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Academic year: 2023

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O impacto da descoberta do Novo

Mundo na cultura européia

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mundos de Colombo e Galileu*

Andrea Battistini

Tradução de Helvio Gomes Moraes Jr.

Andréa Battistini é professor de literatura italiana junto à Universidade de Bolonha, cidade onde nasceu e reside. Organizou a edição da obra de G. Vico (Milano: Meridiani Mondadori, 1992), do Sidereus Nuncius de Galileu (Venezia: Mardi°, 2003), da Vim Nuova e das Rime de a- nte (Roma: Salem°, 1995). É autor de livros sobre Vico (La degnità della retorica. Studi su G.B. Vico, Pisa: Pacini, 1975; La sapienza retorica di Giarnbattista Vico, Milano: Guerini e Associati, '1995, Vico tra antichi e moderni, Bologna: 11 Mulino, 2004), sobre a autobiografia (Lo specchio di Dedalo. Autobiografia e biografia, Bologna: 11 Mulino, 2002), sobre Galileu (Introduzione a Galilei, Roma-Bari: Laterza, 1989; Galileo e i gesuiti. Miti letterari e retorica a'ella scienza, Milano: Vita e Pensiero, 2000), sobre o Barroco (I1 Barocco. Cultura, miti, immagini, Roma:

Salerno Editrice, 2000), sobre a Retórica (con E. Raimondi: Le figure della retorica. Una storia letteraria italiana, Torino: Einaudi, 1990).

Organizou também Letteratura e scienza, Bologna, Zanichelli, 1977, Vico oggi, Roma, Armando, 1979, os Atti dei convegno internazionale "Un europeo dei Settecento —A. De' Giorgi Bertola riminese" (Ravenna: Longo, 2000). Ocupa-se sobretudo do Sei-Settecento e Novecento. Em âmbito novecentesco organizou a edição do rondista Bruno Barilli, Capricci di vegliardo e taccuini inediti, Torino: Einaudi, 1989, publicou um estudo sobre Agnese va a morire e um volume de ensaios entitulado Sondaggi sul Novecento, Cesena: Il Ponte Vecchio, 2003. Seus estudos estão traduzidos

*Traduzido a partir do original em italiano: "Esperienze odeporiche dei cannocchiale nela pace utopica dei nuovo

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'"Tu vero, Galilaee nobilissime, [...] ad intima penetralia astrica pergis, scrutans abscondita et invisibilia". Carta de 8 de julho de 1610, de Bartolomeo

Schroeter a Galileo. Galileo Galilei, Le Opere [1890- 1909], nova reedição da edição nacional dirigida por A.

Favaro, Firenze, G. Barbera, 1968, 20 voll., X, p. 394 (nas citações o número romano indica o volume, o algarismo arábico, a página),

="Haver scoperti nuovi et non piu conosciuti mondi, cosi questo presente si gloriará d'haver ritrovati nuovi et non piii immagginati cieli, coo tanto stupore dell'età a venire, che invidieranno noi che semo

i

nau in questi avventurati tempi".

3 Cesare Seg,re, Flori dei mondo.

I modelli nella folha e nelle immagini delf aldilà, Torino, Einaudi, 1990, p. 25.

Ainda hoje, à distância de quase quatro séculos, a publicação do Sidereus. Nuncius de Galileu, em março de 1610, é unanimemente considerada como evento que assinalou um momento decisivo, destinado a incidir duramente não apenas sobre a história do pensamento científico, mas também sobre literatos e artistas. Seu registro das descobertas astronômicas alcançadas com a luneta criou, seja entre os intelectuais, seja entre a gente comum, uma atmosfera febril de expectativas messiânicas. No clima de renascimento ou de "regeneração", instigado pela consciência de viver no início de um crescimento incomensurável de conhecimentos, alimentava-se, em suma, dir-se-ia hoje com as categorias antropológicas de Hans Blumenberg, o mito da terra incógnita decorrente da sensação de viver em um universo incompleto. Com tonalidades lucrecianas, a iconografia galileana subitamente se transforma naquela de um ousado pioneiro que "se lança nos mais íntimos umbrais dos astros, perscrutando fenômenos ocultos e invisíveis", até então negligenciados pela humanidade. A explícita valorização, proclamada no título completo, dos "magna, longeque admirabilia spectacula", prontamente partilhada, como acima se viu, pelos primeiros leitores, abria de par em par os horizontes da curiositas e do empirismo, mais uma vez em oposição à "estática morfologia do aristotelismo, com a sua suposição da possibilidade de um compêndio definitivo das coisas do mundo" (Blumenberg, 76). Na canônica e recorrente querelle des anciens et des modernes, o Seicento já podia blasonar a sua superioridade sobre os séculos passados, porque se estes se festejavam por "haver descoberto novos e jamais conhecidos mundos, assim este presente se gloriará de haver encontrado npvos e jamais imaginados céus, com tanto estupor pela era vindoura, que nos invejarão, nós que nascemos nestes afortunados tempos" (Galilei X, p. 292) 2. Segundo outro elogio, inspirado em Campanella, Galileu havia quase desdenhado "aquilo que

Se Vê com os olhos do vulgo" para "penetrar", com a ajuda de Deus, ad invisibilia (Galilei, XI, p. 24). A abertura de novas fronteiras, ou melhor, o cancelamento de todo limite, elevava o homem à condição de demiurgo da natureza, conduzindo-o, na tensão rumo às terras desconhecidas, a um fluxo de obras e de energias.

O arrojo do cientista, que transcende com ousadia os confins assinalados pela natureza ao homem, logo se traduziu, no imaginário barroco, na metáfora da viagem aventurosa, segundo uma simbologia completamente instintiva, uma vez afirmado, seguindo as observações de Cesare Segre, que "a viagem como tomada de consciência do mundo é um tema caro às literaturas de todos os tempos". A exploração de Galileu, que impeliu seu olhar para além daquela que segundo a astronomia ptolemaica constituía a esfera do fogo, até

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descobrir as manchas lunares, a verdadeira natureza da Via Láctea e os satélites de Júpiter, fez pensar com muita naturalidade em uma ultrapassagem das místicas colunas de Hércules, para a realização do programa baconiano, agora não mais utópico que o plus ultra, sobre as pegadas ideais de um outro viajante, Cristóvão Colombo, que pouco mais de um século antes havia infringido os mesmos limites, abrindo ao saber novas e inesperadas fronteiras. Alem de tudo, o paralelismo estava em plena sintonia com o gosto do tempo, solícito no estabelecimento de constelações analógicas que pusessem à mostra o gênio. Neste caso nem mesmo se faziam necessários virtuosismos particulares, se às colunas de Hércules e à descoberta da América vinha a propósito pensar, ainda que sem muitos artifícios verbais, no lugar estilisticamente descuidado e informal da carta privada, mesmo que escrita por um literato um tanto fantasioso como foi o amigo e biógrafo de Tasso, Giambattista Manso. Este, a apenas cinco dias do aparecimento do Sidereus Nuncius, escrevendo a Galileu na data de 18 de março de 1610, colhia prontamente uma equação destinada a tornar-se tópica, não antes de estimar a sua "suma ventura o ser nascido em século tão feliz, que produziu no mundo personagem de tão raras virtudes e singular doutrina como V.S., em quem quis Deus não somente unir todos aqueles dons que no passado espargira nos outros homens, mas reservá-lo também, com novo e inaudito modo, ao descbbrinriento dos novos céus, e destes tornando-o novo Atlas".

E, sobre o ímpeto encomiástico da evocação mitológica, prosseguia representando Galileu enquanto se lançava "por vias jamais calcadas por intelecto humano, como novo Colombo", além dos confins traçados antigamente por Ptolomeu, "um outro Hérc4s", a partir do momento que a sua cosmologia havia fixado certos "limites além dos quais não fosse lícito ultrapassar" (Galilei X, p. 296).

Evidentemente, não era difícil aproximar os dois afortunados exploradores, tão corajosos por infringir obstáculos gnosiológicos extremamente enraizados. Menos natural parece, à primeira vista, a equiparação entre as caravelas de Colombo e a luneta de Galileu. Na realidade, a empresa descrita no Sidereus toma a forma de um diário de bordo, de um relato de viagem rumo a lugares jamais alcançados pelo olhar humano, que devido ao desembarque na América pôde seguir tão adiante em virtude dos recursos tecnológicos construídos pelo gênio humano. O telescópio, a par das naus ou da bússola, confirmava sua natureza dedaliana e fabril, habilitada, em um caso, para atravessar o Atlântico, no outro, para navegar nos espaços siderais. Não por acaso, Bacon, como sempre sensível a toda forma de progresso, exatamente às vésperas de 1610, naquela que é talvez a sua alusão mais transparente a Galileu, se congratulava em uma passagem da

"Somma ventura l'essere nato in secolo tanto felice, c'ha prodotto nel mondo personaggio di cosi rare virtit e singolar dottrina qual è V.S., in cui ha voluto Iddio non solamente unir tutti que' doai che per adietro have sparsi ne gli altri huomini, ma riserbarlo etiandio, coa nuovo e non pit) inteso modo, alio scovrimento de' nuovi ciei, e fattolo di loro nuovo Atlante".

"Per vie non piú calcate da intelletto humano, quasi novello Colombo".

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"Con lo zelo e l'energia di certi uomini dotti, che poco tempo addietro, con l'aiuto di nuovi strumenti ottici, come usando scialuppe e piccole barche, hanno cominciato a tentare nuovi commerci con i fenomeni del ciclo".

Francis Bacon, Works, edição de J. Spedding, R L. Ellis, D. D. Heath, London, Longman, 1857-1874, 14 vol., reimpressão Stuttgart-bad Cannstatt, F. Fromann Verlag Günther Holzboog, 1963, III, p. 736. Tradução italiana de Paolo Rossi, La scienza e Ia filosofia dei moderni. Aspetti della

rivoluzione scientifica, Torino, Bollati Boringhieri, 1989, 148.

Marzio Pieri, Per Marino, Padova, Liviana, 1976.

Ezio Rairnondi, "Per un'immagine della Conzmedia", in Metal:ara e storia, Torino, Eunaldi, 1970, pp. 31-37.

Paolo Rossi, op. cit., p. 175.

'" "Non appena qualcuno avrà insegnato l'arte di volare, fra la nostra specie umana non mancheranno i coloni".

" "Vi sara genti che non temera per se nerruneno di fronte a quell'immensità". Johannes Kepler, Dissertatio cum Nuncio Sidereo e Narraria di quartuor bois satellitibus, edição de E.

Pasoli e G. Tabarroni, Torino, Bottega d'Erasmo, 1972, p. 61.

12 Cfr. Raymond Trousson, Voyages aux pays de nu//e part.

Ilistoire littéraire de la pensée utopique, Bruxelles, Editions de l'Université de Bruxelles, 1979, II ed., p. 94 (ed. it.

Viaggi in nessun longo, trad. por R. Mediei, Ravenna, Longo, 1992) e J.O. Bailey, Pilgrinzs tbrough Space and Time: Trends and Patterns in Scientific and Utopian Fiction, New York, Argus Books, 1947, pp. 16-24.

Descriptio globi intellectualis "com a indústria dos mecânicos" e "com o zelo e a energia de certos homens doutos, que pouco tempo atrás, com a ajuda de novos instrumentos óticos, como que usando chalupas e pequenas barcas, começaram a tentar novos comércios com os fenômenos do céu" (Bacon III, 736; trad. It. Rossi 148) 6. Ainda que nesta ocasião não seja mencionado Colombo, a referência aos "novos instrumentos óticos" como se fossem "chalupas e pequenas barcas", subentende, de qualquer maneira, a presença do navegador e as razões de sua quête, como se aquele que observa um objeto distante através da luneta não cumprisse ação distinta daquele que empreende uma viagem. Para dizê-lo com a linguagem inspirada de Marzio Pieri, "o Seicento está para o telescópio, como o Novecento está para a Nave Espacial" (1976: 316) 7.

Segundo uma consolidada tradição literária, o vôo aéreo equivale ao navegar, como por certo as asas correspondem aos remos (Raimondi 1970) 8. Até um cientista da estatura de Kepler, de resto não estranho às fantasias da ficção científica, teve que confirmar a própria fé copernicana comparando o motivo da terra àquele de um navigium que sulca incessantemente as rotas do céu para contemplar o universo (Rossi 175). Nenhuma maravilha, portanto, se na sua Disser/afio cum Nuncio Sidereo, redigida a um mês de distância do aparecimento do Avviso galileano, ele antecipava a utopia do Somnium de astronomia lunari, vaticinando que "tão logo alguém ensine a arte de voar, entre a nossa espécie humana não faltarão os colonos" 10 da lua. E para rebater as objeções dos mais míopes e prudentes paladinos do bom senso, recordava que anteriormente ninguém teria acreditado que a navegação

"do vastíssimo Oceano" far-se-ia, graças à invenção da bússola, até mais tranqüila e segura que no estreitíssimo golfo Adriático. Portanto, assim que forem construídas as naus e as velas adequadas ao vento celeste, "haverá gente que não temerá por si, tampouco frente àquela imensidão" (Kepler 61) 11 . Por todo o Cinquecento, até os primeiros anos do Seicento, na literatura das viagens imaginárias e dos relatos de lugares utópicos, as aventuras de viagens se davam por mar, e, freqüentemente, desde a Utopia de Thomas More à Città dei Sole de Campanella, para não falar da New Atlantis de Bacon, se apresentavam na forma das relações deixadas por Colombo, por Vespúcio e por outros navegadores; após o eletrizante rumor despertado pelas descobertas celestes da luneta vê-se deixado o mar pelo ar, ao florescer de viagens interestelares mais propícias ao maravilhosou. Nesta transformação, a memória do distante empreendimento de Colombo, longe de ser esquecida, é ao contrário reavivada, dado que, depois da repercussão imediata de 1492, tinha-se escassa consciência dela.

Tratando-se quase de um arquétipo, a descoberta da América

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se conserva no imaginário seiscentista, agindo como inevitável termo de comparação para as novidades astronômicas galileanas.

E visto que a sua evocação desenvolve uma função retórica, pode ser revocada para argumentações também opostas. Num primeiro momento, Kepler, para demonstrar a superioridade da luneta com a qual Galileu "perfurou" o céu sobre os "tubos com duas lentes postas em circulação entre o vulgo", ou a diferença entre "a experiência ocular" e as "conjecturas teóricas", recorda analogamente o quanto seja mais cogente "a descoberta do novo mundo feita por Colombo"

em relação à simples "discussão de Ptolomeu sobre os antípodas"

(29), presa à mera conjectura não demonstrada. Ainda assim, trinta páginas depois, para sustentar a supremacia da contemplação sobre a ação, não hesita em inverter o raciocínio, chamando novamente à causa Colombo e o seu alter ego epidítico, Vespúcio, definido com uma perífrase mitológica destinada a grande fortuna em referência também a Galileu, Argonauta illeflorentius:

Quis enim non maioris faciat nobilitatem doctrinae astronomicae, quae, cum pedem extra Graeciam nunquam extulisset, tamen zonae frigidae proprietates prodidit, quam vel Caeseris experimentationem, qui clepsydris ad litus Britannicum noctes deprehendit Romanis noctibus paulo breviores [...]? Quis non celebrat Platonis fabulam de Atlantica, Plutarchi de insulis auricoloribus trans-Thulanis, Senecae de futura orbis novi detectione versiculos fatídicos, postquam tale quid ab Argonauta illo florentino tandem fuit praestitum?

Ipse Columbus dubium tenet lectorem suum, plus is ingenium admiretur novum orbem ex ventorum flatu conicientis, an fortitudinem tentatis ignotos fluctus imensumque oceanum et felicitatem optatis potiti. (Kepler 58).

Tradução livre: Com efeito, quem não estimaria ainda mais a nobreza da ciência astronômica que, sem nunca ter posto um pé fora da Grécia, revelou, no entanto, as características da zona ártica, ou a experiência de César, que descobriu, com a ajuda de uma clepsidra, serem as noites nas costas da Bretanha um pouco mais curtas que em Roma [...P Quem não celebra o mito platônico da Atlântida, as ilhas cor de ouro imaginadas por Plutarco além de Tule, os versos proféticos de Sêneca sobre a descoberta futura de um novo mundo, desde que a existência de um território deste gênero foi finalmente provada por este Argonauta de Florença? Colombo deixa seu leitor se perguntar se deve admirar mais a inteligência daquele que adivinhou o

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Novo Mundo segundo a direção dos ventos, ou a coragem daquele que provou as ondas desconhecidas e o imenso oceano, e a sorte daquele que obteve o que desejava.

Neste caso, a formação matemática e dedutiva de Kepler o induz a reivindicar para os teóricos da contemplação pura méritos maiores, em suas vaticinantes intuições, do que os dos experimentadores empíricos, que querem sempre tocar com a mão antes de tirar qualquer conclusão.

E os dois processos cognitivos, que implicitamente parecem querer opor o mesmo Kepler, a quem se deveu a previsão da existência de satélites no sistema solar, a Galileu, artífice da descoberta dos satélites de Júpiter, vêm, ao fim, sintetizados e unificados em Colombo, em quem, todavia, se louva a supremacia do ingeniurn, que lhe fizera prever a existência de mundos do outro lado do Atlântico, sobre a fortituto, que o induz a desafiar o oceano para averiguá-los pessoalmente.

As duas virtudes postas em competição por Kepler apareceram estilisticamente unificadas na figura das endíades por Campanella, que no madrigal em honra de Colombo o definiu "audaz engenho", muito superior à estatura dos antigos, ainda que, injustamente, a empresa, a seu dizer, insignificante dos Argonautas, tenha usurpado a glória do herói moderno" (Campanella XI, 24). E quando, em janeiro de 1611, inflamado pela leitura do Sidereus, escreveu uma carta imensamente calorosa a Galileu, a sorte do astrônomo é imediatamente igualada à do almirante das caravelas — que, além de tudo, teve de ceder a Vespúcio a honra de dar seu nome à terra descoberta — até mesmo no risco de não receber dos homens o reconhecimento merecido (Galilei XI, p.

24). Como em Kepler, Galileu não era ainda o antagonista, mas o aliado de Colombo na batalha entre os antigos e os modernos, na qual, para Campanella, os últimos tinham por muito levado a melhor. Por isto, as revelações do Sidereus eram acolhidas visando à acomodação e integração da descoberta da América na indicação do advento de uma nova idade do ouro, saudada sincreticamente com as predições tanto de Sêneca", por outro lado evocadas também por Kepler, quanto do Apocalipse: "tu purgasti oculos hominum, et novum ostendis caelum,

et novam terram in luna" {tu purgaste os olhos dos homens, e revelas um novo céu e uma nova terra na lua] (Galilei XI, p. 24) 15 . As últimas viagens realizadas pela ciência sobre as rotas celestes da luneta, embora guiadas pelas sólidas leis da ótica, da física e da trigonometria, reverdeceram uma vez mais veredas imaginosas da utopia.

Ao menos por uma vez, a impressão de se estar vivendo circunstâncias absolutamente extraordinárias não é fruto nem de divagações abstratas, nem de louvores enfáticos ditados pela grandiloqüência barroca, mas a consciência, agitada pelos

" Tommaso Campanella, La Città dei Sole e Scelta d'alcune poesiefilosofiche, edição de A.

SERONI, Milano, Feltrinelli, 1962, pp. 147-148.

"Na Medéia citada por Campanella o filósofo latino havia predito"venient annis/

saecula seris, quibus Oceanos / vincula reruum laxet et ingens / pateat tellus Typhysque novos / detegat orbes nec sit terna / ultima Thule" (vv. 374-379).

Sobre a pauta desta profecia e daquela de Virgílio (Buc. IV, pp. 34-35) serão recalcadas aquelas colombianas de Ariosto (Orlando furioso XV, 21, pp.

1-4) e de Tasso (Gerusalemme liberata XV, p. 32) e aquela galileana de Marino (Adone X, p. 42).

15 Uma intuição antecipadora desta utopia apocalíptica poderia ser encontrada, segundo a interpretação personalíssima, mas plausível, de Sacerdoti no Anthony and Cleopatra de Shakespeare. Cf.

Gilberto Sacerdoti, Nuovo ciclo, nuova terra. La rivelazione copernicana di 'Antonio e Cleopatra" di Shakespeare, Bologna, il Mofino, 1990.

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estremecimentos que o ignoto e o extraordinário sempre produzem, de uma revolução de conseqüências grandiosas e imprevisíveis. Era, portanto, natural que Campanella sustentasse na Poética que rinventio [...] novi coeli et planetarum per Galileum amicum" [a descoberta de um novo céu e de novos planetas por parte de meu amigo Galileu]

fosse argumento literário suscetível de despertar admiração semelhante à "inventio Novi Orbis" [descoberta do Novo Mundo], uma vez que esta "descoberta do Novo Mundo" "supera todas as empresas humanas", sendo "multo mirificentiorem quam Argonautica illa puerilis Graecorum" [muito mais maravilhosa do que a Argonáutica dos pueris gregos] e com certeza "Troianorum excidium" [que a ruína dos troianos] (Campanella 1954: 1036-1038, 1098). O primado da modernidade, representado pelo eixo Colombo-Galileu, valia tanto em chave épica quanto epistemológica.

A polivalente função argumentativa de Colombo e a atribuição a ele feita de uma summa de virtudes ainda que contrastantes, implicam que em Campanella, como também em Bacon, Manso, ou em Kepler, a evocação do navegador genovês a propósito das descobertas astronômicas de Galileu tinha, sobretudo, uma função explicativa que pretendia reunir dois heróis e benfeitores da humanidade, sem a intenção de estabelecer, forçosamente, graduações de méritos.

Para Galileu, mais próximo e contemporâneo, a dimensão epidítica residia tão somente na aproximação a uma figura já antonomástica de grande explorador. Quando, porém, para alargar a glória dos Mediei, dedicatários das grandes descobertas do Sidereus, a vaidade um pouco exibicionista do cientista o instou a pensar em uma reedição da operetta, provendo-a com uma rica antologia de "muitas composições de todos os poetas toscanos" (Galilei X, p. 299), o cotejo au pair não mais satisfazia e, até mesmo por razões ideológicas, se converteu em um clímax sempre redundando a seu favor. A musa mais crédula e mais pronta ao exercício encomiástico foi a de Girolamo Magagnati, que já na data de 21 de maio de 1610 fizera entregar a Galileu uma Meditazione poetica sopra i pianeti Medicei, publicada no mesmo ano em Veneza. A composição, que, ao destinatário mais que interessado, parecia escrita em "stile purgatissirno" (Galilei X, p. 355), oferecia, entre outras coisas, uma ampgcatio que, partindo já de um exemplo estendido ao grau máximo, culminava com a citação bíblica do Apocalipse, sede originária de uma fórmula ("Et vidi caelum novum et terram novam", 21, 1), a qual dali a pouco seria refeita, como já se viu, por Campanella:

Solcar l'Egeo, trasser di Colco il Vello d'Argo gli Eroi, né riportar che d'oro

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preda volgare a le Tessale arene.

Audace spinse le superbe antenne ii Ligure fulgor che Tifi oscura per le campagne lubriche e spumanti de l'ampie fauci d'Anfitrite ingorda de' regni ondosi a l'ultime latebre;

né riportè pià ch'altro mondo ai mondo;

ma tu solcasti, o Galileo, de l'Etra gli smisurati inaccessibil campi, e profondato il curioso aratro di spirto vago entro i zaffiri eterni rivolvendo del ciel l'aurate zolle ritrovasti nov'orbi e novi lumi' 6.

(Vaccaluzzo 15)

Em tradução livre: Sulcar o Egeu, trazer da Cólquida o Velo

— de Argos os Heróis, trazer de volta nada mais que ouro

— presa vulgar às areias da Tessália. — Audaz exibe as soberbas antenas — o Lígure fulgor que Tífis obscurece — pela campanha lúbrica e espumante — das amplas fauces de Anfitride voraz

— dos reinos ondejantes às últimas profundezas; - não trouxe nada além de outro mundo ao mundo; - mas tu sulcaste, ó Galileu, do Éter — os imensuráveis inacessíveis campos, - e penetrado o curioso arado — de espírito vago entre os zéfiros eternos — revolvendo do céu os campos dourados — encontraste novos orbes e novos lumes.

Tendo por objetivo a celebração de Galileu, dos outros dois termos de comparação não se deve deixar de sublinhar os limites, consentidos pela polissemia do discurso retórico. Assim, das heróicas gestas dos argonautas, re-exploradas magistralmente pela filologia de Curtius 17 para demonstrar-lhes a densidade de topos, nem sequer se alude ao motivo dantesco do estupor de deuses e homens ante a audácia de quem, pela primeira vez, ousou sulcar o mar com um gesto carregado de pathos, mas se insiste no aspecto sacrílego de uma violação instigada por uma insana avidez de riquezas. A viagem, portanto, não é realizada para satisfazer a intrépida sede de conhecimento, mas para conquistar o Velocino de Ouro, em Managnati diminuído a "presa vulgar". Quanto a Colombo, se acentuam epicamente as dificuldades, excessivas, mas em proporção aos resultados que, apresentados de modo morfologicamente redutivo ("né riportè piú che ..."), parecem homogêneos ao que já se sabe, como se o contributo de Colombo ao incremento do saber fosse apenas quantitativo. Com um

1' Nunzio Vacealluzzo, Galdeo Galilei nella poesia dei suo seco/o, Palermo, Sandron, 1910, p. 15

17 Ernst Robert Curtius, "La nave degli Argonauti" (1950), in Letteratura della letteratura, edição de L. Ritter Santini, Bologna, ilMulino, 1984, pp.

301-325.

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vertiginoso alargamento geográfico e mitológico, Galileu, ao contrário, depois do circunscrito Egeo e os claustrofóbicos "esconderijos" de Anfitrite, correspondente feminil de Netuno, expande o seu vôo nos intermináveis espaços do Éter, a parte mais alta e mais livre dos céus, domicílio bem-aventurado dos deuses, transcendendo os confins estreitos de um "mundo fechado" que, para continuar a paráfrase de Alexandre Koyré, após o acerto de contas do Sidereus, revelara-se um

"universo infinito"".

Não obstante a pouco feliz metáfora de Magagnati que, inspirado pelos "desmesurados inacessíveis campos", é, depois, induzido a chamar a luneta "curioso arado", o instrumento que, repentinamente, se tornara o objeto metonímico da figura de Galileu, tornou-se, adicionalmente, o símbolo da leveza da meditação (Calvino 12), do triunfo sobre a constritiva força da gravidade, tanto que quem o empunhava pode, hoje, depois das claras reflexões de Italo Calvino, considerar-se um precursor do Barão de Münchhausen, protagonista de uma quête digna de um cavaleiro errante que anula o peso de seu corpo para transportar-se em vôo a outros mundos. Em vantagem das descobertas astronômicas intervinham as particulares sugestões do elemento aéreo, mais alto e nobre que a superfície marinha, porque ligado, ensina Mircea Eliade (127), às figuras do Mensageiro divino, do Eleito, do Profeta. O vôo ascensional traduz plasticamente a superação da condição humana e o esforço arquetípico de liberar-se de todo condicionamento material, emblema de uma elevação também moral que anula toda forma de peso e todo limite terreno. Se o Sidereus dava o anúncio de verdades mais modernas, Galileu tornava-se um novo Mercúrio, do qual lembrava a agilidade álacre e desenvolta do movimento, em tudo digno, pela rapidez do raciocínio, pela vívida fantasia nos exemplos, pela economia dos argumentos, de uma fábula, onde é quase normal, adverte Propp (55), que o herói "voe através do ar"". Para Massimo Bontempelli (230), o teórico do realismo mágico e de uma narrativa incumbida de extrair perspectivas míticas da realidade do mundo moderno, "as estrelas, embora a ciência lhes tenha estabelecido o lugar e medido a estrutura, permaneceram a coisa mais fabulosa que o homem tenha à própria disposição". A viagem mental do cientista, por isso, não se perde no sonho e no elemento mágico:

os resultados são tangíveis e verificáveis, embora mantendo íntegra aquela leveza da qual, de fato, não podia se gabar Colombo, constrito a mover-se num espaço de alto coeficiente de resistência, exposto à insídia de tempestades e de obstáculos de todo tipo, originados pela oposição de um deus como Netuno, mais adaptado à viscosidade de seu reino hídrico (Liehaêêv)", ao qual simbolicamente pertence a rêmora, o animal marinho capaz de imobilizar as naus.

" Alexandre Koyré, Dal mondo chi uso all'universo infinito [1957], trad., Milano, Feltrinelli, 1970. Há uma tradução brasileira, Do mundo fechado ao universo infinito:

Rio de Janeiro, Forense- Universitária; São Paulo:

Edusp, 1979, tradução de Donaldson M. Garschegen.

Vladimir Ja. Propp, Moologia della fiaba, edição de J. L. Bravo, Torino, Einaudi,

1966, p. 55. As considerações de Propp foram depois retomadas por I. Calvin() em seu ensaio sobre a leveza, op.

pp. 28-29.

(11)

20D. S. Lichaëev, "Le proprietà dinamithe dei/ambiente nelle opere letterarie (Per un'impostazione delproblema)", in Ricercbe semiotiche. Nuove tendenze delle scienze umane nell'URSS, edição de J. M.

Lotman e B. A. Uspensku, ed. it. de e. Strada Janovic, Torino, Einaudi, 1973, pp.

26-39.

SI David Qtrint, "La barca delPavventura nelPepita rinascimentale", I. ntersezioni, V (1985), n. 3, pp. 467-488.

Paradoxalmente, Galileu, que com a identificação das manchas lunares e solares desmentira a hierarquização dos espaços, distintos na Antigüidade e na Idade Média entre celestes e terrestres, sacros e profanos, proibidos e acessíveis (Foucault 22-23), obtém a supremacia sobre Colombo com uma argumentação tipicamente aristotélica, no sentido de que, para recorrer às palavras de um seu correspondente, com as suas descobertas, "a memória dos Colombos e dos Vespncios", apareceu "renovada" "tanto mais nobremente, quanto é mais digno o céu que a terra" (Galilei XII, p. 66). O telescópio fizera ver que os céus não eram, de fato, inalteráveis e perenes, incorruptíveis porque constituídos de éter, uma quintessência sólida, cristalina, transparente, de todo diversa da Terra, lugar de toda metamorfose, do nascimento e da morte, da formação e da destruição. Contudo, esta dessacralizaçã.o teórica do espaço, com a qual o universo inteiro era exposto à corrupção e à contingência do fenomênico, era silenciada em base encomiástica, para reforçar com a velha física da escolástica a aristocrática perfeição dos aéreos e transparentes territórios siderais sobrevoados pelo olhar sereno e "curioso" de Galileu.

A "curiosidade", com a qual Magagnati dota as operações investigativas da luneta, se despoja das censuras tradicionais e moralizantes porque, identificada a posteriori com a pequena fábula do investigador de sons contida no Saggiatore, ela vem definir "a condição originária do espírito científico, a inquietude festiva e vital que brota pelo estupor diante do novo" (Raimondi 1990: 23), perseguido sem uma segunda finalidade, seja ela a soberba da hybris, seja o interesse venal imputado à expedição dos Argonautas. As conquistas cognitivas do Sidereus são épicas porque encarnam o princípio da aventura sustentado pelo ideal aristocrático da fama, precisamente quando da aventura de Colombo, após a dimensão heróica e providencial que Tasso lhe atribuiu, se tendia a ver mais a mesma cifra mercantil e burguesa, prevaricadora e violenta, já adscrita por Magagnati à nau chefiada por Jasão. Bastaria, a propósito, a desmistificação das viagens maríti mas realizadas no . Seicento, no Paradise Lost, onde Milton, tornando Satanás seu protagonista, deslustra toda veleidade de heroísmo puro nelas contida, com o objetivo especulativo de acumular riquezas (Q_uint) 21 .

Nos relatos épicos, um componente essencial eram as provas a que devi a se submeter o herói para mostrar o próprio valor. Suas peregrinações eram, por isso, uma parte constitutiva do evento, porque forneciam o modo de contemporizar sobre as ações valorosas do protagonista (Gove 176). E a navegação de Colombo, constelada de perigos e de tormentos, havia construído o ethos do comandante intrépido que, ao desafiar as tempestades do oceano, arriscara a

(12)

própria vida e a dos companheiros, abrindo, então, o caminho para as violências de uma cruenta guerra colonial. Justamente sobre os obstáculos materiais de um caminho diflcil insistia Campanefia (1954:

1128) em seu esquema épico colombiano, que deveria descrever

"quae contigerunt a sociis in via, et a mari, et a coelo, et a monstris, et ab incolis novae terrae [...], et quidquid remorari aut festinare occupationem Novi Orbis potuerit." As provas éticas de Galileu eram, ao contrário, de gênero completamente diverso, enquanto sua viagem se realizava, através do telescópio, sobre a rota imaterial de um olhar sobre o qual não incidia nem a resistência do ar, nem a força da gravidade. O Elogio que Gabriello Chiabrera (1834: 366) lhe dedicou, ressaltava a expedita facilidade com a qual o cientista, "ainda que habitante da terra, passeia, para dizê-lo com as belas palavras de Homero, o cimo excelso do Olimpo"". Daqui, mais uma vez, o despontar de Gafileu sobre Colombo em favor da oposição tópica necessidade x contingência: "E se para Cristóvão Colombo resulta débil todo rebôo de elogios como descobridor de novas terras, de que modo que dever-se-ia elogiar Galileu, descobridor de novas estrelas?

Por certo não colocar-se-ão em cotejo as coisas transitórias com as sempiternas.""

Não que Chiabrera, conterrâneo de Colombo, terminasse de fato por maltratar-lhe a iconografia: no diálogo Il Geri não se distingue ainda de Galileu pela idêntica aspiração a conhecer novas verdades 24, mas ao considerá-lo isoladamente, em uma Canzone eroica, o poeta secundava instintivamente as razões épicas adotadas por Campanella, detendo-se com satisfação no fato de que o descobridor da América

"o Oceano percorreu, os turbilhões susteve, /venceu as cruas imagens da morte; % depois do amplo mar extinta a guerra, / avistou a então fabulosa terra"" (Chiabrera, 1974: 303, st. 6). Antes de derivarem de perigos físicos, em Galileu, ao contrário, esforços e adversidades nasciam mais de obstáculos epistemológicos, a serem derrubados não mais com a força física, mas com a paciência reflexiva de um esforço cotidiano consagrado à eliminação dos erros e dos preconceitos, em vista de um acréscimo pacífico do saber, pelo qual seria favorecida, indistintamente, toda a humanidade. O fato de Galileu passar "a maior parte das noites [...] antes ao sereno e ao descoberto que no quarto ou ao fogo" 26, conforme sua própria evocação (Galilei X, 302), comportava sacrifícios que trariam benefícios para todos, a partir do momento em que o imperativo da nova ciência era o da cooperação interpretativa, da solidariedade cultural que fazia do investigador um moderno Sócrates disposto a franquear a todos a estrada dos segredos do universo.

Eis então, desta generosa solidariedade, nascer, junto aos

"Quantunque abitator della terra, passeggia, a dirlo con parole belle di Omero, le cisne eccelse dell'Olimpo".

23"E se per Cristoforo Colombo ogni rimbombo di Iode é floco siccome a trovatore di nuove terre, in qual modo degnamente loderassi il Galileo discopritore di nuove stele?

Per certo non porransi in paragone le cose caduche con le sempiterne."

2" "Se fosse em cada estudo ater-se às coisas feitas e outra coisa não buscar, certamente as tantas províncias por Colombo descobertas seriam ainda desconhecidas; nem Galileu teria no céu descoberto aquelas luzes e movimentos nos séculos anteriores não manifestos"

(Chiabrera 1974: 579-580).

Sobre este desejo de inovação e de liberdade, retomada de forma (divertida, segundo di Pieri 1986: 51-52) no famoso imperativo da autobiografia na qual Chiabrera (1974:

521) afirma "que ele seguia Cristóvão Colombo seu concidadão, que desejava encontrar novo mondo, ou afogar", tem passagens muito interessantes, Getto 137.

"L'Ocean corse, i turbini sostenne, / vinse le eructe immagini di morte; / poscia dell'ampio mar spenta la guerra, / scorse la dianzi favolosa terra".

" "La maggior parte deite notti [...] piO ai sereno et ai discoperto, che in camera o ai fuoco".

(13)

contemporâneos, uma ulterior razão de superioridade, explicada de maneira mais explícita por um velho aluno e admirador de Galileu, Thomas Seggett. Este, escocês de nascimento, após ter permanecido com o mestre em Pádua, transferira-se para Praga, onde foi colhido pelas perturbadoras revelações do Sidereus. Desta forma, pôs-se com Kepler, que o chamava "congerro noster" ("nosso companheiro de folguedos"), a observar o céu, para verificar o quanto Galileu havia descoberto. E quando, em setembro de 1610, Kepler terminou a Narratio de observatis a se quatuor Iovis satellitibus erronibus27 , Seggett solicitou que a publicação trouxesse em apêndice alguns de seus epigramas latinos", no primeiro dos quais se distingue o elogio do maravilhoso instinto exploratório de Galileu, em um novo confronto vitorioso com Colombo:

Quae latuere soli saeclis incognita priscis, magno auso in lucem promlit ante Ligur:

accola nunc Arni, saeclis incognita cunctis, protulit in lucem quae latuere poli.

Ille dedit multo vincendas sanguine terras;

sidera at hic nulli noxia. Maior uter?

(Galilei III/1, 188 e X, 454) Em tradução livre:

O que da terra permanecia escondido, desconhecido aos séculos passados, /Com uma grande coragem um Ligúrio"

outrora o trouxe à luz. / Agora um vizinho do Amo trouxe à luz / O que do céu permanecia escondido, desconhecido de todos os séculos. / O primeiro deu terras a conquistar pelo preço de abundante sangue, / E o segundo estrelas que a ninguém prejudicam. / Qual dos dois é o maior?

Após a re-pro posição do topos da terra incógnita, já observado em Magagnati, no qual Galileu prevalece, enquanto, com um jogo de antíteses perfeitamente simétricas, se acentua a absoluta novidade de suas descobertas, a partitura do elogio passa a analisar os modos pelos quais os dois exploradores haviam atingido suas respectivas metas. E enquanto a conquista da América foi cruenta e comportou as expedições militares da Espanha em uma guerra de conquista, os feitos de Gafileu realizaram-se sem nenhum derramamento de sangue, a ponto de parecer, com certeza, precursores de paz, visto que, neste momento, os novos mundos anunciados pelo Sidereus pareceram trazer à humanidade um período de redescoberta concórdia.

Giovanni Aquilecchia (92-93), conhecedor insigne do

27 Está, portanto, correta a indicação de Vaccalluzzo (111), seguida também da de Aquilecchia (91), que coloca erroneamente os epigramas em apêndice à precedente princeps da kepleriana Dissertatio cum Nuncio Sidereo, publicada a fins de maio de 1610.

" Sobre as circunstâncias, ainda que contrastantes, da publicação destes versos, se veja a correspondência galileana em Galilei X, pp. 454 e 457.

29 Que Ligúrio?? Não consegui descobrir quem foi esse cara.

Nem a Enciclopédia Mérito nem a Larousse o citam. Cê sabe algo a respeito da figuraça?

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pensamento de Giordano Bruno, acreditou ter descoberto "marcas originais de um tal cliché", dissolvido "na censura da empresa colombiana pelos seus efeitos cruentos e subversores", na Cena de le Ceneri, publicada em fins de 1584 3°. Aqui, contudo, onde por outro lado falta, naturalmente, no grumo comparativo, o nome de Galileu, substituído pelo do próprio Bruno, a condenação de quantos

"tenham encontrado o modo de perturbar a paz alheia, violar os pátrios gênios das regiões, de confundir o que a provida natureza distiriguiu...""(Bruno 31) tem por imputados "os Ts"32, um tema que, embora não excluindo, por certo, Colombo, traz, primeiramente, à cena os Argonautas, por meio de seu timoneiro, e, a seguir, entra novamente no topos argumentativo que, freqüentado já nos tempos antigos, entre Eurípedes e Valério Flacco, julgou a nave de Argos "uma ameaça para a humanidade" (Curtius 301-302, 309). Certamente, a marca conferida por Bruno não é, portanto, "original", mas não deixa de ser significativa, porque acolhe no jogo intertextual do vôo infinito precursor de paz o próprio autor do Infinito, universo e mondi, aquele que, como Galileu, havia "transposto o ar, penetrado o céu, observado as estrelas, ultrapassado as margens do mundo..." (Bruno 33) 33. De qualquer forma, a preferência pelo otium contemplativo e a paralela intolerância pela agressividade dos negotia guerreiros impôs- se junto aos intelectuais seiscentistas por via poligenética, ainda que prescindindo dos precoces pronunciamentos feitos neste sentido por Bruno, tratando-se de um estado de ânimo difuso em uma sociedade esgotada que, após os ideais expansionistas do Renascimento, em que Maquiavel exortava a "conquistar" o poder, tinha em vista antes, com a mais cautelosa razão de estado, uma política voltada ao ensino da prudência e da inclinação reflexiva.

De fato, o século XVII foi uma época de tensões, intolerâncias, misérias indizíveis. Nenhuma surpresa, então, se os literatos, constritos a viver perpetuamente entre contrastes e ódios (basta pensar na terrível guerra dos Trinta Anos), almejassem, por reação, a uma época de paz, buscada com insistência nos relatos utópicos (Trousson 97). Não por acaso, até o Adone, que, embora seja um poema épico e, como tal, destinado, conforme o gênero, à celebração das virtudes guerreiras, é dedicado a Vênus, garante "de pacífico estado ócio sereno" (I, 2, 3).

A sua "política do desempenho" (Pozzi 74) 34 torna-o um poema de paz, mantendo-se coerente a este programa até mesmo no confronto agora já canônico entre Colombo e Galileu, como se os dois gloriosos personagens encarnassem ainda os temas humanísticos de uma disputa das artes, em que se defrontavam a profissão das armas e a da ciência.

Mas, como freqüentemente lhe sucede, Marino não inventa nada, uma vez que a oitava, que funciona como arena, reescreve, ainda que com

-") Aquilecchia foi, porém, precedido na reprovação por Costa (111-112).

" "Han ritrovato il modo di perturbar la pace altrui, violar i patrii genii de le reggioni, di confondere quel che la provida natura distinse...".

"Os tifis", aluáão a Tífis, o timoneiro da embarcação dos Argonautas (nota dos trad.).

u"Varcato Faria, penetrato il ciclo, discorse le stelle, trapassati gli margini dei mondo...".

A tese de Pozzi foi retomada por Slawinski, que também vê em Galileu um "herói de urna

paz épica"» (55).

(15)

" Um catálogo da presença de Colombo na poesia mariniana se deve a Pieri (1986:36), que, oportunamente, também evidencia o caráter tópico, remido e não muito exaltado com que "o imaginário público e poético seiscentista"

se defrontou com a epopéia americana, reconduzida a

"denominação normalizadora"

(37).

mestria bem diversa, o Leihnotiv que se consolidara nos exercícios poéticos de Magagnati e, sobretudo, de Seggett:

Aprendo il sen del'ocean profondo, ma non senza periglio e senza guerra, il figure argonauta ai basso mondo scoprirà novo ciclo e nova terra.

Tu dei ciel, non dei mar Tifi secondo, quanto gira spiando e quanto serra senza alcun rischio, ad ogni gente ascose scoprirai nove luci e nove cose.

(Marino, Adone X, 45)

Em traducão livre: Abrindo o seio do oceano profundo, / mas não sem perigo e sem guerra, / o ligure argonauta ao baixo mundo / descobrirá novo céu e nova terra. / Tu do céu, não do mar Tífis segundo, / quanto vagueia observando e quanto recolhe as velas/ sem risco algum, a toda gente ocultas / descobrirás novas luzes e coisas novas.

Não é o caso, aqui, de verificar pontualmente a dívida em relação às composições filogafileanas que surgiram em 1610-1611, mesmo porque dever-se-ia, ao mesmo tempo, retroceder ao soneto mariniano sobre Galileo Galilei que remonta àqueles anos carregados de entusiasmo científico, e inserido pelo autor na sua Galeria (I, 159), surgida em 1519 35. Basta, ao contrário, notar, junto às antíteses mais previsíveis ("céu" — "mar"), a ausência de "risco" em Gafileu, tão mais tranqüilizante em presença do "perigo" e da "guerra" conexos à expedição de Colombo, que já no soneto era chamado por Marino pelo belicoso apelativo de "Guerreiro Lígure". As adversidades sucessivas tocadas a Galileu desmentiram a ilusão de uma dialética das idéias totalmente imunes aos perigos. Talvez seja antes inevitável que todo verdadeiro investigador, apenas pelo fato de adentrar-se nos territórios misteriosos do ignoto, termine, cedo ou tarde, por incorrer em algum "risco", representado pela inveja, pela força destruidora de suas idéias, pelas ameaças proferidas a interesses constituídos, até os êxitos obtidos, destinados, com a popularidade, a subtrair-lhe o tempo para os estudos posteriores. Colombo teve que sulcar os vagalhões do Atlântico, Galileu, transferindo-se para Florença, subitamente se encontrou em meio a outras procelas não menos insidiosas, que lhe foram prognosticadas por um amigo veneziana, desencadeadas "no tempestuoso mar da Corte", onde os "furiosos ventos da emulação"

tinham-no, lamentavelmente, "atormentado e inquietado" (Galilei XI,

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171). Mas a realidade nem sempre coincide com os mitos utópicos criados pelo imaginário coletivo. Se a colonização das Américas, pela má consciência que causou na Europa, não pôde ser tomada como o advento de uma nova idade do ouro, a Galileu é, pelo contrário, assinalado, pelos votos de muitos, o papel pacificador de sanar "dissidia et altercationes magnas et freqüentes" (Galilei XI, 394). Os tempos pareciam feitos, propositadamente, para expectativas palingenésicas, às quais os homens de inícios do Seicento eram induzidos por reação a uma realidade freqüentemente trágica, isca fácil para as aspirações, as esperanças, os sonhos consoladores. E o SidereusNuncius, com o fervor que havia despertado, galvanizava a esperança de tempos melhores, que se augurava obter, não mais com campanhas militares, mas com a operosidade, a dedicação, a inquieta e jamais satisfeita interrogação do ignoto, vantajosa para toda a humanidade.

Quem se fez intérprete destas instâncias foi, no mesmo ano em que surge o Adone, um acadêmico linceo36 amigo de Galileu, Francesco Stelluti, a quem se deve uma das duas composições com que naprinceps se abria II saggiatore. Aqui se elogia a diligência que consentiu no

"olhar sereno" do infatigável investigador em descobrir "a cada um mundos novos, e antes de qualquer outro" 37, de maneira que "muito a ti o homem, por tais objetos encontrados, deve"" (Galilei VI, 211).

O encômio das pacíficas virtudes intelectuais, tão aéreas a ponto de tornar o cientista "expedito e leve", como prova da extrema leveza em que se sublimam os "longos esforços", "as provas", os "estudos", chega ao fim de uma enumeração de invenções e descobertas tópicas, que passeiam com gosto maneirista desde a pomba voadora construída por Archita até aos pássaros de cobre que cantam, dos astrolábios à pólvora de disparo, dos Argonautas a Dédalo. A um catálogo tão exemplar não podia faltar Colombo, mas somente para degradá-lo a um nível inferior:

Cedanti pure ii vanto quei novi Tifi arditi, che glorioso han tanto

perché scoprir mari novelli e liti;

poi che tu non aclditi terre quaggiú novelle,

ma nel sublime ciel lucenti stelle.

(Galilei VI, 210)

Em tradução Livre: Concedem, contudo, o valor / tão glorioso - aqueles novos Tifis ousados, / por descobrir mares novos e litorais; / posto que tu não mostras / terras cá embaixo novas,

'4 Membro da Academia romana dos Lincei, fundada em 1603 por Federico Cesi.

-" "Orbi a ciascun novelli, e pria d'ogn'altro".

"Moiro a te l'uom, per tali / trovati obietti, deve".

(17)

/ mas no sublime céu luzentes estrelas.

A re-proposição da antítese alto-baixo, desta vez lançada entre o "sublime céu" e as "terras cá embaixo", significa que, enfim, à altura de 1623, os lugares retóricos do confronto estavam totalmente estabelecidos, e nada restava senão a repetitio. Supérfluo, portanto, seguir ainda, sempre nos poemas inseridos no Saggiatore, um outro Linceo, Joannes Faber, que, não diversamente, reafirma o papel irênico de Galileu, que, de forma alusiva, lhe é conferido com a citação de um hexâmetro do Virgílio mais profético, visto que, ainda com a luneta,

{{nova progenies caelo demittitur alto" (v. 21). Agora, porém, se dizia, as coordenadas estavam solidamente determinadas e nada podia acrescentar, dali a poucos anos, lacopo Cicognini, em uma canção de 1631, destinada, em um primeiro momento, a ser colocada em apêndice ao então eminente Dialogo sopra i due massimi sistemi. Em seu exórdio, ele se referia propriamente ao mito, ricamente descrito com vigorosos acentos épicos, das colunas assentadas por Hércules para limitar a ousadia do homem, para depois delongar-se sobre o ato de força com que Vespúcio (substituto de Colombo, em favor dos Médici florentinos) abateu tais confins de modo a transportar "das índias" "palmas novas"39 (Vaccalluzzo 33). Mas tal viagem marítima foi assinalada, não obstante, pela claustrofobia de um "taciturno Timoneiro"), e careceu, segundo a opinião do poeta, da consciência científica que, em seguida, Galileu alcançou, somente "de razão armado", com o cálculo da longitude, por meio da observação do movimento dos satélites de Júpiter, situados em um céu de "aberturas"

mais vastas:

Quanto s'appressi ai cardini del polo nave al soffiar dei vento

seppe chiuso Nocchier tra i curvi Abeti, non seppe già, verso l'occaso II volo drizzando ogni momento,

qual punto occupi ii legno in grembo a Teti.

Aperti, ecco i segreti son dagli astri di Giove

(Vaccalluzzo 34)

Em tradução livre: "O quanto se aproxima das latitudes do pólo / nau ao soprar do vento / soube taciturno Timoneiro entre os recurvados mastros, / já não soube, em direção ao ocaso o vôo / erguendo a todo momento, / qual ponto ocupa o lenho no ventre de Tétis. / Abertos, eis os segredos / dos

"Dagl'Indi" "palme novelle".

O termo "palma", ao mesmo tempo e que indica "palmeira"

ou "palma, ramo de palmeira", indica também "triunfo, vitória" (nota dos trad.).

4° "Chiuso Nocchier".

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astros de Júpiter..."

Sempre em Florença, um outro poeta da corte dos Médici, Raffaello Gualterotti, apenas um mês após o surgimento do Sidereus, teria querido dedicar a Galileu um poema "sobre a descoberta das novas estrelas e dos quatro novos planetas" (Galilei XVIII, 410). No ano de sua morte, ocorrida em 1639 sem que o propósito se houvesse realizado, o filho Francesco Maria quis, em parte, cumprir a promessa frustrada, ao menos com uma canção que retomava a metáfora do vôo aéreo consumado por Galileu no ato de olhar através da luneta, experimentando assim o oxímoro de quem, "firme no Céu sobre as asas", "com feliz vento / descobre Ilhas d'ouro, e sendas de prata", passeando "pelos tranqüilos e felizes / campos de raios" (Vaccalluzzo 39). Se de Jasão "os deuses a nave sua ao céu alçaram", se perguntava a Galileu, na forma já observada de clímax, "a ti qual claro e régio / farão com que não seja humilde e escasso adorno", em proporção às

"auras serenas" penetradas pelo teu gênio? (Vaccalluzzo 41).

Não obstante a condenação de Galileu, a vinte anos da publicação triunfal do Sidereus, as viagens celestes descritas naquele diário de bordo continuavam a despertar a admiração incondicionada, em testemunho de uma fama de modo algum contingente, engrandecida, e não enfraquecida, por um tempo não tão ávido. O que lhe perpetuaria a fama seriam as maiores sugestões arquetípicas e ideológicas da impresa, que melhor correspondiam às inclinações de um século que, para dizê-lo com o excêntrico Eugenio D'Ors, amou, mais que qualquer outro, as "formas que voam". E o que readmitiria todas as suas prudentes razões, em meados do Seicento, seria o Racconto istorico della vita di Galileo Galilei, de Vincenzio Viviani, o monumento biográfico composto segundo os filho propagandistas dos Médici, que quiseram fazer de seu cientista um mito, envolvendo todas as razões cosmológicas dos confrontos ocorridos com a Igreja (M. Segre). Desde a primeira página, o mais jovem aluno de Galileu retoma todas as argumentações elaboradas durante três décadas de composições encomiásticas, recorrendo novamente a um exame contrastante com Colombo:

Viverá Colombo com seus descobrimentos terrestres, assegurados por tal fundamento que estorva quase a metade da Terra: mas se a navegação, por qualquer mundano acidente, fosse impedida, ou, por outra causa interrompido o comércio, em poucos anos, olvidado o fundamento, sua recordação enfraquecer-se-ia, se, contudo, por diligente escritor não lhe fosse compilada a história.

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Grande e maravilhosa pode-se, seguramente, dizer, a perspicácia e a sorte do senhor Galileu, que, auxiliada pelo seu divino intelecto, encontrou fundamento celeste. Pelo que, com os seus admiráveis descobrimentos, sem o temor de serem impedidos ou consumados pelo tempo, ou ocultados à vista e cognição dos mortais, e expostos com a sua singular sapiência, granjeou para si fama gloriosa e durável, enquanto durar o universo" (Galilei XIX, 600).

Com simetrias extremamente calibradas, reveladoras de um escritor que domina com perfeição os recursos retóricos, Viviani constrói a dialética das duas "vidas paralelas" sobre a diferente glória dos protagonistas, observando a contingência mais efêmera da descoberta da América, de natureza "terrestre" e, por isso, deteriorável, em oposição à sorte imorredoura das descobertas astronômicas, que se apóiam sobre "fundamento celeste". No caso de Colombo, as conseqüências consistem em um tricolon semanticamente negativo ("impedita", "interroto", "obliato"), que é repetido em nome de Galileu apenas para ser desmentido ("senza tema d'esser impediti o consumati [...] o nascosi"). E que abismo entre os patéticos esforços do "diligente escritor" que se afana em evitar que "esmoreça a lembrança" de um e a insolência da "singular sapiência" garantida pelo "divino intelecto" do outro! A contemplação das estrelas, além de obedecer à condição do status rectus, que transcende a mera ordem anatômica para se tornar privilégio ético e gnosiológico do homem 42, é a via mais natural para se conseguir a apoteose, representada por Viviani pela "fama gloriosa e durável enquanto durar o univprso". Por isso, o Virgílio da quarta Écloga, tantas vezes subentendido por quantos viram no Sidereus o cumprimento de uma utopia de paz, havia predito, antecipando a Medéia de Sêneca já lembrada, que "Alter erit tum Tiphys, et altera quae vehat Argo / delectos heroas" ("haverá ainda um outro Tífis e uma outra Argos a transportar diletos heróis" Buc. IV, 34-35). No Seicento, Galileu foi, sem dúvida, um destes.

" "Vivera il Colombo con i suoi scoprimenti terrestri, assicurati da tal fondamento che ingombra quasi la rnetà delia terra: ma se Ia navigazione per qualche mondano accidente fosse impedita, o per altra cagione interrotto ii commercio, in pochi anni, obliato ii fondamento, ne languirebbe la ricordanza, se perO da diligente scrittore non ne fosse compilato la storia.

Grande e maravigliosa si puó sicuramente dire l'accortezza e la fortuna dei signor Galileo, che, aiutata dal suo divino intelletto, ha incontrato fondamento celeste.

Onde con i suoi arnmirabili discoprimenti, senza tema d'esser impediti o consumati dal tempo, o nascosi alia vista e cognizione de' mortali, e spiegati coo la sua singolar sapienza, s'è procacciato fama gloriosa e durabile quanto durerà l'universo."

""[Deus] os homini sublim dedit caelumque videre / iussit et erectos ad sidera tollere vultus", reza uma passagem célebre de Ovídio, Metamoosi, 1, 85-86.

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Referências

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