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A formação de professores(as) e os direitos humanos da criança e do adolescente: uma pesquisa intercultural em um jornal do interior do RS - ano de 2017

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO. João Loredi Lemes. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) E OS DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: Uma pesquisa intercultural em um jornal do interior do RS - ano de 2017. Santa Maria, RS 2018.

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(3) 3. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) E OS DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: Uma pesquisa intercultural em um jornal do interior do RS - ano de 2017. João Loredi Lemes. Dissertação apresentada à banca examinadora e ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.. Orientador: Prof. Dr. Valdo Barcelos. Santa Maria, RS, Brasil 2018.

(4) 4. Ficha catalográfica elaborada através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Central da UFSM, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).. ______________________________________________________________________ © 2018 Todos os direitos autorais reservados a JOÃO LOREDI LEMES. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte. E-mail: jlemes964@gmail.com.

(5) 5. Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação. A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, Linha de Pesquisa 1: Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) E OS DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: uma pesquisa intercultural em um jornal do interior do RS - ano de 2017 elaborada por João Loredi Lemes como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. COMISSÃO EXAMINADORA:. Santa Maria, julho de 2018.

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(7) 7 DEDICATÓRIA Dedico aos pais: Tomaz Albino Lemes (in memorian) e Elvira Chaves Lemes (in memorian). Dedico à professora Rosane Vontobel Rodrigues (in memorian), que tanto me incentivou e acreditou.. À esposa Suzana Lemes. É um orgulho ter vivido estes 30 anos ao teu lado. Você é a razão maior de minha existência, assim como meus filhos Fagner, Fernanda e João Henrique. E se, por vezes, fico triste, é porque não sei aquilatar a imensa alegria que sinto ao redor de ti, por isso, é preciso levar sufocos do próprio mestre destino para enxergar que sou o homem mais feliz de Santiago.. Aos filhos Fagner, Fernanda e João Henrique. Se existo, existo por vocês. Se amo, amo vocês, Se eu vivo, vivo por vocês..

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(9) 9. AGRADECIMENTOS Cumpro aqui um dever com minha consciência de agradecer a dois dos maiores mestres que conheci: Giovani Pasini e Valdo Barcelos. Vocês me deram a mão quando eu ainda estava no senso comum, pensando que sabia. Hoje, se eu sei que pouco sei ou nada sei, foi graças à visão que tenho do mundo, a qual ficou bem destapada por seus ensinamentos e por suas posturas frente às pessoas, não importando elas quem sejam nem de onde vieram. Hoje, ao chegar aqui, percebo que sei de onde vim e onde estou. Com este estudo e com vocês, começo a ver para onde vou. Agradeço também aos demais amigos-irmãos do grupo Kitanda (Santa Maria), em especial, ao Rafael Friedrich, ao Élvio de Carvalho e à Sandra Maders, sábias pessoas que se mostraram incansáveis quando o assunto era um auxílio ao novo marinheiro no mar do conhecimento. Agradeço à equipe do jornal Expresso pela compreensão em minhas ausências.. Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação, em especial: Valdo Barcelos e Helenise Sangoi. Agradeço à UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, especialmente ao CENTRO DE EDUCAÇÃO e ao Programa de Pós-Graduação em Educação por terem contribuído para a minha formação. Agradeço, por final, à minha mais amada irmã que o mundo me empresta. Seu nome: Sandra Siqueira. Agradeço à nora Kamila Frizzo, dedicada jovem que não nega ajuda. Agradeço ao genro Rogério Tusi, pelo apoio, e ao cunhado Ânderson Taborda, pelo incentivo..

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(11) 11. ―Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.‖ (Nelson Mandela).

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(13) 13. RESUMO Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Educação Universidade Federal de Santa Maria A FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) E OS DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: uma pesquisa intercultural em um jornal do interior do RS - ano de 2017 AUTOR: João Loredi Lemes ORIENTADOR: Prof. Dr. Valdo Barcelos Local e data da defesa: Santa Maria, 20 de julho de 2018. Este trabalho de Dissertação de Mestrado é um estudo sobre alguns dos maiores problemas enfrentados pelos(as) Educadores(as), que advêm do envolvimento com crianças e adolescentes que sofrem maus-tratos, seja na sociedade, na escola ou na própria família. Esta dissertação, pautada na Linha de Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional – LP1 (PPGE - UFSM), vinculada ao Grupo Kitanda, é voltada para a Formação de Professores(as) pois entendo que a atividade docente deve ser revisada para que se possa construir ou aperfeiçoar o caminho. Como bem descreve o poeta Thiago de Mello, ―não tenho um caminho novo; o que eu tenho é um jeito novo de caminhar‖ (BARCELOS, 2009). Julgo que uma pesquisa como esta contribuirá para que os educadores possam refletir a partir do posicionamento social da atualidade e ter um novo olhar sobre seus próprios educandos(as). Esta é, portanto, uma reflexão crítica acerca dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, analisando essa representação para a sociedade do interior do RS por meio das notícias publicadas no jornal Expresso Ilustrado em 2017. Também há uma investigação a respeito dos pressupostos da interculturalidade e da sua influência para as interações pedagógicas contemporâneas, tendo como referência teórica o trabalho do escritor e pesquisador Humberto Maturana (MATURANA, 2011), com base em seu estudo sobre a Biologia do Amor. De posse de tais reflexões, enveredo para uma aproximação entre as diferenças culturas para diminuir a desigualdade, contribuindo para a formação de cidadãos cada vez mais éticos e humanizadores. Assim, busquei atuar para melhor direcionar o agir docente, tendo em vista que os professores(as) são os detentores(as) de uma função-chave nesse campo social. A influência de tais achados e suas análises, por certo, deverão contribuir para as novas imagens docentes e à formação contínua de professores(as), com foco na educação do século XXI, numa perspectiva intercultural e de respeito ao cidadão. Palavras-chave: Formação de Professores, Criança e Adolescente, Direitos Humanos, Educação Intercultural..

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(15) 15. RESUMEN Disertación de Máster Programa de grado en la Educación Universidad Federal de Santa María LA FORMACIÓN DE LOS PROFESORES(THE) Y LOS DERECHOS HUMANOS DE EL NIÑO Y DEL ADOLESCENTES: Una intercultural de investigación en un periódico del interior de RS - año de 2017 AUTOR: João Loredi Lemes ORIENTADOR: Prof. Dr. Valdo Barcelos Local y fecha de la defensa: Santa María, 20 de julio de 2018. Este trabajo de Dissertation del máster, es tratado de un estudio sobre algunos de los problemas más grandes enfrentados por los educadores(el), que ocurren de la participación con niños y adolescentes que sufren el infortúnio. Los tratamentos están en la sociedad, en la escuela o en la familia propia. Esta disertación, esta en la línea de la formación, saberes, y el desarrollo profesional. LP1 (PPGE - UFSM) es volcada para la formación de profesores, porque tengo entendido que la actividad educativa debe ser cambiado con el propósito de que puede construir o mejorar el camino. Como bien describe al poeta Thiago de Mello, no "Tengo un nuevo camino; uno que tengo es una nueva manera de caminar" (en: BARCELOS, 2009). Determino que una investigación como esto contribuirá con el propósito de que los educadores puedan contemplar empezar del emplazamiento sociable del tiempo actual y para tener una mirada nueva del sus propios estudiantes(el).Ésta es, por tanto, una reflexión crítica con respecto a los derechos humanos del niño y del adolescente, examinando esa representación para la sociedad del interior de RS por medio de las noticias de el periódico (Expresso Ilustrado), año de 2017. También hay una investigación respecto a las presuposiciones del interculturalidade y su influencia para las interacciones pedagógicas contemporáneas, tomando el autor e investigador Humberto Maturana como la referencia teórica (MATURANA, 2011), con la base en su estudio sobre la biología del amor. De la propiedad de tales reflexiones, pienso lograr un enfoque entre los culturas de diferencias para reducir la desigualdad, contribuyendo a la formación más ética y humanizadora de los ciudadanos. De este modo, yo tengo buscado para actuar para mejor abordar el desempeño educativo, porque los profesores(el) tienem una función fundamental en este campo social. La influencia de esos descubrimientos y sus análisis, sin duda, deben aportar a las nuevas ideas educativas y la formación permanente de los profesores(el) con el enfoque en la educación del XXI de siglo, en una intercultural de perspectiva y del respeto para el ciudadano. Plabras clave: Formación de Profesores, Hijo y Adolescente, Derechos Humanos, Educación entre culturas..

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(17) 17. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1262, 3 fev. 2017 ............................ 21 Figura 2 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1270, 11 abr. 2017 .......................... 25 Figura 3 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1266, 10 mar. 2017 ......................... 33 Figura 4 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1305, 08 dez. 2017 ......................... 94 Figura 5 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1305, 08 dez. 2017 ......................... 95 Figura 6 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1297, 13 out. 2017 .......................... 99.

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(19) 19. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA....................................................................... 21 1.1 QUESTÃO DA PESQUISA ................................................................................. 23 1.2 OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................ 24 2. REFERENCIAL METODOLÓGICO ...................................................................... 25 2.1 MERGULHANDO NA PESQUISA ...................................................................... 28 3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 33 3.1 PRESSUPOSTOS DA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL .................................... 35 3.1.1 A educação e seu diálogo com outras áreas do conhecimento ................ 40 3.1.2 Por que a educação é a maior especificidade humana? ............................ 43 3.1.3 Educar é amar, amar é educar ...................................................................... 45 3.1.4 Somos seres legítimos em nossas diferenças e individualidades............ 46 3.1.5 Da "descoberta da infância" até os dias atuais .......................................... 47 3.1.6 O que de fato se pode entender por cultura?.............................................. 49 3.1.7 Proposta Intercultural .................................................................................... 52 3.2 DIREITOS HUMANOS ........................................................................................ 55 3.2.1 Direitos Humanos: afinal, por que ainda é preciso explicar? .................... 55 3.2.2 A bondade e a justiça estão no ato de pensar ............................................ 58 3.2.3 Tortura, prática criminosa que ainda resiste ao tempo e às leis ............... 60 3.3 OS DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..................... 62 3.3.1 O Brasil está entre os mais violentos .......................................................... 67 3.3.2 Crianças e adolescentes estão entre a maioria das vítimas de estupro ... 68 3.3.3 Santiago teve 31 inquéritos de abuso sexual de crianças desde 2014 ..... 70 3.3.4 Violência na infância é um mal que o sujeito leva para toda a sua vida ... 70 3.3.5 Formas de violência contra crianças e adolescentes ................................ 72 3.3.6 A violência gerada pelo viés da competição e da opressão ...................... 75 3.4 TEORIAS SOBRE OS ―GATILHOS‖ DA VIOLÊNCIA ......................................... 77 3.4.1 Cultura Patriarcal, raiz da competição e da violência ................................ 79 3.4.2 A fonte dos conflitos ..................................................................................... 81 3.4.3 Qual a possível solução para mudar essa realidade? ............................... 83 3.5 DEMOCRACIA, PRODUTO DO NOSSO EMOCIONAR INFANTIL MATRÍSTICO ............................................................................................................ 85.

(20) 20 3.6 AMOR: AFINAL, QUE SENTIMENTO É ESSE E QUAL SUA IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO? ...................................................................................................... 87 4. ANÁLISE DE RESULTADOS ............................................................................... 93 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS (conclusão e abandono) ...................................... 105 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 107 ANEXO A – PESQUISA SOBRE VIOLÊNCIA NO JORNAL EXPRESSO ILUSTRADO – ANO DE 2017 ................................................................................ 111.

(21) 21 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA. Figura 1 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1262, 3 fev. 2017 Fonte: Jornal Expresso Ilustrado (2017).. Esta dissertação, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), configurase como requisito à obtenção do título de Mestre em Educação. Intitulada A FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) E OS DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: uma pesquisa intercultural em um jornal do interior do RS - ano de 2017 foi desenvolvida partindo das conversações estabelecidas na Linha de Pesquisa 1: Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional. A origem desta dissertação remete à minha experiência de 30 anos como jornalista, sempre presenciando e noticiando fatos relacionados aos Direitos Humanos dos jovens, mais especificamente da criança e do adolescente, e à interculturalidade dos povos das regiões Central, do Alto Uruguai, Missões e Fronteira Oeste. Durante a minha vida, percebi que a única forma de mudar um povo para melhor é pela educação. Compreendi, também, que a Educação Intercultural é um instrumento básico para esse avanço. Uma criança que enfrenta violações de seus direitos essenciais (como moradia, alimentação e segurança) pode ter dificuldades educativas e, por conseguinte, também poderá não ser um cidadão bem preparado para conviver em sociedade..

(22) 22 Conforme o apresentado pela juíza Cátia Paula Saft1, da Vara da Infância e da Juventude do município de Horizontina, toda criança que sofre maus-tratos é uma candidata natural a ser um adulto que também incorra em maus-tratos contra seus semelhantes. Outra constatação da magistrada é que, a maioria dos casos de violência contra os vulneráveis, parte de quem deveria zelar por eles, ou seja, o delito acontece no próprio lar. O interesse no tema Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, relacionado com a Educação Intercultural, surgiu por vivenciar, na minha infância, violações de direitos essenciais para qualquer cidadão. Ainda muito pequeno, fui entregue para adoção, sendo submetido quase que à própria sorte. Aos quatro anos, a família ficou sem o provedor do lar, que era meu pai, o qual fora assassinado. Assim, meus irmãos e eu fomos "doados" a estranhos e rumamos para lugares mais estranhos ainda. Como adotado, fui crescendo com exemplos de violência, humilhações, privações de afeto e de calor humano. Já na fase adulta, em plena função de jornalista, registrei tudo em livro, no qual relato um pouco da minha história de leitor inveterado, jornalista que trabalhou em alguns jornais e, posteriormente, fundou o seu próprio periódico. Creio que esses experimentos reais e pessoais tenham me auxiliado na tarefa de retratar a vida e as nossas comunidades. Tudo o que passei acabou sendo um trampolim para a educação, já que me agarrei a todas as chances que surgiram e consegui a formação acadêmica em Letras/Licenciatura.2 Do jornalismo tirei lições essenciais e tento compartilhá-las hoje na sala de aula com meus alunos e com os próprios leitores de minhas crônicas em jornais ou livros. Sinto que posso colaborar muito para a formação de professores(as). Um dos caminhos escolhidos foi justamente este: uma pesquisa científica num periódico do interior do Rio Grande do Sul, sobre como aparecem as notícias e sua relação com os Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, procurando verificar qual a situação do imaginário social sobre o tema na tentativa de diminuir a invisibilidade de tal assunto para os(as) professores(as). Com isso, procurei contribuir para um maior embasamento aos 1. Palestra ministrada no Centro de Educação da UFSM, no dia 19 de maio de 2016, na disciplina Seminário Avançado de Direitos Humanos, Intercultura e Educação, sob a coordenação do Prof. Dr. Valdo Barcelos. 2 Curso realizado na Universidade Norte do Paraná (UNOPAR/Polo Santiago, em 2015)..

(23) 23 professores, profissionais fundamentais para o avanço social e evolutivo dos educandos(as). Este estudo baseia-se, portanto, em fatos envolvendo os Direitos Humanos da Criança e do Adolescente registrados no jornal Expresso Ilustrado, de Santiago - RS, um veículo que há 25 anos entra nos lares mais diversos de 12 cidades da região Central e da Fronteira Oeste. Nesta dissertação, para efeito da pesquisa, a seleção de estudo de notícias foram as veiculadas no ano de 2017. Acredito que o período selecionado, por ser um ano completo e próximo da nossa atualidade, já forneceu informações necessárias para a pesquisa. Julgo que uma pesquisa como esta contribui para que os educadores(as) possam refletir a partir do posicionamento social da atualidade e, por consequência, ter um novo olhar sobre seus próprios educandos(as), muitas vezes, quase invisíveis à maioria. Para evitar essa invisibilidade, é necessária uma reflexão desse agente ―sobre si, sobre seu estar no mundo, associada indissoluvelmente à sua ação sobre o mundo‖ (FREIRE, 1983, p. 16). Ao sentir a situação desses jovens mais vulneráveis, verificando de forma mais amiúde suas vivências, seus sentimentos e carências, os professores(as) poderão potencializar seu preparo, tendo um excelente respaldo para uma educação mais aprimorada e ajustada à realidade de sua região.. 1.1 QUESTÃO DA PESQUISA. Levando em conta a introdução, propus o seguinte Problema de Pesquisa para o Mestrado em Educação, na Linha de Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria: Como uma pesquisa em Direitos Humanos, principalmente da Criança e do Adolescente, em um periódico do interior do Rio Grande do Sul, poderá contribuir para a Formação de Professores(as) de maneira geral, sob a perspectiva. da. Educação. Intercultural. com. (re)desconstrução do pensar e do agir docente?. o. olhar. voltado. para. a.

(24) 24 1.2 OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS. Contribuir com subsídios teóricos e epistemológicos para a Formação de Professores em geral, utilizando a perspectiva da interculturalidade, com base em uma pesquisa realizada num periódico do interior do Rio Grande do Sul, denominado jornal Expresso Ilustrado, por intermédio da análise científica de notícias relacionadas ao assunto, publicadas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2017. Para atingir esse objetivo geral de pesquisa, propus os seguintes momentos de investigação, considerados como Objetivos Específicos: 1. Investigar e refletir criticamente a respeito dos pressupostos da interculturalidade e da sua influência para as interações pedagógicas contemporâneas, analisando sua contribuição epistemológica para a educação; 2. Investigar e refletir criticamente sobre os Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, analisando essa representação para a sociedade do interior do RS; 3. Averiguar as notícias publicadas no jornal Expresso Ilustrado, no ano de 2017, tendo o foco na análise dos Direitos Humanos e da Educação Intercultural; 4. Examinar as influências desses desdobramentos às novas imagens docentes e à formação contínua de professores(a), com foco na educação do século XXI, numa perspectiva intercultural e de respeito ao cidadão..

(25) 25 2. REFERENCIAL METODOLÓGICO. Figura 2 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1270, 11 abr. 2017 Fonte: Jornal Expresso Ilustrado (2017).. Esta Dissertação teve como objetivo aprofundar as investigações sobre as contribuições teóricas e epistemológicas para a Formação de Professores(as) em geral, a partir dos preceitos da Educação Intercultural, utilizando a perspectiva dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente como estrutura para uma pesquisa científica sobre as notícias publicadas no jornal Expresso Ilustrado, no ano de 2017, que tenham o enfoque social. Trata-se, portanto, de uma pesquisa do tipo qualitativa, de cunho bibliográfico e de perspectiva epistemológica. Tal projeção está em acordo com a proposição metodológica de que a pesquisa nas ciências sociais é de caráter eminentemente qualitativo (MINAYO, 1989; DEMO, 1990). Ainda sobre a linha de pesquisa qualitativa e sua abordagem, Minayo (1989, p. 27) nos diz que ela ―(...) responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado‖. O referencial que orientou o olhar investigativo e reflexivo do investigador (BARCELOS, 2013) no sentido da produção das informações de pesquisa (GAUTHIER, 1998), foi o estabelecimento de reflexões sobre a educação intercultural (CANCLINI 2003, BHABHA 2010, RIBEIRO 2012, BARCELOS 2007, 2013, FLEURI 1998) com a relação intrínseca dos Direitos Humanos, além das.

(26) 26 representações e imaginários sobre as questões de formação de professores (FREIRE 1980, 1982, 1983, 2001, 2005; MATURANA 1997, 2003, 2008, 2009ab; BARCELOS 2007, 2009, 2016). A investigação, na formação de professores(as), caminhou para a aproximação do emocional, pois, segundo Bauer e Gaskell (2014), não existe quantificação sem qualificação, pelo que concordo que não há análise estatística sem interpretação humana das informações (BAUER, GASKELL, 2014, p.24). Portanto, a qualidade da pesquisa em educação reside mais no conceito descritivo do que no experimental. A diferença se inicia mesmo com os verbos descrever e experimentar. O método escolhido – qualitativo – se aplica às relações, representações, crenças, percepções, opiniões, ou seja, pode ser constituído acerca das interpretações que um indivíduo, ou grupo de indivíduos, faz(em) a respeito do mundo em que vivem, de acordo com seus sentimentos e emoções. Importa, assim, a historicidade do envolvido na pesquisa, direta ou indiretamente. Cabe destacar, que essa abordagem qualitativa se comporta melhor nas investigações de grupos delimitados, focalizados, o que é o caso da presente Dissertação, além de se encaixar melhor para a análise de discursos e de documentos. Ela permite o aprofundamento em processos sociais referentes a segmentos particulares, propiciando a construção de novos enfoques ou da revisão de antigos procedimentos. Caracteriza-se pela empiria alicerçada em bibliografia de referência, favorecendo a compreensão lógica da sistemática interna de um grupo e pela consequente sistematização progressiva do estudo e do conhecimento (MINAYO, 2008). Toda a pesquisa social empírica seleciona evidência para argumentar e necessita justificar a seleção que é a base da investigação, descrição, demonstração, prova ou refutação de uma afirmação específica. A orientação mais elaborada para selecionar a evidência nas ciências sociais é a ―amostragem estatística aleatória‖ (cf. KISH, 1965). A competência da amostra representativa é inconteste. Em muitas áreas de pesquisa textual e qualitativa, contudo, a amostra representativa não se aplica. Como selecionar pessoas para uma pesquisa com grupos focais? Temos intenção, de fato, de representar uma população através de quatro ou cinco discussões com grupos focais? Infelizmente, até agora não se deu a tal assunto suficiente atenção. Na prática, os pesquisadores muitas vezes tentam justificar o racional de uma amostragem que parece distorcida, como se fosse a escolha de uma falsa analogia (BAUER; GASKELL, 2014, p. 39, grifo nosso)..

(27) 27 A pesquisa tratou de um trabalho investigativo-qualitativo com dois momentos. Cada momento teve uma base teórica e processual, assim distribuídos:. 1º Momento: conjunto de procedimentos para gerar o corpus teórico da Dissertação, com a realização de pesquisas bibliográficas sobre os principais temas em pauta, em materiais publicados e referenciados: Educação Intercultural, Direitos Humanos e Formação de Professores(as).. 2º Momento: conjunto de procedimentos para gerar novas informações e sistematizar as obtidas a partir do corpus. Nesta fase a pesquisa detalha as notícias publicadas no jornal Expresso Ilustrado, no ano de 2017, sob o enfoque da Educação Intercultural e dos Direitos Humanos, ressaltando a forma como as notícias são veiculadas para a sociedade. A análise temática compreende, segundo Minayo (2008), a pré-análise (1), exploração do material (2), tratamento dos resultados obtidos (3) e interpretação (4). A pré-análise (1) foi a fase inicial da análise de documentos a partir da retomada das proposições e dos objetivos iniciais da pesquisa. Ela pode ser dividida em leitura flutuante, que significa tomar contato direto e intenso com o material de campo, deixando-se impregnar pelo seu conteúdo, relacionando as hipóteses iniciais e as emergentes, para deixar a leitura mais sugestiva; constituição de corpus, que corresponde à distribuição do material de forma que responda. às. normas. de. avaliação:. exaustividade,. representatividade,. homogeneidade e pertinência; e formulação e reformulação de hipóteses e objetivos, que se refere à retomada da etapa exploratória e descritiva, tendo como parâmetro a leitura exaustiva do material e as indagações iniciais. Nesta fase pré-analítica, determinei a unidade de registro (palavra-chave ou frase), a unidade de contexto (a delimitação do contexto de compreensão da unidade de registro), os recortes, a forma de categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos mais gerais que orientaram a análise. A exploração do material (2) correspondeu ao momento em que as informações foram trabalhadas para melhor esclarecimento do texto. A análise temática trabalhou com partes do texto como, por exemplo, uma palavra, uma.

(28) 28 frase, um tema, depois defini as regras de contagem e em terceiro lugar classifiquei e agreguei as informações. Por fim, o tratamento dos resultados obtidos (3) e interpretação (4), que foram os momentos em que analisei as informações brutas, realizando a sua interpretação, inter-relacionando com o quadro teórico desenhado inicialmente ou abrindo novas pistas em torno de novas dimensões teóricas, sugeridas pela leitura do material.. 2.1 MERGULHANDO NA PESQUISA O escritor Mário Osório Marques (1997) ensina em "Escrever é Preciso" O Princípio da Pesquisa - que toda a boa conversa começa por algo não tão importante, que só serve para engendrar a prosa. E se o maior desafio da conversa é começá-la, o maior desafio da pesquisa e da escrita também é o mesmo. (...) é só escrevendo que se escreve. Não se trata de preparar-se para o escrever. É ele ato inaugural, começo dos começos. Para engatar a sério uma conversa é preciso, como quem nada quer, puxar por ela sem muita pressa em chegar ao assunto determinado. Para proveitosamente saber o que ler é preciso saber onde o escrever chegou e por onde pretende andar caminhos que se fazem andando. Depois, assunto puxa assunto, conversa puxa conversa, escrever puxa leituras que puxam o reescrever (MARQUES, 1997).. Mário Osório diz ainda que a tarefa de escrever nunca é algo finito, assim como a pesquisa. Para cada resultado outros tantos são necessários e assim por diante. O escrever, diz ele, é o princípio da pesquisa, tanto no sentido de por onde deve ela iniciar sem perda de tempo, quanto no sentido de que é o escrever que a desenvolve, conduz, disciplina e a faz fecunda. Na verificação de Osório, na pretensão inicial é que se revela a pesquisa, sempre num escrever centrado em determinado tema sob a forma de hipótese capaz de guiá-lo. É bom lembrar, ainda, que, embora se pesquise temas e forma de hipótese, temos que ter bem clara a nossa intenção de trabalho; "Quem não sabe o que procura, quando encontra não se apercebe." (MARQUES, 1997)..

(29) 29 Um dos ensinamentos que julgo é que nossa base de pesquisa nunca deve seguir linha reta, não deve se basear somente em determinados filósofos, tampouco partir para o trabalho com respostas prontas, já que o caminho da pesquisa é traçado no próprio andar dos estudos, ou seja, é preciso lançar-se na busca pelos resultados sem ideias prévias do que serão esses resultados. Seguindo essa linha, podemos nos basear no filósofo alemão HansGeorg Gadamer (1997), quando ele vem nos dizer que não se deve fazer perguntas retóricas, aquelas cujas resposta já soubemos de antemão. Ainda, pelo viés desse filósofo, é de suma importância dar-se conta de que a própria descrição já é uma interpretação da realidade. Pelos fundamentos de Gadamer (1997), a Filosofia tem o papel de interpretar nossa existência e nós temos o papel de interpretar as necessidades de quem nos cerca para lhes proporcionar uma vida melhor, já que, segundo Gadamer, cada um de nós é um hermeneuta, um pesquisador. E pela pesquisa vamos construindo e desconstruindo tudo. Não que se queira chegar a uma verdade absoluta, o que seria uma utopia, queremos, isso sim, é entender nosso semelhante e fundirmos horizontes para somarmos experiência, já que nos parece que estes são alguns dos principais objetivos da vida. "Como uma experiência está ela própria dentro da totalidade da vida, a totalidade da vida também nela está presente" (GADAMER,1997, p. 261). Sempre que se lança a um trabalho de pesquisa partimos de alguns conhecimentos prévios peculiares ao ser humano. Conforme Gadamer, a nossa forma de interpretação do mundo está alicerçada no que já sabemos do próprio mundo. Assim, a cada fato novo é preciso remontar nossos preconceitos, refazer esquemas mentais para tentar entender o que se apresenta. Esse exercício, ensina Gadamer, é o que diferencia um experimento estético do experimento científico de laboratório. Na experiência estética, cada novo acontecimento é uma. experiência. com. resultados. dos. mais. diversos. e. imprevisíveis,. diferentemente da experiência de laboratório onde cada um pode chegar ao mesmo resultado, à mesma verdade, basta ter as mesmas fórmulas..

(30) 30 2.2 EM BUSCA DE VERDADES. Cada trabalho de pesquisa que tentamos fazer, parte de uma pergunta, de uma dúvida, de uma inquietação. Pode ser até de uma hipótese. E por falar em hipótese, cabe aqui rememorar os achados de Michel Foucault (1979) e de tantos outros mestres da filosofia. Por mais que se persiga e tente desvendar a verdade, ela nunca nos surgirá absoluta. Michel Foucault defende que a verdade é uma invenção. O que existe são discursos que funcionam como verdadeiros, os quais a sociedade aceita. Isso porque, a verdade é regida por relações de poder que estabelecem critérios de validade e legitimidade. Logo, o que essa mesma sociedade acaba nos dando são hipóteses parciais e temporárias do que pode ser verdadeiro ou falso. Então, o gênio nos faz enxergar que não temos muito a descobrir simplesmente porque não há uma "verdade a ser descoberta", apenas há a "política do verdadeiro‖. O filósofo francês René Descartes (2011), também questiona as verdades. Ele chama a atenção para o perigo da ilusão e culpa os nossos próprios sentidos por nos enganar. Descartes julga que não devemos aceitar nada como verdadeiro ou dado. Em vez disso devemos deixar de lado ideias preconcebidas para poder alcançar uma posição de conhecimento. "É necessário que pelo menos uma vez na vida você duvide o que for possível de todas as coisas." (DESCARTES, 2011). A filosofia fornece inúmeros críticos dessa verdade, sempre alertando para a capacidade que temos de nos iludir. Outro francês, o pensador Blaise Pascal, escreveu que a imaginação dispõe de tudo. Ela nos produz beleza, justiça e o produto mais valioso do mundo; a felicidade. Pascal não quer, contudo, elogiar a imaginação. O que ele ensina é que se tenha cuidado com esses pensamentos para evitar equívocos. De certa forma, o britânico John Locke, 2011 corrobora com essa descrença em verdades postas ao dizer que o conhecimento de nenhum homem pode ir além de sua experiência, dando total ênfase também à importância da investigação científica. Diante do exposto, devemos nos ater que a melhor maneira de se aproximar um pouco mais da verdade é pela pesquisa. Ela nos dá respostas, nos acalma ao mesmo tempo em que movimenta nossas ideias e crenças. A pesquisa nos.

(31) 31 desloca da zona de conforto, já que o conformismo nos tira a capacidade de pensar, evidência maior do que se chama "estar vivo". Então, é preciso investigar muito e empunhar dados para dialogar, debater, construir e desconstruir tudo na árdua busca pela construção das nossas próprias versões de verdades..

(32) 32.

(33) 33 3. REFERENCIAL TEÓRICO. Figura 3 - Notícia, Santiago, RS, edição n. 1266, 10 mar. 2017 Fonte: Jornal Expresso Ilustrado (2017).. Um dos maiores sonhos do homem foi o de voar. Não distante disso, quando eu era criança, a minha principal diversão era me deitar pensando em voar e, assim, poder sonhar que estava voando. E se lá pelas tantas eu me visse em apuros, com perseguições etc., pensava dentro do próprio sonho: para que o desespero, se eu posso voar? Então, sacudia os braços e saía voando. Pronto! Situação perigosa resolvida. Depois de mais crescido, descobri que muitas outras crianças também gostavam de sonhar com voos. Também descobri que na fase adulta, alguns ainda seguem sonhando com os voos, enquanto que alguns já estão voando. E eu, que brincava de viver em apuros no mundo dos sonhos, hoje me vejo em apuros na vida real. Por isso, queria voltar a sonhar, voltar a voar... Pelo menos nos sonhos, os apuros eram de mais fácil resolução. Mas se na infância bastava pensar nos voos antes de adormecer para conseguir meu intento, hoje eu penso e repenso a vida para que ela me dê condições de resolver os conflitos e, na melhor das hipóteses, aprender com eles. Talvez não consiga voar como fazia nos sonhos de infância, porém, sei que um voo mais real é possível. Descobri esse segredo naquele bendito dia em que parti para os caminhos da educação. Portanto, convido você a tomar lugar nesse.

(34) 34 meu voo rumo à tentativa de construir um meio educacional mais qualificado, humanizado e amoroso. O célebre antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1995) escreveu que um livro nunca é finalizado pelo autor. A obra é simplesmente "abandonada" por ele. Darcy disse isso certamente absorvido pela ideia de que é muito difícil traduzir em palavras tudo o que aprendemos e vivenciamos durante a nossa vida. Portanto, digo que este trabalho dissertativo também foi "abandonado" em determinado ponto. Todavia, diferentemente do livro de Darcy Ribeiro, minha pesquisa deverá prosseguir em algum determinado ponto da minha vida, em busca de outros voos. Como ensinava o grego Aristóteles (apud. WESCHENFELDER, 2014. p.59), tudo na vida é prática. Só se aprende a tocar, tocando; a cantar, cantando; a pintar, pintando; a construir, construindo... Só se aprende a cair, caindo e só se aprende a acertar, errando. Quem não começa, não aprende, não faz. Portanto, o melhor é fazer, errar, recomeçar, reinventar, acertar para encontrar em tudo o tão buscado ponto de equilíbrio. Assim, esta dissertação de mestrado nada mais é que um estudo para o nosso próprio aprendizado com a educação e para a educação. Aprendemos uma arte ou ofício fazendo as coisas que teremos que fazer quando a tivermos aprendido. Exemplo: homens se tornam construtores construindo casas e se tornam tocadores de lira tocando lira (...) nos tornamos justos realizando atos justos (...), corajosos realizando atos corajosos (WESCHENFELDER, 2014, p.59).. Na sociedade, os grupos humanos dialogam, escrevem e educam-se. A cultura influencia a educação e vice-versa. As notícias veiculadas em mídias impressas contribuem para a interação da sociedade e, consequentemente, para a formação dos(as) professores(as). O principal obstáculo para a construção da dialogicidade entre os indivíduos é a sua diferença, pautada em questões culturais bem específicas e particularizadas, ocasionando possíveis conflitos, oriundos dessa relação entre distintos. Nesse sentido, a educação intercultural apresenta alternativas essenciais para a análise e o consequente avanço dos processos educativos, com maior agilidade e em menos tempo..

(35) 35 3.1 PRESSUPOSTOS DA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL. 3. ―O homem está no mundo e com o mundo‖ (FREIRE, 1983, p. 30). Se o homem estivesse apenas no mundo, não haveria transcendência e não interferiria na história deste mundo. Não poderia objetivar-se e, por consequência, não conseguiria distinguir entre um e o outro. A contemporaneidade trouxe para a humanidade o afastamento das rígidas singularidades de ―classe‖ ou ―gênero‖ como categorias conceituais e organizacionais básicas (BHABHA, 2010). As antigas posições de referência do sujeito – raça, geração, profissão, localidade geopolítica, orientação sexual, entre outros – tiveram uma inovação estrutural num espaço temporal de poucas décadas, em virtude dos grandes avanços científicos, sociais e tecnológicos do final do século XX (fin de siécle) e início do XXI (HALL, 2006). A diversidade dos anos 2000 colocou-nos num momento de trânsito, na qual surgiram complexas diferenças culturais que favoreceram a solidificação do conceito de ―entrelugares‖ (BHABA, 2010). O humano, além dos limites e fronteiras, formou-se um sujeito no ―entre-lugar‖ do tempo e do espaço. No sentido macro, proposta desta pesquisa, entendemos que a educação do novo milênio deve estar permeada por estudos que envolvam a cultura a partir de intersecções, numa perspectiva que adote o entrelaçamento cultural, em que a própria cultura é vista como entre-lugar. Um grande desafio é colocarmos a educação em contato com a cultura local e global, privilegiando o saber ―local‖ (BARCELOS, 2013), a partir do qual se torna intrínseca a valorização. das. relações. e. interações no. estudo. das. culturas. –. a. interculturalidade – sempre focada na diversidade e no respeito ao outro. Os próprios conceitos de culturas nacionais homogêneas e das tradições históricas extremistas estão num profundo processo de redefinição. O extremismo odioso e a identidade nacional pura, bem como a psicose de um fervor patriótico ufanista, tiveram um enfraquecimento com a globalização das comunicações e a facilidade da mobilidade humana (BHABHA, 2010). 3. Para a pesquisa da Educação Intercultural, nos basearemos em diversos autores, dispostos em ordem alfabética, tais como: Darcy Ribeiro, Eduardo Galeano, Homi K. Bhabha, Humberto Maturana, Nestor Canclini, Octávio Paz, Paulo Freire, Raul Fornet-Betancourt, Reinaldo Fleuri, Ricardo Astrain, Sérgio Buarque de Holanda, Stuart Hall e Valdo Barcelos..

(36) 36 Para poder falar mais sobre educação, muito tenho estuado a respeito de Paulo Freire, que foi um dos maiores pedagogos e filósofos brasileiros, considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial; o homem que influenciou o movimento chamado Pedagogia Crítica. Freire ficou conhecido pelo sucesso do método de alfabetização de adultos, o qual desenvolveu um pensamento pedagógico político, pois ele dizia que o objetivo maior da educação é o de conscientizar o aluno. Esse "conscientizar" de Freire estava voltado às parcelas desfavorecidas, as quais o educador tentava fortalecer e alertar sobre a real situação para que, assim, esses alunos pudessem agir em favor da própria libertação. Seu trabalho começou a aparecer nos fins dos anos 50 e começo da década de 60. Foi neste período que o educador idealiza a educação popular e realiza as primeiras iniciativas de conscientização política do povo em nome da emancipação social, cultural e política das classes oprimidas. Embora sua metodologia dialógica tenha disso considerada subversiva pelo regime militar, fazendo com que Freire ficasse anos no exílio e até fosse preso, nada o intimidou. Decorrido seu retorno ao Brasil, seguiu com sua missão educativa. A vasta obra de Freire é estudada até hoje. A principal delas é a Pedagogia do Oprimido (1970). Paulo Freire condenava o ensino oferecido pela maioria das escolas em que o professor apenas passa conhecimento aos alunos, enquanto estes se mantêm receptivos, dóceis, acreditando que o saber seja uma doação dos que se julgam seus detentores. Esse modelo de escola, segundo Freire (1970), só aliena, não forma, não ensina, não prepara. O que ele queria, então, era despertar a consciência dos oprimidos, matando a curiosidade dos educandos e despertando neles o espírito investigador e a criatividade, já que a função educacional não é a de acomodar os alunos ao mundo, mas a de inquietá-los. Como se observa claramente, Freire era contra a ideia de que ensinar é transmitir saberes. Para ele, a missão do(a) professor(a) é possibilitar a produção de conhecimentos. Era fixo na ideia de que, ao mesmo tempo em que ninguém ensina ninguém, as pessoas também não conseguem aprender sozinhas. Por isso, Freire dizia que o educador(a) deve promover o acesso aos conteúdos, mas não como verdade absoluta. E dizia: - Os homens se educam entre si mediados pelo mundo..

(37) 37 O professor e escritor Miguel Arroyo considera que um dos pontos mais fortes e politicamente avançados de Freire foi a valorização da cultura, das memórias, dos valores e saberes, da racionalidade e das matrizes culturais e intelectuais do povo, contrapondo-se à lógica de que era necessária a inferiorização de uns para garantir a dominação de outros. Na educação, essa radicalidade implica em enfrentamentos, daí a razão da ferrenha perseguição que sofrera. Arroyo diz que existe a ideia de que nós, cultos, racionais, conscientes, vamos fazer o favor de, através da educação, conscientizar o povo; para Freire (1970) não se tratava de conscientizá-los, moralizá-los, mas de reconhecê-los como sujeitos de outra pedagogia, capazes de dialogar com essas culturas, identidades e histórias. O que caracteriza a nossa história é não reconhecer os indígenas, os negros, os pobres, os camponeses, os quilombolas, os ribeirinhos e os favelados como sujeitos humanos‖, condena Arroyo. Em sua análise, essa crença serviu, ao longo da história, como justificativa ideológica para que as classes dominantes escravizassem e espoliassem esses setores sociais. ―Tudo isso a partir de uma visão de que somos o símbolo da cultura, civilidade e os outros a expressão da subhumanidade, subcultura, imoralidade." É isso que nos acompanha ao 4 longo da vida e Paulo Freire se contrapôs a isso, inverteu esse olhar.. A nossa leitura do mundo precede a leitura da palavra (FREIRE, 2006). Antes mesmo de analisarmos qualquer letra, realizamos a compreensão e leitura do mundo. O homem se comunica desde os remotos desenhos realizados no interior das cavernas à contemporânea conversação via chat da era da internet. A língua é para o homem um sistema de códigos que faz com que a sociedade humana possa se organizar e dialogar os seus conhecimentos por meio das ideias e opiniões. A fala é a ferramenta essencial do educador(a), que a utiliza como. ―instrumento‖. em. qualquer. reciprocidade. de. conhecimentos.. A. personalidade se constrói, portanto, pela interlocução, pela relação verbal entre sujeitos, formando um contexto social e histórico (FREIRE, 1980). Uma das propostas da interculturalidade é poder criar espaços de reflexão educativa sobre os contextos sociais e culturais que nos envolvem, 4. Centro de Referências em Educação Integral. Associação Escola Aprendiz. Disponível em: http://educacaointegral.org.br/reportagens/paulo-freire-em-seu-devido-lugar. Acesso em 09 de set. 2017..

(38) 38 buscando um diálogo intercultural; uma educação que contemple a diversidade cultural e os seus entrecruzamentos (BARCELOS, 2013). Educar5 exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural do povo do qual se faz parte. Concordo com a ótica de Barcelos (2013), onde existe a proposta da reflexão sobre uma educação nos trópicos. A educação intercultural, foco do pensador do séc. XXI é fundamentada no respeito à cultura estranha (estrangeira, além-limite, diversa), nunca na sua dominação. Podemos citar como exemplo, a dominação feita pelos espanhóis e portugueses sobre os reprimidos ameríndios. Respeitar o outro não é nada mais do que compreender as diferenças. O choque intercultural poderá ocorrer, portanto, de inúmeras formas: por sermos de locais diversos (cidades ou países), ou de tempos distintos (idade). O intercultural significa, basicamente, ―entre culturas‖. Educar-se, dessa forma, é ampliar os horizontes da própria caminhada. O mundo da atualidade sofre inúmeras mudanças. Uma dessas transformações é a grande mobilidade das pessoas. Movimento este que se deve aos mais paradoxais motivos, sendo um dos argumentos utilizados por autores contemporâneos para justificar parte das grandes transformações pelas quais passam as nações criadas no espaço político e cultural da modernidade ocidental. Esta questão se tornou um cenário planetário. O continente europeu passa por uma avalanche de migrantes e de imigrantes das várias nacionalidades, dos diversos continentes. Se nos voltarmos para o continente latino-americano, por exemplo, a circulação de pessoas é, também, muito intensa (BARCELOS, 2013). Esta pesquisa é, portanto, uma tentativa de aproximar as diferentes culturas por intermédio de um estudo sob a perspectiva da interculturalidade, num periódico de ampla circulação6, com o objetivo final de contribuir para a formação de professores(as). Com isso, abriu-se à possibilidade da troca epistemológica e do diálogo empírico, com a consequente transformação das atitudes e, posteriormente, da própria cultura. 5. Nesse momento a palavra “educar” deve ser entendida no sentido amplo, dos currículos formais até a educação não formal, fora da escola. 6 Jornal Expresso Ilustrado, com sede em Santiago, RS..

(39) 39 Esse lugar de entrecruzamento, de intersecção, é denominado por Bhabha (2010) como o “lugar fronteiriço”. A fronteira é composta de valores e costumes de um lugar como os do outro, ou seja, é no lugar fronteiriço que ocorrem os encontros com o estranho, o estrangeiro, o desconhecido, proporcionando a experiência do ―além-limite‖. Tudo o que é novo causa um sentimento de ―estranho‖. Assustar-se com o ―nunca visto‖ reside no fato de que a maioria dos conhecimentos está fora da gente. Por mais estudioso que um humano seja, por mais que se esforce em aprender, ele sempre será surpreendido pelo desconhecido. Neste momento, a sensação que percebemos nos conceitos da educação intercultural é denominada como ―estranhamento‖ (BHABHA, 2010). Neste sentido, Canclini (2003) dissertou sobre a hibridação: ―processos socioculturais, nos quais estruturas ou práticas discretas que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas‖ (CANCLINI, 2003), ou seja, a troca entre as diferentes culturas se torna cada vez mais intensa na atualidade em virtude do mundo globalizado em que vivemos. Uma forma de oposição às antigas relações binárias7 entre os sujeitos. Canclini (2003), além de debater o conceito de hibridação, nos leva a refletir sobre o direito que as culturas possuem de hibridar-se ou não. Portanto, sua discussão extrapola o entendimento conceitual, abrangendo os ―processos de hibridação‖: Considero atraente tratar a hibridação como um termo de tradução entre mestiçagem, sincretismo, fusão e outros vocábulos empregados para designar misturas particulares. Talvez a questão decisiva não seja estabelecer qual desses conceitos abrange mais e é mais fecundo, mas, sim, como continuar a construir os princípios teóricos e procedimentos metodológicos que nos ajudem a tornar este mundo mais traduzível, ou seja, convivível em meios a suas diferenças, e a aceitar o que cada um ganha ou está perdendo ao hibridar-se (CANCLINI, 2003).. A hibridação ocorrida nas relações entre culturas diferentes, ou mesmo as diferenças dentro da mesma cultura, corroboram para os Direitos Humanos.. 7. Homi Bhaba (2010) também coloca as relações binárias, tomando como exemplo: passado e presente, interior e exterior, sujeito e objeto, significante e significado. Segundo ele, tais concepções ficam restritas a uma dualidade, sem atentar para o aspecto científico presente em diversas outras dimensões..

(40) 40. 3.1.1 A educação e seu diálogo com outras áreas do conhecimento Conforme o padre e escritor Alir Sanagiotto, a palavra educar vem do latim e significa "tirar para fora". Assim, a educação é um processo que deve acontecer de dentro para fora da pessoa (SANAGIOTTO, 2006, p.111). Creio que tenha sido esse o fenômeno que ocorreu comigo. Desde que me inseri nos caminhos da literatura, da filosofia e da educação, venho sentindo que há muito em mim para ser repartido e que, principalmente, a mudança com o meu ser vem acontecendo de dentro para fora, isso graças aos anos de estudos ao lado de grandes mestres como Valdo Barcelos e Giovani Pasini. Com meus mestres aprendi e aprendo que a cada dia precisamos nos tornar melhores, mas não melhores que os outros, melhores como pessoas, melhores que nós mesmos para com os outros. Em minhas leituras, madrugadas afora, tenho buscado formas de contribuir, formas de ajudar minha gente. E foi numa dessas leituras que aprendi a seguinte lição dada por Beda, conhecido também como Venerável Beda, monge inglês que viveu nos mosteiros de São Pedro, em Monkwearmouth, e São Paulo, na moderna Jarrow, nordeste da Inglaterra: Beda escreveu que há três caminhos para o fracasso. Um deles é não passar aos outros aquilo que se aprende. O outro é não praticar aquilo que se ensina. Por fim, Beda diz que é um erro grave não questionar sobre aquilo que se tenha dúvida. Nesta proposta para a formação de professores(as) está enraizada minha experiência, embasada por muitos estudos e pautada em meus anos de jornalismo. Está respaldada nos ensinamentos de Paulo Freire (2014), o qual defende as ideias de se formar mestres libertadores, como declara em seu livro "Miedo y Osadía" (FREIRE, 2014). É de domínio público que a experiência pode e deve ser usada na educação. No meu caso, na formação de professores(as). É de fundamental importância compreender que a formação do professor começa antes mesmo de sua formação acadêmica e prossegue durante toda sua vida profissional. Neste contexto, deve ser lembrado que o futuro professor já chega aos cursos de formação profissional com imagens introjetadas sobre a função da escola e da educação e sobre o papel do professor. Assim, os estudos sobre a formação de professores devem aliar as experiências acadêmicas e profissionais dos docentes com suas experiências pessoais, no sentido de captar como vão sendo instruídos valores e atitudes em relação à profissão e à educação e geral (SANTOS, 1995, p. 25-26)..

(41) 41. Ao longo dos anos, muitos foram os estudos científicos sobre educação. Centenas de teóricos vêm tentando melhorar os métodos de ensino, assim como milhares de professores buscam o mesmo em sala de aula. O objetivo é formar cidadãos melhores, mas não melhores uns que os outros; melhores como pessoa, como bem ensinou Paulo Freire (2016) aquele que foi um dos mais conceituados professores e pesquisadores em educação do Brasil e do mundo. Freire (2016) vem nos dizer que está cansado dos fatalistas, que no mundo todo só dizem que nada vai dar certo. Os do Brasil, por sua vez, dizem que há muita gente passando trabalho, sendo escravizada, e que a 40 milhões de homens, mulheres e crianças passando fome. Ao entender de Freire, essas são pessoas que não acreditam no poder da transformação pela educação, desconhecem o fato de que a revolução por dias melhores deve ser constante. Um(a) professor(a) que realmente pensa numa educação de qualidade deve ser dotado de uma postura crítica, despertando em seus educandos a necessidade. de. mudar. essa. realidade. para. que. todos. consigam. verdadeiramente serem sujeitos da história e não alguém que se deixa influenciar por fatalistas descrentes no poder do ensino e da transformação. Freire (2016) ensinou que a finalidade da educação é a de libertar-se da realidade opressiva e da injustiça social. A educação busca a libertação, a transformação radical do jeito que é educado e que educa também, tornando-se a "ser mais". Ela busca a transformação da realidade para melhorá-la, para torná-la mais humana, para permitir que os homens e as mulheres sejam reconhecidos como sujeitos da sua própria história e não como objetos. Uma educação deve ao mesmo tempo preparar para um juízo crítico das alternativas propostas pelas elites e dar possibilidade de escolher o próprio caminho (FREIRE, 2016). Segundo Freire (2016), existe uma coerência fundamental entre os princípios e a ação do(a) educador(a). Sua concepção de educação nos revela que ela pode ser uma abertura para a história concreta e não uma simples idealização da liberdade. Para Freire, a educação é uma prática da liberdade, um ato de conhecimento na abordagem crítica da realidade e devemos estar todos conscientes disso. Conforme Freire, uma das características do homem é ser o único a ser homem. Só ele tem a capacidade de distanciar-se do mundo..

(42) 42 Somente o homem pode ficar longe do objeto para admirá-lo e, assim, poder criar uma consciência sobre ele (FREIRE, 2016). Freire (2016) explica que educação é conscientização e conscientização é um teste da realidade. Quanto mais nos conscientizamos, mais "desvelamos" a realidade, já que a conscientização não consiste num "estar diante da realidade", assumindo uma posição falsamente intelectual. E a realidade só pode ser modificada se o homem descobrir que pode, e que pode ser por ele. Portanto, é preciso fazer dessa conscientização o objetivo fundamental da educação. Para Freire (2016), a conscientização é engajamento histórico, uma consciência histórica e implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. A conscientização então é isso: apossar-se da realidade. Quanto mais conscientes nós somos, sobretudo pelo engajamento de transformações que assumimos, mais denunciadores nos tornamos. Refere-se, Freire, às mazelas que oprimem os mais fracos. Freire. ensina. que,. para. ser. válida,. toda. a. educação. deve. necessariamente ser precedida por uma reflexão sobre o homem e uma análise do contexto de vida concreto do homem. Na ausência dessa reflexãoconscientização, corre-se o risco de adotarmos procedimentos que reduziriam o homem à condição de objeto. Para ser válida, a educação precisa ajudar o homem a partir de tudo o que constitui sua vida, para que se torne sujeito. Em outras palavras, a educação só é válida se conseguir estabelecer uma relação dialética com o contexto social no qual o homem está enraizado (FREIRE, 2016, p.67).. E por onde mais o homem pode se tornar sujeito a não ser pelas relações? A partir das relações, ele estabelece com seu mundo as condições de criar, recriar, decidir... Portanto, a educação, nos princípios freireanos, é o instrumento indispensável que prepara homens e mulheres de forma autêntica, tendo em mente que a educação liberta, não molda, não domestica, não subjuga. Uma educação libertadora realmente ajuda o homem fazer a história, faz com que esteja inserido no processo histórico e não permite que ele seja conduzido por ela. Como mostram vários estudos, a educação não pode ter esse nome se não estender seu olhar sobre essas cenas para dialogar com todos esses.

(43) 43 "invisíveis" e, assim, entender seu mundo na tentativa de melhorá-lo. Por essas razões que se deve lançar mão de pesquisas que consigam nos fazer entender, como disse Freire: que ―a realidade não é assim‖. É necessário um arranque para que fujamos do lugar e do senso comum e, nos servindo de metodologia científica qualitativa, venhamos a compreender melhor esse universo que nos cerca.. 3.1.2 Por que a educação é a maior especificidade humana? ―Educação é uma descoberta progressiva de nossa própria ignorância‖ (Voltaire, filósofo francês).. Freire (1970) diz que se pode ter a ingenuidade de supor que a educação decidirá os rumos da história. Contudo, ele diz que é possível afirmar que a educação verdadeira, ao que chama de ―educação como prática da liberdade‖, conscientiza as contradições do mundo humano e que impelem o homem a ir adiante. "As contradições não lhe dão mais descanso e tornam insuportável a acomodação". (FREIRE, 1979). Paulo Freire (2016) ensina que nós sempre vemos o mundo por meio de nossa prática concreta, por meio de nossa responsabilidade. Então, cada vez que somos capazes de expressar a beleza do mundo, quando temos condições de modificá-lo para melhor ou para pior, para mais bonito ou para mais feio, nos tornamos seres éticos. E é justamente isso que nos revela o processo educativo. Ele é, sobretudo, ético, um processo que nos exige constantes mostras de seriedade e responsabilidade. Segundo Freire (2009), homens e mulheres, enquanto seres históricos, são seres incompletos, inacabados. Mas esse inacabamento não é exclusivo da espécie humana. Abarca também cada espécie vital neste mundo, pois a vida é inacabada porque faz parte de um mundo sempre em movimento, sempre em transformação. Prossegue Freire (2009) afirmando que nós, homens e mulheres, em determinado momento da história, fizemos algo além do ato de meramente viver: colocamo-nos de pé e passamos a usar as mãos para fazer outras coisas. Mais.

(44) 44 tarde, descobrimos essa coisa maravilhosa que foi a invenção da sociedade e a criação da linguagem, o que nos levou a nos dar conta do ato de pensar, dando razão à existência humana. É aí que reside toda a radicalidade da experiência humana, é aí que reside a possibilidade da educação, já que se compreende que a educação é uma especificidade humana. Ainda, segundo Freire, só pela educação poderemos dar voz às anônimas gentes sofridas, às gentes exploradas, às gentes oprimidas. Para se ter paz é preciso buscá-la por meio da educação e, por conseguinte, por meio das denúncias contra quem oprime essas vítimas. Portanto, ele não crê em uma educação sem essas denúncias contra as injustiças sociais. Freire (2008) ensina que uma das boas qualidades de um professor(a) é a de dar seu testemunho aos alunos de que a ignorância é o ponto de partida da sabedoria e que o fato de cometer equívocos não é um pecado, mas uma parte do processo do conhecimento, pois o erro nada mais é do que o momento de busca pelo saber. Una de las buenas cualidades de um professor, de una profesora, es darles testimonio a los alumnos de que la ignorância es el punto de partida la sabeduría, que equivocarse no es un pecado, sino que forma parte del proceso de conocer (FREIRE, 2008, p.65).. Entre as lições de Freire está a de que ele amava a comunhão entre os povos ao se declarar uma pessoa extremamente carente, dizendo que essa era uma virtude sua: a necessidade pelos outros e de que não se bastava a si mesmo e entendia que os outros também necessitassem dele. Por meio do saber, compreendemos que somos incompletos e que os outros animais também o são, porém, só o homem é que tem essa consciência. Freire (2008) explica que o fato de sermos inacabados nos permite a percepção do outro. A educação nos traz as condições e estímulos necessários para desenvolver o outro. Tudo porque, é a consciência do mundo que cria a minha consciência e assim vamos fazendo a nossa leitura do mundo e entendendo a nossa posição nele..

(45) 45. 3.1.3 Educar é amar, amar é educar Segundo Barcelos (2016), é preciso inserir-se nos diferentes ambientes de relações para, assim, conseguir a condição necessária para a realização de projetos comuns aos demais parceiros. Em outras palavras: a educação necessita de um encontro comum, em especial, de um espaço de partilhamento de emoções comuns. Barcelos (2016) exemplifica: a criança precisa de um espaço educativo em que a emoção comum seja o amor ao outro. Portanto, é esse mesmo amor que fará com que aceitemos o outro bem como ele é e não da maneira como queremos que seja. A criança precisa crescer em um espaço em que o brincar aconteça de uma maneira natural, que tenha validade em si mesma e não de maneira organizada pelos adultos em busca de propósitos externos, visando resultados estabelecidos a priori. Para dar embasamento a esses ensinos é que cito uma historieta que se passou numa de nossas tantas escolas. Certa vez, a turma toda de uma classe de Educação Infantil faltou à aula, com exceção de um aluninho apenas. A professora, desanimada diante da ausência dos demais coleguinhas, disse àquele aluno que, na falta dos outros, só lhes cabia brincar. Assim que ela se dirigiu à porta dizendo que iria apanhar os brinquedos, a criança então argumentou: ―pra que a senhora vai buscar brinquedos? Vamos só brincar!‖. Dessa forma, fica fácil de perceber que a criança não precisa de tantos brinquedos criados pela modernidade, ela precisa de liberdade e de amor. Isso é tão verdade que se deixarmos uma sala ou em qualquer outro ambiente um grupo de crianças que nunca se viram, bastam 10 minutos para que todas comecem a brincar, e sem ter brinquedo algum à disposição. Ninguém sabe que mistério é esse, tampouco como elas decidem tão rapidamente o tipo de brincadeira que contemple a todas. Quanto ao jovem adolescente, sabe-se há de muito que são sujeitos que constroem sua história de uma forma diferenciada. Eles também são muito diferentes dos adultos na forma de pensar, de agir e de vestir. As angústias, medos, desejos, perspectivas são mais perceptíveis nessa idade (Barcelos 2016). Por óbvio, o tratamento a eles também deve ser diferenciado. É hora de começarmos a reverter o pensamento quase universal de que a juventude é um momento, algo que serve apenas de transição à fase adulta. É hora de.

Referências

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