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A Fundação Ford e o fomento para instituições estratégicas e lideranças acadêmicas no Brasil : análise sobre a parceria com a Fundação Getúlio Vargas

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EDNÉIA SILVA SANTOS ROCHA

A FUNDAÇÃO FORD E O FOMENTO PARA INSTITUIÇÕES ESTRATÉGICAS E LIDERANÇAS ACADÊMICAS NO BRASIL: ANÁLISE SOBRE A PARCERIA COM A

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

CAMPINAS 2015

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NÚMERO: 335/2015

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

EDNÉIA SILVA SANTOS ROCHA

“A FUNDAÇÃO FORD E O FOMENTO PARA INSTITUIÇÕES ESTRATÉGICAS E LIDERANÇAS ACADÊMICAS NO BRASIL: ANÁLISE SOBRE A PARCERIA COM A

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS”

ORIENTADOR(A): PROF(A). DR(A). CRISTINA DE CAMPOS

TESE DE DOUTORADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTORA EM POLÍTICA CIÊNTÍFICA E TECNOLÓGICA

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE/DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA EDNÉIA SILVA SANTOS ROCHA E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. CRISTINA DE CAMPOS.

CAMPINAS 2015

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Cássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Santos-Rocha, Ednéia Silva,

Sa59f SanA Fundação Ford e o fomento para instituições estratégicas e lideranças acadêmicas no Brasil : análise sobre a parceria com a Fundação Getúlio Vargas / Ednéia Silva Santos Rocha. – Campinas, SP : [s.n.], 2015.

SanOrientador: Cristina de Campos.

SanTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

San1. Filantropia. 2. Ordem social. 3. Assistência social. 4. Elites (Ciências sociais). I. Campos, Cristina de,1974-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The Ford Foundation and the promotion for strategic institutions and academic leadership in Brazil : analysis of partnership with Getulio Vargas Foundation

Palavras-chave em inglês: Philanthropy

Social order Social assistance Elites (Social sciences)

Área de concentração: Política Científica e Tecnológica Titulação: Doutora em Política Científica e Tecnológica Banca examinadora:

Cristina de Campos [Orientador] Camila Carneiro Dias Rigolin Flávia Luciane Consoni de Mello Leda Maria Caira Gitahy

Maria Gabriela Silva Martins da Cunha Marinho Data de defesa: 09-03-2015

Programa de Pós-Graduação: Política Científica e Tecnológica

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Aos meus filhos: Gabriel Santos Leati pelo amor, pela paz e por ser minha eterna inspiração. E ao Pedro por todas as alegrias que está proporcionando à minha vida. Ao Eder por ter permanecido ao meu lado, me incentivando a percorrer este caminho e estendendo sua mão amiga em todos os momentos dessa jornada.

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“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.” Antoine de Saint-Exupéry

Desafio tão grande quanto escrever a tese, foi me restringir em apenas uma página para agradecer. Mesmo que a palavra "obrigada" signifique tanto, não expressará por inteiro o quanto essas pessoas foram importantes para o desenvolvimento desta pesquisa.

Minha eterna gratidão à minha orientadora, Professora Cristina de Campos, pois desde 2011 quando realizei a disciplina ‘História Social da Ciência e da Tecnologia’ senti sua empolgação em colaborar com minha pesquisa. Agradeço imensamente por sua paciência, colaboração, comprometimento, rigor científico e amizade. Sua colaboração foi determinante para concretização dessa tese.

Meus respeitosos agradecimentos às Professoras Gabriela Marinho e Leda Gitahy pelo profissionalismo e por todas as contribuições em minha qualificação, colaborando para consolidação do fio condutor da tese.

Manifesto minha gratidão à Professora Flávia Consoni por todas as contribuições para elaboração do projeto dessa tese durante as disciplinas de Seminários do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPC&T). E à professora Camila Rigolin obrigada por aceitar nosso convite e pelas valiosas sugestões na melhoria deste trabalho.

Estendo meus agradecimentos aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação do Instituto de Geociência, especialmente à Valdirene e à Gorete. Obrigada pela prontidão e apoio!

Obrigada aos companheiros de jornada acadêmica: Jean, Gabriela, Giovana, Renan, Vinícius, Ana Paula e Mônica, pelo companheirismo e apoio durante essa importante jornada.

Agradeço minhas queridas amigas Consuelo, Tamie, Vanessa, Márcia, Milena Brito e Angela, pela companhia, amizade e ajuda inestimável.

Expresso minha gratidão ao meu filho Gabriel pela paciência e apoio. Peço-lhe perdão por todos os momentos de ausência, que foram dedicados a concretização desse sonho.

Agradeço imensamente aquele que me encoraja em todos os aspectos da minha vida, meu eterno amor Eder. Obrigada por tudo! Sua confiança, amor e companheirismo me deram forças para seguir esse caminho.

Por fim, agradeço em especial àqueles que sempre me apoiaram incondicionalmente, que apostaram em mim e que seguramente são os que mais compartilham da minha alegria: minha amada família, especialmente minha mãe Jessi.

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" O tempo muito me ensinou: Ensinou a amar a vida, Não desistir de lutar, Renascer na derrota, Renunciar às palavras e pensamentos negativos, Acreditar nos valores humanos, E a ser otimista. Aprendi que mais vale tentar do que recuar, Antes acreditar do que duvidar, Que o que vale na vida, Não é o ponto de partida e sim a nossa caminhada." Cora Coralina

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

A FUNDAÇÃO FORD E O FOMENTO PARA INSTITUIÇÕES ESTRATÉGICAS E LIDERANÇAS ACADÊMICAS NO BRASIL: ANÁLISE SOBRE A PARCERIA COM A

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

RESUMO

Tese de Doutorado

Ednéia Silva Santos Rocha

As fundações privadas sem fins lucrativos são entidades que se constituem por um conjunto de bens direcionados teoricamente para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. No entanto, nessa tese demonstrou-se que essas entidades procuraram fabricar e institucionalizar modelos dominantes, fomentando instituições estratégicas e formando lideranças acadêmicas. Essas fundações fazem certas imposições em relação aos projetos aprovados de forma indireta. Isso porque definem os parâmetros institucionais, profissionais e intelectuais dos seus beneficiários, e sugerem as agendas de pesquisa de acordo com seus interesses. Supõem-se que as parcerias estabelecidas entre fundações privadas e seus donatários envolveram articulações sociais, políticas, ideológicas e econômicas, pois essas entidades foram agentes dessas formulações para promover projetos de ordem social liberal. Nesse contexto, o objetivo desta tese é entender o relacionamento da Fundação Ford com instituições brasileiras, principalmente sua parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição que encontra-se entre as primeiras donatárias da Fundação Ford no Brasil. Por meio de análises teóricas e com o uso de metodologia quanti-qualitativa, procedeu-se a análise de diferentes dados de pesquisa, uma vez que a convergência de resultados advindos de fontes distintas ofereceu evidências sobre os convênios e acordos estabelecidos. Assim, organizou-se e analisou-se os dados, a partir de fontes primárias como os Relatórios Anuais da Fundação Ford e fontes secundárias como: a base de dados digital de doações da Fundação Ford, o repositório digital da FGV e a consulta a diversos sites dos donatários identificados na pesquisa. O estudo constatou que a Fundação Ford no Brasil patrocinou principalmente fundações, associações, universidades e organizações não governamentais, nas quais procurou encontrar soluções "científicas" para os problemas sociais, canalizando esforços intelectuais para manter a ordem social estabelecida pelas classes dominantes. Desse modo, a fundação norte-americana promoveu consensos entre intelectuais e instituições dominantes da sociedade brasileira, que funcionaram como multiplicadores das ideologias e modelos institucionais, como pode ser evidenciado entre a parceria entre Fundação Ford e FGV.

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UNIVERSITY OF CAMPINAS INSTITUTE OF GEOSCIENCE

THE FORD FOUNDATION AND THE PROMOTION FOR STRATEGIC INSTITUTIONS AND ACADEMIC LEADERSHIP IN BRAZIL: ANALYSIS OF

PARTNERSHIP WITH GETULIO VARGAS FOUNDATION ABSTRACT

PhD Thesis

Ednéia Silva Santos Rocha

Private foundations are non-profit entities that theoretically constitute a set of targeted goods for religious, moral, cultural or assistance purposes. However, this thesis shows that these entities have sought to manufacture and institutionalize dominant models, fostering strategic institutions and graduate academic leaders. These foundations make indirectly charges in exchange for approved projects. It happens because they define the institutional, professional and intellectual parameters of their beneficiaries, and suggest research agendas according to their interests. It assumes that the partnerships between private foundations and their grantees involves social, political, ideological and economic joints, because these entities are agents of such formulations to promote liberal and social projects. In this context, the aim of this thesis is to understand the relationship of the Ford Foundation (FF) with Brazilian institutions, especially its partnership with the Getúlio Vargas Foundation (FGV), an institution that is among the first grantee of FF in Brazil. Through theoretical analysis and quantitative and qualitative methodology, different research data were analyzed, since the convergence of results, which came from different sources, provided evidence of the covenants and agreements reached. So data were organized and analyzed from primary sources such as the Annual Reports of the FF and secondary sources such as: a digital database of grants from the FF, the digital repository of FGV and several sites of grantees identified in the survey. This study found that FF in Brazil sponsored mainly foundations, associations, universities and nongovernmental organizations, in which sought to find "scientific" solutions to social problems, channeling intellectual efforts to maintain the social order established by the dominant classes. Thus, the US foundation promoted consensus among intellectuals and dominant institutions of Brazilian society, who have acted as multipliers of ideologies and institutional models, as evidenced from the partnership between FF and FGV. Keywords: social order; social assistance; scientific philanthropy; elites (social sciences)

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Sumário

RESUMO ... xiii

ABSTRACT ... xv

LISTA DE GRÁFICOS ... xix

LISTA DE FIGURAS ... xxi

LISTA DE TABELAS ... xxiii

LISTA DE QUADROS ... xxv

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ... xxvii

INTRODUÇÃO ... 1

1 CAMINHOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS SEM FINS LUCRATIVOS: ATUAÇÃO DAS FUNDAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS ... 9

1.1FUNDAÇÕES PRIVADAS NO BRASIL ... 11

1.2APOIO FINANCEIRO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS NORTE-AMERICANAS PARA O DESENVOLVIMENTO ... 19

1.2.1 Características das doações das fundações norte-americanas ... 29

1.3INSTITUIÇÕES QUE FORNECEM FONTES DE INFORMAÇÕES E INDICADORES SOBRE A ATUAÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS ... 36

1.4CRÍTICA A AÇÃO DAS AGÊNCIAS PRIVADAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ... 40

1.5CONCLUSÕES ... 48

2 CARACTERÍSTICAS INSTITUCIONAIS DA FUNDAÇÃO FORD: SUA ORIGEM E ATUAÇÃO EM REGIÕES E ÁREAS PRIORITÁRIAS ESTRATÉGICAS ... 51

2.1FUNDAÇÃO FORD NOS ESTADOS UNIDOS: UM RETROSPECTO HISTÓRICO ... 52

2.1.1 Atuação na África ... 58

2.1.2 Atuação na Ásia ... 62

2.1.3 Atuação na América Latina: México, Região Andina e Cone Sul ... 69

2.2FUNDAÇÃO FORD NO BRASIL: PANORAMA GERAL SOBRE AS PRIMEIRAS DÉCADAS DE ATUAÇÃO ... 74

2.2.1 Enfoque da atuação da Fundação Ford a partir de 2000 ... 83

2.2.2 Fundação Ford e o incentivo aos campos científicos ... 106

2.2.3 Incentivo à formação de lideranças intelectuais na área de ciências sociais: a presença de ex-bolsistas em ambientes estratégicos ... 112

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3 A FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS COMO INSTITUIÇÃO ESTRATÉGICA PARA FORMAÇÃO DE

LIDERANÇAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A PARCERIA COM A FUNDAÇÃO FORD ... 123

3.1ELEMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A FORMAÇÃO DA FGV E SUAS PARCERIAS COM ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ... 124

3.2FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS E SUA PARCERIA COM FUNDAÇÃO FORD ... 129

3.2.1 Trajetórias de convênios estabelecidos entre a FGV e Fundação Ford ... 134

3.2.1.1 Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) ... 136

3.2.1.2 Escola de Direito do Rio de Janeiro (FGV DIREITO RIO) ... 141

3.2.1.3 Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) ... 150

3.3CONTEXTO ATUAL DA PARCERIA: ANÁLISE DOS INDICADORES DAS DOAÇÕES DA FUNDAÇÃO FORD PARA FGV ... 154

3.3.1 Apoio da Fundação Ford para realização de eventos na FGV ... 169

3.4CONCLUSÕES ... 177

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 181

REFERÊNCIAS ... 189

ANEXOS ... 217

ANEXO A–EXEMPLO DE UM CADASTRO DO DIRETÓRIO DE INSTITUIÇÕES DO CNPQ ... 219

ANEXO B–PROJETOS DO PROGRAMA DE HISTÓRIA ORAL DO CPDOC/FGV ... 221

APÊNDICES ... 227

APÊNDICE A–ESTRUTURA DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 229

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, segundo a data de criação

(1971 a 2010) ... 15

Gráfico 2 - Principal fundação privada brasileira mobilizadora de recursos segundo o Índice de doadores para a América Latina por quantidade de recursos ... 16

Gráfico 3 - Percentual de doações internacional das fundações norte-americanas por regiões (2000) ... 30

Gráfico 4 - Áreas prioritárias nos escritórios da África (2000-2012) ... 61

Gráfico 5 - Áreas prioritárias na Ásia (2000-2012) ... 67

Gráfico 6 - Áreas prioritárias na América Latina (2000-2012) – exceto Brasil ... 73

Gráfico 7 - Montante doado pela Fundação Ford ao Brasil (2000-2012) ... 84

Gráfico 8 - Montante em milhões de dólares destinado às Áreas prioritárias (2000-2012) ... 99

Gráfico 9 - Percentual sobre a soma de grants por tipo de instituição ... 101

Gráfico 10 - Média de doação para cada projeto por tipo de instituição ... 101

Gráfico 11 - Principais Estados que receberam doações da Fundação Ford ... 103

Gráfico 12 - Montante doado pela Fundação Ford no período de 2000-2011 à Fundação Getúlio Vargas por ano em milhares de dólares ... 155

Gráfico 13 - Percentual baseado no montante doado à FGV por iniciativa (2000-2011) ... 160

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Prioridades da cooperação internacional na América Latina ... 34

Figura 2 - Critérios para definição de Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos ... 38

Figura 3 - Áreas prioritárias da Fundação Ford no Brasil ... 75

Figura 4 - Médias das doações no período de 2000-2012 ... 85

Figura 5 - Percentual sob o montante de projetos financiados por região brasileira (2000-2012) ... 102

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Contribuições das fundações privadas para a Revolução Verde, estudos populacionais e controle de doenças ... 25 Quadro 2 - Focos de atuação das fundações privadas norte-americanas (a partir de 2000) ... 32 Quadro 3 - Donatários da África do Sul e algumas ações que desempenharam ... 60 Quadro 4 - Donatários do escritório da região andina e cone sul e algumas ações financiadas pela Fundação

Ford ... 71 Quadro 5 - Principais donatárias que receberam fomento entre as décadas de 1960-1980 ... 77 Quadro 6 - Critérios para escolha de projetos que serão financiados ... 87 Quadro 7 - Descrição dos critérios adotados para o fomento de acordo com a áreas prioritária da Fundação

Ford ... 90 Quadro 8 - Algumas ações do IDEC que tiveram o apoio da Fundação Ford ... 98 Quadro 9 - Ranking das maiores doações separadas pelos quatro estados que mais recebem doações ... 104 Quadro 10 - Presença de ex-bolsistas da Fundação Ford em vários espaços sociais e políticos ... 114 Quadro 11 - Parcerias da FGV com organizações internacionais (Período 1950-1970) ... 126 Quadro 12 - Parcerias entre Fundação Ford e FGV em projetos de pesquisa ... 163 Quadro 13 - Eventos da FGV que tiveram apoio financeiro da Fundação Ford ... 170 Quadro 14 - Relação de livros publicados pela Editora da FGV com o apoio da Fundação Ford ... 174

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABA Associação Brasileira de Antropologia

ABONG Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais

AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome

ANPOCS Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

C&T Ciência e Tecnologia

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CAE Centro de Aperfeiçoamento de Economistas

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEBRAP Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

CEDEC Centro de Estudos de Cultura Contemporânea - São Paulo

CEE Centro de Estudos Educativos

CELS Centro para Estudos Legais e Sociais

CEMACRO Centro de Estudos de Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento

CEMPRE Cadastro Central de Empresas

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CEPED Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito

CESOP Conselho Diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública

CGIAR Consultative Group on International Agriculture Research

CICOM Centro Interamericano de Comércio para o Mercosul

CIDS Centro Internacional de Desenvolvimento Sustentável

CIE Centro de Investigaciones en Educación

CJUS Centro de Justiça e Sociedade

CLAS Centre for Applied Legal Studies

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CPDA Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento Agrícola

CPDE Centro de Pesquisa em Direito e Economia

CPDOC Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil

CTS-FGV Centro de Tecnologia e Sociedade

DASP Departamento Administrativo do Serviço Público

DFID United Kingdom’s Department for International Development

EAD Educação a Distância

EAESP Escola de Administração de Empresas de São Paulo

EBAPE Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas

EIAP Escola Interamericana de Administração Pública

EPGE Escola de Pós-graduação em Economia

EPGE-FGV Escola Brasileira de Economia e Finanças

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EUI European University Institute

FAPs Fundações de Amparo à Pesquisa

FASFIL Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos

FCC Fundação Carlos Chagas

FF Fundação Ford

FGV DIREITO Escola de Direito do Rio de Janeiro

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

GNU General Public License

GRP Gender Research Project

GVceapg Centro de Estudos em Administração Pública e Governo

HIV/AIDS Vírus da Imunodeficiência Humana

IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEC Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor

IDESP Instituto de Direito Económico, Estudos Sociais e Políticos de São Paulo

IDL Instituto de Defesa Legal

IDORT Instituto de Organização Racional do Trabalho

IFP International Fellowships Program

IGP Índice Geral de Preços

IIE Institute of International Education

IIRSAE Instituto Israelita de Responsabilidade Social Albert Einstein

IITA Instituto Internacional para a Agricultura Tropical

ILADD Iniciativas Latino Americanas em Direito e Democracia

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IRC Internal Revenue Code

IRRI International Rice Research Institute

ISA Instituto Socioambiental

IUPERJ Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de janeiro

LASA Latin American Studies Association

LRC Life Reformation Centre

MIT Massachusetts Institute of Technology

NEV Núcleo de Estudos da Violência

NIPILAR National Institute for Public Interest Law and Research

NOVIB Netherlands Organization for Development Cooperation

NRC National Research Council

NUPAUB Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas

Brasileiras

NUPES Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior

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OECD-DAC Development Assistance Committee of the Organisation for Economic Co-operation and Development

OMPI Organização Mundial da Propriedade Intelectual

ONGs Organizações Não Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PIPSA Programa de Intercâmbio de Pesquisa Social em Agricultura

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPDS Programa de Política e Direito Socioambiental

SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos

SARS Síndrome Respiratória Aguda Grave

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SPDA Sociedade Peruana de Direito Ambiental

STF Supremo Tribunal Federal

UE União Europeia

UEA University of East Africa

UEMA Universidade Estadual do Maranhão

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFC Universidade Federal do Ceará

UFMG/DCP Universidade Federal de Minas Gerais / Departamento de Ciência Política

UFP Universidade Federal do Paraná

UFP/Pimes Universidade Federal de Pernambuco /Programa Integrado, Mestrado em Economia e Sociologia

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFV Universidade Federal de Viçosa

UnB Universidade Nacional de Brasília

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNICEF Fundo das Nações Unidos para a Infância

UPPs Unidades de Polícia Pacificadora

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INTRODUÇÃO

O objetivo desta tese é entender o relacionamento da Fundação Ford com instituições brasileiras, principalmente sua parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição que se encontra entre as primeiras donatárias da Fundação Ford no Brasil. A pesquisa analisa as características de atuação das fundações privadas nacionais e norte-americanas, principalmente as críticas relacionadas a atuação dessas organizações. Discute-se como a Fundação Ford, por meio de seu programa de auxílio e fornecimento de recursos tangíveis (capital) e intangíveis (reconhecimento), contribuiu para formação de parcerias estratégicas com instituições brasileiras.

Para tanto, analisou-se as áreas prioritárias para financiamento de projetos, a quantidade de investimento destinada a cada uma e o perfil das instituições que receberam fomento, identificando se as donatárias são instituições acadêmicas, governamentais ou do terceiro setor. Identificou-se em quais regiões essas instituições donatárias atuam e quais as principais ações que desenvolvem. Ponderou-se o relacionamento da Fundação Ford com os maiores donatários de acordo com o total de doações recebidas (em dólares no período de 2000 a 2012). Especificamente na investigação sobre a parceria entre a Fundação Ford com a FGV, se procurou demonstrar as trajetórias institucionais dos principais convênios e as principais características de acordos recentes entre essas fundações.

Uma fundação privada é conceituada como organização não-governamental, sem fins lucrativos, que possui um patrimônio próprio gerido por seus administradores ou diretores. Essas entidades fomentaram ao longo do século XX causas científicas, educacionais, culturais e influenciaram processos de elaboração de políticas públicas e movimentos sociais. A atuação dessas fundações constitui-se em um dos temas abordados pelos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia (ESCT), com expressivas contribuições nacionais descritas nos estudos realizados por Miceli (1993), Marinho (2001, 2003, 2004, 2005), Chaves (2009), Coutinho (2004), Herz (1989), entre outros.

No âmbito internacional, pode-se mencionar o estudo realizado por Berman (1983) que escreveu sobre a relevância das Fundações Carnegie, Ford e Rockefeller na política externa norte-americana, demonstrando que curadores dessas fundações também participavam de

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processos de elaboração de políticas públicas e governamentais, atuando como consultores políticos ou funcionários de alto nível dentro do governo. Outras análises das fundações norte-americanas e sua influência política foram realizadas por Arnove (1977, 1980, 1982). Os estudos ofereceram relatos detalhados sobre o papel desempenhado por certas fundações norte-americanas no processo de globalização, indicando que essas fundações se envolveram na criação de programas de ensino tanto nos Estados Unidos como em outros países, buscando melhorar a integração de regiões periféricas da economia mundial com cultura norte-americana e com o sistema econômico mundial. Ou seja, estas fundações usavam de sua influência para implementar leis e políticas que favorecem as organizações públicas e privadas dos Estados Unidos.

Kapchinsky (2010) realizou um histórico sobre a atuação de fundações filantrópicas nos Estados Unidos, enfocando principalmente na questão da isenção de impostos para fundações. O autor ressaltou que as principais fundações, como a Fundação Rockefeller, Fundação Ford e Fundação Bertelsmann exerceram significativa influência política dentro da sociedade, pois estão vinculadas a instituições financeiras, meios de comunicação, jornais e empresas de radiodifusão, o que lhes proporcionam poder de influenciar o meio político e econômico. Dufour (1987) analisou o papel das fundações Rockefeller, Carnegie e Fundação Ford como formuladoras de políticas não-oficiais no campo da educação, especialmente em países em desenvolvimento. O autor traçou uma relação entre as estratégias das fundações do passado e o do presente, demonstrando como as fundações têm fortalecido seu poder político não oficial, para promover uma ideologia de acordo com os seus interesses. Entretanto, apesar da contribuição desses estudos ainda existem hiatos que devem ser explorados. Segundo Marinho (1993), o tema é relevante para os ESCT, pois análises sobre a atuação das fundações privadas internacionais no financiamento da pesquisa científica no Brasil constitui-se um campo de análise promissor e consideravelmente inexplorado pela sociologia da ciência no país. Assim, ao examinar as características das fundações privadas, a tese centra-se principalmente sobre as atividades da Fundação Ford e sua interligação com lideranças institucionais e intelectuais no Brasil, buscando compreender as escolhas por determinadas áreas prioritárias para o fomento.

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As fundações privadas procuraram moldar a educação das elites, fomentando instituições estratégicas e formando líderes acadêmicos, buscando estabelecer consensos nacionais e internacionais para fabricar e institucionalizar modelos dominantes, com o objetivo de manter uma ordem social. Essas entidades determinam as áreas prioritárias para o financiamento, definem os parâmetros institucionais, profissionais e intelectuais dos seus donatários e sugerem as agendas de pesquisa de comunidades científicas.

As fundações privadas de acordo com Rocha (2014) buscam conquistar os “corações e mentes” desses líderes, pelas benesses materiais que cooptam adesistas: auxílios financeiros, bolsas e viagens de estudos, patrocínio de seminários e de publicação de trabalhos, promoção do prestígio pessoal e outras coisas assim, culminando com a inserção deles em postos-chave da sociedade e do estamento governamental do Estado-alvo.

Assim o conceito de soft power originalmente aplicado nas relações internacionais, política externa, e nos estudos de segurança, pode ser aplicado para se entender o papel desempenhado pela Fundação Ford no Brasil. Nye (2004) define o conceito como o poder exercido por uma nação através dos seus valores, ideais e normas. Repousa sobre a capacidade de moldar preferências através de recursos intangíveis, como a incorporação de valores políticos, culturais e institucionais. Esse poder vai além da capacidade de persuasão ou influencia, pois é capaz de atrair espontaneamente adeptos aos propósitos estabelecidos.

Nesse cenário, a Fundação Ford funcionou como uma organização dedicada a fabricar ideologias e consensos entre as elites institucionais e intelectuais. Os donatários foram conduzidos a atuarem na transformação social, manutenção da ordem e divulgação de modelos científicos de acordo com as diretrizes dos curadores norte-americanos. Assim como em outros países, a atuação da Fundação Ford no Brasil buscou canalizar os talentos institucionais e intelectuais para apoiar as ideologias da fundação. Desse modo, a problemática abordada nessa tese, volta-se a hipótese que as parcerias estabelecidas entre fundações privadas e seus donatários envolveram articulações sociais, políticas, ideológicas e econômicas, pois essas entidades foram agentes dessas formulações para promover projetos de ordem social liberal.

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Supõe-se que a Fundação Ford funcionou como uma organização dedicada a processos de engenharia social, cuja meta é a fabricação de ideologias e consensos entre as elites intelectuais brasileiras, para institucionalizar parâmetros de atuação principalmente nas áreas de Ciências Sociais. A ênfase do fomento da Fundação Ford às ciências sociais, entre as décadas de 1960-1970, consistiu principalmente no apoio a formação de economistas e administradores, pois financiaram instituições e acadêmicos para se envolverem com os problemas relacionados ao crescimento econômico. Ao final dos anos sessenta, a fundação começou a direcionar o fomento para formação acadêmica, social e política de cientistas políticos, sociólogos e antropólogos. Esses cientistas sociais eram vistos, de acordo com Brim (1973, p. 233), como "correias de transmissão de conhecimento para os formuladores de políticas racionais que são os agentes de mudança", ou seja, seriam instrumentos para manutenção da ordem social.

Nesse contexto, interroga-se sobre as principais motivações da atuação da Fundação Ford para formação de convênios com instituições brasileiras com o objetivo de desenvolver e apoiar projetos cooperativos, formando competências científicas e alianças estratégicas. Questiona-se se esses relacionamentos com as instituições brasileiras podem ser considerados como neutros e desinteressados, como mostra o discurso filantrópico da Fundação Ford.

No contexto das fundações privadas, escolheu-se como objeto de estudo a Fundação Ford, pois a partir do final da Segunda Guerra Mundial, essa fundação assumiu posição de liderança em relação a outras agências de fomento, uma vez que possuía um volume substancial de recursos, o que lhe permitiu atuar em várias partes do mundo fomentando ações para produção e divulgação do conhecimento. Atualmente, possui onze escritórios ao redor do mundo e atua no Brasil desde 1962. A distribuição geográfica dos escritórios da Fundação Ford representa seu caráter transnacional1.

1 Peter Bell – um dirigente da Fundação com experiência no escritório brasileiro nos anos 1960 – propôs essa noção de “ator transnacional” em 1971 para explicar que o modelo de operações empregado pela Fundação estava sustentado, particularmente, na defesa da liberdade de fidelidades políticas. Para Bell, a Ford seria uma instituição radicalmente internacionalista, em sua agenda e em suas estratégias de ação. Por esta razão, não se fiou, ou se filiou a governos ou políticas nacionais, mesmo as norte-americanas (BELL, 1971).

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Herz (1989) ressalta que a divisão internacional da fundação dedica-se desde a década de 1960 a quatro objetivos básicos: 1) apoiar instituições de ensino e pesquisa, buscando incentivar a formação de pesquisadores por meio de suporte financeiro ao desenvolvimento em diversas regiões do mundo; 2) buscar soluções para os problemas populacionais, na qual fomenta pesquisas em saúde reprodutiva e programas de planejamento familiar, bem como pesquisas em ciências sociais; 3) apoiar organizações de cooperação internacional, 4) oferecer assistência ao desenvolvimento econômico e social de países em desenvolvimento.

Para se entender o ideário de desenvolvimento, recorre-se a conceituação de Milani (2012) que afirma que, se antes a renda per capita era um indicador exclusivo para se mensurar o desenvolvimento, no qual media-se de fato, o crescimento econômico dos países. Em 1990 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento lança o indicador do desenvolvimento humano (IDH) como o novo parâmetro integrador das dimensões da saúde e da educação com a lógica do crescimento, no qual considera-se a expectativa de vida e saúde, a alfabetização e o acesso aos diversos níveis de educação formal, bem como a disponibilidade de recursos econômicos (renda). No entanto, a Fundação Ford entende que o desenvolvimento consiste na evolução das competências de grupos de elite e que os problemas dos países podem ser resolvidos colocando essas lideranças para resolver essas questões. Ou seja, salienta que desenvolvimento das nações deve estar centrado na evolução de competências para posterior aplicação e replicação, aumentando o número de líderes acadêmicos, empresariais e governamentais.

Assim, o foco de atuação recai sobre as organizações que produzem líderes que darão suporte aos ideais sugeridos pela fundação. No entanto, a Fundação Ford busca construir sua legitimidade através da promoção de conformidades entre seus donatários, criando ideologias e senso comum, fornecendo posições e status a intelectuais e instituições, para que possam planejar e executar programas, persuadir e inspirar as pessoas a apoiar os modelos estabelecidos. A Fundação Ford estrategicamente escolhe quem serão seus donatários, pois as sociedades tendem a ser hierarquizadas e as decisões político-econômicas são tomadas por grupos de elite. Assim, em cada região que atuava, identificou questões e áreas de contestação da ordem social existente, para posteriormente encontrar métodos de promoção da "reforma social".

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Nessa tese aborda-se a atuação da Fundação Ford no Brasil, pois sendo uma agência privada de cooperação norte-americana, destaca em seu discurso institucional que direciona suas ações para propagação de conhecimento sobre diversas áreas, visando aprimorar o fazer científico e formar redes de cooperação entre as comunidades científicas dos países em desenvolvimento com os Estados Unidos. Buscou-se fornecer uma visão crítica do tema, fazendo conexões de várias pesquisas e documentos oficiais que contribuíram para consolidação e análise dos dados da pesquisa2.

Essa tese baseou-se em diversas fontes de pesquisa, uma vez que a convergência de resultados advindos de fontes distintas oferece evidências sobre as parcerias estabelecidas pela Fundação Ford com instituições brasileiras. Estas fontes examinaram certos aspectos das fundações privadas norte-americanas e suas interações com outras instituições privadas ou órgãos públicos, e ao fundir as perspectivas dessas fontes de informação, acrescentou-se novas observações sobre as parcerias da Fundação Ford.

Na análise do relacionamento entre a Fundação Ford e instituições brasileiras, enfocou-se principalmente a análienfocou-se dos indicadores das doações no período de 2000-2012, enfocou-sendo que essa periodização buscou abranger momentos mais significativos das parcerias. Analisou-se documentos oficiais da Fundação Ford durante esse período, aos quais todas as contribuições monetárias estão explicitadas nesses relatórios. A pesquisa documental propiciou riqueza de informações, ampliando o entendimento da contextualização histórica do objeto estudado. Estes dados serviram para ilustrar mais precisamente o debate sobre as pareceria entre a Fundação Ford e instituições brasileiras, especificamente a discussão gira em torno da parceria entre Fundação Ford e FGV.

Para analisar como o apoio institucional e financeiro da Fundação Ford foi direcionado para instituições e indivíduos estratégicos, realizou-se a coleta de um conjunto de dados que permitiu avaliar e conhecer os impactos deste apoio às áreas de direitos humanos, desenvolvimento sustentável, educação e liberdade de expressão. Para a coleta dos dados

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empíricos procedeu-se inicialmente a uma pesquisa bibliográfica, por meio de consultas a catálogos de bibliotecas e base de dados nacionais e internacionais.

A partir de fontes primárias como os Relatórios Anuais da Fundação Ford3 (APÊNDICE B) e fontes secundárias como: a base de dados de doações Grants Database4 da

Fundação Ford, o repositório digital da FGV5 e consulta a diversos sites institucionais dos donatários identificados na pesquisa, coletou-se e organizou-se os dados. Procedeu-se a leitura de todos os relatórios e separou-se todas as doações destinadas a instituições brasileiras. No processo de ordenamento e estruturação dos dados coletados, montou-se uma base de dados no

Microsoft Excel com campos relacionados ao Ano do fomento; Donatário; Donatário traduzido;

Tipo de Instituição; Estado; País; Montante recebido; Montante atualizado; Proposta do projeto aprovado; Iniciativa na qual o projeto está inserido. Buscou-se identificar tendências e comparar as variáveis, analisou-se comparativamente as informações dos relatórios e as informações disponíveis no banco de grants para elaboração de indicadores sobre as áreas prioritárias, percentual de investimentos por país e as principais instituições donatárias.

Para se preencher o campo do tipo de instituição, foram pesquisadas as instituições donatárias no Diretório de Instituições do CNPq (DI) especificamente no campo de Cadastro de Informações Institucionais6 para se verificar o nome padronizado da instituição donatária, o estado que está localizada e no campo classificação, identificou-se a natureza jurídica que está cadastrada7. Pode-se verificar um cadastro completo de uma das instituições no Anexo A.

Para se evidenciar a parceria entre Fundação Ford e FGV além da análise dos relatórios anuais da fundação norte-americana, coletaram-se informações disponíveis no repositório

3 Nos Relatórios anuais geralmente são publicadas as informações referentes aos representantes da Fundação Ford nos diferentes países nos quais atua, descrição das áreas prioritárias, total de investimento em cada área e para quem realiza as doações.

4 FORD FOUNDATION. Grants Database. New York, [2013]. Disponível em: <http://www.fordfoundation.org/grants/search> Acesso em: 18 maio 2013.

5 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. DSpace@FGV: repositório digital da FGV. 2014. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace>. Acesso em: 04 out. 2014.

6 PLATAFORMA LATTES. Diretório de Instituições: cadastro de informações institucionais. Brasília, 2014. Disponível em: <http://di.cnpq.br/di/cadi/consultaInst2.do?acao=buscaInstituicaoCadi>. Acesso em: 10 ago. 2014. 7 Nos casos em que não havia o cadastro da instituição, pesquisou-se no Google e ao encontrar o site institucional identificou-se qual a natureza jurídica das instituições. Outro recurso utilizado para complementar essas lacunas foi o banco de dados da Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (ABONG) que disponibiliza dados das instituições associadas.

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digital da FGV8, que é construído para indexação, preservação e compartilhamento da produção intelectual da instituição em formato digital como: imagens, artigos, teses, dissertações, vídeos etc. Assim, recuperaram-se quarenta documentos entre artigos, livros, teses/dissertações e entrevistas que faziam menção a Fundação Ford.

Esta tese está dividida em três capítulos. No primeiro capítulo realiza-se um retrospecto sobre a atuação das fundações privadas no Brasil, ressaltando o papel da Fundação Bradesco considerada a maior do país. Expõe-se as características de atuação das fundações privadas norte-americanas, as entidades responsáveis pela disseminação de informações sobre as doações e uma revisão teórica sobre analises críticas sobre a ação dessas fundações.

No segundo capítulo aborda-se as características do apoio institucional e financeiro da Fundação Ford no âmbito nacional e internacional, ressaltando os elementos históricos de sua formação nos Estados Unidos, a atuação na África, Ásia e América Latina. Demonstra-se a atuação desta fundação no Brasil, ressaltando o papel exercido na formação ou consolidação de campos científicos e o incentivo à formação de redes de pesquisadores.

No terceiro capítulo, apresentam-se as particularidades das parcerias entre a Fundação Ford com a FGV, abordando os elementos históricos sobre a formação da FGV e sua relação com agências internacionais, as trajetórias dos convênios considerados mais significativos e o contexto atual desse relacionamento. Nas considerações finais, apresentam-se pontos de vista sobre as principais motivações da atuação da Fundação Ford, argumentando se há neutralidade ou altruísmo puro em suas ações e quais os impactos do auxílio da Fundação Ford para o Brasil.

8 DSpace@FGV: repositório digital da FGV. Disponível em: < http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace>. Acesso em: 27 out. 2014.

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1 CAMINHOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS SEM

FINS LUCRATIVOS: ATUAÇÃO DAS FUNDAÇÕES NACIONAIS E

INTERNACIONAIS

O objetivo do capítulo é contribuir para o entendimento dos caminhos da institucionalização das fundações privadas sem fins lucrativos9, oferendo um quadro geral sobre o instituto fundacional brasileiro e norte-americano. O foco nas fundações dos Estados Unidos se justifica pelo fato desta pesquisa ter como objeto de estudo a atuação da Fundação Ford no Brasil. Sendo uma organização de origem norte-americana, é relevante traçar um panorama sobre as características de atuação das fundações daquele país, abarcando também suas principais fontes de informação e a partir disso, construir uma análise crítica sobre suas ações.

Dos anos 2000 em diante, as fundações têm priorizado principalmente o financiamento em áreas de saúde e educação (áreas que perfazem 45% do total de investimento), seguidas das áreas de serviços sociais, questões de interesse público, arte e cultura, desenvolvimento comunitário, direitos sociais, ação social e meio ambiente. As dotações internacionais norte-americanas têm aumentado principalmente no apoio às áreas com temas relativos à justiça social e desenvolvimento econômico, direitos humanos, engajamento cívico, habitação, acesso à saúde. Quase 50% desse aporte é feito por capital internacional (ARMANI, 2010).

A partir da década de 1990, houve um aumento significativo no que se refere a quantidade de fundações, no tamanho de seus ativos e na escala de seu financiamento internacional. Em 2008, o financiamento internacional privado das fundações dos Estados Unidos chegou a US$ 6,2 bilhões de dólares, um montante significativo quando em comparação aos US$ 26 bilhões de dólares gastos com cooperação internacional pelo

9

Os termos "fundação filantrópica" e "fundação privada" são frequentemente usados como sinônimos, porque filantropia geralmente conota altruísmo (ANDREWS, 1956). No entanto, nessa tese o termo "fundação privada" é utilizado por se caracterizar como mais específico e neutro para referenciar obras de interesse a esse estudo, mesmo porque não há altruísmo puro e desinteressado nas relações dessas fundações. Moir e Taffler (2004) pesquisaram a atuação dessas entidades dirigida às artes na Inglaterra buscando as motivações (interesse próprio ou benefício social). Os autores analisaram 60 diferentes situações, mas em apenas uma identificaram o “puro” altruísmo como motivação.

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governo norte-americano naquele ano (SPERO, 2010), o que demonstra sua relevância no contexto da cooperação internacional.

Essas fundações têm sido denominadas filantrópicas, podendo ser formalmente definidas como organizações não-governamentais sem fins lucrativos, pois possuem fundos próprios e estabelecem uma relação de ajuda social, educacional, caridosa, religiosa ou outras atividades que tenham como objetivo o bem-estar social. Por outro lado, Marinho (2001, p.79) afirma que no caso específico da atuação da Fundação Rockfeller no Brasil, essa instituição podia ser entendida “como a manifestação concreta de uma força modeladora poderosa em favor de interesses conservadores”. Nesse cenário, as fundações são consideradas como entidades modeladoras de ideologias e modelos institucionais.

Essas instituições fomentam a reprodução dos modelos de desenvolvimento10 e políticas sociais que são incorporados e disseminados por seus donatários, ao qual atua como multiplicadores. Essas políticas sociais teriam um aspecto compensatório para amortecer conflitos entre a classe de trabalhadores e elite empresarial, ou seja, minimizar os impactos causados pelas ações capitalistas implementadas para garantir o desenvolvimento dos países.

Vale destacar que frequentemente as fundações direcionaram suas ações ao fomento e/ou financiamento de atividades científicas. Marinho (2001) ressalta que fomento seria uma ação continuada de apoio, incentivo e estímulo a uma dada atividade, e que quase sempre inclui financiamento. Esse apoio às instituições e projetos busca perpetuar os ideais de desenvolvimento sugerido pelos norte-americanos, pois promovem a "conformidade" entre os acadêmicos e pesquisadores para o desenvolvimento de pesquisas científicas.

Entende-se que essas parcerias entre as fundações privadas e seus donatários fazem parte de um processo de colaboração para a manter uma ordem econômica, política e social, de âmbito internacional, o que beneficia os interesses das classes dominantes.

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Não é objetivo da tese aprofundar o debate sobre os modelos de desenvolvimento dos países, uma vez que se trata de uma temática abrangente e foge ao escopo principal desta investigação demandando, assim, outros trabalhos de pesquisa.

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Alguns países em desenvolvimento têm se utilizado das fundações privadas como solução parcial para a falta de investimentos em ciência e tecnologia. Embora as fundações tenham atraído um crescente interesse dos pesquisadores, ainda há uma base teórica limitada sobre a natureza das prioridades e verdadeiras intenções dessas entidades.

Nesse contexto, apresentam-se um breve retrospecto sobre as fundações privadas brasileiras, demonstrando sua relação com área da educação, considerada como área estratégica para atuação por integrar-se aos processos de transformação social. Desta forma, foi redigida uma análise sobre as fundações norte-americanas e suas relações com o desenvolvimento científico, demonstrando algumas características sobre a atuação e as instituições que elaboram fontes de informação sobre as fundações privadas. Por último, segue-se uma análise crítica sobre a ação das fundações privadas.

1.1 Fundações privadas no Brasil

As fundações privadas assumiram papel de destaque como agentes de políticas sociais, não apenas pelo enorme volume de recursos disponíveis, mas principalmente pelo modo como se inserem na gestão de tais políticas. Elas atuam desde o atendimento de necessidades básicas como saúde e educação, até outros campos como cultura e esporte (BORGES; MIRANDA; VALADÃO JUNIOR, 2007; PERRET; JUNQUEIRA, 2011).

A maioria das publicações que fornecem uma definição de fundações privadas utilizam os critérios estabelecidos por Frank Emerson Andrews, que em 1956 estudou o papel das fundações privadas norte-americanas na sociedade. De acordo com Andrews, uma fundação é:

Uma organização não governamental, sem fins lucrativos, tendo um fundo próprio principal, gerido pelos seus próprios administradores ou diretores, e estabelecida para assistência social, educacional, beneficente, religiosa, ou outras atividades sociais, que servem para o bem comum (ANDREWS, 1956, p.11).

A conceituação clássica salienta que as fundações são parte da esfera não-governamental e têm a missão de contribuir para o bem comum. Há outros tipos de organizações que compartilham dessas características. No entanto, o elemento presente na

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concepção de uma fundação é o fato de possuir um fundo próprio. De acordo com essa definição, este fundo principal é uma dotação inicial feita por indivíduo ou família fundadora que por meio de juros ou outros rendimentos de investimento geram recursos para a fundação. Tal dotação se presume ser uma fonte segura de renda. Assim, se diferem de outros atores que são dependentes da atribuição de recursos externos, como as ONGs ou associações que são dependentes da captação de recursos por parte dos governos, indivíduos, fundações privadas e contribuições individuais dos membros.

Scott (2003) afirma que Organizações Não Governamentais (ONGs), geralmente se concentram em atividades de assistência e alívio do sofrimento humano, como ajuda destinada a comunidades que sofreram com catástrofes ambientais por exemplo. Fundações, com seus fundos permanentes, muitas vezes têm como alvo metas de desenvolvimento de longo prazo, estabelecendo longas parcerias com instituições ou indivíduos estratégicos.

Entretanto, apesar das fundações apresentarem uma postura socialmente responsável diante dos problemas sociais e relacionados ao meio ambiente, nota-se que há certa conveniência para atuarem em determinadas áreas, direcionando os requisitos de fomento de acordo com seus próprios interesses. Soares (2004) ressalta que existe uma ideologia e manipulação da chamada responsabilidade social para difundir uma visão de mundo, criar e ampliar poder dessas instituições.

Peliano (2001, p.33) questiona se há bondade ou interesse na atuação das fundações privadas. Conclui que não é nem uma coisa, nem outra, exclusivamente. Existem motivações complexas e interdependentes. A ação altruísta não deve ser negada ao se buscar entender o comportamento dessas entidades na área social. Contudo, fatores de caráter filantrópico, que sempre estiveram presentes no meio empresarial, não são suficientes para explicar o crescente envolvimento dos empresários com os problemas sociais. Não por acaso, as empresas brasileiras ampliaram, na década de 1990, sua participação na realização de ações sociais para a comunidade, através da formação de fundações. Esse período foi marcado por inúmeras mudanças nas estratégias empresariais, com o objetivo de atender às novas exigências de uma economia globalizada na qual o país se inseria. Entre essas novas exigências surgem conceitos relacionados à responsabilidade social como fator de

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competitividade, ou seja, empresas socialmente ativas promovem sua imagem junto aos consumidores, melhoram o relacionamento com as comunidades vizinhas e percebem ganhos de produtividade de seus trabalhadores.

A primeira fundação brasileira foi criada por volta de 1738, quando Romão de Matos Duarte destinou parte de seu patrimônio à formação de um fundo para auxiliar, exclusivamente, as crianças órfãs do Rio de Janeiro. Assim, nasceu a Fundação Romão de Matos Duarte, que funcionava paralelamente à Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, tinha patrimônio próprio e finalidade exclusiva de dar proteção e apoio as crianças do local. Porém a entidade não conseguia assumir a personalidade jurídica autônoma, funcionando como apêndice da Santa Casa (GRAZZIOLI; RAFAEL, 2009).

O marco legal brasileiro para as fundações ocorreu com a Lei nº 173 de 10 de setembro de 1903, sendo a primeira legislação que reconheceu a personalidade jurídica das entidades com fins literários, científicos e religiosos. A consolidação no ordenamento jurídico do instituto fundacional como pessoa jurídica de direito privado, dotada de um patrimônio composto por bens livres destinados a uma finalidade social determinada, ocorre apenas em 1916 com o advento do Código Civil Brasileiro (BRASIL, 1916). O Código Civil de 2002, especificamente a Lei 10.406, determina que uma fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência (BRASIL, 2002).

Grazzioli e Rafael (2009) justificam que as fundações privadas foram gradativamente se predispondo a assumir, a responsabilidade de suprir carências sociais, pois reconhecem a impotência do Estado para resolver todos os problemas sociais existentes nas sociedades. Conquanto, apesar de reconhecer os benefícios públicos promovidos por tais iniciativas de fomento, deve-se levar em consideração os interesses corporativos dessas instituições em busca da manutenção da ordem social11.

11 Momento marcado pela nova concepção de Estado, que substitui o Estado burocrático totalizante do bem-estar-social e o próprio Estado mínimo dos liberais, por um Estado comprometido com a sociedade civil. Tal Estado exerceria o seu pleno "[...] poder social, controlando os excessos do mercado, das empresas inescrupulosas, dos burocratas perdulários e corruptos, regulamentando serviços prestados pela iniciativa privada" (MELO NETO; FROES, 1999, p.4). Esse processo seria um resultado natural da nova ordem social, promovida por entidades filantrópicas, entidades de direitos civis, movimentos sociais, ONGs, agências de desenvolvimento social, órgãos

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Esse movimento, longe de ser casual, reforça a opinião de que ocorreu, a predominância de determinados fatores que contribuíram para um maior envolvimento do setor privado com ações sociais. Dentre eles podemos citar a abertura da economia; privatização das empresas estatais; crise política e econômica; fortalecimento da sociedade civil12; maior envolvimento das ONGs; busca de melhoria na qualidade dos processos de gestão das empresas nacionais; redução na capacidade de atuação do Estado e crescente envolvimento das empresas privadas em ações sociais (PELIANO, 2001).

A partir da década de 1990 notou-se maior intensidade no número de fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil. Coutinho (2004) observa que a proliferação vertiginosa é em decorrência da implementação das políticas de caráter neoliberal no país. O enxugamento dos gastos públicos por meio de privatizações, reforma fiscal, descentralização e, principalmente, redução da aplicação de recursos na área social, foram fatores contribuíram para que as entidades sem fins lucrativos se estabeleceram como elos de ligação entre Estado, sociedade e mercado, ocupando assim espaços deixados pelo Estado, sobretudo no âmbito social. No último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) notam-se uma evolução na quantidade de entidades (Gráfico1).

autônomos da administração pública descentralizada, fundações e instituições sociais das empresas. A nova ordem seria, portanto, definida pelo chamado terceiro setor (COUTINHO, 2004, p.172-173).

12Exemplo da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida fundada pelo sociólogo Herbert de Souza,

o Betinho, a partir do Movimento pela Ética na Política. Em 1993, ele lançou o programa Ação da Cidadania, tendo como objetivo a mobilização de todos os segmentos da sociedade brasileira na busca de soluções para as questões da fome e da miséria. Desde 1993, a Ação da Cidadania trabalha para estimular a participação cidadã na construção e melhoria das políticas públicas sociais.

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Gráfico 1 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, segundo a data de criação (1971 a 2010)

Fonte: Elaboração da autora baseada nas informações do IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas.

De acordo com os dados do IBGE (2012), existiam oficialmente no Brasil, em 2010, 290,7 mil fundações privadas e associações sem fins lucrativos (FASFIL), que compunham o Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE. O crescimento das FASFIL na década de 1990, em comparação a década anterior, foi da ordem de 124,6%, pois a quantidade de entidades nessa época mais que dobrou.

As FASFIL estão crescendo e se desenvolvendo no Brasil, apresentando-se como uma nova realidade social, atuando paralelamente ao Estado. Sua atuação está voltada ao desenvolvimento de ações de políticas públicas destinadas ao atendimento de necessidades sociais da população. No país existe legislação relativa à constituição e certificação dessas entidades, especificamente a Lei nº 10.406/02 descrita no Código Civil Brasileiro.

A principal diferença entre as associações e as fundações consiste na predominância do elemento pessoal nas associações em contrapartida à predominância do elemento patrimonial nas fundações13. Ao se observar os principais mobilizadores de recursos na América Latina, identificou-se que a principal fundação privada brasileira é a Fundação Bradesco.

13 Nesse capítulo da tese abordam-se a atuação de fundações privadas sem fins lucrativos pois não há pretensão de se abordar a temática das associações.

32.858

61.970

139.187

45.679

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Gráfico 2 - Principal fundação privada brasileira mobilizadora de recursos segundo o Índice de doadores

para a América Latina por quantidade de recursos

Fonte: Elaboração da autora com base nos dados da Fundação Avina (2011).

Atuando deste 1956, a Fundação Bradesco ressalta em seu discurso institucional que seu propósito é atuar na formação cidadã e inclusão social, no fomento a projetos de educação de qualidade (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2013). De acordo com a Fundação Avina (2011), no período de 2004-2010, a fundação destinou US$ 701.913.662 milhões de dólares, sendo que nos últimos 10 anos aplicou em educação recursos equivalentes a R$ 4,012 bilhões de reais, destinados à educação básica, educação profissional técnica, educação de jovens e adultos e programas de formação inicial e continuada (Gráfico 2).

Além da Fundação Bradesco, pode-se mencionar a atuação do Instituto Israelita de Responsabilidade Social Albert Einstein (IIRSAE), Cemig, Petrobrás, Instituto Gerdau, Samarco e Instituto Ayrton Senna, que de acordo com o Latin America Donor Index, de 2010, estão entre os 10 principais mobilizadores de recursos brasileiros na América Latina.

De acordo com censo do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), a educação é a área prioritária com maior volume de investimentos. Os investimentos em projetos e programas sociais educacionais trazem às fundações vantagens de várias formas: uma é a preparação futura de mão de obra qualificada, para atender às atuais exigências da competição internacional; outra é que esse tipo de investimento, quase sempre realizado em regiões em que a empresa formadora da fundação está situada, contribuindo para construção de uma imagem positiva junto à comunidade. Portanto o investimento na área educacional, em médio e longo

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prazo, significa investir no elemento humano, que possibilitará ao empresariado buscar no mercado de trabalho o talento profissional que será o seu diferencial na competição empresarial (CENSO GIFE, 2007/2008).

O investimento das fundações em educação é considerado como aquele que tem maior retorno em termos sociais e econômicos (PSACHAROPOULOS, 1983). A ênfase dada pelas fundações à educação14, considerada como área estratégica para atuação, pode estar associada ao fato dela integrar-se aos processos de transformação social, podendo ser um instrumento de dominação ou reprodução de uma ordem social estabelecida pelas classes dominantes. No caso específico da Fundação Bradesco, nota-se que esse argumento pode ser confirmado em parte, pois a entidade pode ser formadora de mão de obra qualificada já que o ensino médio de suas escolas é direcionado a preparação profissional. De acordo com a Fundação Bradesco (2013), os alunos optam entre as áreas técnicas de contabilidade, administração, agropecuária, eletrônica, processamento de dados, magistério ou ensino convencional.

Ainda que seja reduzido o número dessas instituições, se comparado à área geográfica do Brasil, e por mais que suas ações ainda não resolvam os problemas da sociedade brasileira, Grazzioli e Rafael (2009) ressaltam que as pequenas somas destinadas às causas sociais podem minimizar os problemas de desenvolvimento econômico e social. Mesmo que afirmem o contrário, as ações das fundações se dirigem mais para os sintomas dos problemas sociais do que para as causas, mais para o curto prazo do que para o longo prazo. Para as fundações, o país tem grande potencial, mas por si só não consegue resolver os problemas sociais e a sociedade brasileira continua sendo uma sociedade carente. Dessa forma, cunha-se um ambiente para um discurso assistencialista. Essas entidades, retoricamente, assinalam que os problemas sociais são complexos e que não impactam somente o desenvolvimento econômico dos países (KATZ, 2005). Fairclough (2001, 2005) afirma que as potencialidades da sociedade brasileira são pouco ressaltadas, destacando-se as fraquezas, os problemas e as necessidades.

14 Outra ênfase está em fortalecer a gestão da C&T nos países em desenvolvimento, criando capacidades de planejamento e gestão de informação estratégica (SCHIEFELBEIN, 1983).

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Essa talvez seja uma forma de se justificar a presença das fundações privadas atuando em espaços que caberia ao Estado atuar. Apesar disso, essas entidades passam a definir como as questões sociais, especialmente na área de educação, devem ser tratadas. Por outro lado, Fisher (1980) ressalta que apoiam ações voltadas ao conservadorismo mantendo a mesma ordem estabelecida pelo sistema internacional de poder, privilégio e hegemonia dos países centrais. Roelofs (2007) acredita que as fundações filantrópicas procuram promover um consenso sobre as democracias capitalistas. Suas formas de influência são canalizadas através da ideologia de formação de redes de parcerias com intelectuais que lhes dão estatuto e credibilidade, bem como exercem controle sobre os recursos econômicos em universidades, centros de arte e organizações sociais.

Assim, entende-se que as fundações privadas, nacionais e internacionais, auxiliam na constituição de uma elite conservadora voltada para manutenção da ordem social instaurada, pois trabalham dentro da perspectiva de renovação dessa ordem através da revolução passiva, de caráter elitista e autoritário, promovendo transformações que atendam as classes dominantes. Essas instituições brasileiras seguem o modelo norte-americano de terceiro setor15, sendo parte ou extensão das corporações fundadoras que buscam difundir na sociedade o ideal da responsabilidade social das empresas, direcionando as ações de fomento de acordo com objetivos predeterminados pelas lideranças dessas fundações. Torna-se relevante analisar a atuação das fundações privadas norte-americanas, pois sendo a Fundação Ford o objeto de pesquisa desta tese, ressalta-se o contexto a qual está inserida.

15

O termo Terceiro Setor começou a ser usado na década de 1970 nos Estados Unidos, para identificar um setor da sociedade no qual atuam organizações sem fins lucrativos, voltadas para a produção ou a distribuição de bens e serviços públicos (SMITH, 1991). Em 1972, por exemplo, Amitai Etzioni publicou o artigo "The Untapped Potential of the 'Third Sector'', na revista Business and Sociefy Review, no qual defendia uma mudança de orientação da política social do governo Nixon que, em sua opinião, ao invés de privilegiar o setor lucrativo na provisão de serviços sociais, deveria incentivar a criação e o fomento de organizações privadas sem fins lucrativos que assim o fizessem (ETZIONI, 1972). Outras obras também deram ênfase à expressão "Terceiro Setor", dentre as quais os livros: The Third Sector: new tactics for a responsive society, de Theodore Levitt (1973); Giving in America: toward a stronger voluntary sector, da Comission on Private Philanthropy and Public Needs (1975); The Endangered Sector (1979); e The Third Sector: keystone of a caring society (1980), de Waldemar Nielsen. (ALVES, 2002).)

Referências

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