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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTE. Anderson da Silva Dalcin. Novas subjetividades em percurso As novas tecnologias de comunicação como uma possibilidade ético-estética. São Paulo 2006.

(2) UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTE. Anderson da Silva Dalcin. Novas subjetividades em percurso As novas tecnologias de comunicação como uma possibilidade ético-estética Monografia apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, em cumprimento parcial às exigências do Curso de PósGraduação Latu Sensu para a obtenção do título de Especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Orientação: Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa.. São Paulo 2006.

(3) Banca Examinadora. Presidente: _______________________. 1º Titular: _______________________. 2° Titular _______________________.

(4) À minha família que reconhece meus esforços e me oferecem condições para as minhas realizações. A Érica pelo companheirismo e amor em acolher minhas angústias. Ao meu filho, que pelo seu existir me motiva e pelo seu modo indagador encanta minha vida..

(5) AGRADECIMENTOS. Ao meu orientador Mauro, que me provocou buscar respostas as minhas indagações, mostrando como somos afetados por aquilo que procuramos. Aos colegas que colaboraram durante quase dois anos com minhas questões, e em especial ao amigo Leandro que me ofereceu morada, compartilhando reflexões. A amiga Milly que ao meu lado, troca experiências no dia a dia..

(6) RESUMO Este trabalho busca demonstrar a dimensão estética na produção de subjetividade na sociedade contemporânea, mediada pelas novas tecnologias de comunicação. Foram explorados teoricamente os afetos e as intensidades produzidas no social, ou seja, o desejo em uma sociedade tecnológica, que coloca o sujeito a se reposicionar diante das novas ambiências. Demonstra-se que há uma programação do sujeito, linhas intensas no social, através do maquineismo capitalista, para controlar o sujeito, produzindo subjetividades a serem consumidas. Por fim, surge uma proposta, ético-estética como uma possibilidade, se apropriando das tecnologias, num modo sensível de relacionamento com o outro, criando possibilidades de vida autônomas.. Palavras chave: Subjetividade, tecnologia, ética, estética, sentido, numérico.

(7) ABSTRACT This project tries to demonstrate an esthetics dimension about the production of subjectivity at contemporary society, through new communication technologies. Theoretically were explored the friendship and the intensity level produced by them in a social aspect, the desire of a technological society, which modify the subject position and environment. Another aspect is demonstrated, there is a subject’s programming which controls people trough the capitalism, that produces subjectivities to be consumed. Finally, like a possibility an ethics proposal appears, assuming technologies, in a sensitive way to live and understand another person.. Key words: Subjectivity, technology, ethics, esthetics, sense, numerical..

(8) RESUMEN Este proyecto intenta demostrar una dimensión de la estética sobre la producción de la subjetividad en la sociedad contemporánea, con nuevas tecnologías de comunicación. Teóricamente fueron explorados la amistad y el nivel de la intensidad producidos por ellas en un aspecto social, el deseo de una sociedad tecnológica, que modifican la posición y el ambiente sujetos. Otro aspecto se demuestra, hay la programación de un tema que los controles pueblan el canal el capitalismo, que produce los subjectivities que se consumirán. Finalmente, como una posibilidad una oferta del ética aparece, las tecnologías asumidas, de una manera sensible de vivir y de entender a otra persona.. Palabras claves: Subjetividad, tecnología, el ética, la estética, sentido, numérico..

(9) SUMÁRIO. Introdução. 10. Narrativas em cena: as questões sobre os sujeitos em transição. 15. As tecnologias de comunicação e a produção de novas subjetividades. 22. A ética-estética na produção de novos sentidos para a vida. 31. Conclusão. 43. Bibliografia. 45.

(10) 10. Introdução Refletir sobre a contemporaneidade é instigante e ao mesmo tempo arriscado, pois as descobertas neste processo são sempre sobre uma perspectiva de uma forma em um contexto de transição. As transformações dos pilares da sociedade moderna: o indivíduo, o mercado e as tecnologias (Lipovetsky, 2004), são inegáveis. Este processo transitório pôs em rompimento as estruturas das instituições. As instituições é que vão criar as referências para o indivíduo, sendo elas mediadoras das relações humanas, nestas os valores e os papéis se transmitem, uma dissolução do que estava instituído, emergindo novas referências, surgindo multiplicidades de valores, de relações, de subjetividades. Abandonando-se os modos de vida tradicionais, colocados em questão, criando novos valores e papéis provisórios. Historicamente sempre houve mediadores das relações humanas que modelizaram o homem e os modos de existência. O que ocorre na atualidade é que os novos rumos fizeram se alterar os pilares modernos, pois as mediações se deslocaram, impondo ao sujeito as questões de uma sociedade tecnológica. Quais são hoje as referências dos sujeitos, que vão se constituir nas subjetividades? As subjetividades são produzidas pelas relações com o mundo externo, em sistemas complexos de semiotizações. As semiotizações que aqui se coloca são dadas por Deleuze e Guattari, considerando a semiótica como um regime de múltiplos signos, com articulações do conteúdo e da expressão, algo que se objetiva e estratifica nos sujeitos, não como um universo semiológico geral, mas diversificado e conectado, o que faz das subjetividades fruto de uma teia de ligações no social: entre o sujeito e os objetos e entre o sujeito e os sujeitos. Em síntese, o indivíduo vem a se constituir a partir das redes de articulações no mundo social, e no estar junto com os outros. A sociabilidade, ou seja, o estar junto com o outro é o que permite ao homem constituir comunicação: sensibilização, sentidos, compartilhamentos de informações, idéias, afetos, o processo de emitir e receber mensagens. A comunicação é uma relação de troca mediada, que há entre o sujeito e o mundo, signos que se manifestam através da linguagem, ou objetos, produzindo sentido. Os sentidos se conectam diretamente com as imagens representativas..

(11) 11. Na atual sociedade, novos devires se estabelecem perante novas conexões, novas relações separadas por interfaces, um intermediário entre dois sistemas. Há uma fronteira de dimensões, um campo de transição no qual as suas representações circulam através de imagens. É a partir das interfaces que se assistem as transformações em percurso. “As mudanças no mundo ocorrem de acordo com nossas interfaces. As fronteiras do mundo são os limites de nossa interface. Nós não interagimos com o mundo somente com a interface do mundo”. (WEIBEL apud ARANTES, 2005, p.61). Os indivíduos expressam seus desejos e afetos por meio da comunicação, criando linguagens e instrumentos pelos quais os homens absorvem seus sentidos e intenções, modificando as relações humanas. Em um processo histórico realizaram-se sofisticações da natureza, criando novos objetos culturais, novos instrumentos que ampliassem suas capacidades e potencialidades. Estes objetos, segundo Flusser (2002) são de dois modos: “Grosso modo, há dois tipos de objetos culturais: os que são bons para serem consumidos (bens de consumo) e os que são bons para produzirem bens de consumo (instrumentos)” (FLUSSER, 2002, p. 20). No presente, os aparelhos se tornaram elevadamente eficientes e eficazes, percorrendo do mecânico a eletrônica, as tecnologias passaram a ser essenciais em nossas vidas, intercedem em quase tudo ao nosso redor, facilitando as ações humanas com seus automatismos. Como coloca Machado (1997) as máquinas modificam a vida do homem, as capacidades imaginativas e formas de percepção do mundo. As tecnologias produzem subjetivação, estando agregado: valores, idéias, semitiozações e subjetividades, na concepção do próprio aparelho, em seu funcionamento e na sua interface. São instrumentos de produzir consumo, em que toda a produção possui uma imagem carregada de signos. Neste contexto, o indivíduo é algo produzido, moldado, possui suas dimensões formuladas pelo maquineismo capitalista. Este indivíduo vai sendo modelizado, porque não é algo pronto, como algo que se forma, se cristaliza, criando uma unidade. Parafraseando Guattari (2005) e Simondon (2003), ao enfrentar novas experimentações, a subjetividade que o norteia, vai se moldando, sendo ele um indivíduo-meio, sempre se encontra em defasagem de si, se deparando a cada nova situação, com um novo problema, um novo enunciado, em que necessita articular novas informações, sendo colocado a realizar conexões, agenciamentos. Neste processo há múltiplas potencialidades, em que o indivíduo precisa “se resolver se defasando” (SIMONDON, 2003), um estado que o coloca o “ser” em questão..

(12) 12. O maquineismo é como uma máquina social produtora de sentidos coletivos e individuais. Como uma máquina abstrata que faz circular o regime de signos, as semiotizações, opera neste processo em que o indivíduo é capturado por agenciamentos e sendo levado ao consumo de subjetividades, uma circulação de enunciados dados ao sujeito diante das necessidades de resolução da vida. As novas tecnologias de comunicação se articulam como “equipamentos coletivos”, que funcionam como “máquinas de expressão”, que conforme Guatarri (2005) são agenciamentos de enunciação, articulações operando em processos coletivos de subjetividade. Implicam o funcionamento de máquinas de expressão que podem ser tanto de natureza extrapessoal, extra-individual (sistemas maquínicos, econômicos, sociais, tecnológicos, icônicos, ecológicos, etológicos, de mídia, ou seja, sistemas que não são mais imediatamente antropológicos), quanto de natureza infra-humana. Infrapsíquica, infrapessoal (sistemas de percepção, de sensibilidade, de afeto, de desejo, de representação, de imagens de valor, modos de memorização e de produção de idéias, sistemas de inibição e de automatismos, sistemas corporais, orgânicos, biológicos, fisiológicos e assim por diante). (GUATTARI e ROLNIK, 2005, p. 39). Estes sujeitos estão ligados às redes de fluxos de signos, ícones, estruturas que se cruzam e se multiplicam, que vão sendo construídos, desconstruídos e reconstruídos para manterem os processos de fabricação de subjetividades, combustível do motor do capitalismo moderno. O que muda na atualidade é que as novas tecnologias são multiplicadores destes agenciamentos, sendo ela agora um dos principais mediadores sociais, ampliando a produção de subjetividades no aspecto da segmentação dos modelos dominantes. Quando falamos em novas tecnologias de comunicação, falamos de um aparato de sofisticações, máquinas e aparelhos capazes de assumir funções humanas, que surgem do aprimoramento de aparelhos existentes e da criação de novas máquinas capazes de exercer funções até então não imaginadas, sendo denominadas como inteligências artificiais. A informatização proporcionada pela eletrônica faz com que o mundo que conhecemos se virtualize num mundo imaginal, que tem como ponte esta dimensão virtual, as máquinas, os “metaparelhos” (Flusser, 2002), produzindo uma proliferação de imagens, que proporciona uma nova ordem visual, novas formas sensoriais e perceptivas. Imagens que são remontadas do mundo real e transformadas em bits, em números, matematicamente recriadas, sendo capazes de simular e criar espaço potencialmente articulador de subjetividades que se encontram nos processos em constantes transformações das tecnologias..

(13) 13. A nova ambiência se encontra com uma diversidade de novas práticas, que apontam para discussão das atuais cartografias: O individualismo levado ao extremo na sociedade do espetáculo, um “politeísmo de valores” (Maffesoli, 2004) “uma luta implacável entre diferentes ordens de valor”, a transformação do tempo e espaço, a excitação exacerbada dos corpos, na busca de encontrar morada para exteriorizar os afetos e as intensidades, para se situar na busca pelo prazer. Todas estas operações que se formatam no contemporâneo colocam-se como máquinas de captura, que promovem sedução para um estado festivo, com roupagens dadas e consumidas para o desejo, podendo chegar a produzir nos sujeitos algo como uma certa sensação de que os desejos não mais coubessem em seus corpos, pelo excesso de imagens ilusórias que não são condizentes com o nomadismo do desejo. Não permitindo um modo de expressão própria do sujeito, ele se depara com a desilusão identitária, um esvaziamento dos sentidos, ou a se colocar em uma nova relação com o mundo para produzir outros significados para o existir do sujeito. Os aparatos tecnológicos estão o tempo todo se inovando, se constituindo no mundo virtual, na cibersociabilidade, nos games, no espaço e no tempo das telecomunicações, ou seja, em todos os frutos das amplitudes eletrônico-digitais, consumidas pela sociedade, que são ligadas rizomaticamente aos modos de subjetivação programados no interior dos aparelhos e na própria relação homem máquina. Um hibridismo pela interface e natureza interativa dos aparelhos, nesta relação que se conjuga na intencionalidade do homem e da máquina, em que os sujeitos vão sendo levados a simular modos de vida, e aos poucos instaurando subjetividades em percurso. Desta forma, toda produção no social cria imagens do mundo transpassada em valores e conceitos que vão permeando a vida novas formas de relacionar - se com o mundo, os outros e os objetos. Os aparelhos de comunicação apontam novas formas de viver, aos poucos os sujeitos aceitam realidades que até então não faziam sentido, optando por escolhas que antes eram inconcebíveis. Estabelecem-se pontos de tensão, pela desestabilização das instituições, das regras, das normas. Já não se vê o outro da mesma maneira, as subjetividades, os modos de perceber e fazer estão deslocados diante das imagens recebidas. O uso das tecnologias já se tornou parte de nossas vidas, estão quase por todo o mundo, porém há locais que são exclusos de suas usabilidades, ou estão à margem destas, mas é inevitável não usufruir das fabricações do capitalismo, estando sobre o controle destas máquinas produtoras de subjetividades, por que o maior produto deste sistema são produtos.

(14) 14. imateriais, conforme Guattari e Rolnik (2005), o mundo recebe em escala global a matéria prima do capitalismo, a subjetivação. É necessário propor uma reflexão teórica exploratória diante desta temática, abre-se uma discussão sobre as subjetividades em percurso no novo contexto social, por meio de um ensaio crítico das teorias confrontadas diante dos fenômenos estudados do objeto a ser apresentado, cenários contemporâneos que demonstram as transformações do sujeito pelos novos modos de se relacionar e estar no mundo. Trata-se primeiramente de abordar questões sobre a vida na sociedade tecnológica..

(15) 15. Narrativas em cena: as questões sobre os sujeitos e a sociedade em transição Duas narrativas do mundo atual possibilitam o ponto de encontro com o objeto do presente estudo: Primeiro Cenário A Sra. M é viúva, tem 40 anos, possui um filho e mora com os Pais, é relevante dizer que mesmo quando era casada nunca mudou de endereço e sempre se manteve sobre a tutela da mãe. A mãe sempre exerceu grandes influências sobre suas ações, aonde ir, como se vestir, quem era, ou o que era “bom ou ruim”..., podemos dizer que de uma forma geral influía na sua maneira de se comportar, na suas idéias e atitudes. Até mesmo quando saía de casa estava acompanhada de sua mãe. Religiosa, sempre buscou manter certa aparência e atitudes moralistas, no julgamento dos outros, sobre relações amorosas, opções sexuais, e etc. Sempre esteve com um discurso voltado para os outros, os vizinhos, os mais próximos, falando sobre a vida alheia. Costumeiramente, relatava o que acompanhava pelos meios de comunicação, porém sem críticas e sem reflexão. Mantinha uma vida social “apática”, pouco se sociabilizava com pessoas que não fossem de sua religião, ou alguns de seus vizinhos. Após a morte de seu marido, pelo que consta não teve nenhuma outra relação amorosa. Foi observado que em determinado período, algo se alterou: devaneios sobre a vida, algumas inquietudes e passou agir de forma diferente. Gradativamente foi apresentando novas atitudes, as quais chamam à atenção. Primeiramente, a partir de um determinado momento começou a fazer uso de computador pessoal, realizando conexões com a internet. Isto foi aparecendo nos seus relatos, colocando em seus diálogos as suas experiências virtuais, como a participação em comunidades virtuais, o uso de mensageiros instantâneos e a descoberta da internet como instrumento para se obter novas informações, buscando por assuntos que lhe interessava, explorando sites com temas nos quais tinham ligação direta com sua vida e outros que talvez não tivessem ligações com suas vivências, mas que passou a interessá-la. Os caminhos foram traçados por momentos. Não há a possibilidade de ordenar a cronologia dos fatos corretamente, mas sim de pontuar algumas observações. Surgiu a busca de informação e visita de sites que falavam de pessoas que haviam perdido seus companheiros amorosos. Depois vieram as construções de novas amizades, de contatos passageiros e outros que até o momento desta pesquisa, ainda relatava manter..

(16) 16. Também estando presente em seu novo discurso os acontecimentos relatados pelas mídias de forma a colocar em seus diálogos o que estava além do que ela via na televisão. Fazendo isto através da busca de mais detalhes sobre o que a interessava. Passou a usar o meio virtual como ferramenta de se munir de informações, aparentando ter conseqüências em si própria, nas tomadas de posições sobre os temas da atualidade, nas discussões destes assuntos com os outros, deixando de lado o desinteresse anterior sobre os acontecimentos tratados na comunicação cotidiana entre as pessoas, em assuntos pautados pela mídia. O uso do espaço virtual também influiu sobre o seu cotidiano, como a descoberta de lugares através da rede virtual, que passou a freqüentar no mundo real. Estes fatos e outros criaram um ponto de tensão entre ela e a mãe, pelos motivos nos quais a mesma relata, que com a internet ela passou a fazer novos amigos, a se relacionar com outras pessoas e a pensar e fazer coisas que até então não imaginava poder fazer. Passando a desenvolver ações cada vez mais sem a influência da mãe e criando novas relações, sendo mais autônoma em sua vida, criara uma certa ruptura da dependência que até então estava estabelecida. Também é interessante comentar que uma das formas que ela está encontrando para lidar com este conflito é compartilhando estes fatos com os novos e antigos amigos, através da internet, por diálogo por mensageiro, ou troca de e-mails. Foi buscar por informações de como resolver este tipo de relação dependente que ela até então mantinha, de certa maneira conformadamente, ou não havia encontrado perspectivas de fuga desta dinâmica. Outros aspectos, é que notavelmente vem modificando seu modo de se vestir e de consumir, hoje tem câmera digital que costuma compartilhar com o filho. Registra as fotos dos lugares onde vão sozinhos, ou juntos, podendo num curto espaço de tempo visualizar os momentos, através das imagens digitais que virtualizam a experiência que tiveram. No seu tocador de mp3, está de tempo em tempo trocando o repertório, pelas últimas músicas tocadas na rádio e as músicas que encontra de quando era mais jovem. Sempre que pode está comprando as tecnologias que estão na moda. Fala agora mais de suas experiências, do que as dos outros que estão próximos a ela e quando geralmente fala sobre a vida dos outros, usa uma linguagem típica dos mais jovens, com algumas gírias, se refere mais sobre os assuntos que encontra no “orkut”, site de comunidades de virtuais, um software social. Como demonstrou em uma determinada situação, sobre um fato ocorrido em sua vida, disse: “Ah! Foi muito legal, tirei umas fotos e.

(17) 17. vou colocar no meu orkut”. Estas são algumas pontuações sobre Sra. M., um caso que demonstra uma modificação subjetiva de um sujeito. Um caso contado, sobre uma mulher que vem alterando seu modo de viver, fortemente relacionados com a utilização de novas tecnologias de comunicação.. Segundo Cenário Dois artigos do jornal Folha de São Paulo de 17 de setembro de 2006, colaboram com a discussão pretendida aqui. Em um deles, postado no caderno “Mais!”, com o tema: “De volta para o real”, traz a notícia de uma carta aberta publicada no Reino Unido, que carrega uma preocupação com a educação e mais precisamente com a saúde mental dos estudantes. Lá, Psicólogos e Educadores, atacam uma cultura consumida pelos jovens, denominada de “junk”. O artigo aponta para um alerta destes profissionais : “...as crianças estão perdendo a capacidade de experimentar” . Destaquemos ainda na reportagem a fala do Psicanalista Samuels: “Relacionamentos reais estão sendo perdidos e não estão sendo pela imaginação. Estão sendo substituídos por um truque, uma alegação falsa de que se vê algo real”. O resultado deste fenômeno, da produção do “falso”, leva Samuels a associá-lo ao aumento dos problemas psicológicos como a depressão na sociedade mundial. O outro artigo, localizado no caderno “Ilustrada”, traz uma matéria sobre o Blog (postsecret.blogspot.com) o terceiro blog mais visitado no mundo no momento, onde as pessoas revelam “segredos inconfessáveis... medos, angústias, vergonhas, em formatos de cartão postal”. Warren, sociólogo e autor do site e das publicações de quatro livros a partir dos cartões recebidos, já obteve mais de 60 mil postais. Perosa, professor da PUC – SP, aponta ser um novo fenômeno. “Segundo ele, esconder-se no anonimato é uma nova forma de ser visto, e, em última instância, ‘se tornar real’ no mundo da virtualidade.” É fato que em uma pesquisa, na produção de uma monografia é um trabalho no sentido de objetivar as coisas que nos afetam no âmbito de nossas experiências, de nossas relações com o mundo, nas quais necessitamos nos submeter aos métodos e rigores científicos para a construção do conhecimento, ou como neste trabalho, para transitar sutilmente pelas problematizações do mundo atual, explorando as teorias existentes..

(18) 18. Para tanto, partimos das observações dos fatos, histórias, notícias e fenômenos que nos incomodam, nos deslocam e que nos pedem para nos posicionarmos. Dentro das restrições de nosso trabalho e nas delimitações do campo que iremos atuar, haveria algumas possibilidades de citações, observações aleatórias da vida em trânsito a descrever, mas os dois cenários apresentados correspondem com o problema presente e permitem uma aproximação e discussão do objeto desta pesquisa, traçando um olhar sobre as subjetividades e sobre a subjetivação na atualidade. O caso narrado, foi assistido com alguma distância, mas o mesmo em conjunto as matérias do jornal são passíveis de ser uma ponte entre o levantamento do problema e a exploração teórica proposta. Os fenômenos apresentados são reflexos da atualidade, colocam se no centro do problema, pois representam relações entre os sujeitos e as novas máquinas de comunicação, com os possíveis frutos decorrentes desta relação. O que foi apresentado serve de referência para reflexões, não podendo se realizar afirmações, mas utilizar os relatos por suas disparidades, pelas multiplicidades, como também pelas articulações, na repetição destes fenômenos, seja como fatos da vida cotidiana, seja como noticia na mídia, visando neste ensaio encontrar pontos em comum, que se relacione com os fenômenos que abrangem o campo de estudo proposto. Estas observações podem ser vistas pelos leitores, ganhar animação em suas análises a se atentarem aos fatos ao seu redor. Os cenários propõem algumas perguntas. Dispara-se a primeira delas: O que fez com que a senhora M. transite por novos caminhos, ou seja, encontrar-se agora em uma nova cartografia? Ela parecia estar engessada, suas possibilidades de realização demarcadas, suas linhas de ação tinham uma forma, um território quase solidificado. Porém, algo se derreteu, estruturas estratificadas de sua individualidade certamente ainda se mantêm, mas algo se moveu, se deslocou. Ao transitar por estas multiplicidades inerentes as estas multimídias, sua subjetividade passa a percorrer por outras formas, passa a encontrar fluxos informacionais, outras percepções do mundo, como também a realizar encontros com outras subjetividades, se defasando e passando por um processo de atualização do seu sistema subjetivo. Algo que passa pela subjetividade, o que faz escolher, ou aceitar se conectar e transitar pelas novas tecnologias de comunicação, assim como seu modo de ser e existir é o que vai estar em questão nesta interação..

(19) 19. Outras perguntas surgem neste processo, cruzando os dois cenários. Será que a senhora M. ainda é a mesma pessoa? Que sujeitos são estes que se desenvolvem por relacionamentos virtuais? O que faz com que um blog, onde as pessoas expõem seus segredos publicamente sem serem vistas, como se procurassem por um padre ou um psicanalista, ser um dos sites mais visitados do momento? Os fatos levam a diversos questionamentos e discussões, que remetem a concepções teóricas diferentes, perante aos assuntos que envolvem as novas tecnologias e suas implicações sobre a sociedade e os sujeitos. Há posições teóricas que apontam para “perdas”, para uma sociedade constituída de representações por conta das novas tecnologias comunicacionais, que passam a veicular modos simulatórios, em que as novas tecnologias proporcionam um hiperdesenvolvimento de modelizações das subjetividades. Um outro caminho, mesmo aceitando este fluxo de representações modelizantes, é apontar suspeitas a partir das novas tecnologias de que haja possibilidades emancipatórias dos sujeitos. Partindo destas possibilidades emancipatórias, por uma heterogenização das subjetividades, depara-se com as relações que os novos meios comunicacionais passam a mediar, estando entre as relações com os outros e com o próprio “eu”. Uma tecnologia que Couchot (2003) demonstra possuir uma estrutura matemática, numérica, trabalha por automatismo, programado nas máquinas e nos softwares, e que colocam o sujeito a se redefinir. Na simulação causada pela máquina, os objetos, as imagens e os sujeitos se misturam, pois são tratados pelo computador numericamente, perdendo sua hierarquia do mundo não virtual. Os sujeitos frente às novas tecnologias de comunicação desenvolvem outras habilidades, conforme as simulações proporcionadas, trabalham em um esquema de representação de uma sociabilidade envolvida pelas imagens em suas interfaces, passando a constituir inúmeros agenciamentos, se perdendo e reconstruindo na máquina, na decifragem dos códigos, nas descobertas das possibilidades e se perdendo no outro, no outro mediado por objetos técnicos. Isto nos faz um encontro com que diz Mafesoli (2004), que aponta que as tecnologias trazem um “reencanto do mundo” que é próprio da sociedade contemporânea, que ele chama de pós - moderna. Para ele, neste momento o lugar faz o elo, e as relações são transpassadas pela imagem, um mundo “imaginal”, com uma rede de símbolos..

(20) 20. A perda do próprio corpo no corpo coletivo, seja metaforicamente seja stricto sensu, parece ser a característica da comunhão sensível ou afetiva que vem substituir a “sociedade” puramente utilitária. O simbólico é, nesse aspecto, o sobrepuja-mento do racional puro. (MAFFESOLI, 2004, p. 40). As máquinas não promovem só o novo, mas mantém uma estrutura hiperdesenvolvida dos sistemas sociais da modernidade. Para Guattari (2004) o funcionamento do processo de subjetivação nesta nova situação está cada vez mais dependente de sistemas maquínicos, veiculando “conteúdos representativos”. A sociedade é interfaceada e leva o sujeito a se conectar rizomaticamente, estabelecendo novas linhas de contatos múltiplos aos sistemas de representação, semióticas que são conectadas por novos agenciamentos de enunciação, que remetem ao sujeito ser capturado pelas máquinas técnicas e sociais, produzindo socialmente o desejo e constituindo subjetividades a serem consumidas. Guattari e Rolnik (2005) acrescentam que estas mutações das subjetividades funcionam “no próprio coração dos indivíduos, em sua maneira de perceber o mundo, de se articular com o tecido urbano, com os processos maquínicos do trabalho e com a ordem social suporte dessas forças produtivas” (GUATTARI e ROLNIK, 2005, p. 34). Para considerar as mutações das subjetividades, é necessário observar Couchot (2003), na sua demonstração de que a “simulação e a interatividade estão ligadas. Simulamos para interagir”. Isto afirma que os sujeitos são levados a criar novos sentidos, encontrar uma maneira de se relacionar por novos símbolos, com e pelas imagens interativas. Se o estar junto com o outro se alterar, modificando o modo de sentir, os sentidos são prolongados e conseqüentemente transformados, passa existir uma hibridação entre o sujeito e a máquina. A Sra. M. tem diálogos com outras pessoas através de um computador, ela não vê fisicamente o outro, ela se conecta ao outro. Ao se conectar ela dispara os dispositivos da máquina de comunicação para expressar objetivamente o que deseja, transformados em números e transmitidos por uma rede difusa entre telecomunicações e eletrônica, em um campo de experimentações dos seres por meio de uma comunicação numérica, uma sociabilidade constituída por fluxo de informações. Troca de sentidos, emoções, sensibilidade, idéias e sensações. É assim que se faz a sociedade mediada pelas novas tecnologias de comunicação. Conforme Lemos (2003) e Maffesoli (2004) vivemos num momento de tribalismo no social e que no cibersocial isto se da nas comunidades virtuais “(chats, muds e outras agregações eletrônicas) Em um mundo saturado de objetos técnicos será nessa forma.

(21) 21. técnica que a vida social vai impor o seu vitalismo e reestruturá-la...” (LEMOS, 2006, p4). No conjunto “o que importa é o compartilhamento das emoções em comum.” Foi dito até agora que a subjetividade se constitui no social, numa sociabilidade transpassada pela imagem, por um regime de signos e pelo compartilhamento de emoções, que estão sendo transformados pelas novas tecnologias. Em síntese comunicar significa troca de sentidos. As novas tecnologias de comunicação propõem novas trocas e novas existências, coloca o “sujeito a se redefinir”. (COUCHOT, 2003). É desta forma, que a citação abaixo possibilita contextualizar esta pesquisa: A ruptura da ordem linear sucessiva alimenta um novo tipo de fluxo, que conecta a estrutura reticular do mundo urbano com a do texto eletrônico e do hipertexto. Na assunção de tecnicidade midiática como dimensões estratégicas da cultura, nossa sociedade pode interagir com os novos campos de experiência em que hoje se processam as mudanças, desterritorialização/relocalizações das identidades, hibridações da ciência e da arte, dos escritos literários, audiovisuais e digitais, a reorganização dos saberes desde os fluxos e redes, pelos quais hoje se mobilizam não só a informação, mas também o trabalho e a criatividade, o intercâmbio e a aposta em comum de projetos políticos, de pesquisas científicas e experimentações estéticas. (MARTÍN-BARBERO, 2006, p. 76). Quando o sujeito transita pelas interfaces interativas rizomáticas, em que o virtual, pode assumir inúmeras dimensões, o que se abre ao sujeito, ao indivíduo, que também é constituído por multiplicidades de dimensões e de agenciamentos? Que possibilidades ele tem? Que territórios existenciais são possíveis? Será que as rupturas sociais pelas novas tecnologias, que promovem novos fluxos na dimensão das interfaces tecnológicas, que alteram o campo sensorial, sensitivo e perceptivo, não são capazes de estabelecer um espaço potencial de criação, resignificação, reposicionamento da vida, desterritorialização, novos agenciamentos, novos devires do sujeito? Enfim, quais as produções de subjetividades são possíveis pelas novas tecnologias de comunicação?.

(22) 22. As tecnologias de comunicação e a produção de novas subjetividades No início deste trabalho, sustentamos que há processos que vêm modificando a vida humana, proporcionada pelas novas tecnologias, que se encontram com a realidade em que Parente (2004) nos ajuda relacionar, através de duas vertentes: As mutações e rupturas tecnológicas devem ser avaliadas em funções de duas tendências: a tendência à homogeneização universalizante (territorialização) e a tendência à heterogeneização singularizante (desterritorialização) da subjetividade. (PARENTE, 2004 p. 15). Para compreender estas duas tendências que promove os percursos das subjetividades contemporâneas, é necessário neste contexto discutir brevemente a constituição do sujeito e o processo de subjetivação. O sujeito desde sua infância vai se sentindo como um ser no mundo, a partir do momento que vai se diferenciando dos outros e dos objetos. Para tanto, este sentir-se e situarse, envolve perceber a si e aos outros. Envolve uma incansável tentativa de se descobrir, de encontrar um campo que lhe é próprio e singular. Ruiz (2006) demonstra que os fluxos de informações que o ser humano vai recebendo e constituindo em sensações e percepções, vão ganhando significação, não estando mais no campo natural, mas simbólico. Os sujeitos buscam encontrar diferentes dimensões de confortos deste processo intenso de significações e conexões de signos com o mundo, buscam por moradas, uma identidade. Neste percurso as praticas do sujeito se depara com as “verdades” do mundo. (Ruiz, 2006). Enunciações que levam o sujeito a tentar objetivar a existência, “possuir um referencial identificável”.(GUATTARI e ROLNIK, 2005, p.80). A existência humana envolve fazer escolhas, feitas pelas identificações com certos objetos no mundo e com o outro. Opções que os sujeitos vão fazendo, demarcando sua existência, se tornando em experiências singulares, que os permite estabelecer território existencial. Não é possível fazer escolhas livremente, sem ser afetado pelo mundo, nos diversos fatores que vão fluindo sobre suas opções, ou pelas conseqüências das mesmas, mas, o mais importante nas escolhas, é o seu poder de concretizá-las, fazer o que se deseja..

(23) 23. O que vai produzir identidade no sujeito, se estrutura pelas referências que ele possui, os fluxos de informações enunciados, transmitidos pelos objetos, pelas instituições, pelas pessoas mais próximas, ou seja, pelo meio social, que irá estruturar sua maneira de ver o mundo. Na relação existencial do ser com o mundo, o outro é o que mais o afeta, sendo a mais importante referência e por isto se simula um “eu”, uma imagem para se relacionar, aparências do “eu” que possam dar conta da sustentação do sujeito na sociabilidade, para que possa ser aceito pelo outros, uma negociação para conviver. Aqui se forma um “falso self”, uma existência em que implica apresentar um “eu” concebido e recebido no social. “Existir é, antes de mais nada, apresentar a própria imagem para o Outro.” (KEHL, 2004, p.150). Esta é uma imagem que o sujeito imagina que o outro tenha dele. As imagens percebidas são conexões diretas com os modos representativos, que produzem modos de viver, identidades. “A imagem, para o ser humano, não é uma impressão natural do objeto no sujeito, ela se constitui numa representação significativa que o sujeito faz daquilo com que se relaciona” (RUIZ, 2006, p.37), ou seja, apresentar uma imagem para outro é utilizar uma imagem de si, uma representação percebida que é utilizada para se relacionar, uma apreensão da imagem de forma imagética. O relacionar-se com o outro, é o que vai constituir uma ética. Ética vem da palavra grega ethos, que inicialmente significa morada. O conceito de ética que esta sendo utilizado, é de uma ética como sendo... “um modo de se relacionar, uma maneira de se lidar com o outro”. (GUARESCHI apud SILVA, 2001, p. 81) “Ética é, antes de mais nada, uma ação, uma atitude, uma forma de encontrar-se com o mundo” (SILVA, 2001, p. 81). Assim, a ética é uma relação que da morada ao outro e a si próprio, em que as possibilidades de encontro são múltiplas. Diversas formas de se constituir um ethos da subjetividade. A sociabilidade, o estar junto com o outro, como já sabemos envolve comunicação, produz sentido da vida, da existência. Ao encontrar-se com o mundo, com o outro são produzidos sentidos individuais e coletivos que vão receber morada nos sujeitos, que implicam num entrelaçamento de afetos. Particularmente, Maturana e Zöller (2004) fazem uma exposição sobre a vida social que envolve essencialmente a emoção. Coloca-se nesta citação uma ressalva, para dizer que se utiliza neste trabalho à palavra afeto, ao invés do conceito de emoção. Esta citação complementa a discussão entre a questão do sujeito e a sociabilidade..

(24) 24. .... é a emoção que define a ação. É a emoção a partir da qual se faz ou se recebe de um certo fazer que o transforma numa ou noutra ação, ou que o qualifica como um comportamento dessa ou daquela classe.... existimos na linguagem, e que todo o ser e todos os afazeres humanos ocorrem, portanto no conversar – que é o resultado do entrelaçamento do emocionar com o linguajear. (MATURANA e ZÖLLER, 2004, p. 10). “O existir na linguagem” significa que o desejo como intensidade humana “nômade”, como amor, ódio, atração, alegria, ou seja, afetos. Esta intensidade encontra uma forma de se expressar e “é justamente esta intensidade que será captada pela mídia e investida de um certo significado ...a mídia consegue criar uma linguagem, onde o desejo se concretiza e acontece” (CZERMAK e SILVA, p.48 ) No mundo atual, o sistema capitalista impõe uma suposição de que os sujeitos podem realizar muitas escolhas. Mas será que podem mesmo? Ou poucos podem escolher, enquanto na verdade a maioria dos sujeitos ficam com uma imagem de realização, uma ilusão. Os sujeitos são levados a contemplar as imagens de realização do desejo, gozada pelo outro, como se tivesse o próprio sujeito realizando os seus desejos. Assim opera a televisão, a publicidade, o jornalismo, as mídias em geral (BUCCI e KEHL, 2004) e acrescentamos que de certa forma também operam as novas tecnologias de comunicações. Em “A Sociedade do Espetáculo”, Debord (1997) fala de uma alienação do sujeito, da dominação da sociedade pela da imagem, a dominação do capital. Os sujeitos não podem compreender, fazer leituras, pois não podem de fato entender suas escolhas: A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que resulta de sua própria atividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age, a exterioridade do espetáculo aparece no fato de seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que os representa por ele. É por isso que o espectador não se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está em toda parte. (DEBORD, 1997, p.24). Para categorizar o papel das imagens para os sujeitos, é necessário entender que a relação social é mediada pelas imagens, conforme categoriza Debord (1997). As imagens produzidas pela indústria cultural são produzidas em grande escala e dimensões, agenciada as semiotizações que operam na subjetivação. Portanto, o indivíduo como coloca Guattari e.

(25) 25. Rolnik (2005), é industrializado, serializado, torna-se objeto da indústria capitalista, em que na mesma linha afirma Kehl: O interessante dessa operação não é apenas o nivelamento do indivíduo enquanto consumidor, mas sua transformação em objeto da indústria, na outra ponta da linha que produz os bens que ele deve se satisfazer. (KEHL, 2004, p.51). Na atualidade há um sujeito do “espetáculo”, fragmentado, num vazio pelo rompimento de seus alicerces. Cada vez mais cercados de formas e imagens que apontam para ele dizendo o que ele é ou pode ser, isto é, criando territórios existenciais, demarcando, solidificando, engessando, dominando o corpo, moldando o indivíduo. O sujeito está sufocado não agüenta as tentativas de solidificação e se derrete, se perde, adoeci “em sua possibilidade de ser: ele vive hoje fragmentado, descentrado de si mesmo...” (SAFRA, 1999, p. 13). O sujeito contemporâneo vai percorrendo um forte deslocamento de si e não sustenta as muitas formatações do social, por mais rígidas que sejam as estruturas das subjetividades do ser, sempre há um conflito entre o nomadismo do desejo e os controles da maquínico social. As forças, as intensidades, as semiotizações, os fluxos de informações que vão se constituir no material de produção das subjetividades contemporâneas são demonstradas por Rolnik (1997) em duas tensões: Dois processos acontecem nas subjetividades hoje que correspondem a destinos opostos desta insistência da referência identitária em meio ao terremoto que transforma irreversivelmente a paisagem subjetiva: o enrijecimento de identidades locais e a ameaça de pulverização total de toda e qualquer identidade. (ROLNIK, 1997, p.3). Estes processos intensos são postos pelo mundo tecnológico, que tem como vertentes a territorialização, ou a desterritorialização das subjetividades. O maquínico que opera na territorialização percorre toda teia social, entre o sujeito e as máquinas, mesmo quando algo escapa das diversas formas de formatação dos corpos, dos sujeitos podendo se estabelecer em uma desterritorialização, os sistemas complexos de representação na teia social, estão aptos a capturar este escape e recolocá-lo no âmbito da cultura globalizada e nos moldes das subjetividades dominantes que bloqueiam os pontos de tensão e os pontos de fuga que se estabelecem. As novas figuras das subjetividades retomam o processo de se incluir na “cultura.

(26) 26. do espetáculo”, por que os sujeitos se acham sem saída e procuram evitar o fracasso em não realizar as glorificações do eu. Os autores Rolnik (1997) e Birman (2000) apontam em comum, que contra uma desilusão identidária, no vazio provocado na busca de acompanhar o mercado global, as pessoas experimentam o uso de variados tipos de ilusão de uma busca de referência, de uma identidade, “uma constante mestiçagem de forças delineia cartografia mutáveis e coloca em cheque seus habituais contornos.” (ROLNIK, 1997, p.1) Birman completa: “Os sujeitos que não conseguem se enquadrar na cultura narcisista, da alteridade, nesta modernidade estão excluídos desta sociedade, como “acontece com os panicadores e deprimidos” (BIRMAN, 2000, p. 169) Birman relata que na atualidade vivemos na propagação do individualismo e na “alteridade do eu”, temos uma sociedade voltada para o “eu da individualidade” A exibição se transforma no lema essencial da existência, sua razão de ser. Vive-se assim para a exibição, para a mise-em-scence sempre recomeçada no espaço social, para a exaltação do eu. Aqui se impõe novamente categórico da brilhantina eletrônica, que, como confete, encanta o espetáculo da sedução pelas imagens produzidas como requinte e esmero. (BIRMAN, 2000, p.168). Estas tensões são conseqüências das linhas desestabilizadoras da ordem social, são fluxos intensos que promovem as mudanças na sociedade contemporânea, despotencializa alguns veículos e potencializa outros meios, criando novos circulos de representações, novos agenciamentos mediados pelas novas tecnologias de comunicação, que vão estabelecendo reterritorilização das subjetividades. Foram-se os antigos alicerces, os valores e pilares tradicionais e agora as tecnologias assumem o lugar. O lugar até então restrito as instituições: família, igreja, escola, etc., produtoras das identificações, dos processos de subjetivação, são obrigadas agora a concorrer principalmente com as Multimídia. “Quem faz a ponte do estar – junto coletivo é a mídia, a televisão e o computador” (SOUSA, 2003, p.22) As novas tecnologias de comunicação se modificam das imagens das outras mídias. O eletrônico como coloca Couchot (2004), transforma os objetos em imagens numéricas, que não mais representam, mas operam por simulação. As imagens numéricas são interativas e de muitas possibilidades de transformação, é possível deslocar, distorcer, modificar tom e cores, cruzar imagens, e etc. Através de um mesmo aparelho as ações podem ser processadas pelas.

(27) 27. habilidades e interesses do usuário por meio de programas que dispõe. Podendo compartilhar sua criação ou reinvenção da imagem com os outros. Nestas novas tecnologias de comunicação propõem - se conexões entre sujeitos e máquinas e entre sujeitos. O compartilhar, a comunicação reside na fronteira da interação, a interface, que é uma superfície de acesso, passagem entre os mundos: real e o virtual. Onde estar com o outro está cada vez mais por via das novas tecnologias, circulando por elas os desejos e afetos. Com isso assumem um novo lugar, construindo o novo paradigma da sociedade, que Maffesoli (2004) chama de paradigma estético. Para ele a nova forma de estar junto social é pelo compartilhar emoções, num jogo lúdico e festivo que impregna a nova ambiência. Sendo esta ambiência tecnológica, a idéia de jogo lúdico encontra Flusser (2002), ao falar dos aparelhos técnicos: “Emancipam o homem do trabalho, liberando-o para o jogo.” Maffesoli fala deste conviver no social “onde vamos tocar, mais ou menos eufemisticamente, o outro com quem se constrói o mundo que vivo” (MAFFESOLI, 2004, p. 59). A linha deste raciocínio requer apresentação de um conceito, no qual será fundamental para o desenrolar da articulação teórica. O conceito de estética, melhor descrito por Safra (1999) diante da proposta deste trabalho: O termo estética foi utilizado pela primeira vez por Baumengarten (1714 – 1762). Tradicionalmente é um nome utilizado para referir-se à arte e ao belo. No entanto, a palavra estética designa a ciência do sentido, da sensação. Deriva do grego aisthanesthai que significa ‘perceber’; aisthesis que significa ‘percepção’; aisthetikos que significa ‘o que é capaz de percepção’. Utilizo o termo estético ... para abordar o fenômeno pelo qual o indivíduo cria uma forma imagética, sensorial, que veicula sensações de agrado, encanto, temor, horror, etc... Estas imagens, quando atualizadas pela presença de um outro significativo, permitem que a pessoa constitua os fundamentos ou aspectos de seu self, podendo então existir no mundo humano. (SAFRA, 1999, p. 20). No contemporâneo o sujeito demonstra carência do outro, usando da interatividade maquínica, tecnológica para compartilhar suas emoções, produzindo afetos e sentidos. Os sujeitos encontram um novo modo de se relacionar com o mundo, passando agora estar interfaceados pelas novas tecnologias estéticas, produtoras de múltiplas sensações e percepções. Toca-se o outro na fronteira, ou seja na “interestética”. As fronteiras ampliadas pelas tecnologias nos colocam a conviver essencialmente sensíveis, em um devir estético. Este conceito interestética é trazido por Arantes (2005), em seu trabalho que envolve estudos.

(28) 28. sobre arte na perspectiva da estética digital, no qual nos apropriamos e trazemos o conceito no uso geral das novas tecnologias de comunicação. Ela coloca que “o prefixo inter indica não somente uma visão de estética hibrida, que se situa aquém e além de uma posição que postula uma fronteira rígida entre as coisas, mas também a idéia de interface” (ARANTES, 2005 p.169). É desta forma que as máquinas proporcionam aos sujeitos um modo relacional consigo e com os outros, que através das simulações na interestética o coloca a estar frente a novas experimentações que abrem para descobertas e redescobertas; possibilidades de capturas e de fugas. O desafio lançado pelas novas tecnologias é antes de mais nada estético no sentido mais amplo...O sentimento estético é não apenas imediato, ou seja, sem conceito e finalidade, mas pura sensação, puro afeto, que acolhemos quando somos passíveis. Somos afetados por algo, esse algo nos afeta em nossa passibilidade... (PARENTE, 2004, p. 25). As máquinas alteram a percepção humana, pois não deixam de veicularem conteúdos representativos. Elas criam cada vez mais uma robotização da vida. O tempo e o espaço se relativizam, tornando-se simultaneidade e virtualidade. Tudo ao mesmo tempo agora, num mundo sem fronteiras. Os sujeitos passam a experimentar as possibilidades de si não imaginadas, mas estas possibilidades parecem ficar muito mais no campo sensitivo do que racional,“...a. unidimensionalidade. do. pensamento. é. incapaz. de. compreender. a. polidimensionalidade da vivência. (MAFFESOLI, 2004, p. 35) As tecnologias de comunicação possuem possibilidades de encontro e novos ethos da subjetivação. As subjetividades são rizomas, possuindo estrutura uma parte estratificada, como algo indissolúvel e linhas heterogêneas, linhas de multiplicidades que são capazes de conectar - se a qualquer outro rizoma. “Os sistemas em rizoma, ...podem derivar infinitamente, estabelecer conexões transversais sem que se possa centrá-los, ou cerca-los.” (GUATTARI e ROLNIK, 2005, p. 387 – 388) As multiplicidades são algo do campo dimensional, que a cada nova conexão muda de natureza. O que faz com que as subjetividades sejam mutantes, frente aos processos de engessamento de identidades. Como demonstra Sra. M. por uma nova relação com o mundo a partir da mediação das tecnologias de comunicação. Os modelos que ela tinha para sua vida foram se desfazendo, ela estabeleceu novos.

(29) 29. relacionamentos, novos modos de falar, de vestir de se interar com o mundo. As informações que ela usa para trocar com os outros não vêm mais da mãe, ou dos vizinhos, mas de suas interações com a internet. Os momentos de sua vida são compartilhadas na rede, posta fotos, recebe mensagens, visita sites a procura de informações. Sua relação com os outros, com os objetos e com a vida que se alterou. Nos cenários apresentados há uma exposição do “eu” na rede, uma experimentação da vida via rede, via tecnologias de comunicação. Um dos artigos fala de “uma cultura consumida” e no outro o fenômeno de expor segredos no virtual. O que leva a hipótese a ser levantada. O que vemos então é um sujeito interfaceado, fragmentado, transpassado, um ser em devir, uma busca de identidade, mas que não consegue atingir a imagem que busca, não se obtém a forma e o conteúdo esperado, parece que a vida fica entre uma redundância de imagens ou exacerbação delas, transformadas em números, em imagem virtual, na simulação. O sujeito é levado a simular no palco do espetáculo, mas está vazio de sentido, provocando os sintomas da contemporaneidade. Ele encontra-se diante as intensidades que circulam em amplitude global, que empurram o sujeito a um quase inescapável espetáculo da vida, da festa, do desejo transformado em mercadoria. Os desejos, os afetos, postulam num cenário de exaltação dos produtos da identidade, a encontrarem um contorno destas intensidades, que são fabricadas e consumidas. O corpo é afetado pelo numérico, “ele é chamado a mudar pouco a pouco de natureza e que carrega consigo nesta mutação o próprio sujeito” (COUCHOT, 2003, p. 285) O que parece restar para o sujeito é multiplicar os agenciamentos, conectar-se a um mundo de novas possibilidades, para que possa reposicionar - se no campo estético, na experimentação da vida com os outros, sendo possível fazer novas leituras, ganhar novas moradas para o desejo, se apropriando das novas tecnologias de comunicação e as subvertendo, enredando novos modos de ser, encontrando nas interfaces um espaço potencial para a experiência criativa, para reconectar a vida pelas novas conexões tecnológicas, criar linhas de encontro com a vida, novas conexões. É necessário uma reapropriação das novas máquinas, para uma resignificação, em que estão em jogo novos agenciamentos, que estarão baseados na emoção comum. Neste sentido acompanhamos Ferreira (2005) onde ela enfatiza “a criação de uma estética contemporânea, gestada com base na rede estabelecida por afetos, na possibilidade de confabular e no modo.

(30) 30. através do quais fluxos de desejos emergem, organizam e transformam nossa experiência....” (FERREIRA, 2005) Assim a estética produzida na interface interativa entre as novas tecnologias de comunicação e o sujeito, é capaz de estabelecer novos agenciamentos a produzirem novos modos de ser. Em que se encontram diversas possibilidades de subjetivação mutantes, que individualmente percorrem em uma variação dimensional, que vai da modelagem das subjetividades, as fragmentações, o vazio, um corpo tensionado e coaptado pelo maquineismo capitalista, se esvaziando de sentido, à um outro pólo em minoria, mas potente em multiplicidades e agenciamentos, que se dá em sujeitos mutantes por uma desterritorilização existencial, com um reposicionamento pelo encontro de subjetividades, capazes de compartilhar novas experiências e capacitar os sujeitos a fazerem suas próprias leituras, para um existir singular, uma nova postura ética..

(31) 31. A ética-estética na produção de novos sentidos para a vida. “Todos os fenômenos importantes da atualidade envolvem dimensões do desejo e da subjetividade.” (GUATTARI e ROLNIK, 2005, p.36). Aos poucos as tecnologias preenchem cada vez mais a vida dos sujeitos. As pessoas não acostumadas, vão sendo obrigadas a conviver com elas, seja no trabalho, na escola, no entretenimento, ou em qualquer parte que ela vai se aproximando e transformando sujeitos em “usuários”. Acostumar-se significa a criação de uma nova cultura. Aculturar ao novo na sociedade capitalista globalizada, está sempre remetida a uma questão da construção de valores, articulação de sentidos que implicam nas dimensões do desejo e da subjetividade. Agora é a maquina que irá ficar sob o controle da subjetividade, não de uma subjetividade humana reterritorializada, mas de uma subjetividade maquínica de um novo gênero. (GUATTARI, 2004, p.186) Os usuários que Flusser (2002) chamou de funcionários, usam as tecnologias que estão dispostas sem conhecer suas intenções. Ele afirma que os objetos técnicos são criados pelos homens e veiculam informações, valores e idéias. Toda a teia social são linhas lógicas que conectam diretamente as intenções programadas. Construindo uma cultura por meio das tecnologias. Nos aparelho técnicos, as máquinas funcionam com os softwares, programas com suas regras criadas para um determinado fim, em que a ação do usuário já esta planejada matematicamente pelo programa. O usuário escolhe diante das possibilidades programadas. O que nos coloca em um dilema, o da sociedade programada, que confronta o problema apresentado. Em síntese, o que esta sociedade programada implica nas subjetividades? Quais seriam estas subjetividades? O termo “quais” é utilizado, pois se a sociedade é programada, tem resultados concretos. As possibilidades se encontram nos fenômenos com que se deparam na atualidade, ilustrados nas experiências de Sra. M. e nos dois artigos de jornais para propor esta questão..

(32) 32. Os programas produzem imagens técnicas, tais imagens produzidas pelas novas tecnologias de comunicação são como algo mágico, mudam a natureza social e individual. Encanta o sujeito.“A nova magia não visa modificar o mundo lá fora, como o faz a préhistória, mas os nossos conceitos em relação ao mundo.” (FLUSSER, 2002, p.16). A magia leva ao encantamento diante das interfaces. As interfaces tecnológicas se encontram em uma magia que coloca o sujeito entre a representação e a simulação. Suspendem-se a noção de espaço e tempo, norteadores sociais para o sujeito, colocando-o sempre a retornar ao programa. Por que as tecnologias de comunicação rompem com as noções de tempo e espaço, os transformando em tempo real e espaço virtual global. O que fica para os sujeitos são as imagens carregando concepções de mundo. Estas novas tecnologias de comunicação, que hoje fazem à mediação na troca de informações e sentidos, podem ser entendidas perante o alerta colocado por Lemos: “Para compreendermos os impactos das novas tecnologias na cultura e na comunicação contemporâneas devemos dirigir nosso olhar para a sociedade enquanto um processo complexo e sempre inacabado entre formas e conteúdos”. (LEMOS, 2006, p.1). O que esta sendo discutido neste texto é que há novos cenários em construção. Não sendo possível negar as tecnologias, e escapar de seus controles e automatismos que criaram na vida dos homens. Seria romper com a realidade, que é sentida, percebida e compartilhada com os outros. Para alguns autores como Baudrillard, a sociedade opera cada vez mais por simulacros, cópias de um original, o falso, mas para Couchot (2006) este estado de uma vida em simulacros não vinga. Não estamos na era do simulacro, em que não existe mais o real. Ele também distingue entre simulacro e simulação, colocando que a simulação é: ...em seu principio essencial, não busca nem o verdadeiro nem o falso: ela estabelece modelos capazes de reproduzir virtualmente o real e de dar conta de seu funcionamento, mas sem explicá-lo. A simulação simula, mas não explica. Embora o modelo digital da representação esteja cada vez mais onipresente, nós não vivemos na era dos simulacros, mas sim na era da simulação. (COUCHOT apud FIOCHI, 2006). A realidade possui uma forte tendência em trabalhar no sentido da representação, mas também há a possibilidade do simular, criando novos agenciamentos que escapem aos modelos de representação no social, no qual os sujeitos podem encontrar no virtual pontos de.

(33) 33. fuga e aprender a jogar “conscientemente” percorrendo uma existência escolhida e compreendida. O virtual não se opõe ao real, mas somente ao atual. O virtual possui uma plena realidade enquanto virtual. Do virtual, é preciso dizer exatamente o que Proust dizia dos estados de ressonância: “Reais sem serem atuais, ideais sem serem abstratos”, e simbólicos sem serem fictícios. O virtual deve ser entendido como uma estrita parte do objeto real - como se o objeto tivesse uma de suas partes no virtual e aí mergulhasse como numa dimensão objetiva. (DELEUZE apud BRASIL, p.2). O virtual é uma parte da sociedade, num existir do sujeito mediado pelas novas tecnologias, no que o “...homem e a máquina são obrigados a dialogar. Produzir, coproduzir, trocar, partilhar imagens, sons, palavras, gestos, sensações, idéias, só é realizável se nos mantivemos no cruzamento do real e do virtual.” (Couchot, 2003 p. 311). Leva o sujeito a se inserir para o interior do aparelho, onde o sujeito passa a ser “funcionário”, mas deixa de executar trabalho, na tentativa de decifrá-lo e entendê-lo com a jorrada de informações programadas, passa a brincar com o aparelho. O que ocorre nas interfaces interativas é esta possibilidade à simulação em conjunto, participando em construções no virtual, em encontros entre o sujeito com outras subjetividades. Couchot demonstra isto pela arte, ao falar das artes tecnológicas, na relação entre o autor da obra e o espectador, que cabem nesta explanação, ao trazer para a relação entre os sujeitos e as obras no virtual, sejam elas artísticas ou não. Desta forma, a interatividade supõe um jogo de simulação. O jogo remete ao brincar, que remete ao lúdico, que apontam para o pensamento de Winnicott, para entender a interface entre o real e o virtual, como um espaço em potencial. O espaço potencial é algo relativamente do sujeito, uma estrutura infra-pessoal, porém o que é do sujeito passa pelo que lhe é externo, então este conceito pode ser transferido para interface, olhando para ela como um espaço potencial. Neste, o lúdico tem um papel fundamental, e pode ser entendido como este jogo de simulações, artifícios que podem ser utilizados para acessar o desconhecido, ou até podemos dizer de outras dimensões. “Como Winnicott ressalta, no espaço potencial a experiência é criativa, criadora, construtora e não tem qualquer relação com a falta e com desejos insatisfeitos.” (JÚNIOR, 2005, p. 7). Ao falar em falta, ele se refere à idéia psicanalista do desejo como falta de algo, de um objeto. Ao contrário desta idéia, expressa-se.

(34) 34. a opinião de Guattari e Deleuze (2004) que colocam o desejo como intensidades em movimento. O desejo na interface tecnológica encontra um espaço em potencial, em que o sujeito pode simular, algo como um canal de expressão das intensidades, dos afetos, para a experimentação, para “a possibilidade do sujeito de compor livremente com a tecnologia”. (COUCHOT, 2003, p. 285) Segundo Safra (1999, p.23) o “homem só compreende quando cria”, Que ele o cria percebe, se distancia do objeto e depois o introjeta, o concebendo simbolicamente, este criar num espaço potencial, numa interface, se dá como já vimos por uma troca essencialmente estéticas, de experiências em que o conhecimento vai ser a produção de sentido pelo contato estabelecido com os fluxos informacionais, com objetos e com o outro. Os objetos em conjunção com a experiência sensível, são fornecidos pelas técnicas. (Couchot, 2003), ou seja, pelo tecnológico como potencial estético As tecnologias interferem demasiadamente nas sensibilidades dos sujeitos, que passam a conhecer o mundo sensivelmente, guiados por uma “razão sensível” (MAFFESOLI, 2004) por que nas tecnologias estão instaladas programas fortemente estéticos, que alteram seu campo perceptivo. Segundo Benjamim: O que parece essencial para Benjamim não é o fato de o equipamento tecnológico aumentar a capacidade da visão humana, ampliando seus sentidos e corrigindo seu olhar, mas que, pela mediação dos dispositivos tecnológicos, o ser humano pode acessar um novo real, invisível a olho nu, modificando assim seu campo perceptivo. (BENJAMIM apud ARANTES, 2005, p 161). O produzir sentidos, propósitos carregado de um regime de signos, que nos unem e nos repelem, transpassa pelas intensidades, desejos que expressam de algum modo uma objetividade daquilo que é subjetivo. O subjetivo se reflete em nossas escolhas, que constituem o nosso campo existencial. A experiência com o mundo e consigo mesmo, já não é tão fácil, é muito forte, fere os sentidos, a percepção, e a consciência, pois acessam o até então imaginável. Buscam-se controlar os fluxos da vida, dos sistemas de poder que a controlam, porém a maioria fracassa neste processo, A vida do sujeito escapa de seus domínios, surge à sensação do enlouquecimento. Passando a acreditar no que quer, ou é sucumbido a receber.

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