FISIOTERAPIA EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
Abordagem fisioterapêutica das
Avaliação cinético funcional dos membros superiores
Uma das articulações periféricas mais comumente tratadas nos serviços de
fisioterapias, com certeza é a do ombro. O conhecimento da anatomia, biomecânica e da funcionalidade dessa articulação é de suma importância para se desenvolver uma programa de tratamento eficaz para os pacientes com disfunção do ombro (DONATELLI, 2010).
A articulação também recebe o nome de
complexo do ombro em decorrência de
várias articulações, sendo necessárias para proporcionar o úmero no espaço.
O complexo ombro geralmente é discutido no meio científico como: articulação
Avaliação
O propósito de toda a avaliação é identificar seus sintomas, e determinar a história do seu problema atual, identificar fatores médicos coexistentes que podem afetar tento o problema atual quanto seu tratamento e estabelecer o provável nível de irritabilidade do problema. (DONATELLI, 2010)
Devemos começar com a anamnese completa, depois localizar e descobrir a natureza e comportamento da dor. Não devemos esquecer da avaliação cervical.
A observação tem papel importante e tem base em três componentes: a) Simetria;
b) Postura;
c) Atividades dinâmicas do dia a dia, esportes e atividades de trabalho. (DONATELLI, 2010)
Avaliação
Segundo Donatelli (2010), depois dos movimentos ativos e da observação, o Fisioterapeuta deve experimentar fazer os movimentos passivos, com o objetivo de identificar restrições específicas em cada articulação.
É importante distinguir restrição muscular de restrição de tecido não contrátil. É importante avaliar também o lado não envolvido com o problema. Isso serve de guia para futuro tratamento.
Avaliação do complexo do ombro
Como falado nos slides anteriores, a avaliação do complexo do ombro, bem como de qualquer outra
articulação, inclui elementos subjetivos e objetivos da prática propedêutica e inclui: Histórico da lesão; Inspeção; Palpação; Exame funcional; Testes resistidos; Testes especiais; Exames neurológicos.
A dor
• Início, rápido nas doenças inflamatórias ou agudização de doença degenerativa e insidioso nas doenças degenerativas;
• Localização difusa ou bem definida. Notar que a dor do ombro pode irradiar até ao cotovelo, mas não passa desta articulação, o que pode diferenciar de radiculagia com origem na coluna cervical;
• Relação da dor com os movimentos do ombro. O arco doloroso do ombro é um caso típico de relação com o movimento.
Instabilidade
Segunda queixa mais frequente na patologia do ombro.
Deve-se anotar quando surgiu o primeiro episódio, se este foi traumático e a idade em que surgiu.
No caso de uma luxação do ombro surgida em um jovem, a probabilidade de uma instabilidade recorrente é elevada.
Pesquisar a relação entre os episódios de instabilidade e os movimentos ou gestos desportivos, bem como a interferência que estes factos têm no doente.
Limitação do movimento
Um número significativo de afecções do ombro cursa com limitação dos movimentos.
Procurar relacionar a limitação do movimento com a:
• Dor (comum nas causas inflamatórias e traumáticas);
• Diminuição da força muscular (presente nas doenças neuromusculares); e • Limitação de causa mecânica (como nos casos de ombro congelado,
doença artrósica
Exame físico
Avaliação geral para determinar que procedimentos específicos de observação estão indicados.
O exame das outras articulações adjacentes e uma avaliação da postural global não devem ser esquecidos.
Inspeção
O doente deve ser observado
desnudado da cintura para cima, de modo a observar, globalmente, o ombro e estruturas adjacentes.
Essa observação permite perceber alterações como a observada na figura ao lado, que de outro modo passariam despercebidas.
A avaliação deve ser efetuada de forma a observar as superfícies anterior, lateral e posterior.
Inspeção
Devem ser anotadas as
deformidades da coluna cervical e torácica, com anotação do formato de eventuais deformidades, quer no plano frontal
quer no plano sagital.
Vista Anterior:
É importante observar os pontos de referência ósseos, incluindo a
clavícula, a articulação
esternoclavicular e a articulação acromioclavicular.
Vista anterior
Fonte: ortopedia Dr. Gustavo Borgo Luxação acromioclavicular
Fratura da clavícula
Vista posterior
Observar os pontos de
referência óssea, incluindo a
coluna torácica, a escápula, o
acrômio, a articulação
acromioclavicular e as
estruturas de tecidos moles,
incluindo a parte superior do
músculo trapézio, músculos
supraespinhoso,
infraespinhoso, redondo
maior, redondo menor e
deltoide.
a) Vértice inferior da escapula; b) Bordo medial da escapula; c) Espinha da escapula.
Palpação
Palpação das estruturas e de
referenda óssea, designadamente:
1. A articulação esternoclavicular, despistando se existe dor ou edema; 2. A clavícula, procurando a
existência de deformidades, edema e, eventualmente, mobilidade
normal;
3. A articulação acromioclavicular, com despiste de elevação da
clavícula (sinal da tecla).
Palpação
As estruturas musculares, como:
1. Músculos supraespinhoso; 2. Músculo infraespinhoso; 3. Músculo deltoide.
Estruturas tendinosas, tais como:
1. Tendões da coifa dos rotadores; 2. Longa porção do músculo bíceps braquial.
Avaliação dos movimentos ativos
Fon te: Ma ge e J. Dav id . 2002Goniometria
Elevação ou abdução no plano escapular de 0 a 180⁰
Posição inicial: paciente em pé ou sentado sem apoio nas costas, membro superior junto ao corpo, pendentes, para evitar maior
deslocamento do paciente.
Haste colocada em plano paralelo com o tronco do paciente,
alinhamento da escápula, o fulcro no centro da cabeça umeral.
Goniometria
Extensão do ombro 0 a 50 de ADM
Movimento no plano
sagital, para trás, até
aproximadamente 50°.
Para sua medida, a haste
proximal é colocada na
projeção do tronco, o
fulcro, sobre a cabeça
umeral, e a haste distal, na
projeção do úmero
.Goniometria
Flexão no plano sagital0 à 180⁰
Goniometria
Adução do ombro 0 à 75⁰
O goniômetro é
posicionado
horizontalmente, a haste
proximal perpendicular ao
plano frontal e voltada para
frente.
O fulcro é colocado sobre a
extremidade acromial, e a
haste distal sobre a
Goniometria
Rotação medial do ombro de 0 a 70°de ADM
Fonte: Dr. Fernando Fonseca
Goniômetro posicionado com a haste proximal voltada para frente, em um
plano sagital, o fulcro, abaixo do olecrano, a haste distal, ao longo do eixo do
Goniometria - Rotação lateral do ombro 0 a 90°de ADM
Ombro a 90°de abdução e cotovelo a 90° de flexão e palma da
mão paralela ao solo (0°), pede-se ao paciente para rodar o
antebraço para cima.
Vai de 0 a 90°.
Movimentos globais do
complexo do ombro
Podemos começar pelos movimentos
escapulotorácicos.
O paciente deve ficar em Decúbito
lateral (DL), figura ao lado.
Fazer mobilização nas direções crânio
caudal e anteroposterior.
Fonte:Sou za Z . Ma rcial, 2001
Movimentos globais do
complexo do ombro
Ainda em DL, devemos
fazer a mobilização
passiva da escápula para
verificar se existe
alguma aderência da
mesma.
Ritmo Escapulotorácico
A avaliação do ritmo escapulotorácico é de grande importância para verificar algumas patologias do complexo ombro.
Hoje é de conhecimento que a síndrome do impacto, discinese escapular, tem relação direta com a alteração do ritmo escapular.
O ritmo deve ser iniciado pela medida, em centímetros, da distância entre o ângulo inferior da escápula e o processo espinhoso ao mesmo nível (T7 ou T8). Fon te : Sou za Z . Marci al, 20 01
Deslizamento cranial da articulação esternoclavicular Deslizamento caudal Deslizamento posterior
Artrocinemática - movimentos acessórios
A avaliação dos movimentos acessórios ou jogo articular são necessários para a boa funcionalidade da articulação.
Se qualquer movimento do jogo articular for constatado ausente, ou diminuído, este movimento deve ser restaurado antes de qualquer movimento voluntário funcional possa ser completamente
realizado (MAGEE, 2002).
Os testes para os movimentos do jogo articular, na maioria das vezes, é
semelhante às utilizadas na restauração da mobilidade normal em casos de
restrição. (SOUZA, 2001). Fon te: Sou za Z . Ma rcial, 2001
Artrocinemática - movimentos acessórios
Deslizamento anterior e posterior Articulação acromioclavicular
Deslizamento anterior
Artrocinemática - movimentos
acessórios
Deslizamento
posterior gleno
umeral
Deslizamento inferior
Artrocinemática - movimentos acessórios
Deslizamento lateral
Fonte: Souza Z. Marcial, 2001
Capsulite adesiva do ombro
A capsulite adesiva do ombro (CAO) ou ombro congelado é, entre as síndromes dolorosas do ombro, a que mais tem suscitado controvérsias, tanto do ponto de vista diagnóstico como terapêutico.
Segundo Ferreira Filho (2005), isso se deve aos aspectos ainda obscuros da sua etiopatogenia, à sua historia natural, às características clínicas semelhantes às da distrofia simpaticorreflexa e à sua associação com
doenças aparentemente sem relação direta com o ombro (SESCAD, 2014).
É uma doença similar à doença de Dupuytren, que afeta mais mulheres entre os 40 e os 60 anos com um quadro clínico de dor, limitação de movimento, distúrbio do sono e depressão (LECH, 2004).
Capsulite adesiva do ombro
Existe discordâncias se o processo patológico subjacente à CA é uma condição inflamatória
ou relacionada à fibrose.
Dutton (2010) afirma que há
evidências significativas apoiando a hipótese de que a mudança
patológica subjacente à CA seja a inflamação sinovial com subjacente fibrose capsular, dependendo do estágio da doença.
• Anatomopatologia e etiopatologia
Figura: a) cápsula norma e b) cápsula inflamada. Fonte: bristbane Knee and Shoulder clinic ,2015.
Capsulite adesiva do ombro
Segundo Osvandré Lech, essa alteração patológica ainda não é
bem conhecida.
Obs. Alterações no sistema nervoso autônomo podem estar
envolvidas.
Acompanhado a angiogênese, há evidências de crescimento
de uma nova formação de nervo no complexo
capsuloligamentar de pacientes com CA, o que pode explicar a
resposta de dor aumentada.
Capsulite adesiva do ombro
• Acentuada neoformação vascular subjacente; • Áreas de proliferação fibroblástica;
• Deposição de colágeno;
• Alterações degenerativas da matriz colágena da cápsula articular; • Moderado infiltrado linfo-histocitário.
Obs: A fibrose e a retração precoce do ligamento coracoumeral, que preenche os espaços entre os tendões do supraespinhal e do
subescapular, são fatores importantes na limitação da rotação externa do úmero (FERREIRA FILHO, 2005; JOSPT, 2013).
Capsulite adesiva do ombro
• O desencadeamento biológico (inflamação,
proliferação, fibrose e remodelação) e da fibrose
consequente é desconhecido, embora seja
Capsulite adesiva do ombro
A classificação da dor e da incapacidade do ombro tem como
objetivo a correta intervenção e informação do prognóstico.
Duas classificações são propostas na literatura:
1. Médica – proposta por Zucherman, que classificou a CA em
primária/idiopática ou secundária
2. Fisioterapeutas – baseada no nível de irritabilidade.
Capsulite adesiva do ombro
Primária – caracterizada por uma
perda idiopática, na qual não é possível identificar a causa
desencadeadora ou a doença associada, progressiva e dolorosa dos movimentos ativos e passivos do ombro., em particular da
rotação externa, o que faz o
indivíduo limitar gradualmente o uso do braço (SESCAD, 2014). Representa cerca de 25% dos ombros congelados.
• Classificação
Secundário – é consequência de
uma patologia conhecida e pode influenciar o prognóstico da lesão. Por exemplo: os indivíduos com CA relacionada ao diabetes
dependente de insulina têm o curso da doença mais prolongado e difícil, fraturas viciosas.
Capsulite adesiva do ombro
Diabetes
Doenças autoimunes
Tiroidepatias
Doenças degenerativas da coluna cervical
Doenças intratorácicas (pneumopatias)
Infarto agudo do miocárdio
Doenças intracranianas
Doenças psiquiátricas
Capsulite adesiva do ombro
Quatro estágios
da CA, estão no
quadro ao lado.
• Estágios
Fonte: sescad,2014.Capsulite adesiva do ombro
A CA pode ser confundida com muitas outras patologias e seu diagnóstico pode ser por exclusão, o que, por muitas vezes, retarda o tratamento e prejudica o paciente.
O quadro ao lado mostra uma comparação entre CA e
instabilidade Glenoumeral
(GU) e Síndrome do Impacto.
• Diagnóstico diferencial
Capsulite adesiva do ombro
O RX simples é normal.
A artrografia é um bom exame para verificar a
integridade do manguito e o volume articular
(geralmente diminuído).
Capsulite adesiva do ombro
A intervenção da CA pode ser feita por meio de
tratamento conservador – cinesioterapia para ganho
de ADM, terapia manual, mobilização articular,
liberação miofascial e pontos de gatilho, e
modalidades terapêuticas – e intervenção cirúrgica.
• Intervenção
Capsulite adesiva do ombro
Intervenções múltiplas têm
sido descritas em pesquisas
para tratamento da CA
(KELLEY et.al., 2013), e estão
emergindo evidências de alta
qualidade sobre essas
intervenções, como
demonstram as diretrizes de
práticas clínicas para CA do
JOSPT.
• Tratamento conservador
Fonte: Lech O. Fundamentos em Cirurgia do Ombro, Ortopedia e Reabilitação.