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A violação do direito dos animais nos experimentos científicos e na alimentação humana

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FACULDADE DE DIREITO

A VIOLAÇÃO DO DIREITO DOS ANIMAIS NOS EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS E NA ALIMENTAÇÃO HUMANA

BRUNO BELO COSTA LOURENÇO RODRIGUES

RIO DE JANEIRO 2017/ 1º SEMESTRE

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A VIOLAÇÃO DO DIREITO DOS ANIMAIS NOS EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS E NA ALIMENTAÇÃO HUMANA

Monografia de final de curso, elaborado no âmbito da graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação da

Professora Dra. Margarida Lacombe Camargo.

RIO DE JANEIRO - RJ 2017/1º SEMESTRE

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RODRIGUES, Bruno Belo Costa Lourenço.

A violação do direito dos animais nos experimentos científicos e na alimentação humana / Bruno Belo Costa Lourenço Rodrigues. – 2017.– 63 f. – Orientadora: Margarida Lacombe Camargo – Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Direito)–Universidade do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, Faculdade de direito, 2017. – Bibliografia: f.60

1. DIREITO DOS ANIMAIS 2. NECESSIDADES HUMANAS 3. VIOLÊNCIA. I. Camargo, Margarida Lacombe. II. Título

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A VIOLAÇÃO DO DIREITO DOS ANIMAIS NOS EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS E NA ALIMENTAÇÃO HUMANA

Monografia de final de curso, elaborado no âmbito da graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação da

Professora Dra. Margarida Lacombe Camargo. Data da Aprovação: __ / __ / ____. Banca Examinadora: _________________________________ Orientador _________________________________ Co-orientador (Opcional) ________________________________ Membro da Banca _________________________________ Membro da Banca Rio de Janeiro 2017/ 1º SEMESTRE

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Primeiramente quero agradecer a Deus por ter me dado saúde e força para conclusão do curso. A esta gloriosa universidade, seu corpo docente, direção e administração que me deram oportunidade de cursar esse curso maravilhoso em um ambiente excelente.

À minha orientadora a professora Margarida Lacombe, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas correções e incentivos.

À minha namorada Iara do Carmo por sempre estar ao meu lado em todos os momentos da minha vida.

À minha filha Alice Guimarães Belo Rodrigues, por ser minha fonte eterna de inspiração para que eu busque sempre os maiores objetivos.

Aos meus pais, pelo amor, carinho e apoio de sempre.

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atender às necessidades humanas. Serão analisados os testes realizados que utilizam os animais para obter o resultado desejado. Primeiro serão debatidos os experimentos realizados em favor da indústria de ciência e cosméticos. Em um segundo momento, o ambiente acadêmico será analisado, demonstrando as diferentes formas de uso animal para melhorar as habilidades dos alunos. O tema dos alimentos com destaque para o carnivorismo também será discutido, com ênfase nos matadouros e na ilegalidade da crueldade nos abatedouros. A última análise será da possibilidade de os animais reclamarem direitos perante o poder judicial e o papel do Ministério Público na proteção dos animais.

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The monograph aims to demonstrate some forms of violation of animal rights to meet human needs. We will analyze the tests performed that use the animals to obtain the desired result, we will first discuss the experiments conducted in favor of the science and cosmetics industry. In a second moment, the academic environment will be analyzed, demonstrating the different forms of animal use to improve the students' abilities. The topic of food with a focus on carnivorism will also be discussed, with emphasis on slaughterhouses and the illegality of cruelty in slaughterhouses. The last analysis will be of the possibility of the animals claiming rights before the judicial power and the role of the Public Ministry in the protection of the animals.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 3

2 EVOLUÇÃO DO DIREITO DOS ANIMAIS...10

3 O USO DE ANIMAIS EM TESTES... 12

3.1. Os testes no Brasil e a legislação sobre o tema...13

3.2. A relativização da crueldade... 17

3.3. A Coisificação dos Animais e a supremacia da Constituição Federal ...22

3.4. Os prós e os contras do uso de animais em testes...23

4 TESTES REALIZADOS NO ÂMBIENTE ACADÊMICO...26

4.1. A dificuldade dos estudantes em realizar experimentos envolvendo animais...28

4.2. A crueldade dos testes e a possibilidade de métodos alternativos...30

4.3. A visão religiosa sobre o assunto... 33

4.4. Análise Jurisprudencial... 33

5 A NECESSIDADE DA ALIMENTAÇÃO HUMANA E O CARNIVORISMO...35

5.1. A importância da carne animal na alimentação e sua possível substituição...36

5.2. A discussão sobre os abatedouros... 37

5.3. Análise das normas jurídicas brasileiras e internacionais sobre o tema ...41

6 ANIMAIS EM JUÍZO E O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO...42

6.1. O caso dos Chímpanzes em Nova York ...43

6.2. O papel do Ministério Público na defesa dos animais...44

6.3. Promotorias Especializadas e a situação no Rio de Janeiro...45

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 49

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1 INTRODUÇÃO

A humanidade vem cada vez mais pensando em como diminuir o sofrimento dos animais em detrimento às nossas necessidades e, pela visão antropocêntrica que se tem no mundo, ainda pesa em nosso direito a questão de que, se tiver que escolher entre o bem-estar do ser humano e o bem-estar dos animais, opta por beneficiar sempre o ser humano, inclusive impondo aos animais sofrimentos físicos e psicológicos.

O trabalho tem como pergunta chave: “Qual o limite para a violação dos direitos dos animais em prol da satisfação nossas necessidades e/ou caprichos?”. Analisaremos a utilização dos animais nos testes, debatendo o confronto da utilização em diversas áreas, sejam elas vitais para a nossa vida ou então apenas para vaidade, além do uso dos animais na alimentação humana, com ênfase nas condições em que os mesmos são armazenados nos abatedouros, dando destaque para a visão do direito em relação ao assunto.

A monografia tem como objetivo geral promover uma análise de caráter exploratório acerca das violações dos direitos dos animais e questionar até que ponto praticar ações contrárias ao bem-estar dos animais seria plausível, voltadas para a satisfação das nossas necessidades, ainda que estas sejam consideradas de suma importância em nossa vida. A metodologia adotada consiste na revisão de literatura e levantamento bibliográfico, tendo como base a Constituição, sites, livros e fontes de informação especializadas.

Os objetivos específicos consistem na promoção de uma reflexão, partindo do pressuposto de que os seres humanos possuem necessidades básicas que dependem do uso dos animais e que sem os mesmos a qualidade de vida dos humanos seria prejudicada, trazendo assim malefícios a todos.

A vontade de discorrer sobre o tema deve-se à relevância social e humanística que é falar sobre direitos e violações sofridas pelos animais, que são seres presentes no cotidiano, inclusive, em alguns casos, exercendo papéis fundamentais na vida de algumas pessoas. O desrespeito à vida de alguns desses seres pode, inclusive, violar o próprio direito fundamental do ser humano, que possui direito expresso, na Constituição, de viver num meio ecologicamente equilibrado e algumas dessas práticas podem agredir o nosso direito.

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Cabe ressaltar, que é possível a substituição do uso dos animais na realização dos experimentos, inclusive vários dos países mais desenvolvidos do mundo já aboliram os testes envolvendo os animais das indústrias e faculdades. 1

A Declaração Universal de Direito dos Animais, estabelecida pela UNESCO em 1978, estabelece restrições ao uso de animais em experiência médica, senão vejamos:

Artigo 8º

1.A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.

2.As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas.(UNESCO, 1978)2.

É importante destacar o papel fundamental da Declaração Universal do Direito dos Animais, que é uma norma aplicada em todo mundo. Na Declaração, estão presentes direitos fundamentais atrelados aos animais, como por exemplo, o direito de igualdade, o direito de ter sua integridade física respeitada, direito de liberdade, além do direito à vida.3

A alimentação é uma das necessidades mais básicas do ser humano, sem a qual não seria possível a vida. É comum, em grande parte do mundo, a utilização da carne animal na dieta, ela é rica proteína que é uma das moléculas essenciais para o funcionamento do nosso organismo.

1MAGALHÃES1 , M.; ORTÊNCIO FILHO2 , H. Alternativas ao uso de animais como recurso didático. Arq.

Ciênc. Vet. Zool. Unipar, Umuarama, v. 9, n. 2, p. 147-154, 2006.

2

UNESCO. Declaração Universal dos Direitos dos Animais. In :Direito dos animais. Bruxelas,1978.

Disponível em <http://www.prontotecnologia.com.br/noronha2/hotsites/nva/direitos-animais.php>. Acesso em : 09 maio 2017.

3APASFA. Declaração dos direitos dos animais . Disponível em: <http://www.apasfa.org/leis/declaracao.shtml > . Acesso: 22 maio 2017.

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Temos outras opções de obtenção de proteína, como será exemplificado mais à frente na presente pesquisa, inclusive cresce a cada dia mais o número de vegetarianos ao redor do mundo. Contudo, é uma opção pessoal de cada um escolher o alimento que melhor o satisfaça.

O mais grave na temática envolvendo a alimentação é a questão dos locais em que esses animais ficam armazenados esperando a sua destinação final, no qual ocorrem violações aos direitos dos animais, conforme será relatado no capítulo específico sobre alimentação.

A questão envolvendo o abate dos animais ganhou proteção na Declaração Universal do Direito dos Animais, que demonstra que os animais que serão utilizados na nossa alimentação devem ter um tratamento adequado em seu período de vida, senão vejamos:

Artigo 9º Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor. (UNESCO, 1978).4

Além da crueldade que ocorre nos abatedouros, percebemos que os animais que estão nessas condições, vivem muito menos do que aqueles de sua mesma espécie que habitam a natureza, pois sua vida está atrelada a sua utilidade, ou seja, a partir do momento que ele não serve mais para o seu propósito inicial, são descartados.

Os animais criados em abatedouros são mantidos em cativeiro desde o início da sua vida, com isso há uma violação ao seu direito de liberdade. Percebemos que eles são trancafiados nos locais de armazenamento, utilizado o máximo que puder e assim que não forem mais úteis, são descartados. Notamos uma total semelhança com o que ocorria com os escravos, que eram explorados o máximo possível e quando não era mais útil, eram deixados para morrer.

4

UNESCO. Declaração Universal dos Direitos dos Animais. In :Direito dos animais. Bruxelas,1978.

Disponível em <http://www.prontotecnologia.com.br/noronha2/hotsites/nva/direitos-animais.php>. Acesso em : 09 maio 2017.

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Corroborando a ideia de que as práticas envolvendo a questão do especismo se assemelham com outras formas de discriminação, como o racismo, sexismo, classismo, entre outras formas de discriminação, vejamos:

Como veganas abolicionistas e feministas, somos contra o uso de táticas sexistas no movimento de defesa animal. O veganismo ético de direitos animais é parte da conclusão lógica de oposição à exploração de todos os seres senscientes – tanto de animais humanos quanto de animais não-humanos. Oposição ao especismo é incompatível ao exercício de sexismo ou qualquer outra forma de discriminação, como o racismo, o heterossexismo, o classismo e outras formas de opressão. (ABLOGIO et AL, 2014).5

Analisando a questão do abate dos animais, visualizamos um grande exemplo na cultura judaica, o abate Kosher, que possui um significado para o povo Judeu de abate para obtenção de um alimento correto, de modo a garantir sua saúde. Consiste em uma maior fiscalização na etapa que antecede o abate, dando assim uma maior segurança de que o alimento estará em boas condições, o momento da morte também é de suma importância, o modo que ocorre a mesma deve ser instantâneo e indolor, de modo a ocorrer a retirada da maior quantidade possível de sangue do animal, além de outras mudanças em relação ao abate comum, principalmente no que tange a ausência da escaldagem, o nível de sal, entre outras práticas adotadas.

Outra espécie de abate bastante conhecida no mundo é o abate realizada pelo povo muçulmano, denominado Abate Halal, que traz consigo uma ideia de abate permitido, em uma tradução mais próxima. Assim como o Abate Kosher, também preconiza a retirada total do sangue do animal, deve ser necessariamente realizado por um muçulmano adulto, que deverá seguir as normas do ritual e também é adepto a questão do não sofrimento do animal, prezando pela maior velocidade possível do abate.

O estudo deve ser mais amplo que isso, ao debater a problemática, pode-se ter o posicionamento de que os próprios animais seriam titulares dos direitos. Eles teriam direito à

5ABOGLIO, Ana María; et al .Manifesto de um grupo de veganas abolicionistas feministas. Disponível em :http://www.veganospelaabolicao.org/vegan/index.php/veganismo/53-dialogando/410-manifesto-de-um-grupo-de-veganas-abolicionistas-feministas . Acessado em 22 maio 2017.

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liberdade, em detrimento ao cativeiro, teriam direito à vida, em contraponto ao abate, entre outros direitos de suma importância na vida.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve um grande crescimento e positivação dos direitos de terceira geração, entre eles estão os direitos ambientais, existindo um capítulo especifico que se refere apenas à questão do meio ambiente.

De acordo com a Constituição Federal, todos teriam direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e é nosso dever fazer o possível para que esse meio seja propenso a nossa vida e mais ainda, a vida de nossas futuras gerações, respaldando a criação de leis especificas que visam resguardar as questões ambientais e criadas de acordo com o Artigo. 225 caput da Constituição federal que dispõe:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. (Art. 225, caput, da CF).6

Dentro da questão ambiental, está a questão dos animais, que também encontra respaldo na Constituição Federal, quando traz uma obrigação ao poder público, ou seja, traz uma prestação positiva ao Estado para promover a proteção da flora e da fauna. Além disso, na parte final do parágrafo traz a ideia de vedação a crueldade dos animais, que traz uma relação com o tema proposto, conforme expresso no Artigo. 225, 1° inciso VII in verbis:

1º –Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (…)VIIproteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

O pensamento nos dias atuais, acerca do tema vem trazendo a questão que os animais seriam equiparados a objetos no nosso ordenamento. Animais são seres vivos, qualquer dano causado ao mesmo pode ser notado. Percebe-se que os animais sentem dores, assim como os 6PLANALTO. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso: 09 abril 2017.

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seres humanos e existem autores que defendam que os mesmos possuem sentimentos, conforme iremos analisar em um capítulo especifico, trazendo a opinião de renomados cientistas.

Há espécies de animais que trazem consigo várias características humanas, inclusive no que tange as comunicações e até estudos que comprovam que alguns deles podem ter consciência do que seriam. Assim, o respeito à dignidade desses animais deve sempre existir em nossa sociedade.

Na alimentação, percebe-se uma grande necessidade nossa, sem a qual provavelmente não existiríamos, aliado ao direito de escolher o que se alimentar, em contraponto ao direito de viver por parte dos animais, ademais, a questão do sofrimento causado aos animais para que possam servir como alimento também deve ser destacado, principalmente nos maus tratos que ocorrem por toda a vida desses animais, não sendo apenas um debate entre nossa alimentação e a vida do animal mas é mais do que isso, abarcaria a questão dos cuidados que deveriam ser tomados com os animais para preservar direitos que são violados em toda sua vida, assim teríamos essa questão sobre o que deveria preponderar nessa situação e se é realmente necessário toda violação.

Talvez, a hipótese que melhor soluciona o caso, seria haver um equilíbrio entre os direitos fundamentais humanos e a valorização da vida animal, sempre buscando uma possível solução alternativa para que se satisfaça nossa necessidade.

Entrando no campo da Filosofia, vemos alguns ícones desse campo travar um importante debate sobre a temática.

Aristóteles trazia consigo uma visão sobre o direito dos animais, para ele, os animais estariam totalmente abaixo de nós na cadeia evolutiva, isto é, devido a irracionalidade, esses seres não possuíam vontade própria e serviriam, exclusivamente, para nos satisfazer. Corroborando esse pensamento, no século XVII, o filósofo René Descartes trouxe consigo a ideia de que os animais não teriam alma, logo não possuíam a sensibilidade de sentir dores, assim toda crueldade que era praticada contra esses seres era respaldada nesse pensamento, pois aquele que não sente dor, não sofre.

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Se contrapondo a esse pensamento, Jean-Jacques Rousseau entendeu que essa temática envolvendo as atrocidades que eram cometidas contra os animais não estaria correta, ressaltou ainda que os animais também seriam titulares de direitos naturais e que o homem teria um dever de não realizar brutalidades que atentasse contra a vida animal.

O filosofo francês Voltaire também segue a linha contra Descartes, principalmente atribuindo aos animais algumas características que até então seriam exclusivas da espécie humana, ele acredita que os animais teriam a capacidade de possuir inúmeros sentimentos, sendo assim teria a capacidade de sentir dor. Vejamos:

Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento.Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objetivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à natureza tão impertinente contradição. (VOLTAIRE, 2002, pg. 232).7

Valorizar um ser que sempre esteve presente na companhia humana é uma atitude sensata e principalmente humana a se fazer. Presenciamos, no dia-a-dia, inúmeros relatos de pessoas que valorizam os animais da mesma forma que valorizam seus familiares, os tratando com todo amor e carinho.

O objetivo do trabalho é discorrer sobre a temática de violação de direitos básico dos animais para poder suprir algumas necessidades humanas, analisando as controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais.

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Ademais, a monografia, após estudo sobre tema, trará a posição jurídica a respeito das questões a serem levantadas por meio de um estudo expositivo do tema. Logo, o trabalho de monografia será mais um instrumento que promoverá a discussão dos posicionamentos jurídicos sobre o tema, baseado na melhor doutrina e jurisprudência correntes.

Por fim, será apresentada uma posição sobre o tema, depois de analisar os motivos favoráveis e contrários a situação, se posicionando acerca da questão.

Desta forma, buscando apresentar o melhor posicionamento jurídico sobre o tema, serão consultados livros, jurisprudências e artigos que cuidam deste importante tema: Voltaire, René Descartes, Peter Singer, Jean Jaques Rousseau, entre outros.

Este estudo busca confrontar os ramos doutrinários acerca da violação dos direitos dos animais. A metodologia adotada no trabalho, fica definida como uma revisão de literatura com foco na doutrina e jurisprudência, onde serão confrontadas as correntes doutrinárias e entendimentos jurisprudenciais opostos presentes na atualidade, buscando a colaboração com o entendimento do assunto a ser apresentado.

2. EVOLUÇÃO NO DIREITO DOS ANIMAIS

Analisando a forma com que os animais são vistos em nossa sociedade, percebemos uma forte presença de posse em nossa relação para com esses seres, principalmente quando analisamos as questões dos animais de estimação, o modo com que eles se relacionam com o ser humano, se assemelha ao de um objeto, ficando extremamente caracterizada uma propriedade sobre eles.

Percebemos com isso que os animais existiriam apenas para nos satisfazer na medida de nossas necessidades, esse pensamento é ratificado pelo filósofo grego Aristóteles que dizia que os animais não possuíam vontade própria, com isso sua única utilidade seria servir ao ser humano. Corroborando essa ideia, René Descartes acrescenta ainda que os animais não possuiriam alma, além do que não teriam a capacidade de sentir dor e nem expressar sentimento.

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Passado esse pensamento de que os animais seriam apenas objetos de uso particular do ser humano, notamos uma mudança na temática, com a proclamação da Constituição Federal de 1988, percebemos que os animais passaram a ser vistos como bem de uso comum do povo, pertencendo assim a todas as pessoas que poderiam usufruir de forma igual, sem a necessidade de permissão por parte do Estado, contudo caberia ao Estado fiscalizar e inclusive aplicar sanções a quem usasse de forma equivocada, sendo assim percebemos que há uma total incompatibilidade entre os animais ser propriedade privada mas serem enquadrados como bem de uso comum, seguindo essa linha de raciocínio, alguns autores acreditam que por mais que sejam de uso comum do povo, os animais poderiam possuir donos, contudo caberia ao proprietário cumprir algumas obrigações com os animais e o Estado para que não houvesse um grande dano ambiental.

O primeiro momento em que a legislação brasileira começou a versar sobre direitos em relações aos animais foi no Governo de Getúlio Vargas, no ano de 1934. O Ministro da Agricultura na época, Juarez Távora foi o responsável por essa proposta, isso foi motivado devido aos inúmeros casos de maus-tratos envolvendo os animais que ocorria nessa época. Devido a isso, foi constatada uma necessidade de se recorrer ao direito para tentar diminuir essas situações desagradáveis, através de sanções.

No Estado Novo, período em que Getúlio Vargas esteve no poder de maneira ditatorial, tivemos o advento da legislação referente às contravenções penais, o decreto Lei número 3.688 de 1941. O referido decreto foi importante na nossa temática pois foi quando a questão passou a figurar na esfera penal do nosso ordenamento jurídico, conforme percebe-se pela leitura do Artigo 64 do referido Decreto, in verbis:

Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo: Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de cem a quinhentos mil réis.

§ 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora para fins didáticos ou científicos, realiza em lugar público ou exposto ao publico, experiência dolorosa ou cruel em animal vivo.

Posteriormente a essa inclusão da temática na esfera penal, a questão passou de contravenção penal para ser em alguns casos tipos penais, principalmente no que tange as questões de pescas e caças, essa questão ganhou bastante força na década de 80, culminando com a Lei número 7.653 de 1988 que passou a descrever como crime a utilização,

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perseguição, destruição ou caça dos animais silvestres, tendo essa legislação sendo um marco histórico no nosso direito.

Atualmente, a Lei dos Crimes Ambientais, a lei número 9.605 de 1998, dispõe sobre todos os crimes envolvendo os animais, que envolvam maus-tratos, ferimentos, mutilações, entre outros senão vejamos:

Art. 32 - Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º - Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º - A pena é aumentada de um sexto a um terço se ocorre morte do animal.8

No campo da experimentação animal e da realização de testes, temos a Lei número 11.794, também conhecida como Lei Arouca, trazendo consigo a regulamentação dos testes dos animais, através da criação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA).9

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada em 15 de outubro de 1978, foi trazida pela Liga Francesa de Direito Animal para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e objetivava criar diretrizes basilares para as nações que fossem membros da Organização das Nações Unidas utilizarem em seu ordenamento jurídico nas questões referente aos direitos dos animais.

Ela é composta pelo preâmbulo e também de catorze artigos que versam sobre princípios a serem adotados no respeito aos animais. Questões como a liberdade, igualdade, integridade física, além da vida são tratadas pela referida declaração.

8PLANALTO. Lei dos Crimes Ambientais. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em : 04 abril 2017.

9Site do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal . Disponível

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Cabe as nações, adequando-se a cada caso concreto especifico da sua região, implementar tais orientações internacionais, devendo essas declarações e proclamações servir de respaldo da nação, para que exercício de sua soberania, crie dispositivos legais que exteriorizem esse pensamento.

3. O USO DE ANIMAIS EM TESTES

O último capítulo tratou sobre a evolução do pensamento filosófico e como a situação foi tratada pela legislação brasileira, além da influência do que era decidido pelas Convenções internacionais. Passada a análise filosófica e legal, adentramos nas especificidades envolvendo o uso de animais, com a discussão acerca dos testes científicos realizados com os mesmos.

A história nos conta que o uso de animais em testes científicos sempre foi algo que aconteceu desde o início da vida humana. Antes que o homem usasse qualquer que fosse o produto, ele passava por uma maratona de testes e na maioria das vezes algumas espécies de animais eram escolhidas apenas com o intuito de realizar tais experimentos.

3.1 Os testes no Brasil e a legislação sobre o tema.

Com relação ao Direito Ambiental, englobando o assunto dos animais, o Brasil adotou o modelo denominado de 3R´s, que foi influenciado pelo pensamento norte americano. O primeiro “R” (reduction = redução) traz consigo a ideia de que os animais devem ser utilizados apenas quando necessário para obtenção do resultado, utilizando o mínimo possível para que se obtenha o resultado. O segundo “R” (Replacement = substituição) preconiza a ideia de se utilizar de meios alternativos para realizar essas ações, tornando animal sempre ultima opção e priorizando outros métodos. O último “R” (Refinement = refinamento) é a questão de minimizar as dores e os futuros desconfortos que possam vir a serem causadas nos animais como, por exemplo, da sedação, anestesias e até da eutanásia.

Os óbitos decorrentes dos experimentos realizados nos animais são numerosos; O excesso de crueldade que esses animais são submetidos faz com que as mortes sejam bem

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significativas e amplamente divulgadas pela mídia10. Alguns experimentos não possuem

relevância no campo científico e isso nos faz pensar que algumas mortes ocorrem sem nenhuma necessidade. Além disso, são inúmeros os casos de testes que ocorrem na clandestinidade. Com a falta de fiscalização, esse procedimento é muito mais torturador, pois como não há ninguém para repreendê-los, ocorrem torturas das mais variadas formas.

Variados são os exemplos de animais utilizados na realização de testes, como por exemplo, as rãs (principalmente testes das funções musculares e também muito usada na observação didática), macacos (utilizado para as análises de comportamento, por ser o animal mais próximo do ser humano), cavalos (fortemente no campo da sorologia, para evitar possíveis doenças), entre outros testes que ocorrem com as mais variadas espécies de animais.

Na produção de uma vacina, de novas drogas, ou de novos métodos cirúrgicos não se pode aplicar logo essas inovações nos seres humanos. Assim recorre-se aos seres não humanos para verificar se o procedimento é ou não aplicável a nós. A situação envolvendo os testes com animais é muito criticada mundo a fora, causando enormes discussões acerca da temática, inclusive com relação aos testes feitos com animais para a indústria cosmética proibidos expressamente no ano de 2013 em toda a União Europeia. Assim, nenhum produto que fosse produto de qualquer teste realizado com animais poderia ser comercializado em toda Europa e isso englobaria não só os produtos produzidos no continente como também aqueles importados. 11

No momento encaramos um debate interessante sobre o tema, é de notório saber que os seres humanos estão evoluindo cada vez mais na questão de novas tecnologias. A medicina segue a mesma linha, cada vez mais temos mais remédios, tratamentos cada vez mais sofisticados, e nada disso seria possível sem que ocorressem os testes com as cobaias animais. A busca por soluções alternativas de experimentos não é algo tão simples, segundo 10SOUZA, Graciane.Quatro cães morrem após vacina contra raiva e Ministério da Saúde será notificado.

Cidade verde. Piauí, 05 de dez. 2016. Disponível em: http://cidadeverde.com/bicharada/80671/quatro-caes-morrem-apos-vacina-contra-raiva-e-ministerio-da-saude-sera-notificado>. Acesso em: 24 maio 2017. 11 Ban on animal testing. EuropeanComission. Disponível em:

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os estudiosos sobre o tema12 e com isso segue-se o dilema sobre o que se fazer nesse caso

concreto.

Com relação à temática no âmbito nacional, temos no Brasil uma lei que regula a questão dos testes feitos em animais é a Lei número 11.794 de 2008, conhecida como Lei Arouca, que recebe o nome em homenagem ao Deputado e sanitarista Sérgio Arouca que em 1995 propôs esse projeto, dando obrigação a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que é uma agência reguladora sob forma de autarquia regime especial que tem a função de fiscalização sanitária, supervisionar a aplicação desta lei e a segurança dos produtos.13

Ademais, existe o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal que tem a função de elaborar normas de utilização animal em experimentos, tentando assim dar maior segurança aos produtos e principalmente preocupar-se com a forma que os animais serão testados, condenando assim procedimento que se utilizam de métodos cruéis para realizar tais testes.

Quando se fala na destinação final do produto, temos a ideia de que o teste realizado em animais para produção de perfumes, batons, maquiagem, entre outros, seria algo moralmente reprovável, pois não seriam consideradas situações vitais em nossa vida, sendo apenas para a nossa vaidade. Cabe ressaltar que também temos legislações que já começaram por proibir a realização de tais testes, como por exemplo no Estado de São Paulo em que temos a Lei Estadual número 15.316 que veda expressamente a realização de tais experimentos, vejamos:

Artigo 1º -Fica proibida, no Estado de São Paulo, a utilização de animais para desenvolvimento, experimento e teste de produtos cosméticos e de

12AZEVEDO, Reinaldo. Uso de animais em experimentos não é opcional. Veja. 16 de fev. 2017. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/uso-de-animais-em-experimentos-nao-e-opcional-diz-pesquisadora/>. Acesso em: 24 maio 2017.

13BRASIL. Lein.º 11.794 de 8 de outubro de 2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da

Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para uso científico dos animais; revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, e da outras providências .Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos, Brasília , DF, 8 out. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11794.htm>. Acesso em: 24 maio 2017.

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higiene pessoal, perfumes e seus componentes.

A legislação que discorre sobre o tema, a Lei 11.794/2008, não proíbe expressamente a realização da mesma em relação à indústria de cosméticos, conforme podemos perceber pela leitura:

Art. 14. O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos protocolos dos experimentos que constituem a pesquisa ou programa de aprendizado quando, antes, durante e após o experimento, receber cuidados especiais, conforme estabelecido pelo CONCEA.

Porém, ao analisarmos a questão da finalidade do uso dos produtos e entender que não são meios essenciais à vida humana, pode se ter uma opinião de que isso é contrário ao que está positivado em nossa Magna Carta, que veda a prática de crueldade contra os animais. Nesses experimentos, a integridade física desses animais é violada, inúmeros são os casos de danos irreparáveis que isso pode causar, inclusive podendo levar, em alguns casos, à morte. Sobre a Constituição Federal de 198814 e o tema da crueldade com os

animais vejamos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Constituição Federal, 1988).

Somos os destinatários finais dos produtos. Usamos esses itens oriundos de testes realizados em animais e isso raramente é questionado por todos. Somos coniventes com tais situações, pois se houvesse um questionamento maior sobre isso, talvez as indústrias ficassem mais pressionadas em relação ao tema e com isso buscariam por maneiras 14PLANALTO. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso: 09 abril 2017.

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alternativas que pudessem testar esses produtos, impedindo assim que os animais fossem os testados.

Pensando na questão medicinal, percebe-se, que na visão da maioria da população, os testes são totalmente necessários, visto que isso salva inúmeras vidas humanas, talvez sem a realização de tais experimentos não fosse possível utilizar com maior precisão todos os medicamentos que são usados em nossa vida15. Não seria razoável condenar a mãe de uma

criança que necessita de um medicamento e que já foi testado em animais, prejudicando sua integridade física, sendo que este salvaria a vida dessa criança, ao supor toda essa situação seria insensível pensarmos que essa mãe condenaria o uso do medicamento, pois este seria o responsável por salvar a vida do seu filho.

Na indústria química são os mais variados testes que são realizados com esses produtos que tem como destinação nossa casa, nossa indústria agrícola ou até a área militar. Esses testes existem para dar maior segurança ao produto para que ele possa ser colocado para nós.

Os animais utilizados nesses testes são os mesmos dos testes cosmético e científicos, os preferidos são roedores, macacos e coelhos. Acontece que a fisiologia animal é diferente da nossa, com isso notamos que alguns testes são realizados sem nenhum proveito, pois quando esses produtos são comercializados vários problemas são relatados com a saúde daqueles que os utilizam, inclusive há medicamentos que funcionam perfeitamente em animais e que se utilizado pelos humanos pode levar a sua morte.

No campo armamentista, muito forte principalmente em países mais desenvolvidos, também são constatados alguns testes que seriam realizados utilizando os animais, principalmente para se testar a eficiência de novas armas16. Podemos perceber que tais

experimentos são realizados exclusivamente com o intuito de verificar a qualidade do 15Após denúncia de maus tratos, grupo invade laboratório e leva cães beagle. G1. São Paulo, 18 de nov. 2013. Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2013/10/ativistas-invadem-e-levam-caes-de-laboratorio-suspeito-de-maus-tratos.html >. Acesso em : 24 maio 2017.

16 GREIF, Sérgio; TRÉZ, Thales. A Verdadeira Face da Experimentação Animal: Sua saúde em perigo.

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produto, contudo se algo der errado provavelmente a vida do animal acabará e é uma morte desnecessária, visto que existem alternativas para a realização de tais experimentos que não coloquem em risco a vida de nenhum animal.

3.2 A relativização da crueldade

Ao falar de crueldade e olhando sua definição no dicionário, percebe-se que seu significado encontra referencia a:

1- Qualidade de cruel.

2 - Ato próprio de pessoa cruel. 3 - Desumanidade.

4 - Barbaridade. 5 - Excessivo rigor.17

Assim notamos que a crueldade em si é algo negativo e uma das definições é extremamente importante de ser ressaltada, a expressão “desumanidade”, que é contrário a tudo aquilo que entendemos da essência do que é ser humano. Nós, seres humanos, devemos ser prezar pela essência que é a nossa humanidade, afinal é ela que nos distingue de todos os outros seres, além da nossa maior capacidade cerebral, sendo assim essas práticas que são cruéis, nos afastam daquilo que nos é inerente.

Acerca desse afastamento da nossa humanidade, é importante observarmos a opinião do importante filósofo contemporâneo João Epifanio Regis Lima sobre a questão da “desumanização”, vejamos:

Diminuição do conflito diante do sacrifício violento do animal, e pode estar relacionado com a progressiva confirmação de adesão à unanimidade, entre os elementos do grupo, que se une justamente pela referência comum à autoridade da instituição. [...] A vivissecção é praticada de forma a apenas significar a continuidade de um processo “natural” de formação técnica e intelectual e de 17 Significado de crueldade. Dicionário do

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intervenção na natureza, comemorando e afirmando uma certa ordem cultural vinda de uma certa forma de ver o mundo e de adquirir conhecimento sobre ele. Nesse contexto, poderíamos encarar a vivissecção como uma manifestação de uma ordem cultural que seria confundida com a ordem natural, a qual, por sua vez, seria usada para justificar e cristalizar a primeira.(LIMA, 2008. p. 135-136; 148-149)18.

Analisando a relativização da crueldade, levando-se em consideração a causa pela qual o animal foi submetido a tais praticas, deixamos de considerar o próprio sofrimento do ser em questão. Se pingássemos substâncias em nossos olhos, aplicássemos injeções para testar algo, entre outros procedimentos, obviamente que estaríamos causando um grande sofrimento em nossa espécie, o motivo pelo qual estaríamos fazendo isso não importaria, visto que a dor causada seria a mesma, por isso esse subjetivismo do que seria ou não crueldade não é algo muito correto a se pensar.

Nesse sentindo, pensamos no que seria mais agradável para nós, futuros usuários desses produtos, mas não estaríamos olhando a situação sob a ótica dos próprios seres que estão sujeitos a tais práticas, pois a violência empregada contra eles, ainda que justificadas em testes para produtos que seriam vitais a nossa sobrevivência, são exageradas e causam sofrimentos.

Percebe-se que os animais sentem dores, assim como os seres humanos, inclusive existindo cientistas que defendam que os mesmos possuem sentimentos19.Há espécies de

animais que trazem consigo várias características humanas, inclusive no que tange as comunicações e até estudos que comprovam que alguns deles podem ter consciência do que seriam20.

18LIMA, João Epifânio Regis. Vozes do silêncio: Ideologia e resolução de conflito psicológico diante da prática da vivissecção. In: Instrumento animal: o uso prejudicial de animais no ensino superior. Organizador Thales de A. e Tréz – Bauru, SP: Canal 6, 2008. p. 145-146.

19Cientistas brasileiro afirmam que animais tem sentimentos. Correio brasiliense.Pernambuco, 21 de set. 2014. Disponível em:

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e- saude/2014/09/21/interna_ciencia_saude,448119/cientistas-brasileiros-afirmam-que-os-animais-tem-sentimentos.shtml> . Acesso em : 24 maio 2017.

20Manifesto de cientistas confirma que animais são seres conscientes .Galileu. 23 de ago. 2012. Disponível em:

<http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI317146-17770,00-MANIFESTO+DE+CIENTISTAS+CONFIRMA+QUE+ANIMAIS+SAO+SERES+CONSCIENTES.html> . Acesso em: 24 maio 2017.

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Inúmeras são as pessoas que tratam animais como se fossem seus próprios familiares, o tamanho do amor e afeto que há na relação entre eles é o mesmo que ocorre entre os pais e filhos. Um experimento realizado com esses animais que historicamente possuem uma aproximação maior com o ser humano é muito mais condenável que um teste realizado com seres que não tem tanto convívio doméstico conosco, como é o caso de roedores, galinhas e vacas.

Porém, analisando esse dilema, notamos que todos os animais, sejam eles domésticos ou selvagens, deveriam ser tratados de forma equivalente, pois possuem a mesma capacidade de sofrer, além disso, também têm capacidade de sentir as dores causadas por esses experimentos, sobre a igualdade que deve existir entre os animais é necessária a leitura do Artigo 1° da Declaração Internacional de Direito dos Animais de 197821, vejamos:

Artigo 1º Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.

Sobre o tema da crueldade contra os animais, o Supremo Tribunal Federal, no ano de 2016, julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4983, ajuizada pelo procurador-geral da República contra a Lei número 15.299/2013, do estado do Ceará. A Lei regulamentava a prática de vaquejada como prática de desporto e cultura do estado do Ceará. Houve votação por maioria para acompanhar o voto do relator, o Ministro Marco Aurélio.

A vaquejada é uma prática comum em vários estados do nordeste brasileiro, consiste em duas pessoas, denominadas vaqueiros, cada um montado em um cavalo diferente, perseguirem um boi em uma arena para um grande publico, tentam conduzi-lo a um local especifico da arena, nesse momento vão tentar derrubar esse boi. O objetivo é que o animal fique com as quatro patas para o alto para que sejam concedidos os pontos para os vaqueiros.

É importante analisar o voto do Ministro Luis Roberto Barroso na presente ADI. Barroso

21

UNESCO. Declaração Universal dos Direitos dos Animais. In :Direito dos animais. Bruxelas,1978. Disponível em <http://www.prontotecnologia.com.br/noronha2/hotsites/nva/direitos-animais.php>. Acesso em : 09 maio 2017.

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salienta em seu voto que a questão ultrapassa o raciocínio jurídico, levando-se em consideração elementos fáticos da atividade e a ética animal, ele reconhece a vaquejada como um elemento cultural de nossa sociedade, traçando um histórico de suas origens e dizendo que é uma manifestação cultural popular, presente na Constituição Federal, contudo também relembra que a mesma Constituição Federal protege os animais contra práticas cruéis.

Depois da análise da importância cultura da vaquejada, o Ministro traz elementos históricos e filosóficos da evolução do pensamento sobre o direito dos animais, desde a concepção de que os animais existiram apenas para nossa satisfação, até o momento em que se considerou que os animais mereciam proteção dos seres humanos, trazendo toda temática abordada na presente pesquisa entre os direitos dos animais e nossas necessidades de utilizá-los para nosso bem.

Ele deu exemplos ao redor do mundo de Cortes Internacionais que também enfrentaram esse dilema entre o uso dos animais e as nossas necessidades, exemplificando situações em que as Cortes Internacionais decidiram por banir algumas práticas, posteriormente deu exemplos em que o próprio Supremo Tribunal Federal decidiu favoravelmente aos animais, no sentido de proibir práticas que de alguma forma utilizam-se de meios cruéis contra eles.

A definição de crueldade é debatida pelo Ministro ao longo do seu voto, pois na vaquejada, os animais são bem tratados em um momento anterior e posterior ao evento, não sendo possível vislumbrar as crueldades cometidas, contudo Barroso exemplifica as crueldades em que os animais que participam da vaquejada (tanto os cavalos quanto os bois), demonstrando os danos que podem ocorrer com eles, devido a isso o Ministro entende não ser possível a regulamentação da vaquejada, ainda que ele afirme que a atividade é historicamente cultural no nordeste brasileiro, contudo não pode uma atividade de lazer impor ao animais sofrimentos.22

O Poder Legislativo, um mês depois da decisão do Supremo Tribunal Federal, editou a Lei número 13.364/2016, elevando a vaquejada à condição de manifestação da cultura nacional, prevendo o seguinte:

22Julgado referente ao voto do Ministro sobre a vaquejada . Disponível

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Art. 1º Esta Lei eleva o Rodeio, a Vaquejada, bem como as respectivas expressões artístico-culturais, à condição de manifestações da cultura nacional e de patrimônio cultural imaterial.

Art. 2º O Rodeio, a Vaquejada, bem como as respectivas expressões artístico-culturais, passam a ser considerados manifestações da cultura nacional.23

Essa resposta do Congresso Nacional não seria suficiente para superar a decisão do Supremo Tribunal Federal, que manteria seu posicionamento de proibição em relação à vaquejada por ausência de uma lei que regulamentasse a atividade. Com isso o Congresso Nacional decidiu fazer uma alteração na própria Constituição Federal, inserindo a previsão expressa de que são permitidas práticas desportivas que utilizem os animais, desde que sejam manifestamente culturais.

Fica nítido ao analisar a questão que houve uma ação por parte do Poder Legislativo de se sobrepor a uma decisão jurisprudencial de nosso tribunal superior, ocorreu um ativismo congressual. Vejamos na íntegra a Emenda Constitucional número 96, do dia 06 de junho de 2017:

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 96, DE 6 DE JUNHO DE 2017

Acrescenta § 7º ao art. 225 da Constituição Federal para determinar que práticas desportivas que utilizem animais não são consideradas cruéis, nas condições que especifica.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º O art. 225 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º:

Art. 225

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos."(NR)

Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.24 23PLANALTO. Lei 13364. Disponível em :

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/L13364.htm>. Acesso em : 13 junho 2017. 24PLANALTO. Emenda nº 96. Disponível

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3.3 A Coisificação dos animais e a supremacia da Constituição Federal

Há uma lei que permite que animais sejam concebidos com a finalidade exclusivamente de testar produtos, com isso adentramos em uma questão que nos levaria a seguinte pergunta: Poderíamos considerar os animais coisas?

A legislação infraconstitucional ratifica o tratamento de coisa ou objeto dado aos animais. A lei número 10.406 de 2002 (Código Civil) nos demonstra que os animais seriam objeto e se enquadrariam nos bens móveis. Além disso, traz a responsabilidade do dono do animal em caso deste causar algum dano em qualquer pessoa, desde que não seja por culpa deste último. Vejamos:

“Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.”25

O Ministério Público pode entrar com ação contra quem violar o que preconiza a Constituição Federal acerca da proteção e abusos praticado contra os animais, sendo assim podemos perceber que os animais poderiam ser representados em juízo. Como poderia uma coisa ser representada em juízo? Assim enfrentamos um dilema, pois o Código Civil trata os animais da mesma forma que trata os objetos, enquanto que a Constituição Federal dá um tratamento diferenciado a estes seres, sendo inclusive detentores de proteções.

Conforme é ensinado no início do curso de Direito, quando há um confronto entre a Carta Magna e a uma lei infraconstitucional, deve-se sempre preponderar a Constituição, ou seja, aquilo que é o entendimento dela deve prevalecer.

Danielle Rodrigues, em sua obra, traz um pensamento que sintetiza bastante a ideia de que os animais não seriam apenas coisa.

25.BRASIL. Lein.º 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Casa Civil Subchefia para

Assuntos Jurídicos, Brasília , DF, 10 jan. 2002. Disponível em:

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Se os Animais fossem considerados juridicamente como sendo ‘coisas’, o Ministério Público não teria legitimidade para substituí-los em juízo. Impende observar que a legitimidade é conceito fechado, impassível de acréscimos advindos de interpretações. Além do que, seria um contra-senso existirem relações jurídicas entre coisas e pessoas. Sói observar que não se trata de direito real, mas sim, de direito pessoal, cujo traço característico é justamente a relação entre pessoas, mediante os elementos de sujeito passivo e ativo, bem como a prestação devida.”(RODRIGUES, 2009, p. 126).26

Sendo assim, não seria razoável pensarmos na ideia de criação de animais exclusivamente para que sejam realizados os testes como algo aceitável, pois aos olhos da Constituição Federal os animais não seriam meros objetos.

3.4 Os prós e os contras do uso dos animais em testes, sob a ótica do Direito.

Ao analisar os argumentos contrários à temática dos testes realizados em animais, podemos analisar as principais teses defensivas. Em primeiro lugar, a questão do sofrimento físico e psicológico deve ser sempre levada em conta, além disso, temos o questionamento se haveria justiça em os animais passarem por tamanho sofrimento para o benefício da nossa espécie. A questão dos métodos alternativos também é algo que deve ser considerado, sempre com o intuito de se buscar meios diferentes para que se possa realizar tais experimentos sem que haja violação à integridade de nenhum ser.

Sobre o viés de que os testes em animais seriam de pouca utilidade para o progresso cientifico e que esses experimentos nem sempre podem ser considerados de suma importância e certeza para o sucesso do produto, faz-se necessário a leitura de pensadores sobre o tema, vejamos:

O uso de animais na pesquisa médica e científica não traz nenhum benefício ao progresso científico. Os animais possuem uma anatomia diferente da do homem e uma consistência/estrutura dos tecidos também diferente. O cirurgião depois de ter experimentado as técnicas nos animais, passa para o homem que será a verdadeira cobaia experimental. Os cirurgiões experimentais, convencidos que aquilo que viram nos animais tem validade para o homem, no momento que passam para este último, se tornam menos prudentes do que deveriam ser, e consequentemente fazem mais danos. (CAGNO, 1999 apud GREIF, TRÉZ, 2000, p.16)27.

26RODRIGUES, Danielle Tetü. O Direito & os animais: uma abordagem ética, filosófica e normativa. 2009.

27GREIF, Sérgio; TRÉZ, Thales. A Verdadeira Face da Experimentação Animal: Sua saúde em perigo.

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Os argumentos favoráveis a tais testes preconizam a ideia de que além de beneficiar os seres humanos, esses experimentos também podem beneficiar os próprios animais, visto que o avanço da medicina humana muitas vezes se traduz na medicina veterinária, os apoiadores dessa corrente também colocam a vida humana acima da vida animal, dizendo que primeiros deve-se testar os animais para que não ocorra dano a nossa espécie. Há normas que padronizam os testes e tentam proibir práticas que causam sofrimentos desnecessários aos animais, apenas os testando quando seguirem esses padrões e não sendo possível a substituição dos animais em todos os procedimentos.

A legislação brasileira tem evoluído bastante quando o assunto são os testes realizados nos animais. Na indústria cosmética existe um projeto de Lei que foi aprovado pelo Senado Federal no ano de 2017, uma decisão recente, foi realizada a menos de 6 meses, com isso notamos que o Brasil vem acompanhando os principais países desenvolvidos do mundo, principalmente os europeus que já proibiram a realização de tais experimentos. O Projeto de Lei número 70 de 2014 é bem claro ao dispor sobre esse tema. Os produtos que foram testados nos animais ficariam proibidos de ser comercializados.

Contudo há exceção de que os testes com os animais poderiam ser admitidos pela autoridade sanitária em situações excepcionais, caso ocorresse fortes preocupações em relação à segurança de algum ingrediente do cosmético e após consulta à sociedade. A excepcionalidade só pode acontecer no caso de não houver nenhuma possibilidade de utilização de métodos alternativos, segundo o Relator do projeto, o Senador Randolfe Rodrigues do Partido Rede do Estado do Amapá, essa excepcionalidade segue a regra que ocorreu também nos países europeus, os quais serviram como respaldo para o projeto

Abrimos esta situação para casos excepcionalíssimos, de extrema calamidade pública, de gravíssimo risco sanitário, que esteja em risco a saúde da população e que seja necessário retomar esse tipo de teste. Trouxemos cláusula já existente na legislação mundial, notadamente na legislação européia.–(Frisou o relator).28

28Projeto de Lei (Texto oficial remetido ao Senado Federal) pelo relator, Senador Randolfe Rodrigues, com relatório favorável ao PLC 70, de 2014. Disponível em:

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Existem algumas críticas ao Projeto de Lei, pois a proibição desse projeto se limita aos testes em ingredientes conhecidos e a produtos cosméticos acabados em animais, não sendo abarcados ingredientes de efeitos desconhecidos, o que pode abrir brechas no futuro para que as empresas continuem realizando tais experimentos e continuar colocando a vida dos animais em perigo, pois se tratando da química, todo produto pode ter um resultado desconhecido e o mesmo produto pode ter uma série de resultados variados, abrindo assim precedentes para que ocorra um “drible” nessa legislação.

Outra crítica também a esse projeto é a questão de possibilidade de realização do teste em algum país vizinho que tenha uma legislação ambiental menos eficiente que a nossa, ou seja, o grande empresário da área cosmética, poderá ir a algum país que permita a realização de tais experimentos, fazê-lo e depois retornar ao Brasil e colocar seu produto disponível no comércio local, pois a Lei só proíbe a prática no território nacional, até porque não poderíamos legislar em relação a outro país por ferir a Soberania do mesmo.

O caso que ganhou grande repercussão nacional e até mesmo internacional e serviu de grande impulso para a criação do referido Projeto de Lei foi o caso envolvendo os cães da raça “Beagles29” que foram submetidos a testes extremamente violentos no Instituto “Royal”.

Um grupo de militantes, defensores dos direitos dos animais, no dia 18 de dezembro de 2012, invadiu o Instituto Royal, localizado em São Roque no Estado de São Paulo, com intuito de libertar esses animais. A justificativa era que a empresa utilizava de meios cruéis que atingiam a integridade física desses animais e que isso colocaria em risco a vida deles.

Cerca de 150 cães foram resgatados do instituto e segundo o depoimento dos ativistas, o estado deles era deplorável, inúmeras eram as evidências de agressão sofrida por eles, inclusive alguns cães estavam mutilados.

Depois de todo debate envolvendo os testes realizados em animais, conclui-se que

29Após denúncia de maus tratos, grupo invade laboratório e leva cães beagle. G1. São Paulo, 18 de nov. 2013. Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2013/10/ativistas-invadem-e-levam-caes-de-laboratorio-suspeito-de-maus-tratos.html >. Acesso em : 24 maio 2017.

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realmente foi de grande importância para que pudéssemos ter evoluções em diversas áreas, contudo é totalmente possível de ser substituído por outros métodos que não causem sofrimento a ninguém, seja o próprio animal, que sofre os danos físicos e psicológicos decorrente dos testes. Ou seja, do próprio ser humano que é defensor dos animais, causando transtornos em sua vida. O maior acesso a informação fez com que as pessoas percebessem o quão desnecessário é a realização de alguns procedimentos, aumentando a pressão popular no anseio por medidos que pudessem diminuir os danos sofridos pelos animais.

4. TESTES REALIZADOS NO AMBIENTE ACADÊMICO

O capítulo anterior tratava da questão dos testes abarcando áreas científicas e cosméticas. O capitulo atual também trata de testes realizados em animais, contudo, o ambiente analisado é o acadêmico, dando enfoque na influência dos testes na vida acadêmica dos estudantes e vendo como a legislação brasileira se posiciona acerca do assunto, influenciando, assim, os julgadores.

Devido a uma necessidade dos estudantes de alguns cursos específicos necessitarem aprimorar suas habilidades e conhecimento, recorreu-se a utilização dos animais no meio didático. Os cursos superiores da área biomédica, principalmente os cursos de medicina e veterinária utilizam esses seres para observação dos sistemas, anatomia e também testar sua habilidade cirúrgica, percebemos que essa prática é bem retrógrada e mutila seres que como nós, possuem capacidades sentimentais e sensitivas30.

Os animais são mantidos em cativeiro, ou seja, são presos e utilizados com o único intuito de auxiliar o estudante de graduação a uma melhor formação acadêmica. A privação de liberdade é totalmente contrária ao que dispõe a Declaração Universal de Direito dos Animais, visto:

Art. 4º. 2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este

30MOREIRA, Isabela . Os animais podem ter sentimentos mais complexos que os humanos. Revista Galileu. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/02/os-animais-podem-ter-sentimentos-mais-complexos-que-os-humanos-diz-pesquisador.html>. Acesso em : 03 maio 2017.

(34)

direito. 31

Fazendo uma comparação com os países mais desenvolvidos do mundo, percebemos que realmente a realização de testes envolvendo os animais dentro do ambiente acadêmico não é totalmente necessária e que existiriam possibilidades de se buscar métodos diferentes de ensino. Países como a Alemanha e a Inglaterra aboliram totalmente os testes de animais nas suas faculdades de Medicina. A faculdade mais conceituada do mundo, a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América, não realiza procedimentos utilizando-se de animais vivos em suas pesquisas, usando métodos alternativos32 para produção de

resultados.

No Brasil, essa prática ocorre com frequência33 e não se limita a faculdade de

Medicina e de veterinária, percebe-se a situação em outros cursos como Bioquímica, Farmácia, Biologia, entre outros cursos.

4.1 A dificuldade dos estudantes em realizar experimentos envolvendo animais

Os procedimentos podem causar traumas profundos em quem assiste a tais situações. São cenas que acabam por prejudicar a vida das pessoas que veem tais situações e, que na maioria das vezes, são obrigadas a assistir tais barbáries e ninguém deveria ser obrigado a assistir qualquer coisa que lhe prejudique. É o que atesta Rita Leal Paixão, professora de pós-graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, na Universidade Federal Fluminense. Vejamos:

31APASFA. Declaração dos direitos dos animais .Disponível em: <http://www.apasfa.org/leis/declaracao.shtml > . Acesso: 22 maio 2017.

32Cientistas de Harvard criam coração 3D que subistitui testes em animais.ANDA. Disponível em: <https://www.anda.jor.br/2016/11/cientistas-de-harvard-criam-coracao-3d-que-substitui-testes-em-animais/.>.Acesso em : 22 maio 2017.

33Uso de animais vivos no Ensino ainda é uma realidade em universidades brasileiras. ANDA. Disponível em :https://www.anda.jor.br/2014/06/animais-vivos-ensino-ainda-realidade-universidades-brasileiras/ . Acesso em : 22 maio 2017.

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Diante disso, não será que o humor negativo criado pela cena desagradável, chocante, poderá até mesmo prejudicar a formação da representação mental necessária à explicação adequada do fenômeno observado? Isto é, a cena ficará na memória, mas os processos cognitivos necessários para um “entendimento significativo” serão de fato “atrapalhados” pelos estímulos emocionais negativos advindos da “cena chocante” [...] Neste caso, simplesmente visualizar uma cena, como por exemplo, “o coração batendo”, além de não ser o melhor meio de explicar a função, pode até mesmo ser um meio não propício.(PAIXÃO, 2008. p. 116-119).34

As questões de cunho pessoal podem nos impedir de realizar tais procedimentos, como, por exemplo, a religião, um fator que pode afetar nesta prática, pois pessoas ligadas à valores de cunho religioso, via de regra não são adeptas a realização de práticas que envolvam violência e é exatamente o que acontece na realização de tais experimentos, com isso a pessoa que desde sempre foi educada sobre grande influência de valores religiosos teria uma dificuldade nesse sentindo. Além disso, a Constituição Federal35 nos dá o direito

de não realizar certas atividades em virtudes de valores pessoais de cunho moral, ético, filosófico ligado a nossa religião. Conforme está positivado no Artigo 5° da nossa Constituição, que versa sobre os Direitos e Garantias individuais.

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;”

Ainda sobre o direito do estudante não realizar os procedimento que seriam contrários

34PAIXÃO, Rita Leal. O que aprendemos com as aulas de fisiologia? In: Instrumento animal: o uso

prejudicial de animais no ensino superior. Organizador Thales de A. e Tréz – Bauru, SP: Canal 6, 2008. p.

116-119.

35PLANALTO. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso: 09 abril 2017.

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aos seus valores pessoais, acerca do tema vejamos o que diz o defensor do direito dos animais Laerte Levai:

Ao impetrar Mandado de Segurança (Lei n. 1533/51), com pedido de liminar, o estudante invocará o seu direito à objeção de consciência e, paralelamente, o de apresentar trabalho alternativo sobre o mesmo assunto proposto pelo professor da matéria, com o diferencial de ele ser elaborado sem a necessidade de ferir ou matar criaturas sencientes, preservando o objetor, desse modo, suas convicções morais e filosóficas.36

Existem pessoas que são mais sensíveis que as outras quando se fala na questão da utilização de animais em experimentos. Possivelmente, o desempenho dos estudantes em disciplinas que envolvam práticas de crueldade será muito menor e isso poderá prejudicar sua futura formação, pois teriam um problema em alguma matéria que futuramente seria importante na sua carreira. Não se sentindo bem em realizar qualquer atividade que seja sua capacidade de aprendizado não é a mesma quando você está se sentindo bem naquilo que se faz, com isso, estudantes que não se sintam bem com a realização das atividades envolvendo crueldade com os animais, tenderiam a se prejudicar na disciplina, podendo ter dificuldade em acompanhar as aulas.

Sobre o tema é importante ressaltar a opinião do Filósofo João Epifânio Regis Lima, trazendo o nervosismo que é para alguns estudantes causar sofrimentos aos animais, sem sentir-se bem para a realização dos experimentos.

Não é vislumbrado o caráter eletivo da técnica, sendo o raciocínio construído apenas com os elementos fornecidos por um paradigma. Ou seja, já se parte do princípio de que é necessário abrir e dissecar alguma coisa para que se chegue a um conhecimento confiável sobre a biologia do organismo desses animais. Isso não se discute; resta apenas decidir em quem realizar a exploração. Nesse pensar-dentro-de-limites há uma ênfase e grande preocupação em dar continuidade e fazer progredir algo que já existe (o paradigma), que é fato consumado e acima de suspeitas (e portanto não é alvo de críticas) e que se acredita poder manter-se apenas de uma única forma. (LIMA , 2008. p. 145-146).37

36LEVAI, Laerte. Direito à Escusa de Consciência na Experimentação Animal. Teses do 10° Congresso do Meio Ambiente e 4° Congresso de Habitação e Urbanismo do Ministério Público do Estado de São Paulo.

37LIMA, João Epifânio Regis. Vozes do silêncio: Ideologia e resolução de conflito psicológico diante da prática da vivissecção. In: Instrumento animal: o uso prejudicial de animais no ensino superior. Organizador Thales de A. e Tréz – Bauru, SP: Canal 6, 2008. p. 145-146.

Referências

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