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O sigilo profissional dos assistentes sociais: um estudo dos códigos de ética e da concepção de profissionais

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Academic year: 2021

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UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PURO - PÓLO UNIVERSITÁRIO DE RIO DAS OSTRAS

RIR - DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

O SIGILO PROFISSIONAL DOS

ASSISTENTES SOCIAIS:

Um estudo dos Códigos de Ética e da concepção de

profissionais

Rio das Ostras 2011 2011

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CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

RAYANNE DANIELLE COSTA CARDOSO DE OLIVEIRA

O SIGILO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS:

Um estudo dos Códigos de Ética e da concepção de profissionais

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PÓLO UNIVERSITÁRIO DE RIO DAS OSTRAS

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

RAYANNE DANIELLE COSTA CARDOSO DE OLIVEIRA

O SIGILO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS:

Um estudo dos Códigos de Ética e da concepção de profissionais

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense – Polo Universitário de Rio das Ostras.

Orientadora: Profª. Mariana Pfeifer

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RAYANNE DANIELLE COSTA CARDOSO DE OLIVEIRA

O SIGILO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS:

Um estudo dos Códigos de Ética e da concepção de profissionais

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense, Polo

Universitário de Rio das Ostras.

Monografia aprovada em ____/____/____

Banca Examinadora

____________________________________ Profª. Msc. Mariana Pfeifer

Orientadora

Universidade Federal Fluminense

____________________________________ Profª Dra. Cristina Maria Brites

Examinadora

Universidade Federal Fluminense

_____________________________________ Profª. Msc. Lúcia Maria da Silva Soares

Examinadora

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Dedico este trabalho ao meu Deus e Senhor, que me deu forças pra eu que chegasse até aqui, e que bondosamente conduziu meus passos não me deixando desistir.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da minha vida, por toda a presença que tem no meu viver, sobretudo por te me concedido a graça de cursar uma Universidade Federal.

Aos meus pais, Sr. Marcelo e Sra. Elizangela, pela educação que me deram, pela dignidade da formação do meu caráter e pelo amor que sempre me concederam. A minha mãe que sempre acreditou no meu potencial, e ao meu pai, pelo auxilio na escolha da profissão, pela ajuda material com a impressão dos trabalhos e pelo apoio de sempre. Aos dois todo meu amor!Obrigada por tudo.

Ao meu amor e companheiro Jodemilson, pelo seu amor, carinho, compreensão, por todo incentivo e força para que eu concluísse a faculdade. Eu te amo muito! Obrigada!

Ao meu irmão que gentilmente abaixou o som todas as vezes que eu precisava estudar, e pelas suas críticas que contribuíram de forma construtiva no meu pensamento e postura enquanto profissional.

Aos professores que contribuíram transmitindo o conhecimento necessário para minha formação acadêmica.

A minha orientadora Mariana Pfeifer, que surpreendeu todas as minhas expectativas, e que contribuiu de forma muito positiva, não me deixando desistir e me dando ânimo para que eu concluísse mais essa etapa na minha vida. Obrigada Mariana!

A todos os meus amigos e amigas, as que fiz ao longo da vida acadêmica pela partilha de todos os momentos da minha formação, e a todos os amigos que sempre estiveram ao meu lado. Raiana, Caroline, Bianca, Fernanda, amigas que estão sempre comigo, obrigada por tudo, minhas irmãs! Obrigada Raiana pela paciência de ouvir, que a culpa é do sistema e que esse sistema tem que acabar.

A todos que fazem parte da minha vida, e que de alguma forma contribuíram para a conclusão dessa jornada.

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“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”. Darcy Ribeiro

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir e analisar o sigilo profissional do Assistente Social brasileiro nos diferentes contextos históricos, teórico-metodológicos, ético-políticos e normativo. Para tal se faz necessário, conhecer o contexto histórico, teórico-metodológico e ético-político no qual se inserem os Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro; analisar as concepções de Sigilo Profissional nos Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro dos anos de 1947, 1965, 1975, 1986 e 1993 e compreender o entendimento que os Assistentes Sociais têm acerca do Sigilo Profissional. Neste processo, será mostrado o contexto que se deu o surgimento do Serviço Social no Brasil, e a primeira formulação ética de normatização no ano de 1947, logo após a atuação do Serviço Social entre os anos de 1950 e 1970 e os Códigos de Ética de 1965 e 1975, a ditadura militar, o movimento de reconceituação e os Códigos de Ética de 1986 e 1993. A fim de analisar a concepção do sigilo do Serviço Social brasileiro, há a criação de alguns indicadores e critérios para esta análise. E por fim, com o objetivo de dar um enfoque mais específico, que se aproxime mais da realidade, foi realizada uma entrevista com três profissionais de Serviço Social, sendo duas professoras do Curso de Serviço Social e uma Agente Fiscal do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro, para levantar as concepções que estas têm acerca do que é o sigilo profissional, o que se entende por quebra do sigilo profissional, e outras questões que determinam a abordagem do sigilo profissional no âmbito do exercício da profissão.

Palavras-Chave: Sigilo profissional, Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro, exercício

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LISTA DE SIGLAS

ABAS - Associação Brasileira de Assistentes Sociais

ABESS- Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social

ABEPSS- Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

CFAS- Conselho Federal de Assistentes Sociais

CFESS- Conselho Federal de Serviço Social

CRAS- Conselho Regional de Assistentes Sociais

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Terminologia utilizada nos Códigos de Ética relativos ao Sigilo ... 27

Tabela 2 – Sigilo enquanto direito ou dever do Assistente Social ... 32

Tabela 3 – Forma como aparece a noção de dever e de direito ao Sigilo ... 33

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1 OS CÓDIGOS DE ÉTICA DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: UM RESGATE HISTÓRICO E TEÓRICO-METODOLÓGICO ... 13

1.1 Surgimento do Serviço Social no Brasil e a primeira formulação ética de 1947 ... 13

1.2 Atuação do Serviço Social entre 1950 e 1970 e os Códigos de Ética de 1965 e 1975 ... 17

1.3 Ditadura Militar, Movimento de Reconceituação e os Códigos de Ética de 1986 e de 1993 ... 22

2 O SIGILO PROFISSIONAL NOS CÓDIGOS DE ÉTICA DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ... 26

2.1 Terminologia utilizada: Sigilo e segredo ... 27

2.2 Informações consideradas Sigilosas ... 28

2.3 Possibilidades de quebra do Sigilo Profissional ... 29

2.4 Sigilo Profissional diante de depoimento judicial ou policial ... 31

2.5 Sigilo Profissional enquanto direito e/ou dever do Assistente Social ... 32

2.6 Terminologia utilizada com relação ao usuário ... 35

2.7 A questão da interdisciplinaridade ... 36

2.8 Resoluções que abordam temas relativos ao Sigilo Profissional ... 37

3 A CONCEPÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS ACERCA DO SIGILO ... 40

3.1 Metodologia utilizada para realização das entrevistas ... 40

3.2 Resultados das Entrevistas ... 41

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 51

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INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso está inserido como exigência parcial de obtenção do título de Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense.

A atuação como estagiária de Serviço Social do Programa DST/AIDS do município de Macaé/RJ, me fez debruçar em uma realidade de usuários soropositivos marcados pelo estigma de preconceito que sofrem pela sociedade. Sendo assim, todos os funcionários do Programa têm o dever ético do Sigilo com relação aos pacientes da Instituição. Ao me deparar com esta realidade, no decorrer de todo o Estágio a questão do Sigilo Profissional no âmbito da atuação do Serviço Social sempre foi algo que me questionou e foi objeto de reflexão antes mesmo de entrar no campo de Estágio, sobretudo, nas aulas da Disciplina de Ética e Serviço Social e Estágio Supervisionado em Serviço Social. Desta forma, o tema deste trabalho é o Sigilo Profissional, a forma como esse aspecto ético foi abordado ao longo da trajetória do Serviço Social, e os desafios atuais de resguardá-lo em face das condições cada vez mais precárias de trabalho das quais se deparam os Assistentes Sociais.

A relevância acadêmica do tema deve-se ao fato da escassez de material sobre o assunto, apesar de existir produção acadêmica acerca de reflexões e questionamentos postos ao profissional de Serviço Social nos dias atuais, principalmente no que diz respeito às precárias condições de trabalho que consequentemente rebate na qualidade do atendimento prestado ao usuário. O Sigilo sempre foi abordado nos códigos de ética profissional com certa relevância. No cotidiano de trabalho os Assistentes Sociais sempre se deparam com situações em que devem guardar Sigilo ou situações de precariedade das condições de trabalho onde o Sigilo é ameaçado, como salas inadequadas, inexistência de arquivo com chave para guardar o material, entre outros, mesmo com a regulamentação das resoluções expedidas pelo CFESS e as diretrizes contidas no Código de Ética profissional de 1993, conforme a discussão proposta por Forti (2009): “Contudo, embora identifiquemos a importância dos Princípios e /ou referências contidos nesse documento, sabemos que esses só ganham significado, só podem ser objetivados, no âmbito das situações concretas, ou seja, cotidiano do exercício profissional” (FORTI, 2009, p.122).

O tema do Sigilo possui pouca bibliografia a respeito, pois foi realizada pesquisa bibliográfica em revistas e livros de produção teórica sobre o Serviço Social e não foi encontrado nenhum material que discutisse diretamente e em profundidade o Sigilo

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profissional no âmbito do Serviço Social, sendo assim, o estudo dos Códigos de Ética profissional do Serviço Social brasileiro serviram como instrumento de análise para a realização desse trabalho.

Neste sentido, o objetivo geral desse trabalho é discutir e analisar o Sigilo profissional do Assistente Social brasileiro nos diferentes contextos históricos, teórico-metodológicos, ético-políticos e normativo. Este se desdobra nos seguintes objetivos específicos: conhecer o contexto histórico, teórico-metodológico e ético-político no qual se inserem os Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro; analisar as concepções de Sigilo Profissional nos Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro dos anos de 1947, 1965, 1975, 1986 e 1993; e compreender o entendimento que os Assistentes Sociais têm acerca do Sigilo Profissional.

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a análise documental, com o objetivo de identificar as concepções do Sigilo nos Códigos de Ética do Assistente Social, tais como a terminologia utilizada com relação ao Sigilo, informações consideradas Sigilosas, possibilidades de quebra do Sigilo profissional, Sigilo profissional diante de depoimento judicial ou policial, Sigilo profissional enquanto direito e/ou dever do Assistente Social, terminologia utilizada com relação ao usuário e a questão da interdisciplinaridade. A análise foi realizada estritamente sobre os artigos que tratam ou trazem elementos acerca do Sigilo profissional. E ainda, foram realizadas entrevistas com dois professores do Curso de Serviço Social e uma Agente Fiscal do CRESS-RJ para identificar sua compreensão acerca do Sigilo Profissional.

No primeiro capítulo, é feito um resgate histórico e teórico-metodológico do surgimento do Serviço Social no Brasil e a primeira formulação ética de 1947, a atuação do Serviço Social entre os anos de 1950 e 1970 e os Códigos de Ética de 1965 e 1975, e a ditadura militar, o movimento de reconceituação e os Códigos de Ética de 1986 e de 1993. No segundo capítulo é feita uma análise comparativa dos Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro, segundo os indicadores de análise supramencionados. E no terceiro e último capítulo, a concepção de Sigilo dos Assistentes Sociais conforme entrevistas realizadas, apresentando a metodologia utilizada para a realização das entrevistas e a análise das mesmas.

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1 OS CÓDIGOS DE ÉTICA DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: UM RESGATE HISTÓRICO E TEÓRICO-METODOLÓGICO

Neste primeiro capítulo, me proponho a discorrer sobre o contexto histórico e teórico-metodológicos vivenciados pela profissão e relacionados aos Códigos de Ética do Serviço Social em qual contexto estes se inserem, uma vez que também refletem a conjuntura histórica do país na época. Para isso, se faz necessário contextualizar o surgimento do Serviço Social no Brasil de acordo com a conjuntura social e política naquele momento histórico.

1.1 Surgimento do Serviço Social no Brasil e a primeira formulação ética de 1947

Segundo Iamamoto (1981), o Serviço Social brasileiro surge em um contexto no qual a expansão do capitalismo e a constituição do mercado estão em grande desenvolvimento nos centros urbanos. Ou seja, passa a necessitar cada vez mais de uma mercadoria vital para o seu funcionamento: a força de trabalho. Sendo assim, o operário tem na venda de sua força de trabalho o meio que garantirá a sua sobrevivência. A exploração da força de trabalho do operário torna-se abusiva, consubstanciando grande precariedade nas condições de vida e trabalho da população trabalhadora do país, desta forma o operariado trava uma luta contra a classe burguesa, para a garantia e ampliação de suas condições de existência. Ao passo que a luta do operariado se desenvolve, esta passa a ser para a burguesia “uma ameaça a seus mais sagrados valores, a moral, a religião e a ordem pública” (IAMAMOTO, CARVALHO, 1981, p.126). Então, a partir deste momento a compra e venda da força de trabalho passa a ser, progressivamente, alvo de uma regulamentação jurídico-política feita pelo Estado.

Essa regulamentação tem nas leis trabalhistas e sociais sua parte fundamental, sendo colocadas a partir do momento em que as condições insalubres de vida e de trabalho do operariado são desveladas para sociedade brasileira através das lutas sociais articuladas em torno dos sindicatos e partidos operários. Assim sendo, diversas classes e frações de classes dominantes, o Estado e a Igreja começam a se posicionar em face da “questão social”, e com

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o desdobramento desta e a entrada do operariado no cenário político, há a necessidade de seu reconhecimento pelo Estado e de implementação de políticas sociais que considerem seus interesses. Além disso, a “questão social” passa a constituir-se fundamentalmente na contradição entre burguesia e proletariado, ou seja, como parte intrínseca da sociedade capitalista. Netto (2001), à luz do pensamento de Marx pontua que:

O desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a “questão social”- diferentes estágios capitalistas produzem diferentes manifestações da “questão social”; esta não é uma sequela adjetiva ou transitória do regime do capital: sua existência e suas manifestações são indissociáveis da dinâmica específica do capital tornado potência social dominante. A “questão social” é constitutiva do desenvolvimento do capitalismo (NETTO, 2001, p.45).

O surgimento do Serviço Social se dá nesse contexto histórico, através da iniciativa de grupos que se posicionam, sobretudo, vinculados à Igreja Católica. Sua legitimação enquanto profissão está sustentada em grupos restritos da classe dominante, e sua especificidade está na ausência de uma demanda que emane dos grupos aos quais se destina essencialmente.

Além disto, sustentam Iamamoto e Carvalho (1981) que o surgimento do Serviço Social se dá em um momento de transformações vivenciadas no país. A crise internacional de 1929 e o movimento de outubro de 1930 geram um processo de reorganização no âmbito estatal e econômico, acelerando a alocação da atividade central de agroexportação da acumulação capitalista para outras de caráter interno. Em contrapartida, no decorrer das décadas de 1920 e 1930, a pressão feita pelo movimento operário permanecerá como pedra de toque através da qual as frações de classes sociais irão desenvolver políticas distintas, para o enfretamento das questões levantadas pelo proletariado. Tais políticas delimitarão os limites em que atuará o Serviço Social: a repressão e a caridade. Repressão, pois o Estado incapaz de implementar políticas sociais que atendessem as demandas emanadas do proletariado, tratará violentamente com a repressão policial suas reivindicações, como forma de manter a “ordem social” necessária para o desenvolvimento do capitalismo. E caridade, pois contará com práticas assistencialistas, como caixas de auxílio e assistência mútua, incentivadas pelo empresariado e, sobretudo, pela Igreja, como forma de atenuar as tensões sociais.

Assim, segundo Iamamoto e Carvalho (1981) é no âmbito da Igreja com o movimento católico leigo, que surge o Serviço Social como departamento especializado da Ação Social, tendo como base a doutrina social da Igreja. Através do movimento laico católico as iniciativas sociais se multiplicarão, no que diz respeito ao trato da “questão social”, no qual a Igreja tentará atenuar as sequelas deixadas pelo desenvolvimento do capitalismo. Na década de 1930, a Igreja se articula com o Estado para resguardar a “ordem social” fundamentando

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esta articulação com ações universitárias católicas, Instituições de Estudos superiores, Sindicalismo católico, entre outros.

Neste contexto surge o Centro de Estudo e Ação Social de São Paulo (CEAS), que pode ser considerado a primeira manifestação do Serviço Social no Brasil. A criação dos CEAS foi uma espécie de condensação das necessidades da ação católica em responder a filantropia das classes dominantes e seu objetivo central era o de “promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais” (CEAS Apud IAMAMOTO, 1981, p.169)

Havia também um sentido nessa ação social, o de intervir diretamente no proletariado, visando afastá-lo de influências subversivas. O CEAS era formado por moças católicas, pois viam na mulher a vocação para a caridade e que a mulher seria capaz de preservar a ordem moral e social em sua intervenção. Segundo Iamamoto e Carvalho:

As atividades do CEAS se orientarão para a formação técnica especializada de quadros para a ação social e a difusão da doutrina social da Igreja. Ao assumir essa orientação, passa a atuar como dinamizador do apostolado laico através da organização de associações para as moças católicas e para a intervenção direta junto ao proletariado (IAMAMOTO, CARVALHO, 1981, p.173).

Assim, no ano de 1936 a partir das ações desenvolvidas pelo CEAS e o apoio da hierarquia católica que será fundada a primeira Escola de Serviço Social de São Paulo. O Serviço Social em seu surgimento relaciona-se profundamente com a ação social e política da Igreja, que naquele momento lutava para assumir novamente sua influência e prestígio na sociedade brasileira. Em sua ideologia, está envolto de uma doutrina social totalitária, em um movimento de recristianização da sociedade através de um capitalismo modificado que enquadrasse as classes subalternas afastando-as do pensamento socialista, introduzindo o comunitarismo ético cristão, tendo como base o neotomismo, segundo Brites e Sales (2000), pode assim ser definido como a base filosófica da doutrina da Igreja Católica que surge no final do século XIX. Consiste em retomar as idéias mais fundamentais de São Tomás de Aquino, somado a uma visão conservadora de mundo. Tem forte influência européia no que diz respeito a algumas características assumidas pelos pioneiros do Serviço Social brasileiro como o autoritarismo, paternalismo, doutrinarismo e ausência de base técnica que irá marcar as primeiras ações desenvolvidas pelos núcleos formados em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde nesta última, a escola é criada em 1937.

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reúnem a partir de seu engajamento no âmbito católico. Seu modo de ver o mundo está diretamente relacionado com a ideologia da classe dominante, o que reflete não só sua inserção aos princípios católicos, mas também de sua origem de classe, no viés conservador, de estabelecimento e manutenção da “ordem” para o desenvolvimento do sistema capitalista. A atuação do Serviço Social é bem delimitada, tem por objetivo ajustar os indivíduos ao considerado como normal, remediando tanto suas deficiências como as da coletividade, "quando se dirige ao ajustamento de um determinado quadro, ele o faz para sanar deficiências acidentais, decorrentes de certas circunstâncias, e não de um defeito estrutural" (IAMAMOTO, CARVALHO, 1981, p. 202-203). Ao mesmo tempo em que sua atuação concorre para garantir ao trabalhador e sua família um nível moral, físico e econômico considerados “normal” de vida, deveria combater o relaxamento no trabalho, zelar pela moralidade e adaptar o trabalhador a sua função no trabalho, como pontua muito bem Iamamoto:

A profissão não se caracteriza apenas como nova forma de exercer a caridade, mas como forma de intervenção ideológica na vida da classe trabalhadora, com base na atividade assistencial; seus efeitos são essencialmente políticos: o enquadramento dos trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a mútua colaboração entre capital e trabalho (IAMAMOTO, 1992, p.20).

No que diz respeito à produção teórica do Serviço Social e a ética profissional, esta é reflexo do humanismo cristão, qualidade necessária aos que pretendiam se inserir na profissão de Serviço Social. O Assistente Social deveria ser uma pessoa íntegra moralmente, com capacidade de devotamento e amor ao próximo, simplicidade, sociabilidade, calma, simpatia, e com poder de convencimento.

Tinha como dimensão ético-política da profissão, a legitimação de uma suposta face humanitária do Estado e do empresariado. Como princípios e diretrizes ético-morais, o respeito à lei de Deus, o bem comum, a dignidade da pessoa humana, a caridade cristã, e compreendia que o Serviço Social lida com pessoas humanas desajustadas. Sendo assim,

Uma primeira formulação ética do Serviço Social Brasileiro data de 1947 e consistiu numa resposta à exigência de configuração de uma axiologia, isto é, da explicitação de um corpo de valores com os quais os profissionais se comprometiam, para fins da regulamentação do exercício profissional (BRITES, SALES, 2000, p.27).

Em sua elaboração e texto, o Código de Ética de 1947, é reflexo da ideologia que sustentava a atuação do Serviço Social na época, como por exemplo, na Secção I, dos Deveres Fundamentais, o Artigo I indica: “Cumprir os compromissos assumidos, respeitando a lei de

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Deus, os direitos naturais do homem, inspirando-se, sempre em todos seus atos profissionais, no bem comum e nos dispositivos da lei, tendo em mente o juramento prestado diante do testemunho de Deus”. E também na Secção II, dos Deveres para com o beneficiário do Serviço Social, o Artigo 1 indica: “Respeitar no beneficiário do Serviço Social a dignidade da pessoa humana, inspirando-se na caridade cristã” (ABAS, 1947, p.1).

1.2 Atuação do Serviço Social entre 1950 e 1970 e os Códigos de Ética de 1965 e 1975

Segundo Iamamoto e Carvalho (1981), no decorrer da década de 1940 até a metade da década de 1950, a economia brasileira mostra taxas de crescimento graças a muitos fatores, sobretudo, a melhoria nas relações de intercâmbio com o exterior, que é seguido de medidas de política econômica que objetivam o desenvolvimento da industrialização. Apesar das taxas de crescimento positivas, algumas consequências negativas advêm desse processo, como, o crescimento da dívida externa, percebida a partir do ano de 1955, no qual há uma constante luta por definição de opções que objetivavam criar condições favoráveis para a expansão econômica, no interior do chamado “capitalismo dependente”. Todos esses elementos fazem parte das condições concretas que geram a ideologia desenvolvimentista e marcam suas principais vertentes.

Conforme Iamamoto e Carvalho (1981), com a eleição de Juscelino Kubitschek a presidência da República, a ideologia desenvolvimentista se tornará dominante, e será base de uma nova estratégia que aglutina o pensamento da política getulista e a abertura para a internacionalização da economia do país. O desenvolvimentismo tem como aspecto mais importante a proposta de um crescimento econômico continuado, acelerado e auto-sustentado, com vistas a superar o período de atraso e subdesenvolvimento. Assim, a ideologia desenvolvimentista pode ser definida pela busca da expansão econômica nacional, no sentido de prosperidade, grandeza material, riqueza, em um ambiente de paz e ordem social, no qual todo esforço de elaboração de política econômica e trabalho são feitos para eliminar o pauperismo, a miséria, elevando o nível de vida população, como consequência do crescimento econômico. Sendo assim, como já mencionado, o problema a ser combatido era o atraso do desenvolvimento econômico brasileiro, o que é explicitado por sua posição

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secundária dentro do sistema capitalista, que pode ser entendido pelo fato da predominância do modelo agroexportador, ou o fraco desenvolvimento industrial do país. Neste sentido, a meta principal é investir na industrialização de base do país, de forma maciça, que garantirá a contínua expansão. Para alcançar tal meta, não se faz necessário questionar a presença do capital estrangeiro, pelo contrário, o apoio internacional é importante para o processo de expansão da economia. O objetivo dessa expansão econômica não era abranger determinados setores ou classes, mas sim o conjunto da sociedade. Para isto, mobilizaria a coletividade, pois desta forma, a ideologia desenvolvimentista seria um ponto de convergência entre o Estado e o povo, no qual a riqueza gerada seria o patrimônio de todos.

Contudo, apesar da ideologia desenvolvimentista ser dominante nesta época, o Serviço Social permanecerá, até o final da década de 1950, alheio a toda essa ideologia. Isto ocorre por muitos motivos, conforme explicita Iamamoto & Carvalho:

Num primeiro nível, o fato de o desenvolvimentismo juscelinista subordinar a resolução da totalidade dos problemas ao da expansão econômica; o fato de o social, dos diversos campos em que este se subdivide aparecer como variável dependente – e ter por eixo de suas políticas específicas a potencialização do desenvolvimento econômico – explicitam uma larga diferenciação de objetivos. Ao centrar a perspectiva de integração das massas marginalizadas nas virtualidades da expansão econômica, para a qual se orientam os esforços da política econômica e social, restringe-se o espaço para um reforço da ação assistencial, e, portanto, a possibilidade de sua incorporação àquelas políticas (IAMAMOTO, CARVALHO, 1981, p. 342).

Para os Assistentes Sociais é um momento de consolidação importante de posições e campos de atuação, no âmbito do aparato social e assistencial. Este foi um momento de desenvolvimento, absorção, aprofundamento e institucionalização do Serviço Social enquanto profissão. Data desta época também, a abertura de um amplo e novo campo para a atuação do Serviço Social: as empresas, sobretudo, as indústrias. Concomitante a este processo, é um momento também de sistematização teórica e técnica das suas funções, objetivando definir áreas específicas de atuação técnica. Há também um aprofundamento no âmbito do ensino em Serviço Social, que se em seus primórdios é marcada pela influência européia, sobretudo franco-belga, neste momento a influência passa a ser a do viés norte-americano, no qual a atuação dos Assistentes Sociais volta-se cada vez mais para o tratamento, na linha da psicologia e psiquiatria, com os desajustamentos psicossociais, fundamentado na ideologia positivista, através da atuação do Serviço Social com caso, grupo e comunidade, o qual detalharei mais adiante. Cabe agora explicitar no que consiste o pensamento positivista que será o pano de fundo ideológico e a base teórica que sustentará, sobretudo, a atuação do

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Serviço Social de Caso.

Para o positivismo, a sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e ação humanas, na vida social, reina uma harmonia natural. Assim, as ciências da sociedade, assim como as da natureza, devem limitar-se a observação e à explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, excluindo qualquer possibilidade de superação ou negação da ordem social estabelecida. Com base nesse pensamento, o Serviço Social de Casos, segundo Hamilton, “caracteriza-se pelo objetivo de fornecer serviços práticos e de aconselhamento, de tal modo que seja desenvolvida a capacidade psicológica do cliente e seja levado a utilizar-se dos serviços existentes para atender a seus problemas” (HAMILTON, 1958, p.38). Sendo assim, o objetivo principal é fazer com que o cliente se adapte ao seu ambiente social, desvendando as causas psicológicas ou os fatores externos das disfunções e fazer com que o indivíduo satisfaça suas necessidades e se relacione com o meio da maneira mais adequada.

No que diz respeito ao Serviço Social de grupo, este consistia primeiramente na aplicação de áreas de recreação, baseada na necessidade de uma ocupação adequada para as horas de lazer, sobretudo à base de atividades sociais (como passeio e festas), educacionais (cursos e palestras) e atividades esportivas. Tais grupos eram isolados, pois as atividades estavam centradas nos interesses de cada grupo. Contavam com o patrocínio de alguma entidade que programava as atividades que seriam realizadas pelo grupo.

A partir dos anos de 1960, a abordagem do Serviço Social de Grupo ganha aspectos e objetivos distintos daqueles exercidos anteriormente. Segundo Vieira (1978) seu objetivo passa a ser a capacitação do indivíduo para que este haja corretamente em seu meio social. Conforme o documento de Araxá: “O Serviço Social de Grupo é um processo de Serviço Social que, através de experiências propositadas, visa capacitar os indivíduos a melhorarem o seu relacionamento social e enfrentarem do modo mais eficaz seus problemas pessoais, grupais e comunitários” 1

. Sendo assim, o objetivo é a transformação da situação em que se encontra o grupo e seus membros, que pode ser interna ou externa. Interna quando diz respeito à situação dentro do grupo e externa quando se refere às condições da organização ou na comunidade. Visam atender, da melhor forma possível às necessidades e objetivos dos membros. Segundo Vieira (1978, p.163), são os objetivos do Serviço Social com Grupos:

1) Ajudar o indivíduo a resolver problemas pessoais que não podem ser resolvidos por um tratamento individual, seja pela interferência de costumes ou tradições culturais, seja porque precisa de uma experiência de socialização;

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2) Resolver problema de relacionamento ou de adaptação, ensinando o indivíduo a viver em sociedade, ajustá-lo a exigências da vida moderna, através de experiências planejadas, de modo a levá-lo a participar inteligentemente das atividades do grupo, e, assim, obter satisfação pessoal como membro de uma equipe.

3) Ajudar o grupo, como um todo, a atingir seus objetivos e desenvolver nesta experiência sua consciência social, cooperando com a organização que o abriga e com outros grupos na comunidade. Pode-se dizer, portanto, que o Serviço Social com Grupos é, tanto para o indivíduo como para o grupo, uma escola de democracia (VIEIRA, 1978, p.163).

Toda essa abordagem e intervenção com grupos são sustentadas pelas concepções sociológicas fundamentalmente positivistas, pela constatação dos fatos, pela compreensão dos fenômenos grupais e comportamentais dos indivíduos.

O desenvolvimento de Comunidade como um dos meios de intervenção do Serviço Social, tem como foco a “comunidade em si”, seus problemas, necessidades, aspirações, e a sua inserção nos planos de desenvolvimento do país, que se faz necessário nesse contexto, o governo se alia ao esforço da população. É um processo multiprofissional e interdisciplinar, no qual o Serviço Social se constitui como uma das profissões que integram esse desenvolvimento.

Como resultado de um processo histórico, e do contexto sócio-histórico vivenciado pela profissão na década de 1960, há a criação do Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) aprovado pelo Decreto nº 994, de 15 de maio de 1962, e a regulamentação dos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS). O Código de Ética de 1965 é reflexo dos valores tradicionais de caráter conservador e cristão, sobre a atuação profissional, confiante na “solidariedade entre classes” e consonante com o projeto reformista conservador. Algumas características podem ser destacadas, como a defesa da tradição social, a ênfase na família, valorização dos princípios da ordem, hierarquia e disciplina, entre outras. Isto pode ser expresso no Artigo 6 que diz: “O Assistente Social deve zelar pela família, grupo natural para o desenvolvimento da pessoa humana e base essencial da sociedade, defendendo a prioridade dos seus direitos e encorajando as medidas que favoreçam a sua estabilidade e integridade”, como também no Artigo 8: “O Assistente Social deve colaborar com os poderes públicos na preservação do bem comum e dos direitos individuais, dentro dos princípios democráticos, lutando inclusive para o estabelecimento de uma ordem social justa” e ainda no Artigo 37 que diz que: “ Todo Assistente Social, mesmo fora do exercício de sua profissão, deverá abster-se de qualquer ação que possa desaboná-lo, procurando firmar sua conduta pessoal por elevado padrão ético, contribuindo para bom conceito da profissão” (CFAS, 1965, p.7).

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A ética tradicional, pois, presente tanto no documento de 1947 quanto no Código de 1965, era apenas de caráter controlador e normativo, consistindo o código de ética num instrumento essencialmente corporativo, que empreende por meios legais, a adequação da prática profissional ao estabelecido, de forma conectada ao coroamento filosófico da defesa do status quo (BRITES, SALES, 2000, p.29-30).

Segundo Brites e Sales (2000), no decorrer da década de 1960, opera-se uma mudança no perfil profissional dos assistentes sociais, que vão se distinguindo das pioneiras da profissão de características católicas e de cunho moral, origem burguesa e opção profissional entendida como uma vocação. A partir desta época, os profissionais tornam-se advindos das camadas médias da sociedade, o que é explicado pela expansão e consolidação do mercado de trabalho e o assalariamento dos profissionais, tendência que se intensificará nos anos de 1970. Brites e Sales ainda pontuam que:

Tais alterações no perfil dos assistentes sociais, articuladas aos desdobramentos sócio-econômicos e político-culturais da década de 60 em todo o continente latino-americano, contribuem para a emersão de um pluralismo profissional, que se aprofunda em direções diferentes: uma voltada para o passado e com referência na

matriz conservadora e tradicional; outra ainda nessa direção, mas emoldurada pela

modernização; e por fim, aquela, que, ancorada na matriz crítico-dialética e com os olhos postos no futuro, associar-se-á, em fins dos anos 70, às possibilidades de ruptura com o tradicionalismo e à renovação profissional (BRITES, SALES, 2000, p.30).

Porém, irá prevalecer até a década de 1980, “um projeto profissional que aprofunda os vínculos do Serviço Social com o conservadorismo. Esse teor ídeopolítico se traduziu numa concepção de prática profissional assentada em estratégias de controle, inculcação e psicologização” (BRITES, SALES, 2000, p.31). Tal matriz conservadora é dotada de caráter modernizador e tecnicista, o que será sistematizado nos Documentos de Araxá (1967) e Teresópolis (1970). No âmbito das disposições ética e normativas, ele se materializa no Código de Ética de 1975, mantidos os pressupostos filosóficos neotomistas. Ancorando-se em Brites e Sales (2000):

No Código de Ética de 1975, aprofundaram-se, sobretudo, os vínculos teóricos metodológicos do Serviço Social com o estrutural-funcionalismo, expressando o adensamento da lógica racionalista, cientificista, asséptica e a-histórica, como parâmetros técnico-operativos ao desencadeamento da prática profissional (BRITES, SALES, 2000, p.34-35).

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1.3 Ditadura Militar, Movimento de Reconceituação e os Códigos de Ética de 1986 e de 1993

O período que compreende o ano de 1964 até o ano de 1985 é o período de governo da ditadura militar. Segundo Pereira (2000) tal período se caracterizou pelo modelo autoritário e tecnocrático, e expressou explícita modificação no conteúdo estatal, deixando de ser populista/desenvolvimentista, para tornar-se tecnocrático e centralizado sob o apoio da classe média e burguesa e dominado pelas elites civis e militares. Foi seguido de reformas institucionais que reestruturaram o aparelho estatal, enfatizando o planejamento direto, a racionalização burocrática, e a hegemonia do saber técnico em detrimento da participação popular. Além disto, no âmbito econômico, este foi concentrador e excludente, negando o liberalismo conservador e dotado de algumas características como, o desprezo pela massa popular, valorização do capital estrangeiro, intervenção do Estado na economia e na sociedade, através de medidas como arrocho do salário, coibição dos sindicatos e proibição de greves, estatização de áreas de infraestrutura, indústria pesada e insumos básicos (visando o interesse dos investidores estrangeiros), entre outros.

Concomitante a vivência da ditadura militar no Brasil, no interior do Serviço Social é um período de desenvolvimento importante da profissão. Conforme pontua Netto:

Do estrito ponto de vista profissional, o fenômeno mais característico desta quadra relaciona-se à renovação do Serviço Social. No âmbito das suas natureza e funcionalidade constitutivas, alteraram-se muitas demandas práticas a ele colocadas e a sua inserção nas estruturas organizacional – institucionais (donde, pois, a alteração das condições do exercício profissional); a reprodução da categoria profissional – a formação dos seus quadros técnicos – viu-se profundamente redimensionada (bem como os padrões da sua organização como categoria); e suas referências teórico-culturais e ideológicos sofreram giros sensíveis (assim como as suas auto-representações (NETTO, 2002, p.115).

Segundo Netto (2002), isto se deve ao fato de que a partir dos anos de 1960, a inspiração marxista torna-se expressiva no âmbito dos Assistentes Sociais, de teor notadamente crítico articulado sobre matrizes teóricas bem diversas. É importante destacar que estas mudanças no interior da profissão não surgiram abstratamente. Faz parte de um processo que emerge desde meados da década 1960, acarretada por uma série de fatores, que favoreceram o surgimento dos movimentos sociais dos trabalhadores que reivindicavam a implementação de políticas sociais para o atendimento de suas necessidades. Este contexto foi extremamente favorável ao movimento de reconceituação das práticas profissionais conservadoras. A partir de então a influência marxista emerge de forma mais clara para os

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assistentes sociais.

Seguida da crise do regime ditatorial que é expresso por um contexto de luta pela democratização da sociedade brasileira, foi propiciado um terreno fértil para o aprofundamento do movimento de renovação do Serviço Social. O grande marco deste novo período que se abre para a profissão é o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, no ano de 1979, que ficou mais conhecido como “Congresso da Virada”, pelo seu aspecto de contestação e vontade de transformação da profissão. No âmbito da ética profissional, conforme explicitam Brites e Sales (2000):

Há duas inflexões significativas, recentes, nos rumos da ética profissional no Brasil: uma na segunda metade dos anos 80 e outra no início dos anos 90. A primeira diz respeito à revisão do Código de Ética de 1975, na esteira dos acontecimentos da luta pela redemocratização no país, da organização política da categoria, que inaugura uma prática sindical em sintonia com a luta mais geral dos trabalhadores; e do debate da formação profissional (BRITES, SALES, 2000, p.43).

Tendo o “Congresso da Virada” como fomentador, temos a partir de então, decisivamente um acúmulo das reflexões investigativas sobre a formação, o que foi incentivado pela Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS) – atual Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) – que culminou com a aprovação do Currículo de 1982 e a concretização teórica das exigências de um novo perfil para o Assistente Social. Todos os avanços se articularam com as experiências da prática que visavam a ruptura com Serviço Social tradicional. Temos assim, no âmbito da profissão, assistentes sociais cada vez mais críticos, que começam a interagir com perspectiva crítico-dialética (marxismo) e outras perspectivas teóricas críticas. A respeito da ruptura com o Serviço Social tradicional Iamamoto (1992) pontua que:

A ruptura com a herança conservadora expressa-se como uma procura, uma luta por

alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do Assistente Social, que reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca colocar-se,objetivamente, a serviço dos interesses dos usuários,

isto é, dos setores dominados da sociedade. Não se reduz a um movimento “interno” da profissão. Faz parte de um movimento social mais geral, determinado pelo confronto e a correlação de forças entre as classes fundamentais da sociedade, o que não exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado às suas atividades e pela

forma de conduzi-las (IAMAMOTO, 1992, p.37 – grifos no original).

Temos assim, como resultado desta perspectiva crítica de reflexão, no campo ético, a revisão do Código de Ética de 1975, que engendrou um novo Código de Ética em 1986, marcado pela recusa da neutralidade, pelo reconhecimento do aspecto político da profissão, noção de historicidade e de determinação material como categoria fundante do ser social,

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assim como colocou a objetivação dos sujeitos históricos que possam apreender suas necessidades concretas, ultrapassando os valores do bem comum e da dignidade humana de caráter conservador. A mudança que o Código de Ética de 1986 produziu, pode ser notada logo em seu início, quando diz: “As idéias, a moral e as práticas de uma sociedade se modificam no decorrer do processo histórico. De acordo com a forma em que esta se organiza para produzir, cria seu governo, suas instituições e sua moral” (CFAS, 1986, p.7). É irrefutável que a elaboração do Código de Ética de 1986 é fruto de avanços conquistados pela categoria profissional, principalmente com relação à Instituição, os usuários e os demais profissionais, conforme pontuam Brites e Sales (2000, p.48):

O reconhecimento dos direitos e das necessidades dos usuários dos serviços sociais repercute diretamente na compreensão profissional acerca das demandas institucionais colocadas à sua prática e da premência de alterar qualitativamente a relação deste profissional com a Instituição, e com os demais profissionais. O que impulsiona esta redefinição da correlação de forças no espaço institucional é a consciência da importância de se imprimir uma nova direção social à prática profissional. Esse redirecionamento ancora-se em referências políticas e econômicas que permitem uma apreensão crítica acerca do complexo papel da intervenção do Estado nas expressões da questão social, no âmbito da contraditória relação entre as necessidades e interesses das classes. A esse respeito o Código estabelece, entre os seus princípios e diretrizes, como um parâmetro decisivo na relação dos assistentes sociais com a instituição, a expressar uma nova ética: “A contribuição na alteração da correlação de forças no espaço institucional e o fortalecimento de novas demandas de interesses dos usuários” (Código de 1986:8).

Com relação ao Código de Ética de 1993, este representa uma reafirmação dos avanços conquistados pelo Código de Ética de 1986, bem como a proposição de algumas alterações que expressam cada vez mais o amadurecimento teórico da categoria profissional, tendo em vista a necessidade de explicitar o significado social da profissão e os rebatimentos éticos de sua intervenção. Expressa o abandono da base filosófica conservadora, e o reconhecimento pelo Serviço Social dos direitos de seus usuários, como também a representação de um instrumento que irá normatizar a qualidade dos serviços prestados pelos profissionais aos usuários, bem como a garantia de um direcionamento único para a totalidade dos profissionais, apontando condições ideais de exercício profissional, no qual o foco é a qualidade dos serviços prestados a população usuária. Neste sentido, o Código de Ética de 1986 mostrou-se incipiente, por isso a necessidade de sua revisão, conforme pontuam Brites e Sales (2000):

Todavia, se o Código de 86, como se viu, buscou instituir no plano ético uma nova legitimidade profissional, no lastro de acúmulo de uma massa crítica no âmbito da formação e da organização política da categoria, mostrou-se frágil em sua capacidade de embasar a operacionalização jurídica e política dos pressupostos

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valorativos ali contidos.(BRITES, SALES, 2000, p.49):

Há também a efetivação de diretrizes para respostas profissionais e também do processo de fiscalização da profissão, através de resoluções expedidas pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), aos quais detalharei no segundo capítulo.

Presenciamos nos dias atuais conforme Iamamoto (2004), um período de regressão dos direitos sociais em prol do capital e do mercado, orientado pela lógica neoliberal, de diminuição da intervenção do Estado nas expressões da questão social, que se aprofundam e se modificam, transferindo a responsabilidade para a iniciativa privada, como pontua Iamamoto (2004):

A atual desregulamentação das politicas públicas e dos direitos sociais desloca a atenção à pobreza para a iniciativa privada ou individual, impulsionada por motivações solidárias e benemerentes, submetidas ao arbítrio do indivíduo isolado, e não à responsabilidade pública do Estado (IAMAMOTO, 2004, p.3).

Temos hoje, desafios colocados aos Assistentes Sociais, um deles é como implementar um projeto profissional vinculado à defesa dos direitos sociais num cenário tão adverso, no qual as expressões da questão social se modificam, assumindo formas distintas de acordo com cada contexto, e o que presenciamos atualmente é o aumento do desemprego, a precarização das relações de trabalho, juntamente com a hegemonia do projeto neoliberal no qual o aparelho estatal torna-se cada vez menos responsável pela execução de políticas públicas que de fato atendam as necessidades dos usuários do Serviço Social.

Portanto, a consolidação do projeto ético-político do Serviço Social nos dias atuais é um constante desafio colocado as Assistentes Sociais, pois vivemos em contexto desfavorável a efetivação dos direitos sociais, conforme explicitado acima, e que é brilhantemente exposto por Iamamoto (2004):

A consolidação do projeto ético-político profissional que vem sendo construído requer remar na contracorrente, andar no contravento, alinhando forças que impulsionem mudanças na rota dos ventos e das marés na vida em sociedade. Teimamos em reconhecer a liberdade como valor ético central, o que implica

desenvolver o trabalho profissional para reconhecer a autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais, reforçando princípios e práticas democráticas. Aquele reconhecimento desdobra-se na defesa intransigente dos direitos humanos, o que tem como contrapartida a recusa do arbítrio e de todos os

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2 O SIGILO PROFISSIONAL NOS CÓDIGOS DE ÉTICA DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

O Sigilo Profissional sempre foi um aspecto presente no âmbito da atuação do Assistente Social, assim como é abordado no decorrer de todos os Códigos de Ética do Serviço Social, desde a primeira formulação ética de 1947 até o atual Código de 1993. Ora é abordado como Segredo Profissional, ora abordado como Sigilo Profissional, mesmo assim, sempre foi elemento presente em todos os Códigos de Ética. O significado tanto do termo Sigilo quanto do termo Segredo remete a idéia de confidencialidade, de algo que é restrito, oculto, escondido. Segundo o dicionário da língua portuguesa, o significado da palavra Segredo é:

s.m. O que há de mais escondido; o que se oculta à vista, ao conhecimento: não conte este segredo a ninguém. / O que a ninguém deve ser dito; que é secreto; confidência: segredo confidencial. / O sentido oculto de algo: segredo do texto. / O que há de mais difícil; o que exige uma iniciação especial, em uma arte, uma ciência etc.: segredos da poesia. / Meio ou processo conhecido de uns poucos. 2

O significado da palavra Sigilo é: “s.m. Segredo. / Ant. Selo para fechamento de documentos”.3

Assim, no decorrer dos Códigos de Ética do Serviço Social, elementos como nomenclatura, concepção do que é o Sigilo, informações consideradas Sigilosas, possibilidades de quebra, quebra diante de depoimentos policiais ou judiciais, procedimentos para revelação em caso de quebra de Sigilo, como guardar Sigilo, Sigilo como direito/dever, terminologia utilizada no que diz respeito ao usuário, e o Sigilo na perspectiva interdisciplinar foram se modificando com o passar do tempo e do amadurecimento do Serviço Social enquanto profissão. Tais aspectos são determinados pelo contexto sócio-histórico de cada Código, bem como da base teórico-metodológica que lhes sustentava, tal como abordado no Capítulo 1 deste trabalho. Desta forma, me proponho a analisar e comparar de que forma cada um desses elementos aparecem nos diferentes Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro.

2

Disponível em: http://www.dicionariodeportugues.com/significado/segredo-41730.html. Acesso em: 05 out. 2011.

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2.1 Terminologia utilizada: Sigilo e segredo

Com relação à nomenclatura utilizada nos Códigos, pode-se evidenciar que aparece tanto o termo “Segredo” quanto o termo “Sigilo”. Pode-se analisar que a palavra Segredo nos remete a idéia de uma relação mais informal e coloquial, relativa às relações pessoais, familiares e de amizade. O termo Sigilo já nos traz a idéia de uma relação técnica e formal, tendo em vista que a relação do Assistente Social com o usuário é uma relação profissional e não uma relação informal ou de amizade, mesmo que o Assistente Social em sua atuação profissional estabeleça com o usuário um vínculo de confiança, proximidade e empatia. O termo Segredo pode nos remeter a uma noção moralista das condições de vida da população usuária, tendo em vista seu caráter mais informal.

Nos diferentes Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro, a terminologia pode ser explicitada da seguinte forma:

Tabela 1 - Terminologia utilizada nos Códigos de Ética relativos ao Sigilo

Código de Ética 1947 1965 1975 1986 1993

Terminologia Sigilo Segredo Segredo Sigilo Sigilo

Fonte: Elaborado pela autora.

É interessante notar que mesmo no contexto dos primórdios da profissão no Brasil, envolta em pressupostos católicos e com base neotomista de sustentação teórica, no Código de Ética de 1947, a nomenclatura utilizada é “Sigilo”, o que só aparecerá dessa forma novamente no Código de Ética de 1986.

Como explicitado no quadro acima, a nomenclatura utilizada nos Códigos de 1965 e 1975 é a terminologia “Segredo”, e é relevante destacar que no Código de 1975 mesmo que a terminologia utilizada no seu capítulo III, que trata especificamente do tema, utilize o termo ”Segredo”, anteriormente, quando trata no capítulo I dos direitos do Assistente Social, vai tratar a partir do termo “Sigilo” quando diz que é um direito em relação ao exercício profissional o “Sigilo Profissional” (CFAS, 1975). O contexto vivenciado dos anos de 1965 a 1975 ainda tinha-se uma atuação moralista e conservadora do Serviço Social, com a prática do

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Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade, voltada para o ajustamento do individuo ao meio social e ao desvendamento as causas psicológicas e dos fatores externos dos seus “desajustes”, para que assim, o “cliente” passasse a se relacionar com o ambiente social de maneira mais adequada.

No Código de Ética de 1986 a nomenclatura “Sigilo” é retomada e reafirmada na elaboração do Código de Ética de 1993, que está em vigor até os dias atuais.

2.2 Informações consideradas Sigilosas

O Sigilo Profissional e sua importância no âmbito da atuação profissional aparece desde o Código de 1947. Neste sentido, outro elemento de análise se refere à concepção do que cada Código compreende ser uma informação Sigilosa no trabalho profissional. Neste Código de 1947, são consideradas “Sigilosas” todas as informações que o profissional toma contato em razão de seu ofício, isto é, informações que o Assistente Social toma conhecimento no seu processo de atuação profissional. Tal idéia é explicitada no Art.2 onde diz que as informações Sigilosas são aquelas “Sobre o que [o profissional] saiba em razão de seu ofício” (ABAS, 1947, p.1).

Após 18 anos, na implementação do Código de Ética de 1965, a compreensão do que é informação Sigilosa se refere a “todas as confidências recebidas e fatos de que tenha conhecimento ou haja observado no exercício de sua atividade profissional”, conforme indicado no Art. 15 (CFAS, 1965, p.3).Neste Código, o Sigilo aparece com a idéia de dever do profissional, aspecto que irei analisar mais adiante, quando tratarei da noção do Sigilo como direito/dever.

O Código de Ética de 1975 é o único Código que detalha que tipo de informações que eram vedadas ao Assistente Social divulgar, quais sejam: nome, endereço ou qualquer outra informação que identificasse o “cliente”. Considera-se ainda todas as confidências, fatos e observações colhidas pelo Assistente Social através do exercício profissional. Este Código também especifica que a revelação de casos de sevícias (torturas), castigos corporais, supressão intencional de alimentos, atentados ao pudor, entre outros que visassem à proteção do menor, não eram consideradas quebra de Sigilo Profissional. Ou seja, se o Assistente

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Social tomasse conhecimento de um desses casos, a revelação não seria considerada quebra de Sigilo.

Depois de nove anos e de todo o processo de renovação profissional vivenciado pela categoria, que já foram detalhados no primeiro capítulo, o Código de Ética de 1986 pode ser considerado um Código que visava romper com as práticas do Serviço Social tradicional, e ao longo do seu texto podemos perceber a mudança da base teórica na qual a categoria profissional passa a se ancorar. O Código de Ética de 1986 vai trabalhar com a noção de que informações Sigilosas são todas as informações confiadas e/ou colhidas no interior do exercício profissional, sendo dever do Assistente Social observar o Sigilo Profissional em relação a elas. Esta idéia aparece no seguinte trecho do Art. 4: “o Assistente Social deve observar o Sigilo profissional, sobre todas as informações confiadas e/ou colhidas no exercício profissional” (CFAS, 1986, p.4).

No último e atual Código de Ética, publicado em 1993, tudo aquilo que o Assistente Social toma conhecimento em decorrência de sua atuação profissional é considerado Sigiloso, e o Sigilo Profissional protege o usuário no que diz respeito a essas informações que são colhidas no fazer profissional do Assistente Social.

Um aspecto que é interessante analisar é a forma como os Códigos de Ética do Serviço Social abordam o modo através do qual o Assistente Social pode resguardar o Sigilo Profissional no âmbito da sua atuação. Os únicos Códigos que abordam tal aspecto são o Código de Ética de 1975 e o de 1993. No primeiro, estava previsto que para manter o Sigilo Profissional era necessário se abster de transcrever qualquer informação de natureza confidencial, bem como manter “discrição de atitudes nos relatórios de serviço onde quer que trabalhe”, como referido no item III do Art. 7 (CFAS, 1975, p.8). No atual Código de Ética, publicado em 1993, o resguardo do Sigilo Profissional está posto quando indica que no trabalho multidisciplinar o Assistente Social deverá prestar “informações dentro dos limites do estritamente necessário” (CFESS, 1993, p.7).

2.3 Possibilidades de quebra do Sigilo Profissional

A quebra do Sigilo Profissional também é tomada como elemento de análise comparativa entre os Códigos Ética de neste estudo. A possibilidade de quebra de Sigilo

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Profissional aparece primeiramente no Código de Ética de 1965, que previa situações em que a quebra possa evitar um mal maior e um dano grave ao “cliente”, ao Assistente Social, a terceiros e ao bem comum. Entretanto, a quebra só é admitida após esgotar todos os recursos possíveis, no qual o próprio “cliente” se dispusesse a revelá-lo. Tal compreensão aparece de forma similar no Código de 1975, quando diz no Art. 7 que:

§2° É admissível revelar segredo profissional para evitar dano grave, injusto e atual ao próprio cliente, ao Assistente Social, a terceiro ou ao bem comum.

§3° A revelação do Sigilo profissional será admitida após se haverem esgotado todos os recursos e esforços para que o próprio cliente se disponha a revelá lo. §4° A revelação será feita dentro do estritamente necessário, o mais discretamente possível, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devem tomar conhecimento (CFAS, 1975, p.8).

Por outro lado, o Código de Ética de 1975 preconizava a necessidade de revelação de Sigilo Profissional em casos de sevícias, castigos corporais, atentados ao pudor, supressão intencional de alimento e uso de tóxicos, com vista à proteção do menor, como apontado no Artigo 7, Inciso 5, Capítulo III (CFAS, 1975). Cabe ressaltar que é apenas neste Código de Ética que a revelação desses casos não era considerada quebra de Sigilo Profissional, nos demais tal situação não é mencionada.

Já no Código de Ética de 1986, compreendia-se que a quebra do Sigilo Profissional só era admissível em situações nas quais a gravidade pudesse trazer prejuízos aos interesses da classe trabalhadora, como trata no Art. 4: “§1° A quebra do Sigilo só é admissível, quando se tratar de situação cuja gravidade possa trazer prejuízos aos interesses da classe trabalhadora” (CFAS, 1986, p.4).

No Código de Ética de 1993, que permanece em vigor na atualidade, preconiza-se que a quebra do Sigilo Profissional só é admissível em situações que envolvam ou não fato delituoso, possa trazer prejuízos aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade, conforme o Art.18:

A quebra do Sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade.

Parágrafo único - A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar conhecimento (CFESS, 1993, p.7).

Além de prever a possibilidade da quebra nas situações supracitadas, a partir do Código de Ética de 1965, também será explicitado algumas indicações em relação a revelação do Sigilo Profissional. Neste Código, a revelação do “Segredo Profissional”, só seria feita

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após esgotar todos os recursos disponíveis. Neste e nos Códigos de Ética de 1975, de 1986 e de 1993, há a orientação de que a revelação do Sigilo Profissional deveria ser feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao assunto revelado, quer em relação ao grau e ao número de pessoas que deveriam tomar conhecimento. Contudo, não trazem o que se considera ou compreende por “estritamente necessário”, quais informações seriam, qual seu conteúdo, colocando neste sentido a autonomia e a subjetividade do profissional como elemento de mediação para a análise e tomada de decisão acerca do que se considera como Sigiloso e ao que o profissional considera como passível de revelação.

2.4 Sigilo Profissional diante de depoimento judicial ou policial

No decorrer de todos os Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro, o Assistente Social nunca esteve legalmente obrigado a prestar depoimento judicial ou policial sobre as informações que tomava contato em decorrência de sua atividade profissional, revelando informações protegidas pelo Sigilo Profissional.

Diferentemente dos demais, o Código de Ética de 1947 é o único em que não há menção acerca do Art.144 do antigo Código Civil, enquanto um respaldo ao profissional para a guarda do Sigilo mesmo se fosse chamado a depor em depoimentos policiais, em função do seu ofício. Este artigo que diz que: “Ninguém pode ser obrigado a depor de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo” (Código Civil de 1916, Lei n. 3.071, de 1° de janeiro de 1916). Neste sentido, mesmo chamado a depor policial ou judicialmente, o Assistente Social deveria guardar Sigilo de todas as informações que tinha conhecimento.

No Código de Ética de 1965, O Assistente Social não estava legalmente obrigado a depor como testemunha sobre fatos de que tenha tomado conhecimento em seu exercício profissional. Porém, intimado a depor, deveria comparecer diante da autoridade competente e informar que está legalmente obrigado a guardar segredo profissional, conforme o Art. 144 do Código Civil, como previsto no Art. 17° do Código de Ética de 1965:

O Assistente Social não se obriga a depor como testemunha, sobre fatos de que tenha conhecimento profissional, mas intimado a prestar depoimento, deverá comparecer perante à autoridade competente para declarar lhe que está ligado à obrigação do segredo profissional, de acordo com o art. 144 do Código Civil (CFAS, 1965, p.4).

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A partir do Código de Ética de 1975, aparece a figura do próprio Código de Ética como respaldo legal para a desobrigação de prestar informações e considerava que, se o Assistente Social fosse intimado a prestar depoimento, deveria comparecer e informar a autoridade competente que está obrigado a guardar segredo profissional nos termos do Código de Ética e do Código Civil. Esta concepção também aparece no Código de Ética de 1986.

É interessante notar que no Código de Ética de 1993 esta situação é preconizada como um dever do Assistente Social conforme a alínea “b” do Art.19: “Comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar depoimento, para declarar que está obrigado a guardar Sigilo Profissional nos termos deste Código e da Legislação em vigor”. E ainda, na alínea “a” do Art. 20, diz que é vedado ao Assistente Social: “depor como testemunha sobre situação Sigilosa do usuário de que tenha conhecimento no exercício profissional, mesmo quando autorizado”. Cabe ressaltar, que o atual Código de Ética é o único que preconiza que mesmo se o usuário autorizasse o Assistente Social a depor como testemunha ou revelar informações Sigilosas colhidas no âmbito do exercício profissional, a este é vedado essa condição de testemunha.

2.5 Sigilo Profissional enquanto direito e/ou dever do Assistente Social

Com a reformulação do Código de Ética de 1986 realizada no ano de 1993, este que é o último e atual Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais brasileiros, o Sigilo Profissional é preconizado como direito do Assistente Social. Além disto, pode-se compreender que além de um direito do Assistente Social, o Sigilo também é um dever do profissional, o que é explicitado no Art. 16, segundo o qual é o compromisso ético com o Sigilo que “protegerá o usuário de todas as informações que o Assistente Social venha a tomar conhecimento, através de sua atuação profissional” (CFESS, 1993, p.7).

A noção de direito e/ou dever está posta nos Códigos de Ética tal como indica o quadro a seguir.

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Tabela 2 – Sigilo enquanto direito ou dever do Assistente Social:

Código de Ética 1947 1965 1975 1986 1993

Terminologia Dever Dever Dever e Direito

Dever Direito e

Dever

Fonte: Elaborado pela autora.

Outro aspecto de grande relevância é perceber e analisar de que forma esta noção de direito e/ou dever em relação ao Sigilo Profissional está colocada textualmente nos Códigos de Ética do Serviço Social brasileiro. A concepção do Sigilo enquanto um direito é percebida ora como uma noção indireta, isto é, não está textual e explicitamente colocada no Código nos termos “O Assistente Social tem direito ao Sigilo Profissional” , e ora como uma noção direta, ou seja, aparece textualmente colocada nos Códigos de Ética. Já a noção de dever aparece somente como uma noção indireta, visto que o texto dos Códigos de Ética utiliza termos como “obrigado”, “vedado”, isto é, o Assistente Social é obrigado a manter Sigilo ou lhe é vedado revelar Sigilo profissional; nunca aparecendo explicitamente que o Assistente Social tem o dever de resguardar o Sigilo Profissional. A tabela abaixo sistematiza esta análise tal como aparecem nos diferentes Códigos.

Tabela 3 – Forma como aparece a noção de dever e de direito ao Sigilo.

Códigos de Ética 1947 1965 1975 1986 1993 Noção de Direito Como aparece Não

aparece Não aparece

Indireta Indireta Direta Termo utilizado “Direito a inviolabilidade” “Constituem-se direitos” Constitui direito do Assistente Social. Noção de Dever Como

aparece Indireta Indireta Indireta Indireta Indireta

Termo utilizado “Guardar rigoroso Sigilo” “O Assistente Social é obrigado a” É vedado” “Deve observar” “Proteção a confidencialidade do cliente” “O Assistente Social deve observar Sigilo”. “O Sigilo protegerá o usuário”

Fonte: Elaborado pela autora.

A noção indireta do Sigilo Profissional enquanto um direito do Assistente Social aparece apenas a partir do Código de 1975. Esta idéia se coloca nos Códigos quando apontam

Referências

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