• Nenhum resultado encontrado

Noite de S. João : opera comica em um acto

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Noite de S. João : opera comica em um acto"

Copied!
57
0
0

Texto

(1)
(2)

> •*)£-

Jr-pm&Mffi&8£®®aM3S£JMJ(>&A>JSs5&&£>#&m

• M U '• : ; . ! - \ - , ' l

(3)

% "

LM

ML

(4)
(5)
(6)
(7)

NOITE DE S. JOÃO

OPERA CÔMICA EM UM ACTO.

MO DE JANEIRO.

EMPREZA NACIONAL D0 DIÁRIO. Rua do Rosário N. 84.

(8)
(9)

AHOITEDES.JOÜO.

O que ahi vai, não sei verdadeiramente o f i » é ; chamei-lhe opera cemica ; outros dirão que não passa de uma ccllecção de maus versos, sem íactrificação, sem harmonia.

Não importa. Se alguns dos nossos jovens com-positores entenderem que isto merece as honras do theatro, a melodia da muswa disfarçará a disso-nância da versiâçação.

Se me resolvi a publicar este trabalho in-correcto e feito ás pressas,- foi unicamente para facilitar a leitura áquelles mesmos que o qui-zerem aproveitar; não tive outro fim, nem tenho outra aspiração senão dar aos talentos musicaes um pequeno thema para se desen-volverem.

Não espero nada de semelhante publicação; pois ninguém ignora que a poesia lyrica de uma. opera fica inteiramente obscurecida pela musica.

Slery com o seu espirito já observou, á pre* posito de Rossini, que tanto peior, incorreeto e anti-grammatical era o verso, tanto mais su-blime fora a inspiração do gênio.

(10)

— a —

versos, é um empregado como o contra regra, o ponto, o pintor de vistas; elle pertence ao machinismo do theatro; com a simples diffe-rença que exerce a sua arte sobre palavras, em •quanto os outros a exercem sobre o scenario.

A' vista disto creio que não entrará na cabeça de ninguém pretender-uma mínima parcella de gloria escrevendo uma opera; isto é, a mais absurda, e a mais extravagante das composições dramáticas, a que só a musica com o seu mágico poder anima e dá vida.

Ao contrario, fazer uma opera deve ser, e é para um homem que tenha um pouco de gosto litterario, um sacrifício; sacrifício de tempo, sacrifício de idéa, sacrifício de personalidade; porque nesse gênero de drama é muitas vezes preciso que o pensamento do autor se modifique, para subordinar-se á inspiração do professor.

Entretanto é mister que áquelles que amão a musica facão esse sacrifício; outros, segundo me consta, já derão o exemplo; seja-me per-mittido pois apresentar também a minha pe-quena offrenda no templo das artes.

Agora duas palavras sobre o motivo e a idéa desta composição.

O enredo é o que ha de mais simples e de mais natural naquelles tempos de boas crenças,

(11)

^ - 6 ~

que já lá Yáo. E' uma lenda muito conhecida sobre a noite de S. João.

Et» Portugal a flor sibylina era a alcachofra, tão cantada por Garret e pelos outros poetas pertuguezes; mas a crença popular lá e aqui no;

BrasiLdava a mesma virtude á outras plantas, sobretudo ao alecrim, talvez pela facilidade de transplantar-se por galho, o que fazia que a sorte agradasse á todos.

Pôde ser que notem alguns muita innocencia e muita ingenuidade no amor que fôrma a pe-quena acção desta opera; mas se reflectírem que a scena se passa em 1805 no Rio de Janeiro, então colônia, em época de abusões, de pre-juízos, de crenças e de tradicções profundas, ainda não destruídas pela civiüsação, de certo não estranharão como defeito aquillo que só é naturalidade.

Quanto ás, regras artísticas deste gênero de composição, segui as que me parecerão melho-res e moitas vezes a imaginação ; entretanto podem ser modificadas ao gosto do professor qtle escrever a musica.

Sobre a metrificação, ha uma questão que não está resolvida entre nós ; e é que valo* têm os diphthongos no verso como syllabas; se for mão um pé ou dois. Ordinariamente isto fica ao «Ktrio do autor, que se guia pela cadência.

(12)

Eu deixo ao arbítrio do compositor; se • união ou divisão dos diphthongos soar mal em mu-sica, poderá alterar-se o verso como fôr melhor e mais harmônico.

O mesmo pratiquei a respeito das vogaes. Lendo-se um verso, ha ellipses naturaes que se fazem pela simples pronuncia; entretanto que cantando-se, e dividindo-se as syllabas pelas notas, pôde não dar-se a subtracção.

Eis o que j ulgo necessário dizer áquelles a quem dedico esta opera; aos litteratos não me dirijo, porque já adverti que isto não é um tra-balho feito com esmero; é uma simples tela em branca que o compositor se incumbirá de colorir.

Finalmente, tendo sido o meu desejo, escre-vendo isto, somente o vêr uma opera nacional de assumpto e musica brasileira, cedo de / bom grado todos os meus direitos de autor

áquel-le que a pozer em musica o mais breve pos-sível.

Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1857.

(13)

A NOITE DE S. JOIO.

(14)

PERSONAGENS:

ANDRÉ.—TabeUião do Rio de Janeiro, 59 annos. CARLOS.—Sobrinho de André, 19 annos. IGSEZ.—Filha de André, 16 annos. JOANNA.—Velha cigana, 50 annos.

Coro de rapazes, de moças e de famílias que vão á festa de S. João em Botafogo.

A scena é n'um arrabflde da cidade do Rio de Janeiro, em Botafogo, no anno de 1805.

(15)

A NOITE DE S. JOÃO.

Uma rua campestre formada de cercas de es-pinheiros. No fundo apparecem chácaras. A'

direita a casa de André com um alpendrado na frente, e wmjardimzito ao lado. A' esquer-da continuação esquer-da rua. No centro um tama-rineiro d sombra do qual está cottocado um banco tosco. Ao longe vê-se o clarão das fo-gueiras e dos foguetes.

São 9 horas da noite.

S c e n a I .

FAMÍLIAS, MOÇOS, MOÇAS que vão á festa,

VOZES DESTACADAS.

Viva S. João Santo folgazao I

CORO DE RAPAZES E MOÇAS.

Ao clarão das fogueiras Meus amigos, brinquemos! Alegres companheiras, S. João festejemos.

,CÔRODE RAPAZES.

Boa sorte, moça gentil, Boa sorte lhe dê o fado;

(16)

—10— E que-se case em abril Com quem fôr do seu agrado.

CORO DE MOÇAS.

Boa sorte, gentil senhor, .Hoje lhe dê S. João;

Que não veja maio em flor Sem ter preso o coração.

CORO DE RAPAZES E MOÇAS.

Sahindo. Ao clarão das fogueiras, Meus amigos, brinquemos! Alegres companheiras, S. João festejemos.

S c e n a I I .

IGNEZ. Só.

Quando o coro vai sahindo., Ignex apparece no alpendre, acompanha-o algum tempo com os olhos, depois desce a escada.

IGNEZ.

Como alegres vão Brincar e dançar! E eu só a rezar A minha oração.

(17)

- - 1 1 —

Meu bom S. João, Tu que estais no céo, Liviai-me do véo E da profissão.

Meu pai quer-me freira, Freira não serei; Minha alma já dei Em qu'elle não queira. Eu te amo, meu Deus! Da vida os momentos, Os meus pensamentos, Bem sabes, são teus ! Mas o coração, , Esse me fugiu, De mim sè partiu ; Já não è meu; não!

Senta-see fica pensativa.

S c e n a III.

t IGNEZ, CARICS.

Carlos entra sem ser percebido, e vê Igneí pen-sativa e com as mãos juntas.

CARLOS.

EUa reza; a oração E' todo o seu pensamento.; E mal sabe o soffrimento

(18)

—12—

Quer fugir-me 1 Não me ama, Para sempre a vou perder! O que me resta?... -O dever. Soldado, a pátria te chama.

Aproxima-se de Ignez e contempla-a com enlevo. Ah I quando de Deus o véo

Te roubar ao meu amor, Serás, graciosa flôr,-A" minha eStrella no.céo.

A menina ergue os olhos, e vendo Carlos assusta-se. ' IGNEZ. Ah I meu primo!... CARLOS. Ignez I . . . IGNEZ.

Tão cedo voltou... A festa acabou ?

CARLOS.,

Não; mas desta vez Não lhe acho prazer.

IGNEZ.

(19)

—13—

CARLOS.

Sou soldado; Tenho outro cuidado, Vou talvez morrer.

IGNEZ.

Supplicante.

Carlos, se me estima, Não me falle assim!

CARLOS.

Com ironia.

No convento, prima, Rezará por mim.

INGEZ.

Ah! por compaixão Mude de tenção!

CARLOS.

Não, não; eu jurei, Soldado séréi.

IGNEZ.

Despeitada.

E«, freira professa; Serei abbadessa.

(20)

—14-CARLOS.

Corro ao campo da victoria, Vou a pátria defender; O soldado que ama a gloria, Deve por ella morrer.

IGNEZ.

Corro ao claustro, á solidão Minha alma a Deus offerecer; Quem ama a religião

Deve a ella pertencer.

CARLOS E IGNEZ.

Adeus, Rio de Janeiro, Adeus, campo onde nasci. Meu bello tamarinheiro, Vou viver longe de ti. Adeus, meus alegres dias, Adeus, flores que plantei, Águas, céos, que me.sorrias, Adeus, tudo quanto amei t

CARLOS.

Adeus, Ohl amores meus, Que vou combater Pelo rei, por Deus Vencer1 ou morrer.

IGNEZ

Adeus, Oh t amores meus,

(21)

Que vou pertencer Ao senhor meu Deus, Por elle viver.

S c e n a IV.

IGNEZ, CARLOS, ANDRÉ.

André entra cantando.

ANDRÉ.

Quebella fancçãoí Üa soberba ceia. Barriga bem cheia, Viva S. João! CORO. Ao longe. Viva S. João Santo folgazão. CARLOS E IGNEZ. Aparte. Oh I que çomilão 1 Oh r forte glotão! ANDRÉ,

Que bella funcçao 1 Tanto inhame assado, Bolos com melado, Viva S. João 1

(22)

—16— CORO. Ao longe. Viva S. João Santo folgazão! CARLOS E IGNEZ. A parte Oh 1 que comilão Oh I forte glotão ! - ANDRÉ.

Que bella funcção! Tiros e foguetes, Cangica e roletes, Viva S. João! CORO. Ao longe Viva S. João Santo folgazão! CARLOS B IGNEZ. A parte

Oh! que comilãò Oh I forte glotão!

Carlos e Ignez chegão-se a André e querem fallar-lhe ao mesmo tempo; puxão-lhe ora por um braço, ora por outro.

(23)

—17—

CARLOS.

A' direita.

Ah! Meu tio!

IGNEZ. A' esquerda. Meu pai! CARLOS. Pretendo partir. IGNEZ. Quero te pedir... Por Deus escutai!

CARLOS. Quando amanhecer... IGNEZ. Já neste momento... CARLOS. Soldado vou s e r . . . IGNEZ. Me "mande ao convento.

(24)

—18—

CARLOS. Ah ! Meu tio! IGNEZ. Meu pai! CARLOS. Eu vou combater. IGNEZ.

Freira quero ser...' Por Deus, escutai!

ANDRÉ.

Interrompendo-os Com a breca! Forte sócca! Pelo grande Santo André, Meu divino padroeiro, Entendão-sè, por quem é ; FalL' um de vocês primeiro.

Um me puxa daqui, Outro puxa dalli; Um me grita de cá, Outro escute de lá!

CARLOS. IGNEZ.

Oh I Meu tio!.... Meu pai! Desejo partir

Quero te pedir.... Por Deus, escutai! -T»or De^is, escutai!

(25)

Ae amanhecer.... Soldado vou ser....

-19—

Já neste momento.... Me mande ao convento. Oh! Meu tio!.... \ Meu pai! Eu vou combater

. . . Freira quero ser, Por Deus, escutai! Por Deus, escutai!

ANDRÉ.

Arremedando. , P

Oh! Meu tioJ Meu pai! Desejo partir.... Quero te pedir.... Por Deus, escutai! Quando amanhecer.... Já neste momento.... Soldado vou ser.... Me mande ao convento. Oh! Meu tio! Meu pai!. Eu vou combater.... Freira quero ser..,. Por Deus, escutai!

Pausa.

Cada um por sua vez Falle claro e compassado; Vem cá, filha, minha Ignez, .Falle, senhor estouvado.

A Ignez.

(26)

— 2 0 — A Carlos. Vem cá! Ponhão isto já Em trocos miúdos. Pausa.

Então ficão mudos ?

CARLOS.

A' parte.

Oh! Ella se calai

IGNEZ.

A parte.

Oh! EUe não falia!

CARLOS.

A parte.

Se arrependeria!

IGNEZ.

A parte.

Meu Deus! mudaria l... Pois eu não! Não mudo.

CARLOS.

A parte:

(27)

2 1

-Dium passo.

IGNEZ.

A farte.

Ahl vai dizer tudo!

CARLOS.

A parte.

Como estou sofrendo!

ANDRÉ.

Não tugem. Nem mugem.

IGNEZ.

Aparte. - Alto.

Vamos! Animo!... Meu pai, Uma graça só vos peço; Ao convento me mandai, Com prazer vos obedeço.

CARLOS.

Meu tio e Sr. André, Uma graça só vos peço? Dai-me espada e boldrié, Sou valente; eu o mereço.

ANDRÉ.

(28)

- r - 2 2 —

Eu vos dou minha benção; Seguireis vossos destinos, Tal era minha tenção.

A'Carlos. Serás soldado. • A' Ignes. Terás o yéo.". IGNEZ. A parte. Oh ! Malfadado ! CARLOS. A parte.

M'a rouba o céo !

ANDRE'.

Ai! que bella vida! Sozinho comendo, Boa pinga bebendo. Livre e descançado, Sem outro cuidado!

CARLOS.

Oh I Que bella vida ! Valente soldado Com a espada ao lado No largo do Paço Uma guarda faço.

(29)

2 8

-1GNBZ.

Ah! Que bella vida! Noiva do senhor, Cheia de puro amor, São alegres sonhos Meus dias risonhos.

ANDRB'.

A parfe.

Oh! Que triste vida! Illusão perdida 1 Sozinho comendo, Sozinho bebendo, Fico solitário Qual celibatario! Pensando, Lembrando, Os tempos que aqui Com ellèsvivi!

CARLOS.

A parte.

Oh! Que triste vida l Illusão perdida 1 Mísero soldado Coma espada ao lado, No largo do Paço Longas horas passo!

Pensando, Lembrando, Os tempos que aqui Comiilft.ywi!

(30)

—24—

IGNEZ.

A parte. Ah! Que triste vida ! Illusão perdida! Freira .do. Senhor, Viuva de amor, São pallidos sonhos Meus dias tristonhos!

Pensando, Lembrando, Os tempos que aqui Com elle vivi!

S c e n a V

JOANNA.

Só.

Joanna entra lentamente logo que a scena fica deserta.

JOANNA.

E' perto de meia noite ; As estrellas já se apagão; Os máos espíritos vagão ; E não sei onde me açoite. Ah! quantos neste momento Esperão sua boa sorte; Mas o meu padecimento Só espera pela morte.

(31)

2 5 -S c e n a VI. IGNEZ, JOANNA.

Ignez apparece no alpendn procurando.

IGNEZ.

Pareceu-me ouvir alguém I . . . Ah! Uma,pobre mulher. Coitada, nem capa t e m . . .

Adianta-se

Boa velhinha, o que quer?

IOANNA.

Nada, formosa menina, Do mundo nada desejo.

IGNEZ.

Perdoe: mas no rosto vejo, -Que soffre, que se amofina.

IOANNA.

Sinto fome; sinto frio, Não tenho um abrigo, filha; Pedi pão, ninguém me ouviu ; Me chamão de maltrapilha. Os ricos do seu jantar

Não me dão nem as migalhas ; Não me deixão repousar Nem mesmo em cima das palhas.

(32)

2 6

-IGNEZ.

Coitada ) Venha comigo,, Aqui terá um abrigo.

Aponta, para a casa Aquelle tecto não cobre Riquezas nem abastança ; Mas o desgraçado, o pobre Alli entra,, alli descança. Aquella porta não guarda Senão a nossa humildade ; Mas ao passante, que tarda, Não nega hospitalidade.

JOANNA.

Acho emfim um seio amigo, Terei aqui um abrigo.

Aponta para a casa. Aquelle teclo não cobre Riquezas nem abastança; Mas no coração do pobre

Alli vive a esperança. -** Aquella porta não guarda

Senão a santa humildade; Mas ah!.... por ella não tarda Que não entrei a flicidade.

(33)

— 2 7

-S e e i t a VII.

ANDRÉ, CABLOS.

A scena fica um momento deserta. Entrão Car-los que vai ájanélla e deita um ramo ie flor ; e André que sahe de casa pmatwo.

CARLOS.

Na janella. Venho pela ultima vez Saudar meus tristes amores, Deixar aos teus pés, Ignez, A minha alma nestas flores.

ANDRÉ.

Do lado opposto.

'Stá me dando seu cuidado Essa teimados pequenos; Um embirra em ser soldado Outra freira, nada menos.

CARLOS.

Vendo André.

Ai 1 o tio !'... E esta agora! Se me pilha aqui mettido, Deita-me de casa fora ; Fie» pí*a sempre perdido 1

(34)

—28—

ANDRÉ.

Pensalivo sem vir Carlos.

Vou depressa aconselhar-me! Frei João d'Amor Divino Desta alhada ha de tirar-me ; E' homem de grande tino.

Muito bem, Corro e já. CARLOS. Assustado. EUe vem Para cá! ANDRÉ.

Estremece ouvindo rumor.

H e m ! . . . Ouvi! CARLOS. Me sentiu! ANDRÉ. Me illudi! CARLOS. Não me viu!

(35)

2 9 -ANDRÉ. Corro e já Sem demora, CARLOS. r. Vem p'ra ei E' agora.

Os doisadiantão-se; Carlos para fugir; An-dré para sahir; esbarrão-se no meio ia scena e reeuâo soltando um grito.

AWHUÉ.

Tremenda.

Jesus, Maria, José, Nem me posso ter em pé!

CARLOS.

Rindo.

Qua! qual qual O tio André Nem se pôde ter em pé.

ANDRÉ. , Tremendo. * i l . . . Pelo signa!, D » . . . da Santa Cruz; Livraí-me Jesus D e . . . de todo o mal.

(36)

3 0

-A i ! . . . -Ave Maria Tão cheia de graça ; A i ! . . . Valei-me um dia,

E nesta desgraça. Ui! meu Padre nosso Que no céo estais....

Ah! que já não posso!... Bemdito sejais!

Ai! Salve Bainha Nesta benta hora, Advogada minha, Valei-me, Senhora!

CARLOS.

Rindo. Faz pelo signal... Sim ! da Santa Cruz; Grita por Jesus Que o livre do mal. Reza Ave Maria O velho barbaça; Ha quem não se ria D'uma tal desgraça ! Temos Padre nosso, Bemdito sejais! Ai! que já não posso, Não ! não posso mais. Oh! Salve Rainha!... Deifhoje p'ra fora Toda a ladainha!... O que falta agora ?

(37)

3 1

-Àniré e Carlos caníotf as copias ótima alltrmd*-mtntt.

ANDRÉ.

Tomando coragem. Se 'és uma alma d'outro mundo Qu'andas por aqui penando; Pela cruz benta te mando Que voltes já ao profundo.

CARLOS.

Qh! que ideal Vou m'esçapar! Es da gula peccador... Morrerás como um tambor... Mas hoje podes passar.

ANDRÉ.

Senhora do Lipramento, Limi-me desta desgraça I

CARLOS.

Vamos! Obedecei passa! feto já, neste momento!

ANDRÉ;

Lá vou I '

(38)

—32—

CARLOS.

Passou! Respira.

Apre! eu mesmo inda não sei Como desta me safei!

Olhando para o terraço. Porém ahi chega Ignez, Vou me esconder outra vez.

Esconde-se á direita.

S c e n a V I U .

IGNEZ, JOANNA, CARLOS á parte. Ouve-se rumor da festa.

• JOANNA.

Lá festejão S. João, Também eu já festejei Quando tinha um coração, Quando fui moça e amei. Ah! que tempos já lá vão!

IGNEZ.

Erão bem lindas então As festas que se fazião? Os moços nessa funcção Ás moças o que dizião ? Em casamento as pedião ?

(39)

—83—

CARLOS.

A' parte. Que tal I Para uma freira 'Stá muito perguntadeira!

IOANNA.

Oh! Quando chegava o dia Logo cedo me enfeitava; Que doce e santa alegria! Com que prazer não brincava, E a sorte não esperava!

CARLOS.

A' parte. Ai! Como está derretida

Esta velha delambida.

IGNEZ.

A sorte?... De que maneira?

JOANNA.

Inda me lembro; era assim: Uma velha feiticeira Da festa quasi no fim Dizia ás outras e á mim':

CANÇÃO. _ « Filha, á meia noite irás Sozinha lá no jardim ; De joelhos colherás Um ramiubo de alecrim.

(40)

3 4

-« Plan taras mesmo ao relento; Se o raminho florescer, Conseguirás teu intento; E~feliz terás de. ser.

« A's vezes vem um anginho Bafejar a linda flor;

Elle te dirá baixinho:

—Deus proteje o teu amor. »

IGNEZ.

E succedia tál qual A feiticeira dizia?

JOANNA.

Fosse bem, ou fosse mal, Por força que succedia.

CARLOS.

Á parte.

Oh! Meu Deus! Qu' inspiração! Se eu consultasse S. João?

IGNEZ.

Á parte.

-Oh! Meu Deus! Qu' inspiração! Me palpita o coração.

CARLOS.

A' meia noite eu irei Soziuho lá no jardim ;

(41)

—35—

De joelhos colherei Um raminho de alecrim. Plantarei mesmo ao relento;

Se o raminho florescer, Conseguirei meu intento, Ignez minha tem de ser. Do céo virá um anginho Bafejar a linda flor; Elle me dirá baixinho: —Deus proteje o teu amor,

IGNEZ.

A' meia noite eu irei Sozinha lá no jardim; De joelhos colherei Um raminho de alecrim. Plantarei mesmo ao relento; Se o raminho florescer, Conseguirei meu intento, De meu primo eu hei de ser. Do céo virá um anginho

Bafejar a linda flor; Elle me dirá baixinho : — Deus protege o teu amor.

CORO.

Ao longe. E' já meia noite dada l? a hora bem fadada I

(42)

—36—

CARLOS EIGNEZ.

E' já meia noite dada E' a hora desejada!

Sahem furtivamente cada um do seu lado, sem se verem e enirão no jardim.

Scena IX.

JOANNA.

Só,

Ergue-se e vai sahir.

JOANNA.

Vós, que pagais pelo pobre A esmola da caridade, A quem este tecto cobre, Dai, meu Deus, felicidade. Vou além, breve morrer, Longe de um olhar amigo ; Mas não quero entristecer Da paz este doce abrigo.

Sahe.

Scena X.

CARLOS, IGNEZ.

Entrão do jardim sem se verem, trazendo cada um deites um raminho de aleerim.

(43)

—37—

IGNEZ E CARLOS.

Florirás ? Não florirás, Meu raminho de alecrim ? E boa soite me darás? O coração diz que sim. Linda, feiticeira flor,

Flor deste meu coração! A's faltas do meu amor Oh! não me respondas—:não.

Deus te fade, bem fadada, Gentil e mimosa palma. Que vicejes á alvorada, Flor querida de minha alma.

Sobem á scena e vão plantar o ramo de alecrim no mesmo vaso que está sobre o pilar do alpen-dre. Suas mãos se tocão; recuão assustados.

IGNEZ.

A' parte.

Ah! meu Deus! O que seria!... Que susto que me causou!

CARLOS.

A' parte. Oh I pareceu-me que via Um vulto que me tocou!

IGNEZ.

A' parte.

Sim! Eu senti outra mão A minha mão apertou!

(44)

-:38—

CARLOS.

A' parte. Não; não foi uma illusão! A vista não me enganou!....

Ficão pensativos.

CARLOS EIGNEZ.

A' parte.

Ah! já me lembro!.. sim... 'sim! A velha fallou assim:

« Ás vezes vem um anginho Bafejar a linda flor;

Elle te dirá baixinho: —Deus protege o teu amor. »

IGNEZ.

Sim! Foi o anginho de Deus Que meu rosto bafejou; E que nos dedinhos seus A minha mão apertou.

CARLOS.

Sim! foi o anginho de Deus Que meu rosto bafejou; Forão os dedinhos seus Que minha mão apertou.

CARLOS E IGNEZ.

Descem. Meu bom anginho, Vou te pedir

(45)

— 3 9 — Que o meu raminho Faças florir! E com a flor Que vai se abrir, O meu amor Veja sorrir.

Chegão-se de novo ao vaso para plantar o ale-crim.

IGNEZ.

A' parte.

Ah! Sinto-o Junto de mim! Me cerra a mão outra vez !

CARLOS.

A' parle.

Que mãozinha de alfinim ! Ah ! se fosse a mão de Ignez...

IGNEZ. A' parte. Se eu lhe faltasse... CARLOS. A' partem Se a abraçasse..

(46)

- 4 0 — IGNEZ A' parte. Se eu lhe contasse. CARLOS. « A' parte. Se eu a beijasse... IGNEZ. A' parte. Talvez cumprisse O meu desejo. CARLOS. A' parte. Talvez sorrisse Com o meu beijo.

IGNEZ. A' parte. Vou lhe-fatiar, Já não hesito. CARLOS. A* parte. Devo-a beijar, Lá vai I 'stá dito I

(47)

— Ü

-Aproocimão os rostos, Ignez que vai fallaf recebe na face o beijo de Carlos e fica tremula e con-fusa.

IGNEZ.

Ai! deu-me um beijo !

CARLOS.

Meu Deus! Que vejo!

IGNEZ. Ah! Carlos! CARLOS. Ignez! IGNEZ. ' Meu primo ! CARLOS.

A olhal-a nem me animo!

Pausa.

IGNEZ.

Confusa.

Vinha também ao jardim Plantar o seu alecrim ?

(48)

.—42—

CARLOS.

Tomàndfl-lhe a mão. Sim, meu anginho, Vim te pedir Que o meu raminho Faças florir. E com a flor Que vai se abrir, O meu amor Veja sorrir.

IGNEZ.

Não sou anginho P'ra me pedir Que o seu raminho Faça florir. Mas com a flor Que vai se abrir, O ncsso amor Vejo sorrir.

Repelem o dueto: André entra, e ouvindo-os apto-xima-se; vê os dois que se abração.

Scena XI.

OS MESMOS, ANDRÉ. ANDRÉ. Chegando-se. Olé! 's(á bonita ! Ande lá! Bepita!....

(49)

—43— IGNEZ. Assustada. Ah! Meu p a i - . . CARLOS. Assustado. Meu i i o ! IGNEZ. Tremula, aparte. Meu Deus I CARLOS. Confuso, á parte. Estou frio! ANDRÉ.

Quem viu um soldado Assim namorado ? . . . Quem viu uma freira Tão namoradeira?...

CARLOS.

Ah! Meu tio 1 .-. perdão! Dava á pátria a vida, Mas o coração E' de Ignez.querida.

(50)

-44-IGNEZ.

Ahr meu pai! . . perdão! Sua filha querida

Deu-lhe o coração, Deu-lhe .mais que a vida.

CARLOS.

Era só por ella , Que eu queria morrer; Sem a minha estrella Não podia viver.

IGNEZ.

Era só por elle Que eu queria, o véo; Se não fosse delle, Seria só do céo.

ANDRE'.

Bem diz Frei João Que é espertalhão: « Menina que reza A todo o momento; Qu'anda sempre lesa, K peosa em convento; Não sabe o que quer A sonsa mulher? Quer só casamento.» Bem diz Frei João Que é espertalhão; « Bapaz que só trata De ser militar;

(51)

4 5

-Que só tem bravata, È vive a brigar; . Não sabe o que quer ? Quer achar mulher Para se casar.»

CARLOS.

Ah! meu tio!... perdão, Era só por ella, etc.

IGNEZ.

Ah! meu pai I . . . perdão, Era só por elle, etc.

ANDRÉ.

Já sei! Já ouvi! Estão de namoro! Oh! tudo entendi E' um desafore!

Pfàisa íCarlos e Ignez estão, cabisbaixos. Mas no fim de Contas

Melhor é casar ; Cabecinhas tontas

v> Sempre andão m ar.

Alegria de Carlos e Ignez que*abração André.

Scena XII.

03 MESMOS, FAMÍLIAS que voltão da festa.

CORO.

(52)

- 4 6 —

La morrem as fogueiras, A cinza já não arde: Alegres companheiras, Vamos! vamos! que é tarde. Acabou'toda a festa

Adeus, meu S. João! Agora só nos resta Das sortes ò condão. Fugiu-nos o prazer A' cidade tornamos; Já vai amanhecer, Meus amigos partamos!

IGNEZ.

O meu amor Era uma flor

Do coração Inda em botão; Veiu S. João E a fez abrir, E a fez sorrir E se expandir. CORO. E sorrir, E florir. -IGNEZ.

Era minha alma Qual uma palma Da oração Na isenção; Veiu S. João

(53)

4 7 -E a fez abrir, E a fez sorrir E -se expandir. CORO. E*orrir, Éj&orír. IGNEZ. Meu coração Era um botão De linda flor, Porém sem cÔr; Veiu o amor E o fez abrir, Se colorir, E se expandir. CORO. E. sorrir, E florir. ANDRÉ E CARLOS. .E sorrir, E florir. CORO. Sahindo. Lá morrem as fogueiras, A cinza já nem arde; Alegres companheiras, Vamos ! vamos t quê ó tarde.

(54)

™<»W

w&.

*A

I •&'*•'. .- jmfi -.(K

»1í

áwi

'*

(55)

'^'foipf^húmmmwwm

(56)

.' I iH I

(57)

BRASILIANA DIGITAL

ORIENTAÇÕES PARA O USO

Esta é uma cópia digital de um documento (ou parte dele) que pertence a um dos acervos que participam do projeto BRASILIANA USP. Trata‐se de uma referência, a mais fiel possível, a um documento original. Neste sentido, procuramos manter a integridade e a autenticidade da fonte, não realizando alterações no ambiente digital – com exceção de ajustes de cor, contraste e definição.

1. Você apenas deve utilizar esta obra para fins não comerciais. Os livros, textos e imagens que publicamos na Brasiliana Digital são todos de domínio público, no entanto, é proibido o uso comercial das nossas imagens.

2. Atribuição. Quando utilizar este documento em outro contexto, você deve dar crédito ao autor (ou autores), à Brasiliana Digital e ao acervo original, da forma como aparece na ficha catalográfica (metadados) do repositório digital. Pedimos que você não republique este conteúdo na rede mundial de computadores (internet) sem a nossa expressa autorização.

3. Direitos do autor. No Brasil, os direitos do autor são regulados pela Lei n.º 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. Os direitos do autor estão também respaldados na Convenção de Berna, de 1971. Sabemos das dificuldades existentes para a verificação se um obra realmente encontra‐se em domínio público. Neste sentido, se você acreditar que algum documento publicado na Brasiliana Digital esteja violando direitos autorais de tradução, versão, exibição, reprodução ou quaisquer outros, solicitamos que nos informe imediatamente (brasiliana@usp.br).

Referências

Documentos relacionados

The fog-related increase in soil water content and leaf water uptake allow plants to maintain a higher water potential, reducing xylem cavitation occurrence, which

A Psicologia, por sua vez, seguiu sua trajetória também modificando sua visão de homem e fugindo do paradigma da ciência clássica. Ampliou sua atuação para além da

O planejamento fatorial foi aplicado satisfatoriamente para a otimização dos parâmetros da técnica de voltametria linear de redisso- lução anódica no desenvolvimento

R., 2002, Community ecology of the metazoan parasites of pink cusk- eel, Genypterus brasiliensis (Osteichthyes: Ophidiidae), from the coastal zone of the State of Rio de

mixta plants seem to be tolerant to medium salinity stress (S1 treatment) since plant growth was not severely impaired, while salinity and harvesting time affected the nutritional

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

É primeiramente no plano clínico que a noção de inconscien- te começa a se impor, antes que as dificuldades conceituais envolvi- das na sua formulação comecem a ser

El porcentaje de tiempo en que una orden puede cerrada por adelantado, sin que las fechas del plan se modifiquen Indicar un porcentaje.