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REGULAMENTAÇÕES SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS E COMÉRCIO DAS AMÉRICAS

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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

1 REGULAMENTAÇÕES SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS E COMÉRCIO

DAS AMÉRICAS

mjpsouza@fearp.usp.br

APRESENTACAO ORAL-Comércio Internacional

LUIZA MENEGUELLI FASSARELLA1; MAURICIO JORGE PINTO DE SOUZA2; CONSTANZA VALDES3; HELOISA LEE BURNQUIST4.

1,4.ESALQ/USP, PIRACICABA - SP - BRASIL; 2.FEARP/USP, RIBEIRÃO PRETO - SP - BRASIL; 3.ERS/USDA, WASHINGTON, DC.

REGULAMENTAÇÕES SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS E

COMÉRCIO DAS AMÉRICAS

Grupo de Pesquisa: Comércio Internacional

Resumo

O objetivo deste trabalho foi avaliar a importância dos efeitos dos regulamentos de natureza sanitária e fitossanitária (SPS) sobre o comércio bilateral dos países das Américas. Para tanto, as notificações dos países Membros à Organização Mundial do Comércio foram inseridas na estimativa de um modelo gravitacional. Os resultados sugerem a importância da inclusão de questões referentes à regulamentação de medidas SPS nas negociações de uma área de livre comércio entre os países das Américas, como é a proposta da ALCA. A não inclusão dessas medidas na pauta de negociações pode fazer com que os possíveis benefícios da formação a Área de Livre Comércio não sejam auferidos em sua integralidade. Para a estimativa do modelo gravitacional adotou-se a abordagem de Poisson pseudo-maximum-likelihood (PPML), considerada, adequada para a indicação de heterogeneidade não observada entre os países e presença de fluxos nulos no comércio.

Palavras-chaves: medidas sanitárias e fitossanitárias, modelo gravitacional, ALCA.

Abstract

The objective of this work was to evaluate the importance of the effects of sanitary and phytosanitary (SPS) regulations upon bilateral trade for countries of the Americas. For that purpose, the notifications of Member countries to the World Trade Organization were included in the estimate of a gravity model. The results suggest the importance of including the issue of SPS regulations in negotiations for a Free Trade Area for the Americas, as the FTAA. That is, the non inclusion of these measures in the negotiations might reduce its potential benefits. The model was estimated by Poisson pseudo-maximum-likelihood (PPML) approach, since its results are consistent when there is

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indication of non observed heterogeneity between the countries and bilateral flows that are null.

Keywords: sanitary and phytosanitary measures, gravity model, FTAA.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, verifica-se a realização de múltiplos acordos regionais de comércio (ARC) com o intuito de diminuir os entraves comerciais. Desde o fim da II Guerra Mundial, os países têm buscado a integração regional, sob a forma de acordos regionais de comércio. No entanto, somente na década de 1990, observa-se uma aceleração significativa do número desses acordos.

O projeto de formação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi delineado durante essa tendência de crescimento de acordos regionais. A ALCA é um bloco econômico de livre comércio idealizado pelos Estados Unidos, que incluiria todos os países das Américas, exceto Cuba. O objetivo é eliminar progressivamente as barreiras ao comércio entre os estados-membros e, também, prevê a isenção de tarifas alfandegárias para quase todos os itens de comércio entre os países associados.

Embora as negociações no âmbito da ALCA não tenham apresentado significativos avanços nos últimos anos, com o colapso das negociações da Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio – OMC, a importância relativa dos acordos regionais se intensificou, de forma que o acordo de livre comércio entre os países das Américas voltou a despontar como um caminho alternativo para os países ampliarem o comércio exterior.

Outra dinâmica no comércio internacional que se observa nas últimas décadas é o aumento da importância relativa das barreiras não-tarifárias (BNTs), em particular das exigências técnicas, sanitárias e fitossanitárias. Essa tendência deve-se também, à percepção crescente por parte de consumidores com relação à importância de temas como a proteção da vida e da saúde humana, animal e vegetal, a valorização do meio-ambiente, preocupações com doenças como BSE (vaca louca), febre aftosa, organismos geneticamente modificados, resíduos nos alimentos.

Diferentemente das barreiras tradicionais ao comércio, as barreiras não-tarifárias podem ocasionar alterações em sentidos opostos para os fluxos de comércio (THILMANY; BARRETT, 1997). De um lado, o estabelecimento de normas e regulamentos sanitários e fitossanitários desempenha papel positivo, pois visa garantir ao consumidor produtos mais seguros, de melhor qualidade e com menor impacto ambiental. Por outro lado, quando essas medidas mostram-se excessivamente restritivas e sem embasamento cientifico, podem se tornar um instrumento protecionista, ou seja, são introduzidas com o propósito exclusivo de restringir o comércio, caracterizando-se como “barreiras sanitárias e fitossanitárias”.

Considerando a maior importância relativa assumida pelas BNTs, é importante que iniciativas, como as discussões para a formação da ALCA, levem em consideração os possíveis impactos dessas medidas para os fluxos de comércio. O presente trabalho tem por objetivo avaliar o efeito das regulamentações de natureza sanitária e fitossanitária sobre os fluxos de comércio bilateral de bens que ocorre entre os 34 países da América (Anexo 1), ao longo do período de 2003 a 2007.

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O trabalho encontra-se estruturado de forma a apresentar, primeiramente, uma base microeconômica para a análise dos efeitos de regulamentações domésticas sobre os mercados internacional, importador e exportador. A metodologia e a fonte de dados são descritos na terceira seção. A quarta seção contém os resultados da análise econométrica que fornece evidências dos impactos das notificações sobre os fluxos bilaterais de comércio. Por fim, são apresentadas as conclusões do trabalho.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Teoria das barreiras regulatórias ao comércio internacional

A princípio, uma regulamentação é imposta pelos governos para atender a requisitos de saúde e segurança, proteção ambiental, bem como informar o consumidor por meio de rotulagem, de forma a mitigar problemas de informação imperfeita. Também é plausível argumentar que a introdução de medidas regulatórias pelos governos é estimulada quando se faz necessário impedir o estabelecimento de um equilíbrio de mercado para produtos de baixa qualidade e/ou que representam alto risco para a população humana, animal ou para o ambiente (THILMANY; BARRETT, 1997).

No entanto, a despeito de propósitos fundamentalmente positivos, nem sempre a introdução de medidas regulatórias resulta em ganhos líquidos, seja para a economia em que é introduzida, como para economias impactadas através das relações comerciais mantidas com o país que impõe a regulamentação.

O desenvolvimento teórico introduzido neste item visa demonstrar que a identificação ex-ante dos efeitos líquidos para as economias pode ser dificultada pela possibilidade de ocorrerem alterações em sentidos opostos para os fluxos de comércio.

Para entender essa dificuldade, considere-se, por exemplo, que a introdução de uma regulamentação doméstica pelo país importador impõe custos de adequação, conforme ilustrado na Figura 1. Nessa representação esquemática, tem-se um diagrama do mercado internacional de um dado bem q formado pela interação de excesso de demanda e de oferta que ocorrem em duas nações: um país importador (País A), cujo mercado doméstico do mesmo bem é representado no primeiro diagrama e um país exportador (País B), cujo mercado é representado no segundo diagrama.

No terceiro diagrama, tem-se o mercado internacional onde um excesso de oferta do bem q, coexiste com um excesso da demanda pelo mesmo bem. A curva de excesso de demanda no mercado mundial é representada por DM, que é negativamente inclinada e representa a diferença entre a quantidade demandada e ofertada no mercado doméstico, quando os preços internacionais ficam abaixo do preço de equilíbrio no país A. De forma equivalente, a curva de excesso de oferta no mercado internacional (OM) é delineada a partir de um nível de preços superior ao valor de equilíbrio no mercado do país B, como a diferença entre as respectivas curvas domésticas de oferta e demanda.

Sob condições de livre comércio, o preço mundial é P0. A esse preço, o país A

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ponto de equilíbrio entre as curvas de excesso de oferta e de excesso de demanda no mercado internacional, de forma que AB = KL = 0Q0, definindo o ponto de equilíbrio

(P0,Q0).

A Figura 1 é delineada para representar o efeito da introdução de uma barreira regulatória pelo país A, como um aumento no custo de exportação em C (unidades monetárias) por unidade do bem q exportado, resultante das medidas de adequação às novas exigências. Esse aumento nos custos de exportação é representado nessa mesma figura como um deslocamento para cima e para a esquerda da curva de excesso de oferta para o mercado mundial, passando de OM para OM+C.

Para facilitar a visualização gráfica, assume-se que a introdução do regulamento não afeta a estrutura de oferta do país importador1. O resultado é um aumento do preço mundial, de P0 para P1, o que é acompanhado por uma redução no volume comercializado

entre os países (0Q0 para 0Q1).

Nesse novo equilíbrio, produtores e consumidores do país A se deparam com um preço mais elevado para o bem, provocado pelo deslocamento na curva de excesso de oferta mundial, face à imposição do regulamento. Esse novo cenário de preços implica em redução do volume importado por A, explicado tanto pelo aumento da produção doméstica para 0Qc (> 0Qa) como pela redução do consumo interno para 0Qd (<0Qb).

Como resultado, o volume importado pelo país A se reduz, passando de (Qb – Qa)

para (Qd – Qc). O bem-estar econômico também se reduz com relação à situação de livre

comércio inicial, pela área formada pelo trapézio (ABDC).

Figura 1- Efeitos de barreiras regulatórias; deslocamento da curva de excesso de oferta

Fonte: Thilmany e Barrett (1997)

No país exportador (país B), a imposição da barreira regulatória cria um excesso de oferta não mais absorvido no mercado internacional, reduzindo o preço no mercado interno, que passa de Pb0 para Pb1. O volume exportado se reduz, passando de (Ql - Qk)

para (Qn – Qm), bem como o bem-estar econômico, que se reduz pela área dada por

(KLNM).

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A Figura 2 introduz o caso em que a barreira regulatória estabelecida pelo país importador (país A) é informativa, a ponto de provocar não somente um deslocamento na curva de excesso de oferta, mas também um aumento na demanda interna do país. Esse efeito é representado, a princípio, por um deslocamento da curva de demanda de A para a direita e para cima (DI passa para DI’), que resulta em uma alteração na curva de excesso de demanda no mercado internacional, que também se desloca para cima e para a direita (DM para DM’).

O resultado líquido no mercado internacional é representado pela interação entre a nova curva de excesso de demanda (DM’) e a curva de excesso de oferta (OM+C). Nesse ponto, o preço de equilíbrio no mercado internacional torna-se P2, ao novo volume de

equilíbrio comercializado, indicado como 0Q2.

Figura 2 - Efeitos de barreiras regulatórias; deslocamento da curva de excesso de oferta e de demanda

Fonte: Thilmany e Barrett (1997)

No caso apresentado na Figura 2, o aumento na demanda do país A é representado, assumindo que tal incremento é mais que suficiente para compensar o aumento de preços ocorrido em função da adequação às novas exigências (ou seja, o deslocamento da curva de excesso de oferta representado anteriormente). Ao preço P2, o país A importa (Qg – Qc),

que por sua vez é equivalente a (Qs – Qr), que representa as exportações do país B. Como

0Q2 é maior que o volume comercializado sob livre comércio, o preço no país exportador,

após a imposição da barreira regulatória informativa, é superior ao preço vigente sobre o livre comércio (Pb2 > Pb0). O incremento de bem-estar relativo no país exportador é

representado pela área KLSR.

Deve-se observar, no entanto, que o efeito líquido de uma barreira regulatória informativa sobre o comércio pode também ser negativo, caso a magnitude do estimulo à demanda interna do país importador não seja suficiente para compensar a retração no comércio provocada pelo incremento nos custos de exportação. Nesse caso, a quantidade de equilíbrio resultante (0Q2) pode ser menor que a quantidade comercializada sob

livre-comércio (0Q0).

Esses resultados sugerem, portanto, uma possível ambigüidade no que tange aos efeitos líquidos da introdução da regulamentação para o volume de comércio e sobre o bem

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estar líquido. No caso representado na Figura 1, ambos resultam negativos, enquanto no caso da Figura 2, ambos se mostram positivos. Confirma-se, portanto, que pode ser difícil prever os efeitos da imposição de uma regulamentação doméstica sobre os fluxos de comércio entre os países.

No que tange a preços no mercado internacional, no entanto, o resultado esperado é inequívoco. Verifica-se que tanto no primeiro caso (Figura 1), em que se assume que a introdução de uma regulamentação provoca retração na curva de excesso de oferta (regulamentação impeditiva), como nesse último caso (Figura 2), em que estimula a demanda por resolver uma falha de mercado, o resultado esperado é de um incremento no patamar dos preços internacionais.

A natureza informativa da regulamentação é fundamental, no entanto, para determinar os seus efeitos líquidos para o bem estar econômico de produtores e consumidores, tanto para o país importador, como para o exportador. Thilmany e Barrett (1997) exploram esse contexto, associando a um conceito de regulamentação informativa e não informativa.

O contexto analítico apresentado pode ser utilizado para analisar os efeitos dos regulamentos notificados pelos países membros da OMC, no âmbito do Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (Sanitary and Phytosanitary - SPS).

2.2 Evidências Empíricas

Tem-se verificado que a análise de barreiras regulatórias pode ser relativamente difícil de conduzir, tanto por questões conceituais, conforme discutido, como pela dificuldade na obtenção dos dados. A presente seção discute os argumentos e resultados de trabalhos que analisam a influência de regulamentos domésticos sobre o comércio internacional.

Moenius (2004) avalia se as normas para produtos e processos, específicas a países, podem representar barreiras ao comércio, ou se a harmonização das normas promove o comércio intra-industrial. As evidências obtidas por Moenius (2004) sugerem que barreiras ao comércio induzidas por normas dissimilares prevalecem nas indústrias de não manufaturados, enquanto para manufaturados, a norma parece estimular o comércio.

Na mesma linha, Swann, Temple e Shurmer (1996) analisam o efeito das normas sobre o desempenho comercial da Inglaterra. Os resultados sugerem que a força relativa do país em termos de normas, melhora o seu balanço comercial, mas pode também tornar o mercado mais aberto. Além disso, indicam que as normas internacionais parecem promover o comércio intra-indústria, enquanto as normas “idiossincráticas” aparentemente promovem as exportações.

Fontagné, von Kirchbach, e Mimouni (2005) avaliam as barreiras ambientais ao comércio (BAC), usando todas as notificações relacionadas a questões ambientais, apresentadas à OMC pelos países membros referente ao ano de 1999, juntamente com dados de comércio. Os resultados indicam que para 75% de todos os produtos analisados, o que equivale a 88% do comércio mundial de mercadorias em 1999, pelo menos um país importador introduziu uma BAC. O trabalho identifica ainda que exportadores de países

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menos desenvolvidos expõem-se mais a tais barreiras que os de qualquer outro grupo de países.

Seguindo um procedimento semelhante, Disdier, Fontagné e Mimouni (2008) avaliam o impacto de medidas notificadas pelos países importadores sob os acordos TBT e SPS sobre o comércio de produtos agrícolas. O ano de referência para a análise é 2004, incluindo 154 países importadores, 183 países exportadores e 690 produtos (classificados em posição HS6). O resultado da análise sugere que dentre todos os produtos analisados, apenas quatro não confrontam qualquer barreira em algum país importador. Um conjunto de 20 produtos foi identificado com suspeita do uso protecionista de barreiras, sendo esses os casos em que a notificação é apresentada por um número igual ou inferior a cinco países.

3 METODOLOGIA

3.1 O Modelo Gravitacional 3.1.1 Modelo teórico

Um modelo gravitacional pode ser empregado para mensurar os impactos das notificações sobre o padrão dos fluxos de comércio bilaterais. Introduzido por Tinbergen (1962), a intuição do modelo gravitacional advém da teoria gravitacional da física, podendo ser interpretada como uma expressão de que os fluxos bilaterais de comércio são determinados por forças de atração, que correspondem ao tamanho e à renda dos dois parceiros, e por forças de repulsão que se referem à distância geográfica entre os países (CHENG; WALL, 2005, BALDWIN; TAGLIONI, 2006).

A partir da década de 90, o modelo gravitacional passa a ser empregado de forma intensiva para a análise de políticas domésticas influenciando a competitividade internacional. Diversos autores introduzem normas e regulamentações domésticas como

proxy para analisar esses impactos empregando o modelo gravitacional. Dentre esses,

destacam-se Otsuki et al.(2001); Disdier, Fontagné e Mimouni (2008); Chen, Yang e Findlay (2008), que enfocam os efeitos da regulamentação aplicada a alimentos, produtos processados e não processados, sobre o comércio dos países.

As contribuições teóricas acerca do modelo gravitacional foram reforçadas recentemente pelas contribuições posteriores de Anderson e Van Wincoop (2003, 2004). Esses autores introduziram um embasamento microeconômico fundamentado para a equação gravitacional.

Anderson e Van Wincoop (2003, 2004) derivam o modelo gravitacional a partir de uma função utilidade do tipo CES (Constant Elasticity of Substitution), sujeita a uma restrição orçamentária, associada a condições de equilíbrio de mercado. O modelo permite explicar as exportações realizadas entre o país i e o país j, referente a um determinado setor

k, em um período de tempo t, que assume a seguinte forma:

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Em que e são, respectivamente, a produção do país i e a produção agregada (mundial) no setor k; é o dispêndio do país j com o grupo de produtos k; é a elasticidade de substituição entre grupos de produtos; representa os custos de comércio incorridos pelos exportadores do setor k, no sentido do país i para o país j. Os dois termos representados como , representam índices de preços do setor k para o país j e i, respectivamente, sendo também identificados como termos de resistência multilateral do par de países a todos os outros parceiros comerciais. Esses índices são introduzidos para indicar que os fluxos de comércio bilateral não dependem somente dos custos de comércio existentes entre os dois países, mas também dos custos de comércio que esses mantêm com os demais parceiros comerciais.

No que se refere aos custos de comercialização, o desenvolvimento teórico de Anderson e Van Wincoop (2003, 2004) propõe que seja uma função log-linear de variáveis observáveis, tais como a distância bilateral e outros fatores relacionados às barreiras comerciais entre as duas economias.

3.1.2 Estratégia Empírica

A abordagem teórica descrita pode ter um tratamento econométrico adequado empregando-se o método de efeitos fixos (EF) (ANDERSON; VAN WINCOOP, 2003; FEENSTRA, 2004; HELBLE; SHEPHERD; WILSON, 2007). Esse método permite controlar a heterogeneidade dos países e o efeito de variáveis omitidas não observáveis ou difíceis de mensurar (como os índices de resistência multilateral), de forma a impedir que a sua omissão se expresse na forma de um viés2 (CHENG; WALL, 2005).

O presente estudo estima o modelo gravitacional considerando os efeitos fixos bilaterais, dado que o objetivo é captar o impacto de variáveis específicas a cada economia (como a presença de regulamentos técnicos) sobre o fluxo de comércio bilateral. Para captar esses efeitos, criam-se variáveis dummies para os fluxos de comércio entre pares de países, de forma a possibilitar a expressão de diferenças através do intercepto, que varia entre os pares de países.

O trabalho propõe a utilização de dados de painel desagregados por capítulos do SH (Sistema Harmonizado) para estimar o modelo gravitacional. Nesse caso, além das

dummies para fluxos de comércio entre pares de países, são adicionadas variáveis binárias

para os anos da amostra, visando controlar um possível viés causado por variáveis omitidas, ou que não são passíveis de mensuração e que variam ao longo do tempo. Adicionalmente, para controlar a dimensão de produtos (capítulos do Sistema

2 A heterogeneidade pode se constituir, por exemplo, no motivo pelo qual um dado país exporta diferentes

quantidades para dois outros países, mesmo quando os dois mercados importadores têm o mesmo PIB e são eqüidistantes do primeiro. Isso pode estar relacionado a fatores políticos, históricos, culturais, étnicos, e mesmo geográficos, que afetam o nível de comércio e são correlacionados com as variáveis do modelo. Assim, estimativas que não levam em conta esses fatores podem apresentar um viés de heterogeneidade, indicando que um mesmo volume será exportado para cada um dos dois importadores, quando na realidade, esses volumes não são idênticos.

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Harmonizado – SH) e o efeito da diferença da elasticidade de substituição entre os grupos de produtos, incluem-se variáveis binárias para cada capítulo do SH (96 capítulos) 3. De acordo com Shephard e Wilson (2008), a utilização de efeitos fixos para pares de países, associada à utilização de variáveis binárias para a dimensão de produto e de tempo, proporciona condições aceitáveis com relação à consistência teórica e ao tratamento empírico.

Antes de apresentar o modelo empírico proposto para o presente trabalho, deve-se definir o termo que expressa os custos de comércio que afetam as exportações do setor k do país j para o país i ( . Segundo Cheng e Wall (2005), a utilização de efeitos fixos para os pares de países pode captar os custos de comércio não observados diretamente, tais como os custos de transporte, particularidades geográficas e fatores históricos. Assim, procedendo ao controle desses efeitos, definem-se custos de comercialização que interferem no comércio bilateral, como uma função de variáveis específicas a cada economia. Os custos de comércio são expressos de acordo com a equação a seguir:

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Em que é a tarifa média aplicada ao grupo de produtos k pelo país importador i e é representada como uma variável binária, que assume o valor unitário, se pelo menos uma notificação à OMC referente ao produto k (desagregados por SH a dois dígitos) é apresentada pelo importador, em um determinado ano t da amostra.

Dessa forma, considerando conjuntamente o modelo teórico apresentado na equação 1, a estrutura da equação 2 e a definição empírica dos fluxos de comércio bilateral (considerando dados de importação), obtém-se a especificação econométrica proposta para o presente estudo como:

(3) Em que representa as importações realizadas pelo país i provenientes do país j, do setor k, no ano t; t = 2003 a 2007, representa os efeitos fixos para os pares de países;

representam variáveis binárias para os anos da amostra; indicam as k variáveis binárias para as categorias de produtos; são o Produto Interno Bruto (PIB) do país importador i e exportador j no tempo t, respectivamente; e é o termo de erro aleatório.

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O modelo teórico apresentado na equação (1) é definido para um determinado grupo de produto k cujas variedades (dentro do grupo) são substitutas com elasticidade de substituição constante. No entanto, a elasticidade de substituição pode variar entre os grupos de produtos. Dessa forma, para a especificação de um modelo econométrico que compreenda mais de um grupo de produto, torna-se plausível incluir variáveis binárias para controlar essa variação.

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Para verificar a adequação e a robustez do modelo de efeitos fixos, estima-se também o modelo de efeitos aleatórios e o modelo pooled. Para expressar esse último modelo, incluem-se, além das variáveis apresentadas na equação 3, mais três variáveis ( , frontij e idiomaij), que tradicionalmente aparecem nos modelos gravitacionais que

utilizam dados empilhados4. A significância dos coeficientes de efeito fixo é testada empregando o teste F (Chow) (GREENE, 1993). A existência de efeitos individuais é verificada com o teste do Multiplicador de Lagrange de Breusch e Pagan (1980). Caso existam tais efeitos individuais, o modelo estimado por mínimos quadrados envolvendo uma única constante torna-se inadequado.

O teste de Hausman de especificação do modelo é utilizado para verificar se as diferenças nos coeficientes não são sistemáticas; ou seja, se os coeficientes das variáveis explicativas do modelo e das variáveis não observáveis são ortogonais entre si (condição essencial no modelo de efeito aleatório). A rejeição da hipótese nula no teste de Hausman indica que a melhor escolha é o modelo de efeitos fixos (GREENE, 1993). Além disso, os dados serão testados para a existência de heterocedasticidade com o teste proposto por Breusch-Pagan5.

Além da estimativa do modelo de efeitos fixos por mínimos quadrados ordinários, este trabalho utiliza o método Poisson pseudo-maximum-likelihood (PPML) introduzido por Santos Silva e Tenreyro (2006). Esse método apresenta-se adequado, pois seus resultados são consistentes na presença de heterocedasticidade e de fluxos bilaterais que são nulos ou não informados na base de dados (SANTOS SILVA; TENREYRO, 2006; SHEPHERD; WILSON, 2008). Nesse caso, a equação 3 é expressa na forma multiplicativa seguindo uma função exponencial com a variável dependente expressa em nível, conforme demonstrado por Santos Silva e Tenreyro (2006) e por Siliverstovs e Schumacher (2007). Esse método vem sendo aplicado nos trabalhos recentes que estimam a equação gravitacional, dentre os quais estão Helble, Shepherd e Wilson (2007), Liu (2007), Shepherd e Wilson (2008), Anderson e Yotov (2008) e Behrens, Ertur e Koch (2007).

O modelo gravitacional é estimado para o período de 2003 a 2007. Os dados de importação, desagregado de acordo com o Sistema Harmonizado (SH) em dois dígitos (SH-2) no período de 2003 a 2007, são obtidos junto ao COMTRADE (Commodity Trade

Statistics Data Base). As estatísticas do Produto Interno Bruto (PIB) dos países no período

de 2003 a 2007 foram obtidas junto ao Banco Mundial (World Development Indicators). Já o MACMAP (Market Access Map) é a fonte para as informações desagregadas (SH-2) de tarifas médias aplicadas pelos países (incluindo as tarifas específicas) 6. Os dados da distância geográfica entre os países (distância entre principais cidades) e das variáveis

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é a distância entre os dois países; frontij é uma variável binária que assume valor um, caso os países

compartilhem fronteiras comuns e valor zero, caso não compartilhem; idiomaij é representada por uma

variável binária igual a um, caso um par de países tenham um mesmo idioma, e zero caso os idiomas sejam diferentes.

5 Maiores detalhes podem ser encontrados em Greene (1993)

6Informações adicionais sobre a metodologia utilizada para converter as tarifas específicas em equivalente ad

valorem, bem como a metodologia do grupo de referencia utilizada para agregar as tarifas podem ser obtidas no MACMAP <http://www.macmap.org/Reference.Methodology.aspx>.

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binárias para fronteiras compartilhadas e mesmo idioma são obtidos junto ao banco de dados do Centre D’Estudes Prospectives et d’Informations Internationales, (CEPII, 2008).

A amostra de países incluídos na análise inclui 34 países (ANEXO 1) das Américas. Porém, alguns dados de comércio para alguns desses países não estão efetivamente disponíveis para todos os anos de análise. Esses países são: Antigua and Barbuda, Dominican Republic, Grenada, Haiti, Saint Kitts and Nevis, Saint Lucia, Saint Vincent and Grenadines e Suriname.

A coleta de dados sobre notificações SPS é feita junto à Organização Mundial do Comércio, conforme disponibilizadas em sua website (http://spsims.wto.org/). No caso das notificações SPS, a OMC disponibiliza um sistema de consulta desenvolvido para possibilitar a obtenção do número de notificações apresentadas por país e por SH a dois dígitos, por mês ou ano, sem necessariamente acessar cada notificação. A amostra refere-se aos 96 capítulos de produtos do Sistema Harmonizado, explicitados a dois dígitos.

4 RESULTADOS

4.1 Resultados da análise de notificações sanitárias e fitossanitárias (SPS)

No período de 2003 a 2007, as notificações emitidas pelos países das Américas somaram 3.300 (Figura 3). Dentre os países que notificaram, verifica-se que seis países foram responsáveis por um percentual expressivo, agregando 84% do total de notificações SPS identificados dentro do grupo. Verifica-se que os Estados Unidos têm o maior número de notificações estabelecidas dentre os demais países da América, incluídos na análise (Figura 4). Países como Bahamas, Barbados, Dominica, Uruguai e Venezuela não emitiram qualquer notificação SPS para suas importações durante o período de análise.

Figure 3 – Notificações SPS totais emitidas pelos países da amostra à OMC para os anos de 2003 a 2007

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Figure 4 – Notificações SPS à OMC, por país da amostra, apresentadas durante o período de 2003 a 2007

Fonte: Elaborada a partir de dados da OMC (2009)

A Figura 5 apresenta o número de notificações por produtos. A maior concentração encontra-se no HS38 (produtos químicos). Verifica-se também, certa concentração nas categorias inferiores ao HS15. No entanto, nenhuma dessas representa mais que dez por cento do total.

Figura 5 - Notificações SPS dos países da amostra– distribuição percentual entre as categorias de SH a dois dígitos para os anos de 2003 a 2007

Fonte: Elaborada a partir de dados da OMC (2009)

Ao cruzar os dados dos países notificadores com suas respectivas importações para os cinco anos da análise (2003 a 2007), obtém-se o valor de importação de categorias de produtos afetados pelas notificações SPS para cada um dos anos da análise (Figura 6).

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Figura 6- Valor das importações de categorias de produtos afetados por notificações SPS apresentadas pelos países da amostra (em US$ milhões), período: 2003 a 2007.

Fonte: Elaborada a partir de dados da OMC (2009) e do COMTRADE (2009)

Os valores apresentados na Figura 6 referem-se às importações dos países das Américas que são potencialmente afetadas pelas notificações SPS. A análise econométrica apresentada a seguir permite verificar se o impacto dessas medidas sobre o fluxo bilateral de comércio é positivo, no sentido de facilitar, ou negativo, de forma a restringir o comércio.

4.2 Resultados das estimativas do modelo gravitacional

Esta seção apresenta os resultados das estimativas da equação gravitacional empregada para mensurar o impacto das notificações SPS sobre o padrão dos fluxos de comércio bilateral para os países da amostra.

Como mencionado na metodologia, além das estimativas do modelo gravitacional com efeitos fixos (usando MQO e PPML), estima-se também o modelo de efeitos aleatórios e o modelo pooled. Entretanto, conforme já discutido, devido à especificação da equação gravitacional, espera-se que as estimativas por MQO do modelo empilhado (pooled) apresentem viés por não levar em consideração efeitos individuais dos países (BALDWIN; TAGLIONI, 2006, CHENG; WALL; 2005).

Inicialmente, verifica-se que o resultado do teste F (Chow), aplicado ao modelo de efeitos fixos e do Multiplicador de Lagrange de Breusch e Pagan (1980), aplicado ao modelo de efeitos aleatórios, não permitem rejeitar a hipótese que os efeitos de heterogeneidades não observáveis dos países afetam o comércio bilateral. Esses resultados confirmam que os coeficientes obtidos pela regressão pooled apresentam problemas sérios de especificação, sendo tendenciosos e inconsistentes devido à omissão de informações importantes.

Assim, a estimativa do modelo de dados em painel passa a ser a melhor opção a ser avaliada. Os dois métodos de painel mais empregados são o modelo de efeitos fixos (EF) e o modelo de efeitos aleatórios (EA). No primeiro, os termos do intercepto podem variar

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entre as unidades individuais (no caso de pares formados por países importadores e exportadores), porém são correlacionados com as variáveis independentes. O modelo de efeitos aleatórios assume que os interceptos das unidades individuais são aleatoriamente distribuídos e independentes das variáveis explicativas do modelo. O teste de Hausman é aplicado e os resultados mostram que a hipótese nula de ausência de correlação entre os efeitos não observáveis de país e as variáveis exógenas do modelo deve ser rejeitada, indicando que o modelo de efeitos fixos deve apresentar estimativas consistentes, apresentando-se como o modelo mais eficiente.

Como a base de dados do presente trabalho é desagregada em capítulos do SH, isso favorece a ocorrência de observações de comércio nulas, tornando preferível a utilização de um modelo que apresenta resultados robustos na presença desse viés de seleção. Nesse sentindo, o método Poisson pseudo-maximum-likelihhod (PPML) apresenta-se adequado, pois seus resultados são tidos como consistentes na presença de heterocedasticidade e de fluxos bilaterais que são zero (ou missing) na base de dados (SANTOS SILVA; TENREYRO, 2006; SHEPHERD; WILSON, 2008).

Os resultados do modelo gravitacional estimado por efeitos fixos (PPML), em termos de sinais e magnitudes esperadas para os coeficientes estimados, são consistentes quando comparados com outros estudos tais como Silva e Tenreyro (2006), Helble, Shepherd e Wilson (2007).

Os coeficientes estimados para o produto agregado dos países exportadores e importadores apresentam-se positivos e estatisticamente significativos. Como a variável é expressa em logaritmos, o coeficiente pode ser interpretado como uma elasticidade do comércio bilateral ao tamanho econômico dos países da amostra. O coeficiente para tarifas se apresenta negativo, também de acordo com expectativas, porém não estatisticamente significativo. Uma possível explicação para isso é o fato de existir uma série de acordos regionais e bilaterais entre os países das Américas que promoveram reduções dos níveis tarifários. Esse processo de redução das tarifas pode explicar a baixa importância relativa dessa variável como determinante do fluxo de comércio entre os países das Américas nos anos analisados.

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15 Tabela 2 – Resultados das Estimativas da Equação Gravitacional

Variáveis Regressão Efeitos Fixos (EF) Efeitos Fixos (EF) Efeitos Aleatórios

Pooled (MQO) (PPML) (EA)

ln Yi 0,536* 0,533* 0,748* 0,408* (0,005) (0,111) (0,134) (0,017) ln Yj 0,851* 0,310 (NS) 0,539* 0,709* (0,004) (0,056) (0,115) (0,015) ltarifi -0,258* -0,104* -0,039 (NS) -0,109* (0,008) (0,0253) (0,081) (0,010) lndistij -1,086* - - - (0,014) - - - frontij 0,894* - - - (0,028) - - - cidiomaij 0,32* - - - (0,021) - - - SPSi 0,703* 0,0007 (NS) -0,223* 0,006 (NS) (0,034) (0,057) (0,077) (0,035) Constante 6,452* 1,515 (NS) - -2,956* (0,107) (1,091) - (0,256) R2 0,316 0,287 - 0,285 Observações 127442 127442 127426 127442 Grupos - 816 800 816 Teste F (Chow) - 74,89 - -

Teste Breusch e Pagan - - - 170000

Teste de Hausman - - - 1616,12

Variáveis de controle

Binárias - anos 03 – 07 Não Sim Sim Sim

Binárias - categ, de produtos

(96) Não Sim Sim Sim

Fonte: Resultados da pesquisa.

Nota: Erro-padrão robusto entre parênteses. * denota significância a 1%.

** denota significância a 5%.

*** denota significância a 10% e ns não significativo.

Finalmente, o coeficiente que mede o impacto da presença de regulamentos sanitários e/ou fitossanitários apresentou sinal negativo, sugerindo que o comércio entre os países referente ao grupo de produtos que possui notificação é relativamente mais baixo que para o grupo de produtos para os quais não existe notificação. Isso parece indicar que o caráter restritivo das notificações de natureza sanitárias e fitossanitárias apresentadas pelos países das Américas, no período de 2003 a 2007, predominou sobre o caráter informativo dessas medidas. Dessa forma, os resultados da estimativa do modelo gravitacional sugerem que as notificações estão restringindo o comércio entre os países no período analisado.

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Considerando o modelo teórico apresentado na segunda seção deste artigo, os resultados parecem indicar que o deslocamento da curva de oferta dos países exportadores em função da notificação foi maior que o deslocamento da curva de demanda.

6 CONCLUSÃO

O presente estudo procurou avaliar os efeitos dos regulamentos de natureza sanitária e fitossanitária sobre o comércio bilateral dos países da América. Para tanto, foram utilizadas as notificações dos países à Organização Mundial do Comércio associadas à estimativa da equação gravitacional.

Os resultados da análise conduzida sugerem a importância da inclusão de questões referentes à regulamentação de medidas sanitárias e fitossanitárias nas discussões para a formação de uma área de livre comércio entre os países das Américas, como é a proposta da ALCA. A não inclusão dessas medidas na pauta de negociações pode fazer com que os possíveis benefícios da formação a Área de Livre Comércio não sejam auferidos em sua integralidade.

Os coeficientes estimados para o modelo gravitacional apresentaram os sinais e magnitudes esperadas. Além disso, confirmam que os coeficientes obtidos pela regressão pooled apresentam sérios problemas de especificação, sendo tendenciosos e inconsistentes devido à omissão de informações importantes.

No que se refere ao impacto dos regulamentos sanitários impostos pelos países importadores, os resultados parecem confirmar a proposição teórica de que o efeito das ocorrências de notificações de mudanças nos regulamentos domésticos pode resultar em impactos negativos sobre o comércio. Isso pode estar também indicando que o valor atribuído à informação contida nas notificações não é suficientemente alto para que a sua disponibilidade estimule o comércio. Outra possível explicação para esse resultado, é que o deslocamento da oferta dos exportadores em função da introdução de uma medida regulatória ocorre mais rapidamente que o ajuste de demanda por parte dos consumidores do país importador. Essa resposta mais lenta dos consumidores pode explicar também o impacto negativo das notificações apresentadas pelos países da amostra nos anos analisados.

Por fim, esse trabalho procurou apresentar e dar uma visão geral para o problema. Torna-se interessante, outros trabalhos que permitam detalhar os resultados aqui encontrados de forma a permitir, com maior grau de detalhamento, conhecer os efeitos dessas medidas sobre o comércio dos países da América e assim, servir de subsídio para futuras negociações da ALCA.

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20 ANEXOS

I - Países considerados para a análise

Tabela 1A - Relação dos países considerados para a análise, apresentados com respectivos códigos das Nações Unidas e da ISO

PAÍS CÓDIGO UN CÓDIGO ISO

Antigua and Barbuda 28 ATG

Argentina 32 ARG Bahamas, The 44 BHS Barbados 52 BRB Belize 84 BLZ Bolivia 68 BOL Brazil 76 BRA Canada 124 CAN Chile 152 CHL Colombia 170 COL

Costa Rica 188 CRI

Dominica 212 DMA

Dominican Republic 214 DOM

Ecuador 218 ECU El Salvador 222 SLV Grenada 308 GRD Guatemala 320 GTM Guyana 328 GUY Haiti 332 HTI Honduras 340 HND Jamaica 388 JAM Mexico 484 MEX Nicaragua 558 NIC Panama 591 PAN Paraguai 600 PRY Peru 604 PER

Saint Kitts and Nevis 659 KNA

Saint Lucia 662 LCA

Saint Vincent and Grenadines 670 VCT

Suriname 740 SUR

Trinidad and Tobago 780 TTO

United States 842 USA

Uruguai 858 URY

Venezuela 862 VEN

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