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Política, Estado e Educação: crítica de Marx à Educação para Todos

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Academic year: 2021

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Política, Estado e Educação: crítica de Marx à “Educação para Todos”

Antonio Francisco Lopes Dias1

1 Introdução

Política, Estado e Educação. A discussão de temas tão amplos, presentes e com certo grau de complexidade, exige que escolhamos determinada perspectiva de abordagem. Em nosso caso, o “recorte” que fazemos da História contempla os escritos filosófico-político de Karl Marx do período 1843-48. Dentro deste período, buscamos focar a problemática da articulação Política/Estado e suas implicações para a Educação. Nosso objetivo é apresentar essa articulação tal como Marx a concebe e, com base nisto, analisar, no contexto atual, a validade da tese e dos propósitos representados pelo conteúdo do lema/compromisso/paradigma “Educação para Todos”. Conforme o pensamento filosófico-político de Marx, o Estado capitalista é fruto da atividade política burguesa; portanto, é um Estado que só existe como poder de classe, parcial, logo, antidemocrático. Desta forma, não pode efetivar os direitos e interesses públicos universais. Por conseguinte, o que faz esse tipo de Estado é tão-somente alimentar o discurso de uma democracia meramente formal, abstrata (burguesa); uma democracia eu só se realiza na forma da lei e que, por isso mesmo, é incapaz de concretizar a “Educação para Todos”. Para Marx, o vigente Estado capitalista não pode cumprir o compromisso de realizar o ideal da “Educação para Todos” pelo fato de o mesmo não pertencer a Todos As concepções marxianas sobre Educação, Política e Estado não deixam dúvidas de que este último não pode ser o credor da Educação como emancipação humana. O Estado capitalista, tanto o da época de Marx quanto O do início deste século, é antidemocrático, guiado por interesses ideológicos, econômicos e políticos da classe (burguesa) economicamente dominante. O Estado burguês pode até defender e propor, na forma da lei e nos termos de documentos, o compromisso de realizar a “Educação para Todos”; quando, porém, tiver que assumir as condições práticas para a realização deste compromisso, Ele revela toda a sua incapacidade e parcialidade.

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2 Objetivos

2.1 Objetivo geral

Demonstrar, com base no pensamento filosófico-político de Karl Marx, a tese de que o vigente Estado capitalista é fruto da atividade política burguesa, portanto é um Estado que só existe como poder de classe, antidemocrático, e não pode efetivar os direitos e interesses públicos universais; que, por conseguinte, o que faz esse tipo de Estado é apenas alimentar o discurso de uma democracia meramente formal, abstrata (burguesa), sendo, em verdade, incapaz de realizar a proposta de uma “Educação para Todos”.

2.2 Específicos

I. Investigar e analisar, numa perspectiva histórico-filosófica, a concepção marxiana de Política, de Estado e de Educação com o intuito de evidenciar a articulação existente entre a atividade política burguesa, o Estado moderno burguês (capitalista) e a Educação.

II. Evidenciar que Marx faz a análise da Educação então existente no interior do Estado capitalista, mas que, também, paralelo, a isso, vislumbra e propõe a Educação como um bem humanizador, constituinte de uma sociedade de homens livres (emancipados); que a Educação, portanto, “para além do capital”, é um meio que viabiliza a “emancipação teórica” e a “emancipação humana integral”.

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IV. Apresentar sobre o “compromisso”/paradigma/ideal “Educação para Todos” e caracterizar seus pretensos valores e objetivos democráticos como parte do discurso e valores que sustentam o capitalismo/(neo)liberalismo.

3 Metodologia

O desenvolvimento de uma Pesquisa de natureza científico-filosófica exige um conjunto de procedimentos rigorosos de modo a se alcançar os objetivos propostos. Necessário se faz um proceder metódico e austero nos momentos de captação (leitura), análise, crítica e exposição das informações que irão constituir, ao final, o conteúdo da Pesquisa.

É necessário um método. Por um lado, pode-se compreender “método” como “regra” para a obtenção das informações para composição da Pesquisa (PAVIANI, 2006); neste sentido, será necessário realizar leituras de caráter exegético para extração dos dados, em virtude de Marx não ter um escrito no qual trate direta e especificamente da relação Estado/Educação. Essa problemática parece se encontrar difusa nos escritos marxianos, especialmente os do período de 1843-48. Por outro lado, “método” pode se entendido como “diferentes modos (básicos) de conhecer interligados com diferentes modalidades de linguagem” (PAVIANI, 2006, p. 84); neste sentido, adotaremos a combinação das análises hermenêutica e dialética. A metodologia dialética por ter sido ela utilizada por Marx; ora, certamente pode-se melhor compreender um autor quando se leva em conta o modo pelo qual ele concebeu seu pensamento. Quanto ao método hermenêutico, este se faz necessário na medida em que se mostra como o mais apropriado para investigações onde a tese, a teoria, ou o argumento do autor etc., muitas vezes não está explícito, mas apenas subentendido. Neste caso, as conclusões são obtidas por indução ou dedução

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4 Resultados obtidos

Os resultados até aqui obtidos por meio do nosso trabalho de pesquisa demonstram que os fundamentos de natureza histórica e econômico-política são determinantes das contradições entre o Estado e a Educação. As concepções filosófico-políticas de Karl Marx, no que refere a analise que este filósofo faz do papel do Estado burguês (capitalista) e da relação deste com a Educação, mostram que o Estado burguês não pode efetivar a Educação para Todos, pelo simples fato de o Estado não ser de todos.

Em meio ao embate Estado versus Educação, o pensamento filosófico político e social de Marx surge como revelador dos fundamentos da ação do Estado, do porquê de sua ação ínfima e muitas vezes omissa quando se trata de concretizar as condições para ofertar a Educação para Todos. Ora, a questão fundamental é que o Estado que temos, guiado pelo ideário e práticas de cunho capitalista, não é democrático, precisamente porque é, no dizer de Marx “poder de classe” (1998). Para contrapor essa situação, Marx constrói seu pensamento revolucionário tal como uma espécie de projeto de emancipação humano-social, de maneira tal que, no período de 1843-48, formula e apresenta um conjunto de ideias que formam categorias explicativas da realidade sócio-política e econômica, realidade esta por sua vez determinante do tipo de Educação que se tem.

Nossa pesquisa, que se concentra nos escritos de Marx de 1843-48. E, 1843, Marx escreve sua Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, praticamente a obra inaugural da sua filosofia política. Nessa obra Marx (2004) expõe a problemática do Estado evidenciando o quanto esta Instituição se opõe à democracia, à liberdade dos indivíduos. N´A Questão

Judaica, o Nosso Filósofo inicia a discussão do significado da emancipação humana (MARX,

1989), conceito fundamental no entendimento dos objetivos da educação de outrora e dos dias de hoje. É igualmente nesta época, mais precisamente nos Manuscritos Econômico-filosóficos

de 1844, que o Renano apresenta a propriedade privada do tipo burguesa, aliada ao Estado

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uma condição de vida social igual e de uma Educação emancipadora (MARX, 2004). Também é neste período que Marx, de início nos Manuscritos de 1844 e depois em A

Ideologia Alemã, formula sua concepção de sociedade comunista como lugar da autêntica

forma de autonomia dos homens, da prática democrática e, por conseguinte de uma Educação entendida como prática formativa do homem como ser humano (MARX, 2007).

Em 1847-48, em A Miséria da Filosofia, e especialmente no Manifesto do Partido

Comunista, Marx reforça a necessidade de uma revolução social radical, já exposta e

defendida anteriormente nas Glosas críticas, de 1844, bem como na Introdução à Filosofia

do Direito de Hegel, concluída no ano de 1843. Conforme pensa Marx (1981, 1998, 1987 e

2005) nestes escritos, a práxis revolucionária é o meio eficaz para a edificação de uma sociedade de homens emancipados. Para tanto, portanto, assevera nas Teses ad Feuerbach, a

práxis deve mudar também os rumos da Educação ofertada pelo Estado capitalista (MARX,

2007).

Considerando esta breve exposição, com apoio da literatura pertinente, ancorada sobretudo nos escritos de Marx, é possível compreender os fundamentos de natureza histórica e econômico-política determinante das contradições entre Estado e Educação.

5 Conclusões

O significado da expressão “Educação para Todos”, da forma que é assumida pelo Estado capitalista tem sempre um duplo sentido. Primeiramente, numa conotação meramente literal e formal, quando precedida da palavra “compromisso”, ela é parte do discurso do Estado burguês, na medida em que este precisa aparecer como poder legítimo e defensor da democracia (de todos). Em sentido prático, real, porém, pode-se dizer que o discurso no máximo se transforma em lei, mas nunca em política pública estatal efetiva que possa fazer

jus ao conteúdo democrático difundido pela expressão. Assim, a qualificação mais adequada

ao discurso da “Educação para Todos”, quando proclamada por um Estado capitalista, é que se trata de um discurso falacioso, demagógico.

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capitalista demonstram que, historicamente, esta forma de Estado foi estruturada como esfera de defesa dos interesses da classe economicamente hegemônica. Logo, tal Estado é sempre classista, antidemocrático, sendo por esta razão incapaz de realizar, na prática, os direitos humanos, nos quais está incluída a Educação como bem social universal.

A tese marxiana da impossibilidade de o Estado proporcionar a “Educação para Todos” é verdadeira em duas frentes, teórica e prática (práxis), que na perspectiva dialética de Marx são indissociáveis. De um lado, a incompatibilidade teórica expressa pela seguinte contradição: um agente parcial (o Estado) não pode determinar uma situação plena (a Educação como bem universal). Como correspondente disso, a incompatibilidade prática, ou seja, a impossibilidade de o Estado concretizar a “Educação para Todos”. Resta ao Estado, então, a condição de só pode oferecer a “Educação para Todos” de forma abstrata, legal, já que a prática deste direito contraria os interesses da classe que o Estado, efetivamente, representa. Esta situação explica porque o Brasil, caso típico de Estado capitalista, oferece a “Educação para Todos” apenas na forma abstrata da lei e de documentos; concretamente, o Estado brasileiro não disponibiliza os necessários recursos para essa tarefa para não se opor aos interesses (econômicos, ideológicos, políticos etc.) daqueles que, de fato, o gerenciam.

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