UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE TERCEIRA PESSOA NO ESPANHOL DE OBERÁ - MISIONES
(ARGENTINA): UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO
PATRICIA VANESSA DE RAMOS
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ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE TERCEIRA PESSOA NO ESPANHOL DE OBERÁ - MISIONES
(ARGENTINA): UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO
PATRICIA VANESSA DE RAMOS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Área: Estudos Linguísticos Neolatinos, Opção: Língua Espanhola).
Orientador: Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio
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ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE TERCEIRA PESSOA NO ESPANHOL DE OBERÁ - MISIONES
(ARGENTINA): UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO Orientador: Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Área: Estudos Linguísticos Neolatinos, Opção: Língua Espanhola).
Rio de Janeiro, 7 de agosto de 2017.
Examinada por:
_____________________________________________________________________ Presidente, Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ)
_____________________________________________________________________ Profª Drª Leticia Rebollo Couto (UFRJ)
_____________________________________________________________________ Profª Drª Silvia Regina de Oliveira Cavalcante (UFRJ)
_____________________________________________________________________ Profª Drª Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold (UFRJ), Suplente
_____________________________________________________________________ Profª Drª Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ), Suplente
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De Ramos, Patricia Vanessa.
Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico / Patricia Vanessa de Ramos. – Rio de Janeiro: UFRJ / FL, 2017.
xx, 232f.:il.; 30 cm.
Orientador: Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio
Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Faculdade de Letras / Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, 2017.
Referências bibliográficas: f. 228 – 233.
v DE RAMOS, Patricia Vanessa. Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico. Dissertação de Mestrado em Letras Neolatinas (Língua espanhola). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.
RESUMO
A variação no quadro de estratégias de realização do objeto direto anafórico (OD) de 3a pessoa no espanhol vem sendo estudada por vários autores nos últimos tempos, dentre eles podemos citar Fernández-Ordónez (1999; 2001; 2007), Gómez Seibane (2012), Palácios (1998; 2005; 2006; 2015), Granda (1982), Martínez (2006; 2010; 2015), García (2015), Mallat (2015), Lipski (1996; 2007; 2010), Silva-Corvalán (2001) e Amable (1975). Esses autores têm dedicado um grande esforço em realizar estudos empíricos que possam revelar a situação atual de variação ou mudança no quadro de estratégias em questão. No que se refere à variedade do espanhol do nordeste da Argentina, mais especificamente da província de Misiones, encontramos, entretanto, uma carência de estudos atualizados que busquem ilustrar o quadro atual das formas empregadas pelos falantes para a realização do OD anafórico de 3a pessoa. Por essa razão, este trabalho busca investigar essas formas numa região da província de Misiones (Argentina): Oberá. A análise tem como base os pressupostos teórico-metodológicos da sociolinguística quantitativa de base laboviana (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972; 1994) aplicada a amostras de fala. Nesse sentido, o presente estudo demonstra que: i) o quadro de estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa em Oberá é mais complexo do que o que é descrito pela literatura, cotando, além das formas le e zero, também com o clítico lo/la; ii) a distribuição de le e zero está condicionada por fatores internos, como a animacidade do referente; e iii) o uso de lo/la é condicionado por fatores externos, tais como a escolaridade e o gênero do informante.
Os resultados apontam para um cenário de variação estável, uma vez que as formas le e zero se distribuem obedecendo a fatores internos, não sendo sensível ao fator faixa etária. A forma lo/la, por outro lado, não está em competição com as demais formas, já que é majoritariamente empregada por falantes mais escolarizados, especialmente pelas mulheres que pertencem ao grupo de maior prestígio social.
vi DE RAMOS, Patricia Vanessa. Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico. Dissertação de Mestrado em Letras Neolatinas (Língua espanhola). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.
ABSTRACT
The variation in the framework of strategies for the realization of the 3rd person anaphoric direct object (DO) in Spanish has been studied by several authors recently, among them we can mention Fernández-Ordónez (1999; 2001; 2007), Gómez Seibane (2012), Palácios (1998; 2005; 2006; 2015), Granda (1982), Martínez (2006; 2010; 2015), García (2015), Mallat (2015), Lipski (1996; 2007; 2010), Silva-Corvalán (2001) and Amable (1975). These authors have been dedicating a great deal of effort to achieve empirical studies that may reveal the current situation of variation or change in the strategies in question. Regarding to the variety of Spanish from the northeast of Argentina, more specifically from the province of Misiones, we find, however, a lack of updated studies that seek to illustrate the current framework of the forms used by the speakers for the realization of the 3rd person anaphoric DO. For this reason, the goal of this study is to investigate these forms in a region of the province of Misiones (Argentina): Oberá. The analysis is based on the theoretical-methodological assumptions of the quantitative sociolinguistics of Labov (WEINREICH, LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972; 1994) applied to speech samples. In this sense, the present study seeks to demonstrate that: i) the framework of strategies for the realization of 3rd person anaphoric DO in Oberá is more complex than described in the literature, once is included the participation of the clitic lo, besides le and zero; ii) the distribution of le and zero is conditioned by internal factors, as the animacity of the referent; and iii) the usage of lo is conditioned by external factors, such as schooling and the gender of the speaker.
The results point to a scenario of stable variation, since le and zero are distributed obeying internal factors and therefore is not sensitive to the factor age of the speaker. The form lo/la, on the other hand, is not in competition with the other forms; since it is mostly used by those with higher levels of schooling, mainly by women who belong the group with highest social status.
vii DE RAMOS, Patricia Vanessa. Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico. Dissertação de Mestrado em Letras Neolatinas (Língua espanhola). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.
RESUMEN
La variación en el marco de las estrategias de realización del objeto directo (OD) anafórico de tercera persona en español ha sido estudiada por varios autores recientemente, entre ellos podemos mencionar a Fernández-Ordónez (1999; 2001; 2007), Gómez Seibane (2012), Palácios (1998; 2005; 2006; 2015), Granda (1982), Martínez (2006; 2010; 2015), García (2015), Mallat (2015), Lipski (1996; 2007; 2010), Silva-Corvalán (2001) y Amable (1975). Estos autores dedican un gran esfuerzo en realizar estudios empíricos que puedan revelar la situación actual de la variación o del cambio de las estrategias en cuestión. En lo que se refiere a la variedad del español del noreste de Argentina, más específicamente de la provincia de Misiones, encontramos, sin embargo, una carencia de estudios actualizados que intentan ilustrar el marco actual de las formas utilizadas por los hablantes para la realización del OD anafórico de 3ª persona. Por esta razón, el objetivo de este estudio es investigar esas formas en una región de la provincia de Misiones (Argentina): Oberá. El análisis se basa en los fundamentos teórico-metodológicos de la sociolingüística cuantitativa de Labov (WEINREICH, LABOV, HERZOG, 1968, LABOV, 1972, 1994) aplicados a muestras de habla. En este sentido, el presente estudio busca demostrar que: i) el marco de estrategias para la realización del OD anafórico de 3ª persona en Oberá es más complejo de lo descrito en la literatura, con la participación del clítico lo, además de le y cero; ii) la distribución de le y cero es condicionada por factores internos, como la animacidad del referente; y iii) el uso de lo está condicionado por factores externos, como la escolarización y el género del hablante.
Los resultados indican un panorama de variación estable, ya que las formas le y cero se distribuyen obedeciendo a factores internos y por lo tanto no son sensibles al factor edad del informante. La forma lo/la, por otra parte, no compite con las demás, una vez que es mayormente empleado por los hablantes con mayor escolaridad, principalmente por las mujeres que pertenecen al grupo de mayor prestigio social.
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Agradecimentos
Este trabalho começou sob a inspiração da Profa. Dra. Leticia Rebollo Couto da UFRJ, que foi minha orientadora de iniciação científica durante a graduação. A convivência durante as aulas de espanhol nos últimos semestres da graduação resultou no estímulo a continuar o percurso acadêmico e a levantar vários questionamentos sobre a variação em língua espanhola.
Por questões acadêmicas, passei às mãos competentes do Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio, de quem sou a primeira orientanda. Sob sua orientação, consegui consolidar conhecimentos teóricos e concluir o presente estudo. Muito obrigada por todos os conselhos, por toda a dedicação e paciência em corrigir o meu trabalho e os meus erros de português. Você é a minha segunda inspiração e um exemplo a ser seguido.
Agradeço ainda:
Ao meu querido esposo Jorge Romeiro por todo o apoio que tem me dado ao longo deste percurso; pelas palavras de consolo e de estímulo quando eu precisei; por ter lido o meu trabalho e me ajudado a pensar sobre o tema; pela paciência e ajuda com as tarefas do dia-a-dia.
A mis padres Telma Colmann y Ramón N. de Ramos, quienes son mis guías en la vida, quienes me enseñaron los principios básicos que llevo conmigo para siempre. A ustedes les dedico este trabajo y les agradezco cada palabra que me dijeron. Ustedes son mi cable a tierra cuando lo necesito.
A mis seis hermanos, a quienes extraño tanto y admiro por toda la fortaleza que tienen. Muchas gracias por el apoyo que me dan aún estando lejos. Muchas gracias por hacerme la tía más feliz de todas y alegrarme los momentos con las sonrisas, fotos, videos y carcajadas de mis bellas sobrinas.
A mi hermana menor Ayina Araceli de Ramos y a mi mamá por haberme acompañado a realizar las entrevistas en Oberá. La ayuda de ustedes dos fue fundamental en mi investigación.
À Profa. Dra. Silvia Regina de Oliveira Cavalcante e à Profa. Dra. Leticia Rebollo Couto, membros da minha banca examinadora, pelas muitas contribuições. Suas valiosas palavras enriqueceram ainda mais o meu trabalho.
Às minhas amigas aqui do Brasil: Leticia Bicalho e Andresa Bernardino. Muito obrigada pela amizade de vocês, por me fazerem rir, pelos conselhos, pela companhia quando estive sozinha aqui neste país que me acolheu tão amigavelmente desde a minha chegada.
xii eu precisei.
xiii
Lista de Tabelas
Tabela 1. Número de dados de acordo com cada informante ... 121
Tabela 2. Dados gerais ...121
Tabela 3. Dados gerais com a separação do clítico acusativo em função da morfologia de gênero ...126
Tabela 4. Total de dados de cada estratégia clítica e redobro ... 128
Tabela 5. Percentual de duplicação por meio de um pronome tônico ou um sintagma nominal. ... 128
Tabela 6. Posição do clítico ... 134
Tabela 7. Forma do antecedente (1) ... 136
Tabela 8. Forma do antecedente (2) ... 138
Tabela 9. Número do antecedente ... 139
Tabela 10. Número do clítico ... 142
Tabela 11. Número do clítico x número do antecedente ... 144
Tabela 12. Gênero do antecedente ... 148
Tabela 13. Lo em função do gênero (masculino lo(s), feminino la(s)) ... 152
Tabela 14. Animacidade do antecedente ... 156
Tabela 15. Animacidade do antecedente x número do antecedente ... 161
Tabela 16. Animacidade do antecedente x número do antecedente ... 163
Tabela 17. Animacidade do antecedente x número do antecedente separando lo(s) e la(s) ... 164
Tabela 18. Especificidade do antecedente ... 165
Tabela 19. Animacidade x especificidade do antecedente ... 168
Tabela 20. Definitude do antecedente ... 169
Tabela 21. Animacidade x definitude ... 171
Tabela 22. Distância em relação à primeira menção ... 173
Tabela 23. Tipo de texto ... 177
Tabela 24. Tipo de texto x animacidade do referente ... 181
Tabela 25. Gênero do informante ... 183
Tabela 26. Gênero do informante x animacidade ... 186
Tabela 27. Faixa etária ... 188
Tabela 28. Faixa etária x gênero: homens ... 192
Tabela 29. Faixa etária x gênero: mulheres ...194
xiv
Tabela 31. Escolaridade do informante ... 200
Tabela 32. Escolaridade do informante x animacidade do antecedente ... 205
Tabela 33. Escolaridade x Gênero ... 207
Tabela 34. Escolaridade x faixa etária ... 210
Tabela 35. Profissão ... 212
Tabela 36. Informantes: Grupo 1 ... 214
Tabela 37. Informantes: Grupo 2 ... 215
Tabela 38. Informantes: Grupo 3 ... 217
xv
Lista de Quadros
Quadro 1. Quadro pronominal de formas acusativas. Adaptado da Nueva Gramática de la Lengua Española. Manual (BOSQUE, 2010: 300) ... 43 Quadro 2. Hierarquia de animacidade e definitude (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 53) ……... 48 Quadro 3. Sistema pronominal que distingue caso (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 18)... 52 Quadro 4. Sistema referencial de Castilha. Adaptado de Fernández-Ordóñez (1999: 1350) …...56 Quadro 5. Sistema pronominal da zona vasca. Adaptado de Gómez Seibane (2012: 25) ……... 57 Quadro 6. Sistema pronominal da zona catalã. Adaptado de Gómez Seibane (2012: 25) …... 59 Quadro 7. Sistema pronominal do espanhol andino I (Equador). Adaptado de Gómez Seibane (2012: 39) …... 61 Quadro 8. Sistema pronominal do espanhol andino II (Peru, Bolívia, noroeste da Argentina). Adaptado de Gómez Seibane (2012: 41)…... 65 Quadro 9. Sistema pronominal do espanhol guaranítico. Paraguai (P) e no nordeste da Argentina (NA) (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 43) …... 66 Quadro 10. Sistema pronominal do espanhol em contato com as línguas náhualts e
com as línguas maia (GÓMEZ SEIBANE, 2012:49)
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Lista de Gráficos
Gráfico 1. Distribuição dos povos indígenas ou descendentes de povos indígenas ou
originários por província (Argentina) (INDEC, 2010) ... 11
Gráfico 2. Povos indígenas ou descendentes de povos indígenas na Argentina (INDEC, 2010) ... 12
Gráfico 3. População afrodescendente por província (INDEC, 2010) ... 16
Gráfico 4. Dados gerais ... 125
Gráfico 5. Dados gerais com a separação do clítico acusativo em função da morfologia de gênero ... 127
Gráfico 6. Duplicação por meio do pronome tônico ou por um sintagma nominal .... 129
Gráfico 7. Posição do clítico ... 135
Gráfico 8. Forma do antecedente ... 138
Gráfico 9. Número do clítico x número do antecedente ... 147
Gráfico 10. Gênero do antecedente ... 151
Gráfico 11. Animacidade do antecedente ... 160
Gráfico 12. Animacidade x número do antecedente ... 162
Gráfico 13. Animacidade x gênero do antecedente ... 164
Gráfico 14. Animacidade x especificidade ... 168
Gráfico 15. Animacidade x definitude do antecedente ... 172
Gráfico 16. Distância em relação à primeira menção ... 176
Gráfico 17. Tipo de texto ... 180
Gráfico 18. Tipo de texto x animacidade do antecedente ... 182
Gráfico 19. Gênero do informante ... 185
Gráfico 20. Faixa etária do informante ... 191
Gráfico 21: Faixa etária x gênero: homens ... 193
Gráfico 22. Faixa etária x gênero: mulheres ... 195
Gráfico 23. Faixa etária x gênero: le ... 196
Gráfico 24. Faixa etária x gênero: lo ... 197
Gráfico 25. Faixa etária x gênero: zero ... 198
Gráfico 26. Escolaridade do informante ... 203
Gráfico 27. Escolaridade do informante: clíticos le e lo ... 204
Gráfico 28. Escolaridade x gênero: mulheres ... 208
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Lista de Mapas
xviii
Índice
Introdução ... 1
Capítulo 1. Oberá, Misiones (Argentina): aspectos socioculturais e linguísticos ... 6
1.1 Aspectos socioculturais de Oberá - Misiones ... 6
1.1.1 Dados históricos e culturais ... 7
1.1.2 Dados demográficos ... 9
1.1.3 Dados étnicos ... 9
1.1.4 Fronteiras e contatos ... 14
1.1.5 Dados sobre a educação ... 18
1.2 Aspectos linguísticos na morfossintaxe do espanhol de Oberá ... 19
1.2.1 Concordância verbal ... 20
1.2.2 Concordância nominal ... 21
1.2.3 Possessivos ... 22
1.2.4 Correlação de tempos verbais ... 25
1.2.5 Relativas ... 26
1.2.6 Verbos com sentido existencial ... 28
1.2.7 Dequeísmo ... 29
1.2.8 Apagamento da consoante /r/ na desinência de infinitivos ... 30
1.2.9 Apagamento ou aspiração do /s/ em final de palavra ... 31
1.2.10 Paradigma pronominal e verbal do voseo ... 32
1.2.11 Objeto indireto ... 34
1.2.12 Objeto direto ... 35
1.3 Síntese do capítulo... 37
Capítulo 2. Realizações do objeto direto anafórico de 3a pessoa: revisão da literatura ... 39
2.1 Definindo o objeto de estudo ... 39
2.2 A estratégia le como objeto direto: breve percurso histórico ... 43
2.3 A omissão do pronome objeto direto (zero fonético) ... 47
xix
2.4.1 Sistema pronominal distribuidor de casos ... 52
2.4.2 Sistema pronominal referencial ... 55
2.4.3 Sistema pronominal em regiões bilíngues: Espanha ... 57
2.4.4 Sistema pronominal em regiões bilíngues: América ... 60
2.4.4.1 Sistema pronominal da região andina ... 60
2.4.4.2 Sistema pronominal da região guaranítica ... 65
2.4.5 Sistema pronominal em outras regiões de contato entre o espanhol e as línguas náhualts e as línguas maias ... 75
2.4.6 Sistema pronominal da região rio-platense ... 76
2.5 Síntese do capítulo ... 79
Capítulo 3. Pressupostos Teórico-metodológicos ... 83
3.1 Referencial teórico: Sociolinguística Variacionista de base laboviana ... 83
3.2 Metodologia ... 86
3.2.1 Corpus ... 87
3.2.1.1 Metodologia para a constituição do corpus ... 87
3.2.1.1.1 Entrevistas sociolinguísticas ... 88
3.2.1.1.2 Narrativas espontâneas ... 93
3.2.1.2 Breve perfil dos informantes ... 95
3.2.1.3 Normas de transcrição das entrevistas ... 102
3.2.2 Procedimentos metodológicos ... 105
3.2.2.1 Variável dependente ... 105
3.2.2.2 Variáveis independentes ... 106
3.2.2.2.1 Fatores internos ... 107
3.2.2.2.2 Fatores externos ... 114
3.3 Síntese do capítulo ... 119
Capítulo 4. Descrição e análise dos dados ... 120
4.1 Dados gerais... 120
4.2 Forma do antecedente ... 136
4.3 Número do antecedente ... 139
4.4 Gênero do antecedente ... 148
4.5 Animacidade do antecedente ... 155
4.6 Especificidade do antecedente ... 165
xx
4.8 Distância em relação à primeira menção ... 173
4.9 Tipo de texto ... 176
4.10 Gênero do informante ... 183
4.11 Faixa etária do informante ... 187
4.12 Escolaridade do informante ... 200
4.13 Profissão ... 211
4.14 Grau de distância e proximidade em relação ao entrevistador ... 218
4.15 Síntese do capítulo ... 219
Considerações finais ... 223
Introdução
O objetivo desta pesquisa é investigar a variação no quadro das estratégias de
realização do objeto direto anafórico de 3ª pessoa, no espanhol de Oberá - Misiones
(Argentina), a partir de uma perspectiva teórico-metodológica da sociolinguística
quantitativa de base laboviana (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV,
1972; 1994) aplicada a amostras de fala.
Nessa região, o repertório encontrado é constituído por cinco formas de realizar o
objeto direto (OD) anafórico de 3a pessoa na língua espanhola, que serão utilizadas a
partir das necessidades comunicativas. São elas: os clíticos lo(s)/la(s) (A), o clítico le(s)
(B), o zero (entendido como o OD não realizado foneticamente) (C), um sintagma
nominal (D) e o demonstrativo (E).
(A) a. Y según lo que yo enteré de que el chavón era gendarme ¿no? Y era e: a la
misma era ladrón de coche se ponía a robar autos entonces [un policía]i justo lo
pesca y: él agarro y loi mata al policía (Homem, faixa 2, nível médio)
b. -Bien a: ¿Usted tiene [mascota]i?
- No - No
- Ahora no hace poco lai tuve (Mulher, faixa 3, nível superior)
(B) - Y conocías a [esas personas]i?
- Yo lei conocía sí porque se murió un bebé y una vieja (Homem, faixa 2, nível
médio)
(C) - Y ¿Vos tenés algún [algún sueño]i que recuerdes que vos soñaste y te acordás
del sueño?
- Sí pero no te Øi voy a contar porque es una pelotudés (Homem, faixa 2, nível
médio)
(D) E: Bien ¿Vos tenés [mascotas]i?
No me gustan los animales pero sí en casa tenemos macotai (Mulher, faixa 1,
nível superior)
(E) […] la historia de esa gente no cierto porque ahí tiene su cementerio su plaza
levantaron semejantes piedras]i yo hasta ahora me preguntoesoi (Mulher, faixa 3,
nível fundamental)
A variação no quadro do sistema pronominal átono de 3a pessoa do espanhol vem
sendo estudada por diferentes autores nos últimos anos. Entre eles encontra-se
Silva-Corvalán (2001), quem aponta a existência de dois sistemas distintos: o que distingue o
caso e o sistema referencial. O primeiro deles é o que diferencia o uso dos clíticos
lo(s)/la(s), para a realização do objeto direto, e o clítico le(s), para o objeto indireto. O sistema referencial, por sua vez, considera os traços semânticos e gramaticais do
antecedente (animacidade, especificidade, definitude, gênero), independentemente da
sua função sintática. Em outras palavras, nesse sistema, o clítico lo/la e/ou le podem ser
utilizados para objetos diretos e indiretos.
Para Fernández-Ordónez (1999; 2001; 2007), além das estratégias clíticas de 3a
pessoa, o OD também pode ser realizado a partir de uma categoria vazia, conhecida
como zero fonético ou objeto nulo. Gómez Seibane (2012) concorda com as asserções
realizadas por Fernández-Ordoñez e apresenta a variação no quadro de realizações do
objeto anafórico em questão considerando as variedades da língua espanhola. De
acordo com Gómez Seibane, a língua espanhola convive com a língua vasca, com o
galego e com o catalão, com línguas ameríndias, com o inglês e com o português.
Para as autoras supracitadas, o contato linguístico junto a fatores linguísticos e
extralinguísticos pode ser o responsável pela presença de quadros de 3a pessoa mais
“simplificados1”. Assim ocorre com o sistema encontrado no Equador, onde, segundo
Palacios (2005; 2006), o contato se dá com a língua quéchua. Nessa região, os falantes
usam o clítico le como forma de realizar o OD independentemente do traço de
animacidade do antecedente; nessa variedade também se verifica a presença do zero
fonético. O quadro encontrado no Paraguai, onde o espanhol está em contato com o guarani, também é “simplificado”. Nessa variedade, existe, conforme Granda (1982) e
Palacios (1998), um uso generalizado do clítico le no singular que retoma antecedentes
tanto no singular quanto no plural. Palacios (1988) indica que o zero fonético, por sua
vez, pode retomar antecedentes [±específicos] e [±definidos] no Paraguai. Martínez
1
(2006; 2010; 2015) estuda o espanhol da Argentina e verifica que, na variedade
rio-platense, por exemplo, o traço [±determinado] do antecedente condiciona a presença do
zero fonético, assim como o número de interlocutores envolvidos no evento. No nordeste desse país, mais precisamente em Corrientes, conforme aponta Martínez
(2006), o caráter [+misterioso] ou [+extraordinário] do antecedente determina a elisão
do OD. Amable (1975), por sua vez, estuda o espanhol de Misiones e aponta a
existência do uso da forma le no singular que retoma antecedentes tanto no singular
quanto no plural, da mesma forma que foi descrito no Paraguai. O autor observa
também a possibilidade de elisão do OD.
Na literatura disponível sobre o tema, o trabalho de Amable (1975) é a única
contribuição disponível sobre a região que nos interessa nesta dissertação. Por mais
valioso que seja, conta já com mais de quarenta anos e mereceria, minimamente, uma
revisão que pudesse atualizar (ou confirmar) os achados do autor. Devido à escassez de
investigações sobre o espanhol de Misiones e, mais particularmente de Oberá,
justificamos a realização deste trabalho. O nosso intuito é contribuir ao mapeamento da
variação no quadro de realizações do objeto direto anafórico de 3ª pessoa, com a
descrição do fenômeno em uma variedade do espanhol que, como tantas outras, ainda
não foi suficientemente contemplada pela literatura.
Partindo de Amable (1975), as únicas estratégias descritas para a região nordeste
da Argentina seriam o clítico le e o zero. Nesse sentido, em nosso estudo realizamos as
seguintes perguntas gerais:
1. Quais são as estratégias empregadas pelos falantes de Misiones, mais precisamente
de Oberá, para a realização do OD anafórico de 3a pessoa? São somente le e zero?
2. Quais são os fatores linguísticos e extralinguísticos que condicionam o uso das
formas em variação?
Buscando responder a essas perguntas, em dezembro de 2015 elaboramos um
corpus da fala de Oberá-Misiones (Argentina). Para tanto, entrevistamos vinte e dois (22) informantes, mulheres e homens, de diferentes faixas etárias (entre 15 e 62 anos de
idade), com diferentes graus de escolaridade (ensino fundamental, médio e superior).
A hipótese central que buscamos verificar com este trabalho é a seguinte:
1975; PALACIOS, 1998; MARTÍNEZ, 2006; 2010; 2015;) sobre o sistema encontrado
no nordeste da Argentina, que incluiria em seu repertório as formas le e zero, o sistema
encontrado em Oberá é mais complexo, contando também como o clítico lo/la (além
das demais formas como sintagma nominal e demonstrativo). A distribuição das
estratégias le e zero é guiada sobretudo por fatores internos, com especial destaque à
animacidade do antecedente. O clítico lo/la, por sua vez, estratégia de maior prestígio,
tem seu uso regulado sobretudo por fatores externos, como a escolaridade e o gênero
do informante. Acreditamos também que o sistema praticado em Oberá revela um
cenário de variação estável e não de mudança em progresso, uma vez que o uso das
formas le e zero está condicionado por fatores internos como a animacidade do
antecedente, e não é sensível ao fator faixa etária. Por outro lado, o clítico lo/la não
compete necessariamente com as demais estratégias.
Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 1, fazemos uma
breve introdução da região estudada, ou seja, apresentamos aspectos como a
localização geográfica, os dados históricos, culturais, demográficos, as fronteiras e os
contatos histórico-culturais de Oberá - Misiones. Ainda que de modo sucinto, trazemos
também alguns aspectos linguísticos variáveis da morfossintaxe do espanhol de Oberá.
No capítulo 2, definimos o nosso objeto de estudo, realizamos um breve percurso
histórico da estratégia le e apresentamos uma breve descrição do que entendemos como
zero fonético. Apresentamos também as noções de sistema distribuidor de caso e sistema referencial. De maneira sucinta, discorremos sobre alguns dos mais recentes
estudos sobre o sistema pronominal átono de 3a pessoa em algumas das variedades do
espanhol. Ainda no capítulo 2, trazemos as perguntas norteadoras do nosso estudo e as
nossas hipóteses de trabalho. No capítulo 3 apresentamos o quadro teórico central no
qual nos baseamos para a análise dos nossos dados: a sociolinguística variacionista de
base laboviana. Em seguida, descrevemos a metodologia empregada para a elaboração
do corpus, um breve perfil dos informantes, assim como os critérios de transcrição adotados. Na última seção do capítulo 3, apresentamos os grupos de fatores
considerados em nosso trabalho. No último capítulo, o 4, descrevemos
quantitativamente os resultados obtidos para cada um dos grupos de fatores que foram
analisados com o auxílio do programa estatístico computacional GoldVarbX
(SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Apresentamos os resultados gerais da
amostra, em termos de frequências brutas, considerando as variantes encontradas. E,
relacionando-os arelacionando-os trabalhrelacionando-os comentadrelacionando-os no capítulo 2. Por fim, nas considerações finais,
apresentamos as conclusões que foram possíveis extrair a partir da nossa análise dos
dados. A esse capítulo, seguem as referências bibliográficas utilizadas e, em anexo, as
Oberá, Misiones
(Argentina):aspectos socioculturais
e linguísticos
Como este trabalho busca analisar as estratégias de realização do objeto direto
anafórico de 3ª pessoa na variedade do espanhol falada em Oberá, Misiones
(Argentina), cabe-nos apresentar, ainda que em linhas gerais, alguns aspectos
geográficos, socioculturais e linguísticos dessa região. Para tanto, na seção 1.1
fazemos uma breve introdução à região estudada, isto é, apresentamos aspectos como a
localização geográfica de Oberá - Misiones, assim como dados históricos, culturais,
demográficos, as fronteiras e os contatos histórico-culturais. Para tanto, partimos de
dados do CENSO de 2010, que foi o último realizado no país. Além disso, trazemos os
comentários de Duran (2005), que descreve as fronteiras e contatos históricos e
culturais de Misiones, e Gualdoni (2006), que descreve a formação do município de
Oberá. Em 1.2 apresentamos de modo sucinto alguns aspectos linguísticos na
morfossintaxe do espanhol de Oberá tomando como exemplo os dados recolhidos por
nós para o presente estudo.
1.1 Aspectos socioculturais de Oberá - Misiones
Misiones é uma das 23 províncias da Argentina, localizada ao nordeste do país.
Faz fronteira ao oeste com o Paraguai, pelo Rio Paraná, ao norte, leste e sul com o
Brasil. A fronteira entre a Argentina e o Brasil está marcada pelos Rio Iguazú, San
Antonio, Pepirí Guazú e Uruguai, além dos 20 km de fronteira seca. Finalmente, ao
sudoeste Misiones faz fronteira com a província de Corrientes.
Oberá é um dos departamentos, ou seja, um dos municípios da província de
Misiones. Localiza-se a 95 km da capital, Posadas, a 273 km de Puerto Iguazú e a 1040
km ao norte de Buenos Aires.
Argentina Misiones
Mapa 1. Localização de Oberá. (ESTADISTICA.SANLUIS.COM.AR). Acesso em 12/01/2016.
1.1.1 Dados históricos e culturais
De acordo com Gualdoni (2006), entre 1911 e 1916 ocorreram os primeiros
cinco anos de colonização de Oberá. Em 1913 chega um grupo formado principalmente
por escandinavos e suecos que chegavam sós, sem as suas famílias. Em 1914,
instalou-se a primeira família dando inicio à nova colônia. Em 1920 chegam algumas famílias
proveniente da Itália e mais tarde algumas da Alemanha, dos povos eslavos, alguns
japoneses e a partir de 1926, como consequência do progresso da colônia e das
facilidades dadas pela Dirección Nacional de Tierras para a pose imediata de terra,
chegou o que se chamou de colonización criolla. Como a maioria dos fundadores de
Oberá foi sueca, o nome sugerido inicialmente foi Svea, mas esse batismo foi impedido
pelo governo central, leia-se de Buenos Aires, e assim o nome ficou Oberá. Entretanto,
o nome Oberá deriva de “vera”, que é uma palavra do guarani, e significa “brilhante”,
“luminoso”; a letra “B” é, no entanto, seria uma deformação idiomática produzida pelo
uso.
Gualdoni (2006) aponta que no momento da chegada dos povos procedentes
da Europa existiam “espécies” de povos que moravam em Oberá. Trata-se dos povos
indígenas que habitavam não só Oberá, mas também Misiones como um todo. De
acordo com Duran (2005), Misiones se viu atingida pela expansão da cultura
guaranítica proveniente do amazonas no século XV. O povo Guarani teve uma
importância significativa em relação à cultura e à religião na região de Misiones. A sua
influência não se restringiu só a essa província da Argentina, mas abarcou o Paraguai, o
Brasil e a Bolívia. Durán (2005) comenta que o povo Guarani tinha uma organização
social e política admirável e que foi respeitada, até certo ponto, pelos jesuítas. A língua,
segundo os comentários de Duran (2005), era rica e foi institucionalizada pelos jesuítas.
“En nuestra región la vida de los guaraníes sufrió una enorme transformación, poseían una organización social y política admirable que fue respetada hasta cierto punto por los jesuitas, su idioma lleno de riquezas, fluidez, fue admirado e institucionalizado en las Misiones Jesuíticas. (DURÁN, 2005:13)
Estudos mais recentes demostram que o povo Guarani não despareceu
totalmente da província de Misiones, já que ainda é possível encontrar assentamentos
em algumas regiões. O estudioso norte-americano John Lipski comenta que nessa
região da Argentina o multilinguismo está enriquecido, visto que o espanhol convive
não só com o português, mas também com o guarani e com o alemão. Isso confirma o
dado apontado sobre a sobrevivência do povo originário de Misiones até os nossos dias.
Segundo Amable (1975), Misiones encontra-se localizada sobre a área
etnográfica do povo guaranítico e tupinambá, que se estende desde as costas atlânticas
do Brasil até o Mato Groso e sudeste da Bolívia, até chegar à desembocadura do Rio
Paraná. Nessa região ficam compreendidos o Paraguai, Chaco, Formosa, Misiones e
Corrientes. Por essa razão, segundo o mesmo autor, não é de se estranhar que a
1.1.2 Dados demográficos
Segundo o último Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas (2010), a
província de Misiones, o que corresponde no Brasil a um estado, tem 1.101.593 de
habitantes. A percentagem de analfabetismo é maior do que na Capital do país, 6,2%
diante de 1,6% em Buenos Aires. O departamento de Oberá, que no Brasil corresponde
a um município, tem uma população de 107.501 habitantes, sendo o nono (9º)
departamento mais populoso da província.
A população da região do nordeste do país, onde fica localizada a província de
Misiones, cresceu de 7,3% em 1985 para 9,2% em 2010. Misiones, especificamente,
cresceu de 0,8% para 2,7%, com variações para mais ou para menos ao longo desse
período.
1.1.3 Dados étnicos
Segundo o último Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas (2010),
desde a época da conquista o atual território argentino esteve habitado por variedades
étnicas que não receberam os mesmo direitos dados ao homem branco. Algumas da
instituições da Colônia, como a Mitia e o Yanaconazgo, reduziram os povos originários
a um estado homólogo ao da escravidão. Foram necessários séculos para chegar a um
ponto de reconhecimento dessas etnias e extensão de diretos.
O grupo originário que nos interessa é o que habita a província de Misiones, por
isso procuramos esse dado em documentos estatísticos. O Censo Indígena Nacional
(CIN) de 1966/1968 contabilizou 165.381 indígenas (75.675 indígenas localizados e 89.706 estimados), quando a população total do país era de 22.800 milhões. Na
atualidade, a população originária que se reconhece como tal é de 955.032 pessoas em
todo o país, o que representa 2,4% do total da população.
Conforme verificamos no Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas
Para especificar a população originária de Misiones, lançamos mão de alguns
documentos complementários ao supracitado, entre eles o INDEC 2 , mais
especificamente o ECPI3, e neles observamos que em Misiones o percentual de
concentração dessa população é relativamente baixa.
A Mapa 2 nos ajuda a visualizar a distribuição dos povos indígenas por
províncias na Argentina.
Mapa 2. População indígena ou descendente de povos indígenas ou originários por província: percentagem (INDEC, 2010).
Notamos que em Misiones encontra-se o menor percentual do povo indígena,
ou descendente de povo indígena, entre 0% e 2%, para ser mais exato, 1,2%, segundo
indica o INDEC (2010). A maior parte está concentrada nas províncias ao noroeste do
país (Jujuy, Salta e Formosa), assim como ao sul (Chubut, Rio Negro e em Neuquén),
como mostra o Gráfico 1 a seguir.
Gráfico 1. Distribuição dos povos indígenas ou descendentes de povos indígenas ou originários por
província (Argentina) (INDEC, 2010).
Conforme o INDEC (2010), do total de pessoas que se reconhecem como
pertencentes ou descendentes de povos originários, 21,5% se declara pertencente ou
descendente do povo Mapuche, o que representa um total de 205.009 pessoas.
O Gráfico 2 a seguir nos ajuda a visualizar os povos originários encontrados na
Gráfico 2. Povos indígenas ou descendentes de povos indígenas na Argentina (INDEC, 2010).
Vemos que existem vários povos indígenas na Argentina, dentre eles o povo
Mapuche, o Guarani, o Tobas, o Avá-Guarani, o Mbyá-Guarani e o Aymara. Na
província de Misiones, que fica ao nordeste do país, encontram-se o povo
Mbyá-Guarani, o Guarani e o povo Tupi-Guarani. Dentre eles, o povo Mbyá-Guarani é o que
se concentra majoritariamente em Misiones. Os demais povos encontram-se também
em outras províncias do país. A população Mbyá-Guarani somente alcança 0,8% do
total dos povos indígenas, e, desse 0,8%, a metade encontra-se em Misiones segundo o
INDEC (2010).
Como dito acima, em Misiones encontra-se somente 1,2% do povo originário
do país. Nessa província, segundo Zamudio (sem data), a comunidade Guarani
Mapa 3. Distribuição do povo Guarani em Misiones (ZAMUDIO, sem data). Disponível em:
http://indigenas.bioetica.org/base/base-d5.htm
Como pode ser visto acima, há 21 grupos que pertencem à comunidade Guarani
em Misiones, e muitos deles se subdividem em dois grupos. A seguir reproduzimos a
lista apresentada na imagem acima.
1. Arroyo nuevo
2. El Doradito
3. Paraje Mandarina
4. Y- Aka Porá
5. Iguá Porá
6. Carmelito
7. Marangatu
8. Virgen María
9. Yta Poty
10.Tekoa Guaraní
11.Tacuapí
12.Ñumandú
13.Y Ovy
14.Kaaguy Poty
15.Ivy Pyta
16.Kaa Poty
17.Kaa kupé- Taly Poty
18.Sapukay
19.Ñu Porá Katupyry
20.Yacutinga
Duas comunidades na região do Iguaçu concentram uma quantidade
significativa do grupo Fortín Mbororé e Yriapú, muitos deles vindos do Paraguai e do
Brasil. No entanto, como esses povos não reconhecem fronteiras, é muito fácil a divisão
de aldeias e criação de outras, inclusive a migração de um país a outro é muito comum.
Isso também dificulta o estabelecimento de um número fixo de famílias assentadas no
território local.
Em Oberá, município que nos interessa nesta pesquisa, não se encontra nenhum
assentamento de população originária, mas se sabe, por experiências pessoais, que o
fluxo do povo Guarani nessa região existe e que chega de municípios vizinhos.
Teves et al (2002), em seu trabalho Una Aplicación de la Metodología de Redes
Sociales a la Investigación Etnográfica, investigam a forma de vida da população Mbyá Guaraní. Os autores comentam que:
En el marco de este emprendimiento, a partir del año 1996 y hasta la actualidad se realizan en forma periódica y sistemática relevamientos etnográficos en las comunidades Mbyá-Guaraní. Estas dos comunidades asentadas en una área de 6.144 hectáreas están hoy bajo el régimen legal de una Reserva Privada de Usos Múltiples perteneciente a la UNLP en convenio con el Ministerio de Ecología de la provincia de Misiones (TEVES
et. al, 2002:4).
Diferentemente do que foi apontado por Gualdoni (2006), que coloca a
existências dos povos originários de Misiones como um mito, Teves et al (2002) estuda
essas comunidades apontando dados importantes para o nosso trabalho, uma vez que
constata a existência e localização dos mesmos.
Uma vez visualizados os dados étnicos da Argentina, e mais especificamente de
Misiones, vejamos agora as fronteiras e a situação de contato.
1.1.4 Fronteiras e contatos
Como dissemos acima, a província de Misiones faz fronteira ao oeste com o
Paraguai, ao norte, leste e sul com o Brasil e ao sudoeste com a província de Corrientes
(Argentina). Em 1776, Misiones se estabeleceu como um dos quatro territórios
fronteiriços. Nesse momento, o povo guarani começou a sua dispersão generalizada:
Loreto, e San Miguel – Corrientes, até Entre Rios ou ainda até o Paraguai (DURAN,
2005).
A colonização oficial de Misiones se deu entre 1883 e 1927, centrando-se em
lugares antes povoados pelos jesuítas. Os primeiros povos chegaram do Brasil e eram
descendentes de europeus, mais tarde chegaram polacos e ucranianos que vinham de
Galitzia, uma região pertencente ao Império Austro-húngaro. Estes últimos vinham de
uma região atrasada, pobre e migraram a Misiones em busca de melhores condições de
vida e trabalho. Oberá foi colonizada durante a “colonização privada espontânea ou
secundária” realizada pela família e por amigos de pessoas já instaladas no lugar
(DURÁN, 2005).
Ainda segundo a mesma autora, até 1953, momento em que Misiones readquire
a sua autonomia, a evolução demográfica é constante, devido ao assentamento de
contingente migratório europeu, de países limítrofes e de outras províncias.
Na atualidade, segundo o Censo de 2010, o país que contribui com o maior
número de imigrantes para a Argentina como um todo é o país fronteiriço Paraguai:
550.713 pessoas foram registradas em 2010, número que representa 30,5% da
população nascida no estrangeiro. Em segundo lugar, encontra-se a Bolívia com
345.272 pessoas (19,1%), logo o Chile com 191.147 (10,6%) e, por último, o Peru
(8,7%.) Juntos esses países registram um total de 68,9% do total dos imigrantes. Na
província de Misiones e Formosa, com 4% de população estrangeira em ambos os
casos, pessoas nascidas no Paraguai são predominantes (CENSO, 2010).
Por sua vez, segundo o mesmo documento, a Itália e a Espanha são os dois
países europeus que apresentam o maior número de imigrantes na Argentina, mas esses
dois países têm mostrado uma participação decrescente nas últimas décadas. Essa
tendência deve-se a um fluxo menor de pessoas e a óbitos de espanhóis e italianos mais
envelhecidos.
Além disso, há registros da presença de afrodescendentes no território argentino.
Segundo o Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas (2010),a quantidade de
pessoas que se reconhecem como pertencentes a esse grupo é de 149.493, ou seja, 0,4%
da população.
Do total de afrodescendentes, 76.064 são homens e 73.429 são mulheres. O
Gráfico 3. População afrodescendente por província (INDEC, 2010).
Como é possível apreciar no Gráfico 3, o maior número de afrodescendentes no
país encontra-se em Buenos Aires (25,2%); por outro lado, na província de Misiones há
somente 2,5% de pessoas que se reconhecem como tal.
Em relação ao contato com o Brasil, a presença do português brasileiro é
evidenciada em vários contextos em Oberá. Um desses contextos se dá por meio da
mídia. A população de Oberá tem contato exaustivo com os meios de comunicação
provenientes do Brasil. A TV aberta chega ao lares de maneira livre e, em muitas casos,
é a única opção oferecida de maneira gratuita. As músicas, especialmente o ritmo
“Sertanejo”, é muito popular entre os mais jovens, que muitas vezes preferem esse ritmo
aos locais: Chamamé, Balnerón, Corrido. Inclusive, a “Cumbia Villera”, muito popular
entre os jovens na capital Buenos Aires, perde para o “Sertanejo” e o “Sertanejo
Universitário”, não só em Oberá, mas em grande parte da província de Misiones. Da mesma forma, o contato entre as duas língua se dá por meio do comércio
entre os dois países. O tráfego de mercadoria, o abastecimento de combustível e o
turismo são intensos. O fluxo de pessoas é maior ou menor a depender da situação
econômica de cada país, ou seja, as pessoas cruzam as fronteiras quando percebem que
a condição econômica é mais favorável. Nos últimos anos, devido à condição
melhores preços. E isso é ainda mais fácil quando consideramos que entre os dois países
existem áreas de fronteira seca. Quando a fronteira é marcada por um rio, o
deslocamento se dá por meio de pontes, barcos ou balsas.
No que se refere ao ensino, podemos dizer que há muitos alunos de regiões
fronteiriças do Brasil que estudam em escolas em Oberá. A quantidade ainda é maior no
ensino médio, já que é mais fácil a locomoção dos aluno um pouco mais velhos. É
comum encontrar estudantes nativos de português estudando em escolas cuja língua de
ensino é o espanhol. Em uma das entrevistas realizada por De Ramos (2014), uma
professora do ensino fundamental relatou a dificuldade que sente durante as aulas, já
que precisa, antes de mais nada, ensinar a língua que emprega para ensinar os conteúdos
antes dos conteúdos propriamente.
O estudioso norte-americano John Lipski, por sua vez, em uma entrevista ao
jornal Primera Edición (2012), comenta que em Misiones-Argentina o espanhol
convive, não só com o português, mas também com o guarani e com o alemão. Por
outro lado, Amable (1975), ao falar sobre as línguas que existiam antes da conquista,
afirma que o substrato guarani teve uma influência determinante na fala regional, seja
no vocabulário, na fonética e na sintaxe da língua espanhola.
Alguns estudos apontam que a língua predominante na província de Misiones é
o espanhol e que em algumas comunidades indígenas fala-se o guarani como língua de
comunicação familiar. Existem, no entanto, outros núcleos, cujas línguas de dentro de
casa são o polaco, o ucraniano, o alemão e o português. No município de Oberá
comemora-se a Fiesta Nacional de los Inmigrantes, que demonstra a existência e a
importância desses povos dentro do território nacional e pode ser uma evidência do
contato do espanhol com as línguas desses povos.
Entre todas essas línguas, o contato do espanhol com o português é relevante e
deve ser considerado nos estudos linguísticos, já que a província de Misiones faz
fronteira com o Brasil ao longo de toda a franja oriental, fazendo com que o contato
linguístico seja intenso. O português é empregado dentro de casa como língua nativa
e/ou como segunda língua entre pessoas que têm relações comerciais com o Brasil. Nas
escolas, segundo testemunhos de pessoas entrevistadas por De Ramos (2014), o
emprego da língua portuguesa é grande, mas só é ensinado como língua estrangeira no
ensino médio em algumas escolas da região. Isso evidencia a não existência de escolas
escolas bilíngues dos dois lados da fronteira. Seria, nesse caso, necessária uma
investigação mais detalhada para verificar onde ficariam as mesmas.
Para Amable (1975), o bilinguismo sobrevive nesta região e afirma que serão
necessárias três gerações para que este desapareça desta variedade do espanhol. No
entanto, Lipski (sem data) aponta, em trabalhos mais recentes, que apesar de terem se
passado três gerações após o estudo de Amable (1975), ainda é possível presenciar o
emprego do português em comunidades agrícolas perto da fronteira com o Brasil, assim
como também em alguns núcleos urbanos.
Nota-se que uma questão relevante quando o tema é a língua que se fala na
fronteira da Argentina com o Brasil é a denominação da mesma. Comumente ouve-se
chamar essa língua como “Portunhol”, quer dizer, a mistura do português com o
espanhol. Amable (1975) denominou essa língua da fronteira como “Brasileiro”. No
entanto, Lipski (sem data) comenta que definir essa variedade como “portunhol” não
resulta adequado, porque sugere que não é nem uma nem outra e, segundo ele, essa
língua é português. Os falantes dessa região falam uma língua vernácula – língua nativa
ou dialeto – não escolarizada, um português com elementos do espanhol, mas sua base é
o português. O autor acrescenta que para poder fazer essa alternância precisa-se de um
bilinguismo e que devido à semelhança entre as duas línguas é possível que a
sobreposição ocorra em qualquer momento do discurso. As pessoas bilíngues mudam
fluentemente, mas muitas vezes aqueles que aprendem português como L2 mudam de
língua inconscientemente. Entretanto, o mais chamativo desta região, conforme Lipski
(sem data), é que não é possível identificar se a pessoa que fala português aprendeu a
mesma como L1 ou como L2.
Muitas vezes as pessoas bilíngues usam uma ou outra língua a depender do
contexto e do ato de fala. Segundo Lipski (sem data), para muitos argentinos da
fronteira com o Brasil, o português é a primeira língua que aprenderam e é a que
empregam para expressar as suas emoções: carinho, frustração, entre outras. É mais
fácil empregar essa língua do que aquela aprendida na escola, muitas vezes com tom de
censura ao português.
1.1.5 Dados sobre a educação
Em Misiones, o número de analfabetos é de 35.772 segundo o Censo Nacional
comparação ao ano de 2001, o número de alunos entre seis e onze anos de idade que
frequenta a escola aumentou em vinte e uma (21) das vinte e quatro (24) províncias da
Argentina. Os dados mais importantes são registrados em Misiones, Chaco e Santiago
del Estero (3,3%, 2,6% e 2,1%, respectivamente). O Censo de 2010 indica que,
historicamente, esse resultado é relevante, uma vez que essas províncias têm sido
deixadas de lado nesse aspecto.
Segundo Gualdoni (2006), as duas primeiras escolas de Oberá foram criadas em
1927 e logo em 1939 a terceira. Após o ano de 1931 abriram-se mais três escolas, dois
institutos privados (Instituto Mariano e o Instituto Carlos Lineo), uma escola de caráter
puramente provincial e o Colegio Concordia, todos de ensino fundamental. Além disso,
Gualdoni comenta que o ensino médio teve início com a fundação do Colegio Nacional
Amadeo Bonpland em 1948. Após esse ano, surge a Escola Professional de Mulheres, e mais duas escolas normais de educação, também um colégio, um instituto e um centro
polivalente. No que tange à educação superior, Gualdoni menciona que em 1962
começa suas atividades a Facultad de Artes, assim como a Facultad de Ingeniería
Electromecánica, fundada em 1974.
Em 2010, segundo o Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas,
observa-se que Buenos Aires é a única província que apresenta uma cobertura superior
a 50% em relação ao número de pessoas com ensino superior: 54,4% da população entre
18 e 24 anos frequenta um estabelecimento educativo superior. Misiones encontra-se
entre as províncias que variam entre 30% e 40% de assistência aos mesmos.
Esses são os dados geográficos, étnicos, históricos, demográficos e educacionais
de Oberá-Misiones. Percebemos que é uma província com um contingente não tão
grande de pessoas, e que há comunidades de outras línguas convivendo com o espanhol.
Após termos visto alguns aspectos socioculturais de Oberá, passemos agora a
observar sucintamente alguns aspectos linguísticos do espanhol de Oberá, sobretudo em
relação à morfossintaxe.
1.2 Aspectos linguísticos na morfossintaxe do espanhol de Oberá
Lipski (sem data) comenta o seguinte em relação a Misiones:
existen núcleos poblacionales que hablan polaco, ucraniano y alemán, sobre todo en el centro y sur de la provincia, pero estas lenguas no se transmiten a las generaciones más jóvenes y han de desaparecer del horizonte lingüístico dentro de una o dos generaciones (LIPSKI, sem data)
A partir da análise qualitativa dos dados recolhido por nós para a região de Oberá
(Misiones), observamos alguns aspectos morfossintáticos variáveis que chamaram a
nossa atenção. Entre esses, encontram-se os fenômenos abaixo.
1.2.1 Concordância verbal
Além de ocorrências em que se verifica a presença de marcas de concordância
verbal (1), também encontramos casos de ausência dessas marcas (2):
(1) a. I6: esas cositas fueron las que/ las que me emocionaron ((ruido)) a seguir la
carrera (Mulher, faixa 1, nível superior4)
b. I8: yo te digo las escuelas son magnificas escuela como cualquier otras
escuelas viste tienen de todo enseñan mirá vienen sus maestras enseñan viste
(Mulher, faixa 2, nível médio)
c. I5: la gente es pobre porque no tiene trabajo (Mulher, faixa 3, nível fundamental)
d. a lo mejor porque la sociedad tiene más ofertas de otras cosas (Mulher, faixa 3,
nível superior)
(2) a. I1: “Y es la falta de educación el cambio de cultura también el cambio de
cultura la falta de educación y bueno por ahí los padres pierden el manejo de la
educación de sus hijos desde muy chico la tecnología los celulares este todos los
medios de comunicación influye sobre eso y también ¿viste?” (Homem, faixa 3,
nível superior)
b. I1: Bueno yo tengo auto propio pero los medios de transporte mejoró desde
que está el asfalto (Homem, faixa 3, nível superior)
c. I10: Y después y además aquellos días aquellos días había un un disturbio ahí
abajo para/ de mi casa viste entonces vino dos policías (Mulher, faixa 1, nível
médio)
d. I7: la gente se apasiva un poco viste pero la gente son muy violenta viste ni
con el Papa no puede arreglar más viste ya (Homem, faixa 3, nível fundamental)
e. I1: en la época de los militares por ejemplo la policía tenían un poco más de
autoridad (Homem, faixa 3, nível superior)
Diferentemente dos casos mostrados em (1), em que se verificam sintagmas
nominais sujeitos no singular (la gente, la sociedad) e no plural (esas cositas, sus
maestras) acompanhados de verbos no singular (es, tiene) e no plural (fueron, emocionaron, vienen), respectivamente, isto é, há marcas de concordância verbal, notamos, nos exemplos em (2), que não há marcas de concordância entre o verbo e o
sujeito. Em (2a-c), os sujeitos, expressos por sintagmas nominais no plural (todos los
medios de comunicación, los medios de transporte e dos policías), vêm acompanhados
de verbos na 3ª pessoa do singular (influye, mejoró e vino). Por outro lado, como se
pode ver em (2d,e), os sintagmas nominais la gente e la policía, no singular, são
acompanhados de verbos na 3ª pessoa do plural (son e tenían).
1.2.2 Concordância nominal
No que se refere à concordância nominal, também observamos casos em que as
marcas de concordância estão presentes (3) e ausentes (4):
(3) I14: a. este año sí veo que hay colectivos urbanos que pasan a cada rato (Mulher,
faixa 2, nível superior)
b. I15: Las mujeres en su gran mayoría ponele hay mujeres de cierta edad que ya
pueden ir a trabajar en la de doméstica pero las chicas jóvenes y todo eso no
hacen nada y las más viejas tampoco porque tienen que cuida la casa y sus hijos
(Homem, faixa 2, nível médio)
c. había un arroyito unas piedras y él se resbaló por la piedra (Homem, faixa 3,
nível fundamental)
b. I1: y en la colonias donde yo trabajo hay más respeto pero ya en los pueblos
grande es muy difícil (Homem, faixa 3, nível superior)
c. I8: Ponele yo tengo lindo recuerdos de de mi infancia ponele (Mulher, faixa
2, nível médio)
d. E: Muy difícil ¿Y Las Cataratas?
I4: Uuu sí sin palabras muy lindo la verdad que tuve la oportunidad de conocer
y está muybueno. (Mulher, faixa 2, nível superior)
e. I7: hizo despelote en la casa del viejo movió unos cajón de hierro allá ..
(Homem, faixa 3, nível fundamental)
Nos dados em (3a,b), observamos a presença de marcas de concordância de gênero e
número nos adjetivos (urbanos, jóvenes, viejas) que acompanham os nomes (colectivos,
chicas). Em (3c), vemos que no sintagma unas piedras o determinante unas carrega as
marcas de feminino plural do nome piedras.
Em (4a-c), encontramos casos de ausência de marcas de concordância de número.
Os núcleos nominais dibujos, pueblos e recuerdos estão no masculino plural, assim
como o artigo definido los nos dois primeiros exemplos, mas os adjetivos que os
acompanham estão no singular: animado, grande, lindo. Em (4d), a ausência de marcas
de concordância se refere não somente ao número, mas também ao gênero. O núcleo
nominal Cataratas apresenta os traços de feminino plural; os adjetivos que se referem a
esse nome (lindo, bueno), no entanto, apresentam as informações de masculino singular.
Por fim, em (4e), observamos que o único item que carrega as marcas de plural é o
determinante unos que antecede o núcleo nominal cajón.
1.2.3 Possessivos
Em linhas gerais, possessivos simples podem ocorrer, em espanhol, em
posposição ao nome em sintagmas indefinidos (un amigo mío) (5), ao passo que,
quando em posição pré-nominal, ocorrem em sintagmas definidos sem a presença de
(5) a. I4: La verdad que me parece perfecto que hayan hecho un monumento por estas personas pero si bien lo material no marca el sentimiento de las personas entonces cada el que vivió en carne propia el/nosotros conocidos vecinos gracias
a Dios no era ningún familiar mío pero sí éramos conocidos nosotros (Mulher,
faixa 2, nível superior)
b. I4: le voy a retar no le voy a llamar la atención porque hasta inclusive un
colega nuestro nos contaba que le habían querido pegar viste? (Mulher, faixa 2,
nível superior)
(6) I4: a. jamás en mi vida le grité a mi madre ni te digo a mi abuela (Mulher, faixa
2, nível médio)
b. I18: me gusta muchísimo vivir en Oberá es una zona geográfica muy bella en
cuanto al colorido a los paisajes a la riqueza de nuestra zona e: la riqueza e: de
la agricultura y ganadería que nos permite vivir cómodamente y muy feliz en
nuestro lugar (Mulher, faixa 3, nível superior)
Chama a atenção que, em Oberá, é possível que possessivos pós-nominais
ocorram em sintagmas definidos (7):
(7) a. I1: por eso no cierto porque justamente está muy relacionado con la historia
nuestra no cierto (Homem, faixa3, nível superior)
b. I2: que vino a pedir los últimos datos de secundario la última firma mía para
para ingresar en gendarmería (Mulher, faixa 2, nível superior)
Em (7), vemos que os possessivos tônicos nuestra e mía ocorrem em posposição
aos nomes historia e firma, respectivamente, em sintagmas nominais definidos
encabeçados pelo artigo definido feminino la.
Além dessa questão relacionada à estruturação dos sintagmas nominais contendo
o possessivo, também chama a atenção, no espanhol de Oberá, a alternância que existe
entre possessivos simples (8) e possessivos perifrásticos (9) de 3ª pessoa:
(8) I8: Algo que me gusta ponele cuando vienen y están todos tranquilos que
toman su cervezasu vino que están tranquilos juegan al pool sin ni un problema
(Mulher, faixa 2, nível médio)
(9) a. I1: No que hizo muchas cosas buenas pero el capricho de ella el orgullo de
ella le llevó a que la imagen de ella se deteriorara eso le diría (homem, faixa3,
b. I14: Sí a una señora la señora de Barrio Evita que murió no me acuerdo bien el el nombre la de L? la mamá de M L a M L ¿Le conocés?
E: No me acuerdo
I14: La mamá de ella ((rudio)) un par de veces la señora mayor fue la única
(Mulher, faixa2, nível médio)
c. I16: Una/ no para mí que es una es un es una guaiquica es y cómo era cómo
era el pelito de él era así (Mulher, faixa3, nível fundamental)
d. I7: U: qué bicho es ese? Es un bicho malo un bicho violento y de paso para el monte ponele es un arma porque adonde está él nadie va a entrar porque bueno
ahí está un yaguareté [un tigre]i nadie va a ir ahí a cazar a comer lo que es de él
porque ese la gente le respeta (Homem, faixa3, nível fundamental)
Em (8), vemos que os nomes cerveza e vino são acompanhados pela forma
simples átona su. Já em (9), observamos o uso de formas perifrásticas de 3ª pessoa, isto
é, sintagmas preposicionais formados pela preposição de mais um pronome tônico: de
él, de ella. Por serem sintagmas preposicionais, o possessivo perifrástico não pode ocupar a posição pré-nominal, sendo encontrado somente nos demais contextos, como a
posição pós-nominal em (9a-c) (el capricho de ella, el orgullo de ella, la imagen de
ella, La mamá de ella, el pelito de él) e contextos de predicativo, como em (9d) (lo que es de él).
Ainda sobre os possessivos, mas dessa vez não relacionados à semântica de posse,
vemos que, da mesma forma que em outras variedades do espanhol, em Oberá é
possível a alternância entre possessivos tônicos e sintagmas preposicionados formados
pela preposição de seguida de um pronome oblíquo tônico:
(10) a. I10: y los profesores se reían mío de vez en cuando y decían “pero no tenés
que estar así nosotros somos/ ahora te vamos a cuidar a vos (Mulher, faixa 1, nível
médio)
b. I7: yo te protegí esa última vez ahora arreglate de acá olvidate de mí nunca
vos cuentes conmigo (Homem, faixa 3, nível fundamental)
(11) a. I7: y cuando él sigue caminando yo me voy junto y él camina delante mío y
se va (Homem, faixa 3, nível fundamental)
b. E: Con sus hermanos es la más grande la más chica?
I16: No yo soy la … después de mí para abajo tiene tres (Mulher, faixa 3, nível