• Nenhum resultado encontrado

Organização e financiamento do terceiro setor: estudo de caso Liceu de Artes e Ofícios da Bahia

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Organização e financiamento do terceiro setor: estudo de caso Liceu de Artes e Ofícios da Bahia"

Copied!
67
0
0

Texto

(1)

REBECA TRINDADE ROCHA MOHR

ORGANIZAÇÃO E FINANCIAMENTO DO TERCEIRO SETOR: ESTUDO DE CASO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DA BAHIA

SALVADOR 2005

(2)

REBECA TRINDADE ROCHA MOHR

ORGANIZAÇÃO E FINANCIAMENTO DO TERCEIRO SETOR: ESTUDO DE CASO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DA BAHIA

Monografia apresentada no curso de graduação de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito para obtenção do grau de bacharel em Economia

Orientador: Ihering Guedes Alcoforado de Carvalho

SALVADOR 2005

(3)

Rebeca Trindade Rocha Mohr

Organização e financiamento do terceiro setor: Estudo de caso Liceu de Artes e Ofícios da Bahia

Aprovada em dezembro de 2005

Orientador: __________________________________________________ Prof. Me. Ihering Guedes Alcoforado de Carvalho Faculdade de Economia da UFBA

__________________________________________________ Lívio Andrade Wanderley

Prof. Dr. da Faculdade de Economia da UFBA

___________________________________________________ Antônio Ferreira Leal Filho

(4)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que colaboraram de formas diversas para que esta monografia pudesse ser concluída.

Agradeço, sobretudo, A Deus, que me deu a vida;

A meu esposo, Sharif Mohr, pelo amor e dedicação; Aos meus pais, pela compreensão e apoio;

Aos meus irmãos, pelo carinho;

A Renata Rocha, Iraildes Trindade Rocha e Ruydemberg Trindade, pela crítica à redação; A meu orientador, Prof. Ihering de Carvalho, pelo conhecimento;

A Sergio Souto que me apresentou o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia e tornou viável a realização deste trabalho;

A Áurea Carvalho, pela paciência e boa vontade; E a todos os colegas e professores.

(5)

RESUMO

Observa-se o crescimento do número de organizações privadas com objetivos sociais que não visam lucros, as denominadas organizações do terceiro setor. Grande parte destas instituições desenvolve atividades que não geram receita para se manter, sendo necessário captar recursos externos. O crescimento do terceiro setor e a realocação dos recursos provenientes das agências internacionais, antes os maiores investidores das organizações sem fins lucrativos brasileiras, fizeram com que houvesse um aumento na competição por financiadores no Brasil. Diante dos impasses apresentados, o presente trabalho propõe-se a enfatizar o financiamento do terceiro setor, empregando um estudo de caso que aborda a captação de recursos do Liceu de Artes e Ofício da Bahia, instituição dedicada a jovens em situação de vulnerabilidade social e uma referência na área de educação no Estado.

Palavras-Chaves: terceiro setor, organizações sem fins lucrativos, captação de recursos, financiamento do terceiro setor.

(6)

LISTA DE ABREVIATURAS

ABONG - Associação Brasileira de Organizações-não-governamentais ABCR - Associação Brasileira de Captadores de Recursos

ADVB - Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil CEARTE - Centro de Arte e Tecnologia Educacional EBAL - Empresa Baiana de Alimentos S.A

EGBA - Empresa Gráfica da Bahia

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas

LAG - Liceu Artes Gráficas LMM - Liceu Móveis e Madeira

LMRP - Liceu Manutenção e Recuperação Predial LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social ONGs - Organizações-não-governamentais

OSCIPs - Organizações de Sociedade Civilde Interesse Público OS - Organizações Sociais

PIB - Produto Interno Bruto SEC - Secretária de Educação

SETRADS – Secretaria Municipal do Trabalho e Desenvolvimento Social UFBA - Universidade Federal da Bahia

(7)

APRESENTAÇÃO

A opção em desenvolver o trabalho sobre as organizações sem fins lucrativos é resultado da pretensão de canalizar os conhecimentos em Economia para uma atividade mais humana, voltada para melhora das condições da população necessitada.

O terceiro setor também merece destaque devido ao seu potencial de crescimento e criação de novos empregos, além de sua inquestionável capacidade em atuar nas áreas sociais face à reforma do Estado. No entanto, as instituições deste setor no Brasil vêm enfrentando sérias dificuldades para captar recursos e manter suas atividades. Mais do que nunca o terceiro setor e seu financiamento precisam ser objetos centrais de debates e estudos para que este problema seja contornado.

(8)

1 INTRODUÇÃO 9

1.1 OBJETO 10

1.2 PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS 11

2 WELFARE STATE E O DESENVOLVIMENTO DO TERCEIRO SETOR

14

2.1 WELFARE STATE E SEUS FUNDAMENTOS ECONÔMICOS 14

2.2 CRISE DO WELFARE STATE 15

2.3 REFORMA DO ESTADO E O TERCEIRO SETOR 16

2.4 BRASIL: CONSIDERAÇÕES 18 3 TERCEIRO SETOR 20 3.1 MODELO DE TRÊS SETORES 20 3.2 ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR 21 3.2.1 Ideologia das Organizações do Terceiro Setor 23

3.3 FALHAS DE MERCADO: EXTERNALIDADES E BENS PÚBLICOS 24

3.3.1 Externalidades 24

3.3.2 Bens Públicos 25

3.3.3 Terceiro Setor e Falhas de Mercado 25

3.4 LEGISLAÇÃO REGULADORA DO TERCEIRO SETOR 26

3.4.1 Legislação Brasileira 27

3.4.2 Incentivos á Captação de Recursos 29

3.5 FINANCIAMENTO DO TERCEIRO SETOR 30

3.5.1 Crise do Financiamento 32

4 LICEU DE ARTES E OFÍCIO DA BAHIA 34

4.1 ORGANIZAÇÃO DO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DA BAHIA 35

4.1.1 Unidades Produtivas 36

4.1.2 Unidade Educacional 37

4.2 FINANCIAMENTO DO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DA BAHIA 40

4.2.1 Gestão do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia 40

4.2.2 Diagnóstico da Gestão do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia 45

4.2.3 Captação de Recursos do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia 47

4.2.4 Análise da Captação de Recursos do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia 50

CONCLUSÃO 53

REFERÊNCIAS 58

APÊNDICE A 62

(9)

1 INTRODUÇÃO

O terceiro setor designa um conjunto diversificado de organizações de natureza privada - ainda que não visem lucros - e com fins públicos, - embora não façam parte do governo -, agrupadas em uma mesma legislação reguladora. Esta denominação esclarece que o Estado corresponde ao primeiro setor e o mercado, ao segundo. O terceiro setor possui características de ambos.

Não é possível afirmar com precisão a origem do terceiro setor, embora não haja dúvidas quanto ao crescimento das entidades dessa natureza nas últimas décadas do século XX. A partir da queda do Welfare State no final da década de 70 - que exigiu uma reestruturação do Estado, limitando seu papel nas questões sociais -, observa-se reemergência das organizações civis sem fins lucrativos, que vêm desempenhando um papel de destaque. Pretende-se enfocar especificamente o atual terceiro setor que surgiu em um contexto político e econômico diferente, com assistência e cooperação internacional, embora se mantenha os ideais e a cultura institucional tradicionais. No Brasil, a fase moderna do terceiro setor surge no período do regime militar como forma de afirmação da sociedade civil e valorização dos ideais democráticos.

O presente trabalho corresponde a um estudo de caso que contempla o financiamento do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, enfatizando o ano de 2004. O Liceu é uma organização sem fins lucrativos que atua na área de educação, há mais de 130 anos. Suas ações são direcionadas especialmente aos jovens carentes. A instituição foi escolhida porque se encontra estabelecida na sociedade baiana, atua na oferta de serviços públicos, é uma referência no terceiro setor regional e, o mais admirável, vem apresentando alternativas para a manutenção de suas atividades, através da comercialização de bens e serviços.

A importância conferida a esta temática ocorre pela necessidade das organizações do terceiro setor em obter financiamento. A grande maioria não é auto-sustentável - pelo fato de desenvolver atividades não rentáveis como a oferta de bens públicos ou de bens

(10)

geradores de externalidades -, tornando a falta de recursos o maior problema do segmento.

O resultado da pesquisa será significativo para as organizações sem fins lucrativos, que dotadas de conhecimento sobre o tema, poderão desenvolver estratégias eficientes de captação de recursos. A pesquisa também será útil para acrescentar informações e dados sobre o Liceu de Artes e Ofício da Bahia.

O trabalho apresenta mais quatro capítulos, além deste primeiro. Os capítulos dois e três têm como objetivo inteirar o leitor sobre o terceiro setor. Para tanto, no segundo capítulo será apresentado o contexto do desenvolvimento do terceiro setor atual que surge no ambiente da crise do Estado.

Já o terceiro capítulo parte do conceito de terceiro setor, tratando de aspectos como suas ideologias e funções e apresentando o modelo de três setores. Posteriormente, define falhas de mercado, bens públicos e externalidades - por serem conceitos relacionados aos bens e serviços oferecidos pelas ONGs - e enfatiza a atuação das entidades civis sem fins lucrativos no sentido de corrigir estas ineficiências de mercado. Este capítulo expõe, ainda, os aspectos gerais da legislação reguladora destas organizações no Brasil, destacando os incentivos à captação de recursos. Por fim, o financiamento do terceiro setor é abordado, apresentando suas diferentes formas e sua crise no Brasil.

O quarto capítulo, por sua vez, apresenta o Liceu de Artes e Ofício da Bahia, descrevendo sua história, suas ações e suas características organizacionais. Este capítulo se completa com a exposição e análise dos dados obtidos por meio da pesquisa de campo onde é discorrido o financiamento da organização. A síntese do trabalho, as principais descobertas, as observações e considerações finais serão elementos presentes no quinto e último capítulo.

(11)

O objeto desta pesquisa é o financiamento do Liceu de Artes e Ofício da Bahia. Pretende-se analisar os fatores responsáveis pelo padrão atual de financiamento do Liceu, investigando suas alterações recentes. As estratégias de captação de recursos da instituição também serão estudadas.

1.2 PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS

Adotou-se como estratégia de pesquisa o estudo de caso por ser considerado o mais adequado para os objetivos propostos, apresentando as suas três condições apropriadas: a forma da questão de pesquisa, a falta de controle por parte do pesquisador sobre os eventos comportamentais e o foco em acontecimentos contemporâneos. O estudo de caso é uma investigação empírica que envolve condições contextuais. Esta estratégia é bastante abrangente, tem características de planejamento e adota a coleta e a análise de dados (YIN, 2001, p. 32-33).

O estudo é descritivo, expõe aspectos de determinada realidade para uma posterior análise. Caracterizado como único, o estudo de caso tem como intenção a coleta de informações sobre a unidade. Como métodos de trabalho, foram empregados a pesquisa documental e telematizada, além de entrevistas qualitativas.

Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a temática estudada, no qual se empregou consideravelmente a análise documental, por ser uma fonte bastante confiável e expressiva para obter dados. A pesquisa on-line também foi utilizada, em virtude da rapidez e facilidade de acesso às informações.

Na realização do estudo de campo, adotou-se como instrumentos de pesquisa entrevistas qualitativas e pesquisa documental e on-line. A coleta de dados foi iniciada na segunda quinzena do mês de outubro do ano de 2005, partindo do levantamento de informações sobre a instituição através de pesquisas no site oficial. Posteriormente, a organização foi contatada, sendo viabilizada uma visita, no dia 19 de outubro, com intuito de conhecer

(12)

suas instalações e atividades. As entrevistas qualitativas, por sua vez, realizadas no final do mês de outubro e ao longo de novembro, concluíram o estudo.

Estas entrevistas foram divididas em duas partes. A primeira busca a obtenção de informações gerais sobre o Liceu e a segunda se volta aos aspectos econômico-financeiros, enfatizando o padrão do financiamento. São sujeitos da pesquisa representantes, presidentes, diretores e profissionais responsáveis pela administração da entidade.

Não foi possível obter dados contábeis do Liceu visto que, segundo a contadora da instituição, Itamar Santos, estes possuem caráter confidencial e o acesso dependeria da solicitação, através de ofício da Universidade Federal da Bahia, a ser aprovada pelo superintendente da instituição, Romel Brandão, o que não ocorreu até o período de conclusão do trabalho, devido à greve dos servidores públicos daquela instituição de ensino.

O Liceu não apresentou relatórios com informações detalhadas sobre a gestão financeira. Apenas dados esparsos relativos à captação de recursos foram disponibilizados a partir do ano de 2002. Como se não bastasse, o pessoal ligado administração da entidade estudada não tinha uma visão critica, holística, nem analítica do financiamento da mesma. Apesar dos problemas enfrentados, o estudo foi concluído de maneira satisfatória e os principais assuntos relacionados ao tema foram levantados e discutidos.

A apresentação e discussão dos dados empíricos centram-se em dois aspectos: a gestão do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia - uma vez que a instituição administra uma receita própria - e a captação de recursos externos, também adotada como alternativa à manutenção do Liceu. Características organizacionais, estratégias de captação de recursos, qualidade dos projetos, área de atuação, público-alvo e notoriedade da instituição são os aspectos que mais influenciam o padrão de financiamento.

É importante salientar que, por se tratar de um estudo de caso, as variáveis que são importantes para o processo de captação de recursos do Liceu não serão necessariamente relevantes para o financiamento de outras organizações do terceiro setor. Entretanto, o

(13)

exemplo aqui debatido pode ser utilizado como referência, uma vez que aspectos estruturais como a legislação, a cultura, a história, o Estado, envolvem todas as organizações de sociedade civil sem fins lucrativos.

(14)

2 WELFARE STATE E O DESENVOLVIMENTO DO TERCEIRO SETOR

O crescimento do terceiro setor e a sua atual importância para economia mundial está atrelado a um determinado contexto político e social, propiciador de sua evolução. Faz-se necessário destacar o papel do Estado e sua influência no desenvolvimento social.

O Welfare State, modelo de governo caracterizado pela centralização das políticas públicas e pelo aumento da responsabilidade do governo no provimento de serviços sociais, restringiu a atuação das organizações da sociedade civil devido à forte intervenção do setor público nas questões sociais. Assim, com a crise deste modelo, a partir da década de 70, tornou-se imprescindível uma reestruturação do Estado baseada na descentralização e redução do intervencionismo, resultando num maior destaque ao papel do terceiro setor.

As instituições filantrópicas, porém, remontam a épocas distantes na história mundial. No Brasil, a filantropia se inicia no período colonial, por intermédio das santas casas e institutos de beneficência, influenciada pela igreja católica. Já no final do século XX, essas organizações cresceram e passaram a ter um papel de destaque no país.

2.1 WELFARE STATE E SEUS FUNDAMENTOS ECONÔMICOS

O Welfare State correspondeu a um modelo de governo caracterizado pelo aumento da responsabilidade do Estado no provimento de serviços sociais e pela maior intervenção na economia, a fim de garantir o seu crescimento e o pleno emprego. Decisivamente influenciado pela teoria keynesiana, o Welfare State foi aplicado nos países desenvolvidos por governos social-democratas no período de pós-guerra, como alternativa à crise de super produção.

(15)

A adoção do Welfare State fez com que as economias capitalistas vivenciassem um período de crescimento econômico, conjugado aos ideais de segurança e justiça social. Sua aplicação se deu de maneira diferenciada entre os países que o adotaram. Segundo Esping-Andersen (1995, p. 84), existem basicamente três grupos de regime de Welfare State: o liberal, o conservador e o social-democrata.

a) Liberal: foi implantado nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Baseava-se na oferta de políticas assistenciais de forma seletiva, beneficiando os comprovadamente pobres. Além disso, o mercado atuava na rede básica de proteção pública. O Estado não intervinha de forma direta no mercado, apenas complementava a iniciativa privada. b) Conservador: recebe este nome por valorizar a preservação da família tradicional. Destacou-se em países da Europa Ocidental como Áustria, França, Alemanha e Itália. Assim como o modelo liberal, os benefícios eram seletivos, pois o regime não pretendia ser universal. Apresentou deficiência nos serviços sociais. O Estado deu suporte e viabilizou o mercado.

c) Social democrata: foi implantado nos países escandinavos. Destaca-se pela forte intervenção do Estado no mercado e na vida social e pela expansão do emprego no setor público. Foi um regime universal, os serviços sociais eram amplos e os programas assistenciais eram generosos.

A maior intervenção do Estado nas questões sociais refletiu no terceiro setor, na medida em que a competição no oferecimento de serviços públicos aumentava, restringindo a responsabilidade do indivíduo com relação às questões sociais, de acordo os autores americanos como Wuthnow e Berger & Neuhaus, citados por Coelho (2000, p.37). A autora acredita que o setor voluntário não era de fato tão expressivo para atender plenamente as demandas sociais, mas se ocupava destas parcialmente.

(16)

O Wefare State entra em colapso no final da década de 70. Este período foi marcado pela crise do petróleo e pela desordem do sistema financeiro mundial, que provocou um baixo crescimento econômico e recessão. Os estudiosos mais conservadores vêem a crise do Welfare State como endógena: o sistema seria diretamente responsável pelo aumento da taxa de desemprego, aceleração da inflação e queda nos investimentos. Já os progressistas consideram que as políticas devem ser ajustadas diante das novas demandas sociais sem reduzir o Estado de Bem-Estar.

A crise do Wefare State é de caráter financeiro-fiscal, proveniente da redução da arrecadação em um período de encolhimento da economia e aumento das necessidades sociais. Diversos autores apresentam a perspectiva de que a perda da arrecadação se deu em função do aumento da informalidade do trabalho, da evasão fiscal, além dos elevados gastos sociais sem retorno e inversão da estrutura etária da sociedade, com crescimento da população idosa.

Por outro lado, de acordo com o estudioso do terceiro setor Montaño (2002, p. 216), o fundamento da crise fiscal do Estado está relacionado com mau uso político e econômico das autoridades. O autor apresenta os seguintes fatores para a crise fiscal: pagamento da dívida pública (interna e externa), renúncia fiscal, hiperfaturamento de obras, resgate de empresas falidas, clientelismo político, vendas subvencionadas de empresas estatais subavaliadas, corrupção, empréstimos ao setor produtivo com retorno corroído pela inflação, altas taxas de juros ao capital financeiro e construção de infra-estrutura publica em benefício do capital comercial e produtivo.

Para o economista James O'Connor (apud MONTAÑO, 2002, p.217), a crise fiscal tem como conseqüência a crise de legitimidade. A centralização e a burocratização das estatais reduziram a eficácia dos programas sociais e ampliaram os gastos públicos. A ineficiência das ações do governo abalou a opinião pública, resultando na redução da confiança, relativa à sua capacidade de solucionar os problemas sociais.

Como alternativa à superação da crise do Welfare State, a reforma do governo e a relação deste com a sociedade e com o mercado foram colocadas em primeiro plano. Fez-se

(17)

necessária uma reestruturação do Estado baseada na descentralização e na limitação do seu papel.

2.3 REFORMA DO ESTADO E O TERCEIRO SETOR

Como alternativa à crise fiscal, o Estado passa a ser objeto de reforma. Este processo propunha a construção de um governo mais eficiente, o que significou uma mudança na atuação das esferas pública e privada.

A reforma do Estado criou um modelo de governo mais enxuto e descentralizado, com instituições mais ágeis e que terceirizavam parte dos serviços. Coube ao setor público criar condições econômicas e políticas para que a iniciativa privada pudesse responder às necessidades sociais. A partir daí, a sociedade civil começa a participar mais ativamente na solução de questões sociais e o papel das organizações do terceiro setor volta a ser questionado (COELHO, 2000, p. 45-56).

A procura mundial por alternativas para a crise do Estado de Bem-Estar fez com que o movimento de reforma emergisse do consenso de Washington, durante a década de 90, liderado pelos Estados centrais com o apoio de instituições financeiras multilaterais. Foram apresentadas propostas de políticas que propunham o ajustamento estrutural, o controle do déficit público e da inflação, privatizações, desregulamentações e redução da atuação do setor público nas questões sociais. Estas medidas foram desastrosas no plano social o que exigiu mudanças profundas na condução do processo de reformulação (SANTOS, 1998, p.3-5).

A questão social passou a fazer parte da pauta de políticas por meio da democracia e da cidadania. O regime democrático se baseia nos ideais de liberdade e soberania popular. Já a cidadania está relacionada ao princípio de que o indivíduo tem direitos - cuja garantia é de responsabilidade do Estado, e deveres para com este e com a sociedade. O terceiro setor será um instrumento de exercício destes ideais.

(18)

Durante a década de 80, assistimos a reemergência do terceiro setor, como uma nova estratégia de assistência social diante da reforma do Estado. O terceiro setor emergiu com igual força tanto nos países centrais como nos países periféricos com apoio financeiro das organizações multilaterais (SANTOS, 1998, p.5/6).

De fato, as organizações da sociedade civil apresentam características que favorecem a sua atuação nas questões sociais, por serem mais flexíveis do que o governo burocrata e atuarem de maneira inovadora e junto às comunidades locais, provendo os serviços públicos de maneira mais eficiente. Além disto, estas organizações incorporam valores como altruísmo, solidariedade e responsabilidade dos indivíduos na resolução dos problemas sociais. Santos sugere que o terceiro setor deve ser considerado o elemento de maior importância na reforma do Estado por apresentar estas características (1998, p.13-17).

2.4 BRASIL: CONSIDERAÇÕES

A história do voluntariado no Brasil está ligada a sua origem colonial. Neste período, o relacionamento próximo entre o império e a igreja foi extremamente importante para o desenvolvimento da filantropia, pois a igreja católica estabeleceu escolas, hospitais e assistência social como um plano estratégico para ter acesso à população (LANDIM, 1993, p.2).

No século XIX, o Governo começou assumir a provisão dos serviços públicos. Com a proclamação da república, a separação entre Estado e Igreja foi institucionalizada, implicando na suspensão do fornecimento de recursos estatais para as instituições religiosas. No final do século XIX, essas entidades mudaram seus perfis e cresceram nas maiores cidades do país. Passaram a ser grupos organizados com interesses políticos e profissionais a nível regional e nacional (LANDIM, 1993, p.2/3).

No Brasil não existiu o Welfare State de fato, porém a sua influência se fez sentir. O país desenvolveu políticas que objetivavam a universalização dos direitos sociais, destacando

(19)

a rede pública de previdência social que se estendia a toda população. Entretanto, o sistema funcionava mal e apresentava diversos problemas (COELHO, 2002, p.37).

Elói Chaves, responsável pela implantação do sistema previdenciário na década de 20, representa o marco do Estado de Bem-Estar que só vai se consolidar na era Vargas. O governo de Getúlio Vargas avançou no controle estatal de diversas atividades como a indústria de base e a exploração de petróleo e minérios. Este período foi marcado, também, pelos avanços nas políticas sociais, destacando a implantação de uma ampla legislação trabalhista. Durante a ditadura militar, entre 1964 e 1978, o Brasil também apresentou características do Estado de Bem-Estar, marcado por um regime de crescimento baseado na substituição de importação associado a um amplo, porém perverso, sistema de proteção social (FARIA, 2002, p.9/10).

O Brasil também sofreu uma crise de Estado, acentuada no final do regime militar, marcando o fim do modelo desenvolvimentista e centralizado, baseado na substituição das importações. Segundo o sociólogo Vilmar Evangelista Faria, as principais razões para o insucesso do Estado de Bem-Estar brasileiro foram a desorganização, o aumento dos serviços públicos, a hiperinflação controlada e o crescimento da pobreza e da desigualdade (FARIA, 2002, p.10).

O diretor do programa da América Latina e Caribe da Fundação Kellog, Andrés Thompson, pondera que no caso da América Latina, incluindo o Brasil, as ONGs surgiram com um grande potencial nas décadas de 60 e 70, período dos regimes militares. O significado da força destas organizações nesta fase devia-se ao fato que elas representavam ações políticas contrárias ao autoritarismo, correspondendo uma nova forma de participação social que defendiam os valores democráticos e se preocupavam com as necessidades da população excluída, além de possuir total autonomia em relação ao Estado. Com o processo de redemocratização política na década de 80, as ONGs mantiveram o seu papel de destaque, devido à redução de programas sociais (IOSCHPE (org).,1997, p.43/44).

Por outro lado, a teórica Landim (1993, p.6) afirma que, em 1964, o governo centralizou e reformou a educação, os serviços de saúde e a assistência social. Desta forma, o terceiro

(20)

setor não teria uma participação ativa neste período. Segundo a autora, somente após a ditadura é que pode ser observado o crescimento do terceiro setor.

(21)

3 TERCEIRO SETOR

O termo terceiro setor passou a ser utilizado recentemente para designar as organizações de sociedade civil com fins públicos e que não objetivam lucro, apresentando características dos dois primeiros setores. Este conceito originou-se nos Estados Unidos, tornando-se popular devido à sua utilização por pesquisadores como Alan Wolfe e Lister Salamon. Esta denominação implica que o Estado corresponda ao segundo setor, e o mercado, ao primeiro.

Segundo a pesquisadora Coelho (2000, p.61) o termo mais empregado no Brasil é "organizações não-governamentais", que, entretanto, corresponde apenas a um conjunto de organizações que fazem parte do terceiro setor. A expressão terceiro setor foi utilizada pela primeira vez no Brasil por Rubem César Fernandes e Leilah Landim. O termo também foi primeiramente utilizado no país para se referir apenas às fundações e institutos de origem empresarial (FALCONER; VILELA, 2001, p.28).

O administrador Falconer (2003, p.01/02) afirma que o terceiro setor corresponde à expressão mais aceita para definir as iniciativas sociais voltadas para desenvolvimento de bens e serviços públicos. Este autor acredita que esta expressão sugere igualdade em relação aos outros setores sociais: Estado e mercado.

Os teóricos Lester Salamon e Helmuth Anheir, citados por Coelho (2000, p.60/61), com o objetivo de sistematizar melhor as organizações que fazem parte deste setor, apresentam características comuns a estas organizações: formais, privadas, autônomas e envolvem a participação de voluntários. Existe uma diversidade de organizações que apresentam estas particularidades, abrangendo associações comunitárias e profissionais, ONGs, entidades beneficentes, fundações, movimentos sociais, etc.

(22)

No modelo dos três setores, desenvolvido por alguns autores americanos, as atividades da sociedade estariam divididas em três setores. O mercado corresponde ao primeiro setor, o governo corresponde ao segundo e as atividades que não visam lucro, ao terceiro. No Brasil, o mercado corresponde ao segundo setor e o Estado é considerado o primeiro. A ação do Estado é legitimada e organizada por poderes coercitivos. As atividades do mercado envolvem trocas de bens e serviços objetivando o lucro e são baseadas nos mecanismos de preços. Já as atividades do terceiro setor não são coercitivas nem voltadas para o lucro, são direcionadas ao atendimento das necessidades coletivas e em alguns casos públicas (COELHO, 2000, p.39-45). O terceiro setor, para a autora, expressa uma alternativa para as desvantagens tanto no mercado quanto do governo, com as suas burocracias inoperantes.

O teórico brasileiro Rubem César Fernadez enfatiza a complementaridade desses três setores. O Estado limita e regula as ações privadas e o sistema legal, instituído e mantido pelo governo, define os limites das ações voluntárias e regulamenta por normas de aceitação universal das atividades do terceiro setor. A propriedade privada é a base de sustentação da autonomia da sociedade civil ante o Estado, uma vez que a autonomia do mercado implica na autonomia das organizações da sociedade civil. O terceiro setor não existiria em países socialistas totalitários onde a maquina estatal absorvia toda a vida pública (IOSCHPE (org.) 1997, p.29-32).

A princípio, os serviços públicos deveriam ser ofertados pela ação governamental. O Estado deve ser o mais eficaz possível na execução destes serviços, embora nada impeça que estes sejam trabalhados pela iniciativa privada, sendo estes exatamente às áreas de atuação das organizações da sociedade civil. O mercado atua em áreas de interesse coletivo que correspondem a investimentos lucrativos e não conseguem satisfazer e atender a todas as necessidades manifestadas. A atuação do terceiro setor, portanto, dá condições e viabiliza o mercado.

(23)

A importância das organizações do terceiro setor está atrelada à natureza de sua atividade. O papel desempenhado por estas instituições vem crescendo e tornando mais relevante tanto no âmbito econômico, quanto no desenvolvimento e execução de políticas sociais. Também se destacam por representar valores como participação democrática, exercício da cidadania e responsabilidade social.

Segundo o procurador geral de justiça do Distrito Federal e Territórios, Sabo Paes (2003, p.90), a função destas organizações é o atendimento de alguma necessidade social ou a defesa de direitos. Desenvolvem diversas atividades que abrangem desde a defesa dos direitos humanos, assistência à saúde, apoio às populações carentes, educação, cidadania, defesa dos direitos das minorias, até a proteção do meio ambiente.

Os países anglo-saxônicos distinguem o terceiro setor em duas categorias. A primeira categoria é formada por organizações de interesse público, ou seja, que desenvolvem atividades que beneficiam a sociedade como um todo. A segunda compreende organizações de ajuda mútua ou auto-ajuda, que defendem interesses coletivos, envolvendo um grupo restrito de pessoas. Fazem parte desta categoria associações de moradores, clubes sociais, entre outras (SABO PAES, 2003, p.90).

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o número de organizações sem fins lucrativos é superior a 250 mil e o terceiro setor movimenta R$ 12 bilhões por ano, o equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) (ALVARES, 2002). Este segmento no Brasil ainda tem enorme potencial de crescimento, visto que em países da Europa e nos Estados Unidos da América, a participação deste setor no PIB é expressivamente superior à brasileira.

O terceiro setor é o segmento que mais tem crescido no ocidente. Embora corresponda à metade do tamanho do governo em termos de empregabilidade e volume de recursos, tem crescido duas vezes mais do que os outros dois setores em termos de geração de empregos (COMUNIDADE SOLIDÁRIA, 1998, p.61). As organizações de sociedade civil sem fins lucrativos são capazes de absorver grande parte desta demanda, tendo em vista que são prestadoras de serviços sendo o setor atualmente o maior responsável pela oferta de postos de trabalho.

(24)

O economista Jeremy Rifkin também destaca a importância do terceiro setor, afirmando que a revolução tecnológica provocou um aumento significativo na produtividade se contrapondo com a redução do trabalho humano nos setores tradicionais da economia. Como a sociedade estaria se tornando cada vez mais bipolar, o aumento da produção e redução dos custos entraria em contraste com a redução do mercado. Desta forma, o terceiro setor surge com grande capacidade de revitalizar a sociedade, oferecendo serviços públicos. Rifkin também acredita na capacidade do terceiro setor em absorver mão de obra, devido à automatização da indústria e agricultura e à redução do estado (IOSCHPE (org.),1997, p.13-23).

3.2.1 Ideologia das Organizações do Terceiro Setor

As divergências acerca da ideologia das organizações da sociedade civil merecem destaque. Segundo Santos (1998, p.6), o terceiro setor tem raízes ideológicas heterogêneas que vão do socialismo ao liberalismo a depender do contexto econômico. Alguns estudiosos acreditam que o terceiro setor é um instrumento do neoliberalismo que evitaria possíveis crises do Capitalismo provocadas pelas explosões sociais, além de contribuir para a consolidação de um Estado mínimo, através da transferência de parte da responsabilidade governamental para a sociedade civil. Há ainda quem acredite que as organizações de sociedade civil representem um novo campo de luta esquerda. Para outros, porém, representa o desenvolvimento de uma sociedade mais humana, preocupada com os anseios da população.

Thonson apresenta claramente as divergências dos intelectuais acerca do terceiro setor:

em declarações à revista La Magma, da Argentina (12/06/1996) a secretária de Estado dos recursos naturais e ambiente humano, engenheira María Julia Alsogaray, acusou as ONGs (organizações não governamentais) defensoras do meio ambiente

(25)

de serem um novo campo de luta da esquerda, já que a ideologia marxista foi derrotada com a queda do Muro de Berlim. Por outro lado, ainda que com vários argumentos em comum, o reconhecido professor da Universidade de Binghamton, de Nova York, James Petras, opina que as ONGs são um instrumento do Neoliberalismo"encarregadas de diminuir o perigo das explosões sociais". Ele também acusa as ONGs de incentivar "um novo tipo de colonialismo e dependência cultural e econômica", já que os seus projetos são planejados ou, pelo menos aprovados, de acordo com as normas prioritárias dos centros imperialistas ou das suas instituições". De acordo com esta visão, isto faz com que "o verdadeiro efeito da proliferação das ONGs seja o de fragmentar as comunidades pobres e transformá-las em grupos setoriais ou sub setoriais incapazes de ver os seus problemas sociais". Assim como a engenheira Alsogaray, Petras argumenta que a proliferação das ONGs se deve à ação dos pós-marxistas. (IOSCHPE (org.), 1997. p.41/42)

3.3 FALHAS DE MERCADO: EXTERNALIDADES E BENS PÚBLICOS

As políticas governamentais justificam-se como medida de corrigir as ineficiências de mercado: concorrência imperfeita, externalidades e bens públicos. Pretende-se neste tópico definir externalidades e bens públicos, elucidar a atuação do terceiro setor como uma alternativa de ofertar bens públicos ou que promovam externalidades positivas de maneira eficiente e, finalmente, apontar os serviços do Liceu neste contexto.

(26)

O conceito de externalidades se refere aos impactos das ações de um agente econômico sobre o bem estar de outros agentes não-participantes da ação, podendo ser positivas ou negativas. As externalidades criam falhas de mercado – que são imperfeições no sistema de preços que impedem a alocação eficiente dos recursos – o preço e a quantidade produzida e consumida não correspondem. Em casos de ineficiências de mercado, torna-se necessário a introdução de uma regulação governamental (PINDYCK; RUBENFELD, 2002, p.632-635).

As externalidades positivas beneficiam produtores, compradores, ou ambos através de uma atividade produtiva, sem que o preço de mercado sofra alguma conseqüência. As externalidades negativas, por sua vez, são custos gerados pela ação de um agente econômico que atingem outros agentes não envolvidos na atividade (PINDYCK; RUBENFELD, 2002, p.631-632).

3.3.2 Bens Públicos

Existem condições em que o mercado não pode ofertar ou não tem condição de cobrar o preço adequado, como é o caso da oferta de bens públicos. Estes bens apresentam duas características principais: não exclusividade e não disputabilidade. O requisito de não exclusividade pressupõe o não-impedimento do consumo do bem pelas pessoas, tornando inviável a cobrança pela sua utilização. Para que seja configurada a não disputabilidade, por sua vez, é necessário que o uso de determinado bem por um consumidor não afete a oportunidade de seu consumo por outra pessoa. O custo marginal de produção é zero para qualquer consumidor adicional. Um exemplo clássico de um bem não exclusivo e não disputável é a defesa nacional (PINDYCK; RUBENFELD, 2002, p.655-656).

Uma vez que os benefícios da oferta de bens e serviços públicos alcançam toda sociedade, os indivíduos não têm qualquer incentivo para pagar por sua utilização. O seu

(27)

valor é subestimado pela coletividade. As famílias tendem a consumir sem qualquer ônus, havendo, portanto, o estímulo à atuação como caronas1. O bem público pode ser ofertado de maneira eficiente apenas pelo Estado ou através de subsídio, sendo custeado compulsoriamente pela sociedade mediante o pagamento de tributos (PINDYCK; RUBENFELD, 2002 p. 658).

3.3.3 Terceiro Setor e Falhas de Mercado

O estudo dos economistas Pindyck e Rubenfeld (2002) não considera, entretanto, que algumas organizações do terceiro setor oferecem bens públicos. No entanto, percebe-se que as organizações ambientalistas ao desenvolver campanhas de educação ambiental geram benefícios à sociedade como um todo. Outro exemplo são as entidades que atuam na área de saúde pública, especificamente com campanhas de prevenção de doenças, não havendo algum impedimento para o seu consumo pela coletividade.

As organizações do terceiro setor também atuam no sentido de corrigirem falhas de mercado na presença de externalidades positivas quando ofertam bens públicos. Estas entidades não visam a obtenção de lucro via comercialização ou produção e, assim como o governo, disponibilizam para a coletividade bens e serviços públicos de forma eficiente. As atividades deste setor são financiadas voluntariamente por agentes da sociedade. Existem bens que, embora não sejam públicos - o que implicaria inevitavelmente na não exclusividade e não disputabilidade -, são oferecidos publicamente pelo governo por acarretar em externalidades positivas. Estes bens podem ser exclusivos e não disputáveis, disputáveis e não exclusivos e , até mesmo, disputáveis e exclusivos (PINDYCK; RUBENFELD, 2002, p.655-656).

1 Também conhecido como free riders, os caronas são consumidores ou produtores que não pagam por um

(28)

O caso aqui tratado, o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, oferece serviços na área de educação, apresentando características de disputabilidade e de exclusividade. Os serviços são oferecidos a um grupo restrito da comunidade, que são os jovens de escolas públicas que demonstrem aptidões e habilidades pré-estabelecidas pelo modelo educacional, sendo, portanto, exclusivo. O serviço é disputável em termos de consumo, pois há um custo marginal positivo para seu beneficiado adicional, uma vez que os outros beneficiados receberiam menor atenção à medida que aumenta o número de participantes das oficinas.

3.4 LEGISLAÇÃO REGULADORA DO TERCEIRO SETOR

A intensificação do interesse da sociedade civil sobre as entidades do terceiro setor passou a exigir estruturação no seu funcionamento e consequentemente, uma legislação mais específica, para se adequar à realidade complexa e cada vez mais diversificada. Não há, no ordenamento jurídico brasileiro, uma definição legal para o terceiro setor, ressentindo, inclusive de uma legislação sistematizada e moderna para servir de estímulo aos atores sociais. Constitui um avanço significativo a edição das leis 9.608/98 e 9.740/99, porém tornam-se necessárias normas relativas à execução e financiamento, dentre outras.

Ao contrário do Brasil, os Estados Unidos da América, Canadá, Austrália e Nova Zelândia (de formação protestante) e os países do norte da Europa, Inglaterra, Noruega, Alemanha, Áustria, Suíça dispõem de legislações complexas e sofisticadas. Países como a Itália, Espanha e Portugal dispõem de uma legislação recente, enquanto a França não dispõe, como no Brasil, de uma legislação específica.

(29)

O Brasil Colonial viveu sob a égide das Ordenações Afonsinas e Manuelinas que já previam as entidades de "mão morta", mas somente em 10 de setembro de 1903 é que a primeira lei foi editada - a de nº 173 - que conferia personalidade jurídica às entidades com fins literários, científicos e religiosos. Em 1912, a Nova Consolidação do Direito Civil de Carlos de Carvalho já reconhecia a existência de entidades do terceiro setor - "pessoas jurídicas de direito privado: as sociedades civis, religiosas, pias, moraes, scientificas ou litterarias, associações de utilidade pública e as fundações, comtanto que tenham patrimônio". Em 1916, o Código Civil consolidou na legislação já codificada, abarcando a figura das entidades sem fins lucrativos (RAFAEL, 1997, p.68-72).

A partir da década de 30, quando os programas paternalistas assumiram importante papel, foram editadas leis para regular subvenções, isenções e concessão de títulos e registros. A Lei 91 de 1935 criou a "Declaração de Utilidade Pública", que inicialmente tratava-se de título honorífico a entidades que servissem "desinteressadamente à coletividade". Posteriormente, leis e atos administrativos passaram a exigir tal título para receber doações dedutíveis do imposto de renda, para pleitear doações em bens da administração pública, autarquias, fundações. A Constituição de 1934 ampliou a destinação das subvenções para estabelecimentos de saúde, educação, cultura e assistência. A Lei 119/35 criou um conselho ligado à Presidência da República para análise das instituições que seriam beneficiadas, possivelmente o embrião do Conselho Nacional de Serviço Social (Sposati, 1994:60), criado em 1938 pela Lei 525. Este Conselho foi reformulado em 1943 para centralizar e fiscalizar as obras sociais públicas e privadas (INSTITUTO SOUZA CRUZ, 2003).

Dezenas de textos legais se seguiram, sempre ampliando os benefícios das entidades privadas, dentre elas a Lei 1493/51, que disciplinou a transferência de fundos públicos a entidades privadas "de caráter assistencial ou cultural". A Constituição de 1946 e a de 1967 mantiveram a tradição da garantia de incentivos fiscais às instituições sem fins lucrativos, aliás, o que ainda se mantém na Constituição de 1988, que concebe a assistência social como um direito do Cidadão, com recursos do orçamento e da seguridade social (id., ibid.).

(30)

O Conselho Nacional de Serviço Social foi transferido em 1990 para o Ministério da Ação Social, sendo posteriormente extinto e substituído pelo atual Conselho Nacional de Ação Social - órgão paritário na composição entre o Governo e a sociedade civil - ligado ao Ministério da Assistência e Previdência Social. O Conselho trouxe profundas mudanças na concepção de assistência a lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) (Lei 8742/93), que prevê a obrigatoriedade da inscrição municipal da entidade de assistência social no Conselho Municipal de Assistência (id., ibid.).

Recentemente, foram sancionadas a Lei 9.637 de 15 de maio de 1998 - Organizações Sociais e a Lei 9.790 de 23 de março de 1999 - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, esta última resultado de amplas discussões entre o aparelho do estado e a sociedade civil, na sede do Conselho da Comunidade Solidária, órgão ligado à Presidência da República. Estas leis representaram um avanço significativo para o setor (SABO PAES, 2002, p.100-115).

Segundo o autor José Eduardo Sabo Paes (2002, p. 100-115), as Organizações Sociais (OS) cuja parceria com o poder público é formalizada com o contrato de gestão, são entidades cujas atividades são direcionadas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) se relacionam com o Poder Público através de um vínculo de cooperação entre as partes, denominado pela lei respectiva de Termos de Parceria. Englobam as OSCIPs as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, integrantes do terceiro setor que têm fins comunitários ou fomentam e executam atividades de interesse público.

3.4.2 Incentivos á Captação de Recursos

A constituição em vigor reconhece a importância da colaboração da iniciativa privada na execução de tarefas eminentemente públicas e mantém a tradição de incentivos às organizações de sociedade civil. Para obter o título ou declaração de utilidade pública que

(31)

lhes proporcionam o status de filantropia, as entidades do terceiro setor devem cumprir diversas exigências. Neste caso são concedidos isenção, dedução de impostos e acesso a convênios e subvenções (COELHO, 2000, p.92). As instituições também podem obter o certificado de entidade filantrópica o que as insentarão de contribuição patronal à seguridade social (SABO PAES, 2002, p.139). O Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, instituição estudada pelo presente trabalho, dispõe do certificado de entidade filantrópica. A legislação reguladora do terceiro setor é caracterizada por incentivar a captação de recursos, destacando a imunidade fiscal, as subvenções, os auxílios, os convênios os contratos, os patrocínio e as doações.

a) imunidade fiscal: o artigo 150 da Constituição Federal veda à União, aos Estados e aos Municípios instituir impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços das entidades sem fins lucrativos (COELHO,2000, p. 92).

b) auxílios e subvenções: correspondem a formas de captação de recurso através da alocação do orçamento geral dos diferentes âmbitos administrativos (estadual, federal e municipal). Destinam as empresas, sociedades de economia mista e organizações privadas sem fins lucrativos que atuem nas áreas de assistência social, médica e educacional (SABO PAES, 2002, p. 475).

Para receber o benefício, as instituições devem cumprir os requisitos previstos na Lei de Diretrizes Orçamentária (Lei nº10.524/2002) nos seus artigos 30, 31 e 32. Os recursos federais são repassados para fundos nacionais que se responsabilizam pela sua distribuição. Os recursos estaduais, por sua vez, são administrados pelo Conselho Estadual de Auxílios e Subvenções.

c) doações e patrocínios: são transferências gratuitas, em caráter definitivo à pessoa física ou jurídica, de numerário, bens ou serviços para a realização de projetos. As duas formas de transferência, doação e patrocínio, se distinguem, pois na primeira é vedado o uso de publicidade para a divulgação do ato e a instituição beneficiária será aquela sem fins lucrativos, e na segunda há uma finalidade promocional e institucional de propaganda e não apenas as entidades sem fins lucrativos podem ser beneficiadas. O

(32)

conceito de doação e patrocínio é importante para determinar as parcelas dedutíveis do imposto de renda devido (SABO PAES, 2002, p. 468/469).

d) contratos e convênios: contrato é todo acordo bilateral de caráter que estabelece obrigações e vantagens recíprocas. A teoria geral dos contratos é a mesma tanto para contratos privados - civis e comerciais - quanto para contratos públicos - contratos administrativos e acordos internacionais. O contrato administrativo se diferencia dos demais pela exigência de prévia licitação e a imposição de cláusulas exorbitantes do Direito Comum. Convênios são acordos firmados por entidades públicas de qualquer espécie, ou entre estas e as organizações do terceiro setor, caracterizados pelo fato das partes apresentarem objetivos comuns. O convênio se distingue do contrato porque no primeiro, os interesses das partes se coincidem, enquanto que no segundo, os interesses das partes se divergem (SABO PAES, 2002, p.478 - 482).

3.5 FINANCIAMENTO DO TERCEIRO SETOR

O terceiro setor pode se auto-sustentar por meio da renda proveniente da venda de serviços ou produtos. Também pode ser mantido por fontes de financiamento procedente dos setores público e privado da sociedade nacional e internacional. Os principais exemplos de doadores são embaixadas, fundações, institutos, empresas privadas, indivíduos, organismos internacionais e órgãos federais, estaduais e municipais.

O Estado obtém benefícios ao financiar as organizações sem fins lucrativos, uma vez que ambos possuem a mesma área de atuação e o terceiro setor administra bens e serviços públicos com maior eficiência e a menores custos. Destacam-se como destino dos recursos públicos, instituições que atuam na área de saúde e, em menor grau, organizações voltadas para crianças e adolescentes e questões de gênero. Esta constatação ressalta o papel do terceiro setor de complementação e, às vezes, de substituição do Estado (HOROCHOVSKI, 2003, p 122.).

Com a reforma estatal, os fundos públicos deveriam ser a principal fonte de financiamento do terceiro setor. Entretanto, o acesso aos recursos do governo se depara

(33)

com problemas como o clientelismo, a grande quantidade de exigências para ser qualificada como OSCIPs, a descontinuidade das política públicas e a falta de transparência na contratação das organizações do terceiro setor por parte do Estado. O mercado também encontra vantagens na parceria com o terceiro setor ao adotar a responsabilidade social. Responsabilidade social corresponde à atuação das empresas privadas no âmbito da sociedade e do meio ambiente, atendendo de forma indireta e em longo prazo aos interesses da empresa. Falconer (2003, p.6) afirma que a "cidadania empresarial"2 é um requisito essencial para assegurar sustentabilidade das empresas por contribuir para a formação de uma imagem positiva da organização, além de proporcionar o crescimento e fortalecimento dos mercados futuros.

Contudo, a captação de recursos junto ao setor privado é dificultada pela falta de tradição do segmento empresarial em investir em ações sociais. Até pouco tempo atrás as organizações do terceiro setor ignoravam as empresas privadas e estas se sentiam desobrigadas de responsabilidades no âmbito social.

Dentro do terceiro setor existe um grupo de organizações que doam recursos para projetos e programas de interesse social desenvolvidos pela sociedade civil. Segundo Falconer e Vilela (2001, p. 16), estas organizações são denominadas, em inglês, de grantmaker e caracterizadas por serem auto-sustentáveis, autônomas e nacionais. As grantmaker estão diretamente ligadas a grupos da elite econômica como empresas, empresários, governo, religiões organizadas e outros. Devido ao seu papel de financiadoras e a sua visibilidade pública, são cortejadas pelas demais instituições do terceiro setor e desempenham uma função importante na sustentação deste segmento, o qual passa a desenvolver sua própria capacidade de geração de recursos.

De acordo com declarações das próprias fundações e entidades empresariais, a qualidade dos projetos supera os problemas relativos aos recursos exigidos pelas organizações que buscam financiamento (CARVALHO, 2002). Lis Hirano (apud CARVALHO, 2002), assistente de programação da Fundação Kellog, aponta como principais entraves para

2 Termo utilizado para designer o papel de responsabilidade social e ambiental das empresas (FALCONER,

(34)

aprovação de projetos a falta de boas idéias, esclarecimento e detalhamento sobre as propostas e, principalmente, o desconhecimento sobre a filosofia das fundações doadoras.

3.5.1 Crise do Financiamento

Como já foi salientado antes, o crescimento do terceiro setor brasileiro vem gerando problemas de sustentabilidade dessas organizações. Como as fontes de financiamento não cresceram, o aumento do número de entidades provocou uma maior concorrência por recursos.

Em palestra recente em Nova York, na Universidade Columbia, o diretor da Fundação Ford, Larry Cox (apud ROSSETI, 2003), afirmou que o crescimento do número de organizações-não-governamentais vai de encontro à diminuição nos recursos. A Fundação Ford, por exemplo, perdeu nos últimos três anos US$ 6 bilhões de seus fundos (que caíram de US$ 15 bilhões para US$ 9 bilhões), devido ao estouro da bolha acionária O terceiro setor da América Latina vem crescendo desde a década de 70, basicamente com o apoio de fundações e organizações internacionais multilaterais. A partir da década de 90, este padrão de financiamento entrou em crise, já que os recursos passaram a ser destinado para o Leste Europeu, África e Oriente Médio, devido aos crescentes conflitos nessas regiões. Damien Harzard (apud BANDEIRA, 2004), diretor regional da ABONG Nordeste 2, afirma que as agências européias chegaram a ser responsáveis por cerca de 80% dos recursos destinados as instituições do terceiro setor brasileiro, sendo que o restante era proveniente do governo e das fundações empresariais.

A jornalista Bia Barbosa (2003), em artigo denominado “Financiadores cortam verbas para ONGs na América Latina”, aborda a crise do financiamento do terceiro setor, concluindo que as agências internacionais perceberam que, à medida que a América Latina se democratiza, há uma consolidação do terceiro setor destes países, passando, inclusive, a influenciar nas políticas públicas. Isso demonstra a capacidade das

(35)

organizações da sociedade civil em conseguir recursos perante o setor privado e o governo nacional, uma vez que seu crescimento na região trouxe uma maior participação nas decisões políticas e o aumento do número de empresas que investem neste setor. A autora também afirma que só os "projetos intersetoriais"3 e as organizações que trabalham com a criação de redes têm vantagens na hora de obter recursos internacionais, uma vez que os benefícios destas ações são ampliados.

Observa-se que, com o crescimento do terceiro setor e a realocação dos recursos provenientes das agências internacionais, a competição entre as organizações da sociedade civil na busca de fontes de financiamento aumentou e a captação de recursos se tornou cada vez mais difícil no Brasil. Com a volatilidade dos financiamentos neste setor, cabe a cada uma das entidades fornecer seus bens e serviços com a maior eficiência possível e expor as suas metas e objetivos, quantificando os resultados. Devido ao aumento da competitividade na busca de recursos, os agentes financiadores passaram a exigir a elaboração de propostas de viabilidade econômico-financeira ou de auto-sustentação, além de indicadores de resultados alcançados.

4 LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DA BAHIA

O Liceu de Artes e Ofício da Bahia é uma instituição que desenvolve ações na área de educação utilizando como instrumento a arte. O Liceu atua no estado da Bahia e tem os adolescentes em situação de vulnerabilidade social como principal público-alvo.

O Liceu foi criado em outubro de 1872 com o propósito de cobrir a lacuna sócio-econômica no contexto do abolicionismo. O propósito era minimizar as desigualdades por meio da oferta de educação, arte e trabalho aos jovens em situação de vulnerabilidade social. A entidade foi fundada por ex-escravos, sob forma de associação, com o objetivo

(36)

de criar uma instituição previdenciária, educacional, profissionalizante e cultural, que repercutisse em melhores oportunidades para seus descendentes (SANTANA, 2005). A historiadora Maria das Graças Leal define o contexto de criação do Liceu:

Na década de 60 do século XIX, a Bahia vivia o início do processo de liberalização do trabalho escravo. Os cativos que foram lutar na guerra do Paraguai voltaram com ideais libertários. O projeto de criar o Liceu atendia esse ideal (apud SANTANA, 2005).

Depois que o império deu permissão às camadas populares de terem acesso à educação, o que até o início do século XIX era admitido apenas para as elites, passaram a existir entidades desta categoria. O imperador Pedro II, influenciado pelos ideais positivistas e liberais, incentivou a abertura de Liceus nas principais capitais. No ano de sua criação, o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia era composto por 178 sócios, em sua maioria artistas, operários, bacharéis, funcionários públicos, médicos e professores. A entidade possuía caráter abolicionista e funcionava por meio de normas rígidas (id., ibid.).

A instituição foi fortemente associada à formação de um mercado profissional através do modelo pedagógico fundamentado na relação mestre aprendiz. O Liceu oferecia ofícios como gráfica, marcenaria e mecânica. O enfoque artístico da organização implicou na criação de obras, exposições e um ambiente favorável a discussões de estética, influenciando na concepção da Escola de Belas Artes (SOLISLUNA..., 2005).

A aceleração dos processos industriais durante o século XX alterou o padrão de trabalho, levando o Liceu a rever o seu modelo pedagógico e atualizá-lo diante da introdução do ensino industrial profissionalizante (id., ibid.).

No ano de 1968, um incêndio atingiu a sede histórica do Liceu, o Paço do Saldanha. O edifício, que teve sua construção iniciada no final do século XVII, é um patrimônio histórico brasileiro, tombado em 1936 pelo Instituto de do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN). O Paço do Saldanha que abrigou o Liceu desde 1875, sediou oficinas produtivas, um museu, uma pinacoteca e uma biblioteca. Vinte anos depois da tragédia, o

(37)

Liceu em parceria com organismos públicos e privados começou um processo minucioso de reconstituição e restauração do famoso imóvel (id., ibid.).

4.1 ORGANIZAÇÃO DO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DA BAHIA

Atualmente, a estrutura do Liceu é composta pela Assembléia Geral Ordinária, pelos Conselhos Administrativo e Fiscal, e pela Administração. Esta última se divide em Superintendências Geral e Operacional, à qual estão subordinados o Centro de Arte e Tecnologia Educacional (CEARTE) e as unidades produtivas, Liceu Artes Gráficas (LAG), Liceu Manutenção e Recuperação Predial (LMRP) e Liceu Móveis e Madeira (LMM)4 (CARVALHO, 2005a).

A Assembléia Geral Ordinária é formada pelos associados que se encontram uma vez ao ano, geralmente no mês de abril, para que os Conselhos Fiscal e Administrativo prestem contas das operações e das ações que foram realizadas no ano anterior. O Conselho Administrativo se reúne quatro vezes ao ano para acompanhar a ações da instituição. Com o objetivo de prestar contas ao Conselho Administrativo das ações que foram realizadas, os gerentes da Superintendência Geral se congregam mensalmente. A Superintendência Operacional, anteriormente denominada de Centro de Apoio e Logística, trabalha junto a Superintendência Geral, dando suporte contábil e administrativo (id., ibid.).

O Liceu dispunha de 706 funcionários em tempo integral em maio deste ano. O número deve-se, especialmente às unidades produtivas. A dificuldade de identificar a quantidade exata de funcionários resulta, principalmente, da alta rotatividade característica da unidade produtiva Liceu Manutenção e Recuperação Predial. Ademais, o Liceu conta com a participação de, em média, 10 voluntários (id., ibid.).

4

As unidades do Liceu possuem dupla natureza, estando divididas em unidades produtivas, completamente desvinculadas de ação social e o CEARTE, centro cultural e educacional que busca o cumprimento da missão social da instituição de educar pela arte.

(38)

4.1.1 Unidades Produtivas

O Liceu sedia atualmente três unidades negociais que geram parte dos recursos que mantêm o Programa Educacional. As unidades produtivas têm moldes empresariais e operam nas áreas de movelaria, artes gráficas e conservação predial, oferecendo serviços e produtos de qualidade e com valor social agregado, pela finalidade sócio-educativa a que se destinam (SOLISLUNA..., 2005).

O Liceu Artes Gráficas (LAG) foi criado em 1878, apenas seis anos após a fundação da organização. A unidade, que dispõe de um parque gráfico atualizado e de uma equipe de profissionais qualificados, oferece produtos editoriais, promocionais, de papelaria, reprografia e encadernação. A sua ação está atrelada as esferas social, educacional e cultural, tendo como principais clientes secretarias, órgãos públicos e instituições culturais, além do segmento empresarial (id., ibid.).

O Liceu Móveis e Madeira (LMM), criado em 1884, vem sofrendo um processo de modernização técnica e gerencial. Além de atender a demanda empresarial por móveis para escritórios, a oficina é uma das maiores produtoras de mobiliário escolar do Nordeste do Brasil (id., ibid.).

O Liceu Manutenção e Recuperação Predial (LMRP), fundado em 1990, oferece uma série de serviços como manutenção preventiva e corretiva, recuperação predial, construção e reforma. Ao longo dos anos acumulou experiência técnica e hoje conta com a demanda do setor público e das empresas (id., ibid.).

(39)

O modelo educacional do Liceu exprime o compromisso de contribuir para a inclusão social de adolescentes e crianças em situação de vulnerabilidade pessoal e social. O Programa Arte, Talento e Cidadania, implementado em 2002, corresponde a uma proposta de educação não-formal de complementação escolar e conteúdo profissionalizante. Estruturada em quatro pilares da educação: aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer, o modelo incita o auto-conhecimento, confiança e a descoberta das potencialidades e promove o convívio social e consciência de cada um como parte da sociedade (SOLISLUNA..., 2003). O Centro de Arte e Tecnologia Educacional (CEARTE) desenvolve e acompanha todos os programas do modelo educacional e também é responsável pela captação de recursos externos.

a) Ações Educacionais: são oferecidas a jovens de escolas públicas e abarcam a Formação de Liderança Jovem, Iniciação nos Ofícios das Artes e Habilitação Artístico-Profissional. O Liceu também oferece serviços a públicos diferenciados através dos Projetos Especiais e da Liceu Escola de Informática (id., ibid.).

A Oficina de Formação de Liderança Jovem tem como propósito a formação de jovens mobilizadores culturais aptos a atuarem como lideranças em suas comunidades e escolas, na expectativa de transformar a realidade local. Os participantes identificam e trabalham com as referências culturais da sua comunidade a fim de promover o fortalecimento desses grupos e motivar a sua atuação na comunidade em projetos de interesse coletivo. Na primeira etapa da oficina são trabalhados conteúdos de natureza social, ética e estética, propondo o desenvolvimento de capacidade para o exercício da liderança. Na sua etapa final, os participantes com acompanhamento técnico-pedagógico colocam em prática o episódio de multiplicação nos bairros (id., ibid.).

Na sua primeira edição, a oficina contou com a parceria do Instituto Credicard. O programa 'Jovens Escolhas em Rede com o Futuro', que o instituto desenvolve com organizações do terceiro setor de três Estados, fundamentou os princípios e a metodologia dessa ação (id., ibid.).

A Iniciação nos Ofícios das Artes tem como objetivo proporcionar aos jovens condições básicas para o ingresso no mercado das artes, cultura, turismo e lazer. A proposta é

(40)

desenvolver a criatividade de cada participante e, com isso, contribuir para a qualificação desses setores (id., ibid.).

A primeira fase da oficina consiste em identificar jovens com potencial para desenvolverem habilidades artísticas. Após a seleção, e de acordo com as aptidões individuais observadas, são iniciadas as oficinas que abrangem: teatro de rua, oficina de preparação de ator, oficina de preparação de dançarino, técnicas de espetáculo (áudio, iluminação, contra-regra), produção cultural, restauração nas áreas de azulejaria, móveis e papel, fotografia, vídeo e design (id., ibid.).

Os Grupos Artísticos, por sua vez, contribuem para que o Liceu disponha permanentemente de companhias de artes cênicas constituídas por jovens artistas capazes de produzir e disseminar coreografias e peças de teatro a diversos públicos. As companhias são: o Grupo de Teatro do Liceu, Grupo de Dança do Liceu e o Grupo de Música do Liceu (id., ibid.).

A seleção de talentos, etapa preliminar da formação dos grupos artísticos, é voltada para adolescentes de escolas públicas que comprovadamente tenham desenvolvido anteriormente atividades artístico-culturais, priorizando aqueles que realizaram alguma introdução nas artes cênicas. A participação nos grupos possibilitará aos jovens talentos definir seus futuros projetos de vida com maior fundamento prático-teórico e a adotar alternativas como o acesso à universidade ou a atuação em grupos artísticos (id., ibid.). A Escola de Informática, criada em novembro de 2000, representa uma alternativa proposta do Liceu ao desafio da inclusão digital. A escola disponibiliza para outros públicos equipamentos e orientação técnica para a iniciação da informática. Essa ação é desenvolvida em parceria com a Comunidade Solidária, a, Rede Jovem e o Comitê para a Democratização da Cidadania (id., ibid.).

b) Ação Cultural: o Liceu apresenta uma vocação cultural comprovada ao longo de mais de um século, estimulado por representar uma alternativa de incremento do mercado da artes, cultura e lazer na Bahia e pela sua localização no centro histórico de Salvador, um pólo cultural ativo. Mesmo produzindo cultura em todas as suas atividades, a organização

Referências

Documentos relacionados

A motivação para o desenvolvimento deste trabalho, referente à exposição ocupacional do frentista ao benzeno, decorreu da percepção de que os postos de

Figura A53 - Produção e consumo de resinas termoplásticas 2000 - 2009 Fonte: Perfil da Indústria de Transformação de Material Plástico - Edição de 2009.. A Figura A54 exibe

xii) número de alunos matriculados classificados de acordo com a renda per capita familiar. b) encaminhem à Setec/MEC, até o dia 31 de janeiro de cada exercício, para a alimentação de

95 Figura 5.41: Resultados de taxa de corrosão obtidos, após 72 horas, nos ensaios estáticos de perda de massa e eletroquímicos executados utilizando amostras sem filme

[r]

ITIL, biblioteca de infraestrutura de tecnologia da informação, é um framework que surgiu na década de mil novecentos e oitenta pela necessidade do governo

Simbiose industrial - análise de como energia, subprodutos e co-produtos são trocados entre empresas, ou seja, o foco maior não é no produto principal de cada empresa,

De seguida, procurámos compreender o impacto dos determinantes na natureza de financiamento e diversidade de financiadores, utilizando, numa primeira fase, a