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Apostila 03 - Dtos Sociais

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CURSO DE DIREITO 4º Semestre

Disciplina: DIREITO CONSTITUCIONAL III Professor: FLAVIO ERVINO SCHMIDT Apostila 03

DIREITO CONSTITUCIONAL III

Sumário:

3) DOS DIREITOS SOCIAIS 3.1) Noções gerais

3.2) Trabalhador

3.2.1) Trabalhador temporário 3.2.2) Trabalhador rural 3.2.3) Trabalhador doméstico 3.3) Direitos dos trabalhadores

3.3.1) Despedida arbitrária ou sem justa causa 3.3.2) Salário mínimo

3.3.3) Participação nos lucros 3.3.4) Liberdade sindical 3.3.5) Greve

3.3.6) Outros direitos

3.1) NOÇÕES GERAIS

O Capítulo II, embora seja encabeçado pela rubrica Dos direitos sociais, limita-se a arrolá-los no art. 6º, ocupando-se deles, detalhadamente, em outros artigos (educação - art. 205; saúde - art. 196; trabalho - art. 7º e incisos; segurança - arts. 21, XIV, 22, XXVIII, e 144; previdência social - art. 201 e parágrafos; infância - art. 24, XV; assistência aos desampara- dos - arts. 5º, LXXIV, 7º, II, e 24, XIV) e cuidando, na verdade, das relações de trabalho.

Ao lado dos direitos individuais, que têm por característica fundamental a imposição de um não fazer ou abster-se do Estado, as modernas Constituições impõem aos Poderes Públicos a prestação de diversas atividades, visando o bem-estar e o pleno desenvolvimento da personalidade humana, sobretudo em momentos em que ela se mostra mais carente de recursos e tem menos possibilidade de conquistá-los pelo seu trabalho.

Pelos direitos sociais tornam-se deveres do Estado o assistir à velhice, aos desempregados, à infância, aos doentes, aos deficientes de toda sorte etc.

Não se devem confundir tais direitos com os dos trabalhadores, porque esses dizem respeito tão-somente àqueles que mantêm um vínculo de emprego.

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3.2) TRABALHADOR

O vocábulo "trabalhador" é bastante amplo e, por conseguinte, impreciso.

Num sentido lato, são trabalhadores todos aqueles que se dedicam a uma atividade voltada a suprir uma carência humana. De fato, é pelo trabalho que o homem vence a falta de auto-suficiência, que é marca fundamental da sua condição terrena.

Quer executando tarefas manuais, quer empreendendo misteres intelectuais ou, ainda, levando a efeito a coordenação das atividades de outras pessoas, em todos esses casos o ser humano está trabalhando. É óbvio, todavia, que não é nesse sentido que o vocábulo aparece na Constituição. Na verdade, ela mesma não define o que seja o trabalhador. É necessário, pois, valer-se da construção legislativa e doutrinária que cerca o vocábulo.

Saliente-se, outrossim, que o trabalho assume diversas modalidades, às quais o direito vem procurando responder através de uma sofisticação terminológica que procura qualificar a condição fundamental do trabalhador. Antes, pois, de entrarmos nessas diversas variações em torno do conceito fundamental, convém responder à questão: Quem é trabalhador para efeitos constitucionais?

A resposta é, num primeiro momento, simples. Trabalhador é o empregado. É dizer, aquele que vende o seu trabalho a outrem, sob uma condição de subordinação. A Consolidação das Leis do Trabalho nos oferece uma definição legal de empregado:

CLT art. 3º "Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário".

O traço mais característico do empregado é o caráter de subordinação que está presente no vínculo laboral com o empregador. Mas é possível haver trabalho subordinado sem que estejam satisfeitas essas exigências da definição legal. Cite-se o caso do eventual. Não falta o caráter de permanência, de durabilidade da relação laboral. Seu traço característico é a descontinuidade.

Acaba, em conseqüência disso, por não gozar dos mesmos direitos do empregado, embora seja preciso salientar que a própria conceituação de eventualidade ou de ineventualidade não é pacífica. Há aqueles que vêem o não-eventual como o trabalhador que exerce um tipo de trabalho que não coincide exatamente com o objeto da atividade da empresa.

É certo que toda entidade tem necessidade, com maior ou menor periodicidade, de alguma sorte de serviço que não é relacionado ao produto final da empresa. Pode precisar, por exemplo, de uma pintura nas suas instalações. Em função disso, contrata os serviços de um pintor que, tecnicamente falando, não é empregado. Carece do elemento não-eventual. É, isto sim, um trabalhador eventual.

3.2.1) Trabalhador Temporário

Dentro do trabalho subordinado encontramos, ainda, o trabalhador temporário, que tem suas características próprias, sem, contudo, poder ser equiparado a um empregado, nem mesmo ao admitido temporariamente. A bem da verdade, o trabalhador subordinado típico é o empregado, aquele que se beneficia integralmente do regime do art. 7º da atual Constituição.

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Como atípicos surgem o eventual e o temporário, que não gozam, necessariamente, dos direitos definidos neste artigo, mas ficam sujeitos à legislação específica.

O temporário é aquele que presta serviços para as empresas de locação de trabalho temporário. Estas, por sua vez, cedem os serviços para outras. A subordinação do trabalhador temporário se dá perante a empresa de trabalho temporário. É desta que percebe a remuneração, nada obstante o fato de o seu trabalho dar-se em favor do cliente da empresa do trabalho temporário. Quanto ao trabalhador sem vínculo de subordinação, uma dúplice classificação há de ser feita. De um lado, o trabalhador autônomo propriamente dito e, de outro, a empreitada (contrato em que uma das partes se propõe a fazer ou a mandar fazer certa obra, mediante a remuneração determinada ou proporcional ao serviço executado).

Autônomo é aquele trabalhador que preserva o poder de organizar a sua atividade. Não abre mão da prerrogativa de não sofrer ingerência heterônoma na determinação da sua prestação laboral. Portanto, não se subordina. Não só escolhe os seus serviços, como não fica sujeito a controle e poder disciplinar alheios. Trabalha, outrossim, sob sua responsabilidade, o que acarreta, sem dúvida, riscos econômicos e financeiros a que não se sujeita o empregado.

Nessa categoria, estão incluídos os profissionais liberais, que prestam sua atividade em seus consultórios ou escritórios, os profissionais sem vínculo empregatício e os vendedores por conta própria.

32.2) Trabalhador rural

A Lei Complementar nº 11/71 define empregador rural como sendo "... a pessoa física que presta serviços de natureza rural a empregador, mediante remuneração de qualquer espécie" (art. 3º, § 1º, a).

O trabalhador rural não vinha enunciado na Constituição de 1967 como beneficiário necessário das garantias constitucionais na matéria. É uma novidade, pois, do atual Texto Constitucional, no seu artigo 7º, ter equiparado o trabalhador urbano ao rural.

A própria discriminação entre o que seja um trabalhador rural e outro urbano perde, portanto, muito da sua razão de ser.

3.2.3) Trabalhador Doméstico

Os trabalhadores domésticos também não gozavam de uma proteção constitucional, ficando ao critério da lei atribuir-lhes o regime competente. Entretanto, os domésticos fruem agora daqueles direitos especificados no parágrafo único do inc. XXXIV do art. 7º Têm direitos, portanto, por força da Constituição, ao salário mínimo, irredutibilidade do salário, décimo terceiro, gozo de férias anuais com um terço a mais do que o salário normal, licença à gestante, licença-paternidade, aviso prévio e aposentadoria.

A legislação específica sobre empregado doméstico está na Lei nº 5.859, de 11 de dezembro de 1972, que fornece a definição dessa categoria de trabalhador: "... aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou a família, no âmbito residencial destas..." (art. 1º).

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3.3) DIREITOS DOS TRABALHADORES

Esses direitos dizem respeito tão-somente àqueles que mantêm um vínculo de emprego. São os destinados a proteger a relação de trabalho contra uma profunda desigualdade, que resultaria da não-observância de preceitos mínimos destinados a compatibilizar a função laboral com a dignidade e o bem-estar do indivíduo.

A Constituição cuida desses direitos mínimos no art. 7º, deixando claro que protegem tanto os empregados urbanos quanto os rurais. Os direitos dos trabalhadores que sofreram mais profunda alteração com a Constituição de 1988 foram os que seguem.

3.3.1) Despedida Arbitrária ou Sem Justa Causa

O inc. I do art. 7º introduz uma nova conquista laboral, que prevê uma proteção contra a despedida arbitrária ou sem justa causa. O direito anterior limitava-se a conferir ao empregado o levantamento do FGTS acrescido de importância igual a 10% sobre os depósitos. No caso de culpa recíproca ou força maior, o percentual equivalia a 5%.

Atualmente a despedida deve ser precedida de aviso prévio, que é uma comunicação formal feita ao empregado pelo empregador, transmitindo-lhe a sua resolução. Neste caso o empregado receberá os depósitos de FGTS, acrescidos de uma multa de 40 % em relação aos depósitos, férias vencidas e proporcionais e o décimo terceiro proporcional. O empregador depositará ainda 10 % deste valor em favor do Fundo (FGTS).

3.3.2) Salário Mínimo

Determina o art. 7º, IV, a unificação do salário mínimo em todo o território nacional, o que é feito para evitar abusos, ou seja, para impedir que certos empregadores tirem proveito da situação de desespero de alguns para impor-lhes um salário não condizente com a realidade econômica do momento.

Trata-se da contraprestação mínima, que deve ser efetuada pelo empregador ao trabalhador por determinado período de serviço e que seja capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família.

Inovação importante deu-se no âmbito do salário mínimo. Este passou a ter o seu quantum determinado por um número muito maior de itens. Cite-se, como exemplo, o lazer. Acontece que esse salário mínimo, para ser aplicado, demanda uma nova legislação, que regulamente o dispositivo sob comento. Enquanto esta não vier, o salário mínimo há de continuar a ser pago na forma da atual legislação.

3.3.3) Participação nos Lucros

A atual Constituição estabelece no inc. XI do já referido art. 7º, de maneira clara e taxativa, que os empregados têm direito a participar nos lucros, ou resultados da empresa, de forma desvinculada da remuneração, conforme vier a ser definido em lei. Assim sendo, a matéria está na dependência de lei regulamentadora.

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3.3.4) Liberdade Sindical

O art. 8º estabelece ser livre a associação profissional ou sindical. É este um caso particular do direito mais amplo de associação, já assegurado de maneira ampla no rol dos direitos individuais. O sindicato possui, no entanto, características que o individualizam dentre as associações. Ele só pode ser formado por trabalhadores da mesma categoria profissional e tem por objeto a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da aludida categoria. Ele tem uma presença obrigatória nas negociações coletivas, e o nelas decidido obriga mesmo o empregado não filiado ao sindicato, sem embargo de ficar certo que ninguém pode ser compelido a filiar-se ou a manter-se filiado a entidades sindicais.

Em alguns pontos avançou-se no sentido de uma maior liberdade sindical; por exemplo, o art. 8º, I, veda ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical. Entretanto, já o inc. II do mesmo artigo veda a criação de mais de uma organização sindical em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial. Em outras palavras, num mesmo território só pode haver um sindicato da mesma categoria.

O poder sindical foi muito reforçado. O inc. IV do mesmo art. 8º chega a conferir à assembléia geral o direito de instituir contribuição para custeio do sistema confederativo, independentemente da contribuição prevista em lei.

3.3.5) Greve

As condições impostas pelo liberalismo econômico originado pela Revolução Industrial levaram o operariado à greve, “o grande instrumento de afirmação do trabalhador", nas palavras de Antonio Candido. Trata-se de um conflito coletivo de trabalho, consistente na paralisação dos serviços necessários à empresa, seja estatal, seja privada: "derivada da própria natureza das relações de trabalho, manifesta-se onde quer que os desajustamentos das partes contratantes envolvam uma pluralidade de trabalhadores" (cf. Azis Simão, Sindicato e Estado, São Paulo, Ática, 1981, p. 51).

Conforme Héléne Sinay e Jean Claude Javillier, a greve é um ato de força e, por isso, à primeira vista, o direito não deveria dela se ocupar (cf. Droit du travail - la grève, 2ª ed., Paris, Dalloz, 1984). A força da greve é inegável. No Brasil, em menos de cem anos, a greve, que era considerada crime, converteu-se em direito esculpido na Lei Fundamental.

É assegurada de forma ampla no caput do art. 9º da Constituição. O Estado acabou por admitir a greve como forma de impor a vontade da massa trabalhadora, mas limitou o seu exercício através da sindicalização. Ainda, o § 1º do referido art. 9º incumbe-se de cerceá-lo, ao menos no que diz respeito aos serviços e atividades essenciais, tais como definidos em lei.

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3.3.6) Outros Direitos

Quanto às horas semanais de trabalho, elas sofreram uma redução de quarenta e oito para quarenta e quatro e o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento teve a sua jornada reduzida para seis horas, salvo negociação coletiva.

A hora extra teve a sua remuneração mínima acrescida de 50% sobre a do horário normal. A gestante passa, doravante, a gozar de licença de cento e vinte dias, embora deva-se notar que ela já goza, também, por força do art. 10, II, b, das Disposições Transitórias, de proteção consistente na proibição de sua despedida arbitrária ou sem justa causa, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

A licença-paternidade é outra inovação. Consiste no direito de o pai ausentar-se do trabalho por cinco dias por ocasião do nascimento do filho (cf. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, art. 10, § 1º).

O inc. XX do art. 7º determina a implantação de uma política de proteção do mercado de trabalho da mulher, o que deverá ser feito por lei. Com efeito, são tão diversas as discriminações feitas a favor da mulher que se afigurou de bom alvitre ao constituinte reequilibrar o mercado de trabalho, tornado desfavorável para a mulher. A lei deverá, portanto, mediante incentivos específicos, tornar atraente a contratação de mulheres pelo empregador, nada obstante o fato de saber-se terem elas um custo social bem mais elevado.

Quanto ao seguro contra acidentes de trabalho a cargo do empregador é bom notar que a Constituição não exclui o dever, por parte deste, de indenizar, desde que tenha havido dolo ou culpa. A partir do inc. XXX o Constituinte faz praça de uma séria preocupação: coibir as discriminações. Assim é que fica logo proibida a diferença de salários por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; proíbe-se a discriminação contra o deficiente; veda-se a distinção entre o trabalho manual, técnico e intelectual e, finalmente, estabelece-se a igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

Pelo inciso XII do art. 7º fica garantido o salário-família para os dependentes dos trabalhadores. A Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, modificou a redação desse dispositivo, deixando certo que esse benefício deve ser concedido aos dependentes de trabalhadores de baixa renda a serem definidos por lei. Por esta emenda, que altera a redação do inciso XXXIII do art. 7º, fica proibido o trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.

Também as domésticas resultam quase que equiparadas aos demais trabalhadores, uma vez que o parágrafo único do inc. XXXIV a elas confere os direitos previstos nos incisos nele especificados.

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4) DA NACIONALIDADE Sumário:

4.1) Nacionais e estrangeiros 4.1.1) Exceções

4.2) Critérios para atribuição da nacionalidade: jus sanguinis e jus soli 4.2.1) Exceções

4.3) Perda da nacionalidade 4.4) Reaquisição da nacionalidade

4.1) NACIONAIS E ESTRANGEIROS

Em face do Estado, todo indivíduo ou é nacional ou é estrangeiro. É que a nacionalidade representa um vínculo jurídico que designa quais são as pessoas que fazem parte da sociedade política estatal. Ao conjunto dessas pessoas chama-se "povo", o que não deve ser confundido com "população", que é um conceito meramente demográfico, designativo do número de habitantes de um dado território num determinado momento.

População, saliente-se, não é um conceito de natureza jurídica porque engloba categorias de indivíduos que nutrem com o Estado as mais diversas relações jurídicas: estrangeiros residentes no país, apátridas etc. Por outro lado, o conceito de "população" não interessa ao direito porque não compreende aqueles que, muito embora residindo fora do território do Estado, são seus nacionais.

Cumpre deixar clara a nítida distinção que separa o estrangeiro do nacional. Este mantém com o Estado um vínculo jurídico, esteja ele sediado ou não no seu território. São, portanto, "nacionais" de um Estado aqueles que o seu direito define como tais. É uma situação jurídica e não uma mera situação de fato.

O conceito de "estrangeiro" só pode ser entendido a partir de uma exclusão: Estrangeiro é todo aquele que não é tido por nacional, em face de um determinado Estado. Isso não significa que os estrangeiros não estejam sujeitos à regulamentação do direito do Estado em que se encontrem.

Pelo contrário, sujeitam-se às imposições deste e gozam dos benefícios conferidos aos nacionais, em matéria de proteção dos direitos individuais. Sofrem, contudo, restrições no tocante à fruição de direitos políticos ou ao exercício de atividades que possam interferir na segurança nacional.

O que é certo, entretanto, é que o gozo desses benefícios e a sujeição a esses ônus perduram enquanto o indivíduo se encontrar no âmbito espacial da jurisdição do Estado. Em dele saindo, cessa toda a referida sujeição jurídica.

Um nacional, ainda que residente no estrangeiro, pode vir a sofrer sanções do Estado a que pertence (p. ex.: a perda da própria nacionalidade). Pode também gozar de certos

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direitos (p. ex.: a repatriação para o Brasil, no caso de encontrar-se impossibilitado de retornar por seus próprios meios).

A mesma situação não ocorre, entretanto, com o estrangeiro egresso do território nacional. A razão disso é que, sendo o Estado uma sociedade, incumbe-lhe zelar pelo bem comum dos seus membros (no caso, os seus nacionais) e tão-somente disciplinar a atividade dos estrangeiros residentes no seu território na medida em que isso for considerado indispensável para assegurar o bem comum.

Em síntese, pois, nacional é a pessoa natural do Estado. É todo aquele que se encontra preso ao Estado por um vínculo jurídico que o qualifica como seu integrante (vínculo que o acompanha, inclusive em seus deslocamentos no espaço, quando se encontrar no âmbito territorial de outros Estados). Pessoa estrangeira é aquela a que o direito do Estado não atribui a qualidade de nacional.

4.1.1) Exceções

A Constituição Federal estabelece no art. 5º a garantia aos brasileiros e estrangeiros residentes no País à inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Todavia, esse direito, à primeira vista igualitário, sofre restrições acentuadas, pelo próprio Texto Maior. Por exemplo:

O art. 5º LI, determina: "Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins...".

4.2) CRITÉRIOS PARA ATRIBUIÇÃO DA NACIONALIDADE: JUS SANGUINIS E JUS SOLI

Como se viu, o direito positivo de cada Estado é o competente para conferir a nacionalidade, o que é feito em função da adoção de diferentes critérios.

Basicamente, podem ser resumidos a dois. O primeiro se funda no princípio de que será nacional todo aquele que for filho de nacionais (jus sanguinis). O segundo determina serem nacionais todos aqueles nascidos em seu território (jus soli). Constata-se, pois, que são regimes de inspiração muito diversa, uma vez que um leva em conta a paternidade, ou seja, a nacionalidade dos pais, enquanto o outro parte do critério da territorialidade, vale dizer, do lugar do nascimento.

É de se notar que a conveniência para os Estados em adotar um ou outro critério também é variável segundo se trate de um país de emigração ou imigração. Os que exportam os seus nacionais inclinar-se-ão por adotar a teoria do jus sanguinis, visto que ela lhes permite manter uma ascendência jurídica mesmo sobre os filhos de seus emigrados. Ao reverso, os Estados de imigração tenderão ao jus soli procurando integrar o mais rapidamente possível aqueles contingentes migratórios, através da nacionalização dos seus descendentes.

É importante salientar que essas considerações só têm valia no nível pré-jurídico porque perante o direito positivo serão nacionais, como já foi dito, aqueles assim considerados

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pelo constituinte, que em regra nunca se filia de modo absoluto a quaisquer dessas teorias. Pelo contrário: constrói um regime adequado à sua realidade, como é o caso do Brasil, que, embora filiado à teoria do jus soli, aceita-a com abrandamentos, como a seguir se verá.

4.2.1) Exceções

Tanto o jus sanguinis quanto o jus soli sofrem exceções, isto é, não são aplicados de modo absoluto, e sim de acordo com o interesse de cada país.

O Brasil adota o critério do jus soli, com algumas exceções: O art. 12 dispõe sobre a nacionalidade.

I - São brasileiros natos:

a) Os nascidos em território brasileiro, embora de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país.

Nascer em território brasileiro significa nascer em qualquer parte do nosso domínio. Por exemplo: são brasileiros os nascidos em navio de guerra brasileiro, onde quer que se encontre.

Há exceção ao princípio do jus soli quanto aos filhos de estrangeiro ou estrangeira que esteja a serviço do seu país (aqui aplica-se o jus sanguinis).

b) Os nascidos fora do território nacional, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil.

Outra exceção ao jus soli (aqui também aplica-se o jus sanguinis).

c) Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, embora não estejam a serviço do Brasil, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira; isto conforme a nova redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994.

A letra “c“ do inciso I do art. 12 da Constituição Federal teve a sua redação alterada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994. A anterior apresentava sensível diferença; vejamos:

"... c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta, optem em qualquer tempo pela nacionalidade brasileira".

São duas hipóteses:

1ª) Registrado em repartição competente brasileira - é considerado nato, independentemente de manifestação de vontade.

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2ª) Não registrado - a aquisição da nacionalidade brasileira dependerá de manifestação expressa do interessado em adquirir a nacionalidade brasileira, a qualquer tempo.

II - São brasileiros naturalizados:

a) Os que adquiram, na forma da lei, a nacionalidade brasileira; aos de países de língua portuguesa exige-se apenas a residência por um ano ininterrupto, em nosso país, e idoneidade moral.

b) Os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição.

4.3) PERDA DA NACIONALIDADE

O § 4º do art. 12 diz que perderá a nacionalidade brasileira aquele que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

II - adquirir outra nacionalidade por naturalização voluntária.

Ação voluntária não significa, necessariamente, pedido expresso de aquisição de nacionalidade. A naturalização pode ocorrer implicitamente, dependendo da legislação do país em que o brasileiro se encontra.

A questão de se saber se houve ou não naturalização voluntária em caso de contestação será apreciada pelos Tribunais.

III - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;

b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

A Constituição, a partir da Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994, passou a reconhecer expressamente o direito de brasileiro não perder a sua nacionalidade por força de possuir uma estrangeira, desde que decorrente de um ato não voluntário, o que significa dizer, desde que se trate de uma nacionalidade originária.

Alguém que nasça no Brasil mas seja descendente de estrangeiro cujo país confira a qualidade de nacionais aos filhos dos seus nacionais nascidos no estrangeiro.

Num outro ponto a Constituição foi inovada de maneira mais acentuada. Foi ao tratar dos efeitos da aquisição, por brasileiro, de nova nacionalidade por ação voluntária. No direito anterior toda naturalização de brasileiro levava à perda da nacionalidade. No atual reconhece-se que o mesmo brasileiro possa ter sido forçado a adquirir esta nova nacionalidade.

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Considera-se que houve coerção ou imposição toda vez que o Estado estrangeiro exija como condição para permanência em seu território, ou para o exercício dos direitos civis, a naturalização. Nestas hipóteses, pois, ainda que o brasileiro leve a efeito a sua naturalização, esta não tem o condão de privar-lhe a nacionalidade brasileira.

4.4) REAQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE

A perda da nacionalidade brasileira nos casos do art. 12, § 4º I e II, não é impeditiva de reaquisição. Assim, o que perdeu a nacionalidade pelos motivos elencados nestes incisos poderá readquiri-la por decreto do Presidente da República, se estiver domiciliado no Brasil (Lei nº 818/49, art. 36). A reaquisição não será concedida se ficar apurado que o brasileiro optou por outra nacionalidade (art. 12, § 4º, II) para se eximir de obrigações cívicas.

A reaquisição se opera a partir do decreto que a concedeu, não tendo efeito retroativo. Mas o readquirente se beneficiará da concessão anteriormente perdida, inclusive das vantagens de brasileiro nato, se for o caso.

Não cabe reaquisição no caso de naturalizado que teve sua naturalização cancelada por sentença judicial, a menos que o cancelamento tenha sido desfeito por ação rescisória.

5) DOS DIREITOS POLÍTICOS Sumário:

5.1) Características gerais

5.2) Distinção entre nacional e cidadão 5.3) Democracia semidireta

5.4) Direitos políticos ativos e passivos 5.5) Suspensão e perda dos direitos políticos

5.1) CARACTERÍSTICAS GERAIS

No Estado de Direito o indivíduo tem assegurada pela ordem jurídica uma certa gama de interesses relativos à propriedade, à liberdade, à igualdade etc. São direitos oponíveis ao Estado e que visam a inibir sua atuação: têm, pois, um conteúdo negativo. Entretanto, ao lado destes, coexistem no Estado democrático direitos assecuratórios da participação do indivíduo na vida política e na estrutura do próprio Estado.

Enquanto os primeiros visam a proteger o indivíduo enquanto mero súdito do Estado, os segundos almejam assegurar ao cidadão acesso à condução da coisa pública ou, se se preferir, à participação na vida política. Daí serem chamados "direitos políticos", por abrangerem o poder que qualquer cidadão tem na condução dos destinos de sua coletividade, de uma forma direta ou indireta, vale dizer, sendo eleito ou elegendo representantes próprios junto aos poderes públicos.

Pimenta Bueno os define como sendo "... prerrogativas, atributos, faculdades, ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção direta ou indireta,

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direitos cívicos, que se referem ao Poder Público, que autorizam o cidadão ativo a participar na formação ou exercício da autoridade nacional, a exercer o direito de vontade ou eleitor, os direitos de deputado ou senador, a ocupar cargos políticos e a manifestar suas opiniões sobre o governo do Estado" (Direito público brasileiro e análise da Constituição do Império, nova ed., Rio de Janeiro, 1958, p. 458).

Constituem espécies de direitos políticos, por exemplo: o direito de votar, o de ser votado, o de prover cargo público etc...

5.2) DISTINÇÃO ENTRE NACIONAL E CIDADÃO

O nacional não deve ser confundido com o cidadão. A condição de nacional é um pressuposto para a de cidadão. Em outras palavras, todo cidadão é um nacional, mas o inverso não é verdadeiro: nem todo nacional é cidadão. O que confere esta última qualificação é o gozo dos direitos políticos. Cidadão, pois, é todo o nacional na fruição dos seus direitos cívicos. Se por qualquer motivo não os tenha ainda adquirido (p. ex., em razão da idade) ou já os tendo um dia possuído veio a perdê-los, o nacional não é cidadão, na acepção técnico-jurídica do termo.

A doutrina distingue entre direitos políticos ativos e direitos políticos passivos. Direitos políticos ativos referem-se à capacidade para ser eleitor, e representam um pré-requisito para o exercício dos direitos políticos passivos, que constituem a possibilidade de ser eleito. A aquisição dos direitos políticos, em face do atual Sistema Constitucional Brasileiro, se dá, gradativamente, através de um processo que se inicia aos dezesseis anos e termina aos trinta e cinco.

5.3) DEMOCRACIA SEMIDIRETA

Logo no início do capítulo dos direitos políticos o constituinte consagrou mecanismos de democracia semidireta. O que significa isto exatamente?

A democracia grega, que se realizava através da participação dos cidadãos diretamente nos negócios do Estado, hoje, é praticamente impossível em virtude do número enorme de pessoas, bem como pelo próprio tamanho do Estado Moderno (a exceção são alguns cantões suíços). Realizar reuniões onde todos pudessem participar seria o caos. Por estas e outras razões, o sistema adotado a partir do século XVIII foi o representativo, onde os cidadãos se fazem presentes indiretamente na elaboração das normas e na administração da coisa pública através de delegados eleitos para esta função.

Os instrumentos de democracia semidireta, portanto, são a tentativa de dar mais materialidade ao sistema indireto. É tentar reaproximar o cidadão da decisão política, sem intermediário. Para isto o constituinte escolheu os seguintes instrumentos:

I - Plebiscito - no plebiscito há a manifestação popular, onde o eleitorado decide, ou toma posição, diante de uma determinada questão. Assim, em termos práticos, é feita uma pergunta à qual responde o eleitor. Em 1993 houve um plebiscito para decidir sobre a forma e o sistema de governo.

II - Referendo - é uma forma de manifestação popular, em que o eleitor aprova ou rejeita uma atitude governamental.

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III - Iniciativa popular - é o direito de uma parcela da população (um por cento do eleitorado) apresentar ao Poder Legislativo um projeto de lei que deverá ser examinado e votado. Os eleitores também podem usar deste instrumento em nível estadual e municipal.

5.4) DIREITOS POLÍTICOS ATIVOS E PASSIVOS

Ativos - os direitos políticos ativos iniciam-se aos dezesseis anos de forma facultativa e aos dezoito de forma obrigatória (daí falar-se que o voto é, além de um direito, uma função). Esta manifestação dos direitos políticos ativos se dá através da capacidade de votar, participar de plebiscito e referendo, subscrever projeto de lei de iniciativa popular e de propor ação popular.

No entanto, estes direitos não são automáticos. Necessário se faz o alistamento eleitoral. Este, como já foi dito, é obrigatório para os maiores de dezoito anos e facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito, para os analfabetos e para os maiores de setenta anos.

O alistamento eleitoral é vedado aos menores de dezesseis anos, aos estrangeiros e àqueles que estiverem cumprindo serviço militar obrigatório.

Passivos - os direitos políticos passivos consistem na possibilidade de ser votado, à qual se dá o nome de elegibilidade. Esta vem a ser, pois, a faculdade que os brasileiros possuem de candidatar-se ao provimento de cargos públicos. Em regra, todo aquele que se encontra na posse dos seus direitos políticos é elegível, desde que se aliste e não seja analfabeto.

Algumas pessoas tornam-se inelegíveis para o pleito subseqüente em razão de terem ocupado certos cargos, o que se dá com o Presidente da República, os Governadores de Estado, do Distrito Federal e os Prefeitos, assim como quem os houver sucedido ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito torna-se inelegível para os mesmos cargos no período imediatamente subseqüente.

Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. É o que se denomina desincompatibilização.

A desincompatibilização consiste no abandono de uma situação de provimento de cargo público que, se perpetuada além do prazo fixado em lei, geraria a inelegibilidade para aquele pleito específico.

A Constituição fixa, ainda, outros casos de inelegibilidade, por exemplo, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eleito e candidato à reeleição.

À lei complementar é que caberá estabelecer outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, tal como dispõe o § 9º do art. 14 da Constituição de 1988, com a nova redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994:

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"Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta".

Em síntese, atingida a idade para o alistamento eleitoral, levando este a cabo, e não sendo a pessoa analfabeta, torna-se elegível, condição que é normal, excetuada, contudo, em razão do provimento de alguns cargos públicos, nas formas descritas em lei complementar, se não contempladas pela própria Constituição.

O militar é elegível atendidas algumas condições que a Constituição estipula (§ 8º do mesmo art. 14 da CF). As inelegibilidades são, na maior parte das vezes, afastáveis mediante o instituto da desincompatibilização, que vem a ser, como vimos, o afastamento daquela situação que estava gerando o impedimento para a candidatura.

São condições de elegibilidade: a nacionalidade brasileira, o pleno exercício dos direitos políticos, o alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na circunscrição, a filiação partidária e a idade mínima de:

a) dezoito anos para Vereador;

b) vinte e um anos para Deputado Federal, Estadual ou Distrital, Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de Paz;

c) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado ou Distrito Federal;

d) trinta e cinco anos para Senador, Presidente e Vice-Presidente.

Os analfabetos que alcançaram o status de eleitores (facultativo) não alcançaram a possibilidade de serem eleitos, portanto, não têm direitos políticos passivos (art. 14, § 4º).

5.5) SUSPENSÃO E PERDA DOS DIREITOS POLÍTICOS

A perda e a suspensão dos direitos políticos podem-se dar, respectivamente, de forma definitiva ou temporária. Ocorrerá a perda quando: houver cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado e no caso de recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço militar obrigatório).

A suspensão dos direitos políticos se dá enquanto persistirem os motivos desta, ou seja, enquanto não retoma a capacidade civil, o indivíduo terá seus direitos políticos suspensos; readquirindo-a, alcançará, novamente, o status de cidadão. Também são passíveis de suspensão os condenados criminalmente (com sentença transitada em julgado). Cumprida a pena, readquirem os direitos políticos; no caso de improbidade administrativa, a suspensão será da mesma forma, temporária.

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6) DOS PARTIDOS POLÍTICOS Sumário:

6.1) Conceito

6.2) Partidos políticos no Brasil

6.1) CONCEITO

Definir partido político não é tarefa fácil, dadas as múltiplas formas e mesmo finalidades diversas que pode ele assumir. Muito genericamente pode-se afirmar sobre ele o seguinte: trata-se de uma organização de pessoas reunidas em torno de um mesmo programa político com a finalidade de assumir o poder e de mantê-lo ou, ao menos, de influenciar na gestão da coisa pública através de críticas e oposição.

Essa definição é basicamente coincidente com a de Georges Burdeau:

"Qualquer agrupamento de indivíduos que, professando as mesmas idéias políticas, esforçam-se para fazê-las prevalecer, a um tempo a ele reunindo o maior número possível de cidadãos e buscando conquistar o poder, ou, pelo menos, influenciar suas decisões" (Tratado de ciência política, 2. ed., t. 3, p. 268).

Nota-se que o partido político é um organismo situado entre o indivíduo e o Estado. Sua existência tem sido devida às imposições decorrentes do sistema representativo. Desde cedo, quando os Parlamentos começaram a representar um papel político importante, neles também apareceram os grupos ou facções precursores dos atuais partidos políticos.

Este caráter parcial e circunscrito à defesa de alguns interesses em detrimento de outros deu lugar na Doutrina a uma séria resistência à adoção dos partidos políticos, que na acepção atual, na verdade, só surgiram por volta de 1850. Foram muito acerbas as críticas a eles dirigidas sobretudo no século passado. No atual, a sua disseminação por todos os países democráticos tem tornado desprezível a discussão sobre a sua conveniência: antes de mais nada o partido político é uma necessidade.

Sem ele a opinião pública não poderia ser organizada em torno de propostas políticas alternativas, mas dotadas cada uma de uma mesma visão inspiradora. De outra parte o governo também tem necessidade do partido político, porque é através dele que é obtido o indispensável apoio da sociedade para a consecução dos objetivos governamentais.

Em síntese, portanto, a democracia moderna depende visceralmente do partido político e há uma correlação muito nítida entre a aparição do autoritarismo e o esboroamento do sistema partidário.

Nunca é demais enfatizar a idéia de que os partidos variam muito de país para país e a razão principal é que são também diversos os sistemas partidários dentro dos quais eles se podem inserir. Ao menos três se destacam nitidamente: o monopartidarismo, o bipartidarismo e o pluripartidarismo.

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O monopartidarismo é uma constante nos países marxistas e encontrável, também, em algumas ditaduras de direita, sobretudo quando inspiradas no fascismo.

Tal sistema, obviamente, acaba por privar o partido político único de funções em princípio inerentes às organizações partidárias em geral. Por exemplo, a disputa pelo poder deixa de existir e os conflitos são resolvidos dentro do próprio partido. Às vezes até pela exclusão das correntes minoritárias a que se dá o nome de expurgo, ou então mediante uma oposição contra o próprio regime, o que gera uma forma conspirativa de tomada do poder.

O bipartidarismo tende a fazer aparecer organizações com pouca diferenciação ideológica. Isso significa o seguinte: cada um dos partidos só pode ascender ao poder se for majoritário. Isto leva a que eles se voltem para o ponto médio ou denominador comum da opinião nacional. Em outras palavras, de nada lhes adianta manterem-se fiéis a princípios ideológicos mas que só lhes assegure vinte ou trinta por cento do eleitorado.

No bipartidarismo há uma alternância no poder diante da qual o único fator que conta é a vitória. De passagem vale salientar-se que muitas vezes um bipartidarismo formal recobre, no fundo, um monopartidarismo de fato. É o que se deu em boa parte da vida política brasileira pós-revolução de 1964. O bipartidarismo é entre os sistemas partidários o mais conhecido, o que se deve muito provavelmente ao fato de ser ele praticado pelos Estados Unidos, a maior potência da Terra, e pela Inglaterra, o berço dos partidos políticos.

Convém salientar, entretanto, que mesmo nesses dois países há outros partidos políticos, mas a desproporção entre eles e os grandes partidos é tão significativa a ponto de se poder considerar como bipartidarismo puro o regime que vige nesses países. Neles sempre um partido é governo e o outro oposição; sempre um partido é conservador e o outro liberal; entre esses partidos nunca há coalizões.

Nos sistemas multipartidários ou pluripartidários, não necessariamente, mas quase sempre, o partido vitorioso nas eleições não detém a maioria do Parlamento. Abre-se, então, um complexo jogo de negociações tendentes a aglutinar dois ou mais partidos que venham a possibilitar o exercício do governo. Não há dúvida de que o pluripartidarismo reflete com mais matizes as diversas correntes de opinião pública. Daí porque ser esse sistema muitas vezes considerado o mais democrático. Acontece, entretanto, que essas vantagens têm o seu custo.

Em primeiro lugar, aumentam os poderes dos representantes do povo, na medida em que é o livre jogo das coligações por eles levadas a efeito que vai determinar a formação da maioria parlamentar, ao contrário do bipartidarismo, no qual esta maioria já resulta da vontade expressa pelo corpo eleitoral. De outra parte, estas coligações vêm muitas vezes acompanhadas de uma indesejável instabilidade, já que, formadas que foram pela vontade dos próprios partidos, podem também por eles ser desfeitas a qualquer momento.

Esta circunstância é grave tanto no presidencialismo quanto no parlamentarismo. Nesse último, rompidas as coligações, caem os governos. No presidencialismo, o esfacelamento partidário leva à inevitável fraqueza do órgão legislativo, que pode mais facilmente se ver atingido nas suas imunidades, privilégios e competências. Isto quando não se dá o inverso, igualmente a ser evitado, pelo desequilíbrio que traz no bom relacionamento entre os Poderes do Estado. Está-se a referir à hipótese em que, por falta de maioria no Legislativo, o Executivo se vê a braços com a impossibilidade de exercer plenamente a função governativa em razão da obstrução aos seus projetos de lei.

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6.2) PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL

Desconhecidos pela Constituição e Legislação Imperial, atuavam como associações inorgânicas formadas com base nos interesses de grupos. Havia dois partidos: o Liberal e o Conservador, que apresentavam poucas diferenças.

A Constituição Republicana de 1891 também os ignorou, não passando de instrumentos de expressão e de dominação das oligarquias estaduais. A partir de 1930, começam as transformações em matéria partidária. A primeira manifestação nesse sentido surgiu com o Código Eleitoral expedido pelo Governo Provisório em 1932, que instituiu a representação proporcional, o voto secreto e a Justiça Eleitoral.

Mas é na Constituição de 1946 que eles começam a firmar sua institucionalização jurídica, pois nela é feita explícita consignação dos Partidos Nacionais aos quais seria assegurada a representação proporcional nas Comissões Parlamentares.

Até 1965, houve um processo constante de fortalecimento dos partidos resultando em uma maior identificação entre as cúpulas e as bases partidárias.

Houve, entretanto, uma quebra brusca nesta ascensão, com a edição do Ato Institucional nº 2, que extinguiu os partidos políticos existentes, exigindo condições que viabilizaram a existência de apenas dois partidos: Arena e MDB.

Na Constituição atual a matéria vem disciplinada no art. 17, que estabelece a livre criação, fusão, incorporação e extinção de partidos desde que resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana.

Além destes princípios, que devem ser respeitados, os partidos devem cumprir certos requisitos: ter caráter nacional, não receber recursos financeiros internacionais, prestar contas à Justiça Eleitoral e agir no parlamento de acordo com a lei. Fundamental, no entanto, é que o partido, após adquirir personalidade jurídica, registre seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

O § 1º do art. 17 estabelece a autonomia partidária. Assim, terão os partidos liberdade para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e disciplina partidárias.

Por fim vetou o constituinte, expressamente, a utilização pelos partidos de organização paramilitar (art. 17, § 4º).

BIBLIOGRAFIA:

RIBEIRO BASTOS, Celso, Curso de Teoria do Estado e Ciência Política, SP: Celso Bastos Editor, 6ª Ed. 2004.

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