SENTIDO E VERDADE
NO
'"TRACTATUS'' DEL.
WTMGENSTEIN*
RAUL LANDIM
Universidade Federøl do
Rio
de JaneiroO
Tractatus, 1 apesar da sua influéncia na escola neo-positivista e na escola analíticatra
hoje na
comunidade acadêmica qualquer seguidorstricto
sensu. Se a ausência deinquietante, os temas abordad<x no Trøctatus,tais como sentido, omunicação, são retomaclos em outra direção por várìos filósofos Exemplo
tfpico
da atualidade dos temas doTractatus é o que nos fornece opróprio
Wittgenstein nas suas InvestigøçõesFilosóficas2,em que retoma e revê os mesmosclás-L
UW método de leituraA
estrutura3 d,o Tractatus é por demais conhecida: são sete proposições fundamentais:*
Conferência rcalizada de noyemb¡o de 7979.noII
Encontro de História e Filosofìa da Ciência -. UNICAMP-
14 al7
wittgen-stein, Ludwig(i):
Trlc^tglus Logico-philosopårcus. Tradução de J.A. Giannotti. sãoPaulo: Cia. Editora Nãcional,
1968.
o'--
-'--'---r'
Wittgenstein. Ludwie (ii):
Z
Abhandlung.Id.bilingüe (alemã,o/inglês). Tradução de D. F. pea¡s ó
S.
'Roufledgeand Kegan paul, 1961. Wittgenstein, L:udwig:
Philos
r¡. Oxford: Basìl Blackwell, 195 3. Sobre a est¡utu¡a do T¡actatus ver:(a)
Sten
Oxfo¡d:(b)
(i)
ecycliqu
e(iÐ
numé¡otritricões
es sYmboli2 3
Sentido e Verdtde no Trøctatus 19
l
o-
Omundoétudo
o queé ocaso4.2."
-
O queé ocaso, ofato,
éaexistênciadoestado
decoisas.3."
,
O quadro lógico dos fatos é o pensamento.4.o
-
O pensamento é afrase dotada de sentido.5.o
-
A
proposição é uma função de verdade dæ proposições elementares. 6.o-
Aformageral
dafunçãodeverdade
éLp,Ê,lV(E)
l
Esta é a forma geral da proposição.
7.o
-
Sobre o que não se pode falar, deve-se calar.O
signifìcado destæ proposições básicasé
explicitado
pelas proposiçõesn.1,
n.2,etc.,onden:l...7.Senemsãonúmerosinteirosarbitrários,n.m.l,n.m'2,etc.ex'
plicitam
a proposição n.m.Se as proposições básicæ
doTiactatus
fossem consideradæ como encadeadas numa ordem crescente de importância, certamente a teoria da linguagem ali exposta seria de-pendente dosprincípios
metafísicos anteriormente enunciados, como transparece næ duæ primeiræ proposições fundamentais.A
linguagem,o
conjunto
dæ frases dotadæ de sentido, seria um "espelho domundo".
O Trøctatus sob muitos aspectos poderia ser interpretado como uma reediç!Ío do paralelismo da substância pensante e ila substância extensa da Ética de Spinoza.Proporemos
uma
"leitura"
diferentedo
Tractatus. Oconjunto
de proposiçõesnu'
meradas destelivro
se divide em dois grupos: o primeiro (até a proposição 2.1) pareceexprimir
asserções sobreo
mundo, a realidade e os seus elementos (objetos, substân-cias);o
segundo (apartir
da proposição 3) desenvolve afilosofia
da linguagem. Aspro'
posições 2.1-3 serviriam assim como mediação entre o mundo e a linguagem.Apesar
do
uso de
algunstermos
presentes na tradição metafísica filosófica, e de alguns enunciados, queem
razão destes termos, parecem ser æserções de uma teoria (cIássica)ontológica,
a filosofia
da
linguagem expostano
Tractøtus não pressupõe qualquerteoria
do real. Elatem
uma prioridøde logica sobre qualqueroutra
teoria. edeve ser compreendida exclusivamente
a
partir
da noção de representação (quadro), defìnidaa
partit
dæ proposições2.l
-2.ll.
A "leitura"
do Tractatus deve al se iniciar.Entretanto, na
exposiçãoda
noção
de
representaçãocertos termos
como "fato",
"objeto", "forma", "estrutura"
sãoutilizados.
Paraevitar
imprecisões,o
Tractatusfixa o
significado destestermos.
Tal é o
objetivo
dos enunciados que antecedem a proposição 2.1.o
Não seguimos literalmente a tradução de Giannotti. No original: "1. Die Welt ist alles, wæ derFall ist". ',
3 4
Wæ der Fall
is
Bestehen von Sachverhalten" Das logischeB
er Gedanke".Der Gedanke
i
"5.De¡
Satzist
eine Walrheitsfunktion der Elementaß'ittze. (Der Elementa¡satzist
eineWah¡heitsfunktion seiner selbst)".
"6 . Die alþemeine Fo¡m der \{ahrheitsfunktion ist. I p, g, nf ( å ) I Die ist die allgemeine Form des Satzes.
20
RauILandim
2. Delimitação do problema do sentido
No celebre texto Notes on
Logic,
s
Wittgenstein escreve:"Flege afirmou:
'proposições sâo nomes',Rusel
afìrmou:
'proposições correspon-dem a complexos'. Ambas as afìrmações são falsas; e especialmente falsa é a asserção 'proposições são nomes de complexos.'"
Logo adiante continua:
".
. . nós somos capazes de compreender uma proposição sem saber se ela é verda-deiraou
falsa. O que nós sabemos quando compreendemos uma proposição é oseguin-te:
nós sabemoso
que éo
caso se ela é verdadeira; e oqueé
o casoseelaé
falsa. Mæ nós não sabemos necessariamente se ela é atualmente verdadeira ou falsa" ó.Embora seja
um
dos primeirostextos
fìlosóficos deMttgenstein
(setembro, 1913),lá
já
se encontra f,rxadoum
dos temædo
Tractøtus, e delineados os aspectos b¿ísicosda sua
teoria
da linguagem, que seconstitui como uma
crftica
das teorias dos seus mestres Frege e Russell.A
noção de sentido diferencia-se da noção de verdade, embora as fræes significati-vas sejam ou bem verdadeirasou
bem falsas. O sentido da frase não é assim fìxado in-dependentemente das condições de verdade, embora possa. ser determinado indepen-dentemente do seu atualvalor
de verdade. Portanto, só æ frases que podem ser verda-deirasou
falsætêm
sentido; pode-se compreender uma proposição verdadeira oumes-mo
falsa, mas nÍio se pode compreender uma proposição que não é nem falsa, nem ver-dadeira. Sea
tese agora exposta explicacomo
as proposições falsastêm
sentido, ela vincula a noção do sentido à das condições de verdade da proposição.Um
dos objetivos do Tractøtusfica
assim determinado:não
setrata
defixar
crité-rios
gerais quedelimitem
æ fronteiras entreo
discuno
significativo eo
não-significa-tivo,
úræ de elucidar as condições lógico-lingüfsticas que certas expressões devem satis-lazer parc poderem serutilizadæ
como asserções verdadeiras ou falsæ. Formular estas condições consiste em elaborar uma teoria do sentidb.3.
Teoriøpictórica
daproposiçío
O que para Wittgenstein é
o
sentido? Pergunta exemplar, que as Investigações se reçu-sam a responder, mas que seconstitui num
dos problemas centraisdoTractatus.Seo
sentido não é o modo (regra) de identificação do objeto, tampouco a denotação, o que vem a ser?Duas teses centrais e interrelacionadas são apresentadæ ao longo do Tractatus:
(1)
a teoriapictórica
da proposição,ou,
a proposição como quadro, imagem, figu-ração dos estados de coisas; tese esta que nos permite elucidar o problema doæntido;
5
Wittgenstein, Ludwig: Notebgoks-
1914-1916 (ed. G.H. von Wright e G.E.M. Anscorrbe)Oxfo¡d: Bæil Blackwell, 1969, pp. 93-9 4.
Sentido e Verdade no Tractatus 21
(2)
a linguagem como constitufda de proposiÇões que são funções de verdade.Ao
lado
destæ duæ teses, uma outra nÍio menos importante, mas raras vezes expli-citamente formulada, e quefixa
o significado dæ duæ anteriormente mencionadas, é ada univocidade do sentido. Sobre ela refletiremos mais ta¡de.
Em
virtude
do
caráter defunção
de verdadedæ
proposições da linguagem?
"éóbvio
que graçasâ
análise dæ proposições devemos chegar ràs proposiçõeselementa-res" (Pr.
4221); e setodæ
æ proposições elementares nosforem
dadæ, apartir
delas poderemosformar todæ
a^s proposições(Pr.4.51).Obteremos,portanto,uma
comple-ta
descrição do mundo, seforem
fìxadas as proposições elementares verdadeiras (Pr.4.26),
já. que estas afìrmama
existência deum
estado de coisas,isto
é, deum
fato atômico(tu.
4.25 e 4.21).O problema do sentido se reduz, pois, à aniálise da fræe elementar.
Uma
proposição(elementar)
diz
Wittgenstein".
..
mostrøcomo
as coisas estão (conectadas) se elaé
verdadeira.B
elaafirna
(s¿gf)que
as coisas estão assim" (Pr. 4.022).Mostra
o
seu sentido, "representa(darstellt)
estaou
aquela situação",(Pr.
4O3l),e
øfirmø (sa7t)
a
sua
representação.E a
representação consistena
"descrição (Beschreibung) de um estado de coisas"(Pr.4.023).
A
análise destadupla função
da proposição, descritivae
assertiva nos conduz ao estudo da Teoria da Representação (Quadro) 8, sob dois æpectos:l)
Em que condições uma representação é possível?2)
Em que condiçpes é possível afirmar uma representação? Em termos mais adequados ao estilo do Trøctatus, perguntaríamos:1)
Sob
que
condiçõesum fato,
uma
conexão de elementos,é
um
quadro (uma representagão)?'
2)
Emque condições um quadro é uma proposição?4.
Fato
como quadro (representação)A
origem da hipótese do quadro ser uma proposição e da proposi[ão ter uma dimensãopictórica, portanto,
a
origem da teoriapictôrica
da proposição nos é relatadapor
G.Wright no seu conhecido resumo biográfico e, e retomada pelo
próprio
Wittgenstein no seu diário em 29.9.14. r 0. Ao ver numjornal
o esquema de um acidente automobilísti-co, Wittgensteinintuí
que este esquema pode ser usado como uma proposição.A
repre'7
Co*o
discípulo de Frege, Wittgenstein postula que a meno¡ unidade lingüística dotacla de sign!ficado é a f¡æe e não a palavra.
E
Oto.o
"quadro" (das Bild) poderia se¡ traduzido como "Figuração", "Modelo", "Represen tação", etc.e
Malcolm, Norman: Ludwig WittgensteinA
Memoir with a Biografical Sketchby
G'H. von Wriqht. Oxford: Oxford Univ. Press,1975, pp.74.
10
22
RaulLandin
sentação deste
fato,
o acidente automobilístico, consiste não só na substituição dos au' tomóveispor
desenhos particulares, como também na apresentaçã'o da cone¡â'o entre os elementos que substituem no esquema os automóveis. Com efeito, ofato
doaciden-te
não
consiste simplesmentena
existênciados
objetos, masno
modo
determinado pelo qual estão interrelacionados.Um
quadro,um
esquema, apresenta assim uma situação posslvel, isto é, um estado de coisas subsistente ou não (Pr. 2.1l).
Quais são æ condições de uma representação?
(l)
Primeiramente devemosnotar
que uma representação somente acessível àquele que éo
seuprodutor
não é verdadeiramente uma representação. Esta deve serpública; nos termos de
Mttgenstein,
um fato (Pr. 2.141).(2)
Um fato
para se transformarnuma
representação deve aindater
os seus ele-mentos considerados como substitutos dos objetos. São æsim os elementos da representaçãosþos,
isto
é,
objetos materialmente perceptíveis,e
sfmbolos, isto é, desigrradores de objetos outros que eles mesmos(fu.2.13,2.131\.
(3)
Mæ; não é ainda suficiente para que se transforme um fato numa representaçãoque os seus objetos sejam slmbolos.
É
a conexão dos elementos que devetraduzir,
segundo certas regras convencionais, a concatenação dos estados de coisas representados. Que os elementos do quadroeste-jam
relacionados uns com os outros representa que æ coisas estão assim relacionadasumas com æ outras @r. 2.15).
Um fato
só éportanto
representativo se ele é interpretado. Esta interpretação con-siste em regras de correspondência biunlvocæq queasociam
cada elemento da repre-sentação a um objeto. Wittgenstein denomina esta regra de correspondência de Relação Pictqrial (Relação Afìgurante:
Die Abbitdende Beziehung)tt
.Em
cada representaçãoestá definida
convencionalmenteuma função
biunfvocaque
correlaciona os elementosdo
quadro com os objetos do estado de coisas. Mas arepresentaçÍio
é
uma estrutura,uma
conexão atual de elementos(um fato). E
comojá foi
æsinalado, a representação não consiste simplesmente em simbolizar os objetos, mas em preservar convencionalmente ¡ra estrutura representante a estrutura dosesta-dos
de
coisas representado.É
certo que, definida
a
RelaçíioPictorial,
uma mesma conexão de diferentes elementos,ou
diferentes conexões dos mesmos elementos, po-dem representar,correta
ou incorretamente, um mesmo estado de coisas.Em
outros termos, fixad¿ a Relação Pictorial, diferentes estruturæ podem representar um mesmo estado de coisæ.Para da¡ conta disto, Wittgenstein
introduz
a noção de FormaPictorial
(DieForm
derAbbildung).
Inicialmente defìnida como"a
possibilidade daestrutura"
(Pr.2.033)
a sua noção é precisada na Pr. 2.15 1 :'ã
possibilidade de que as coisas estejam uma emSentido e Verdade no Trqctatus 23
relação às outras como os elementos da figuração
(quadro)"
12.A
FormaPictorial
explica assim como uma pluralidade de estruturas poderepresen-tar
um mesmofato
possível e, portanto, como uma representação pode ser representa-çãoinconetu
destefato.
É
interessante assinalarque
semlevar
em consideração anoção de Forma
Pictorial
e de Relação Pictorial não se pode compreender a afìrmaçãode
que r¡ma representação apresenta incorietamenteum fato (Pr.
2.17).É
a RelaçãoPictorial
quetorna
tal
estrutura representação de tal estado de coisas, correlacionando os elementos da representação com os objetos dofato.
Este correlacionamento trans'forma o fato num
quadro(Pr.
21513) mesmo se a conexão nãofor
preservada, o que a torna uma representação incorreta.A
FormaPictorial
éo
que h¿í de comum entre a representação e o estado de coisas(Pr. 2.17).
Mas a representaçã'o não é uma reprodução deum
fato possível, mas a sua re-apresentação, sua recriação simbólica.A
Forma Pictorial é assim uma Forma de Re-presentação (DieForm
der Darstellung)(Pt.
2.173).O
que há de comum entre todas as Formas Pictoriais é de serem elas Formas Lógicas, formas que determin¿rm as estru-turas posslveis de representação(Pr. 2.202
.2.203).
E
a Forma Lógica é a Forma da Realidade(Pr.
2.18).
Proposição dediflcil
interpretação que relembra afirmações dafilosoha
clássica, mas que em Wittgenstein é apenas uma conclusão da suaargumenta-ção lingüfstica. Com
efeito', seum fato é
a
representação deum
estado de coisas,deve
haver algo de comum entreo
fato
representante eo
estado de coisasrepresen-tado
pal'aque a
representação seja representação deste estado de coisas.O
comum não pode ser encontrado nas estruturas que são diferentes em razão dos seus objetos: elementos simbólicos na representaçdo,coivs
do
fato possível.A
identidade da repre-sentaçãoe do
representadonão
pode ser procurada nem na materialidade das coisasdo,fato
possível, nem na dimensão material-simbólicadoi elementosdo quadro. Tam-poúco na conexão apenas presewadapor
convenção (e não reproduzida) na represen-taçÍio.O
comum
æ
duas estruturas-
o
quadro e
o
fato
possível-
éo
que delas resta quandonão
são mais analisadas e diferenciadas pela materialidade sensível epercep-tlvel
dos seus elementos epela
concatenação atual e determinada dos objetos. Isto é, quando æ duæ estruturas são consideradas abstratamente, como conexões indetermi-nadæde
objetos possfveis(e não
atualmente perceptlveis).As
estruturas são assimidentificadæ
coino isomórfìcas. Note-se que o isomorfismo se dá entre fato(represen-tação)
eum
estado de coisas que pode nãoexistir
atualmente 13.Isto
explica a pos-sibilidade de uma representação incorreta.12
"Di.
Form de¡ Abbildung ist die Möglichkeit, dass sich die Dinge so zu einande¡ verhalten, wie die Elemente des Bildes."
13 A Repr"r.ntação sempre
apresent¿ uma possibilidade, e é assim isomórhca a ao menos um -fato possliel. Ela fode seirepräsentação incoiteta do fató, de um estado de coisæ existente. É ¡e-presentação deste fato em tazão da Relação Pictorial. E representação incorreta por não ser
24
Raul Landim5. hoposição,
representaçõo e asserçt[oResta-nos
refletir
sobrea
seguinte questão:Em que
condiçõesum
quadro é
uma proposição?Analisaremos esta questão em dois nlveis:
(2.1)
Sob que condições uma frase é uma representação; e(2.2)
Como uma fræe significativa torna-se uma proposição?Uma
palavra,ou
um conjunto
de palavras nada representa "somente fatos podemexprimir
um sentido; uma classe de nomes não o pode"(Pr.3.142).
É portanto
sobre a fræe que devemosrefletir
pois æpor
um lado o sentido sedis-tingue
do
valor
de verdade,por outro o
sentido seídentifica com a
representação, recriação, do estado de coisæ..A
fræe
é
uma
concatenação, articulação,de
palavræ.É, portanto, um
fato,
algo publicamente perceptível. Os seus elementos, as palawæ, são signos simples eprimi'
tivos.
Signos quenão
podem ser decompostos, analisadosou
definidos, mas apenas elucidados por expressões que contêm ocorréncias destes mesmo signos.Estes elementos simples da frase se transforrnam em nomes quando por convenção os associamos,
no contexto
da própria frase, a objetos."Um
nome denota (bedeutet) oobjeto.
O objeto é a sua denotação". (Pr.3.203).Percebe-se desde
já
uma divergência importante dæ idéias de Frege expostæ nos cé' lebres artigos"Função
eConceito"
e"sobre
o
Sentido eaReferênciz"rl
,êtambém
dasde
Russellrs. O
nome
sótem
referência, e a referência éo
seu significado. Poroutro lado,
sóno contexto
da frase,um
signo éum
nome. Desaparece æsim a noção do nome como símbolo completo, essencial à teoria de Russell.Sendo
a
fraseuma
articulação de nomes, ela é uma estrutura.Definidæ
as regras de correspondência, esta estrutura agora interpretada, preserva logicamente a conexãodoi
estados de coisas. Se'aRb' é
uma
fraseelementat,'a'
e'b'
nomes, em razão dosfmbolo
'a'
estar numa certa concatenação (expressa pela inscriçÍio R) com o símbolo'b'
podemos representar que o objeto ¿ está concatenado com o objeto å. \ilittgenstein assimexplica
e resume a frase na sua função signifìcativa:"Llm
nome apresenta uma coisa,outro
nome,
outra
coisa,e
eles estão combinadosuns com os outros
detal
modo
queo todo
-
como
quadrovivo
-
representa(vorstellt) um
estado de coisas" (Pr. 4031I ).Se a
fræe
comofato
torna-se significativa-
isto é representativa-'
gfaças às regræ de correspondência,a fræe
significativaprojeta
comoføto
um
estado de coisæ pos-sfvel e comisto
transforma-se numa proposição."A
proposiçíio éo
signo proposicio-nal (a fræe) em sua relação projetiva com omundo"
(h.3.12).
14 Fr"g.,
Gottlob: Lógicø e Fitosofia da Linguagem. (Tradução P. Alcofo¡ado). São Paulo: Editora Cultrix, 1978, pp. 3536.
ls
(i)
Russe[, Bertrand e Whitehead, Alfted: Principia Mathematica (to 56). Cambridgefambridge(Univenity Press), 1969, pp. 66-70.
(ii) Russell, Be¡t¡and: Introduction
to
Mathematical Philosophy. Nova lorque: Touchstone Books, pp. 167-180.Sentido
e
Verdade noTløctatus
25Como se desenrola este processo de projeção?
Wittgenstein
nos
diz
quea forma
geral da proposiçãoé: "Isto é
como
as coisas estão" (Pr.4.5)
tu. Todo o
problema se resume na explicação da ocorrência do termo"isto"
na frase anterior,Desde
o
seutexto 'Notes on l.ogic",
Wittgensteinintroduz
a noçäode bipolari'
dadedo
sentido. Podemos usar uma mesma representação para dizer duæ coisas dife-fentes.(i)
Dizer que a representação éum fato
(sentidopositivo),
ou(ii)
dizer que arepresentação é apenæ
um
estado de coisas possível, isto é, um fato inexistente(senti
do
negativo).No
primeiro
citso,usalnos
a representação e afirmamos:"Eis
como ¡ul cOiSaS estãO". NO SegundO CaSo, afirmamos: "EiS como aS coiSaS nãO estão". Em amboSos casos, entratanto, tfata-se do uso da mesma representação, ora afìrmada como um
fato
existente, ora afirmada como umfato
inexistente 17.Tomemos como exemplo a expressão
"A
Lua é maior do que a Terra". No sentidopositivo
dizemos:"Isto
(a representação) éum
fato" (o
que bem entendido é falso).Por
outro
lado,
podemos usar da mesma representação,Püa
dizer que a situação re' presentada não subsiste:"hto
não éum
fato".
Neste caso sabemos exatamente qual éa situação que mencionamos, e
o
sabemoS através da representação. Mæ, se aenuncia-mos
é
paradizer
que esta situação não existe. Só podemosfalar
sobreo
inexistente através da menção de uma situação que se dá apenas como lepresentação' Se retorna-mgs ao exemplo indicado, vemos claramente a diferença entre sentido evalor
de ver' dade.Ao
afirmarmos
"Isto
(a
iira
émaior
do
çe
a Terra) nã'o éum
fato",
sabe'seque mencionÍunos a situação a Lua é maior do que a Terra; e sobre esta situação repre-sentada afirmamo-la como inexistente. Ora, este dizer é verdadeiro, ainda que ao men-cionar uma situação simbólica
fale
sobre um fato inexistente. O sentido é pois a repre' sgntação que pode ser usadapelo
dizer de dois modos diferentes: o positivo e onega-tivo. A
verdade não é urna concordância entre o sentido e o mundo, mas a concofdân-cia entre o dizer, o sentido e o mundo.6.
A
tese da univocidade do sentidoA
Teoria Pictórica da proposiçãomostrou
seruma
hipóteseútil
e
original.Útil
por-que elucidao
problemado
sentido e da verdade, porque mostra como a negação deuma proposição e a própria proposigão mencionam uma mesma situaçíio, porque expli-16 Na tradução de Giannotti, op. cit., p. 88, "isto
está do seguintemodo". No texto original: "Es verhalt sich so und so".
tt V"t
stein's Ttact¿tus. 4.a edição. Lond¡es:Hut
Ver
uma proposição em:(ù
of Language",(ü)
Shwayder, David: "On the Picture Theoryof
Language: ExcerptsU"-
"rLï:äiar:i
26
RaulLandim
ca a função comunicativa da linguagem. Sobre este
ultimo
ponto
gostarlamos de assi'nalar brevemente que
a proposição comunicaaquilo
que representa. Se somos capa' zes decompreendeie
de comunicar um sentido, éem
razão da funçãopictorial,
des-critiva,
da proposição. Quando usamos a representação não só procuramos descreverum
estado de coisas, mas em razão desta descrição, podemos comunicar sentidos' E sea linguagem
tem
este poder decriar
sempre novos sentidos é porque a representação não supõe a existência, mas apenas a possibilidade'A
teôria Pictórica é também uma solução original ao tradicional problema do sentido e referência. Só umfato
representa, eportanto
só a proposição que é uma fræe signifi-cativa projetada nomundo tem
sentido.um
signo só é nome nocontexto
da proposi-çao deiurida comoum
fato
significativo.E
na frase a função do nome é deindicar
oóUi.to
segundo regrÍrs convencionais que nós estabelecemos. O nome só tem portanto referência.Enfim
é a conexão lógica dos nomes na fræe que torna possível a represen-tação.Nomear
e
dizer aparecem assim como duas atividades complementares da única fun-ção da linguagem temalizadato
Tractatus,isto
é, a função descritiva que restringe a iealidade a duæ alternativas: o sim e o não, o verdadeiro e o falso (Pr. 4023)'Mas ct Tractafus não procura apenas mostrar as condições que os enunciados decla-rativos devem satisfazer; Propõe-se também a uma
crltica
da linguagem, linguagem que na expressão sugestiva de wittgenstein veda (verkleidet) o pensamento.De
fato,
o Tractatus contrapõe uma linguagem correta-
que pode dizer clarameìnte-
cujas condições acabamosde explicitar
auma
linguagem ambígüa.A
manei¡a deexefcer
o
seumétodo
de elucidaçãoe
crítica consiste em submeter alinguagemam-bigua
às regras de uma gramática lógica que Soverna a linguagem correta. Um dosprin-cfpøs
funãamentais desta gramáticaé
o
da
substituiçãona
frase dos signos pelos objetos-A
(Pr. 403l2).
ambigüitlade na linguagem
natural
se dá,por
exemplo. entre outræ razões, pelos diferentes modos de designação, seja que um mesmo signo é usado para diversæ desig-nações, usadoportanto
como diferentes símbolos, seja que diferentes signos são usados cornoum
mesmo símbolo(Pr.
3322e
3323). Estas ambigüidades seriam superadas secada signo estivesse no lugar de um e somente de um objeto. Fixada convencionalmen-te a desigração do signo, segue-se por necessidade a descrição do estado de coisas.
A
oposição entre linguagem correta e linguagem ambígua corresponde, entre outras coisas, à oposição da univocidade à equivocidade do sentido.O
postulado da univocidade do sentido vai precisar algumas dæ teses essenciais da linguagem correta do Trøctatus.Se
por
razõespuranente lógicæ
poder-se-ia aceitar a existência, sobretudo nunta linguagem ideal de proposições elementares, estæ ganharn contornos bem precisos na linguagemcorreta
gfaçæà
univocidadedo
sentido. Comefeito,
uma proposiçãoele-mentar é uma
conexão de nomes.E
nomes são signos simples' Se numa proposição , elementarnão
ocorressem somente signos simples,o
sentido
desta proposição seriaSentido e Verdade no Tractatus
27
revelado por outræ proposições. Se não encontrássemos nesta regressão uma proposição realmente elementar, haveria uma indeterminação
do
sentido e æsim impossibilidade de se obter uma descrição do mundo.Diz
Wittgenstein:'?ostular
a possibilidade dos signos simples é postular a determinabilidade do sentido"(Pr.3.23).
Por