo e políticas sociais: determinantes da descentralização. Rio de Janeiro: Revan; São Paulo: FAPESP, 2000.

BRACERAS, Fidel Maria (Org.). Gestão do desenvolvimento local: experi-ências exitosas no Rio Grande do Norte. Natal: IICA, 2004.

BUARqUE, Sérgio C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

BURSZTYN, Marcel. O poder dos donos: planejamento e clientelismo no nordeste. Petrópolis: Vozes,1984.

CARVALHO, Inaiá Maria Moreira de. O nordeste e o regime autoritário: discurso e prática do planejamento regional. São Paulo: Hucitec, 1987. LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Ômega, 1975. MATOS FILHO, João. A descentralização das políticas de

desenvolvi-mento rural: uma análise da experiência do Rio Grande do Norte.

2002. 233 p. Tese (Doutoramento) – Instituto de Economia, Universidade Es-tadual de Campinas, Campinas, 2002.

OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gião: SUDENE, nordeste, planejamento e conflito de classes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. OSBORNE, David; GAEBLER, Ted. Reinventando o governo: como o espíri-to empreendedor está transformando o seespíri-tor público. Brasília: MH Comuni-cação, 1998.

PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna.Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,1996.

TENDLER, Judith. Bom governo nos trópicos - uma visão crítica. Rio de Janeiro: Revan, Brasília:ENAP, 1998.

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NOTAS

1 Trata-se da pesquisa denominada “Avaliação de Resultados do PCPR I e II”,

realizada no final de 2004 e início de 2005 pelos autores deste artigo, com financiamento do Governo do Estado, Banco Mundial e Instituto Interameri-cano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

2 Esta parte do trabalho foi elaborada com base em Matos Filho (2002, p. 1 – 21). 3 Como diz Abrucio (1998, p.??) no plano mais geral, “novos conceitos surgem

para combater os antigos – administração por objetivos, domnsizing, serviços públicos voltados para o consumidor, empowerment, pagamento por desem-penho, qualidade total e diversas formas de descentralização (...) Alguns auto-res acreditam que esteja surgindo um novo paradigma administrativo global (por exemplo, OSBORNE e GAEBLER, 1994), ocorrendo uma verdadeira revo-lução nos alicerces da burocracia moderna”.

TRAmITAÇÃO

Recebido em: 14/11/2006 Aprovado em: 26/12/2006

Referências

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